Você está na página 1de 12

O dinheiro: sob o regime da suspeita

Paul Ricoeur
Introdução


Ricoeur por início traz a reflexão sobre a relação que a sociedade tem com o dinheiro, e
diz que é difícil alguém ter uma relação segura com ele, pelo fato das relações serrem
tão diversas e muitas vezes contraditórias.


Propõe também debater a respeito do dinheiro em três âmbitos e áreas, primeiramente
falando no plano moral do dinheiro, por seguinte no plano econômico e finalizando na parte
política.


O autor aborda também que é provável que estás três áreas de análise, mesmo que
distintas possam se correlacionar e gerar influencias uma nas outras, pois o dinheiro
apesar de estar bastante presente em nossa sociedade, demorou um tempo para se
consolidar, e mesmo agora consolidado, mantemos práticas de épocas passadas onde
não era, gerando assim confusões.
O plano moral

Ricoeur começa sua argumentação mostrando o porquê do dinheiro pertencer ao campo
da moral, mesmo sendo um objeto abstrato de signo, utilizado para trocas e transações.


Mas, apesar do dinheiro ser sim um simbolo para trocas, o autor nos trás as questões,
o dinheiro seria bom? Por possibilidade a liberdade de trocas? Ou seria ele neutro por
sendo relacionado apenas aos preços, economicamente neutro? Porém, abordando esse
raciocínio, Paul nos sugere que seja um pensamento simplista, algo que pode nos
confundir se olharmos só por este ângulo.


Como fala Ricoeur “O preço resulta de uma concorrência de cobiças aplicada a bens
raros oferecidos aos apetites de todos; desde logo, a grandeza dos bens adquiridos
transporta a marca da insaciabilidade dos desejos do outro.” Abordando desse modo,
percebe-se que o dinheiro não é moralmente neutro, pois os itens geram cobi ça e
competição entre os indivíduos.

O autor refere-se as trocas e transações com o dinheiro como um jogo oculto onde se
esconde, dentro de uma troca de duas pessoas, um terceiro elemento invisível, que está
excluído desta troca.


Pois quem possui o dinheiro, possui uma chave que lhe da liberdade de troca, uma
chave que o possibilidade realizar as transações mercantis, que quem não possui está
excluído da transação. Neste posto já está presente o jogo de car áter moral, n ão mais
neutro como parecia ser uma simples transação de bens de consumo.


Ricoeur aborda também a história religiosa por detrás do dinheiro, onde refere-se ao
moralistas, como sendo aqueles que retratavam da fome por sempre mais, da corrida
do ouro ser infinita, o homem como sendo o único animal capaz de visar e de tentar
obter satisfação, e o dinheiro ligado a todas essas áreas passa a ser o objeto sonhado
e desejado por todos

O argumento dos que Paul denomina de moralistas, é de que preencher a vida
com os prazeres da vida mundanos, com o luxo material, não sobraria espaço
para o amor de Deus que “só pode ser total”, como diz Ricoeur. Sendo assim
muito falado o pecado da avareza, a paixão pelo ouro é devoradora.


Porém com a Reforma protestante, diz Ricoeur, essa lógica moralista foi caindo
por terra, e as atividades “profanas” para a responsabilidade humana, onde
agora, não havia mais penitência divina ser rico, e não há mais beleza em ser
pobre, isto não interfere mais na entrada dos fieis no céu que acreditam vir
após a morte na realidade mundana que vivemos.
Plano Econômico

Após a grande mudança no plano moral, a sociedade se modifica, e como explica Ricoeur no texto “É no
segundo plano destas reflexões fortemente pessimistas, respeitantes n ão s ó ao fr ágil imp ério da raz ão,
mas igualmente ao efeito devastador das paix ões violentas, que Hirschman v ê isolar-se o tema das
paixões subjugadas pelo interesse, sendo este entendido no sentido de um amor razo ável por si mesmo; o
interesse, tomado no sentido mais vasto, marca a substitui ção da viol ência pelo c álculo na gama completa
das nossas paixões.”


Se vê assim que as paixões, como aborda o autor, foram modificadas, e subjugadas ao interesse privado,
a ganância do acumulo, a vontade de sempre mais, como vimos no plano moral, a eterna busca pelo ouro.


Agora não havendo mais distinção entre paixão e interesse, e o plano da economia entra em vigor, com
Adam Smith em seu livro “A riqueza das na ções”. Smith sendo um dos precursores do liberalismo,
defensor da propriedade privada, dos direitos inalien áveis que prov ém do estado de natural do homem,
fortificam ainda mais a permissão humana em acumula ção de capital, que por completo deixara de ser
imoral.

Concretizando este ponto, trago mais uma fala de Ricoeur que usa uma citação de
Hirschman “O debate circunscreve-se à proposição fundamental, «segundo a qual o
melhor meio de assegurar o progresso (material) de uma sociedade é deixar cada um
dos seus membros perseguir como pretender o seu interesse (material) pr óprio »
(Hirschman, 102).” Evidenciando ainda mais a mudança de paradigmas que ocorreu.


E esta concorrência que ocorre no Capitalismo, onde os preços são disputados,
parecem ser laços competitivos que afastam as pessoas, mas na verdade, essas
relações de disputa, aproximam os indivíduos, estabelece uma relação.


Ricoeur continua sem seu texto uma indagação, usando de base outros autores, para
a crítica do individualismo liberal de Adam Smith, colocando questões sobre
sentimentos morais, como a simpatia, e sobre como se estabelece essas rela ções
com a simpatia.

Usando mais uma fala do autor para elucidar a quest ão da simpatia “É preciso compreender ent ão
que a simpatia, principal e único sentimento moral, n ão se confunde com a benevol ência, que ela
pressupõe a separação dos seres e, logo, que ela apenas pode repousar na imagina ção gra ças à
qual em pensamento eu me torno o outro. Entrando assim em composi ção com o self love, a
simpatia testemunha a inscrição primordial da falta na rela ção de si consigo mesmo. ” Conclui-se
assim como a simpatia cria uma relação moral as vezes at é controversa.


Paul usando Adam como referencia, aborda o termo da inveja, em como admiramos as pessoas
ricas/grandes e desprezamos as pobre/pequenas. A simpatia é impedida de ser humanizadora, pois
está corrompida com nosso olhar de admiração pelo outro mais bem sucedido socialmente. Ricoeur
usando Smith novamente, aborda a vaidade, o motivo para queremos melhorar nosso modo de vida,
melhorar sempre e correr atrás do avan ço da civiliza ção, é fundado na vaidade do ser humano, no
desejo de se sentir melhor consigo mesmo e para os outros.


Finalizando essa parte, Ricoeur nos mostra como o plano econ ômico se alastrou por todas as áreas
da nossa vida.
Plano Político

Nesta parte Ricoeur começa a caracterizas o plano político com três pontos principais,
que podem servir de questões para reflexão. Primeiramente questionando se h á esferas
da atividade humana que fogem dessa infiltração profunda da moeda nas relações. Por
seguinte questiona qual a linha divisória entre os limites, e como os valores mercantis
entram nos valores não mercantis. E por ultimo, finaliza com q pergunta sobre de que
forma essas transgressões se apresenta, como por exemplo a “corrupção”, que é algo
que ocorre na esfera política, lugar não mercantil, pelo dinheiro, que é um valor
mercantil.


E usando mais uma vez a fala de Paul que elucida e esclarece muito bem essa
questão: “O político é aqui tido como simultaneamente extensivo à instância de
soberania, de direção e decisão, com a qual se identifica o Estado moderno. O que
caracteriza como política uma atividade é, consequentemente, a sua relação ao poder.
Dito isto, acedemos à primeira das nossas três questões considerando o exercício do
poder político sob o ângulo da justiça distributiva.”

Paul aborda como o humano, quando possui riqueza, se sente melhor, se sente
vitorioso, e bem no plano moral, se sente virtuoso nas outras áreas da vida. O dinheiro
é o valor que permeia tudo na sociedade, faz o mundo girar, da acesso a tudo para
as pessoas, é a chave fundamental para se viver na sociedade capitalista.


Finalizando, Ricoeur volta para os outros pontos até chegar no início de suas questões.
Primeiro mostra como a presença do dinheiro na política facilita a corrup ção e todas
as outras disrupções do plano moral. E chegando por fim o autor usa uma citação dos
moralistas, presente na Bíblia, com Paulo, a qual vou usar aqui também como efeito
conclusivo deste conteúdo onde pode-se ver que o dinheiro substituiu todas os valores
morais, pela única busca pela corrida infinita do ouro, que sempre esteve presente na
humanidade, mas agora facilidade, e vista como bela, assim termino “Paulo que
escreve aos Coríntios: «os que compram, [vivam]

como se não possuíssem o que compraram; e os que se servem dos bens deste
mundo, como se o não fizessem. É que este mundo, tal como é, vai desaparecer»?”.
Fluxograma
Gabriel Henrique Dino
Ciências Sociais – UFFS Chapecó

Você também pode gostar