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Compreendendo a Vitimização

As diversas classificações da vitimização: Aprofunde-se nas diferentes


categorias que definem as vítimas de crimes
Pioneiros do estudo da vitimização: Conheça os principais pensadores
que se dedicaram a compreender o papel das vítimas na sociedade

⬛ Cifra negra: A dimensã o real da criminalidade: Desvende o que é a cifra


negra e os fatores que contribuem para sua existência ‍

⬜🟦 Crimes de colarinho branco e crimes de colarinho azul: Entenda a


dinâmica e as características desse tipo de crime, que impacta a sociedade
de forma profunda e complexa

Hoje eu vou tratar com vocês um conteúdo sobre a vitimologia, onde a gente vai ver a
consolidação, como surgiu a vitimologia, as classificações da vitimização,
os principais nomes da vitimologia no Brasil e lá fora, as classificações de vitimologia,
eu vou tratar algumas, mas são praticamente umas 15, 20,
então não vai dar tempo de tratar tudo, vai ser tratado em um outro material separado. O
conceito de vitimologia, as fases de estudo da vitimologia e como isso tem relação com
o nosso direito hoje, então para o pessoal que está estudando para concurso jurídico,
para concurso policial, para o pessoal que está fazendo segurança pública, direito, é uma
coisa muito interessante, eu vou falar sobre as fases do estudo e vou dar uma pincelada
em onde a gente consegue enxergar
essas fases dentro da vitimologia. Vou falar também sobre as cifras da criminalidade,
que são maneiras de você contabilizar a ocorrência de crimes.
Aqui o material sobre síndromes, eu já tratei, tem uns áudios aí para trás, um áudio de
25 minutos tratando sobre essa síndrome, síndrome de Barbie, do desamparo aprendido,
mulher maltratada, então volta um pouquinho aí quem tiver interesse, está aí no grupo.
E as contribuições da vitimologia, por quê? A vitimologia, dentro do âmbito da
criminologia, ela vai colaborar para você poder elaborar o que se chama de política
criminal. Então a criminologia, ela vai chegar para o Estado e vai falar, olha, nessa rua
aqui está ocorrendo crimes. Ah, e por que que nesta rua está ocorrendo crimes? Ah,
porque nessa rua não tem polícia e nessa rua não tem iluminação pública. Então a
política criminal, ela vai desde coisas mais simples,
como colocar polícia. Colocar polícia na rua, trocar iluminação, até coisas mais
complexas, como, por exemplo, elaborar um novo código penal, elaborar uma nova lei
penal, modificar os espaços carcerários. Então a política criminal é tudo aquilo que o
Estado pega e aplica para poder modificar essa ocorrência de crimes. Política criminal,
criminologia e direito penal não são a mesma coisa. Isso aí, se vocês quiserem, eu posso
tratar depois. Começando aqui o nosso conteúdo, nós temos a consolidação da
vitimologia. Em 1973, existe o primeiro simpósio internacional de vitimologia, na
cidade de Jerusalém, em Israel, pelo palestrante Israel Drapkin. Em 1984, 11 anos
depois, tem a fundação da Sociedade Brasileira de Vitimologia.
Em 1991, tem o sétimo simpósio internacional de vitimologia, que foi realizado no
Brasil, na cidade do Rio de Janeiro.
E dentro da vitimologia no Brasil, quem quiser pesquisar, quem quiser olhar livros e
etc., os autores que eu recomendo são Sterkozovski, é um nome polonês, mas é
brasileira, Edgar de Moura Bittencourt, Laércio Pelegrino, Heitor Piedade Jr. e Eber
Soares Vargas. Desse aqui, o que eu mais recomendo é o Edgar de Moura Bittencourt.
Eu acho que o material dele é mais complexo. E é um pouco mais fácil de ser entendido
também. Bom, dentro das classificações da vitimização, a gente vai ter vitimização
direta e indireta, vitimização primária, secundária e terciária, e a heterovitimização.
Então, tratando aqui de forma bem simples, a vitimização direta ocorre com a própria
vítima do crime, com a própria pessoa que sofreu aquela violência. Então, o João estava
andando na rua, o João foi assaltado, a vitimização direta é com o João. Bom, e a
indireta? A indireta ocorre quando pessoas que estão próximas ao João, irmãos,
familiares, amigos, namorada, pessoas que estão ali dentro dessa área de influência do
João, ao ficarem sabendo que o João sofreu uma violência, ao ficarem sabendo que ele
estava andando na rua
em determinado horário, apanhou, teve uma arma na cabeça e etc., essas pessoas vão
ficar com medo, por exemplo, de sair à rua. Essas pessoas vão ficar com medo de
andarem naquele setor, naquela rua. As pessoas vão ficar com medo ali de transitar em
determinado horário. Então, essa é a vitimização indireta, é o efeito do crime sobre uma
pessoa que não sofreu diretamente aquela violência. Então, por ficar sabendo que
ocorreu, geralmente com pessoas próximas, algum tipo de violência, a pessoa pode ficar
ali ressentida, ela é atingida de forma indireta pelo crime.
A vitimização primária, secundária e terciária, está ligada ao processo da vítima em
relação à violência, as etapas que a vítima vai passar. A vitimização primária ocorre
quando a pessoa sofre o crime. Ela é bem parecida com a direta. Então, no momento
que a pessoa, por exemplo, sofre um crime de agressão, ali está a vitimização primária
A vitimização secundária ocorre durante o momento em que é acertada a vítima. A
vitimização secundária ocorre quando o SA é um maquenado, também é chamada de
sobrevitimização ou revitimização.
Quando que ela ocorre? Ela ocorre quando a vítima, vamos supor, a vítima de um
roubo, ela chega até o poder público, vai até uma delegacia de polícia e fala,
olha, eu estava andando na rua com o meu celular na mão, estava mexendo o celular,
passou um cara, botou uma arma na minha cara e levou o meu celular. Pronto, a gente
tem um crime de roubo, que é subtrair coisa alheia mediante violência ou grave ameaça.
O que é que vai acontecer? No mundo ideal, a polícia vai dar um amparo para aquela
pessoa, a polícia vai lavrar um boletim de ocorrência, a polícia vai investigar, vai tentar
pegar aquele bem novamente. Mas o que pode vir a acontecer? Eu estou dando o
exemplo do crime de roubo, mas isso é mais comum em crimes sexuais. O que pode vir
a acontecer? Ele fala assim, poxa cara, mas você estava andando numa rua
movimentada, com o celular caro na mão. Você sabe que a cidade não está segura.
Então, a vítima vai procurar o auxílio do poder público para falar, sofreu uma violência
e o poder público dá meio que a entender que a culpa foi da vítima. Isso não ocorre com
tanta frequência, mas também não dá para falar que não ocorre, que isso não existe. Isso
infelizmente ocorre e é um descaso do poder público em buscar a solução para aquilo.
Olha, não vai dar em nada, olha, dificilmente a gente vai pegar esse cara. Olha, mas
você também tinha que ter tomado mais cuidado, você tem que ver o que você está
fazendo e tal.
Então, a vítima, ela sofreu a violência primeiro, quando ela foi assaltada, e sofreu uma
violência novamente agora, uma vitimização agora, quando ela foi buscar o auxílio do
poder público. E a vitimização terciária? A vitimização terciária vai ter uma pequena
discordância na doutrina. A parte minoritária dos acadêmicos vai falar, que é quando o
autor do crime, ele passa por um sofrimento excessivo. Então, vamos imaginar alguém
que acabou de roubar uma pessoa, e os populares viram, correram atrás, deram uma
surra nesse cara, quebraram o dente, quebraram o braço, quebraram o joelho do cara.
Aí, uma parte muito minoritária, encabeçada pelo Checaria, vai falar o seguinte. Isso é a
vitimização terciária.
O autor sofreu uma violência totalmente desproporcional. Mas, a grande parte dos
autores, a grande parte dos livros acadêmicos, e se você for prestar um concurso
público, é o que você tem que levar para a prova, que já foi abordado pela Fundação
Carlos Chagas e pela VUNESP, é o seguinte. A vítima, que sofreu ali o crime, no caso o
João, que sofreu o assalto, ele é abandonado ou ridicularizado em seu meio social.
Então, o João chega ali e fala, poxa, cara, eu estava andando aqui na avenida da cidade
com o meu celular, me roubaram, aí a família fala assim, pô, mas você é burro. Você
não pode andar com o celular assim, você está pedindo para ser roubado. Então, a
pessoa já sofreu a violência no momento do crime, a pessoa sofreu a violência quando
foi buscar o auxílio do poder público, e para terminar de fechar o dia dela, ela sofreu ali
uma ridicularização por parte dos familiares, por parte do ciclo social e etc. Também
pode ocorrer em outras instâncias. Pode ocorrer, por exemplo, eu vou exagerar aqui um
pouco para ficar mais, mais fácil da gente entender. Vamos supor que essa pessoa, ela
faça parte de um clube. E aí, nesse clube, você só pode entrar se você for, for, por
exemplo, fazer sexo só depois do casamento. Não estou falando aqui de uma igreja, tá?
Estou falando de um clube. E aí, a pessoa, ela sofre essa violência. E ela chega lá no
clube e fala, olha, aconteceu isso comigo e tal, mas não foi pela minha vontade, eu não
quis. E aí, o pessoal desse clube, ao invés de chegar para essa pessoa e falar assim, olha,
está tudo bem, a gente vai dar um jeito, a gente vai passar por isso, a gente vai te apoiar.
Vou te indicar um psicólogo para poder te ajudar com isso. As pessoas falam assim,
não, agora você não faz mais parte do clube. Não, mas não foi, não foi pela minha
vontade. Eu sofri uma violência, não, mas isso não interessa para a gente, você está fora.
Então, a vitimização, só exemplificando aqui, a terciária também pode ocorrer nesse
momento, não só com a família. Pode ocorrer dentro de uma faculdade, pode ocorrer
dentro, pode ocorrer dentro da igreja, não sei dizer se isso é comum, ou não, creio que
não, pelo menos pela experiência que eu tenho, quando uma pessoa chega em um
ambiente desse e fala, olha, sofri um certo tipo de violência ali acolhida, mas pode vir a
acontecer aí, sei lá. Bom, os principais nomes da vitimologia lá fora, vou tratar em outro
áudio para não ficar muito longo.

Dentro da vitimologia, nós temos o Han Gross, que ele vai analisar a questão da
ingenuidade das vítimas e ele vai ser meio que um pai da vitimologia.
Temos o Benjamin Mendelssohn, que é um dos principais nomes, inclusive para
concurso público. É ele que vai trazer uma classificação de vítima menos culpada que o
delinquente, tão culpada quanto o delinquente, mais culpada que o delinquente ou
vítima como a única culpada. Nossa, mas tem como a vítima ser a única culpada de um
crime? Tem. Eu vou abordar aqui só por cima, mas isso a gente vai tratar depois em
outros autos. Imagina, por exemplo, que uma pessoa entrou na minha casa com uma
arma e falou assim, olha, eu te odeio, se eu te encontrar aqui dentro eu vou te matar. O
cara está com uma arma. Vamos supor que eu tenha uma arma também. Aí eu vejo o
cara, ele vira para atirar em mim, ele começa a atirar, eu dou um tiro nele e ele morre.
Ele, nesse caso, é a vítima como única culpada. Poxa, mas ele não é vítima, ele é o
agressor.
Dentro da vitimologia, a gente não faz análise por vias do direito penal. Dentro do
direito penal, está óbvio que a vítima sou eu. Está óbvio que o caso aqui é de legítima
defesa. Está óbvio que o cara entrou na minha casa. Para me matar. E eu usei, falando
aqui em jurídico, dos meios necessários para conter injusta agressão a direito atual ou
iminente. Então, está óbvio que não teve crime porque foi uma legítima defesa. Mas,
para a vitimologia, ainda houve uma vítima e não fui eu. Foi o agressor. Só que o
agressor é a vítima como única culpada. Porque é a única pessoa responsável por ter
sofrido o crime. E é só nesse caso, tá? Isso aí só dando uma palhinha para vocês. Que a
gente vai tratar depois. E também tem o Hans von Hinting. Que vai trazer os tipos
psicológicos de vítima. Vítima gananciosa. Vítima isenta. Vítima lutadora. Que é
justamente um exemplo que eu dei comigo. A vítima que reage ao crime, etc. Outras
classificações de vitimologia também. Só para dar uma palhinha aqui. Temos a vítima
voluntária. Aquela que concorda com o crime. Como, por exemplo, no caso de meu
tanque. A vítima de eutanásia. A vítima da política social. Que é aquela vítima do
Estado. Negligenciada pelo poder público.
Então, assim, são diversas classificações. Não vou... Estou tratando só algumas só para
mostrar para vocês. E o que é o conceito então de vitimologia? O que a gente pode
aprender com o conceito de vitimologia? Primeiro é o estudo das vítimas. Vitimologia.
O termo foi cunhado em 1947 pelo Benjamin Mendelssohn. Então, a gente teve o
primeiro estudo. O primeiro simpósio. Deixa eu só pegar aqui a data. Porque eu não sou
muito bom de número. Em 1973. Foi o primeiro simpósio sobre vitimologia. Mas em
1947 o Benjamin Mendelssohn já iniciava ali um estudo sobre isso. Para algumas
pessoas a vitimologia é uma ciência. Para outros a vitimologia é um ramo da
criminologia. E a criminologia também é uma ciência. E o que a vitimologia faz? Ela se
dedica a compreender o papel fundamental. Ela se dedica a compreender o papel
fundamental. Que a vítima tem no fenômeno criminal. Defender programas de
intervenção em crises. Ressarcimento do dano e assistência médica, psicológica e
jurídica para a vítima.
Descobrir das taxas reais da criminalidade. E aí a gente vai entrar nas questões de cifra.
Principalmente cifra negra daqui a pouco. Mudar a legislação no que for necessário. E
retirar a vítima do papel de mera testemunha. A partir disso a gente entra nas fases do
estudo da vítima.
A idade de ouro da vítima ocorreu desde sempre até o começo da Idade Média. Você
tinha uma ideia de composição e autotutela. O que é autotutela? É resolver por conta
própria. Tinha a Lei de talião, olho por olho, dente por dente. Que, por incrível que
pareça, essa Lei de talião, quando ela surgiu no Código de Hammurabi,
ela foi muito revolucionária para a época porque ela trouxe justamente uma ideia de
proporção. Então você tinha, por exemplo, um crime. Alguém, por exemplo, foi lá e
insultou a minha família. E aí, por conta desse insulto à minha família, eu vou lá e mato
o cara. Não é algo muito proporcional. Então a Lei de talião foi revolucionária para a
época justamente por trazer essa proporção. Alguém matou, por exemplo, mataram meu
pai. Aí eu vou lá e mato o pai, a mãe, mato os filhos, mato a avó do cara, mato todo
mundo. Não, não é muito proporcional. Você pode retribuir um para um. Né? Tivemos,
depois disso, a neutralização do poder da vítima, que é quando chega o Estado, isso aí é
lá no Império Romano, o Estado chega e fala, olha, agora não é mais a vítima que vai
resolver o problema, sou eu.
Então, você sofreu um roubo, não é para você ir atrás do cara, arrebentar a cara dele e
pegar de volta o que é seu. É para me procurar e eu vou fazer isso. E hoje a gente tem a
revalorização do poder da vítima, que começou ali no século XVIII e dura até hoje.
Dentro do nosso direito brasileiro, a gente enxerga isso na Lei de Juizado Especial
Criminal, se não me engano, Lei nº 9.099. A vítima passa a ter, junto da Lei dos
Juizados Especiais Criminais, um papel mais importante. Ela atua, inclusive, junto com
o agressor. E a Lei do Juizado Especial Criminal tem um objetivo maior de não prender
o agressor, deixar o agressor ali, podendo retornar à sociedade. Não se aplica a todos os
crimes, tá bom? Não, por exemplo, ah, no homicídio, estupro, são crimes com penas
muito pesadas para se aplicar na Lei de Juizado Especial Criminal. Mas, por exemplo,
um furto poderia? Poderia. Um furto poderia ficar ali, se o cara não for reincidente, etc.
Tem algumas particularidades também, que se eu for tratar agora, dá 15 minutos de
áudio. Então, ali você tem essa questão, né? A questão de, vamos deixar o cara voltar à
convivência, vamos fazer ele indenizar a vítima. Então, ele roubou da vítima 10 mil
reais, vamos fazer ele indenizar os 10 mil reais à vítima. E também não quer dizer que o
cara vai sair livre, leve e solto, né? O cara vai ter ali algumas coisas para cumprir. Se
vocês quiserem, eu posso abordar depois a Lei de Juizado Especial Criminal, a 9.099.
A famosa Lei do G-Crime.
E agora, para finalizar, chegando finalmente no conteúdo de cifras, que foi cunhado ali
pelo Edwin Sutherland, nós temos as investigações de cifras e de crimes de colarinho.
Vamos lá. Fazendo um breve pincelado aqui pelas teorias da criminologia que buscam
explicar o crime. Você tem diversas teorias, e uma delas surgiu, chamada Teoria das
Janelas Quebradas, que foi a primeira teoria a falar o seguinte, olha, gente rica também
comete crime, o que hoje não é muito absurdo.
Só que, claro, gente rica comete crime diferente do que pessoas que não estão com tanto
poder econômico cometem. Então você pega, por exemplo, um deputado, o deputado
João Plenário. Vou utilizar o João Plenário porque aí não dá confusão. O João Plenário
vai cometer crime de quê? De desvio de dinheiro. Você não vai ver o João Plenário na
rua com uma arma assaltando as pessoas. O assalto dele...
Ele é à distância. Ele é bem mais inteligente nesse ponto. E você tem os crimes...
Daí vem os crimes de colarinho branco, que inclusive está dentro de algumas cifras aqui
que a gente vai tratar daqui a pouquinho. O crime de colarinho branco, então, ele surge
por quê? Porque normalmente você vê um político, um juiz, um promotor, uma figura
assim, mas, vamos dizer assim, com maior poder econômico, está de quê? Está de terno.
E a camisa do terno...
Sem ser o paletó, a camisa social do terno é o quê? Quase sempre branca. Então o
colarinho da pessoa fica ali branco. Crimes de colarinho branco. Tem os crimes de
colarinho azul, que estão ligados à cifra azul.
E o que é o crime de colarinho azul? Antigamente, o pessoal que trabalhava nas fábricas
como operários, utilizavam macacões azuis.
Então se eu olhava para uma determinada pessoa, ela estava com um macacão azul. E
esse macacão azul tinha o quê? Um colarinho azul.
Então crimes como furto, roubo, esse tipo de crime passaram a ser crimes de colarinho
azul. Enquanto crimes que exigem até um poder, exigem até um maior poder
econômico, um poder social, um poder político para serem cometidos, esses crimes
ficam como crimes de colarinho branco.
O que são as cifras? As cifras vão surgir pelo Edwin Sutherland para poder explicar
justamente... a quantidade de crimes que ocorrem em uma determinada sociedade.
Hoje, nós temos certeza que no Brasil foram noticiados, chegaram a conhecimento da
autoridade pública, uma determinada quantidade de crimes.
Mas essa quantidade de crimes, vamos supor que no Brasil ano passado ocorreram 100
mil crimes. 100 mil. Foi o que chegou às autoridades públicas, 100 mil crimes. É bem
mais porque só de homicídio foram uns 40, 50.
Mas enfim, chegaram ali 100 mil crimes. Só que aí, de verdade... Aconteceram, por
exemplo, 140 mil crimes. E esses outros 40 mil crimes, por que não foram noticiados?
Ou porque a vítima desistiu.
Ou porque, por exemplo, foi um homicídio que ocorreu lá no meio do mato, ninguém
ficou nem sabendo quem morreu, quem matou, ninguém sabe nem cadê o corpo, daqui
uns 10 anos cobre por lá. Então, não sabem nem que o crime ocorreu.
A vítima mesmo não quis denunciar, por exemplo, a pessoa foi vítima de furto. Aí
furtaram ali e deram 50 reais. Ela falou assim, pô, eu não vou na delegacia por causa de
50 reais, deixa pra lá. A vítima... Tem medo de denunciar.
A vítima não consegue denunciar, vamos imaginar, por exemplo, um crime de abuso
infantil. Como que a vítima vai denunciar? É um crime onde está acontecendo ali, está
só o agressor e a vítima. Vamos colocar aí uma criança de 3 anos. Como é que essa
criança vai denunciar? Então, a cifra negra surge justamente para isso. Para falar que,
numa sociedade, existem muito mais crimes do que aqueles que são noticiados, aqueles
que chegam a conhecimento do poder público. Então, por exemplo, a pessoa, ela
colocou ali, no Brasil só foram noticiados 100 mil crimes, mas ocorreram 140 mil, a
cifra negra aqui no Brasil vai ser de 40 mil. Vai ser essa diferença entre os crimes que
de verdade aconteceram, que são só estimativas, claro, não dá pra saber o número exato.
Temos também a cifra dourada. O que é a cifra dourada? É justamente o crime de
colarinho branco com a cifra negra.
Então, é a quantidade de crimes de colarinho branco que são cometidos, que por algum
motivo não chegam ao conhecimento das autoridades.
Vamos imaginar, por exemplo, o deputado João Plenário recebeu uma propina em
dinheiro, não chegou ao conhecimento das autoridades, e aí ele pegou esse dinheiro e
fez evasão de divisas, levou lá pra Suíça pra depositar no banco dele.
Já tem dois crimes aqui que não vão chegar ao conhecimento das autoridades públicas e
vão estar dentro da cifra dourada. Tá? Bom, eu falei que tem a cifra negra. Tem a cifra
cinza, que é o quê? O crime que chega ao conhecimento da polícia, alguém chega pra
polícia e fala, olha, ocorreu um crime aqui. Mas esse crime não vira processo. Por quê?
Porque não se descobre o autor,
porque a vítima desiste de levar esse crime pra frente, porque justamente você não
conhece quem foi a vítima. Nossa, dá pra conhecer o delinquente e não conhecer a
vítima? Dá. Dá pra você olhar, por exemplo, olha, esse cara aqui, ele tá com o celular
roubado. Ele tá, por exemplo, com 30 celulares aqui, no carnaval. Ele saiu pegando o
celular. Então ele tá com esses celulares aqui furtados, falando de uma maneira mais
certa, mas a gente não sabe quem são as vítimas. Vamos supor, a gente não consegue
descobrir, tá tudo desligado e tal. Então, é um exemplo. Temos também a cifra branca,
que é o quê? A polícia descobriu, virou processo, e o infeliz foi condenado. Temos
ainda a cifra amarela, que são os casos onde a autoridade pública, principalmente a
polícia, comete ali um crime, e esse crime não chega a conhecimento da própria polícia,
porque a pessoa que sofreu a violência tem medo de denunciar. Então vamos imaginar
que o João tava andando pela rua, parou numa blitz, e o policial falou assim, olha, se
você não me der 300 reais, eu vou quebrar o farol do seu carro e vou te dar uma multa.
Aí o cara vai e dá os 300 reais. Aí ele fala assim, pô, eu não vou na polícia, porque
depois esse cara descobre onde eu moro, faz alguma coisa comigo. Então a cifra
amarela, ela vai surgir nesse contexto. A cifra verde são crimes também que são
praticados, não são descobertos, mas contra o meio ambiente. A cifra rosa são crimes
cometidos contra a população LGBT. A cifra azul tá ligada aos crimes de colarinho
azul, que eu já expliquei. E por fim, a cifra vermelha, ela tá ligada aos crimes cometidos
por serial killers. Então é muito comum a gente ver os assassinos em série, quando são
presos, falarem assim, ah, mas você matou 30 pessoas.
Não, eu matei 38. Eu matei 38 pessoas. Aí a polícia não sabe também se é verdade, se é
mentira, né? Se o cara só tá contando coisa, aí vai investigar,
não acha corpo, não acha nada, mas vão investigar, vamos supor que ele tenha matado
ali realmente 38 pessoas. Aqueles 8 que não foram identificados, vão acabar ficando
como cifra vermelha. . .
E por fim, só pra arrematar isso, temos as contribuições da vitimologia. Vítima e
dinâmica criminal. Nem sempre a vítima vai ser aleatória, tá gente?
Muitas vezes tem estudos até que mostram isso, que os bandidos, principalmente em
questão de roubo, eles tendem a escolher a vítima. Então, por exemplo, tá ali num
parque. Aí ele olha, tem um cara com dois metros de altura por dois metros de largura,
parecendo um Hulk. O cara é gigante, fala assim, pô, aquele ali eu não vou assaltar não.
Aí olha do outro lado, tem uma senhorinha frágil, andando devagar, com iPhone.
Assim, pô, o cara pode ser burro, mas também não é tanto. Qual que ele vai escolher?
Ele vai preferir ir na senhorinha. Quanto à prevenção do delito, vai trazer a questão da
prevenção primária, prevenção secundária e prevenção terciária, em relação ao
cometimento de crime. Isso aí eu posso tratar depois, se vocês quiserem. Também vai
contribuir ali com estudos em relação à vítima e o medo do delito. Você tem aquela
pessoa, por exemplo, que nunca sofreu uma violência. Mas aí ela liga a TV, liga lá no
Balanço Geral, vê um monte de crime. Aí vai ver o Jornal Nacional, vê um monte de
crime. Aí ela entra no Instagram, vê um monte de crime. Aí ela tá aqui, por exemplo, na
página, vê alguns crimes de homicídio. Ela fala assim, não, eu não vou sair de casa não.
Nesse país só tem maluco. Então, vou ficar quietinho aqui. Então, é aquela pessoa que,
apesar de nunca ter sofrido uma violência, tem medo de sair de casa. E também vai
contribuir para a identificação da vítima e do sistema legal. Onde a vítima, ela tá ali com
a chave na mão dela para a movimentação legal de um processo. Em alguns casos, você
tem o que se chama de ação penal. Perdão. Você tem alguns casos que se chama de ação
penal. Perdão. Ação penal pública condicionada à representação. Quer dizer que um
determinado crime, como por exemplo, furto, ele...
Eu não sei agora se o furto é, posso estar falando besteira. Mas enfim. A injúria, por
exemplo, ela é. A injúria eu tenho... Eu consigo afirmar. Alguns crimes, o Ministério
Público, ele não vai promover por conta própria. Como o crime de homicídio. O crime
de homicídio o Ministério Público vai promover por conta própria. Alguns crimes,
como lesão corporal de natureza comum, né? O Ministério Público vai pedir para que a
vítima chegue lá e fale, olha, eu quero representar. A polícia também pode pedir, né? Eu
quero representar, eu tenho interesse em ver essa pessoa condenada. Alguns crimes,
não.
Uma curiosidade é que, apesar de o crime de lesão corporal ser condicionado à
representação, no âmbito da violência doméstica e da Lei Maria da Penha, ele não é.
Então, mesmo que a vítima não queira ver o seu agressor processado, na teoria ele vai
ser. Então... Bom, esse é o conteúdo que tinha. Hoje, de vitimologia, eu tô querendo
gravar pra vocês um conteúdo dentro da vitimologia ainda, falando sobre as vítimas.
Igual eu falei, vítima ideal, vítima tão culpada quanto, mais culpada quanto, vítima
comunica culpada, só mais ou menos umas 15, 20 classificações, tá?

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