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na produção do texto
oral e escrito
Caroline Machado, Lívia Peres, Mariana Binhote, Mariana Moreira e
Victória Arantes
UFRJ - Universidade Federal do Rio de Janeiro
Produção e Leitura de textos em LP
Professora Manuella Carnaval
Introdução
Como dito em outros capítulos, a língua é uma atividade
social, histórica e cognitiva, desenvolvida interativamente
pelos indivíduos de acordo com as práticas sociais.
INTERATIVIDADE ≠ DIÁLOGO
envolvimento com a narrativa. entrevistador abre e fecha a entrevista, faz perguntas, suscita a palavra do outro,
incita a transmissão de informações, introduz novos assuntos, orienta e reorienta a
interação; o entrevistado, uma vez que aceita a situação, é obrigado a responder e
fornecer as informações pedidas.
A polidez lingüística
Como forma de cuidarmos das nossas faces e das faces dos Brown e Levinson (1987) distinguem dois
nossos interlocutores, recorremos, nas conversações face a face, aspectos complementares da auto-imagem
a rotinas de polidez lingüística cuja função é apoiar as nossas construída socialmente: a face negativa e a face
relações interpessoais. positiva.
• Face negativa: desejo de liberdade,
Saudações, desculpas, despedidas, agradecimentos, elogios desejo da não imposição do outro e desejo
são exemplos de ações da polidez lingüística utilizados básico de território (preservação pessoal).
cotidianamente nas mais diferentes situações em que dois ou
mais indivíduos se encontram um diante do outro. • Face positiva: Desejo da aprovação
social e reconhecimento da face (auto-
imagem).
Ato de se desculpar
Exemplo 1:
Contexto: (uma menina, ao jogar vídeo game, sente-se ofendida
diante da atitude de sua irmã, que sem lhe pedir permissão interrompe
Negligenciar ou esquecer de se
o jogo e retira o transformador do vídeo-game)
desculpar quando a desculpa é
01. L: eu quero que peça por favor e desculpe ((L sente-se ofendida
esperada, abre sérios conflitos entre os
porque C retirou o transformador do videogame)
interlocutores. O ato de se desculpar
02. C.: por favor e desculpe ((C desculpa-se zombando de L))
pode ser apresentado de duas formas:
03. L.: não! eu quero uma frase bem simbólica
quando se apresenta a ofensa e logo o
04. C.: por favor e desculpa ((ajoelha-se zombando))
ofensor se desculpa com a vítima ou
como no exemplo 2, em que o
Exemplo 2:
interlocutor se desculpa
Contexto: (Durante um almoço de confraternização entre amigos, um menino, filhos dos
antecipadamente à ofensa.
anfitriões, desculpa-se diante de uma menina, demonstrando ânsia em servir-se
antecipadamente)
01. B.: desculpe...mas eu vou passar à sua frente ((desculpa-se antes de cometer a infração))
02. C.: ((silêncio))
Ato de elogiar
O ato de elogiar em algum sentido é
Exemplo 1: realizado como um presente do
Contexto: (Um amigo elogia a aparência física da amiga) falante para o ouvinte, ao realizar o
desejo deste de ser reconhecido e
01. A: você está uma gata
aprovado quanto à sua auto-imagem,
02. B: ô que coisa boa ô que elogio...eu com 30 anos...((sorrir)) como observamos no exemplo 1.
Entretanto, aceitar um elogio
Exemplo 2: diretamente viola uma regra da
Contexto: (Menina prova diante de sua irmã um biquíni recém-comprado) polidez lingüística cujo princípio
01. F. é TÃ:o bonitinho L dita a necessidade de evitar auto-
02. L. é bem mocinha elogios nas conversações face a face.
Essa é a regra da modéstia a qual os
falantes devem obedecer quando se
Exemplo 3: encontram um diante do outro, como
Contexto: (Entrevistadora elogia o entrevistado como diretor e escritor de comédia) é apresentado no exemplo 2
01. Entrevistador: você é um ator como já disse o maior comediógrafo brasileiro (informal) e no exemplo 3 (formal).
02. Entrevistado: obrigado precisa ter muito cuidado com isto
Do oral para o escrito, marcas de
interatividade nos textos escritos
Contextualizando:
‘’Deixa claro que um de seus interesses é o de problematizar a famigerada idéia segundo qual a
interatividade seria uma propriedade típica da oralidade, e a escrita não seria dotada desse
atributo’’ (SILVA, 2002, p. 160)
Do oral para o escrito, marcas de
interatividade nos textos escritos
‘’Isso, como observa o autor, parece ter propiciado que a escrita fosse vista como uma atividade de
linguagem centrada num distanciamento entre escritor e leitor (tanto do ponto de vista físico como
também do funcional), e a atividade da fala concebida como aquela que promove um maior
envolvimento do falante com o ouvinte.’’ (SILVA, 2002, p. 161)
Do oral para o escrito, marcas de
interatividade nos textos escritos
● Há certos traços que evidenciam essa característica. (Marcuschi,
1999 apud Teixeira; Barbosa, 2007)
● Expressões ou formas linguísticas que sinalizam claramente uma
interação entre o escrevente e o seu leitor.
● Em relação às marcas de interatividade nos textos escritos
abordaremos a carta pessoal, Marcuschi classifica os indícios de
interatividade em quatro tipos:
1. Indício de orientação diretiva para um interlocutor determinado
● A utilização de dêiticos
textuais, notas de rodapé,
etc... estruturas que guiam a
atenção do leitor em relação
ao conteúdo da mensagem.
3. Indício de suposição de partilhamento ou de convite de partilhamento
● A carta pessoal é um exemplo de gênero textual que busca não apenas passar a informação
ou relatar uma notícia, mas busca um grande contato com o destinatário de diversas formas a
fim de receber respostas.
A informalidade das cartas
Diário tradicional de uma adolescente
A informalidade das cartas
Carta
Diário
Blog
Propostas de trabalho no contexto escolar
Como?
Trabalhando, por exemplo, com gravações de áudio e vídeo, observando o
funcionamento de ilustrações.
Pra quê?
Para que eles possam analisar o porquê das marcas de envolvimento
presentes na fala dos interlocutores e entender que as palavras usadas,
expressões, assuntos, repetições, ações como elogiar e pedir desculpas
presentes não são escolhas aleatórias mas sim decisões conjuntas
permeadas por regras conversacionais e sociais.
Propostas de trabalho no contexto escolar
Marcas de interatividade com textos escritos não são um indício da Pra quê? Para as cartas à redação, caberia ao professor
presença da fala na escrita, os indícios da interatividade são uma propor que o aluno encontrasse as marcas gramaticais e
marca do escritor escrevendo sobre sua relação com a língua. discursivas que apontam para as diferentes formas de
Proposta de atividade: envolvimento num gênero e em outro. Enquanto, para as
Como? cartas pessoais, seria interessante que o professor
Estudo comparativo entre carta pessoal e carta à redação. trabalhasse com materiais produzidos pelos próprios alunos,
Carta pessoal: elevado índice de estratégias de envolvimento e cartas reais que eles tenham trocados com amigos ou
auto-envolvimento com o leitor, tendo em vista que nesse gênero parentes.
os interlocutores falam de si e se mostram interessados em
conhecer o outro.
Carta à redação: o fator principal é o envolvimento com o
assunto, o escritor reafirma ou se contrapõe a uma notícia, relato
ou opinião veiculada em um jornal ou uma revista
Propostas de trabalho no contexto escolar
SILVA, J. Q. G. Um estudo sobre o gênero carta pessoal: das práticas comunicativas aos indícios de interatividade na
escrita dos textos. Tese de Doutorado, Belo Horizonte: UFMG, 2002. (p. 160-165)
TEIXEIRA, C. ; BARBOSA, M. As relações interpessoais na produção do texto oral e escrito. In: MARCUSCHI, L. A. ;
DIONISIO, A. P. (org.) Fala e escrita. Belo Horizonte: Autêntica, 2007. (p. 145-176)
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