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Síndrome do envenenamento causada por picadas de abelhas africanizadas.

SUKEDA, D. H..; BATISTA, I. A.; MARTINS, G; PAIVA, M. P; PAIVA, J. L. F.

UNIVERSIDADE JOSÉ DO ROSÁRIO VELLANO - UNIFENAS - ALFENAS-MG

Introdução:
As abelhas africanas e seus híbridos com as abelhas européias são responsáveis pela formação das chamadas abelhas
africanizadas que, hoje, dominam toda a América do Sul, a América Central e parte da América do Norte. Quanto maior o número
de abelhas envolvidas no ataque pode-se esperar um número maior de reações tóxicas devido a múltiplas picadas, somadas às
reações alérgicas.

Relato de caso: G.L.L., sexo masculino, 15 anos, foi atacado por um enxame de


abelhas africanizadas. Na tentativa de fuga, sofreu queda de um barranco e foi
encontrado inconsciente por policiais e levado imediatamente ao Pronto-Socorro da
cidade. À admissão, encontrava-se trêmulo, sonolento, Glasgow 13, febril (39,5ºC),
taquicárdico (125bpm), taquipnéico (28 rpm), com pressão arterial de 150X80 mmHg,
otorragia à direita e sinais de múltiplas picadas de abelhas. A conduta terapêutica
imediata foi a administração de glicocorticóide, anti-histamínicos e expansão
volêmica. Evoluiu com oligúria e mioglobinúria, sendo encaminhado ao Hospital
Universitário Alzira Velano, com quadro de Insuficiência renal aguda, rabdomiólise e
traumatismo craniencefálico leve.
Ao exame, febril, em anasarca, presença de máculas eritematosas e pústulas
disseminadas mais em face, pescoço, membros superiores e tronco e urina de
coloração amarronzada. Realizados exames laboratoriais, observou-se acidose
metabólica(HCO3: 14mEq/L), creatinina(1.9mg/dl) e uréia(104.9mg/dl), presença de
hemáceas e hemoglobina na urina e uma leucocitose de 30.100/mm3 e CPK
13.842UI/ml. Foi realizada hidratação vigorosa, administrado bicarbonato de sódio e
diurético osmótico e de alça. Os ferrões de abelha foram removidos da pele através de
raspagem com lâmina de barbear, sendo identificados aproximadamente 1.000
picadas por toda a superfície corpórea. Apesar do tratamento instituído, apresentou
piora progressiva do quadro, sonolento, pouco responsivo e em anasarca, sendo
encaminhado ao CTI, recebendo alta no 22º dia de internação.

Discussão: O veneno da Apis mellifera é uma mistura complexa de substâncias com atividades tóxicas como: enzimas
hialuronidases (facilita a disseminação dos componentes do veneno) e fosfolipases (podem ser os principais alergênios do veneno),
peptídeos ativos como melitina e a apamina, aminas como histamina e serotonina entre outras. A fosfolipase A2, o principal
alérgeno, e a melitina representam aproximadamente 75% dos constituintes químicos do veneno. São agentes bloqueadores
neuromusculares e podem provocar paralisia respiratória, possuindo poderosa ação destrutiva sobre membranas biológicas,
produzindo hemólise, por exemplo. A apamina representa cerca de 2% do veneno total e se comporta como neurotoxina de ação
motora. O peptídeo MCD, fator degranulador de mastócidos, é um dos responsáveis pela liberação de histamina e serotonina no
organismo.
As reações desencadeadas pelas picadas variam de acordo com o local e o número de ferroadas, as características e o passado
alérgico do indivíduo atingido. As manifestações clínicas podem ser: alérgicas (mesmo com uma só picada) e tóxicas (múltiplas
picadas). As reações de hipersensibilidade podem ser desencadeadas por uma única picada e levar o acidentado à morte, em
virtude de edema de glote ou choque anafilático. Na síndrome de envenenamento, descrita em pacientes que geralmente sofreram
mais de 500 picadas, distúrbios graves hidroeletrolíticos e do equilíbrio ácido-básico, anemia aguda pela hemólise, depressão
respiratória e insuficiência renal aguda são as complicações mais freqüentemente relatadas.
No caso relatado, o paciente manifestou a síndrome do envenenamento, tendo sido atingido por aproximadamente 1000 picadas
de abelhas, ocorrendo manifestações clínicas como alteração do sensório, anemia aguda, distúrbio hidroeletrolítico, SARA,
rabdomiólise, insuficiência renal aguda e derrame pericárdico. A reposição volêmica adequada e rápida não bastou para evitar o
quadro de insuficiência renal aguda. Este quadro provavelmente ocorreu devido aos efeitos dos componentes do veneno,
principalmente melitina e fosfolipase A2, que atuam nas membranas biológicas, à mioglobinúria e, a mecanismos isquêmicos. A
abordagem ao paciente se mostrou eficaz com o uso de drogas vasopressoras, manutenção do equilíbrio ácido-básico, alcalinização
da urina, diuréticos e procedimentos dialíticos. A evolução não foi satisfatória nas primeiras horas, porém o rápido diagnóstico e
tratamento intensivo dessa síndrome é crucial para o sucesso terapêutico.

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