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INTRODUÇÃO

Assim como grande parte dos direitos conquistados na humanidade – inclusive


os Direitos Humanos – o reconhecimento dos direitos das mulheres é fruto de um longo
processo histórico.Dessa forma, neste trabalho iremos abordar a realidade vivenciada
pelas mulheres ao longo da história, buscando elementos que justifiquem o papel da
mulher nos dias de hoje.

DESENVOLVIMENTO

Por muitos séculos as mulheres, nas mais variadas realidades sociais, viveram
submetidas a uma posição de controle, longe do espaço público e sem condições para
exigir tratamento digno.
 A REALIDADE DAS MULHERES EM TEMPOS ANTIGOS

Marc Bloch, importante historiador francês do século XX, definiu a história


como a ciência dos homens no tempo. Nesse sentido de maneira breve a ciência
fala das mulheres no tempo, a fim de conhecer a perspectiva feminina da história,
que, afinal, é de todos nós.

 Antiguidade Clássica
Na Antiguidade (4000 a.C – 476 d.C), em sociedades como a egípcia, as
mulheres não tinham acesso à escrita. Isso significa que as mulheres eram
marginalizadas do processo de documentação e produção de conhecimento.

Uma das principais funções sociais das mulheres no Egito antigo era a
constituição da família, sendo que elas eram, muitas vezes, vendidas sem direito de
escolha, para que casamentos fossem formados.

A situação e o status das mulheres na Grécia antiga também não era muito
diferente. Elas não podiam participar dos debates políticos e públicos da sociedade,
não tinham acesso à educação na infância e concentravam os seus trabalhos no
ambiente doméstico.Além disso, dependendo de suas condições econômicas e
sociais, era muito comum serem submetidas à escravidão (como no caso da maioria
das imigrantes) e/ou à prostituição.
 Idade Média
Já na Europa, durante a Idade Média (476 – 1453) as mulheres começaram a
exercer outros papéis dentro da sociedade. Além dos afazeres domésticos e do
artesanato, que não envolvia apenas a confecção de tecidos, mas a fabricação de
cosméticos, pentes e artigos de luxo, as mulheres da nobreza também administravam
propriedades como senhoras feudais.
Na França, entre 1152 e 1284, na região de Champagne, estima-se que dos
279 possuidores de terras, 58 eram mulheres. O número pode não ser expressivo,
mas até então em grande parte das sociedades medievais as mulheres não podiam ter
o domínio de uma propriedade.Mesmo assim, do ponto de vista jurídico isso só
acontecia com a permissão dos homens, pois as mulheres não possuíam direitos
políticos e eram dependentes dos homens para ter participação na sociedade.
No Livre Roisin, por exemplo, documento que continha os costumes
jurídicos da cidade de Lille (França), escrito no século XIII, as mulheres eram
subordinadas aos maridos que eram seus representantes perante a justiça.
O período medieval europeu também foi marcado pela grande influência e
poder da Igreja Católica na sociedade. Com isso, interpretações que divergiam
daquilo que a Igreja determinava eram consideradas heresias e tidas como
inaceitáveis.As mulheres sofreram muitas perseguições causadas por esse
movimento, que ficou conhecido como a Inquisição.

Rituais ou atitudes feitas por mulheres que divergiam dos ritos estabelecidos
pela Igreja eram apontados como bruxaria e, como condenação, muitas delas eram
queimadas vivas.

Comportamentos como atos sexuais fora do matrimônio também eram vistos


como “desviantes” de Deus e quem os cometia sofria punições.
Isso significa que nessa época os direitos das mulheres ainda eram nulos. Foi
apenas muitos anos mais tarde que esses direitos começaram a ser reivindicados,
ganhando corpo somente na Idade Contemporânea (1789 – hoje).

 A ORIGEM E A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS DAS


MULHERES

Os primeiros elementos que mais tarde iriam guiar o que conhecemos como
os direitos das mulheres no Ocidente surgem somente após Idade Moderna (1453 –
1789). Mais precisamente após a Revolução Francesa eclodir, em 1789, exigindo
por liberdade, igualdade e fraternidade.
O evento é um marco para o que passamos a conhecer como Direitos
Humanos e, como consequência, diversos questionamentos em relação aos direitos
civis e políticos da humanidade começaram a ser debatidos. Entretanto, a Revolução
não resultou em nenhum direito específico para as mulheres.

Como um efeito desse contexto, em Londres no ano de 1792, Mary


Wollstonecraft publica a sua obra Reivindicação dos Direitos da Mulher, como uma
resposta à Constituição Francesa elaborada em 1791, que excluía as mulheres da
categoria de cidadãs. Além disso, o documento denunciava a proibição do acesso
das mulheres a direitos básicos, como educação formal, e criticava a condição de
opressão em que as mulheres viviam na sociedade da época.
Além de Wollstonecraft, o período também é marcado pelas ideias de sua
contemporânea francesa Olympe de Gouges, que foi muito influenciada pelas ideias
iluministas de luta por igualdade.Ela foi a responsável por publicar na França a
Declaração dos Direitos da Mulher e da Cidadã, em 1791, como uma contraproposta
da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, elaborada após a Revolução
Francesa.
Sua crítica era a utilização da palavra “homem” como sinônimo de
“humanidade” e exigia que as mulheres e homens tivessem igualdade de direitos em
relação à propriedade privada, aos cargos públicos, à herança, à educação, entre
outros.
Ambas as personagens históricas e as suas lutas foram importantes para que
as mulheres tivessem uma voz política e exigissem seus direitos. No entanto, foi
somente 1893, em uma colônia no sul da Austrália, atual Nova Zelândia, que pela
primeira vez na história as mulheres ganharam o direito ao voto, por meio do Ato
Eleitoral de 1893.
O documento é tido como o marco inicial dos direitos políticos das mulheres
no mundo, servindo de exemplo para os outros países. Impulsionadas por essas
reivindicações, em Nova York cerca de 15 mil mulheres organizaram uma marcha
em 1908 exigindo melhores salários e o direito ao voto, o que resultou na
determinação do Dia Nacional da Mulher nos EUA, no ano seguinte.
No mesmo sentido, em 1910, na Conferência Internacional das Mulheres
Socialistas foi aprovado o estabelecimento do Dia Internacional da Mulher, a ser
celebrado no dia 19 de março.
Entretanto, em 1911, por pressão política das mulheres russas que
reivindicaram o Dia Internacional da Mulher no dia 8 de março na Rússia, bem
como em outras regiões como Áustria, Dinamarca e Alemanha, a data foi alterada e
perdura mundialmente até hoje, sendo reconhecida como um dia de conscientização
da luta das mulheres por direitos.
Mesmo assim, apesar de todos esses movimentos, os direitos das mulheres só
ganharam força no cenário internacional na segunda metade do século XX, após as
intensas guerras travadas na Europa.
 OS DIREITOS DAS MULHERES EM UM PATAMAR GLOBAL

Com o fim da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), os países europeus


estavam arrasados com as destruições e os danos causados em seus territórios e
populações.

O mundo todo estava impactado e abalado com as grandes violações de


Direitos Humanos cometidas, além de todas as suas consequências negativas. Diante
disso, diversas nações se uniram, incluindo o Brasil, e fundaram a Organização das
Nações Unidas (ONU), em 1945, com a assinatura da Carta das Nações Unidas. A
organização nasce com o objetivo de estabelecer a paz e a segurança mundial,
servindo como um órgão mundial com o objetivo de solucionar os conflitos e
divergências entre os países de maneira pacífica e diplomática.

Nesse sentido, a ONU elabora a Declaração Universal dos Direitos


Humanos, em 1948, reconhecendo o caráter universal dos Direitos Humanos, em
que todas as pessoas do mundo, sem exceção, devem ter direitos fundamentais
garantidos para viver uma vida digna.
Assim nasce o Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos,
sendo considerado um marco no direito internacional pela proteção da dignidade da
pessoa humana na busca pela igualdade entre todos.
Porém, apesar da amplitude dos Direitos Humanos, a comunidade
internacional, principalmente por pressão de movimentos de mulheres no mundo,
que possuíam vozes poderosas como Eleanor Roosevelt, tomou consciência de que
era preciso estabelecer direitos específicos para as mulheres.

Na Declaração Universal, pouco é citado sobre questões envolvendo gênero


e na primeira Conferência Mundial sobre a Mulher, realizada no México em 1975,
foi discutido que não era possível nem justo tratar um grupo que historicamente foi
oprimido e subjugado da mesma maneira que o grupo que sempre foi dominante e
privilegiado, nesse caso, os homens.
Isto é, a crítica partia da ideia de que os direitos internacionais dos Direitos
Humanos estabelecidos não conseguiam suprir de maneira adequada às necessidades
das mulheres ao redor do mundo, que ainda sofriam com a desigualdade de gênero e
discriminações.
 O primeiro tratado internacional dos direitos das mulheres
A consequência da discussão foi a promulgação da Convenção
sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a
Mulher (CEDAW), em 1979, pela ONU. A Convenção é um marco na
história dos direitos das mulheres.
Ela foi o primeiro tratado internacional responsável por
determinar que os Estados membros da ONU devem tomar ações na
promoção da igualdade de gênero e no combate às violações dos direitos
das mulheres, com o objetivo de eliminar a discriminação e práticas que
estejam baseadas na ideia da inferioridade de gênero ao redor do mundo.
Assim, nasce o mais importante instrumento internacional para a
proteção dos Direitos Humanos das mulheres, evidenciando a
necessidade de extinguir toda e qualquer discriminação contra a mulher.
Em seu artigo 1º o documento.Além disso, o documento influenciou o
surgimento de outros documentos e conferências internacionais que
envolvem questões de gênero, assim como os direitos das mulheres no
Brasil.
 OS DIREITOS HUMANOS DA MULHER
Para dizer que o primeiro país a reconhecer às mulheres o direito
de voto foi a Nova Zelândia, em 1893. Em seguida, Austrália (1902),
Finlândia (1906) e a Noruega (1913). Entre 1914 e 1939, as mulheres
adquiriram o direito ao voto em mais 28 países. Foi somente após a
Segunda Guerra Mundial que alguns países ocidentais, como a Itália e a
França, admitiram as mulheres no corpo eleitoral. O último país
ocidental a reconhecer às mulheres o direito de votar foi a Suíça, em
1971, e ainda assim não em todos os lugares.
A criação de instrumentos de proteção dos Direitos Humanos
após a Declaração Universal revelou um esforço de muitos países em
reconhecer as mazelas sociais, econômicas e políticas no mundo,
buscando dar um suporte normativo (baseado em normas) e jurídico para
combatê-las.

Muito foi discutido e debatido pela comunidade internacional


sobre como os Direitos Humanos poderiam servir de apoio para o
desenvolvimento global. Parte desse debate contribuiu para a expansão
dos direitos das mulheres no mundo.Pois, os fundamentos básicos dos
Direitos Humanos dizem respeito à proteção da dignidade humana e seu
significado envolve identificar e assumir as falhas e insuficiências
presentes na humanidade. Nesse sentido, o reconhecimento das mulheres
como um grupo subjugado e exposto a diversas formas de abuso e
violação de direitos tornou-se necessidade.

Com isso, as mulheres foram adicionadas na abordagem dos


Direitos Humanos, a fim de tornar as suas experiências de vida mais
visíveis, de maneira a transformar a implementação dos Direitos
Humanos em uma cultura que pudesse beneficiar a vida das mulheres ao
redor do mundo.
Assim, sob a tutela da ONU foi elaborada a Convenção sobre a
Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher
(CEDAW), no ano de 1979. Sendo o Principal documento do direito
internacional em relação aos direitos das mulheres, impondo obrigações
básicas de eliminar qualquer discriminação baseada no gênero que
prejudique as liberdades fundamentais das mulheres na esfera política,
social, econômica e cultural.

Os direitos das mulheres dentro da categoria Direitos Humanos


representam um conjunto de direitos que são passíveis de ampliação,
interpretação e reconstrução.
Isso porque a sua construção foi baseada na luta de movimentos
sociais, que denunciaram as desigualdades existentes entre as
experiências sociais de homens e mulheres, buscando afirmar as
mulheres como um ator político, tendo o direito de ocupar o espaço
público e ter participação social.Mas é claro que isso ocorreu por meio de
um processo histórico.
 Relevância desses direitos

A elaboração de legislações de proteção aos direitos das mulheres


é um reconhecimento formal da luta histórica por melhores condições de
vida e representam a conquista da cidadania para as mulheres.
Direitos essenciais como o direito à vida, à igualdade, à liberdade
e os direitos civis e políticos conquistados internacionalmente garantem
que políticas públicas sejam desenvolvidas para tornar o espaço público
mais democrático, com maior participação das mulheres na sociedade.
Dessa forma, a importância dos direitos das mulheres consiste em
servir como um mecanismo jurídico que além de proteger as mulheres de
discriminação em vista de suas vulnerabilidades, permite que ações
práticas nos âmbitos social, político e econômico sejam implementadas a
partir de medidas governamentais.Além disso, a igualdade de gênero
contribui para o fortalecimento da democracia. Em muitas sociedades, as
mulheres representam aproximadamente a metade de suas populações.

Se elas não possuírem direitos civis e políticos considerados


fundamentais, certamente essas sociedades não podem ser consideradas
democráticas, pois estariam excluindo grande parte da população de ter
participação política, como o direito ao voto.

Desse modo, podemos considerar que os direitos das mulheres e a


luta pela igualdade de gênero são importantes fatores no processo de
fortalecimento das instituições democráticas de um país.
Ademais, os direitos das mulheres visam defender as mulheres de
fenômenos que ainda persistem em nossas realidades, como a violência e
a discriminação.

 OS DIREITOS DA MULHER SEGUNDO A ONU

Segundo a Organização das Nações Unidas – ONU os 12 direitos das mulheres


são:

1. Direito à vida
2. Direito à liberdade e a segurança pessoal
3. Direito à igualdade e a estar livre de todas as formas de discriminação.
4. Direito à liberdade de pensamento
5. Direito à informação e a educação
6. Direito à privacidade
7. Direito à saúde e a proteção desta
8. Direito a construir relacionamento conjugal e a planejar sua família.
9. Direito à decidir ter ou não ter filhos e quando tê-los.
10. Direito aos benefícios do progresso científico.
11. Direito à liberdade de reunião e participação política.
12. Direito a não ser submetida a torturas e maltrato.
CONCLUSÃO

A história das mulheres não se resume apenas à opressão a que eram


e ainda são submetidas, mas diz respeito às lutas e resistência que
realizaram para desconstruir os preconceitos e as discriminações . E que
com tudo isso cada um deve valorizar a mulher em si, não só pelo facto
dela ser um ser humano como nós homens, mas porque elas contribuiram e
continuam a contribuir para a sociedade seja qual for ela.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

http://www.observatoriodegenero.gov.br/eixo/internacional/documentos-
internacionais
https://web.archive.org/web/20130311134847/http://www.onu.org.br/a-
onu-em-acao/a-onu-e-as-mulheres/
https://pt.m.wikipedia.org/wiki/Direitos_das_mulheres
https://www.fiocruz.br/biosseguranca/Bis/infantil/direitodasmulheres.htm
https://www.politize.com.br/equidade/historia-dos-direitos-das-mulheres/
https://www.brasildefato.com.br/2024/03/07/direitos-humanos-das-
mulheres-o-que-sao-e-como-eles-contribuem-para-a-igualdade-entre-
generos

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