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Trabalho Sobre Feijó
Trabalho Sobre Feijó
Faculdade de Teologia
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Possidônio Silva. “De além tumulo”. Apud Padre Deusdedit de Araújo, Padre Diogo Antônio Feijó:
Conferencia realizada no salão D. Antônio Joaquim Mello em Itu a 13 de maio de 1948. São Paul:
Folhetos do Instituto e Geográfico de São Paulo. 1948.
Feijó obrava neste assuntos delicados, acreditava que tudo fazia por estar
“persuadido que zelava pela mesma Igreja Católica”.
Os debates sobre as heresias de Feijó datam da época que este ainda vivia e
também foram constantemente rebatidos por seus amigos clérigos, ainda no século
XIX e início do século XX.
Para o cônego Pinheiro2, Feijó fez-se político após a crise mística dos
patrocinista de Itu. O “cisne da fé” patrocinista, ou seja, aquela fé reabilitada e
puramente oriunda da doutrina católica, havia sido jogado no universo ou no
“universo” político da década de 1820. Era o “furacão revolucionário”, ou o “sangue
patriótico” que ocorria nas veias de Feijó que explicavam o ingresso deste na
politica imperial. Para o cônego Pinheiro, no mundo do Império, os padres também
eram cidadãos, e, diante da comparação entre a letargia da vida de Itu e a
importância da vida revolucionaria da corte, Feijó havia decidido ingressar na
segunda.
Apesar do duplo despertar de Feijó, o futuro regente ficou conhecido por sua
polemica participação em assuntos religiosos dentro do parlamento brasileiro de
1826 e enquanto ministro da justiça e regente de 1831 e 1835.
Em tempos de “liberdade”, de Constituição e de viver mais em “praça
pública”, que no “lar doméstico”, padre Diogo tornou-se o deputado Feijó, eleito
para a corte de Lisboa. Seu discurso ampliou-se, saindo de São Paulo para outros
espaços como Portugal ou o Rio de Janeiro, espraiando-se por todo o Império
português e brasileiro. Analisar a vida de padre Diogo Feijó após 1820 é relacionar
seu passado patrocinista com as novas situações, amizades e conflitos que foram
surgindo, é estudar os variados significados que atribuiu a sua vida “publica”.
O deputado e padre Diogo Feijó relembrava em 1834 muito do que havia
vivido uma ou duas décadas antes. Pois foi necessário recuperar também está época
e os atos de padre Diogo na temporalidade em que foram sendo vivenciados. Nos
idos de 1826 ou 1831, o padre, que havia poucos anos apenas discutia teologia e
moral em sua região ou nos tribunais eclesiásticos e civil de São Paulo, passou a
debater tudo isso com o arcebispo do Brasil ou com outros bispos e padres que
também se elegeram deputados no Parlamento instalado no Rio de Janeiro ou no
2
Cônego Joaquim Caetano Fernandes Pinheiro. “Os padres do Patrocínio”, Op. Cit. P. 143-144
conselho provincial de São Paulo, além disso, discutia com outras pessoas que eram
deputados e não vinculados a Igreja e também com escravos e milicianos.
Em 1834, Feijó achava-se um “justiceiro”. Sua ação parlamentar e vida
durante os anos vinte e trinta do século passado foi tomada por muitos como a
atuação de um “reformador” da Igreja e “moralizador” dos homens. Alguns de seus
biógrafos o viram como um deputado, senador, ministro e regente de tendências
liberais, um homem austero e até intransigente.
Por dois anos Feijó exerceu o elevadíssimo cargo a que o haviam conduzido
os votos dos brasileiros. Há quem afirme que Feijó não tinha competência para o
encargo, que sua visão estreita não lhe permitia governar como seria o ideal nas
contingências do momento. Não procede a acusação, ou, pelo menos, não e
inteiramente justa. Diogo era estadista.
Em 1842, é o próprio Digo Antônio Feijó, o campeão da legalidade e da
ordem que se vê metido no movimento paulista que se insurgia contra leis que os
bandeirantes entendiam que lhes não faziam justiça. O pretexto próximo constituiu
na nomeação do Marquês de Monte Alegre que fizera para da Regência quando
Feijó fora Ministro da Justiça. Era ainda a eclosão violenta da velha luta entre
liberais e conservadores. Feijó era liberal e com ele estavam Alvares Machado,
Vergueiro, Antônio Carlos, Martim e entre outros.
No mundo pensado por padre Diogo havia justos, ímpios, bons e malvados,
sendo que a luta de padre Jesuíno 3 constituía uma afirmação de uma dura regra
moral para os homens em geral e especialmente para os clérigos. No entanto, este
sentido geral para a vida era primeiramente questionado, pois o ímpio vivia e um
justo havia morrido. O mundo parecia aplaudir um herói equivocado e Padre Diogo
combatia esta tendência: a memória de Jesuíno não cairia no esquecimento, pois
seria eternizada pela imitação, saudade e veneração.
Jesuíno era caracterizado como um “inventor”. Durante toda sua vida
executou serviços de pintor, escultor, entalhador, arquiteto e musico, sendo que sua
arte podia ser vista em Itu por toda parte e, em especial, na Igreja Nossa Senhora do
Carmo. Nos dizeres de padre Diogo, Jesuíno era aquele que, piedosamente, chamava
3
Para maiores esclarecimentos sobre a vida e obras e Jesuíno, ver: Mario de Andrade. Padre Jesuíno do
Monte Carmelo, Op, cit.; Joaquim Leme de Oliveira Cesar, “Notas históricas de Itu”. Revista do Instituto
e Geográfico de São Paulo, 29(1927): 64-76; Antônio Augusto Fonseca. “Tipos ituanos: padre Jesuíno do
Monte Carmelo”. Revista do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo. 1(1896 – 97): 157 -165.
os povos circunvizinhos ao “país” ituano. Ele atuava no terreno do divino e, através
dele alcançava o mundo temporal. Sua arte atraia os povos, inclusive os
desconhecidos. Estes ajuntamentos em Itu faziam retornar à cidade todo o
investimento nos templos, pois como relembrava padre Diogo, as relações
aumentavam, o comercio prosperava e a civilização antiga um certo auge. Padre
Diogo, em certo sentido, delimitava um rumo evangelizador e artístico-religioso
para a vida de padre Jesuíno, no entanto, a trajetória deste clérigo era um pouco mais
complexa, pois ele também planejou a edificação de sua memória.
Ao referirmos ao ministério de Feijó podemos dizer que, “depois da situação
criada pela lei da regência, ele fez da Sociedade defensora um dispositivo de pressão
sobre a Câmara, capaz de criar para o Governo um apoio político de fato que vinha
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de fora da Câmara. Mas foi a nomeação de Feijó” para o Ministério da justiça que
trouxe mais cabal neutralização do esquema de funcionamento da regência
imaginado por Honório. Não é impossível que essa nomeação tenha sido sugerida
por Evaristo. De qualquer forma, Feijó recebe-o de Evaristo uma acolhida
entusiasta. As estranhíssimas condições a que submetera ele a aceitação do convite
governamental não devem ter sido menos bem recebidas. Em Feijó podia casar-se o
pensamento liberal com a ideia de um executivo forte e independente politicamente.
Entretanto, a regência concordara em transferir para Feijó a indicação
eventual de um substituo interino e concedera mesmo que a demissão de qualquer
ministro só poderia ter lugar quando contra ele se manifestasse “a verdadeira opinião
pública” e que nesse caso a substituição seria provida em Conselho em que os
regentes votariam em igualdade de condições com os demais ministros.
Dentro da centralização do poder e da repressão, nos deparamos com a lei de
5 de junho de 1831 que havia previsto a criação de um sistema repressivo no
Ministério da Justiça que constituía esta pasta no elemento de forca do Gabinete.
Dada a situação especial atribuída pela regência a Feijó, o Ministério da justiça
tenderia a assumir o caráter de uma verdadeira ditadura legal.
Agora, após a grande crise militar de julho, Feijó acrescentou ainda a
determinação de que se processassem como cúmplices os juízes de paz que por seu
4
Cardoso, Fernando H., Castro Pereira P., Holanda Sérgio B., Iglesias F., Pinho Wanderley, Quintas
Amaro, Reis Ferreira Arthur C. Tomo II. O Brasil Monárquico, 2. Volume. Difusão Europeia do livro.
São Paulo 1967. P. 17.
lado não processassem os culpados. O juiz de paz que fora a “autoridade anárquica”
dos fins do primeiro Reinado era assim convertido num agente do Governo.
A crise de julho foi a prova decisiva do regime e irrompeu poucos dias depois
de Feijó ter sido nomeado. Ela está ainda mal esclarecida: quando ao sentido da
insurreição ao que parece, os objetivos discordantes repressivas a um monstruoso
tumulto e quando ao alcance das medidas repressivas do Governo há indicações de
que houve transição com elementos ligados a insurreição.
Por outro lado, o dia 7 de abril a tropa e o povo, reunidos no Campo de
Honra, faziam, uma representação ao Governo. Queriam a deportação de 89
cidadão, entre os quais contavam-se alguns senadores, a destituição de funcionários
públicos que apontavam como contrários a causa nacional e a suspensão por 10 anos
da entrada de portugueses no pais. Feijó, que ocupava a pasta da justiça desde o dia
6 do mesmo mês, pediu que formulassem por escrito suas pretensões para que o
Governo e a Câmara pudessem deliberar sobre elas.
Estando em paço da Cidade, juntamente com o Senado, o Ministério e a
regência o dia 15 até o dia 20 de julho em sessão permanente. Feijó pediu uma
sessão secreta que se realizou na noite de 15 para 16. Quase certamente como
resultado da sessão secreta, reforma-se a 16 o gabinete que até aí com exceção de
Feijó, era o mesmo da Regência Provisória.
Só depois da sessão secreta é que Feijó encaminhou a Câmara a
representação dos revoltosos que é repelida pelas Comissões de Constituição e
Justiça Criminal “por inconstitucional e absurda”. A atitude desassombrada das
Comissões indica, sem dúvida, que a essa altura já se sabia em que terreno se pisava.
Agora, é interessante que a lei de criação da Guarda Nacional surge somente
a 18 de agosto quando a grande ameaça já havia sido conjurada. Essa lei declarou
extintos os corpos de milícias e ordenanças que dependia do Ministério de guerra e
os substituía pela Guarda Nacional que dependia do Ministério de Justiça.
Também a Guarda Municipal era declarada extinta mas Feijó,
posteriormente, pela lei de 10 de outubro, transformou-a na Guarda Municipal
Permanente, a Guarda dos Permanentes, como foi popularmente designada. A
Guarda Nacional só a 12 de fevereiro de 1832 pode ser apresentada ao público,
quando desfilou fardada, com 2 mil homens a pé e 400 a cavalos. Em maio do
mesmo amo, Feijó anunciava que a guarnição militar da Corte havia sido
completamente extinta e que todos os serviços de segurança eram desempenhados
pela nova Guarda.
Ao lado das medidas destinadas a constituir uma forca material a serviço da
rodem civil, Feijó encontrou também na lei 5 de Julho medidas para desencorajar a
desordem e a agitação.
É necessário falarmos sobre a candidatura de Feijó. A 9 de outubro a
candidatura de Feijó já era coisa assentada e publica, segundo se depreende de uma
carta de Honório a Costa Carvalho.
Parece que Feijó não chegou a assumir um compromisso em relação a
candidatura que os aliados chimangos promoviam. Preparou um documento cujo
contexto sugere tratar-se de uma circular reservada para ser submetida aos
promotores da candidatura, sob o título geral de Declaração de Feijó para aceitar a
Regência.
Sem embargo disso, em pleno período pré-eleitoral, Feijó fez imprimir um
semanário, o Justiceiro, que, embora não tenha sido apresentado como tal,
destinava-se sem dúvida a promoção da própria candidatura. É entre tanto em seus
temas prediletos que Feijó insiste com particular frequência. A questão do celibato
clerical, críticas a magistratura etc. são temas que reaparecem quase infalivelmente
nas páginas de O Justiceiro.
São bastante transparente os ressentimentos de Feijó; e Vasconcelos
correspondia com precisão ao papel de figura exponencial da ordem de valores
contra os quais eles se dirigiam. Feijó se apresentava como homem do mato. Em
Feijó essa projeção de seu ressentimento correspondia a uma posição bem definida
em relação a estrutura social e política do País. Alguns traços de arcaísmo nessa
estrutura- a religião de Estado, a administração pública baseada nas divisões
territoriais eclesiásticas da organização paroquial etc. conferiam ao clero secular o
caráter de um notariado ambíguo entre os campos espiritual e temporal.
A influência do clero cedia a da magistratura nos grandes centros e nas
regiões mais próximas do litoral e, de uma forma geral, ela tendia a regredir a partir
da fundação dos Cursos jurídicos. No campo político, essa tendência só se
manifestaria concretamente através de renovação das gerações e da evolução das
instituições, mas desde logo deixava sai marca na atitude ressentida do clero secular.
Na Câmara dos Deputados de 1834 o clero, com 23 representantes,
praticamente se equilibrava com os 22 representantes da magistratura. Apesar da
importância numérica destes últimos, Feijó nunca se coibiu de manifestar
claramente seu menosprezo por toda a corporação que representavam e na sua
campanha eleitoral, nas colunas de O Justiceiro, não hesitava em fazer dos ataques a
magistratura um de seus temas prediletos. Esses ataques não chegavam a uma
definição explícita de oposição entre o clero e a magistratura, mas a surpreendente
polarização do eleitorado em relação as duas candidaturas opostas em 1835 assenta
em grande parte no fato de que as duas corporações se haviam definido em campos
opostos.
Por outro lado, na sessão de 1836, Vasconcelos voltava com ideias mais bem
formuladas: comunica a D. Romualdo que descia de Minas disposto a dar combate a
heresias e a anarquia.
Tratava-se de minar a própria base ideológica de Feijó, denunciando ao clero
a incompatibilidade das ideias de Feijó com a disciplina da Igreja e, ao mesmo
tempo, de lançar contra o clero secular organizado sob Feijó a autoridade e o
prestígio do episcopado.
Finalmente é interessante tratarmos o desacordo entre Evaristo e Feijó. Este
último, ao lado de suas convicções federalistas, reclamava bases autoritárias para o
governo central e, talvez por isso, Evaristo esperava dele que conciliasse a liberdade
com a autoridade, estimando o autoritarismo como um antídoto do federalismo.
A diferença irresolúvel entre Evaristo e Feijó surge no que se refere a
autodeterminação das províncias, que para este era o direito inalienável do qual
decorria a própria unidade do Império e para aquele era uma simples delegação da
soberania nacional. Acima de tudo, Feijó acrescentava a isso uma concepção estreita
e, como hoje se diria, bairrista dos quadros políticos do Império.