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Nº 337 Setembro de 2017 Órgão Oficial do Corecon-RJ e Sindecon-RJ

E a crise global?
Luiz Carlos Bresser-Pereira,
Luiz Carlos Delorme de Prado,
Bernardo Kocher, Elias Jabbour,
Alexis Dantas e Williams Gonçalves
debatem se a crise iniciada
em setembro de 2008
está superada
e o estágio da
economia global.

Fórum Popular do Orçamento analisa a trajetória das contas cariocas de 2009 a 2016
2 Editorial Sumário

E a crise global? Crise global ....................................................................................... 3


Luiz Carlos Bresser-Pereira
As mazelas internas do nosso país, por vezes, colocam em segundo pla- Crise do capitalismo financeiro-rentista
no a discussão do estágio da economia mundial. A crise iniciada nos EUA Crise global ....................................................................................... 5
em setembro de 2008 está superada ou continua a assombrar o mundo? Luiz Carlos Delorme Prado
O bloco temático começa com artigo do ex-ministro Luiz Carlos A Grande Recessão já é coisa do passado? A cri-
Bresser-Pereira, da FGV. Ele avalia que a crise financeira global termi- se econômica nos EUA e na União Europeia pelo
nou, porque EUA e os países da Zona do Euro voltaram a crescer, ain- espelho da Grande Depressão
da que moderadamente. Mas a crise mais ampla do capitalismo finan-
ceiro-rentista, que começou em 2008, está mais presente do que nunca. Crise global ....................................................................................... 7
Bernardo Kocher
Luiz Carlos Delorme Prado, do IE/UFRJ, faz um comparativo histó-
A crise econômica global: fim ou temor de um novo
rico entre a crise iniciada em 2008 e a grande depressão nos anos 30. As
recomeço?
últimas projeções indicam uma recuperação moderada nos EUA e Euro-
pa. Mas os efeitos da crise estão presentes em três indicadores: a distri- Crise global ....................................................................................... 9
buição de renda continua a piorar, os investimentos públicos e privados Elias Jabbour e Alexis Dantas
continuam fracos e o desemprego permanece elevado. A China, a crise e o “socialismo de mercado”
Bernardo Kocher, da UFF, considera que a melhor caracterização dos
Crise global ..................................................................................... 11
problemas econômicos contemporâneos é de uma crise tão econômica
Williams Gonçalves
quanto política, que contrapõe a democracia política à liberdade infinita Rumos da Ordem Econômica Internacional
de dominação do capital.
Elias Jabbour e Alexis Dantas, da Uerj, analisam a situação da China. Fórum Popular do Orçamento ........................................................ 13
A expansão do setor estatal na economia chinesa pós-crise pode ter ges- Rio de Janeiro e a crise de 2008: como a cidade
tado uma nova formação econômico-social, o chamado “socialismo de surfou na marolinha?
mercado”. Trata-se de um processo fascinante, que merece um olhar com
Formando da UFRRJ-Nova Iguaçu conquista primeira
mais atenção e menos preconceito. colocação no Prêmio de Monografia 2017 ................. 16
Williams Gonçalves, da Uerj, UFRJ e Marinha do Brasil, acredita
que o controle político da economia pelo Estado evitou que a China Estudantes da UFRJ vencem Gincana
sucumbisse à crise de 2008. A partir de 2010, o país adotou o mode- Agenda de cursos
lo baseado no consumo doméstico e exportação de produtos de alto va- Novas aquisições da Biblioteca
lor tecnológico agregado. A ascensão da China desloca o eixo do poder Atualize seu cadastro no Corecon-RJ
mundial e sentencia o esgotamento da ordem internacional liberal.
Ainda no escopo do tema da edição, o artigo do FPO analisa a traje-
tória das contas cariocas de 2009 a 2016, por meio de tópicos como dí- O Corecon-RJ apóia e divulga o programa Faixa Livre, apresentado por Paulo Pas-
sarinho, de segunda à sexta-feira, das 9h às 10h30, na Rádio Livre, AM, do Rio, 1440
vida consolidada e investimentos. O período foi impactado pela crise in- khz ou na internet: www.programafaixalivre.org.br ou www.radiolivream.com.br
ternacional, Copa do Mundo e Jogos Olímpicos Rio 2016.

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Crise global 3

Crise do capitalismo financeiro-rentista


Luiz Carlos Bresser-Pereira* senvolvimentista e conservador polista. Terceiro, a globalização – a
quando as revoluções industriais redução dos custos dos transportes

A crise financeira global de


2008 terminou, mas a cri-
se mais ampla e de maior duração
foram realizadas em cada país, tor-
nou-se liberal a partir dos anos
1830, quando a Inglaterra abriu
e das comunicações e a emergência
das empresas multinacionais –, que
de um lado reduziu a importância
do capitalismo financeiro-rentista, sua economia. Depois de cem anos dos mercados internos para os ca-
a crise de um liberalismo econô- de baixo crescimento e alta insta- pitalistas e, de outro, aumentou a
mico radical que começou naque- bilidade financeira, o liberalismo competição a nível mundial. Quar-
le ano, está mais presente do que econômico entrou nos anos 1930 to, a acumulação incessante de ca-
nunca. A crise financeira termi- em profunda crise, que foi supera- pital excedente nas mãos dos capi-
nou porque primeiro os Estados da graças a um segundo desenvol- talistas rentistas e dos financistas
Unidos e depois os países da Zona vimentismo expresso no New Deal e altos executivos desde a Segun-
do Euro voltaram a crescer, ainda e nos Anos Dourados do Capita- da Guerra Mundial. Quinto, desde
que moderadamente. Mas a cri- lismo do pós-guerra – um desen- 1980, o aumento da desigualdade
se econômica e política da estreita volvimentismo progressista e de- em benefício da estreita coalizão fi-
coalizão de classes de capitalistas mocrático. Entretanto, uma crise nanceiro-rentista que assume então
rentistas e seus prepostos – os fi- econômica nos Estados Unidos e o poder político. Sexto, a desregu-
nancistas e os altos executivos das no Reino Unido, nos anos 1970, lação financeira que essa coalizão,
grandes corporações –, que domi- significou o fim dessa boa fase e apoiada na teoria econômica neo-
na os países ricos, continua mui- o retorno a um segundo liberalis- clássica, promove.
to presente, e a partir de 2016 ga- mo econômico, agora financeiro- Embora o sexto fato – a des-
nhou um aspecto político com o -rentista e reacionário. A crise des- regulação financeira radical pro-
Brexit e com Donald Trump. te segundo liberalismo econômico movida nos anos 1980 pelo libe-
Durante o século XX, o capi- talvez aponte para um terceiro de- ralismo econômico – tenha sido
talismo deixou de ser um capitalis- senvolvimentismo, que continua- instrumental em causar a crise fi-
mo de empresários, que obtinham rá democrático, mas não será ne- nanceira, ele não é suficiente para
crédito e investiam inovando, pa- cessariamente progressista. explicar a crise do capitalismo fi-
ra ser um capitalismo de rentistas Vários fatos históricos novos se nanceiro-rentista e o retorno a que
que vivem de juros, dividendos e somaram para que o capitalismo estamos assistindo, ainda insegu-
aluguéis; deixou de ser um capi- deixasse de ser um capitalismo de ro, de um controle maior do Esta-
talismo no qual o liberalismo eco- empresários ou industrial para ser do sobre os mercados – talvez, um
nômico e a luta de classes eram re- um capitalismo financeiro-rentista. terceiro desenvolvimentismo. A
lativamente compensados pelo Primeiro, no final do século XIX, desregulamentação, ou, mais am-
princípio desenvolvimentista da a partir da Segunda Revolução In- plamente, o abandono da ampla
solidariedade nacional; deixou de dustrial, ocorreu a emergência da coalizão de classes desenvolvimen-
ser um capitalismo no qual empre- tecnoburocracia, uma nova e gran- tista ou, nos termos da Escola da
sários e trabalhadores tinham no de classe social cuja camada mais Regulação Francesa, fordista, em
mercado interno seu mais precioso alta substituiu os empresários na favor de um liberalismo radical, fi-
ativo econômico, porque dele deri- direção das grandes empresas e pas- nanceiro-rentista, é uma das cau-
vam seus lucros e seus salários, para sou a partilhar poder e privilégio sas dessa crise maior. A outra causa
ser um capitalismo global no qual com a burguesia. Segundo, a pro- é o quarto fato histórico novo – a
os rendimentos dos rentistas pro- funda oligopolização dos mercados acumulação de capital excedente
vêm de todas as partes do mundo internos, que começou a acontecer nas mãos dos capitalistas rentistas.
em que as empresas multinacionais em seguida, e não parou de se agra- Thomas Piketty, em seu notá-
estiverem presentes. var, na medida em que as empre- vel O Capitalismo do Século XXI,
O capitalismo industrial ou sas não cessam de fazer aquisições e salientou não apenas o aumento
dos empresários, que nascera de- fusões para obter vantagem mono- da desigualdade, mas também es-

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4 Crise global

ta acumulação de capital exceden- turalmente, complementada por to, não sofrem da doença holan- relação aos países ricos, passaram a
te. Os dois fatos são fundamentais um processo de extinção de capital desa, cresceram ou crescem de for- crescer muito lentamente e vêm fi-
para compreender o retorno à ins- causado pela depreciação e a ob- ma acelerada, enquanto a Malásia, cando cada vez mais para trás em
tabilidade financeira, que, no qua- solescência técnica, mas também a Indonésia e a Tailândia, também relação não apenas aos países em
dro do acordo de Bretton Woods, pelas grandes guerras e pelas gran- desenvolvimentistas, crescem de desenvolvimento independentes,
da política macroeconômica key- des crises econômicas. Ora, desde maneira satisfatória. Todos agindo mas também aos países ricos.
nesiana, e dos Anos Dourados do 1945 o mundo não enfrenta gran- com responsabilidade fiscal, garan- O capitalismo vive hoje uma
Capitalismo, havia sido fortemen- des guerras. Quanto às crises fi- tindo lucratividade para suas em- crise de transição, que não impe-
te reduzida, e a forte redução da ta- nanceiras, embora desde 1980 os presas industriais e usando essen- de que muitos países da Ásia cres-
xa de crescimento dos países ricos. países ricos tenham abandonado o cialmente sua própria poupança. çam e realizem o alcançamento,
O mundo rico enfrenta hoje keynesianismo, a crise financeira Todos aproveitando sua mão de porque adotam políticas de acor-
uma enorme abundância de capi- de grande envergadura, a de 2008, obra barata para competir com os do com seus interesses nacionais.
tais: o capital tornou-se excedente acabou destruindo muito menos países ricos na exportação de bens Já na América Latina, novamen-
em relação aos investimentos que capital do que poderia tê-lo feito, industriais cada vez mais sofistica- te dependente, ou os países se de-
as empresas estão dispostas a fazer. graças às fortes políticas contrací- dos. Já os países da América Lati- sindustrializam, como o Brasil,
O capital excedente é inerente ao clicas adotadas por todos os paí- na e, particularmente, o Brasil, que ou transformam sua indústria em
capitalismo, mesmo quando a de- ses. Passada, porém, a fase aguda foram desenvolvimentistas entre uma indústria maquila, como o
sigualdade não aumenta, e mais da crise, o mundo voltou à auste- 1930 e 1990 e lograram neutralizar México, enquanto suas elites ven-
ainda quando aumenta. Incapazes ridade fiscal, e a insuficiência de sua doença holandesa, cresceram e dem suas empresas para empresas
de consumir todos os seus lucros demanda voltou a ser crônica. se industrializaram. Mas, porque multinacionais e se tornam rentis-
e os seus altos ordenados e bônus, Enquanto o mundo rico não sempre tentaram crescer com en- tas. Enquanto isso os jovens, tan-
capitalistas rentistas, financistas e encontra uma solução para esse dividamento externo (“poupan- to pobres quanto ricos, não têm
altos executivos colocam seu di- problema, no mundo periférico os ça externa”) e porque, desde 1990, oportunidade nem de emprego
nheiro no setor financeiro para fi- países que adotaram políticas de- abandonaram sua autonomia na- nem de se tornarem empresários.
nanciar os investimentos. Mas o senvolvimentistas independentes, cional e se submeteram a Washing-
mercado é incapaz de ajustar es- principalmente os países do Leste ton e Nova York, aceitaram que su- * É professor emérito da Fundação Getú-
sa oferta e esse estoque imenso de da Ásia, a Índia e o Vietnã, que não as empresas voltassem a ter uma lio Vargas. bresserperereira@gmail.com;
poupança com os investimentos exportam commodities e, portan- forte desvantagem competitiva em www.bresserpereira.org.br
na produção, porque, conforme
Keynes e Kalecki demonstraram
de forma definitiva, a demanda
não cresce na proporção da oferta.
Por isso, eles propuseram uma po-
lítica macroeconômica que garan-
tisse essa demanda. A qual era, na-

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Crise global 5

A Grande Recessão já é coisa do passado?


A crise econômica nos EUA e na União
Europeia pelo espelho da Grande Depressão
Luiz Carlos Delorme Prado* nômica frequentemente ignoram tar social, financiado com cres-
as evidências do presente e inter- cente tributação da riqueza.

E m que medida é necessá-


rio olhar para o passado pa-
ra compreender grandes processos
pretam o passado usando o espe-
lho de sua visão de mundo con-
temporânea. Portanto, o risco de
Esse período de crescimento
excepcional foi interrompido pe-
las crises da década de 1970 e o
históricos no presente? A políti- desastres é proporcional ao po- progressivo abandono dessas polí-
ca econômica do presente deve der desses tecnocratas. Segundo ticas. As décadas de 1980 e 1990
olhar as experiências históricas co- Eichengreen: “se tecnocratas que são marcadas pela ascensão de
mo fonte de informação para atu- têm mandatos com poderes limi- uma nova ideologia, que recorria à
ar nas situações presentes? Ou, ao tados são uma coisa, tecnocratas produção teórica de crítica às po-
contrário, os processos históricos não eleitos com amplos poderes líticas econômicas keynesianas do
são únicos, sendo necessário e su- são outra” (p.383). pós-guerra para legitimar sua de-
ficiente para o economista domi- A trajetória da Grande Reces- fesa de uma nova relação entre o
nar as teorias econômicas domi- são, iniciada no crash de 2008, Estado e o Mercado. O neolibera-
nantes de seu tempo? com suas similaridades e diferen- lismo – o nome controverso des-
Recentemente, um dos mais ças da Grande Depressão, inicia- sa corrente, já que seus partidários
importantes historiadores do siste- da no crash de 1929, apontam as não se reconhecem sob esse rótulo
ma financeiro internacional, Bar- questões levantadas acima. Algu- – defendia uma agenda de refor-
ry Eichengreen, publicou um livro mas causas remotas da crise aju- mas para redução e alteração da in-
intitulado Hall of Mirrows: The dam a compreender esses pontos. tervenção de Estado na economia.
Great Depression, the Great Reces- Fenômenos como a Grande Re- Defendia, ainda, transferir impor-
sion and the uses – and misuses – of cessão não surgem no vazio. Suas tante parte das decisões de política
history (Oxford University Press, causas remontam ao fim do longo econômica para tecnocratas (co-
2015). Esse autor aponta que o crescimento da economia mun- mo, por exemplo, Banco Central
conhecimento convencional das dial do pós-guerra – os Golden Ye- Independente), afastando-as da
crises passadas, ou seja, "as lições ars (1947-1973). imprevisibilidade do sistema de-
da Grande Depressão", em certa Esse período de prosperidade mocrático. (Ver de Manfred Ste-
medida moldou as respostas para baseou-se no uso de vários instru- ger & Ravi K. Roy, Neoliberalism:
os eventos de 2008-9. No entan- mentos desenvolvidos para evi- A Very Short Introduction, Oxford
to, argumentou Eichengreen, não tar a repetição da desastrosa ex- University Press, 2010).
existe uma única narrativa histó- periência dos anos entre as duas Nessa linha, as políticas econô-
rica e a própria natureza da expe- Guerras Mundiais, com suas hi- micas de inspiração keynesiana e,
riência histórica depende de sua perinflações, deflações e ascensão em especial, as políticas de bem-
interpretação pelas correntes eco- de regimes totalitários. Abando- -estar econômico eram vistas co-
nômicas contemporâneas (p.382). nou-se a ideia de que o capita- mo responsáveis pela redução do
Mas, crises são momentos on- lismo era autorregulado – foram crescimento da produtividade, pe-
de o conhecimento convencional criadas políticas regulatórias pa- lo aumento do desemprego, pe-
não se aplica. E tecnocratas atuan- ra evitar a instabilidade gerada lo aumento da inflação e pela bai-
do com seus preconceitos e inte- pela excessiva liberdade no setor xa qualidade e custo excessivo dos
resses, no mundo atual, como no financeiro. Formou-se um acor- serviços públicos. Uma agenda de
passado, são capazes de produzir do entre as elites econômicas e reforma da ordem econômica do
enormes estragos. Nessas horas, os trabalhadores que resultou na pós-guerra foi possível por duas
os formuladores de política eco- criação de um Estado de Bem-Es- ondas sucessivas de governos ne-

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6 Crise global

oliberais nas economias industriais de seguros e corretagem – acaban- tema financeiro foram evitadas. O Frente Nacional de Marine Le Pen
avançadas; a primeira, com as elei- do com uma importante regula- dinheiro dos contribuintes salvou e o UKIP (United Kingdom In-
ções de Ronald Reagan (1981-89) ção herdada do período da Gran- alguns agentes econômicos (prin- depence Party), que surgiu como
e Margaret Thatcher (1979-90) na de Depressão. No Reino Unido, cipalmente banqueiros e gestores uma força política a favor do Bre-
década de 1980. Esses governos Tony Blair, usando a ideia de “Ter- de grandes empresas), embora te- xit. E nos EUA com o Tea Party e a
convergiam, no plano econômico, ceira Via”, propunha, igualmente, nha feito muito pouco pelos cida- eleição de Donald Trump.
com uma agenda de reforma libe- por um fim “a velha política de lu- dãos menos privilegiados, que per- Contudo, as últimas projeções
ral, e no plano político, com uma ta de classes”. Blair foi grande ar- deram suas poupanças e empregos. da economia mundial indicam que
agenda conservadora em questões ticulador de um modelo de gestão Na Europa, a principal conse- neste ano está em curso uma recu-
de valores e costumes e nacionalis- da União Europeia, norteada por quência da onda de choque foi a peração moderada da economia dos
ta na política externa. ideias neoliberais. No plano do- crise do Euro. Tais como os norte- EUA e da Europa – projeta-se que o
Uma segunda onda de gover- méstico, tal como Clinton, apro- -americanos, os europeus fizeram PIB dos EUA crescerá 2,1% e da zo-
nos neoliberais pretendeu manter fundou a desregulamentação da apenas o suficiente para evitar um na do Euro 1,7% (dados do World
e aprofundar a agenda de reformas economia e, em especial, do siste- colapso do seu sistema financei- Economic Propects, World Bank, ju-
liberais, combinando tais medidas ma financeiro. ro. Apesar da instabilidade, o Eu- nho de 2017). Para isso contribuí-
com algumas políticas moderadas O crash do mercado de sub- ro não desapareceu e, exceto pelo ram um crescimento moderado de
de bem-estar social e um discur- prime e a crise econômica de caso da Grã-Bretanha, que decor- gastos públicos nos países da OC-
so pró-responsabilidade social das 2007/2008 foi uma das consequ- reu mais de razões políticas do que DE, que aumentaram para 40,9%
grandes empresas. Na área de va- ências das políticas seguidas nas econômicas, nenhum país deixou do PIB em 2015 (eram de 38,7%
lores, diferenciavam-se do caráter décadas anteriores. Mas esse foi o a União Europeia. Nos EUA e na em 2008 - OECD, Government at
conservador dos governos anterio- primeiro momento de uma crise Europa, no entanto, as causas mais Glance, 2017) e do gasto social, que
res; defendiam a liberdade no âm- que afetou o mundo inteiro. Nesse profundas do modelo seguido des- cresceu para 41% do gasto total em
bito dos costumes e faziam a defesa sentido, não foi muito diferente da de a década de 1980 não foram en- 2015 (de 37% em 2007). Mas, co-
do internacionalismo, em oposição crise de 1930, iniciada nos EUA e frentadas. E tecnocratas tomavam mo mostrou a Grande Depressão,
ao forte nacionalismo dos seus an- que se tornou mundial. Na déca- decisões que afetavam a vida da as consequências econômicas des-
tecessores. Bill Clinton nos EUA da de 1930, a Grande Depressão população, com pouca preocupa- se tipo de crise persistem por longo
e Tony Blair no Reino Unido são acabou com o padrão ouro e criou ção quanto às consequências. Nesse tempo. Os efeitos da crise atual es-
exemplos desse modelo. Esses líde- condições para o papel regulador contexto, a deterioração da distri- tão presentes em três indicadores: (i)
res viam a globalização como um do Estado. Mas contribuiu, tam- buição de renda apareceu com toda a distribuição de renda continua a
processo virtuoso e desejável. Pa- bém, para a derrubada dos gover- força. O impacto do livro do Tho- piorar; (ii) os investimentos públicos
ra eles essa integração promoveria nos democráticos na Alemanha e mas Piketty (Capital in the Twenty- e privados estão, ainda, fracos e (iii)
os valores individuais tradicionais, em outros países – alimentou a in- -First Century, Cambridge Univer- o desemprego permanece elevado.
como direito de propriedade e di- tolerância e o irracionalismo, que sity Press, 2014) abriu uma nova Ao final, a herança mais pesa-
reito de escolha e, ainda, os valores foram algumas das causas da Se- onda de discussão sobre os efeitos da das reformas liberais e da cri-
democráticos. gunda Guerra Mundial. desestabilizadores do aprofunda- se econômica tem sido a transfe-
Foi essa segunda onda de ne- Na crise atual, os governos não mento da divisão entre os ganha- rência para tecnocratas de decisões
oliberalismo que concluiu a libe- tiveram a mesma postura passiva dores e perdedores da globalização importantes para a sociedade, que
ralização do sistema financeiro no da década de 1930. Mas uma leitu- – além dele, foram publicados tra- retiram o poder de escolha das au-
plano doméstico e na esfera inter- ra enviesada da Grande Depressão balhos importantes por James Gal- toridades eleitas. É justamente a
nacional e aprofundou políticas contribuiu para limitar a interven- braith (Inequality: What Everyone sensação dos eleitores de que seus
que concentravam a renda. Esse ção do Estado na Grande Reces- Needs to Know?, Oxford Universi- votos não são suficientes para mu-
foi o período de grande crescimen- são. Por outro lado, a intervenção ty Press, 2016) e por Branko Mi- dar a política econômica e as con-
to dos pacotes de compensações das autoridades norte-america- lanovic (Global Inequality, Belknap dições de suas vidas que tem infla-
para os grandes CEOs das com- nas foi suficiente para evitar outra Press, 2016), entre outros. do o apoio a partidos e candidatos
panhias norte-americanas, que se Grande Depressão. Mas o diagnós- Como na década de 1930, a populistas. No passado, em espe-
beneficiavam da nova política tri- tico da crise feito para o Congresso Grande Recessão trouxe instabi- cial na década de 1930, esta foi
butária. Além disso, a Lei de Mo- dos EUA por uma comissão inde- lidade política mesmo para países uma receita para o desastre. Espe-
dernização dos Serviços Financei- pendente (Financial Crisis Inquiry com democracias consolidadas. A ramos, embora céticos, que essa li-
ros de 1999 derrogou a separação Commission) foi decepcionante: ao sua face mais evidente foi o cres- ção tenha sido aprendida.
legal entre bancos comerciais, ban- final, recomendava poucas refor- cimento do populismo de direita
cos de investimentos, companhias mas. As tentativas de regular o sis- na Europa, como, por exemplo, a * É professor do IE/UFRJ.

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Crise global 7

A crise econômica global:


fim ou temor de um novo recomeço?
Bernardo Kocher* ses prolongadas – como a de 1873- sempenharam um papel secundá-
1896 e a decenal depressão inicia- rio no crescimento econômico. O

A ideia de que uma contínua e


prolongada recessão está em
marcha – cujo marco definidor foi
da em 1929 – é forte a ideia de que
toda a problemática da delicada si-
tuação econômica internacional se
ciclo atual e seu contexto externo
apresentam importantes desafios
para a conjuntura no curto prazo
a Crise da Subprime iniciada em explica pela ideia de que está ocor- e para retomar o crescimento da
9 de agosto de 2007 – tem perse- rendo uma nova crise de longa du- região no médio e longo prazo.”
guido o pensamento econômico e ração; estaríamos vivendo, então, (CEPAL. Documento Informati-
político há algum tempo. Tal pre- uma terceira grande crise do capita- vo. Estudo Econômico da Améri-
sunção é construída em meio a lismo. Esta percepção legítima pode ca Latina e Caribe. A dinâmica do
transformações intensas no cenário ser corroborada pelo fato de que os ciclo econômico atual e os desafios de
político e social mundiais, tais co- contemporâneos das duas crises an- política para dinamizar o investi-
mo: o aprofundamento da vulne- teriores também viviam o fenôme- mento e o crescimento. IN: http://
rabilidade dos direitos sociais em no da perda do dinamismo econô- www.cepal.org/pt-br/publicacoes/
vários países que tradicionalmen- mico com perplexidade, sem muita tipo/estudo-economico-america-
te os adotaram ao final da Segunda certeza se haveria o prolongamen- -latina-caribe. Consultado em 12
Guerra Mundial, a contínua vitória to indefinido do que estavam pre- rio” maior para tentar elaborar pro- de agosto de 2017.)
eleitoral de partidos políticos infor- senciando ou se seria encontrada postas de soluções para o problema Ainda na perspectiva cíclica
mados pelo neoliberalismo, a inse- uma solução para o problema. Eric da baixa dinâmica da economia. É de explicação das crises econômi-
gurança trazida com atentados ter- Hobsbawm, analisando tal visão, o caso do que faz a Comissão Eco- cas – dentre as inúmeras teorias
roristas nos países desenvolvidos, a enuncia o clima de insegurança que nômica para a América Latina (CE- existentes –, podemos lembrar a
instabilidade do Oriente Médio e cercou as duas conjunturas: “Histo- PAL) quando caracteriza o proces- principal (e mais difundida) teo-
a guerra civil na Síria, o constan- riadores têm duvidado da existên- so que ora vivemos como sendo um ria explicativa da sua existência: o
te e expressivo crescimento econô- cia daquilo que tem sido chama- “ciclo” econômico bem definido. Ciclo de Kondratiev, que “discer-
mico dos países asiáticos (tendo a do “A Grande Depressão” de 1873 “A seção temática deste es- niu um padrão de desenvolvimen-
China como principal protagonis- a 1896, que evidentemente não foi tudo busca, por um lado, anali- to econômico a partir de fins do
ta), a crise migratória que atingiu tão dramática quando a de 1929 a sar as características do ciclo atu- século XVIII, através de uma sé-
a Europa Ocidental, transforma- 1934, quando a economia capitalis- al que a região vive (2009-2016) rie de “ondas longas” de cinquen-
ções tecnológicas vertiginosas com ta mundial chegou a entrar em co- e contrastá-las com as dos dois ta a sessenta anos, embora nem
grande impacto na vida social etc. lapso. No entanto, observadores da ciclos anteriores (1990-2001 e ele nem ninguém mais conseguis-
Tal cenário fornece uma dupla época não tinham dúvida de que 2002-2008); por outro lado, pro- se dar uma explicação satisfatória
possibilidade de compreensão do o grande boom havia sido seguido cura identificar e explicar alguns para esses movimentos” (Hobsba-
cenário mundial contemporâneo: por uma grande depressão.” (HO- dos determinantes do ciclo e de- wm, op. cit., p. 75). Por esta análi-
este pode ser encarado como uma BSBAWM, E. A Era do Capital. linear possíveis estratégias para se, estaríamos numa fase indefini-
típica transformação conjuntural Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1981, retomar o crescimento. Destaca- da da transição, já que poderiamos
e/ou estrutural da economia mun- p. 62). A percepção da crise – di- -se que a dinâmica do ciclo atual estar encerrando a parte positiva
dial ou, por outro lado, expõe um ficultada pela capacidade analítica é impulsionada essencialmente pe- da primeira metade de uma “onda”
quadro de crise de longa duração. de discerni-la em meio a um cená- lo consumo privado e pelos gastos – já manifestando o que virá mais
Nesta clave é que devemos refletir rio de dificuldades –, cerca os con- do governo. Por outro lado, o in- adiante – quando entraríamos na
para estabelecer qual o parâmetro temporâneos que a vivem, criando vestimento e as exportações, que metade negativa do ciclo.
adequado para analisarmos as difi- a desolação com a realidade mate- são os determinantes mais impor- Dentre todas as teorias possíveis
culdades da maioria das economias rial existente. tantes da demanda agregada pa- de explicação para as crises econô-
capitalistas em promover o cresci- Análises mais sofisticadas so- ra a acumulação de capital, a ge- micas, e mais especificamente pa-
mento econômico. bre as crises econômicas podem, ração de capacidades produtivas e ra a atual, não podemos deixar de
Tendo como parâmetros cri- porém, enquadrá-las num “cená- o crescimento de longo prazo, de- lembrar que imensas transforma-

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8 Crise global

nico que acompanha as sociedades


Tabela 1 - crescimento econômico mundial países selecionados, 2007-2017 ocidentais, que se industrializaram
Em % em relação ao ano anterior e onde passou a coexistir um di-
2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016* 2017* vórcio abismal entre riqueza social-
Mundo 5,2 3,0 -0,7 5,1 3,8 3,4 3,3 3,4 3,2 3,1 3,4 mente produzida e meios de ob-
Economias Desenvolvidas 2,7 0,6 -3,7 3,1 1,6 1,2 1,4 1,9 2,1 1,6 1,8 tenção de renda para sobrevivência
EUA 2,1 0,4 -3,5 3,0 1,8 2,3 2,2 2,4 2,6 1,6 2,2 pela maioria da população depen-
Área do EURO 2,7 0,7 -4,3 1,8 1,4 -0,7 -0,4 1,1 2,0 1,7 1,5
dente do trabalho. Nesse proces-
Japão 2,3 -0,7 -6,3 4,5 -0,8 1,5 1,5 0,0 0,5 0,5 0,6
so, que continuamente degrada o
China 13,0 9,0 9,2 10,3 10,4 7,7 7,7 7,3 6,9 6,6 6,2
India 9,4 7,3 6,8 10,1 10,1 4,7 5,0 7,2 7,6 7,6 7,6
tecido social, somente uma gigan-
ASEAN-5** 6,3 4,8 1,7 6,9 4,5 6,2 5,2 4,6 4,8 4,8 5,1 tesca taxa de crescimento econômi-
Brasil 5,7 5,1 -0,6 7,5 2,7 1,0 2,5 0,1 -3,8 -3,3 0,5 co (como as que existiram nos “25
Rússia 8,1 5,6 -7,8 4,3 4,3 3,4 1,3 0,7 -3,7 -0,8 1,1 anos de ouro”) poderia trazer satis-
Fonte: IMF – WORLD ECONOMIC OUTLOOK. Vários números. fação social.
* Projeção obtida IN: IMF – WORLD ECONOMIC OUTLOOK. 2016, p. 3. Devemos, então, definir uma
** Indonésia, Malásia, Filipinas, Tailândia e Vietnã.
outra crise a ser tomada em conta
para melhor caracterizar os proble-
ções institucionais, sociais, políticas perder de perspectiva que a com- rica Latina entre eles) de políti- mas econômicos contemporâneos.
e ideológicas estão em curso, o que petição intercapitalista dos Esta- cas (conservadoras) de restrição ao Esta deve ser considerada tão eco-
pode nublar nossa percepção das dos Nacionais encontra no Su- crescimento econômico, malgrado nômica quanto política e não se
causas e conseqüências. Uma aná- deste Asiático uma realidade que a intenção seja o inverso. Orien- resumirá aos índices quantitativos
lise das taxas de crescimento econô- justamente nega totalmente a tados por uma agenda rudemen- de crescimento, mas à contraposi-
mico (Tabela 1) não fornece uma ideia de que vivemos uma crise. E te liberal e socialmente retrógrada, ção entre a democracia política e
conclusão definitiva sobre um perí- aí lançamos a questão: se realmen- a expectativa de crescimento eco- a liberdade infinita de dominação
odo de crise geral, tal como nos dois te vivemos numa crise econômica nômico é candidamente alimenta- do capital. Tema já abordado por
momentos acima apontados. Ex- típica das economias capitalistas, da por utopias calcadas num hipo- Alan Wolfe nos primórdios da sua
centuando-se o ano de 2009 e casos como explicar as taxas de cresci- tético mercado desregulamentado. existência, na década de 1970, te-
específicos (como o caso do Japão), mento econômico da China, Ín- Assim, mais do que simples- rá no tema do “mal-estar” a defini-
a tese de uma crise econômica ge- dia e da Asean-5? (vide Tabela 1) mente tratarmos das agruras da ção de um processo estrutural de
neralizada merece e precisa ser exa- Todo o cuidado que temos em economia como sendo um quadro insatisfação mais do que propria-
minada melhor para dar vida à uma pensar a economia mundial con- de crise, devemos também consi- mente de crise. Esta contribuição
percepção mais lúcida sobre a na- temporânea como não sendo exa- derar o “mal-estar” com as trans- melhor definiu a debilidade eco-
tureza dos problemas econômicos tamente um quadro de crise não formações produtivas e sociais que nômica a partir de 2008, carac-
contemporâneos. Malgrado o cres- nos faz negar que as baixas taxas reduzem direitos sociais e introdu- terizando a irresoluta incompa-
cimento econômico não seja exu- de crescimento econômico (por zem o desemprego como norma da tibilidade existente entre a “(...)
berante em nenhum país selecio- vezes negativas) de vários países regulação social. Regidas por for- democracia e a mobilidade do ca-
nado (e nem mesmo seja constante não sejam um problema concre- ças políticas conservadoras – que pital (que) estão em contradição
em níveis modestos), a economia to, típico de uma recessão. O que foram capazes desde a década de fundamental”. (WOLFE, Alan.
mundial não está mergulhada nu- pleiteamos como explicador pa- 1970 de abalar a composição orgâ- “O mal-estar do capitalismo: de-
ma depressão. O sentimento de cri- ra o problema é a necessidade se nica da classe operária e suas ins- mocracia, socialismo e as contra-
se é alimentado, em nossa opinião, acoplar neste quadro uma agenda tituições sindicais e partidárias –, dições do capitalismo avançado. A
pela distância que temos hoje com de reflexão que considere fatores temos presenciado nas últimas liberdade de movimento do capi-
a perda da expectativa criada pelos socioeconômicos que ajudariam quatro décadas a perda da identi- tal é contingente com a falta de li-
“25 anos de ouro” – entre 1948- na caracterização do problema. dade subjetiva do mundo do traba- berdade das pessoas comuns para
1973 –, quando o crescimento eco- Consideraremos dois: a) a difi- lho. O resultado das inovações pro- decidir seu próprio destino.” IN:
nômico foi facilitado por inúmeros culdade do crescimento das eco- dutivas oriundas do toyotismo e da WOLFE, A. et allii. A Questão da
fatores, que agora se apresentam co- nomias mais desenvolvidas, junto flexibilização dos contratos de tra- Democracia. Rio de Janeiro, Paz e
mo problemáticos. com a facilidade de que este esteja balho foi justamente viabilizar que Terra, 1980, p. 20)
Nesse sentido, ao procurarmos ocorrendo na Ásia; e, b) a adoção, o Leste Asiático impulsionasse seu
um significado para os problemas por parte dos governos dos paí- desenvolvimento industrial. Criou- * É professor de História Contemporânea
econômicos atuais, não podemos ses desenvolvidos (e os da Amé- -se, a partir daí, o “mal-estar” crô- da UFF.

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Crise global 9

A China, a crise e o “socialismo de mercado”


Elias Jabbour e Alexis Dantas* tacular o desempenho econômi- genética à poupança. Trata-se de
co do país; 2) sua atual contribui- um processo marcado por escolhas

E xiste um fato objetivo. A eco-


nomia chinesa, acostumada a
índices de crescimento médio aci-
ção à recuperação da demanda em
escala internacional pode ser re-
sumida tanto nos 13 milhões de
ativas de um Estado Nacional de-
cidido a recuperar sua condição de
grande potência, perdida desde as
ma dos 9% desde o início das re- empregos urbanos gerados no pa- Guerras do Ópio (1839-1842). As
formas econômicas (1978), nos ís em 2016 quanto na previsão de reformas econômicas reafirmam e
últimos – e nos próximos anos – investimentos imediatos da ordem reorientam uma estratégia nacio-
deverá acostumar-se a patamares de US$ 1 trilhão somente no Pro- nal consagrada desde os eventos
mais modestos; algo em torno de jeto “Um cinturão, uma rota”. de outubro de 1949. Desde então,
6,5% e 7,0%. As explicações va- Neste aspecto, vale um impor- os comunistas chineses passaram a
riam desde o “esgotamento de um tante parêntese: interessante notar apostar em uma inserção soberana
modelo” aos modismos etapistas/ que o problema da falta de cresci- no mundo, internalizando o de-
rostowianos que relacionam a que- mento no Brasil e no mundo não senvolvimentismo de tipo asiático
da da performance chinesa a uma deve ser analisado somente à luz da e aproveitando-se de mudanças na
tal de “armadilha da renda média” elasticidade-demanda da econo- geografia econômica internacional Elias Jabbour
e do surgimento de um “novo nor- mia chinesa. O baixo crescimento inauguradas desde o início do pro-
mal”. Autores mais sérios tratam a mundial, apesar de também deter- cesso de financeirização, além de
questão, por exemplo, como um minado pelo menor crescimen- preparar seu território à recepção
preço pago pelo país por reformas to da economia chinesa, decorre de gigantescas unidades produti-
internas recentes visando maior li- dos efeitos fundamentais das pró- vas provenientes tanto do Atlânti-
beralização financeira (1). prias políticas de recuperação que co Norte quanto de seus vizinhos
Neste sentido é evidente que a foram implementadas, sobretudo (Hong Kong, Taiwan, Coreia do
ampliação do escopo de ação in- nos países centrais. Um monetary Sul) e do Japão pós-Acordos de
ternacional de sua moeda, o ren- easing que teve pouco efeito sobre Plaza (1985).
minbi, não ocorreria sem traumas: crescimento de renda e emprego, Ao longo das reformas eco-
crises financeiras atingiram os determinando, ao contrário, uma nômicas foi se consolidando um
mercados financeiros do país em retomada dos níveis de operações grande setor privado, até então
agosto de 2015, ocasionando per- financeiras, principalmente de de- inexistente, que avançou, inclu-
da de mais de US$ 1 trilhão de su- rivativos, ao momento pré-crise. sive, sobre ativos estatais. Porém,
as reservas cambiais desde então. Voltando, o que será da China é equivocado falar em diminui-
Porém, o trauma serviu para a afir- e do mundo demanda analisar a ção do papel do Estado na China.
mação do gradualismo que acom- conjugação de dois níveis de tran- Ocorre um processo onde o Esta- Alexis Dantas
panha as reformas econômicas sição. A primeira, na transforma- do foi reorganizando a si mesmo e
com as contradições sendo enfren- ção da China em uma “potência encerrando, processualmente, no-
tadas com ação estatal objetiva do de tripla condição” (comercial, in- vas e superiores formas de atuação.
Estado; nesse caso com clara inter- dustrial e financeira). A segunda, A trajetória chinesa, que nos obri-
venção sobre a política cambial e na conjunção deste processo com ga a responder determinadas ques-
de gestão das reservas. Na China, a transição interna de dinâmica de tões postas pelo presente, é a his-
o custo da liberalização não é pago acumulação que o país tem passa- tória do surgimento de ondas de
com mais mercado, ao contrário. do, juntamente com o papel do inovações institucionais, explican-
Por outro lado, a combinação Estado e de sua força política di- do, em parte, as “soluções de con-
de alguns dados pode nos dar al- rigente (o Partido Comunista da tinuidade” do processo de desen-
guma luz sobre os rumos do gi- China – PCCh). volvimento.
gante asiático: 1) mantidas as atu- A transformação da China em Percebe-se que a cada onda de
ais médias anuais crescimento, uma “potência de tripla condição” inovações institucionais surgem
poderemos concluir como espe- não ocorreu por uma propensão novos parâmetros de atuação entre

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10 Crise global

os setores estatal e privado da eco- Ganha forma à formação de 149 conglomerados expansão do setor estatal na eco-
nomia. Por exemplo, a preparação o “socialismo empresariais localizados nos seto- nomia chinesa pós-crise pode ter
do próprio território à recepção e de mercado” res estratégicos da economia e 4) gestado uma nova formação eco-
implantação gradual das Zonas Desde o início da década de formação, em 2003, da SASAC nômico-social, o chamado “so-
Econômicas Especiais (ZEEs) e o 1990, sucessivas mudanças ins- (State-owned Assets Supervision cialismo de mercado”. Longe de
lançamento, em 1999, do “Progra- titucionais foram essenciais a: 1) and Administration Commission of ser uma “economia mista”, dado
ma de Desenvolvimento do Gran- emersão de uma moderna eco- the State Council), responsável pe- o poder de encadeamento do se-
de Oeste” constituíram-se em de- nomia monetária (fortalecimen- la observância da execução das po- tor estatal. Algo muito diferente
senvolvimentos de elevação da ação to e capilarização de uma imensa líticas de Estado por parte dos ci- dos capitalismos de Estado clássi-
do Estado em relação ao avanço, rede de bancos públicos voltados tados conglomerados estatais (um cos, dado o peso real do próprio
por baixo, do setor privado. A arti- ao crédito de longo prazo) substi- claro órgão moderno de coordena- setor estatal na China: a estrutu-
culação destes ciclos institucionais tuindo uma rede de financiamen- ção do investimento). ra de propriedade chinesa ainda é
com as dinâmicas internas de acu- to dependente do orçamento esta- Esse interessante processo in- muito diferente de outras partes
mulação dá conta de um processo tal e das empresas; 2) mecanismos terno, com gigantescas implica- do mundo. Esse processo reflete-
que tem capacitado o Estado Na- de controle macroeconômico (ma- ções internacionais, logrou o de- -se diretamente em um aumento
cional chinês à intervenção rápida xidesvalorização cambial em 1994 senvolvimento de um poderoso contínuo, desde a segunda meta-
e direta sobre a realidade – confor- e instituição de controle sobre os Estado Nacional, que detém o de da década de 1990, do controle
me a própria resposta estatal à crise fluxos de capitais); 3) um processo controle dos instrumentos cru- governamental sobre os fluxos da
desde 2008 tem demonstrado. Ve- de fusões e aquisições no setor es- ciais do processo de acumulação renda nacional: de 13,5% do PIB
jamos abaixo. tatal da economia, dando margem e formação de policy space à exe- em 1996 a 37,3% em 2015 (3).
cução de políticas monetárias pro- Esse “socialismo de mercado”
pícias à socialização do investi- nasce na interseção entre um poder
mento. Em outras “duas pontas”, político de novo tipo, gestado nos
o Estado – através de seus bancos acontecimentos de 1949, e a fusão
de desenvolvimento – tanto finan- do grande banco e da grande in-
cia o longo prazo quanto se utili- dústria, ambas estatais. Trata-se de
za de seus conglomerados estatais um processo fascinante. Uma cons-
para a execução de grandes em- trução eivada de limites e contra-
preendimentos internos e exter- dições explosivas. Algo que deve-
nos. Investimentos estes (“na fren- ríamos, o pensamento progressista
te”) geradores, nos lembrando A. em geral, olhar com mais atenção,
Hirschman, de efeitos de encade- mais profundidade e, principal-
amento que – em primeira instân- mente, menos preconceito.
cia – beneficiam diretamente seu
braço ancilar, o setor privado (2). * Respectivamente professor adjunto e
Por fim, não estaríamos lon- professor associado da Faculdade de Ciên-
ge da verdade ao afirmar que a cias Econômicas da Uerj.

Referências

(1) LO, D: China confronts the Great Recession: ‘rebalancing’ neolibe-


ralism, or else. In, ARESTIS, P.; SAWYER, M. Emerging Economies Du-
ring and After the Great Recession. New York: Palgrave Macmillan, 2016.
(2) Sobre este processo cíclico interno, ler: PAULA, L. F. & JABBOUR,
E.: A China e seu catching up: uma análise desenvolvimentista clássi-
ca. In, Prêmio ABDE-BID, Edição 2016 (coletânea de trabalhos). ABDE-
-BID: Rio de Janeiro, 2017.
(3) NAUGHTON, B: Is China Socialist? Journal of Economic Perspecti-
ves, (31) 1, 2017: pp. 3-24.

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Crise global 11

Rumos da Ordem Econômica Internacional


Williams Gonçalves* afirmando que a China represen- sua condição de interlocutora ne- O que a faz diferir da Rússia é o
ta a maior ameaça à posição dos cessária no sistema internacional fato de ter conseguido operar com

O espetacular crescimento eco-


nômico que a China tem ex-
perimentado desde finais da dé-
Estados Unidos no mundo e que
a política de globalização foi um
grave erro que determinou a as-
de poder está respaldada pela posse
de um dispositivo nuclear-militar e
pelo assento permanente no Con-
sucesso a transição da economia
centralmente planificada para a
economia planejada, sem descon-
cada de 1970 vem provocando censão da China e o declínio dos selho de Segurança da ONU. tinuidade política, mantendo-se o
importantes mudanças econô- Estados Unidos. Bizarrices com- À primeira vista a China apre- Partido Comunista Chinês na di-
micas e políticas internacionais. portamentais à parte, Trump rei- senta as mesmas características da reção do Estado. Os problemas
A famosa frase de Napoleão Bo- tera ponto de vista de vários re- Rússia. É uma nação muito ciosa políticos que enfrentou, como os
naparte, pronunciada em 1816: publicanos ilustres, como Henry da antiguidade e da solidez de seus incidentes da Praça da Paz Celes-
“Deixemos a China dormir, por- Kissinger, por exemplo. Para es- valores culturais. Tal como a Rús- tial (1989), foram resolvidos sem
que quando ela acordar o mundo te último, Rússia e China são as sia, dispõe de armas nucleares e sacrifício do sistema político.
tremerá”, confirma-se hoje como duas potências que ameaçam os tem assento permanente no Con- A questão que desafia a inteli-
presciente. Após longo período, interesses norte-americanos no selho de Segurança da ONU, do gência dos formuladores de polí-
inicialmente marcado pelas agres- mundo. A ameaça russa advém da mesmo modo que tem por norma tica dos Estados Unidos é: como
sões que a inseriram à revelia no orientação nacionalista de seu go- não admitir nenhuma negociação enfrentar essas ameaças? A primei-
mercado internacional, e poste- verno, que insiste em manter um que resulte em perda de soberania. ra coisa considerada pelos estra-
riormente seguido por turbulên- perímetro de defesa do Estado
cias, reestruturação e recolhimen- que é incompatível com a
to, a China reinseriu-se no sistema concepção estratégica
deslocando o eixo do poder mun- da OTAN. A ameaça
dial e sentenciando o esgotamen- chinesa decorre dos
to da ordem internacional liberal. inexoráveis desdo-
O discurso pronunciado por bramentos de seu
Xi Jinping na abertura da última crescimento. Segun-
reunião anual do Fórum Econô- do Kissinger, o pleno
mico Mundial, em Davos, lou- desenvolvimento da
vando os benefícios causados pe- China exigirá a criação de
la globalização econômica, pode nova ordem internacional,
ser interpretado como um discur- inevitavelmente.
so de vitória. Distinguindo a ideo- As duas ame-
logia da globalização – aquela que aças apresentam
invoca a abertura total da econo- características apa-
mia como a chave da prosperidade rentemente parecidas.
– da globalização histórica – aque- As características da
la decorrente da crescente produ- Rússia são bem co-
tividade social e resultado natural nhecidas. Trata-se de
do progresso científico e tecnoló- uma nação orgulho-
gico –, Xi Jinping afirmou ser a sa de sua história e
confiança nas vantagens propor- de sua cul-
cionadas pela globalização econô- tura, que
mica a origem do exponencial de- reencontrou
senvolvimento chinês. a estabilidade política, depois da
O desconcertante pronuncia- turbulência que marcou o período
mento de Xi Jinping explica, em de Boris Iéltsin (1991-1999), e lu-
grande medida, porque Donald ta para recuperar o prestígio que já
Trump fez campanha eleitoral desfrutou no passado. Além disso,

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12 Crise global

tegistas norte-americanos é que, primeira preocupação diz respei- Essa é a primeira maneira pela cidos para promover a igualdade
apesar de semelhantes, as ameaças to ao planejamento. As mudanças qual os Estados Unidos se sentem e justiça sociais”. Em seu pensa-
são, na verdade, distintas. A Rús- havidas em 1978 determinaram ameaçados pela China: a demons- mento, o elogio da globalização
sia pode ser considerada uma ame- o abandono da economia central- tração para os grandes países peri- não significa caminho livre pa-
aça tradicional. Ou seja, aos seus mente planificada. Mas diferente- féricos da eficácia do planejamento ra manutenção da ordem liberal,
olhos, o que motiva o comporta- mente do que aconteceu na Rús- para o desenvolvimento socioeco- que tem mantido as desigualdades
mento internacional do governo sia, essa decisão não significou a nômico. O modelo econômico sociais e a desigualdade entre os
russo é prestígio e poder. As ações tentativa de uma imediata trans- chinês revela a possibilidade de ga- Estados, mas sim meio para a rea-
de Vladimir Putin estariam orien- formação da economia chinesa rantir a satisfação das necessidades lização de mudanças.
tadas no sentido de rechaçar qual- em uma economia orientada pelo básicas da população, sem impedir A segunda frente de atuação é a
quer iniciativa dos Estados Uni- mercado. A mudança se deu me- o enriquecimento dos mais empre- formação de alianças com os gran-
dos e de seus aliados europeus que diante gradual abertura da econo- endedores e dos bafejados pela sor- des países da periferia e a criação
possa ser interpretada pelos rus- mia, controlada pelo Estado, até te. Seu triunfo econômico descon- de novas instituições multilaterais
sos como invasivas e depreciativas alcançar o status denominado pe- ceitua o liberalismo. orientadas no sentido de promo-
dos interesses nacionais. Essa ame- los dirigentes chineses de econo- A segunda e maior preocupa- ver o desenvolvimento desses pa-
aça é considerada tradicional e não mia “socialista de mercado”. ção dos norte-americanos com a íses. Melhor exemplo dessa ação
é difícil de arrostá-la porque, nes- O controle político da econo- China relaciona-se à ordem econô- é o BRICS. Por meio da aliança
se caso, a luta se trava nos terre- mia pelo Estado foi sendo realiza- mica internacional. A ordem eco- com Rússia, Índia, África do Sul e
nos político, diplomático e militar, do por etapas, o que decerto evitou nômica internacional que vai se Brasil, foram criados o Novo Ban-
nos quais os norte-americanos têm que o processo descambasse para desvanecendo foi criada pelos Es- co de Desenvolvimento e o Ar-
muita experiência acumulada. a anarquia. Ademais, sabendo ex- tados Unidos no período final da ranjo Contingente de Reservas, o
A ameaça chinesa, entretanto, plorar a cobiça das grandes corpo- Segunda Guerra Mundial e cons- primeiro um banco para financia-
nada tem de tradicional. Ela é con- rações empresariais pelo seu vasto tituiu, em grande medida, a ra- mento de projetos de investimen-
siderada inédita e muito mais peri- mercado, a China impôs condições zão principal de sua proeminên- tos nos países em desenvolvimento
gosa. Inédita porque se apresenta para a abertura que favoreceram cia. Ela está institucionalmente e o segundo um fundo de estabili-
no terreno da economia, e perigo- não apenas a industrialização do fundada no Banco Mundial, no zação para os cinco países.
sa porque põe em risco a lideran- país, mas também a transferência e Fundo Monetário Internacional e Qual será o resultado dessa dis-
ça econômica dos Estados Unidos. a assimilação de tecnologia. O êxito no Acordo Geral de Tarifas e Co- puta? Pelo fato de a China deter
Malgrado o crescente investimen- alcançado nesse processo permitiu mércio/Organização Mundial do vultosos valores em títulos do Te-
to em aumento e modernização que os chineses superassem a caute- Comércio, e tem por função fun- souro norte-americano, há quem
de suas forças armadas, e algu- la inicial e se decidissem, a partir de damental zelar pela aplicação dos considere que a tendência é de
mas tensões pontuais, como são os meados dos anos 1990, a participar princípios liberais. uma convergência para governan-
casos do Mar do Sul da China e integralmente da globalização eco- A China não hostiliza aberta- ça global conjunta. Há também
Taiwan, o fato é que a China evita nômica. Esse controle evitou que a mente essas instituições. Seu mo- quem considere que a ideia con-
se envolver em questões que pos- China sucumbisse à crise de 2008. do de operar não é esse. Os diri- fuciana do “mundo harmonioso”
sam gerar mal-entendidos e em- Isso, por sua vez, se fez renuncian- gentes chineses atuam em duas exercida pela China na Ásia até
prego de meios militares. A Chi- do ao modelo exportador e aplican- frentes. Ao mesmo tempo em que 1842 é intransferível para o resto
na mostra claramente que não lhe do, a partir de 2010, o modelo ba- buscaram inserir a China na or- do mundo, devido à falta de soft
interessa qualquer envolvimento seado no consumo doméstico, ao dem internacional liberal, atuam power. Mas e o Brasil nisso tudo?
de natureza político-militar nos mesmo tempo em que substituiu a no sentido de construir uma no- Ainda compartilha o projeto de
lugares em que encontra resistên- exportação de produtos ordinários, va ordem paralelamente. O acima nova ordem do BRICS? Ou estará
cia por parte dos Estados Unidos e destinados a consumidores de bai- citado discurso de Xi Jinping em com os Estados Unidos? Com os
de seus aliados. Os chineses têm o xa renda, por produtos de alto valor Davos é bom exemplo do uso das Estados Unidos protecionistas de
cuidado de convencer a todos que tecnológico agregado. O resultado instituições liberais. Nele, o Se- Trump? Quem sabe?
sua ascensão é realmente pacífica. geral é que o 13º Plano Quinque- cretário-Geral reclama novo mo-
Daí porque os formuladores norte- nal, que se completará em 2020, delo de governança, que priorize
-americanos não sabem, na verda- não foi prejudicado, havendo a eco- o desenvolvimento e que “deverá * É doutor em Sociologia pela USP, pro-
fessor do programa de pós-graduação em
de, como lidar com a China. nomia crescido à taxa média anual dar prioridade à luta contra a po-
Relações Internacionais da Uerj, professor
A ascensão econômica da Chi- de 6,5%, e com expectativas de re- breza, o desemprego e o aumen- convidado da Coppead/UFRJ e membro
na preocupa os dirigentes norte- petir o mesmo desempenho no pró- to da disparidade de rendimentos, do Centro de Estudos Políticos e Estraté-
-americanos de duas maneiras. A ximo Plano. e às preocupações dos desfavore- gicos da Marinha do Brasil.

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Fórum Popular do Orçamento 13

Rio de Janeiro e a crise de 2008:


como a cidade surfou na marolinha?
A crise financeira de 2008 foi
considerada o maior colapso
do sistema capitalista desde a gran-
subsequente (2006-2010), guia-
da por uma atuação anticíclica por
parte do governo central, que vi-
tados os dados do município do
Rio de Janeiro.
Enquanto o Rio apresentou
30% do investimento no Governo
Geral. Nos Governos Municipais,
não houve grandes impactos, mas
de depressão de 1929. Iniciada nos sou amortecer os efeitos negativos uma ampliação de 271% nos ní- o Rio continuou sua expansão, vis-
Estados Unidos a partir do estouro da crise internacional de 2008. Po- veis de investimento em 2010 e os to que era véspera das Olimpíadas,
da bolha especulativa no mercado rém, entre 2011 e 2014 percebe-se manteve nos anos subsequentes, o e aumentou sua taxa em 31%.
imobiliário, somado à enorme ex- a estagnação dos investimentos e, a que se vê nos Governos Municipais Ao final do período analisado,
pansão de crédito bancário, a crise, partir de 2015, torna-se evidente o e no Governo Geral é um aumen- nota-se que os Governos Munici-
logo em seguida, se espalhou pelo contracionismo fiscal nas diversas to de 31% e 34%, respectivamente, pais e o Governo Geral seguiram
mundo todo. esferas governamentais, como um no mesmo ano, discreto se compa- com seus níveis de investimento es-
Assim, o Brasil pôde observar reflexo do esgotamento da estraté- rado ao da cidade maravilhosa. Em táveis. O Rio, neste mesmo perío-
reflexos dessa recessão na queda do gia implantada anteriormente1. O 2011, a diferença é ainda maior. do, ampliou seus investimentos em
seu Produto Interno Bruto (PIB), panorama das oscilações observa- Enquanto que os Governos Muni- 303%. Enfim, a gestão de Eduardo
na inflação, nas variações do dólar das é útil para compararmos a si- cipais se mantiveram com seus in- Paes alcançou níveis de investimen-
e na taxa de juros. Tais movimen- tuação do investimento na cidade vestimentos em média estáveis e o to muito altos em relação ao país e
tos trouxeram impactos na dinâ- do Rio de Janeiro com a tendên- Governo Geral reduziu 17%, a pre- outros municípios, em muito devi-
mica econômica nos governos sub- cia dos outros municípios e do pa- feitura carioca ampliou em 101%, do à realização da Copa do Mundo
-regionais e, consequentemente, ís em geral. o que demonstra o grande destaque de 2014 e as Olimpíadas Rio 2016.
em seus municípios. O estudo do Ipea “Investimen- do Rio neste quesito. De fato, tais gastos foram centrali-
A presente matéria analisou a to Público no Brasil: Trajetória e Após um período de estabili- zados em infraestrutura e mobili-
trajetória das contas cariocas de Relações com o Regime Fiscal” ob- dade em todas as esferas, o ano de dade urbana, mas os resultados nos
2009 a 2016, através de tópicos teve dados decompostos em Go- 2015 merece destaque. Marcado indicadores sociais não podem ser
como dívida consolidada e inves- vernos Municipais (soma de inves- pela chegada da crise e da conse- considerados positivos.
timentos municipais. O objetivo é timentos de todos os municípios) quente deterioração dos indicado- Apesar do aumento do gasto
o balanço dos gastos públicos de- e do Governo Geral (soma de in- res sociais, iniciou-se uma movi- público e dos investimentos no pe-
pois de oito anos de mandato do vestimentos de todas as esferas go- mentação nos setores públicos pela ríodo recente, o Rio registrou um
sr. Eduardo Paes, impactados por vernamentais e empresas públicas realização de um ajuste fiscal pa- aumento de 100% no desempre-
uma grande crise internacional, federais), que podem ser vistos no ra conter os gastos. O reflexo dis- go de 2015 para 2016, o maior se
uma Copa do Mundo e pelos Jo- quadro 1, no qual foram acrescen- so pode ser visto na redução em comparado com as cidades ana-
gos Olímpicos Rio 2016.
Todos os dados deste artigo es-
tão deflacionados segundo o IPCA Quadro 1 – Investimento público no governo municipal, governo geral e município do Rio
referente a março de 2017. Investimento público em bilhões
Ano Governo Municipal Variação G.M. Governo Geral Variação G.G. Rio de Janeiro Variação R.J.
Investimentos a partir 2008 54,6 115,8 1,44 -9%
da crise mundial 2009 41,5 -24% 123,9 7% 0,65 -55%
O investimento público possui 2010 54,5 31% 166,6 34% 2,42 271%
um papel determinante no plane- 2011 55,0 1% 137,6 -17% 4,86 101%
jamento estratégico de cada gover- 2012 61,6 12% 141,9 3% 4,58 -6%
no e sobre a forma que este dese- 2013 42,9 -30% 145,9 3% 3,77 -18%
ja atuar. Assim, a trajetória recente 2014 50,7 18% 170,0 17% 4,41 17%
do investimento no Brasil revela 2015 50,0 -1% 118,8 -30% 5,80 31%
que, após um período de contração Total -8% 3% 303%
de gastos (1999-2005), iniciou-
Fonte: IPEA – 2016 e Prestação de contas 2008-2016.
-se uma forte expansão no período

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14 Fórum Popular do Orçamento

Quadro 2 – Taxa de desocupação


Taxa de desocupação no 4º trimestre
Ano Rio de Janeiro Variação São Paulo Variação2 Belo Horizonte Variação3 Porto Alegre Variação4 Salvador Variação5 Brasil Variação6
2012 6,4 6,2 6 3,7 9,6 6,9
2013 5,4 -16% 6 -3% 5,5 -8% 5,1 38% 10 4% 6,2 -10%
2014 4,4 -19% 6,4 7% 5,7 4% 4,8 -6% 11,6 16% 6,5 5%
2015 5,2 18% 8,9 39% 9,4 65% 6,9 44% 13 12% 9 38%
2016 10,4 100% 12,3 38% 11,5 22% 9 30% 16,5 27% 12 33%
2017* 11,4 10% 14,1 15% 14,5 26% 10 11% 15,3 -7% 13,7 14%

fonte: IBGE. *Para o ano de 2017, a taxa de desocupação apresentada é referente ao 1º semestre do ano.

lisadas no quadro 2 e com o pa- quência dos reflexos da recessão


Gráfico 1 – Evolução da despesa sobre o PIB.
ís. Dessa forma, percebemos que ocorrida devido à crise em 2008.
os esforços não foram suficientes Depois disso, a despesa só cresceu,
para conter os impactos da reces- registrando no acumulado entre
são que assolou o Brasil a partir de 2009 e 2014 um crescimento de
2015. Pelo contrário, a cidade so- mais de R$ 10 bilhões.
freu de forma significativa com o O gráfico 1 apresenta todos os
desemprego, mesmo em ano de valores do PIB municipal de 2008
Jogos Olímpicos. a 2014, último ano divulgado pe-
lo IBGE, e a trajetória da despe-
A Despesa e o sa total da prefeitura nesses anos,
Endividamento Municipal a fim de comparação para obter o
Fontes: Prestação de Contas de Gestão RJ: 2008-2014 e IBGE Um indicador importante para peso dessa despesa sobre o PIB.
mensurar a atividade econômica de A partir do gráfico é possível
Gráfico 2 – Dívida consolidada do Município uma região é o PIB. O peso do go- observar que o peso da despesa te-
verno carioca no o PIB municipal, ve oscilações, variando entre 6% e
em muito condicionado pelos ní- 8%, mostrando esse acompanha-
veis de investimento, teve um au- mento no aumento do gasto total
mento significativo, fazendo com da Prefeitura com o PIB munici-
que a sua participação no PIB na- pal. É válido frisar que a despesa
cional crescesse. Entre os demais continuou crescendo no ano se-
municípios, foi o que mais cres- guinte e atingiu o patamar de R$
ceu em 2013, em relação a 2012. 30,5 bilhões em 2015. Em 2016 o
Segundo o IBGE, a cidade cresceu valor teve um pequeno recuo para
0,1 ponto percentual e o motivo R$ 29,7 bilhões.
Fonte: Prestação de Contas de Gestão RJ: 2008-2016. principal foram as grandes obras de Além da despesa municipal, a
infraestrutura realizadas. Uma vez dívida é um bom indicador para
Gráfico 3 – Relação entre a Dívida Consolidada Líquida que o ano de 2013 foi o anteceden- analisar como foi a gestão da pre-
e a Receita Corrente Líquida te à realização da Copa do Mundo, feitura nos anos pós-crise de 2008.
a cidade, que foi uma das sedes do Visto o alto investimento realiza-
evento, teve o seu maior ganho no do no município, o histórico re-
segmento de construção civil. cente da Dívida Municipal mostra
No entanto, esse aumento do que a mesma mantém-se em pa-
PIB veio acompanhado de um tamares altos, em média R$15,6
grande aumento da despesa total bilhões por ano, sendo a Dívida
da prefeitura. Apesar de, em 2009, Contratual o item mais significa-
Eduardo Paes ter recuado o valor tivo, representando cerca de 90%
total da despesa, com relação ao da Dívida Consolidada e apresen-
último ano do mandato anterior, tando um aumento de 44% entre
Fonte: Prestação de Contas de Gestão RJ: 2008-2016. acredita-se que tenha sido conse- 2008 e 2015.

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15

O gráfico 2 traz a trajetó- 2016. Contudo, é válido ressaltar


ria da Dívida Consolidada entre que a relação OC/RCL piorou Tabela 1 – Total Consolidado da Despesa com Pessoal
2008 e 2016. Sobre este período, nos últimos anos, apresentando sobre a RCL em 2016.
pode-se destacar que em 2010 um aumento de 11 pontos per-
Despesa Total com Pessoal 10.959.023,034,04
houve uma reestruturação da dí- centuais, em função de um au-
Receita Corrente Líquida 21.024.033.512,65
vida municipal2 junto à União, mento de 4.861% das operações
DTP/RCL 52,13%
aliviando o peso do serviço da de crédito durante o governo de
dívida no orçamento e manten- Eduardo Paes. Fonte: Prestação de Contas

do o estoque da dívida constan- Além disso, pode-se desta-


te entre 2010 e 2011. Nos anos car o saldo devedor das opera- al alcançaram um crescimento real. lhões. Apesar de Eduardo Paes ne-
de 2014 e 2015 observa-se uma ções de crédito para estruturação Os restos a pagar apresentaram gar estas acusações, o que sabe é
tendência de alta, tendo um au- de transporte e mobilidade urba- uma trajetória crescente no perí- que o gasto público já vem sendo
mento de cerca de 30% em com- na, que representava 5% das ope- odo analisado, comportamento significativamente reduzido a par-
paração a 2013. rações de crédito em 2012 e su- oposto à disponibilidade de caixa tir deste ano, e o investimento se-
Já em 2016, nota-se uma que- biu para 52% em 2016, quando da prefeitura, que vem diminuin- gue a mesma tendência. Nota-se
da de aproximadamente 26%, vis- o endividamento com mobilida- do nos últimos anos. Consequen- que até junho de 2017 foram in-
-à-vis o exercício anterior decor- de urbana alcançou R$ 6,14 bi- temente, o resultado nominal vestidos R$ 130 milhões, e caso es-
rente da renegociação da dívida lhões em valores absolutos. também está em queda, de mo- te siga a mesma proporção, apre-
com a União, que resultou numa Outro aspecto importante é a do que a prefeitura fechou o cai- sentará um decréscimo de 93% em
redução de R$ 5,78 bilhões do sal- relação da despesa total com pes- xa com saldo negativo em 2016, relação ao ano de 2016.
do devedor da dívida. soal com a RCL. A Lei de Respon- o que ocorreu devido a obrigações Assim, os impactos da cri-
Em relação à Dívida Conso- sabilidade Fiscal determina que o que incluem restos a pagar e can- se não foram contidos até 2016:
lidada Líquida (DCL), percebe- limite para tal despesa é de 60% celamentos ilegais de empenhos3, a dúvida será em como amorte-
-se que a mesma se manteve den- da RCL (art. 19, inciso III), di- colaborando ainda mais para o au- cê-los a partir de agora, com o
tro dos limites legais no período vididos em 6% para o Legislati- mento do endividamento. brusco avanço do desemprego e a
analisado, que segundo a Resolu- vo, incluindo o Tribunal de Con- dificuldade de se retomar o cres-
ção 40/2001 do Senado Federal é tas do Município, e 54% para o Considerações cimento econômico. As opções
de 120% da Receita Corrente Lí- Executivo (art. 20, inciso III, alí- finais postadas no debate veiculado na
quida (RCL). Entre 2008 e 2013 neas “a” e “b”). A tabela 1 apresen- Percebemos que nos últimos mídia predominante são aumen-
a melhora da relação DCL/RCL ta o total da despesa com pessoal nove anos o gasto com a dívida da to de impostos e diminuição de
ocorreu em virtude do aumen- e a RCL do ano passado, no qual, prefeitura manteve-se alto, apre- direitos sociais, seja em nível na-
to da RCL, que cresceu 41,35% houve um aumento de 100% do sentando alguns momentos de cional, seja em nível municipal.
frente ao crescimento de 39,41% desemprego. queda devido à renegociação da Nesta esfera, leia-se, aumento do
da DCL. A partir de 2014, com a Os gastos com o Poder Execu- dívida junto a União. Por outro la- IPTU, sobretudo nas áreas menos
diminuição da receita e o aumen- tivo, Câmara Municipal e Tribu- do, nesse período o Rio financiou favorecidas da cidade, reforma da
to da dívida, a relação DCL/RCL nal de Contas corresponderam a grande parte dos altos investimen- previdência e contenção do gasto
piorou e chegou a 76%, em 2015, 49,04%, 2,19% e 0,90%, respec- tos voltados à realização dos mega- com pessoal, penalizando o fun-
como mostra o gráfico 3. tivamente, mostrando atender os eventos através de novos emprésti- cionalismo e os serviços públicos
Além do aumento do gasto limites previstos de acordo com a mos, comprometendo ainda mais essenciais às camadas mais pobres
com a Dívida no período, tam- LRF. Entretanto, a despesa com o o gasto municipal futuro com ju- de nossa sociedade.
bém é perceptível o crescente pe- Poder Executivo, ao ultrapassar o ros e encargos da dívida.
so das operações de crédito (OC) limite de alerta de 48,6%, também A respeito do legado fiscal dei- 1 Investimento Público no Brasil: Trajetó-
nas receitas, apesar delas tam- predeterminado pela lei, demons- xado pela última gestão, o relatório ria e Relações com o Regime Fiscal (IPEA)
bém se manterem dentro do limi- tra o aumento do gasto com pesso- do TCMRJ reconhece que a prefei- – Visitado em 04/08/2017.
te legal, que segundo a Resolução al (Executivo e Consolidado). Em tura cancelou empenhos sem vali- 2 Mais informações no Jornal dos Econo-
mistas- 05/2015
43/2001 do Senado Federal é de 2016, enquanto a RCL apresen- dação prévia, infringindo a Lei de 3 http://www.tcm.rj.gov.br/Noticias/
16% da RCL, pois o maior regis- tou um decréscimo em relação ao Responsabilidade Fiscal e resultan- 12626/a_Relatorio_CAD.pdf, acessado
tro desse índice foi 11,27%, em ano anterior, as Despesas de Pesso- do em um déficit de R$110 mi- em 15/08/2017.

FÓRUM POPULAR DO ORÇAMENTO – RJ (21 2103-0121)


Para mais informações acesse: www.facebook.com/FPO.Corecon.Rj
Coordenação: Luiz Mario Behnken e Bruno Lopes. Assistentes: Est. Bruno Lins, Est. Hellen Machado e Est. Thamyris Meirellis.

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Formando da UFRRJ-Nova Iguaçu


conquista primeira colocação
no Prêmio de Monografia 2017
■ O formando João Paulo Davi Constantino, A terceira colocação coube a Juliana Teixeira
da UFRRJ-Nova Iguaçu, recebeu o prêmio de Brasileiro, formanda da UFF, com a monogra-
primeiro lugar no XXVII Prêmio de Monogra- fia A filosofia moral de Smith: revisitando o Das
fia Economista Celso Furtado, que é conferido Adam Smith Problem, orientada por João Leo-
pelo Corecon-RJ. A monografia de João Paulo, nardo Gomes Medeiros. Estudantes da UFRJ
intitulada Instituições e desenvolvimento econô- A banca de avaliadores do concurso con- vencem Gincana
mico na África do Sul pós-apartheid: uma análise feriu menção honrosa ao trabalho Financeiri-
Leonardo de Castro Lima e Felipe Costa de
crítica ao discurso institucionalista mainstream, zação e dependência: o Brasil nas transformações Farias, estudantes da UFRJ, conquistaram o
foi orientada por Robson Dias da Silva. do capitalismo contemporâneo, de autoria de Pa- primeiro lugar na VII Gincana Regional de Eco-
Raphael de Aquino Ludwig Pereira, da PUC- mela Teixeira Mendes Penna, também da UFF, nomia, realizada pelo Corecon-RJ em 20 de ju-
-Rio, conquistou o segundo lugar no concurso com que foi orientada por Hugo Correa. lho. Emanuel Rodrigues de Vargas e Igor Paim
o trabalho Nowcasting do desemprego com Google Resumos dos quatro trabalhos serão publi- Pereira Carlos, da Universidade Estácio de Sá,
ficaram em segundo. Os estudantes José Hen-
trends: evidências do mercado de trabalho brasileiro, cados nas próximas edições do Jornal dos Eco-
riques da Silva Ribeiro Junior e Vinícius Nunes
orientado por Pedro Carvalho Loureiro de Souza. nomistas. de Almeida, da UFRRJ – Nova Iguaçu, e Laris-
sa Nunes dos Santos e Rômulo Bernardo dos
Agenda de cursos Santos, da UFRRJ – Seropédica, obtiveram a
terceira e quarta colocações.
O Corecon-RJ oferece cursos de atualização profissional em nossa área de atuação.
Saiba mais em http://www.corecon-rj.org.br/agendados

Gestão Financeira Os Cenários Econômicos e os Impactos


25/9 a 8/11 | Carga horária: 42h na Estratégia de Negócios
18h30 às 21h30 | segundas e quartas 16/11 a 14/12 | Carga horária: 15 horas
Professor Danilo Rennó 18h30 às 21h30 | quintas
Professor João Teixeira de Azevedo Neto
Economia e Mobilidade Urbana Sustentável
28/9 a 9/11 | Carga horária: 15h Atualização em Economia: preparatório para ANPEC
18h30 às 21h30 | quartas Janeiro a Setembro de 2018 | Carga horária: 521h
Professora Natália G. de Moraes 2ª a 6ª, das 18h30 às 21h30, e alguns sábados,
das 9h às 12h30
Matemática Financeira INSCRIÇÕES ABERTAS
com HP 12C e Excel
9/10 a 8/11 | Carga horária: 30h Perícia Econômica
18h30 às 21h30 | segundas e quartas Junho a Novembro de 2018 | Carga horária: 69h
Professor Raul Murilo Chaves Curvo 18h30 às 21h30 | terças
Professor Roque Licks
Introdução à Economia Política Certificado aceito pelo TJ-RJ
em Smith, Ricardo e Marx – Módulo I INSCRIÇÕES ABERTAS
24/10 a 7/12 | Carga horária: 39h
18h45 às 21h45 | terças e quintas Faça sua inscrição em
Professor Marco Antônio M Coutinho www.corecon-rj.org.br/cursos_inscricao.php

Novas aquisições da Biblioteca


A Biblioteca Eginardo Pires, localizada na sede do Corecon-RJ, recebeu novos títulos do curso “Atualização em
Economia: preparatório para ANPEC”, ministrado na instituição. Os volumes versam sobre Matemática, Microe-
conomia, Macroeconomia, Estatística e Economia Brasileira. Com as novas aquisições, o acervo da biblioteca
cobre 80% da bibliografia utilizada pelos professores que ministram o curso preparatório.

Atualize seu cadastro no Corecon-RJ


Manter o cadastro atualizado é fundamental para que o Conselho possa se comunicar com você. Solicitamos que você nos informe sobre qualquer mudança nos
seus dados cadastrais, tais como: e-mail, endereço residencial ou comercial, telefones fixo ou celular etc. Você pode utilizar os seguintes canais:
1) Site do Corecon-RJ, www.corecon-rj.org.br, seção “atualização cadastral” (na barra superior)
2) Telefones: 21-2103-0113; 2103-0114; 2103-0115; 2103-0116; 2103-0131.
3) E-mails: thiago@corecon-rj.org.br; karina@corecon-rj.org.br; silvia@corecon-rj.org.br; claudio@corecon-rj.org.br; samuel@corecon-rj.br; registro@corecon-rj.org.br.

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