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O Tempo Saquarema

Autor: Ilmar Rohloff de Mattos

História do Brasil Independente


Curso de Licenciatura em História
Universidade Federal do Espírito Santo
Profª Drª Juliana Sabino Simonato
A Direção Saquarema

• Esta é a parte que interessa, onde o autor trabalha


a construção política e a relação do mundo da
Casa (o privado) com o mundo do Governo
(autoridade pública) e o da Rua (local público).
Além da interlocução com Gramsci a respeito de
uma direção política.
A Direção Saquarema

• Os Saquaremas não só derrotaram os Luzia, mas


transformaram as “revolução” em “rebeliões”,
reclamaram maiores poderes junto o Governo e
buscaram imprimir uma direção e um predomínio
que exerciam junto ao Poder.
A Direção Saquarema

• Para o autor, os Saquaremas se distinguiam dos Luzias,


apesar de ambos fazerem parte do Governo. Marcavam
posição de vencedores propondo uma relação distinta. Mas
seu ponto de defesa está na existência de hierarquias entre
os partidos. Aproveitando-se para fazer isto das tensões
sociais entre Casa – Governo – Rua existentes na sociedade
brasileira.
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• Os dois partidos são semelhantes no que se diz à defesa da Liberdade
Negativa, e portanto possuem duas faces contraditórias: a Casa e o
Estado. Até aonde o governo interfere na área privada. É isto que
impulsionou a luta contra a metrópole e o absolutismo de Pedro I.
Casa = (Liberdade) Estado = (Autoridade)

Rua (= Revolução)
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• Liberdade Negativa = Aquela que assegurava o
domínio da Casa.
• Liberdade Positiva = Aquela que assegurava o
domínio da Rua (Revolução).
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• A luta pela liberdade foi fundamental na construção do Estado. Havia


uma diferença entre os exaltados (liberais) e moderados conservadores),
e esta era marcada pela presença do povo. Para os membros da boa
sociedade, a presença do Povo (que ele difere de Plebe) e da igualdade
tornava muito tênue a linha entre a ordem e a desordem. Este discurso
do medo foi usado amplamente, pois ficou claro que os Luzias
pertenciam ao Mundo da Casa, e não ao Mundo da Rua.
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• A desigualdade na política correspondia a
desigualdade na sociedade. Não se deve
confundir o discurso político sobre Liberdade
com a Igualdade. “ A Casa deveria manter-se
distinta da Rua e da Praça Pública....” (p. 142).
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• Dentre as contradições dos liberais, diante da


Maioridade de Dom Pedro II, a Liberdade que
defendiam foi atrelada ao princípio da Ordem e
da Monarquia.
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• O Regresso Conservador (1836-1852) implicou na


recuperação do prestígio da Coroa e no aumento das
prerrogativas do Executivo. Ou seja, não era a volta do
Absolutismo, mas uma requalificação da Liberdade. O
contexto anterior era de insurreições (principalmente de
escravos), o discurso político pautava-se na ideia de aliar a
liberdade e segurança.
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• O Regresso Conservador possibilitou a associação da


Liberdade à Segurança (noção de ordem) à Monarquia
Constitucional e a manutenção da integridade nacional. Ou
seja, a maior soma de liberdade estava associada ao Poder
Executivo (força do governo). Princípio Monárquico X
Princípio Democrático. Uso do discurso da dimensão
política para se garantir a administração.
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• “Assim, os Saquaremas fizeram com que as


pretensões dos Liberais se esvaíssem,
sublinharam as contradições de suas propostas e
impuseram-lhes uma direção.” (p. 152).
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• Os Liberais viam-se presos na defesa da
liberdade, mas ligados à Monarquia e à Ordem.
Uma contradição muito bem explorada pelos
Saquaremas. Começa a ser trabalhado, portanto,
o conceito de liberdade qualitativa, que substitui
a liberdade revolucionária, igualitária e
quantitativa.
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• Qualitativa – liberdade atrelada a quem você é e
até que ponto está preparado para ter uma
“responsabilidade”.
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• Além disso, a liberdade passa a ter cada vez mais
uma outra utilidade. Isto ocorre pelo fato de que
discussões políticas, que é um dos grandes pilares
da liberdade moderna, são substituídas no mundo
da economia mercantil por uma política onde não
há embate, apenas administração.
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• Além disso, a liberdade passa a ter cada vez mais
uma outra utilidade. Isto ocorre pelo fato de que
discussões políticas, que é um dos grandes pilares
da liberdade moderna, são substituídas no mundo
da economia mercantil por uma política onde não
há embate, apenas administração.
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• “... Os Liberais não conseguem estar no governo
do Estado porque insistiram em privilegiar o o
governo da Casa, e ao fazê-lo distinguem-se tanto
por uma negatividade quanto por um embaraço”.
(...) negavam o Poder, negavam o elemento
português, negavam os regressistas e a
escravidão.” (p. 158).
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• “Os Saquaremas não se limitaram, estando no governo do


Estado, à repressão dos movimentos liberais de 1842. Enquanto
foi possível buscaram privilégios dos antigos monopolizadores
do tráfico negreiro; recorrendo a meios diversos, incentivaram
os plantadores escravistas ligados à expansão cafeeira; por meio
de várias medidas, incentivavam a expansão cafeeira dos
negócios de “comerciantes e capitalistas”. (p. 167)
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• “Todavia, quando dizemos – estar no governo do Estado –
estamos nos referindo também à capacidade de exercer uma
direção: uma direção política, uma ‘intelectual e moral’, no
dizer desse mesmo pensador [Antônio Gramsci]” [A direção
política, intelectual e moral imprimida na Casa e no Governo
foram ditadas pelos Saquaremas, que buscaram em sua
autoridade na Casa a força de coerção usada para direcionar a
autoridade do Estado.]
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• No governo do Estado, os Saquaremas reprimiram os
liberais, garantiram antigos monopólios, incorporam outros
monopolizadores e trouxe, verticalmente outros empregados
a serviço do Estado. [Ocorre neste período também o
processo de valorização dos médicos. A eles foi atribuído um
monopólio que provavelmente não estava planejado: o do
discurso. Mais tarde também veremos, o monopólio da
responsabilidade.]
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• O autor considera importante o entendimento


recíproco entre o processo de formação do Estado
Imperial e a formação de uma classe senhorial. Tal
compreensão permite vislumbrar a dupla dimensão do
ato de governar, é ter consideração o Estado em suas
funções de dominação e de direção, é conceber a
Coroa como um partido.
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• Durante o período de Consolidação da Monarquia inúmeras


leis, decretos, regulamentos, decisões, avisos, regimentos e
outras normas jurídicas eram imputadas pelo Estado com
intuito de melhor organizar a administração. (p. 171-175).
• Além disso, um outro elemento foi importante para os
debates e a circulação de ideias: os jornais.
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• Aumento do poder público da Coroa se impondo sobre
o particular rico [declínio do poder político].
Concordâncias entre Ilmar e Gilberto Freyre (tomo I pg.
122).
• O autor também apresenta concordância com José
Murilo de Carvalho, quando descreve a elite econômica
ocupando cargos políticos. (p. 180-183).
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• “À sombra da magnificência imperial, Luzias e


Saquaremas pareciam semelhantes”. (p. 191)

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