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Avaliação da Aprendizagem Escolar

Cipriano Carlos Luckesi

FUNDAMENTOS DA EDUCAÇÃO
Prática pedagógica escolar direcionada por uma “pedagogia do exame”;
Atividades docentes e discentes voltadas para treinamento de “resolver provas” tendo em vista a preparação
para o vestibular;
Atenção na promoção:
◦ o que predomina é a nota, não importa como nem por quais caminhos
Atenção nas provas:
◦ instrumento de ameaça, fator negativo de motivação, o medo leva os alunos a estudar
Os pais estão voltados para a promoção:
◦ expectativa das notas, problemas = “notas baixas”
O estabelecimento de ensino está centrado nos resultados das provas e dos exames: aparência dos quadros
estatísticos
O Sistema Social se contenta com as notas obtidas nos exames:
interessado nos percentuais de aprovação/reprovação
I – AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR- Em Síntese

Os sistemas de exames, com suas consequências em termos de notas e suas


manipulações, polarizam todos. Os acontecimentos do processo de ensino
aprendizagem, seja para analisá-los criticamente, seja para encaminhá-los de
uma forma mais significativa e vitalizante, permanecem adormecidos em um
canto.
Desdobramentos:
◦ Provas para reprovar
◦ Pontos a mais e pontos a menos
◦ Uso da avaliação da aprendizagem como disciplinamento social dos alunos
I – AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR- (Continuação)
Explicações:
◦ A pedagogia jesuítica: objetivo de construir hegemonia católica);

◦ A pedagogia comeniana: medo como fator para manter a atenção dos alunos;
◦ A sociedade burguesa: hegemonia da pedagogia tradicional, seletividade escolar;
Fetiche:
◦ “entidade” criada pelo ser humano para atender a uma necessidade, que se torna independente e o
domina;
O medo:
◦ Fator importante no processo de controle social;
◦ Castigo é o instrumento gerador do medo (explícito ou velado);

Conseqüências da pedagogia do exame:


◦ Pedagogicamente – centraliza atenção no exame e não auxilia aprendizagem;
◦ Psicologicamente – útil para desenvolver personalidades submissas;
◦ Sociologicamente – útil nos processos de seletividade social, que já existe;
II AVALIAÇÃO EDUCACIONAL: para além do autoritarismo

Questão do autoritarismo na prática da avaliação e sua possível superação Avaliação


educacional em geral e da aprendizagem escolar em particular são meios e não fins em si
mesmas – delimitadas pela teoria e pela prática.
Avaliação atual:
◦ a serviço de uma pedagogia, uma concepção teórica da educação, que traduz uma concepção
teórica da sociedade;
◦ modelo que pressupõe a educação como mecanismo de conservação e reprodução desta
sociedade;
◦ autoritarismo é elemento necessário para garantia desse modelo social;
◦ Entendimento teórico conservador;
Contextos pedagógicos para a prática da avaliação educacional

Serve ao modelo social dominante – liberal conservador:


Sociedade garante aos cidadãos os direitos de igualdade e liberdade perante a lei.
Cada indivíduo pode e deve, por seu esforço, contando com a lei, buscar sua auto realização pessoal, por meio da
conquista e usufruto da propriedade privada e dos bens.
Pedagogias hegemônicas – ainda estão a serviço desse modelo social
Que produziu três pedagogias com o mesmo objetivo:
Conservar este modelo e produzir (sem conseguir) a equalização social;
Tradicional:
◦ centrada no intelecto, na transmissão do conteúdo e no professor;

Renovada ou escolanovista:
◦ centrada nos sentimentos, na espontaneidade da produção do conhecimento, e no educando (diferenças individuais)

Tecnicista:
◦ Centrada na exacerbação dos meios técnicos e no princípio do rendimento.
Contextos pedagógicos para a prática da
avaliação educacional (Continuação)
Prática da avaliação escolar, no modelo liberal: autoritária, elemento disciplinador;
Prática da avaliação escolar, nas pedagogias preocupadas com a transformação;
Busca: superação do autoritarismo, estabelecimento da autonomia do educando;
Novo modelo social exige:
◦ Participação democrática de todos = igualdade

A atual prática da avaliação educacional escolar:


manifestação e exacerbação do autoritarismo
◦ Avaliação é um julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade, tendo em vista uma tomada de decisão.
◦ Juízo de valor: Afirmação qualitativa sobre um objeto, a partir de critérios pré-estabelecidos
◦ Caracteres relevantes da realidade: (do objeto da avaliação): Indicadores específicos que delimitam a qualidade esperada
◦ Tomada de decisão: Posicionamento de “não-indiferença” – tomada de posição sobre o objeto.
◦ Prática atual: classificação e não diagnóstico (tomada de decisão): Trabalha-se uma unidade de estudo, faz-se uma
verificação do aprendido, atribuem-se conceitos ou notas, e encerra-se aí o ato de avaliar. Não serve como pausa para pensar
a prática e retornar a ela, mas como meio de julgá-la e torná-la estratificada.
Classificação: “bons”, “médios” e “inferiores” manterão suas posições: Mantém a sociedade
como está, não modifica distribuição social;

Papel disciplinador: arbitrariedade: poder para enquadrar educandos na normatividade


estabelecida;

Problema de comunicação: aluno pode não entender o que se pede num teste, mesmo estando
capacitado;

Mecanismo disciplinador de condutas sociais: arbitrariedade = prêmio ou castigo: prática


comum de ameaçar os alunos com a avaliação (ex: testes relâmpago). Expediente de “conceder
um ponto a mais” ou “retirar um ponto”;
 Avaliação educacional no contexto de uma pedagogia para a humanização:
Uma proposta de ultrapassagem do autoritarismo:
Avaliação:
-verdadeiro papel de instrumento dialético de diagnóstico para o crescimento a serviço de uma
pedagogia preocupada com a transformação social. Posicionamento pedagógico claro e explícito:
conscientização no planejamento, na execução e na avaliação

Julgamento de valor sobre “dados relevantes”;


função diagnóstica = para identificar novos rumos;
deve verificar aprendizagem;
não a partir dos mínimos possíveis, mas dos mínimos necessários;
o médio não pode ser um médio de notas mas um mínimo necessário;
concluindo:
avaliação não pode ser um ato mecânico;
cada passo deve estar marcado por uma decisão do que está fazendo e para onde está caminhando
os resultados da ação;
III – PRÁTICA ESCOLAR:
do erro como fonte de castigo ao erro
como fonte de virtude
O castigo escolar a partir do erro
◦ “violência-simbólica ”superação do castigo físico, o aluno “fraco” é ridicularizado, treme de culpa, medo e
vergonha (Soc. Poetas Mortos).
As razões do uso do castigo
◦ Culpa está na raiz do castigo – pagar pelo erro (pecado);
◦ Conduta sadomasoquista;

O que é o erro?
◦ Ideia de erro emerge no contexto da existência de um padrão considerado correto
◦ Sem padrão, não há erro
◦ Metodologia da Ciência – método da “tentativa do acerto e do erro”
Esforço de construção que pode ser bem ou malsucedido – aqui não existe erro
◦ Do ponto de vista do Direito – as leis definem o que é correto
Condutas que não se conformem à norma serão sancionadas
◦ Na aprendizagem escolar pode ocorrer erro – em relação ao padrão
O uso do erro como fonte de virtude
◦ O erro pode ser fonte de virtude em geral e na aprendizagem escolar;
◦ Não deve ser fonte de castigo mas suporte para o crescimento;
◦ Há que se utilizar positivamente para avançar na busca da solução pretendida;
◦ Reconhecendo a origem e a constituição de um erro, podemos superá-lo;
O erro e a avaliação da aprendizagem escolar
◦ Na prática escolar: erro, culpa e castigo articulados com a avaliação;
◦ Avaliação não deveria ser fonte de decisão para o castigo;
◦ Mas, decisão sobre os caminhos do crescimento;
◦ Não fazer apologia do erro e do insucesso como fontes do crescimento;
◦ Mas, por sobre o insucesso e o erro não se deve acrescentar a culpa e o castigo;
◦ Não são necessários, mas, caso ocorram, fazer deles trampolins;
IV – AVALIAÇÃO DO ALUNO: a favor
ou contra a democratização do ensino?
Democratização do ensino e avaliação escolar
Três aspectos que definem a democratização do ensino:
◦ Democratização do acesso à educação escolar: acesso universal;
◦ Permanência na escola e consequente terminalidade escolar;
◦ Apropriação ativa dos conteúdos escolares;
◦ Manifestam-se, hoje, como prática social antidemocrática
◦ Avaliação escolar inadequada pode possibilitar a repetência e a evasão;
◦ Avaliação escolar existe para garantir a qualidade da aprendizagem do aluno;
A atual prática da avaliação e a democratização do ensino
◦ O “contrabando” entre qualidade e quantidade pode aprovar alunos sem os conhecimentos
necessários numa unidade de ensino;
◦ E, impossibilita o professor de diagnosticar a real situação do aluno
Proposição de um encaminhamento: a avaliação diagnóstica

Para que cumpra sua função, exige-se um certo recurso técnico adequado
Para serem adequados,os instrumentos devem:
◦ medir resultados claramente definidos em harmonia com os objetivos;
◦ medir amostra adequada;
◦ conter tipos de itens adequados para os resultados desejados;
◦ Ser planejados para se ajustar aos usos particulares;
◦ ser construídos fidedignamente e ser interpretados com cautela;
◦ ser utilizados para melhorar a aprendizagem do aluno e do sistema.

Portanto, implicam em:


◦ planejamento técnico adequado aos instrumentos de avaliação;
◦ elaboração clara, objetiva e consequente;
◦ clareza de comunicação;
◦ rigor científico na leitura;
◦ diagnosticar situação do aluno;
◦ caráter participativo (nem espontaneísmo, nem auto avaliação).
V – VERIFICAÇÃO OU AVALIAÇÃO: o que pratica a escola?

Fenomenologia da aferição dos resultados da aprendizagem escolar


Procedimentos sucessivos da prática de aferição do aproveitamento escolar;
◦ medida do aproveitamento escolar;
◦ transformação da medida em nota ou conceito;
◦ utilização dos resultados identificados;

A escola opera com verificação e não com avaliação da aprendizagem


Conceitos:
◦ Verificar = fazer verdadeiro, “ver se algo é isso mesmo”;

Encerra-se com a obtenção do dado ou informação que se busca:


◦ Avaliar = “dar valor ª..”, atribuir um valor ou qualidade a alguma coisa;

Implica em um posicionamento positivo ou negativo;


Exige decisão do que fazer ante ou com o objeto.
V – VERIFICAÇÃO OU AVALIAÇÃO: o que
pratica a escola?

Encaminhamentos
Uso da avaliação
O professor deve:
◦ coletar, analisar e sintetizar manifestação das condutas - cognitivas, afetivas, psicomotoras – dos
educandos, configurando o aprendido;
◦ atribuir uma qualidade a configuração a partir de um padrão pré-estabelecido;
◦ a partir da qualificação tomar decisão sobre condutas docentes e discentes para: reorientação da
aprendizagem, ou encaminhamento para passos subseqüentes.
Padrão mínimo de conduta;
Estar interessado em que o educando aprenda;
Rigor científico e metodológico.
VI – PLANEJAMENTO E AVALIAÇÃO NA
ESCOLA:
articulação e necessária determinação
ideológica
Intencionalidade da ação humana
◦ Ser humano age em função de resultados;
◦ O agir articula meios e fins;
◦ Efeitos positivos e negativos tem consequências na natureza e no meio social;
◦ Isso significa que nossa ação é política – comprometida.

Planejamento e comprometimento ideológico


◦ Ato de planejar é intencional: fins e meios;
◦ Implica em escolha;
◦ Não tem fim em si mesmo;
◦ Significados ideológicos – um “modelo de sociedade”;
◦ Não é um ato simplesmente técnico;
◦ É também político e ideológico.

Planejamento como um modo de prever a administração de recursos escassos


◦ Não é neutro;
◦ Mas tem sido visto como uma técnica neutra de prever a administração dos recursos disponíveis da forma mais eficiente possível.
Planejamento na prática escolar: o que tem sido
◦ Também tem sido visto como neutro;
◦ Modo de operacionalizar o uso de recursos;
◦ Este é o modo como em geral os livros de didática tratam do planejamento.

Planejamento na prática escolar: o que pode ser


◦ Prática de planejar – em todos os níveis – ganhe dimensão política, científica e técnica;
◦ Momento de dimensionar a nossa mística de trabalho e vida;
◦ Estar com os olhos no futuro – passado serve para fundamentar decisão de mudança – compreensão do presente em função
do futuro.
A atividade escolar de planejar
◦ É preciso que todos decidam, conjuntamente, o que e como fazer;
◦ Diretor da escola deve coordenar o processo.

Avaliação: instrumento subsidiário da construção do projeto de ação


Planejamento e avaliação
◦ Enquanto planejamento é o ato de decidir o que construir;
◦ Avaliação é o ato crítico que nos subsidia na verificação de como estamos construindo o nosso projeto;
◦ Avaliação atravessa ato de planejar e executar;
◦ Como crítica de percurso, é ferramenta necessária no processo de produção dos resultados e no redirecionamento da ação.
VII – POR UMA PRÁTICA DOCENTE
CRÍTICA E CONSTRUTIVA
I. Fundamentos Pedagógicos da prática docente
◦ Um princípio político-social para a prática docente;
◦ Desenvolvimento do educando;
◦ Mediação para o desenvolvimento do educando;
◦ Ensino e aprendizagem intencionais: meios de desenvolvimento do educando;
◦ Dinâmica da assimilação ativa dos conteúdos socioculturais e do desenvolvimento das capacidades
cognoscitivas do educando;
◦ Recursos metodológicos para o ensino/aprendizagem.

II. Tarefas da prática docente


◦ Planejamento;
◦ Execução;
◦ Avaliação dos resultados da aprendizagem.
VIII – PLANEJAMENTO, EXECUÇÃO E
AVALIAÇÃO DO ENSINO:
a busca de um desejo
O significado da entrega às metas;
O significado da entrega ao trabalho;
Planejamento em geral e planejamento do ensino;
Avaliação.
IX – AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM
ESCOLAR: um ato amoroso

Provas/exames e avaliação da aprendizagem escolar;


Avaliação da aprendizagem escolar como um ato amoroso;
Uso escolar da avaliação da aprendizagem;
Alguns cuidados com a prática da avaliação da
aprendizagem escolar.;
Avaliação do ensino-aprendizagem: um ato
amoroso(Formativa) ou ainda um castigo?
LDB 9394/96
Sociedade;
Cidadão;
Profissional da educação.

Educação: Natureza e especificidade


Projeto Educativo: Dimensões(acesso aos bens);
sociais / históricos/ econômicos/culturais
Avaliação
Avaliação: Nossa, dos alunos, dos pais... De quem é a
culpa??
Posturas em avaliação:
1ª Não mexam na minha avaliação;
2ª Não são tão ruins assim ou Não são tão boas assim...
3ª investigativa “ puxar o fio para que o novelo se desfaça”
(Curiosidade epistemológica)
Avaliação Formativa
Organização das aulas: individualização -sentido formativo;
- Didática, métodos de ensino - fundamentos teóricos;
-Contrato didático: relação pedagógica, profissão do aluno, ética nas relações pedagógicas;
Política da escola: trabalho coletivo - avaliação formativa - fundamentos filosóficos;
Satisfações pessoais e profissionais:
Avaliação tradicional: Segurança... Poder?
Nova sistemática de Avaliação: tensões, insegurança, rupturas...
Avaliação Formativa
Em avaliação como em toda a nossa prática educativa não existe um
caminho pronto, traçado sem conflitos, faz se o caminho ao
caminhar...
Entretanto... O caminho pode tornar-se menos espinhoso quando
buscamos “olhar” nossas práticas com um olhar curioso, indagador,
um permanente questionamento, um estranhamento, contraditório,
conflituoso e perfeitamente humano.

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