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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PIAUÍ-UESPI

CAMPUS CLÓVIS MOURA-CCM


CURSO DE LICENCIATURA EM LETRAS/PORTUGUÊS
DISCIPLINA: ORALIDADE, LETRAMENTO E ENSINO

EDUCAÇÃO E CONSCIENTIZAÇÃO

Profa. Dra. Lúcia Maria de Sousa Leal Nunes


APRESENTAÇÃO DA OBRA
O esforço educativo que desenvolveu o
autor e que expõe nesta obra, ainda que
tenha validade em outros espaços e em
outro tempo, foi marcado pelas condições
especiais da sociedade brasileira.
Compõe-se a partir de uma introdução e
quatro capítulos, a saber:

Introdução- Educação e política: reflexões


sociológicas sobre uma pedagogia da
liberdade
Capítulo I- A sociedade brasileira em
transição
Capítulo II- Sociedade fechada e
inexperiência democrática
Capítulo III- Educação versus massificação
Capítulo IV- Educação e conscientização
Paulo Freire nasceu em 19 de setembro de
1921 em Recife. Preocupado com o grande
número de adultos analfabetos na área
rural dos estados nordestinos, que
formavam um grande número de excluídos,
Freire desenvolveu um método de
alfabetização baseado no vocabulário do
cotidiano dos alunos. Com o golpe militar de
1964, Paulo Freire foi acusado de agitador e
levado para a prisão, e depois para o exílio.

Em 1969, Paulo Freire lecionou na Universidade de Harvard. Em 1980,


com a anistia, retornou ao Brasil, estabelecendo-se em São Paulo. Foi
professor da UNICAMP e da PUC. Foi Secretário de Educação da
Prefeitura de São Paulo, na gestão de Luiza Erundina. Após a morte de
sua primeira esposa, casou-se com Ana Maria Araújo Freire.
CAPÍTULO IV- EDUCAÇÃO E
CONSCIENTIZAÇÃO

Dentro do quadro da democratização,


tínhamos necessariamente de dar atenção
especial aos déficits quantitativos e
qualitativos de nossa educação.
Estes déficits constituem óbices ao
desenvolvimento do país e à criação de uma
mentalidade democrática.
Estávamos convencidos, com Meannheim,
de que “à medida que os processos de
democratização se fazem gerais, faz-se
também cada vez mais difícil deixar que as
massas permaneçam em seu estado de
ignorância”
CAPÍTULO IV- EDUCAÇÃO E
CONSCIENTIZAÇÃO

O estado de ignorância destacado, não dizia


respeito apenas ao analfabetismo, mas a
inexperiência de participação e ingerência, a
serem substituídas pela participação crítica.
Experiências mais recentes no Movimento
de Cultura Popular do Recife, nos levaram
ao amadurecimento de convicções que
vínhamos tendo e alimentando.
Coordenávamos, naquele movimento, o
Projeto de Educação de adultos. Através do
qual lançáramos duas instituições básicas de
educação e de cultura popular: o Círculo de
Cultura e o Centro de Cultura.
CAPÍTULO IV- EDUCAÇÃO E
CONSCIENTIZAÇÃO
Na primeira instituíramos debates de grupo,
ora em busca do aclaramento de situações,
ora em busca de ação decorrente do
aclaramento das situações.
Com seis meses de experiências,
perguntávamos a nós mesmos se não seria
possível fazer algo, com um método
também ativo, que nos desse resultados
iguais na alfabetização de adultos.
Desde logo, afastáramos a hipótese de uma
alfabetização puramente mecânica.
Pensávamos a alfabetização do homem
brasileiro em posição de tomada de
consciência. Num trabalho que tentássemos
a promoção da ingenuidade em criticidade,
ao mesmo tempo que alfabetizássemos.
CAPÍTULO IV- EDUCAÇÃO E
CONSCIENTIZAÇÃO
Pensávamos numa alfabetização ligada à
democratização da cultura. Numa
alfabetização que, tivesse no homem não
esse paciente do processo, cuja virtude
única é ter mesmo paciência para suportar
o abismo entre sua experiência existencial e
o conteúdo que lhe oferecem para sua
aprendizagem. Paciência para suportar
lições que falam de “ASA”- Pedro viu a asa.
A asa é da ave. Lições que falam de Evas e
de uvas. Pensávamos em um método ativo
que fosse capaz de criticizar o homem
através do debate de situações
desafiadoras, que teriam de ser existenciais
para os grupos. Fora disso, repetíamos os
erros de uma educação alienada.
CAPÍTULO IV- EDUCAÇÃO E
CONSCIENTIZAÇÃO

Mas como realizar esta educação?


A resposta nos parecia estar:
-Em um método ativo, dialogal e crítico;
-Na modificação do conteúdo programático
da educação;
-No uso de técnicas como a da redução e da
codificação.
Somente um método ativo, dialogal poderia
fazê-lo.
E o que é o diálogo? É uma relação
horizontal de A com B. Nasce de uma matriz
crítica e gera criticidade. Nutre-se do amor,
da humildade, da esperança, da fé e da
confiança. Por isso, só o diálogo comunica.
CAPÍTULO IV- EDUCAÇÃO E
CONSCIENTIZAÇÃO

Quem dialoga, dialoga com alguém sobre


alguma coisa. Esta alguma coisa deveria ser
o conteúdo programático que
defenderíamos.
Pensamos em discutir o conceito
antropológico de cultura, antes de iniciar
sua alfabetização, de modo que fosse
superado sua compreensão mágica e
desenvolvesse sua consciência crítica desse
conceito.
A partir daí, o analfabeto começaria a
operação de mudança de suas atitudes
anteriores. Descobrir-se-ia, criticamente,
como fazedor de cultura.
CAPÍTULO IV- EDUCAÇÃO E
CONSCIENTIZAÇÃO
Fases de elaboração do método:
1- Levantamento do universo vocabular dos
grupos com quem se trabalhará;
2- Escolha das palavras selecionadas do
universo vocabular pesquisado. Critérios de
seleção: riqueza fonêmica, dificuldades
fonéticas, colocadas em gradação e teor
pragmático da palavra;
3- Criação de situações existenciais típicas
do grupo com quem se vai trabalhar;
4- Elaboração de fichas-roteiro, que
auxiliem os coordenadores de debate no
seu trabalho. Estas fichas devem ser meros
subsídios, nunca uma prescrição rígida.
5- Feitura das fichas com a decomposição
das famílias fonêmicas.
CAPÍTULO IV- EDUCAÇÃO E
CONSCIENTIZAÇÃO

Execução prática
Projeta-se a primeira palavra geradora e o
objeto que nomeia. Inicia-se o debate em
torno de suas implicações.

tijolo
CAPÍTULO IV- EDUCAÇÃO E
CONSCIENTIZAÇÃO

Execução prática

Em outro slide, apresenta-se a palavra sem


o objeto que nomeia.

tijolo
Em seguida, apresenta-se a mesma palavra
decomposta em sílabas, que o analfabeto
identifica como “pedaços”.

Ti-jo-lo
CAPÍTULO IV- EDUCAÇÃO E
CONSCIENTIZAÇÃO
Execução prática

Reconhecidos os “pedaços”, passa-se à


visualização das famílias fonêmicas que
compõem a palavra em estudo,
separadamente.

Ta-te-ti-to-tu
Em outro slide, apresenta-se a segunda
família

Ja-je-ji-jo-ju
CAPÍTULO IV- EDUCAÇÃO E
CONSCIENTIZAÇÃO

Execução prática
Por último:

La-le-li-lo-lu
Agora, apresenta-se as famílias em conjunto

Ta-te-ti-to-tu
Ja-je-ji-jo-ju
La-le-li-lo-lu
CAPÍTULO IV- EDUCAÇÃO E
CONSCIENTIZAÇÃO
A afirmação que nos parece ser enfatizada é
a de que, na alfabetização de adultos, para
que não seja puramente mecânica e
memorizada, o que se há de fazer é
proporcionar-lhes que se conscientizem
para que se alfabetizem.
Se o programa tivesse sido cumprido, íamos
fazer o que chamávamos de levantamento
da temática do homem brasileiro. Este
levantamento nos possibilitaria uma séria
programação à etapa de alfabetização.
Ainda preparávamos uma educação em que
houvesse lugar para a “arte de dissociar
ideias”, como antídoto à força
domesticadora da propaganda.
Peço licença para algumas coisas
Primeiramente para desfraldar
Este canto de amor publicamente
CANÇÃO PARA OS [...]
FONEMAS DA ALEGRIA Peço licença para soletrar,
(THIAGO DE MELLO, 1964)
No alfabeto do sol pernambucano,
A palavra ti-jo-lo, por exemplo
[...]
E acaba por unir a própria vida
No seu peito partida e repartida
Quando afinal descobre num clarão

Que o mundo é seu também, que seu trabalho


Não é a pena que paga por ser homem
Mas um modo de amar e de ajudar
[...]
Peço licença para terminar
Soletrando a canção de rebeldia
Que existe nos fonemas da alegria:
Canção de amor geral que vi crescer
Nos olhos do homem que aprendeu a ler.
OBRIGADA

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