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O Problema do livre arbítrio

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Se alguém for forçado a agir de uma determinada forma,
será legítimo responsabilizá-lo pela sua ação?

Que forças condicionam as nossas ações?


1. Físicas – estrutura anatómica e fisiológica do agente

2. Psicológicas – caráter, força de vontade, ou falta dela, motivações

3. Culturais – vivências, normas, tradições, hábitos e costumes,


circunstâncias políticas económicas e sociais que, enquanto agentes
nos relacionam com outros agentes

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“Supõe que estás na fila de uma cantina e que, quando
chegas às sobremesas, hesitas entre um pêssego e uma
grande fatia de bolo de chocolate com uma cremosa
cobertura de natas. O bolo tem bom aspeto, mas sabes
que engorda. Ainda assim, tiras o bolo e come-lo com
prazer. No dia seguinte vês-te ao espelho ou pesas-te, e
pensas: ‘Quem me dera não ter comido o bolo de
chocolate. Podia ter comido antes o pêssego.’ Que quer
isto dizer?”
Thomas Nagel, Que quer dizer tudo isto?, Gradiva, pág. 46

Será verdade que podia ter comido antes o pêssego?

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"Suponha que tinha ordens para ler isto. Encontra-se a
obedecê-las. Depois recebe ordens para questionar as
ordens. E, portanto questiona-as. Depois recebe ordens
para as deixar de questionar. Portanto, deixa de o fazer.
Neste caso iria imediatamente perceber que não tem
liberdade, que estaria sob o controlo das ordens. (...)

Mas suponha que as ordens não eram dadas sob a forma


de instruções, mas antes sob a forma de anseios diretos
que o faziam agir de determinada forma. Estar sob o
controlo de anseios seria mais subtil do que ser controlado
por instruções verbais, pois poderia facilmente pensar que
os anseios estavam sob o seu próprio controlo (...)"
Retirado de Critica na Rede

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Problema do livre arbítrio

Como compatibilizar o determinismo que


existe na natureza com a perspetiva
comum que temos de nós mesmos como
seres livres?
Picasso, Mulheres Correndo na Praia, (1922)
Poderemos ser livres num universo
determinista?
Ou será que temos de aceitar que a
liberdade é uma ilusão porque tudo está
determinado?
Ou podemos conceber que o universo não
é totalmente determinado precisamente
porque somos livres?

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O determinismo é compatível com
o livre-arbítrio?
Incompatibilismo Compatibilismo
O determinismo não é compatível O livre-arbítrio é compatível com o
com o livre-arbítrio, determinismo, é falso que
Se o determinismo for verdadeiro, se o determinismo for verdadeiro,
então não temos livre-arbítrio então não temos livre-arbítrio
Compatibilistas clássicos
1. Se o determinismo é verdadeiro,
então não temos possibilidades • Ainda que o determinismo seja
alternativas. verdadeiro, por vezes temos
possibilidades alternativas.
Rejeitam a premissa 1
2. Se não temos possibilidades
alternativas, então não temos Compatibilistas contemporâneos
livre-arbítrio. • Mesmo sem possibilidades
alternativas, por vezes temos livre-
arbítrio.
3. Logo, se o determinismo for
verdadeiro, então não temos Rejeitam a premissa 2
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livre-arbítrio. Graça Silva
As perspetivas incompatibilistas

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O Determinismo Radical

P
a
a
s
s
a b
d c
o

determinismo
radical

Tese: O livre arbítrio é incompatível com um mundo regido


por leis. A liberdade é uma ilusão.

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Determinismo radical

Principal argumento:

P. 1 Ou há determinismo ou há livre arbítrio.


P.2 Há determinismo.
C. Logo, não há livre arbítrio.

Se não há livre arbítrio, por que razão temos a intuição básica de que somos livres?

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Objeções ao determinismo
1. A objeção da responsabilidade moral:

Se o determinismo radical tiver razão, não temos livre arbítrio.


Se não tivermos livre arbítrio não podemos ser moralmente
responsáveis.
Se não formos moralmente responsáveis, não poderemos ser
castigados.
Ora, é absurdo defender que não podemos ser castigados.
Logo, o determinismos radical é falso.

Como responde o determinista radical a esta objeção?

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2. A objeção fenomenológica, a ação pressupõe o livre-arbítrio:

Agir é manifestar a nossa crença no livre arbítrio.


Se não somos livres e agimos como se fôssemos,
então erramos sistematicamente sem nos conseguirmos
corrigir… evolutivamente, é mais plausível que exista livre-
arbítrio.
Sem Livre-arbítrio, a vida não tem sentido, não teríamos
motivação para agir.

3. Objeção da mecânica quântica:

Existem acontecimentos genuinamente indeterminados


no universo.

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3. O dilema do determinismo:

Ou o mundo é determinista ou indeterminista.


Se o mundo é determinista, não temos livre-arbítrio.
Mas, se o mundo é indeterminista, também não temos livre-arbítrio.
Logo, não temos livre-arbítrio.

O acaso não é liberdade…

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O Libertismo

P
a
a
s
s
a b
d c
o

Libertismo Tese: As nossas ações não são causalmente determinadas,


mas também não são aleatórias.

(o dilema é um falso dilema); nós escolhemos


Sempre o que fazer, dando origem a novas cadeias causais,
Pois a nossa mente não está sujeita às mesmas leis naturais
que o corpo. Somos inteiramente responsáveis pelas nossas
Ações.

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Principal argumento:

P. 1 Ou há determinismo ou há livre
arbítrio.
P.2 Há livre arbítrio.
C. Logo, algumas ações não são
determinadas.

Há uma causalidade fenoménica (determinada),


e uma causalidade dos agentes (livre).

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Objeção da ilusão
Se a causalidade é do agente, então a ação é determinada ou causada
por acontecimentos anteriores.

Se for causada por acontecimentos anteriores, então é o compatibilista


que tem razão e não o libertista.

Logo, em qualquer dos casos o livre arbítrio é uma ilusão.

Não há ações sem causa. Não sentir as causas não prova a sua
inexistência
Objeção da aleatoriedade

Ou o libertista defende que a ação é livre apesar de ter sido causada


por acontecimentos anteriores.

Ou defende que não foi causada por acontecimentos anteriores e então


a ação é aleatória.

Ambas as situações implicam a negação do libertismo.


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Desafio para o libertista (regresso ao dilema):

Escher, Libertação
Apresentar um exemplo de um ato genuinamente livre que
não seja determinado pelos acontecimentos anteriores e
que não seja aleatório ou indeterminado.

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Determinismo moderado:
(compatibilista)

Tese: Somos determinados e também temos livre arbítrio. O mundo é


regido por relações causais, mas ainda assim é possível escolher fazer
ou não fazer certas ações, tornando-nos responsáveis por elas.

- Reformula os conceitos, admite uma forma mais fraca de livre arbítrio

Argumento: Agimos livremente se a escolha e o modo como agimos


resulta causalmente do que queremos, e o que queremos não resultou
de qualquer coação, doença ou controlo artificial.

- As crenças e os desejos são meras inclinações não são constrangimentos


determinantes

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Objeção:

Não há diferença entre constrangimentos e inclinações.


a única diferença relevante entre o determinismo moderado e o
determinismo radical, é o agente ter consciência ou não, dos
constrangimentos em causa.

O determinismo moderado “baixa a fasquia” e não permite


compreender a existência de possibilidades alternativas de ação.

http://logosecb.blogspot.pt/2010/02/o-problema-do-compatibilismo.html

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