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DILERMANDO RAMOS VIEIRA

História da Igreja no Brasil

Ano acadêmico 2024


2
I – A “DESCOBERTA”, A CONSOLIDAÇÃO DO
DOMÍNIO IBÉRICO E A PRIMEIRA
EVANGELIZAÇÃO DO “NOVO MUNDO”
a) Paul Rivet (1876-1958): etnólogo francês, criou
a mais respeitável explicação para o povoamento
originário da América.

3
4
a.2) Rota das prováveis chegadas dos primeiros
habitantes do continente americano.

5
b) A chegada dos brancos europeus: os vikings foram os
pioneiros. Eles, desde o século IV estenderam bases ao
ocidente da Escandinávia, atingindo a Islândia e, em
986, também as costas da América do Norte, na região
de Terranova e do Labrador.

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c) 12-10-1492: Cristóvão Colombo chega à Ilha de
Guanahanì, nas Bahamas.

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d) O padroado português

a) 1143: Papa Inocêncio III e Alfonso VI de Castela na


conferência de Zamora reconhecem a emancipação de Portugal.

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c) Os tratados demarcatórios

c.1) Dom João II (1455-1495): o soberano


português que desejou se apropriar da descoberta
de Colombo.

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c.2) Papa Alexandre VI (1431-1503) que, por meio
das 4 bulas alexandrinas, praticamente deu ganho
de causa aos reis católicos da Espanha em 1493.

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c.3) 7 de junho de 1494: Tratado de Tordesilhas.

12
d) O padroado português: Portugal foi o primeiro
países a recebê-lo. Isso aconteceu gradualmente:
aos 18-6-1452, com o Breve Dum diversas, Papa
Nicolau V concedeu aos reis lusitanos de
conquistar os domínios dos muçulmanos infiéis e
de tomar posse dos seus haveres públicos e
particulares. O mesmo Pontífice, aos 18-1-1455,
com a bula Romanus Pontifex, doou de novo os
territórios africanos aos reis de Portugal e proibiu
que fosse permitido de entrar neles sem licença.

13
d.2) Papa Calisto II, com a bula Inter Coetera (13-
3-1456) concedeu ao Prior da Ordem de Cristo a
jurisdição espiritual sobre as terras ultramarinas
portuguesas. O termo “padroado” seria
mencionado por primeira vez em 7-6-1514, na
bula Dum fidei constantian. Ali o Pontífice
concedeu ao soberano o direito de apresentação
de todos os benefícios eclesiásticos nas terras
conquistadas nos últimos dois anos e nas futuras
que se viesse a conquistar.

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e) A “descoberta” do Brasil: o português Pedro
Álvares Cabral (1467-1520) se torna o protagonista
da nova conquista lusitana.

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e.2) A rota da viagem de Cabral

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e.3) 22 de abril de 1500, sobre a costa da Bahia, os
portugueses avistam o Monte Pascoal.

17
e.4) No dia seguinte, 23 de abril de 1500, Cabral
desembarcou e no dia 25 o mesmo fez todos os
seus companheiros de viagem. (Quadro de Oscar
Pereira da Silva – 1904)

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e.5) 26 de abril de 1500, domingo, num ilha, frei
Henrique de Coimbra, ajudado pelos outros frades
e pelos padres seculares, celebrou a primeira
missa no Brasil. No dia 1º de março seguinte,
sexta-feira, seria celebrada uma segunda missa,
desta vez sobre a terra firme (quadro de Victor
Meireles).

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f) Brasil: os primeiros tempos da ocupação

f.1) Dom João III (1502-1557) enviou embaixadas à


França para comunicar a sua contrariedade, mas o
comportamento dos corsários daquele país
continuou como antes.

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f.2) 1530: começa a ocupação sistemática do
Brasil. Dom João III encarregou Martim Afonso de
Sousa (c.1490-1564) de proceder à criação de
núcleos regulares de povoação, além de
reconhecer o território e expulsar os estrangeiros
intrusos.

21
f.2.2) 22 de maio de 1532: depois de ter sido
donatário da capitania de São Paulo e Rio de
Janeiro, Martim Afonso de Souza fundou numa
ilha da prima cidade portuguesa do Brasil, que
chamou de São Vicente, porque São Vicente era o
santo do dia. Entretanto, Martim Afonso de Souza
não permaneceu no Brasil, retornando à
Metrópole em 4 de março de 1533. (Quadro de
Benedito Calisto)

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f.3) 1534 - 1536, Dom João III optou por dividir o
território brasileiro em 15 capitanias hereditárias,
entregues a 12 nobres ou pessoas de sua
confiança. Foi um desastre e somente São Vicente
e Pernambuco conseguiram se desenvolver.

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f.4) Introduzida a escravidão negra. Calcula-se que
em três séculos o Brasil tenha recebido 37,6%, de
todos os negros escravizados levados para a
América. Ao que parece, os primeiros escravos
africanos desembarcaram no Brasil em 1531, na
mencionada expedição de Martim Afonso de
Souza. Como diria depois Serafim da Silva Leite SI,
“a escravidão não era simplesmente uma
tolerância legal (como o meretrício), era uma
instituição que a jurisprudência sancionava, fato
legal, teoricamente lícito” (óleo de Rugendas)

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f.5) 1548: A Coroa institui o Governo Geral do
Brasil, com um centro administrativo na Bahia.
Tomé de Souza (1503-1579) foi nomeado primeiro
Governador Geral do Brasil, aonde chegou em 29
de março de 1549. Naquele mesmo ano foi
fundada a cidade de Salvador, que se tornou
capital colonial.

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g) O Catolicismo semi-laical das origens

g.1) João Ramalho (1493-1580), vítima de um naufrágio


em 1513, ajudaria Martim Afonso de Souza a fundar São
Vicente em 1532 e os jesuítas a fazerem o mesmo em
São Paulo, no ano de 1554.

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g.2) Diogo Álvares Correia (c.1475-1557), Caramuru.

28
h) A organização da vida eclesiástica e regular na
colônia: O Brasil das origens era considerado uma
possessão da medieval Ordem de Cristo. Ela
exercia seu governo por meio do vigário de Tomar
e prior do convento da mesma cidade, com
poderes episcopais até 12-6-1514 quando o Papa
Leão X (1475-1521), pela bula Pro excellenti, criou
a diocese de Funchal na Ilha da Madeira. O
primeiro bispo foi D. Diogo Pinheiro.

29
h.2) As primeiras paróquias e a ereção do bispado
de Salvador: O primeiro sacerdote a fixar
oficialmente residência na colônia sul-americana
foi o Pe. Gonçalo Monteiro, chegado na expedição
de Martim Afonso de Souza em 1531. Ele se
tornou pároco da paróquia da Capitania de São
Vicente. Abaixo, a igreja de São Vicente Mártir da
cidade homônima. A capela construída por Martim
Afonso de Souza foi destruída pelo mar.

30
h.2.2) 25 de fevereiro de 1551: a pedido do Pe.
Manoel da Nóbrega SI (1517-1570) que solicitara a
Dom João III que estabelecesse um bispado no
Brasil, o Papa Júlio III (1487-1555), erige a diocese
de Salvador. Seu primeiro bispo foi Dom Pero
Fernandes (1496-1556), ao qual depois seria
acrescentado “Sardinha”.

31
h.2.3) A estruturação da diocese de Salvador: aos
6-7-1552 o bispo instalou o cabido da sé. Também
instituiu três paróquias: a catedral (Nossa Senhora
da Ajuda), Nossa Senhora da Vitória em Vila Velha
e São Jorge de Ilhéus. A sé original foi demolida.

32
h.2.4) O conturbado ministério de Dom Sardinha:
o bispo embarcou para a Europa em 2 de junho de
1556, para apresentar suas queixas, mas, o navio
transportava com cerca de 100 pessoas, se
encalhou entre a foz do rio São Francisco e
Curruripe. Foi devorado pelos índios Caetés.

33
h.2.5) 16 de novembro de 1676: Papa Inocêncio XI
(1611-1689), por meio da Bula Inter Pastoralis
Officii Curas elevou Salvador à condição de
Arquidiocese e Sede Metropolitana.

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h.3) O protagonismo dos jesuítas

h.3.1) Os povos indígenas do Brasil colonial:


estimados em cerca de 5 milhões, os troncos
linguísticos principais a que pertenciam eram os
tupi-guarani (região litorânea), macro-jê ou
tapuias (região do planalto central), nuaruaques
(Amazônia) e caraíbas (Amazônia).

35
h.3.2) 1540: Os jesuítas chegam a Portugal a pedido de
Dom João III de Avis (1502-1557). Os primeiros religiosos
foram apenas dois: Pe. Francisco Xavier (1506-1552) e o
Pe. Simão Rodrigues de Azevedo (1510-1579).

36
h.3.3) 1549: seis jesuítas chegam ao Brasil: os padres
Manuel da Nóbrega (1517-1570), Superior; Leonardo
Nunes (? – 1554), Antônio Pires (1519-1572), e João de
Azpilcueta Navarro (1522-1557), ao lado dos irmãos
Vicente Rodrigues e Diogo Jácome.

37
h.3.4) 1550: chega um segundo grupo de jesuítas.
Quatro eram padres portugueses: Afonso Brás,
Francisco Pires, Manuel de Paiva e Salvador
Rodrigues. Com eles vieram também sete meninos
do Colégio dos órfãos de Lisboa. Nóbrega juntou
estas crianças com os órfãos da terra e fundou
para eles o Colégio de Jesus. Abaixo, à direita, o
prédio do referido colégio como se apresentava
em 1862.

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h.3.5) 8 de maio de 1553, junto do segundo Governador
geral do Brasil, Duarte da Costa, partiu um terceiro
grupo de 7 novos jesuítas, o qual desembarcou na Bahia
em 13 de junho seguinte. Um deles, ainda formando
era José de Anchieta, de apenas 19 anos de idade
(Ordenado depois em Salvador por Dom Pedro Leitão,
em 1565).

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h.3.6) A organização do apostolado jesuítico no Brasil:
Pe. Antônio Pires foi enviado pelo Pe. Nóbrega para o
Pernambuco, enquanto o irmão Vicente se tornou
professor. Pe. Leonardo Nunes foi enviado para o sul,
em companhia do irmão Diogo Jácome, para organizar a
catequese dos indígenas locais. Nunes se deslocava com
tal frequência de uma área a outra, que foi chamado
pelos indígenas de “Abarébebê” (“o padre voador”).
Abaixo, ruínas da capela de Conceição de Nossa Senhora
construída pelo Pe. Leonardo em 1550.

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h.3.7) O desenvolvimento sucessivo da Companhia de
Jesus: de 1548 a 1604 chegaram de Portugal 28
expedições missionárias da Companhia, o que tornara
possível, entrementes, elevar a Missão do Brasil à
categoria de Província jesuítica – a sexta da Companhia
de Jesus – em 9 de julho de 1553, separada da de
Portugal. Santo Inácio de Loyola em pessoa nomeou o
Pe. Manuel da Nóbrega come primeiro Provincial. Pe.
Nóbrega exerceu o ministério de provincial até 1559,
ano em que foi sucedido pelo Pe. Luís da Grã.

41
h.3.8) 25-01-1554: Os Jesuítas fundam São Paulo: o
lugar ficava entre os rios Tamanduateí e Anhangabaú,
circundada por três tribos indígenas: “Piratininga”, que
tinha como chefe Tibiriçá (catequizado pelo Pe. José de
Anchieta e em seguida batizado com o nome de Martim
Afonso, em homenagem ao fundador de São Vicente);
“Jaraibativa”, cujo chefe era Caiubi (tornado João depois
do batismo), presumível irmão de Tibiriçá; e “Ururaí”,
governada por um comprovado irmão de Tibiriçá
chamado Piquerobì. Assim, aos 25 de janeiro de 1554,
treze jesuítas, entre os quais José de Anchieta,
fundaram ali um colégio. (quadro de Antônio Parreiras)

42
O colégio dos jesuítas em São Paulo
(Óleo de Benedito Calixto)

43
h.3.9) Os jesuítas e a confederação dos tamoios: em
1549, o chefe dos indígenas dessa etnia, Kairuçu, foi
capturado, escravizado e enfim, assassinado. Aimberé,
seu filho, em 1554 chefiou uma fuga coletiva das
fazendas de Brás Cubas, governador da capitania de São
Vicente, após o que se aliou com outros chefes tribais
com o objetivo de expulsar todos os portugueses. Aos
de 10 de julho de 1562, Piratininga foi atacada e quase
conquistada pelos confederados tamoios. Entraram em
cena os jesuítas. Nóbrega e Anchieta viajaram às praias
de Iperoig (na região da atual Ubatuba), na tentativa de
alcançar em 1563 à “Paz de Iperoig”.

44
h.3.10) 1597: A morte de Anchieta e outros fatos
relativos aos jesuítas: Anchieta em 1578 se tornaria
provincial dos jesuítas no Brasil, permanecendo no
cargo por sete anos. Retomou em seguida seu trabalho
missionário, morrendo na capitania do Espírito Santo
aos 9 de julho de 1597. Ele espirou num momento em
que a Ordem jesuítica se encontrava em grande
florescimento: no Brasil, os membros da Companhia de
Jesus que em 1579 eram 124, se tornaram 163 em 1600,
e 180 em 1608 (quadro de Lucílio de Albuquerque).

45
h.3.11) 1570: uma dolorosa perda. Aos 15 de julho
daquele ano, o visitador Inácio de Azevedo (1527-1570),
na viagem que fazia para o Brasil junto de 39 jovens
jesuítas, foi capturado nas proximidades das Ilhas
Canárias por piratas calvinistas guiados pelo francês
Jacques Sourie, que havia partido de La Rochelle. Todos
os religiosos – 32 portugueses e 8 espanhóis – foram
degolados e seus corpos jogados no mar (Inácio de
Azevedo e seus companheiros foram beatificados pelo
Pio IX aos 11 de maio de 1854).

46
h.4) O trabalho desenvolvido pelos frades franciscanos:
únicos religiosos até 1549. Em 1503 foi organizada uma
missão franciscana em Porto Seguro, Bahia, onde dois
frades portugueses construíram a primeira igreja do
Brasil, feita em taipa de pilão e coberta de palha. Era
dedicada a Nossa Senhora da Glória, mas, dela hoje só
restam ruínas, inclusive porque, em 1505, os dois frades
foram massacrados pelos índios Tupiniquins, tornando-
se os protomártires da Igreja brasileira.

47
h.4.1) Outros casos de presença franciscana: Houve
outros franciscanos na Bahia em 1534. Ao ciclo
português pertence ainda o irmão leigo espanhol frei
Pedro Palácios (1500? – 1570), que em 1558 partiu para
a capitania do Espírito Santo. Lá, no alto de uma
formação rochosa, construiu uma ermida chamada de
Nossa Senhora da Penha, na atual Vila Velha. Vivia
como ermitão e missionário dos índios dos arredores,
tendo falecido em 1570 com fama de santidade.

48
h.4.2) 1º de março de 1585: o estabelecimento
definitivo: nos primeiros 84 anos da história do Brasil, a
atividade dos franciscanos permaneceu sempre
esporádica, sem uma organização metódica e sem
continuidade. Mas, Fr. Melchior, junto de seis confrades,
embarcou para o Brasil em 1º de março de 1585,
chegando no dia 12 de abril seguinte. Assim, o convento
aberto em Olinda no ano de 1585, viria a se tornar a
casa-mãe dos frades no Brasil.

49
h.4.3) A expansão sucessiva: em 1587, convidados pelo
bispo da Bahia, se estabeleceram em Salvador, após o
que, em 1588 abriram uma segunda comunidade em
Igaraçu, onde o Superior era frei Antônio do Campo
Maior, e ali davam assistência aos indígenas, tendo, com
este objetivo, construído três capelas em três diversas
tribos. Em 1589 os frades se estabeleceram na Paraíba.
Quando fr. Melchior morreu em Lisboa em 1618, as
bases de sua ordem no Brasil estavam já firmemente
estabelecidas.

50
h.4.4) A presença franciscana no Pará e no
Maranhão: a comunidade de Belém do Pará foi
aberta em 1617, quando lá se estabeleceram
quatro frades, tendo como Superior fr. Antônio de
Marciana. Foi o embrião do Comissariado de Santo
Antônio, no Pará. Uma segunda importante
comunidade do século XVII foi erigida em São Luís
do Maranhão no ano de 1624. Abaixo, a catedral
de São Luís do Maranhão.

51
h.4.5) A presença franciscana no sudeste do Brasil:
erigiu conventos dedicados à catequese em
diversas cidades. Dentre eles: convento de Santo
Antônio no Rio de Janeiro (1608), Convento de São
Francisco em São Paulo (1639); Santo Antônio em
Santos (1639), São Boaventura de Macacu (na
desaparecida Vila de Santo Antônio de Sá - 1649) e
outros mais.

52
h.4.6) Frei Vicente do Salvador (1564-c.1635),
brasileiro natural da Bahia, que desenvolveu
muitas atividades entre a Paraíba e o Rio de
Janeiro, além de se tornar professor de filosofia a
partir de 1606. Compôs a História do Brasil, que é
considerada o primeiro tratado histórico da
colônia.

53
h.4.7) O apogeu dos franciscanos no Brasil: em
1647 a Custódia do Brasil atingiu sua autonomia, e,
em 24 de agosto de 1657, se tornou Província
autônoma. Chegado o ano de 1659, uma nova
frente foi aberta: a custódia da Imaculada
Conceição do Brasil, a qual, aos 15 de julho de
1675 também se tornaria província. Aquele,
porém, era o período do regalismo pombalino,
razão pela qual, no final do século XVIII começou a
se verificar um declínio patente.

54
h.5) Os carmelitas: a pedido de Frutuoso Barbosa,
rico habitante do Pernambuco, o Provincial
carmelita de Portugal Damião Costa, aceitou de
enviar confrades seus ao Brasil. No final de janeiro
de 1580 eles partiram, tendo como superior
nomeado fr. Domingos. Abaixo, o convento do
Carmo do Recife.

55
h.5.2) 1589: aberto um novo convento em Santos,
SP. Um ano depois a Ordem recebeu uma légua de
terra para erigir uma nova casa também no Rio de
Janeiro. Em 1595, sob a presidência do Prior Geral
Giovanni Stefano Chizzola, se organizou a
passagem da fundação à nova condição de
vicariato.

56
h.5.3) O desenvolvimento posterior dos
carmelitas: em 1685 o vasto vicariato do Brasil foi
dividido em dois: Rio de Janeiro e Bahia. Em 1720,
Papa Clemente XI erigiu as duas províncias
autônomas de Bahia-Pernambuco e Rio de Janeiro.
Formou um vicariato a parte, no Maranhão, que
não seria elevado a província.

57
h.6) Os Beneditinos: em 1581 eles se
estabeleceram no Brasil. O primeiro grupo de
monges teve como Superior Dom Antônio Ventura
de Laterano. Eles foram bem acolhidos em
Salvador e o mosteiro que abriram em 1584 foi
elevado a abadia pelo capítulo geral dos
beneditinos portugueses, celebrado em Pombeiro.
Dom Antônio Ventura foi eleito como primeiro
abade. Os monges encontraram uma benfeitora na
pessoa de Catarina Álvares, viúva de Caramuru.

58
h.6.2) 1590: Fundado o mosteiro de São Bento do
Rio de Janeiro. O abade de Salvador enviou lá seus
confrades Pedro Ferraz e João Porcalho.

59
h.6.4) 1590: Mosteiro de São Bento de Olinda

h.6.5) 1598: Mosteiro de São Bento de São Paulo

60
h.6.6) 1696: Criada a Província Beneditina do
Brasil, cujo primeiro Provincial foi Dom Clemente
das Chagas, escolhido naquele ano. Abaixo,
fachada do mosteiro de São Bento de Salvador.

61
h.7) 1612: Os capuchinhos - quatro frades chegaram
provenientes de Paris, no ano de 1612, época em que os
franceses invadiram o Maranhão. Expulsos os invasores,
os frades – que a esta altura eram quatorze – tiveram de
abandonar o Brasil. Abaixo, o busto de Daniel de La
Touche, líder dos invasores franceses, no Maranhão.

62
h.7.2) O segundo grupo de capuchinhos e os eventos
sucessivos: outro grupo, originário da Bretanha,
chegaria em 1642, época em que os holandeses haviam
conquistado o Pernambuco. Em 1654, derrotados, os
holandeses se retiraram e, os capuchinhos terminaram
de novo expulsos em 1698. Em 1705, a Coroa de
Portugal autorizou a entrada de frades italianos para
catequizar os índios. Com o tempo três prefeituras dos
capuchinhos no Brasil: Bahia (1712), Pernambuco
(1725), e Rio de Janeiro (1737). Abaixo convento Santa
Clara dos capuchinhos em Taubaté.

63
h.8)1639: Chegaram os mercedários, provenientes
do Equador. Eles se estabeleceram em Belém do
Pará.

64
h.9) 1693: Os Agostinianos descalços se estabelecem
em Salvador da Bahia. Mais tarde, graças às vocações
nativas que estes acolheram, abriram novas
comunidades em Pernambuco, nas cidades de Recife e
Goiana. Um dos agostinianos mais conhecidos entre os
brasileiros é frei José de Santa Rita Durão (1722-1784),
autor do poema épico “Caramuru”.

65
h.10) A vida religiosa feminina: Portugal se opunha aos
monastérios para mulheres; mas, permitiu a instituição
de um mosteiro de clarissas em Salvador aos 13 de maio
de 1659. Com o tempo, surgiram também os
recolhimentos, semelhantes a conventos, mas sem um
reconhecimento oficial. O primeiro deles foi instituído
em Olinda, no ano de 1576. Houve instituições do
gênero no Rio de Janeiro e no interior de Minas Gerais.
Abaixo, o incêndio do Recolhimento Nossa Senhora do
Parto, no Rio, em 1789 (óleo de João Maurício Muzi).

66
i) A tentativa de estabelecimento dos calvinistas
franceses no Rio de Janeiro: em 1555, Nicolas Durand
de Villegaignon (1510-1571), francês de Provença, se
dispôs a tentar no Brasil uma empresa de colonização.
Como não dispunha de recursos para custear tamanha
obra, recorreu a Gaspard de Coligny (1519-1572), e
através dele, à própria coroa francesa. Coligny era um
chefe huguenote, mas, a invasão projetada não chegou
a ser uma empresa calvinista.

67
i.1) 1555: Villegaignon adentra na baía de Guanabara,
no atual estado brasileiro do Rio de Janeiro. Ele e os
seus companheiros se estabeleceram nas ilhas de
Serigipe (hoje Ilha de Villegaignon), Paranapuã (atual
Ilha do Governador), e Laje, bem como em Uruçu-mirim
(o hodierno Morro do Glória), onde constituíram a assim
chamada France Antarctique (“França Antártica”). O
centro das atividades dos franceses foi a Ilha de
Serigipe, em que construíram o Forte Coligny (tela de
Victor Meireles reconstituindo a fortaleza de
Villegaignon).

68
i.2) Villegaignon e o calvinismo: ele era um personagem
ambíguo, razão pela qual, muitos de seus atos e
atitudes, sob vários aspectos, se aproximavam dos ideais
da reforma de Genebra. Isso explica sua iniciativa de
expedir uma carta à França, dali levada por um
emissário a Genebra, pedindo o envio de ministros
reformados para o Brasil. O “consistório” e o próprio
João Calvino concordaram, escolhendo dois pastores e
um grupo de outros calvinistas convictos.

69
i.2.2) A ação dos calvinistas: os calvinistas chegaram ao
Rio no dia 10 de março do ano seguinte. Em 21 daquele
mesmo mês, no Forte de Coligny, eles celebraram a
primeira “ceia” protestante da história americana. Foi
somente naquela data que, segundo o parecer do Pe.
Agnello Rossi, Villegaignon abjurou publicamente a fé
católica, recebendo o pão e o vinho das mãos de um
ministro.

70
i.2.3) Villegaignon se desentende com os calvinistas.
Depois da ceia de Pentecostes, ele declarou
abertamente de ter mudado de opinião sobre Calvino e,
em outubro de 1557, Villegaignon intimou os
genebrinos a se retirarem. Jean de Léry e outros
calvinistas foram então para o continente.

71
i.2.4) A “confissão de fé da Guanabara”: aos 4 de janeiro
de 1558 os huguenotes partiram para Paris no navio
Jacques, chegado de Le Havre. A causa dos problemas
da embarcação, 5 deles foram obrigados a retornar ao
Forte Coligny: Pierre Bourdon, Jean du Bourdel,
Matthieu Verneuil, André la Fon e Jacques le Balleur.
Foram imediatamente presos na Ilha de Serigipe,
recebendo de Villegaignon a ordem de responder por
escrito, dentro de doze horas, a uma série de questões
teológicas. Eles redigiram a “Confissão de fé da
Guanabara”, contendo 17 artigos que sintetizavam a
doutrina calvinista. Nicolas Durand de Villegaignon
acusou-os de heresia e os condenou a morte.

72
i.2.5) 1565: Estácio de Sá funda o Rio de Janeiro, mas,
depois de ser ferido no rosto por uma flecha
envenenada no combate de Uruçu-mirim, vindo a
morrer um mês depois. Os poucos tamoios
remanescentes procuram refúgio no interior do Brasil.
Imposta a paz com as armas, Salvador Correia de Sá
(1602-1688), também ele sobrinho de Mem de Sá,
assumiu o governo do Rio, que se tornou uma nova
capitania da colônia (quadro de Antônio Parreiras)

73
j) Os protestantes holandeses no nordeste do Brasil:
aos 6 de junho de 1621 os holandeses instituíram a
Companhia das Índias Ocidentais, que depois de muitas
considerações decidiu de invadir o Brasil. As motivações
religiosas eram também presentes no pensamento de
alguns dos seus membros, como admitirá mais tarde o
teólogo reformado Caspar van Baerle (1584-1648),
abrasileirado como Gaspar Barléu.

74
j.1) 1624: A invasão da Bahia: no dia 28 de março de
1624, o exército invasor zarpou para conquistar a Bahia,
com 23 navios e 3 iate. No comando estava Jacob
Willekens (1564-1649), Pieter Pietersen Heyn (1577-
1629) e Johan van Dorth (1586-1624). Os holandeses
chegaram a Salvador em 8 de maio e dois dias depois a
cidade foi conquistada.

75
j.2) 1630: A conquista do Pernambuco:
Pernambuco era ainda propriedade do português
Diogo de Albuquerque, em nome do qual
governava seu irmão Matias de Albuquerque
(1590-1647). A cidade caiu no dia 15 de fevereiro
de 1630e daquela data até 1637, os holandeses
alargaram suas conquistas, conseguindo dominar
grande parte do nordeste brasileiro. Desde os
primeiros dias houve pastores protestantes entre
as suas tropas, a exemplo de Joannes Baers (1580-
1653).

76
j.3) A atuação de Johan Maurits van Nassau-Siegen: os
holandeses instituíram no Pernambuco um conselho
político que, além de reger a “republica”, controlava
também os negócios da guerra e do comércio. De 1637 a
1644 este passou a ser presidido João Maurício de
Nassau (1604-1679), chegado em 23-1-1637. O domínio
holandês atingiu o apogeu.

77
j.4) Os judeus do Recife: eles instituíram duas sinagogas
em Recife: a Kahal Kadosh Zur Israel (“Rocha de Israel”),
primeira sinagoga das Américas, inaugurada por volta de
1636, e uma segunda em Maurícia (parte do Recife
construída pelos holandeses a partir de 1638), de nome
Kahal Kadosh Maghen Abraham (“Santa comunidade
escudo de Abrahão”).

78
j.5) As restrições ao culto católico: a Igreja Católica teve
de enfrentar os abusos dos protestantes e as restrições
ao exercício do ministério do clero. Estes fatos levaram
Pe. Antônio Vieira a compor no ano de 1640, em
Salvador da Bahia, o veemente Sermão pelo bom
sucesso das armas de Portugal contra aquelas da
Holanda, convidando os católicos à resistência.

79
j.6) 16 de julho de 1645: no Rio Grande do Norte, Pe.
André de Soveral SI (1572-1645) e 69 fiéis são
massacrados numa capela dedicada à Candelária na
fazenda de Cunhaú, município de Canguaretama, a 80
km de Natal. Passados apenas três meses, aos 3 de
outubro de 1645, sucedeu outro massacre, onde um
segundo grupo de 80 católicos, entre os quais Pe.
Ambrósio Francisco Ferro, português dos Açores, foram
assassinados na comunidade de Uruaçu, em São
Gonçalo do Amarante, distante 18 km de Natal.

80
j.7) 1645: eclode a “Insurreição Pernambucana” que
teve também motivações religiosas. Não por acaso, foi
entoando a Salve Regina que os insurgentes brasileiros
se lançaram contra os invasores na vitoriosa batalha do
Monte das Tabocas em 3 de agosto de 1645.

81
j.8) 1654: A expulsão definitiva dos holandeses: Olinda
foi reconquistada em 24 de abril de 1648 e, depois do
triunfo decisivo na segunda batalha dos Guararapes,
acontecida aos 19 de fevereiro de 1649, naquele lugar
seria depois construída a igreja de Nossa Senhora das
Vitórias. Enfim, aos 27 de janeiro de 1654, Sigismund
Von Schkoppe (1600-1670), último governador geral
holandês no Brasil, capitulou, firmando a rendição da
Campina da Taborda ante o general Francisco Barreto
de Menezes (1616-1688).

82
II - AS ESTRUTURAS COLONIAIS E ECLESIAIS DA
AMÉRICA PORTUGUESA

2.1 – Em 1763 Rio de Janeiro, se tornou a capital da


inteira colônia. O primeiro vice-rei a habitá-la foi
Antônio Álvares da Cunha.

83
2.2 – 1720: O Brasil se tornou um vice-reino. O primeiro
vice-rei foi Vasco Fernandes César de Meneses (1673-
1741), Visconde de Sabugosa, que permaneceu no cargo
até 1735. Rio de Janeiro substituiu Salvador como
capital em 1763. Abaixo, visão dos arcos da Lapa no Rio,
durante o século XVIII.

84
2.3 – O uso da língua geral. Até o século XVIII, o
português ainda não era a língua falada pela maioria dos
seus habitantes. Falava-se mais a língua nativa,
denominada “Brasílica”. Pe. José de Anchieta a
aprendeu e sistematizou numa gramática, redigida em
1595, com o título Arte de Gramática da Língua mais
usada na Costa do Brasil.

85
2.4 – As dioceses da colônia e as Constituições
primeiras do Arcebispado da Bahia. A estruturação
episcopal da Igreja brasileira foi deveras lenta. Durante
longos anos Salvador foi a única diocese do Brasil e,
depois de ser elevada a arquidiocese pelo Papa
Inocêncio XI em 16-11-1676. Permaneceria como única
jurisdição do gênero no Brasil durante 216 anos!

86
a) Diocese de São Sebastião do Rio de Janeiro: erigida como
prelazia pelo Papa Gregório XIII (1502-1585) em 19-7-1575,
originariamente a jurisdição carioca era sufragânea de Lisboa e
se estendia da capitania de Porto Seguro, na Bahia, até o Rio da
Prata, no hodierno Uruguai. Foi elevada a diocese em 22-11-
1676 pelo Papa Inocêncio XI (1611-1689), como sufragânea de
Salvador. Muito mais tarde, em 27-4-1892, o Rio se tornaria a
segunda arquidiocese brasileira. Abaixo, a antiga catedral.

87
b) Olinda: erigida como prelazia aos 15-7-1614, com a
bula Fasti novi orbis do Papa Paulo V, aos 16-11-1776,
sob o pontificado de Inocêncio XI, se tornou diocese. O
primeiro bispo foi Dom Estevão Brioso de Figueiredo,
que exerceu tal ministério de 1677 a 1683. Abaixo, a
catedral.

88
c) São Luís do Maranhão: criada pelo Papa Inocêncio XI
em 30-8-1677 através da bula Super universas orbis
Ecclesias, era sufragânea de Lisboa. O primeiro prelado
diocesano nomeado para assumi-la foi Dom Antônio de
Santa Maria, que morreu em 1677, antes de tomar
posse. A diocese de São Luís, somente em 1828, seis
anos depois da independência do Brasil, se tornou
sufragânea de Salvador. A catedral.

89
d) Belém do Grão Pará: erigida aos 4-3-1719 com a bula
de Papa Clemente XI Copiosus in misericórdia. O
primeiro bispo que teve foi Dom Bartolomeu do Pilar, O.
Carm. (1667-1733). A catedral.

90
e) Mariana: erigida em 6-12-1745 com a bula Candor
Lucis aeternae do Papa Bento XIV. Seu primeiro
Ordinário de lugar foi Dom Manoel da Cruz Nogueira, O.
Cist. (1690-1764).

91
f) São Paulo: erigida junto de Mariana, ao ser
desmembrada Rio de Janeiro, seu primeiro bispo foi
Dom Bernardo Rodrigues Nogueira (1695-1748).
Sagrado em 1746, ele tomou posse da diocese que lhe
foi confiada no dia 8 de dezembro daquele mesmo ano.
Abaixo, a antiga catedral, demolida em 1911.

92
g) 1707: As Constituições Primeiras do Arcebispado da
Bahia.

93
h) Os jesuítas e a espinhosa questão da liberdade dos
indígenas: na América hispânica, em 1580, fr. Luiz de
Bolaños OFM (1539?-1629) deu início ao sistema das
“reduções” indígenas numa localidade situada nos
arrabaldes de Asunción, sistema este que seria adotado
com sucesso também pelos jesuítas espanhóis e
portugueses.

94
h.1) As reduções jesuíticas sob ataque: “bandeirantes”
provenientes da capitania de São Paulo, que passaram a
atacar dias reduções com o objetivo de escravizar os
indígenas “mansos”. Isso provocará o fim de todas as
missões que se encontravam em Guairá (no oeste do
atual estado brasileiro do Paraná), Tape (no planalto
central do hodierno estado do Rio Grande do Sul) e
Itatim (no Mato Grosso). No caso do complexo
missionário de Guairá, seu principal atacante foi Antônio
Raposo Tavares (1598-1659), a partir de 1627.

95
h.2) Uma fuga épica: Pe. Antônio Ruiz de Montoya
(1585-1652), de acordo com os demais padres, diante
do perigo dos ataques desfechados, decidiu abandonar
as reduções do Brasil através dos rios Paranapanema e
Paraná, em 1631. Nesta empresa, cerca de 12.000
indígenas escaparam com cerca de 700 barcas, até o
norte da Argentina, percorrendo cerca de 1.200 km².
Eles levaram consigo, em baús, as imagens dos santos e
também os ossos dos jesuítas falecidos.

96
h.3) 1641: os indígenas conseguiram derrotar os
bandeirantes em Mbororé, o que assegurou às missões
uma relativa paz.

97
h.4) Manuel Beckman (1630-1685): quando em Portugal
reinava Pedro II, o pacífico, ele liderou uma revolta que
tinha como alvo também os padres jesuítas, acusados
de impedir a escravização dos indígenas.

98
h.5) Os “Sete Povos das Missões” no sul do Brasil:
situados numa área de 500.000 Km2, faziam parte da
Província Jesuítica do Paraguai ou “Paracuária”,
instituída em 1604. A mais antiga foi São Nicolau,
fundada em 1626, à qual seguiram São Miguel Arcanjo,
iniciada em 1632 (e que se tornaria a missão principal);
São Francisco de Borja (1682), São Luís Gonzaga (1688),
São Lourenço Mártir (1697), São João Batista (1697) e
Santo Ângelo Custódio (1707).

99
i) A situação dos negros escravizados: as culturas
africanas transplantadas no Brasil eram “sudanesas”,
“guineano islamizadas” e “banto”. Nenhuma sobreviveu
integralmente porque a escravidão nivelava a todos os
negros segundo os interesses dos proprietários. Por esse
motivo, os africanos que não sabiam se comunicar em
português, eram qualificados de “boçais”, e os nascidos
no Brasil, que falavam a língua dos senhores ou podiam
exercer um ofício, de “ladinos” (Pintura de Debret).

100
101
III – O EMBRIONÁRIO REGALISMO

3.1) Gabriel Pereira de Castro (1571-1632), com o


tratado De manu regia, condenado pela Santa Sé em
1640, começa a lancar as bases teóricas do regalismo.

102
3.2) Dom João IV de Bragança (1604-1656): restaurador
da independência portuguesa em 1640, ele preferiu não
se apartar da doutrina dos Filipes.

103
3.3) 1759: A supressão dos jesuítas em Portugal pelo
Marquês de Pombal.

104
IV – A REALIDADE ECLESIAL NO PRIMEIRO
IMPÉRIO E NA REGÊNCIA

4.1) A invasão de Portugal e a fuga da família real para o


Brasil: em 17 de novembro de 1807, as primeiras tropas
francesas, sob o comando do General Jean-Andoche
Junot (1771-1813), cruzaram a fronteira do país,
contando com o reforço de três divisões espanholas.
Três dias antes, a inteira família real dos Bragança, toda
a corte e a alta administração, fugira para o Brasil.

105
4.2) A volta da família real em 1821 e a independência
do Brasil em 1822: em 1820: eclodiu a revolução liberal
do Porto que impôs o retorno da Corte no ano seguinte.
Ao partir, no entanto, o rei deixou no Brasil o seu filho
primogênito Pedro como Príncipe Regente, o qual,
porém, em 7de setembro de 1822 proclamou a
independência brasileira (óleo de Pedro Américo).

106
4.3) A Constituição de 1824 e a institucionalização
do regalismo.

107
4.4) O anômalo padroado brasileiro: em 15 de maio de
1827, data em que o Papa Leone XII, respondendo a
uma solicitação do Governo brasileiro, com a bula
Praeclara Portugalliae, confere ao soberano do novo
império o padroado e mais os benefícios próprios de sua
condição. Acontece que dita bula foi rejeitada. O direito
do padroado, em todo caso, permaneceu, imposto pelo
política nacional. Ironizando o acontecido, Cândido
Mendes diria que o sistema vigente no Brasil era
somente um “padroado imposto com a força”.

108
4.5) Placet ou Beneplácito: fundado no que se chamava
de Ius cavendi (direito de prevenção), se tratava de um
mecanismo de controle do Governo imposto por meio
do artigo 102 da Constituição de 1824. Segundo tal
disposição, os documentos pontifícios tinham validade
no Brasil somente depois do parecer favorável dado
pelo soberano. Padre Júlio Maria diria que o Império
encerrou a Igreja numa “gaiola de ouro”.

109
V – O REGALISMO NO SEGUNDO IMPÉRIO E AS
QUERELAS CONSEQUENTES

5.1 – Século XIX: na América Latina predominavam as


ideias liberais e o estado liberal tinha a pretensão de
estabelecer o controle sobre todos os ambientes da vida
social, sem poupar a Igreja. matrimônio, a família e a
educação. Não por acaso, Pio IX, no Syllabus errorum,
em 1864 enumerou certas medidas adotadas pelo
liberalismo entre os erros modernos.

110
5.2 – A realidade eclesial do Brasil: O Brasil ficou
independente quase sem conflito a partir de 7 de
setembro de 1822; sendo a única nação latino-
americana a se tornar uma monarquia de longa duração,
a qual governou o país até 15 de novembro de 1889.
Nesse período houve uma estranha simbiose entre um
governo rigidamente regalista e uma retórica política
liberal. Abaixo, Dom Pedro II.

111
5.2.1 – As polêmicas do Padre Feijó ao tempo da
Regência: Depois de ter sido nomeado Ministro da
Justiça aos 4-7-1831, Feijó tentou impor três projetos
que tinha elaborado nos dias 17 de maio e 11 de junho
precedentes, junto dos padres Antônio Maria de Moura,
Manoel Joaquim do Amaral Gurgel e outros regalistas. O
do matrimônio definia que o celibato não seria mais
uma qualidade necessária para o exercício do ministério
sacerdotal. Nenhum dos três projetos seria aprovado.

112
5.2.2 – Dom Romualdo Antônio de Seixas (1787-1860)

113
5.2.3 – 1832: Feijó se demitiu no cargo de Ministro da
Justiça e foi para São Paulo. Lá, junto do Pe. Amaral
Gurgel, tentaria convencer Dom Manuel Joaquim
Gonçalves de Andrade, a suprimir a continência
obrigatória na sua diocese. De novo fracassou.

114
5.2.4 – A questão da vacância da diocese do Rio de
Janeiro: aos 28 de janeiro de 1833 faleceu Dom José
Caetano da Silva Coutinho, e a Regência Trina
Permanente indicou como seu sucessor o Pe. Antônio
Maria de Moura, que Roma não aceitou de confirmar.
Abriu-se enorme celeuma que só terminaria após Pedro
de Araújo Lima assumir a regência.

115
5.3 – A problemática dos religiosos: as ordens existentes
no Brasil – Franciscanos, Carmelitas, Beneditinos e
Mercedários – que no tempo da Regência haviam sido
obrigadas a se separarem dos seus gerais europeus e se
tornarem “brasileiras”, sofreriam o golpe definitivo em
19-5-1855, quando uma Circular de Joaquim Aurélio
Thomaz Nabuco de Araújo, as de admitirem novos
noviços.

116
5.4 – A reforma eclesial: em que pese o sufocante
regalismo, seminaristas brasileiros que iam estudam em
Roma ou no Colégio Saint Sulpice de Paris, bem como
religiosos como os capuchinhos, lazaristas e mais tarde,
salesianos, conseguiram levar a cabo a reforma da Igreja
no Brasil, o que, no entanto, levou a um confronto com
o regalismo institucional e as irmandades leigas
maçonizadas.

117
5.5 – A “Questão Religiosa” no Brasil

a) Dom Vital Maria Gonçalves de Oliveira, bispo de


Olinda

118
b) O Grão-mestre do Grande Oriente da Rua dos
Beneditinos, Joaquim Saldanha Marinho

119
c) Dom Pedro Maria de Lacerda, bispo do Rio de
Janeiro.

120
d) Dom Antônio de Macedo Costa, bispo de Belém.

121
e) José Maria da Silva Paranhos, Visconde do Rio Branco
(1819-1880)

122
f) Rui Barbosa de Oliveira (1849-1923), que cunhou o
termo “romanização”.

123
VI – A IGREJA NA REPÚBLICA RECÉM-IMPLANTADA
6.1 – Os primeiros dias
a) 15-11-1889: um incruento golpe militar proclama a
república. Abaixo, óleo de Henrique Bernardelli, chileno
de Valparaiso, retratando o ocorrido.

124
125
b) O discreto alinhamento da vida clerical em favor da
mudança do regime. Dizia o filho do visconde de Ouro
Preto (último presidente do conselho de ministros do
império), Afonso Celso de Figueiredo Júnior, em 6 de
junho de 1888: “A mocidade que surge das academias,
dos seminários (o grifo é nosso), do exército, da armada,
é francamente republicana”.

126
c) Adesões explícitas ao novo regime: Dom Luís Antônio dos
Santos, Arcebispo de Salvador e Primaz do Brasil, seis dias após
a proclamação da república, enviou um telegrama ao chefe do
governo provisório republicano, manifestando-lhe sua
solidariedade. Abaixo, imagem antiga da catedral de Salvador.

127
c.2) Dom Antônio de Macedo Costa a Rui Barbosa em 22
de novembro de 1889, também manifestou satisfação.

128
c.3) Papa Leão XIII: Recebeu o príncipe Pedro Augusto,
mas deixou claro que apoiaria a república no Brasil.

129
c.3.2) Príncipe Pedro de Saxe-Cobourg-Gotha e Bragança
(1866-1934)

130
6.2 – A Igreja no período do governo republicano
provisório

a) 1890: A secularização do Estado: aconteceu por meio


de um substitutivo elaborado por Rui Barbosa com a
colaboração de Dom Antônio de Macedo Costa.

131
b) A reação católica à secularização do Estado: inusitada
tranquilidade. Dentre os que aceitaram o fato sem
problemas de consciência se encontrava o cônego
Duarte Leopoldo e Silva (futuro Arcebispo de São Paulo).

132
c) A Carta Magna de 1891: leiga e de vago ranço
positivista.

133
c.1 – Os deputados que eliminaram os excessos anticlericais da
Constituição de 1891: além de uma pequena bancada de
dezoito deputados católicos (formada sobretudo por baianos e
mineiros), mais outros aderiram à iniciativa. Dentre elas estava
Amphilóphio Freire de Carvalho, Alcindo Guanabara, Santos
Pereira, Gil Goulart, João Pinheiro e Júlio de Castilhos.

134
VII – A ACOMODAÇÃO DO ESTADO E DA IGREJA À NOVA
ORDEM VIGENTE
7.1 – O início da “renascença católica”: cedo os positivistas
foram apeados do poder e mesmo presidentes como Floriano
Peixoto, se decalarariam publicamente católicos.

135
a) A crise do positivismo: em 1897 o grupo do
Apostolado era quase tudo que restava do positivismo
no Brasil. Em 1903 as Circulares do Apostolado
reconheceriam a “fatal atenuação” da sua doutrina no
Brasil. Abaixo, Raimundo Teixeira Mendes (1865-1927),
um “sacerdote da humanidade”.

136
7.2 – A gradual aproximação com o governo
republicano

a) A derrota do projeto divorcista. Em fins de 1894, o deputado


Érico Coelho apresentou na Câmara um projeto para instiuir o
divórcio no Brasil. O escritor e teatrólogo Artur de Azevedo
(1855-1908) apoiou a iniciativa, mas, ela malogrou.

137
b) Igreja e Estado em tempos de colaboração. No ano de
1893, ao eclodir a Revolta da Armada, o clero auxilia as
forças legalistas.

138
b.2) Colégio Salesiano Santa Rosa de Niterói, RJ, usado
como ponto de apoio durante o conflito armado de
1893.

139
c) As partes se acomodam a uma convivência sem
conflitos. Presidentes declaradamente católicos como
Afonso Pena ajudam a serenar os ânimos.

140
c.2) Rodrigues Alves: outro presidente deferente em
relação à Igreja, seis anos após concluir seu mandato
visitou Roma em 1908.

141
d) As estratégias pastorais do clero e a influência
diplomática da Santa Sé. Roma reconheceu o regime
republicano em 1890, eleveu em 1901 sua
representação diplomática no Rio de Janeiro à categoria
de nunciatura. Fez ainda do Arcebispo do Rio –
Arcoverde – primeiro cardeal da América Latina.

142
d.2) 08-12-1913: O Cardeal Arcoverde em Petrópolis, no
dia do casamento do Marechal Hermes da Fonseca com
a jovem caricaturista Nair de Tefé.

143
e) 17-11-1903: Assinado o Tratado de Petrópolis em
que a Bolívia cedeu de vez sua parte no Acre ao Brasil. A
outra parte do Acre seria definida com o Peru,
redundando noutro tratado, firmado no Rio de Janeiro
em 1910. A nunciatura apostólica colaborou ativamente
nas negociações. Abaixo, uma imagem dos participantes
do acordo de 1903.

144
f) 1914: eclode a primeira guerra mundial. No ano
seguinte, estando em Düsseldorf, Dom frei Amando
Bahlmann (1862-1939), bispo de Santarém, PA, louvou
as conquistas de sua pátria; mas depois, o episcopado
adotou uma atitude patriótica.

145
g) Epitácio Pessoa (1918 – 1922): no seu governo, os
últimos resquícios do laicismo foram sendo eliminados.
Por isso, os dias santos de guarda, respeitados na
prática, começaram a ser oficializados, sendo o próprio
Epitácio quem tornou o Natal feriado nacional.

146
h) Os tácitos acordos missionários: cedo o governo
republicano admitiu o que já se sabia no Império: as
missões católicas eram indispensáveis para a
manutenção da integridade nacional e “civilização” dos
índios. Foi por causa da infiltração de missionários
protestantes na Guiana Inglesa que o Brasil perdeu boa
parte de Roraima. Abaixo, monge beneditino celebrando
para indígenas, tendo o Monte Roraima ao fundo. Bem
mais tarde, em 14 de junho de 1948, chegariam por lá
os primeiros missionários da Consolata.

147
c.3) Igreja Matriz de Nossa Senhora do Carmo:
construída em 1909 pelos beneditinos da Alemanha, em
substituição à pequena capela levantada pelos
missionários franciscanos em 1892.

148
h.1) Os salesianos no Mato Grosso: tiveram várias
missões e receberam apoio explícito das autoridades
estaduais. Eles se dedicaram sobretudo ao trabalho
junto aos índios bororo.

149
h.2) As missões amazônicas no ciclo da borracha (1880-
1915) e nos anos restantes da República Velha. Em
1840, Charles Goodyear (1800 – 1860), um inventor de
Connecticut, descobriu o processo de vulcanização e o
revestimento das rodas de veículos. A industrialização
do produto faria o “ouro verde” brasileiro produzir
fortunas.

150
h.2) A Belle époque amazônica: seringalistas passam a
levar uma vida nababesca e durante 25 anos as elites
locais viveram um período de fasto. Abaixo, interior do
Teatro Amazonas de Manaus.

151
h.3) Coronel Antônio Rodrigues Pereira Labre, fundador
da cidade de Lábrea em 1873. Foi um dos que
enriqueceram; mas eram apenas isso: exceção.

152
e) A missão nos seringais: abria-se uma clareira na
floresta, e ali o proprietário ou seu representante
construía um barracão, construção rústica, mas
bastante grande e confortável onde ele se alojava com a
família ou adjuntos. Em torno do barracão se edificavam
as barracas dos subordinados. Em boa parte das vezes o
missionário das desobrigas fez uma opção: escolheu o
barracão como ponto central de suas atividades.

153
f) As missões amazônicas, aliás, se concentraram em
mãos de apenas dez ordens e congregações masculinas,
às quais se agregavam os ramos femininos. Eram elas:
franciscanos, salesianos, beneditinos, padres do Espírito
Santo, agostinianos recoletos, dominicanos, servos de
Maria, capuchinhos, barnabitas e padres do
Preciosíssimo Sangue. Abaixo, mapa da Amazônia no
século XIX, antes do Acre ser anexado.

154
f.1) As missões no Alto Rio Negro: As atividades dos
missionários recomeçaram em 1883 com a chegada de
franciscanos ao Uaupés. A experiência foi breve e
somente em 1914 seria retomada com vigor pelos
salesianos, ao ser criada a Prefeitura Apostólica do Rio
Negro em São Gabriel da Cachoeira. Abaixo, um “filho
de Dom Bosco” em ação na localidade de São Gabriel da
Cachoeira

155
f.1.2) Dom Pedro Massa (1880-1968), prelado de São
Gabriel, com alunos indígenas do internato Taracá.

156
f.2) Uma parcial perda de território: os missionários
católicos chegaram tarde em Roraima e o Brasil não
ficou com todas as partes que julgava possuir por
direito. O rei Eduardo VII da Inglaterra acabou ficou com
a metade da região disputada.

157
f.3) Um caso bem particular: o Acre. Tornado brasileiro
pelo Tratado de Petrópolis assinado em 1903. Ali seriam
instituídas duas distintas prelazias, ambas de perfil
missionário: Cruzeiro do Sul, confiada aos Padres
Espiritanos e Cruzeiro do Sul, entregue aos frades Servos
de Maria.

158
7.3 – A “institucionalização” da boa convivência: ante a
convergência de interesses entre Igreja e governo sobre
a questão indígena, os membros do Apostolado
Positivista passaram denunciá-la abertamente na
imprensa. A réplica veio através de Carlos de Laet.

159
a) Cândido Mariano da Silva Rondon (1865-1958):
positivista, defendia que a catequese dos índios não
devia ser católica, mas da sua seita.

160
b) 13 de março de 1901: O massacre de Alto Alegre, no
Maranhão. Os índios canelas trucidaram três
capuchinhos e sete religiosas,

161
c) 15-06-1918: em Minas, disse Delfim Moreira,
“presidente”: “Está demonstrado que a catequese leiga
não dá resultado satisfatório. O governo procura obter
dos Exmos. Srs. arcebispo [de Mariana] e [do] bispo de
Araçuaí designação de frades que se encarreguem da
catequese desses índios e da direção desse novo
núcleo”.

162
d) 1918: A gripe espanhola. A Igreja é arregimentada
para assistir enfermos e órfãos. Calcula-se que em todo
mundo a gripe tenha matado cerca de 50 milhões de
pessoas.

163
164
e) O estreitamento das relações. Assim, a capelania
militar, mesmo sem ser oficialmente reconhecida,
tornou-se corriqueira nos quarteis. Por isso, nos anos de
1917 e 1928, o ministro da guerra autorizou Pe.
Maximiano da Silva Leite a prestar serviços religiosos na
fortaleza Santa Cruz do Rio de Janeiro.

165
f) 1924: São celebrados os cinquenta anos de ordenação
do Cardeal Arcoverde e, na tarde do dia 4 de maio, o
próprio Presidente Artur Bernardes, acompanhado do
seu vice, Estácio Coimbra, e dos ministros de estado foi,
em visita oficial, ao Palácio São Joaquim para saudar o
Cardeal, que ali se encontrava circundado por numeroso
grupo de bispos.

166
g) O reverso da medalha: a rebelião das massas não
assimiladas à reforma eclesial: a república trouxe
novidades como o registro civil, mas o povo se
preocupava com os novos impostos. Bispos como os de
Mariana, MG, Dom Antônio Benevides antes, e Dom
Silvério Gomes Pimenta depois, se esforçavam para
dobrar as resistências.

167
g.1) A revolta de Canudos, Bahia. Durou de 1896 a 1897,
deixando um saldo assombroso de mortes.

168
g.2) A “Guerra santa do Contestado” (1912-1916) no sul
do Brasil. Abaixo, soldados legalistas em ação e grupo de
prisioneiros.

169
g.2.2) Frei Rogério Neuhaus (1863 – 1934), franciscano
que debalde tentou dissuadir os rebelados do
Contestado.

170
VIII – A REORGANIZAÇÃO ECLESIAL
NA REPÚBLICA VELHA

8.1) As limitações iniciais: no alvorecer da República, a


Igreja no Brasil era pobre, com cerca de 700 padres e 12
dioceses. O Papa Leão XIII criará em 1892 as primeiras
novas jurisdições diocesanas e a segunda arquidiocese,
sediada no Rio de Janeiro.

171
a) A expansão diocesana: em 1922, o quadro diocesano
do Brasil já contava com treze arquidioceses, trinta e
nove dioceses, sete prelazias, e três prefeituras
apostólicas. As dificuldades econômicas, porém, eram
grandes; mas, com o tempo, a situação melhorou.
Abaixo, Palácio episcopal de Uberaba, MG.

172
b) As novas catedrais. Abaixo, a sé metropolitana de
Vitória, ES, cuja construção teve início em 1920.

173
8.2) O novo clero do Brasil republicano: boa parte do
episcopado brasileiro nas primeiras décadas do século
XX havia sido formada em Roma e, o clero da época,
além de disciplinado, era zeloso de suas precedências,
mantendo sob controle as decisões pastorais e
administrativas. A respeitabilidade moral era outra
grande conquista. Até o irônico escritor Luís Edmundo
(1878-1961) reconheceria isso.

174
8.2.1) O pontificado do Papa Pio X (1903 – 1914)
contribuiu para reforçar tal transformação. No seu
pontificado, cada aspecto da vida clerical era definido
com clareza. Por isso, Motu Proprio Inter Multíplices,
datado de 22 de fevereiro de 1905, estabeleceu
minuciosamente quais eram “os insignes privilégios e as
prerrogativas dos prelados que não são investidos do
caráter episcopal”.

175
8.2.2) O fim das dissidências. Clérigos hereges se
tornaram raríssimos. Um deles foi o Cônego Manoel
Carlos de Amorim Correia (1873-1913), português de
Mujões, província do Minho, que imigrara ainda criança
para o Brasil. Dom João Batista Correa Nery o
suspendeu de ordens em 25 de janeiro do ano seguinte.
Cônego Amorim não se retratou e pretendeu fundar
uma denominação religiosa “brasileira”, o que lhe
custaria a excomunhão. Ele, porém, faleceu logo em
seguida e, tanto suas ideias quanto o pequeno grupo
dissidente que fundara sumiu.

176
8.2.4 – As pastorais coletivas: foram vários. Uma das de
maior destaque foi a de 1915.

177
8.2.5 - A expansão dos seminários: no ano de 1890 em
todo o Brasil havia nove seminários maiores e onze
menores; mas graças aos esforços empreendidos, a
criação ou ampliação de casas de formação diocesanas
cresceu em ritmo acelerado. Acabada a belle époque, os
grandes seminários já estavam chegando a 27. Abaixo, o
seminário episcopal de São Paulo, SP, então situado na
Avenida Tiradentes (foto Guilherme Gaensly).

178
b) Seminário São Leopoldo, no Rio Grande do Sul. Em
1913 a formação, antes entregue aos capuchinhos, ficou
por conta dos jesuítas, e a citada casa formativa passou
a abranger todo o Rio Grande do Sul e Santa Catarina
até 1926, quando, ao ser criada a Arquidiocese
catarinense, permaneceram somente os gaúchos. Nos
43 anos em que os jesuítas permaneceram por lá,
formaram a impressionante cifra de 834 padres, alguns
dos quais se tornariam cardeais, e um bom número
arcebispos e bispos.

179
c) Os clérigos que se destacaram na república velha:
Padre Roberto Landell de Moura (1861-1928), inventor
do transmissor de ondas; Cardeal Arcoverde (1850-
1930), primeiro purpurado da América Latina, feito tal
em 1905; Dom Sebastião Leme (1882-1942), grande
pastoralista e Padre Júlio Maria, notável “apologista”.

180
d) O “caso” do Pe. Cícero Romão Batista (1844 – 1934),
punido com a suspensão de ordens em 1894, assim
permanecendo até morrer. Isso aconteceu não por
razões de ortodoxia doutrinária, mas porque sobre ele
pesava a acusação de mistificação.

181
e) O papel dos religiosos na conjuntura da jovem
república.

e.1) 1910: O governo da recém-proclamada república


portuguesa expulsa os jesuítas do país pela terceira vez
do país e a maioria escolhe o Brasil como novo destino.

182
e.2) A refundação das velhas ordens “brasileiras” dos
franciscanos alcantarinos, carmelitas, mercedários e
beneditinos por confrades europeus. Os mercedários
inclusive já havia desaparecido, enquanto que os
beneditinos se envolveram num desgastante conflito no
Rio de Janeiro. O último monge do mosteiro daquela
cidade, Dom João das Mercês Ramos, tentou impedir
que seus irmãos de ordem vindos da Alemanha e a
questão terminou indo para os tribunais, resultando em
sua derrota. Dom João terminou seus dias fora da
abadia, ainda excomungado e sem sacramentos; mas, a
vida monástica pode enfim recomeçar por lá.

183
e.3) A chegada maciça de ordens e congregações
europeias que nunca haviam trabalhado no Brasil. Isso
aconteceu sobretudo graças aos pedidos dos bispos das
dioceses que iam sendo criadas, que não mediam
esforços para que ditos regulares os auxiliassem nos
trabalhos de evangelização. Abaixo, um grupo de
redentoristas recém-chegado.

184
e.4) Uma vida comunitária pautada pelo rigor. Abaixo,
convento franciscano Sagrado Coração de Jesus em
Petrópolis, RJ, construído em 1896.

185
e.5) A exclusão sistemática de negros e mestiços por
todos os regulares. Abaixo, grupo de frades capuchinhos
no Rio Grande do Sul em 1908.

186
IX – A REALIDADE SOCIOCULTURAL EMERGENTE E OS
NOVOS CAMINHOS DO APOSTOLADO

9.1) Brasil: um país com mudanças profundas. Na


república, a Bahia perdeu relevância e o Pernambuco
conquistou a primazia na região; a nível nacional, São
Paulo e Minas se consolidaram como líderes
econômicos, demográficos. O Rio Grande do Sul
desafiava a hegemonia que exerciam, ao substituir a
Bahia como terceira força política do país.

187
9.2) A metamorfose étnica e demográfica: entre 1871 e
1920 entraram no Brasil 3.390.000 imigrantes
(1.373.000 italianos, 901.000 portugueses e 500.000
espanhóis). Isso, mais a alta natalidade, fez com que a
população passasse de 14.333.915 habitantes em 1890
para 17.400.000 em 1900, saltando para 30.600.000
vinte anos depois. Pela primeira vez na história do país,
a maioria dos habitantes se tornou oficialmente branca.
Abaixo, o dormitório da hospedaria dos imigrantes no
bairro do Brás em São Paulo, SP.

188
9.3) A formação de uma rede católica de ensino: para
angariar recursos e coibir a infiltração escolar
protestante, os religiosos investiram pesado em
educandários, quase sempre voltados para as classes
dominantes ou burgueses em ascensão. Os alunos eram
separados segundo o sexo e nas escolas confessionais
vigorava a disciplina, sendo o ensino religioso
centralíssimo. Abaixo, o chic Colégio Des Oiseaux das
Cônegas de Santo Agostinho em São Paulo.

189
9.4) A força do laicato feminino: a mulheres foram o
grande trunfo do clero na República Velha. Mesmo
algumas grandes damas se destacaram então como
benfeitoras. Foi o caso da paulista Veridiana Valéria da
Silva Prado (1825 – 1910). Abaixo, a “Chácara de Dona
Veridiana” em Higienópolis, São Paulo.

190
b) Júlia Lopes de Almeida (1862 – 1934): uma escritora
pioneira e devota.

191
9.5 – Os desafios do mundo operário. Anarquistas e
comunistas se infiltram entre trabalhadores e
sindicalistas. Quase todos eram anticlericais. Abaixo,
imagem da greve que parou São Paulo em 1917.

192
b) Uma alternativa católica: Papa Leão XIII aborda
corajosamente a questão social por meio da encíclica
Rerum Novarum publicada aos 15 de maio de 1891.

193
9.6 – A renovação litúrgica

a) Os beneditinos implantam no Brasil o espírito do


movimento litúrgico, iniciado pelo Abade de Solesmes,
na França, D. Prosper-Louis-Pascal Guéranger (1805-
1875) e continuado por outros.

194
b) No Brasil, monges como Dom Gaspar Lefevre e Dom
Gerardo Van Caloen, abade encarregado pela Santa Sé
da restauração da ordem de São Bento no Brasil,
incentivam a novidade.

195
9.7 – A “inteligência católica” e a religiosidade
militante: No primeiro quartel do século XX, a
intelectualidade católica, composta de nomes como
Carlos de Laet, Eduardo Prado, Brasílio Machado, João
Mendes Júnior, Antônio Felício dos Santos, Afonso Celso
de Assis Figueiredo, Joaquim Nabuco, e mais adiante, de
certo modo também Rui Barbosa, se articulou.

196
X – A ARTICULAÇÃO EM PROL DO
RECONHECIMENTO OFICIAL

a) Francisco Silviano de Almeida Brandão (1848-1902), em


Minas Gerais, ressuscitou a ideia de formar um partido católico;
mas, a proposta não vingou.

197
b) 1909: O voto católico mostrou seu peso na eleição
presidencial, quando se opuseram Hermes da Fonseca e Rui
Barbosa. Hermes era maçom, e Dom Silvério ameaçou com
excomunhão todo católico que nele votasse, para alegria dos
“civilistas” de Rui, que passaram a explorar o fato. Minas Gerais
era então o maior colégio eleitoral do país, e Hermes não
demorou a procurar o prelado para confirmar todo o seu
Catolicismo essencial. Venceu a eleição.

c) A relevância dos “grandes convertidos”

198
c.1) Joaquim Nabuco (1849 – 1910)

199
b) José Maria da Silva Paranhos Júnior – barão do Rio Branco
(1845 – 1912),

200
c) Nilo Peçanha (1867 - 1923)

201
d) Rui Barbosa (1849 – 1923).

202
e) Católicos ilustres e novos convertidos

e.1) Paulo de Frontin (1860-1933): engenheiro, foi inclusive


agraciado pela Santa Sé com o título de conde.

203
e.2) João Pandiá Calógeras (1870 – 1934)

204
e.3) Jackson de Figueiredo Martins (1891 – 1928)

205
e.4) Alceu Amoroso Lima (1893 - 1983)

206
e.5) Gustavo Corção (1896-1978).

207
f) Em 1922: com Jackson de Figueiredo a frente, a nata da
intelectualidade católica se aglutinou no Centro Dom Vital.
Dele fariam parte, dentre outros, Hamilton Nogueira, Augusto
Frederico Schimidt, Alceu Amoroso Lima, Cornélio Pena,
Rodrigo Melo Franco de Andrade, José Geraldo Vieira, Vagner
Antunes Dutra, Sobral Pinto, Murilo Mendes e Jorge de Lima.

208
f) Artur Bernardes: o prenúncio da reconciliação final.
Bernardes tomou posse como Presidente da República em 1922.

209
f.2) 5 a 28 de julho de 1924: Eclode em São Paulo a revolução
do General Isidoro Dias Lopes contra Artur Bernardes. A
arquidiocese local, então governada por Dom Duarte Leopoldo
Silva, deu a assistência possível a feridos e retirantes, visitando
os bairros martelados pelas bombas, favorecendo o transporte de
pessoas para o outro lado das linhas militares e cedendo igrejas,
escolas e casas paroquiais para acolher flagelados.

210
f.2.2) 1924: Cenários de destruição na capital paulista

f.2.3) .1924: Enfermeiras e auxiliares da Cruz Vermelha


abrigados no Mosteiro de São Bento

211
f.2.3) Rebeldes sulistas e paulistas se unem em Foz do Iguaçu,
PR, dando origem à Coluna Miguel Costa-Prestes.

212
g) Washington Luís (1869-1957), fluminense de Macaé, mas
representante de São Paulo, que teve como vice o mineiro de
Sabará, Fernando de Mello Viana (1878-1954). Não houve no
período nenhuma mudança religiosa significativa.

213
g.2) Os sinais da futura mudança: o Estado de Sergipe criou no
período a capelania no batalhão da polícia estadual e autorizou o
ensino religioso na rede pública. Algo parecido aconteceu em
Minas Gerais, onde aos 14 de outubro de 1927, o secretario do
interior, Francisco Campos (o “Chico Ciência”), ao reformar o
ensino primário do Estado, no artigo 580 do novo regulamento,
aprovado pelo decreto n.7.970, assinado pelo “presidente”
Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, autorizou o ensino religioso
facultativo nas escolas públicas mineiras.

214
g.3) 18 de abril de 1930: Falece o Cardeal Arcoverde no Rio
de Janeiro e o governo de Washington Luís lhe concede um
funeral de Estado, um funeral de Estado, com honras
semelhantes ao de um vice-presidente da república.

215
h) Os desafios eclesiais não superados

h.1) Dom Francisco Aquino Correia (1885-1956), bispo de


Cuiabá, como Dom Silvério, Ordinário de Mariana, foi eleito
membro da Academia Brasileira de Letras.

216
h.2) Uma Igreja “europeizada”: por mercê da hierarquia
eclesiástica, a doutrina e a disciplina se tornaram rigidamente
romanas; enquanto que o modelo escolástico confessional, o
devocionário e a arte sacra sofriam visível influência francesa;
sobrando ainda espaço para muitos outros influxos na
arquitetura e na piedade, cuja proveniência se estendia da
Irlanda (“Legião de Maria”, a partir de 1921) à Polônia (devoção
a Santo Estanislau, sobretudo em Curitiba).

217
h.3) A renovada ação do protestantismo. As denominações
dissidentes chegadas durante o século XIX – anglicanos (1816)
e seu ramo “episcopaliano” (1899), ao lado dos luteranos
(1824), congregacionais (1855), presbiterianos (1859),
metodistas (1876) e batistas (1881) – foram favorecidas pela
total liberdade concedida pelo regime laico republicano. Abaixo,
a catedral metodista no bairro da Liberdade, em São Paulo, SP.

218
h.4) O ataque pentecostal: William Joseph Seymour (1870-
1922). Negro nascido na Louisiana, a “Missão da Fé
Apostólica”, de onde sairiam alguns dos precursores do
pentecostalismo no Brasil.

219
h.4.1) A “Congregação Cristã no Brasil”.

a) William Howard Durham (1873-1912), pastor de uma


igreja batista de Chicago, Illinois, passou pelo “avivamento” da
Rua Azusa de Los Angeles, onde, pregava Joseph Seymour. Ao
regressar para Chicago pouco depois, William Durham fundou a
“Missão da Avenida Norte”, onde fez prosélitos, incluindo os
futuros introdutores do pentecostalismo no Brasil.

220
b) Luigi Francescon (1866-1964), italiano e ex-valdense, fundou
a “Congregação Cristã no Brasil”.

221
h.4.2) A “Assembléia de Deus”

a) Dois pregadores batistas suecos, provenientes de Chicago,


EUA, chegam a Belém do Pará e fundam uma nova seita
pentecostal. Abaixo, sucessivamente Daniel Gustav Högberg,
mais conhecido por Daniel Berg (1885-1963) e Gunnar Adolf
Vingren (1879-1933).

222
h.4.3) Os Adventistas do Sétima Dia: em 1893 esta
denominação enviou um “missionário” ao Brasil, cujo nome era
Albert B. Stauffer. Nos anos seguintes enviaria outros, que
fariam proselitismo no Rio de Janeiro e em São Paulo. Enfim,
aos 23 de março de 1898, na cidade de Gaspar Alto, SC, seria
organizada a primeira comunidade, então constituída por 23
membros, que se reuniam em torno da família Belz.

223
h.4.4) 1920: Oito tripulantes da marinha mercante nacional, de
passagem por Nova York, aderiram à Sociedade Internacional
dos Verdadeiros Inquiridores da Bíblia (que, em 1931, adotará
o nome de “Testemunhas de Jeová”). Os “jeovistas” ainda não
tinham fixado o nome definitivo que os tornariam conhecidos,
quando seu primeiro representante – George Young (1886-
1939) – chegou ao Rio de Janeiro.

224
h.4.5) 1923: Chegam os “Mórmons”. Segundo Joseph Smith,
mórmon deriva do egípcio Mon (“bom”) + More (“mais”),
significando “melhor”, ou ainda o nome de um antigo profeta.
Foi Robert Friedrich Heinrich Lippelt, que junto de sua mulher,
Augusta Kulmann Lippelt, e dos três filhos, introduziram esta
seita em Ipoméia, SC, situada entre Videira e Caçador, no
distrito do Rio das Antas. Por seu intermédio, Rheinold Stoof,
líder da denominação em Buenos Aires, estabeleceu uma missão
em Joinville, aos 25 de outubro de 1931.

225
VI – A IGREJA NA “ERA VARGAS”

6.1) Júlio Prestes de Albuquerque posando ao lado de Herbert


Hoover, Presidente dos Estados Unidos. Eleito, Prestes ganhou
mas não levou, porque a Revolução de 1930 o mandaria para o
exílio e Getúlio Vargas assumiria o governo provisório com
plenos poderes.

226
b) 1930: Com o apoio de Minas Gerais rebeldes gaúchos,
liderados por Getúlio Vargas, deixam o Rio Grande do Sul em
direção à capital. Washington Luís será depois por uma junta
militar, que entregará o poder ao líder gaúcho.

b) 1930: A junta militar provisória

227
6.2 – As relações entre o governo provisório e o clero: o
governo provisório de Getúlio durou de 1930 a 1931 e ele
passou a governar com poderes discricionários. Daí, nomeou
interventores para ao Estados e um deles, o do Maranhão, foi o
jovem e controvertido Padre Astolfo de Barros Serra. Abaixo, o
Palácio dos Leões, sede do governo maranhense.

228
6.2.2 – O primeiro ministério do governo provisório. Agradou
ao clero, pois, tinha membros como Afrânio de Mello Franco
(1870-1943), titular da pasta das relações exteriores, que se
declarava “grande católico”; Francisco Luiz da Silva Campos
(1891-1968), que instituíra o ensino religioso em Minas Gerais
quando lá atuara; e Juarez Távora (1898-1975), que se dizia
fervoroso católico, e que inclusive era sobrinho do bispo de
Caratinga, MG, Dom Carloto Távora (1863-1933).

229
6.2.3 – Getúlio Vargas: uma esperança de superação do
laicismo. Assim que ele assumiu, Dom João Becker, Arcebispo
de Porto Alegre, lhe enviou um telegrama de congratulações. O
neo-Presidente agradeceu. Estava nascendo um novo pacto.

230
6.2.4) 1934: O Cardeal Eugênio Pacelli, Secretário de Estado
do Vaticano visita o Brasil.

231
6.2.5) 03-04-1934: Inaugurado em Roma o Colégio Pio
Brasileiro. Abaixo, Dom Leme visitando-o.

232
6.2.6) Um sobressalto: o escritor Paulo Menotti del Picchia
escreve Pelo divórcio e a Igreja reage. Contra ele Pe. Leonel
Franca escreve Contra o divórcio.

233
6.2.2 – As estratégias eclesiásticas num período de grandes
eventos pios

a) 16 de julho de 1930: Papa Pio XI declarou Nossa Senhora da


Conceição Aparecida padroeira do Brasil. O fato propiciou a
realização da primeira grande concentração católica no período
do governo provisório, por ocasião da ida da imagem da Virgem
ao Rio de Janeiro em 1931.

234
b) 1931: Inauguração da estátua do Cristo Redentor no Rio.

235
6.2.3 – 1932: Os “escolanovistas” tentam impor a irreligião de
Estado. Por meio do “Manifesto dos Pioneiros da Educação
Nova”, elaborado por Fernando Azevedo (1894-1974) e firmado
por 26 signatários, se propôs banir o ensino religioso da escola
pública. A anticlerical Cecília Meireles e o incrédulo Anísio
Texeira se associaram à iniciativa.

236
6.3 – A Igreja e a política nacional até o advento do “Estado
Novo”

a) 1932: Surge no Rio a Liga Eleitoral Católica (LEC). A


inciativa partiu de Dom Sebastião Leme, auxiliado por Alceu
Amoroso Lima. Ela visava mobilizar o eleitorado católico para
que este votasse em candidatos alinhados com a causa da Igreja.
A LEC teria grande importância nas eleições de 1933.

237
a.2) Plínio Corrêa de Oliveira: um dos deputados que a LEC
elegeu e que teve papel de destaque na assembleia constituinte
de 1933.

238
a.3) Palácio Tiradentes, no Rio de Janeiro, onde os debates
constituintes de 1933 aconteceram.

239
6.3.2) A Igreja de São Paulo e a Revolução
“Constitucionalista” de 1932

a) 1932: O fracasso dos interventores em São Paulo. A tática


getulista de impor seus preferidos não funciona no mais rico
estado do país e nem mesmo o último deles, Pedro Manuel de
Toledo conseguirá serenar os ânimos.

240
b) 1932: Ao contrário de quanto imaginava, São Paulo se vê
isolado, sofrendo um tríplice ataque em suas divisas. Acuadas,
as autoridades paulistas lançam a campanha “ouro para o bem
de São Paulo”. Até o clero participou dela, mas nada impedirá a
derrota dos “constitucionalistas”.

241
c) 1932: Mons. Gastão Liberal Pinto (1884-1945) que, ao lado
de personalidades mais como José Maria Whitaker e o escritor
Guilherme de Almeida, lançou um manifesto justificando a
revolução em ato.

242
d) 1932: Quando os soldados partiram para o front, a
arquidiocese de São Paulo também organizou um serviço de
assistência religiosa em que clérigos atuavam nas mais diversas
localidades. Abaixo, padre benzendo soldados paulistas.

243
6.3.2 – A movimentação do clero ante a eventualidade de uma
constituinte: Getúlio Vargas convocou para 3 de maio de 1933
uma eleição para dar ao Brasil nova carta magna. Os bispos
organizaram um programa de reivindicações católicas.
Paralelamente, em Minas Gerais, o Partido Progressista, ao qual
era filiado Antônio Carlos Ribeiro de Andrada (1870-1946),
vários ministros e diversas pessoas importantes como Gustavo
Campanema, Bias Fortes e Negrão de Lima, aprovou um novo
programa político alinhado a tais propostas.

244
b) Oswaldo Aranha, então ministro da Fazenda, escreveu a
Alceu Amoroso lima apoiando as iniciativas da LEC. Juarez
Távora faria o mesmo.

245
c) Dom Sebastião Leme, Cardeal-Arcebispo do Rio de Janeiro,
no centro das atenções. Até mesmo certos governantes
estrangeiros o prestigiavam, a exemplo do presidente argentino,
Agustín Pedro Justo (1876-1943) que, na visita oficial ao
Brasil de 7 a 14 de outubro de 1933, fez questão de ir saudá-lo.

246
6.3.3 – As inovações da carta magna de 1934: aos 3 de maio
de 1933 fora realizada a eleição para os 214 deputados que
deveriam elaborar uma nova constituição para o país. Em todo o
Brasil havia 1.284.863 eleitores aptos a votar o que, desta vez,
incluía o voto feminino. Nem todas as freiras usufruíram de tal
direito, porque não quiseram tirar o véu para a fotografia. A
Constituição de 1934 foi a mais favorável à Igreja que o Brasil
república conheceu,

247
b) A oposição anticlerical derrotada: o jornal paulista A
Lanterna, dirigido por Edgard Leuenroth, fez cerrada oposição
às propostas que iam sendo aprovadas. Perdeu.

248
c) 1934: Getúlio Vargas é eleito “Presidente constitucional” do
Brasil, com um mandato prevista para durar até 3 de maio de
1938. Sua eleição foi indireta, tendo ele recebido 175 votos
contra 59 dados a outro gaúcho, o deputado Antônio Augusto
Borges de Medeiros (1863-1961).

249
6.3.4 – A Igreja e o “perigo comunista”

a) 25 de março de 1922: Fundado o Partido Comunista


Brasileiro (PCB). Para tanto reuniram 73 homens, dentre os
quais Astrojildo Pereira (jornalista), Cristiano Cordeiro
(advogado), Joaquim Barbosa (alfaiate), Manuel Cendón
(alfaiate), João da Costa Pimenta (gráfico), Luís Pérez
(vassoureiro), Hemogêneo Fernandes da Silva (eletricista),
Abílio Nequete (barbeiro) e José Elias da Silva (pedreiro). Eles
vinham do Distrito Federal, e dos estados do Rio de Janeiro, São
Paulo, Pernambuco, Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

250
b) 1924: O PCB, após viagens a Moscou de Rodolfo Coutinho
em 1923 e de Astrojildo Pereira no ano seguinte, é enfim
reconhecido como seção brasileira da Internacional Comunista.
Asrojildo Pereira seria um dos maiores líderes comunistas do
Brasil de 1922 a 1929.

251
c) A Igreja percebe a ameça: A província eclesiástica da Bahia,
reunida em 1931 denuncia a infiltração comunista no país e o
mesmo viria a fazer Dom Francisco de Aquino Corrêa,
prelado de Cuiabá, MT:

252
d) 1930: Luís Carlos Prestes, capitão desertor do exército,
adere ao credo comunista.

253
d.2) 8 de junho de 1934: Luiz Carlos Prestes se torna membro
do Komintern e enfim, no mês de agosto seguinte, também do
PCB. Pouco depois ele recebeu a incumbência de regressar
clandestinamente ao Brasil, com o objetivo de dirigir uma
conspiração revolucionária. Assim, em 29 de dezembro daquele
ano, junto de Olga Benário (1908-1942), designada pelo
komintern para acompanhá-lo, partiu. No dia 8 de março de
1935, em Paris, o casal recebeu passaportes forjados que lhes
conferiam as falsas identidades de Antônio e Maria Vilar. Após
longos percursos chegaram ao Rio de Janeiro. Uma equipe de
comunistas estrangeiros os assessoraria ali. Entretanto, um
deles, o alemão Franz Paul Gruber, delataria a trama.

254
d.3) A “Aliança Nacional Libertadora”, surgida em reação ao
autoritarismo do governo de Getúlio, em 30 de março de 1935,
num comício realizado no teatro João Caetano do Rio de
Janeiro, aclamou Luíz Carlos Prestes, não presente, como seu
presidente de honra. Só a partir daí a entidade assumiria uma
postura comunista.

255
e) 1935: O levante comunista em Natal, RN. Os comunistas
dominaram a cidade durante 48 horas. Abaixo, o “Comitê
Popular Revolucionário” ao ser preso.

f) 1935: Rio de Janeiro - militares rebeldes do 3RI a caminho do


presídio da Ilha Grande. Marcado com um “x”, Agildo Barata
Ribeiro (1905 – 1968).

256
g) Dom Marcolino Esmeraldo de Souza Dantas (1888-1967),
bispo de Natal, por ocasião do levante comunista.

257
h) Capitão Filinto Müller (1900-1973), que realizou feroz
repressão contra os comunistas.

258
i) 1936: Preso o escritor Graciliano Ramos, acusado de cultivar
ideias esquerdistas.

259
J) Novembro de 1945: O PCB demonstra de estar vivo. Nas
eleições realizadas em novembro daquele ano, a sigla, já
legalizada, inclusive apresentou Yedo Fiuza como candidato à
presidência. Além disso, os comunistas elegeram 14 deputados
federais e 1 senador (Luís Carlos Prestes) que atuaram na
constituinte que viria a promulgar a constituição de 1946.
Abaixo, a bancada comunista naquele ano.

260
j.2) 1947: No “clima” da guerra fria, o PCB é cassado e volta à
clandestinidade. Abaixo, o protesto dos parlamentares
comunistas na Câmara dos Deputados.

261
6.3.5 – A “Ação Integralista Brasileira”:
origem e expansão

a) 7 de outubro de 1932: Plínio Salgado (1895-1975), paulista


de São Bento do Sapucaí, Plínio Salgado (1895-1975), por meio
de um manifesto lança a “Ação Integralista Brasileira”, de
clara inspiração fascista.

262
b) Os católicos e o integralismo: o laicato e até o episcopado se
dividiram. O cearense Gustavo Barroso tentou atrair a Igreja
para suas hostes, mas, não conseguiu.

263
c) Os católicos que aderiram ao “integralismo”: a LEC não
aceitou de apoiar o integralismo; mas, alguns fieis o fizeram. Foi
o caso de Alcibíades Delamare e também do padre (e depois
bispo) Hélder Câmara (1909-1999).

264
d) Uma especificidade brasileira: apesar de se inspirar em
regimes autoritários europeus, o “integralismo” admitia
tranquilamente negros em seus quadros.

265
6.4 – O clero e o laicato em tempos de renovação

a) Os grandes congressos eucarísticos nacionais: o primeiro


deles aconteceu em Salvador, Bahia, no ano de 1933; o segundo
em Belo Horizonte, MG, três anos mais tarde. O terceiro
congresso eucarístico nacional seria celebrado no Recife em
1939, ano em que eclodiu a segunda guerra mundial, e o quarto,
em São Paulo, no ano de 1942.

266
b) 1939: Realiza-se o primeiro concílio plenário da Igreja no
Brsil. Para tanto, os bispos se reuniram no Rio de Janeiro de 22
março à metade de julho seguinte. A sua preparação imediata foi
dirigida pelo Cardeal Leme. Da reunião propriamente dita
participaram 98 prelados.

267
c) Os padres polemistas

c.1) Pe. Leonel Franca SI (1893-1948)

268
c.2) Padre (em seguida bispo) Agnelo Rossi (1913-1995)

269
d) A efervescência do laicato católico

d.1) O “Apostolado da oração”. Abaixo, uma reunião em Lins,


SP.

270
d.2) A “Liga Católica” Jesus, Maria e José

271
d.3) Os “Congregados Marianos”. Abaixo, Mons. Gustavo
Freire reunido com congregados em Juiz de Fora, MG.

272
d.4) A Pia União das “Filhas de Maria”. Abaixo uma
reunião delas no Pará nos anos 30,

273
d.5) A “Ação Católica” e suas ramificações

d.5.1) 11 de fevereiro de 1867: a origem. Na Itália, dois jovens


universitários, Giovanni Acquaderni (1839-1922), natural de
Castel San Pietro, na Emília-Romanha, e Mário Fani (1845-
1869), nascido em Viterbo, no Lácio fundam em Bolonha a
Società della Gioventù Cattolica Italiana, que tinha como
princípios básicos a “oração, a ação e o sacrifício”. Foi o
embrião da Ação Católica.

274
2.5.2) 11 de junho de 1905: Pio X, por meio da encíclica O
firme propósito reestruturou a organização que ganhou o nome
que a tornaria célebre: Ação Católica. Esta viria a atingir sua
expressão universal sob o pontífice sucessivo, Pio XI, que muito
justamente ficou conhecido como “o Papa da Ação Católica”.

275
2.5.3) 1923: Dom Sebastião Leme faz editar o livro Ação
Católica – instruções para organização e funcionamento da
confederação no Rio de Janeiro e favorece dita organização
laical. Abaixo, uma reunião da AC, com Alceu Amoroso Lima
discursando e Dom Leme (sentado) participando.

276
6.5 – As escolas católicas superiores

a) 1939: Fundada a faculdade de Filosofia de Pedagogia,


Ciências e Letras Santa Úrsula.

277
b) 1946: Surge no Rio de Janeiro a primeira universidade
católica do Brasil. Seu embrião foi o Instituto Católico de
Estudos Superiores, fundado em 24 de maio de 1932, por
iniciativa de Dom Leme com Alceu Amoroso Lima.

278
279
c) 1955: A Faculdade de Ciências e Letras de Campinas, SP,
fundada em 1941, se torna uma universidade católica. Em
1972 será elevada à condição de pontifícia.

280
d) 1947: Após um longo processo evolutivo, Pio XII concede o
título de pontifícia à universidade católica de São Paulo.

281
6.6 – A Igreja durante o “Estado Novo”

a) 10-11-1937: Alegando existir uma conspiração comunista no


Brasil (“Plano Cohen”), Getúlio Vargas dá o golpe “Estado
Novo” e transforma o Brasil numa ditadura.

282
b) A Igreja no Brasil não se opôs ao golpe colocado em ato, por
nele ver um mal menor ante a alardeada ameaça do comunismo.
Além disso, dias antes do golpe, Plínio Salgado recebera de
Francisco Campos a incumbência de procurar secretamente o
Cardeal Dom Sebastião Leme, em nome do próprio presidente
da república, para apresentar-lhe uma cópia da nova constituição
(elaborada justamente pelo citado Campos) que em cinco dias
seria imposta à nação.

283
284
c) O fechamento da Ação Integralista Brasileira. Os integralistas
também apoiaram o golpe, na ilusão de que viriam a se tornar o
partido único de sustentação ao governo; mas, enganavam-se.
Vargas ordenou sua supressão, eles tentaram um golpe, mas
foram facilmente derrotados. Seu líder, Plínio Salgado,
primeiro foi preso, e depois, exilado em Portugal.

285
d) A única ressalva: As relações entre a Igreja e o “Estado
Novo” eram boas. A única ressalva eram as casas de azar, pois o
clero abominava a jogatina. Na época ficaram famosos os
cassinos “Quitandinha” de Petrópolis, RJ, o da Pampulha em
Belo Horizonte e os do Rio de Janeiro, como “Atlântico” e
“Urca”. Abaixo, contagem de dinheiro do Cassino
“Quitandinha” após uma noite de jogo.

286
e) capelania militar em tempos de guerra

e.1) Dom João Batista Becker (1870-1946): bispo de Porto


Alegre, apesar de ser teuto-descendente, ele se posicionou
contra a ideologia nazista.

287
e.2) 1º de setembro de 1939: a Alemanha nazista invade a
Polônia e dá origem à segunda guerra mundial. O governo
brasileiro se declarou neutro e bem que tentou ficar de fora do
conflito; mas, acabou sendo nele envolvido. Abaixo, soldados
nazistas retirando a guarita que separava as fronteiras polaca e
alemã.

288
e.3) O Brasil entra oficialmente na guerra em 1944 e a FEB vai
lutar na Itália. Junto das tropas irão 30 capelães católicos e 2
protestantes. Monsenhor João Pheeney de Camargo e Silva era
o capelão-chefe da parte católica no front. Abaixo, Frei
Orlando (1913-1945), franciscano nascido em Morada Nova,
MG, e que morreu na frente de Combate.

289
e.3.2) O monumento votivo aos caídos brasileiros na Itália,
construído em Pistóia.

290
f) As persistentes pendências

f.1) Salomão Barbosa Ferraz (1880-1969): o controvertido


personagem que, depois de ser ministro presbiteriano, se tornou
sacerdote anglicano em 1917. Em seguida fundou uma entidade
interconfessional chamada “Ordem de Santo André” e, em 1936,
no assim chamado “congresso católico livre”, foi eleito “bispo”.
Acabou se reconciliando com a Igreja Católica.

291
f.2) Dom Carlos Duarte Costa (1888-1961): o polêmico “bispo
de Maura” que, após peripécias várias acabou excomungado em
1945, fundando naquele mesmo ano a assim chamada “Igreja
Católica Brasileira”.

292
6.7 – O imediato período pós-Getúlio

a) 29 de outubro de 1945: Getúlio Vargas é deposto e vai viver


por certo tempo na estância que tinha em São Borja, RS. A
presidência foi ocupada interinamente por José Linhares (1886-
1957) até ser eleito novo presidente.

293
b) A atuação católica no pós Vargas: Dom Leme e o alto clero
não aceitam de formar um partido católico. Mesmo assim, se
formará o Partido Democrata Cristão (PDC), que teve como um
dos seus dirigentes o padre pernambucano Alfredo Bezerra de
Arruda Câmara, mais conhecido como monsenhor Arruda
Câmara (1905-1970), nascido em Afogados da Ingazeira,
notabilizado por sua luta contra o divórcio.

294
c) Um problema na liderança católica: o sucessor de Dom Lme,
morto em 1942, foi Dom Jaime de Barros Câmara (1894-
1971), que não possuia seu carisma e espírito de iniciativa.

295
d) 1952: Surge a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Ainda em 24 de dezembro de 1930, uma circular de Dom Leme
apontara a conveniência de se fundar uma entidade do gênero.
Ela tomou forma em 14 de outubro de 1952, tendo Dom Carlos
Carmelo de Vasconcelos Mota (1890-1982) como primeiro
presidente e Dom Hélder Câmara, então bispo auxiliar do Rio de
Janeiro, como secretário geral.

296
5.2.8 - A república laica: proclamada em 15 de novembro de
1889, após o que secularizaria o Estado em 7de janeiro seguinte;
mas, o governo não era anticlerical. Por isso, a convivência foi
bastante serena e, seja o primeiro Presidente, Manoel Deodoro
da Fonseca (1827-1892), sejam os seus sucessores, se
afirmavam católicos publicamente. Isso no Brasil era tão natural
que, em 15 de novembro de 1890, na mensagem de abertura do
Parlamento Constituinte, Deodoro agradeceu à Providência por
ter-lhe consentido de ser elevado ao comando supremo da
nação.

297
VI – OS EVENTOS CONTEMPORÂNEOS DA IGREJA
NA AMÉRICA LATINA: Cerca de 42% de todos os católicos
do planeta vivem no continente latino-americano, mas, o
inventor da expressão “América Latina” foi o francês Michel
Chevalier (1806 – 1879), que utilizou tal terminologia na obra
Lettres sur l’Amérique du Nord, redigida em 1836, para
contrapor a parte católica e latina do continente americano
àquela do norte, anglo-saxônica e protestante, à semelhança do
que havia na Europa meridional e nórdica.

298
6.1 - Eduardo Prado (1860 – 1901), membro fundador
da Academia Brasileira de Letras, que contestou em
1893, com a obra A ilusão americana, a suposta
fraternidade continental.

299
6.2 – 21 de novembro de 1858: a fundação em Roma do
Pontifício Colégio Pio Latino-americano realizada pelo Papa
Pio IX, um primeiro passo de aproximação a nível eclesial. O
título “latino-americano” se tornou oficial em 1905.

300
6.3 – 1899: O Concílio Plenário Latino-americano convocado
por Leão XIII

301
6.5 – 24 de agosto de 1910: Papa Pio X proclama a Virgem de
Guadalupe como padroeira da América latina.

302
A América Latina mad in Hollywood

a) 1933: o Departamento de Estado dos Estados Unidos,


favorecido por Roosevelt, passou a cortejar os vizinhos ao sul
do Rio Grande e isso ia muito além da mera simpatia. Não é um
caso que naquele mesmo ano tenha sigo gravado o “musical”
Flyng down to Rio (“Voando para o Rio”), contando com a
participação de Fred Astaire e Ginger Rogers, filme este que,
além de valorizar o cenário carioca, tinha o preciso objetivo de
promover a nova linha de voos da Panam para as cidades
costeiras da América do Sul.

303
b) A política da “boa vizinhança”, depois que os Estados
Unidos entraram efetivamente na guerra após 1941. Assim,
certos “heróis” históricos latinos foram resgatados, sendo
transformados em personagens das telas. Também alguns astros
latinos foram importados, a exemplo de Carmen Miranda, César
Romero, DesiArnaz, Carlos Ramirez e outros.

304
O processo de aproximação real entre as igrejas da América
Latina

1 – As apreensões provocadas pelo proselitismo protestante: a


China caiu em mãos dos comunistas guiados por Mao Tse Tung
(1893 – 1976), o qual, em 1-10-1949 proclamou o nascimento
da República Popular Chinesa e se tornou seu presidente. O
ateísmo de estado implantado e o sentimento antiocidental da
nova ditadura marxista, induziram a expelir quase todos os
missionários cristãos do país, e a maioria dos ministros
protestantes expulsos escolheu a América latina como nova
meta do seu proselitismo.

305
2 – A alternativa católica: em janeiro de 1955, foi celebrada
em Roma a “Semana Pro Defesa da Fé”, presidida pelo
brasileiro Dom Agnello Rossi (1913 – 1995). Naquela ocasião
se raciocinou que, se o adversário protestante tinha perspectivas
globais, esse deveria ser combatido com uma resposta
igualmente global. Surgiu assim o Secretariado Latino-
americano pro Defesa da Fé, que foi uma primeira e limitada
antecipação daquilo que seria depois do CELAM. Ao mesmo
tempo, a Santa Sé convocou uma reunião de todos os bispos
latino-americanos no Rio de Janeiro, a ser presidida pelo
Cardeal Adeodato Giovanni Piazza (1884 – 1957).

306
3 – 1955: A criação do CELAM. A reunião do Rio de Janeiro
aconteceu entre 25 de julho e 4de agosto de 1955, com a
participação dos representantes de todos os episcopados latino-
americanos e do Caribe. Ali os bispos concordaram em pedir ao
Papa Pio XII de instituir um conselho episcopal que
representasse os prelados do continente e conduzisse o programa
de ação pastoral formulado pela conferência geral. Assim foi
feito, e depois de várias votações, se escolheu Bogotá, na
Colômbia, como lugar adequado que, como tal, se manterá nos
anos sucessivos.

307
3 – Os encontros dos bispos latino-americanos durante o
Vaticano II. O Concílio foi aberto em 11 de outubro de 1962.
Enquanto transcorriam as sessões, o prelado chileno Mons.
Manuel Larraín Errázurriz (1900 – 1966), então presidente do
CELAM, propôs a realização de uma nova conferência
episcopal na América Latina, para atualizar a Igreja local
segundo as decisões apenas tomadas pelo Vaticano II, e também
para enfrentar a complexa problemática socioeconômica daquele
continente.

308
4) 1968: A conferência episcopal de Medellin, Colômbia. O
tema foi “A Igreja na atual transformação da América Latina à
luz do Vaticano II”. Os trabalhos foram presididos pelo Cardeal
peruano Juan Landázuri Ricketts (1913 – 1997), mais o Cardeal
italiano Antônio Samoré (1905 – 1983) e o Arcebispo brasileiro
Dom Avelar Brandão Vilela (1912 – 1986). Depois da
conclusão, acontecida em 6-9-1968, se abriu o caminho para
uma aproximação real entre brasileiros e hispânicos, ainda agora
em curso.

309
Brasil: uma tranquila adaptação à república laica: a regalista
monarquia brasileira durou até 15-11-1889, quando, sem
derramamento de sangue, um golpe militar proclamou a
república.

310
1) A Igreja regalista que se foi. Os europeus que passavam
pelo Brasil se sentiam perplexos e tal sentimento pode ser
resumido num comentário feito pelo francês Auguste de Saint-
Hilaire (1779 – 1853): “Na Igreja brasileira não há o que possa
causar espanto: esta fora de todas as regras”.

311
2) Os protagonistas da reforma eclesial: Dom Antônio Ferreira
Viçoso(1787-1875), bispo de Mariana, e Dom Antônio Joaquim
de Melo (1791-1861), bispo de São Paulo.

312
3)1890: A República seculariza o Estado e o clero praticamente
não protesta. Dom José Pereira da Silva Barros (1835 – 1898),
bispo de Olinda, deu uma excelente explicação para o
acontecido: o governo decaído programava de introduzir as
mesmas medidas secularizadoras propostas pelos republicanos,
mas em condições ainda piores. Ou seja, o império projetava de
estabelecer o matrimônio civil, a liberdade absoluta de culto e a
secularização dos cemitérios, mas, relevava Dom José, “não a
abolição do padroado e das suas derivações jurídicas, de modo
que teríamos de sofrer ao posto de um mal, dois: a separação de
um lado e a escravidão doutro”.

313
4) A reestruturação: a Igreja se encontrou livre, mas numa
situação deveras penosa: havia no Brasil somente 700 padres
distribuídos em apenas doze dioceses. Portanto, a primeira
providência foi levar a cabo uma completa reestruturação
eclesial e, em 1922, o quadro diocesano estava já
completamente transformado: havia treze arquidioceses, trinta e
nove dioceses, sete prelazias e três prefeituras apostólicas.
Também o número dos seminários cresceu de modo
extraordinário, o mesmo acontecendo com as ordens e
congregações religiosas. Abaixo, Seminário São Leopoldo/ RS.

314
5) 1934: A nova Constituição promulgada no governo de
Getúlio Vargas (1882-1954) assegura ao Catolicismo uma série
de vantagens e lhe dá reconhecimento oficial. Foi-lhe, por
exemplo, permitido o ensino religioso nas escolas públicas e a
assistência religiosa às forças armadas.

315

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