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PLANO DE AULA

NOTURNOS
DOIS MUSICAIS E UM POÉTICO
Plano de aula
 
Tema: A noite
Duração: 100 minutos
Público alvo: ensino médio – 2º ou 3º anos
Número de alunos: de 30 a 35

Elementos constitutivos da aula:


 Noturno Opus 9 nº 2 de Chopin (3 minutos)
 Noturno nº 1 – de Villa-Lobos - Uma homenagem a Chopin (2 min. 40 s.)
 Noturno do Morro do Encanto de Manuel Bandeira de seu livro Opus 10
Objetivo de aprendizagem

Fazer com que os alunos vivenciem duas linguagens artísticas por meio de
diferentes discursos que se enlaçam pelos seus pontos de contato e se
desenlaçam pelos seus distanciamentos. Para tanto, propomos uma vivência
corporal, auditiva e visual realizada por meio da fruição de dois noturnos
musicais e de um poético colocados em contraste ou não.
Justificativa:

A nossa proposta é justificada pelo seguinte dizer da BNCC: “é preciso


promover a formação de um leitor que não apenas compreenda os sentidos dos
textos, mas também que seja capaz de frui-los.” (BNCC, p. 156). Frui-los para
compreendê-los e compreendê-los para frui-los; e frui-los pelo simples prazer
que, por ser assim, é estético.

A nossa proposta é da ordem das sensações às palavras, das palavras as


sensações; da natureza do indizível de uma arte ao indizível do dito da outra.

 
Acreditando nessas proposições, elegemos duas peças: uma romântica, a de
Chopin (séc. XIX) e outra do séc. XX, a de Villa-Lobos em diálogo com um
poema de Manuel Bandeira. Além desses discursos serem colocados em
diálogo, as peças musicais cumprem a função de instrumentos que abrem os
canais das sensações nos/dos alunos. Algo que, possivelmente, garante maior
fluidez durante o contato deles com o poema de Bandeira, ou, pelo menos,
comece a despertar, neles, as tramas do poético.
Sequência da aula
O passo a passo Conteúdo programático/metodologia:

PARTE 1 - Duração 40 minutos


Elementos constitutivos a ser trabalhado neste momento:

 Noturno Opus 9 nº 2 de Chopin (apenas 3 min.) em contraste com o Noturno nº 1


de Villa-Lobos.

1. Iniciamos - em cima da carteira, apenas uma folha em branco e um lápis/caneta.


Fechar os olhos – posição confortável – respiração profunda 3 vezes.
 
2. Colocamos os Noturnos - sem direcionamento de escuta.
 
3. Nos dois primeiros minutos - se deixar levar pela música, seu fluxo. Se sentir
necessidade de movimentar.
4. À medida que deixam aflorar sensações que podem ou não levar a imagens,
lembranças, cheiros, à atmosfera do indizível, os alunos são convidados a guardarem na
memória esse todo sentido.

5. Terminados os noturnos - respiração calma e profundamente três vezes – olhos


fechados. Depois de cada respiração são motivados, todos ao mesmo tempo e
aleatoriamente, a externar a experiência vivenciada por meio da voz, com frases, palavras
soltas.

6. Despertar cada parte do corpo - espreguiçar e abrir os olhos.


 
7. Pegar o lápis/caneta e escrever a primeira frase ou frases; a primeira palavra ou
palavras que vêm à mente. São estimulados a compartilhar, com a turma, primeiro o que
acabaram de escrever; depois o todo do despertar das palavras registrado pelo
incorpóreo/corpóreo (a voz e sentidos), provocado pela fruição da arte que nos afeta pelos
ouvidos.
 
8. Dois alunos que vão anotando no quadro – como se fosse tempestade de ideias.
PARTE 2 - Duração 30 minutos
1. Iniciamos com as perguntas: O que acabamos de ouvir é um todo formado por uma
única atmosfera, uma única música? Vamos tirar a prova dos nove!

2. Antes disso  o poema Noturno do Morro do Encanto de Manuel Bandeira na carteira


- sem título.

3. A prova dos nove  olhos fechados - escutar, com mesma intensidade de atenção, o
poema de Bandeira e as músicas apresentadas:
 
a) Primeiro, o Noturno de Chopin em contraste com o Noturno de Bandeira e depois
b) O Noturno de Villa-Lobos em contraste com o Noturno de Bandeira

Em seguida, perguntamos: é um todo formado por uma única atmosfera? Qual a diferença
entre uma e outra? Quais as sensações que despertam?
 
O objetivo dos contrastes é deixar mais evidentes as características do não verbal dos
noturnos musicais. Colocá-las em discussão por mais 10 minutos, aproveitando as
impressões, sensações anteriormente verbalizadas pelos alunos e escritas no quadro.

4. Por fim, revelamos aquelas músicas como noturnos que são e seus respectivos
compositores; suas características e fazemos um breve histórico sobre o assunto.

NOTURNO
• Peça curta duração para piano.
• Evoca a noite / sugere a calma da noite ou é inspirada pela noite.

BREVE HISTÓRICO
• Precursor  John Field – compositor irlandês (século XIX) - com seus 18 noturnos
• Os mais clássicos–21 noturnos de Chopin –
Uma vasta gama de estados de espírito
PARTE 3 – duração 50 minutos
O objetivo desta parte da aula é trabalhar o poema de Bandeira como noturno que é.
1. Apreciação auditiva  declaração de Bandeira sem acompanhamento.
2. Apreciação auditiva  seguir visualmente o poema impresso (virar).

3. Todos em pé  leitura de todos juntos, em câmara lenta – com movimentos corporais


também em câmara lenta.

4. Todos se sentam. Na sequência  formação de grupos de três pessoas  para


potencializar a fruição/compreensão do texto de Bandeira, por meio da leitura
compartilhada/vivência poética instigada por perguntas previamente definidas pelo
professor

IMPORTANTE: A cada pergunta  os grupos individualmente iniciam/reiniciam a


leitura compartilhada/vivência poética, anotando as suas impressões/sensações, no papel,
para depois serem compartilhadas com todos. O professor deverá sempre instigar a
participação de um maior número de alunos. Além disso, as impressões/sensações de cada
um dos elementos dos grupos devem ser destacadas quando diferentes do consenso do
grupo.
4. As perguntas:
 
a) Quais as sonoridades que mais chamaram a sua atenção? Se de sitibundo, miserar e
urdir, perguntar, primeiro, aos alunos quais os possíveis significados destas palavras
que acreditam ser os corretos. Depois disso, esclarecer os vocábulos: o primeiro
significa “seco em extremo” e o segundo, “tecer”.
 
b) É possível fazer uma relação do poema (uma linguagem verbal) com as músicas
apresentadas (linguagem puramente não verbal), além do fato de serem noturnos? Se sim,
perguntamos: o que eles têm em comum? (Olhar as anotações feitas até então no quadro).

c) Você acha que o noturno de Bandeira exalta a noite, representa a calma da noite, é
inspirado por ela?
 
d) O poema de Bandeira revela o mesmo tipo de atmosfera existente nos outros dois
noturnos que são musicais?
e) Há algo que você gostou no poema?

f)Quais as partes ou detalhes que lhe incomodaram?

g) Houve algo que lhe surpreendeu completamente?

h) Enquanto está lendo o poema, você visualiza a condição do eu lírico?

i)Quais as passagens que ficaram em sua memória

j) Há passagens do poema que remetem, especialmente, a um lugar? De que


gostou ou não gostou nelas? 

K) Há uma relação entre tempo e morte no poema? Como a percebe?

l)O que diria para seus amigos sobre esse poema?


 

f)
PARA FINALIZAR – respostas orais. Sem precisar escrevê-las.

m) É bom conversar sobre um poema, depois de lê-lo?

n) Ficou surpreso com algo que alguém disse?

o) Alguém disse algo que lhe fez mudar alguma de suas opiniões sobre o poema?

p) O que lhe ajudou a entender o poema melhor.


REFERÊNCIAS  
BANDEIRA, Manuel. Noturno do morro do encanto. 1953. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=CQjInccQg1I >. Acesso em 01 fev. 2022.
 
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, 2018.
 
CHOPIN, Frédéric. Noturno Opus 9 nº 2. Disponível em: <
https://www.youtube.com/watch?v=u5CcQ6Ul7sc >. Acesso em 01 fev. 2022.
   
ISAACS, Alan; MARTIN, Elizabeth (Org.). Dicionário de Música. Tradução
Álvaro Cabral. Rio de Janeiro: ZAHAR, 1985.

VILLA-LOBOS, Heitor. Noturno nº 1: homenagem a Chopin. Disponível em: <


https://www.youtube.com/watch?v=1DIFdBUPulw>. Acesso em 01 fev. 2022.
Noturno do Morro do Encanto
Manuel Bandeira

Este fundo de hotel é um fim de mundo!


Aqui é o silêncio que tem voz. O encanto
Que deu nome a este morro, põe no fundo
De cada coisa o seu cativo canto.
 
Ouço o tempo, segundo por segundo,
Urdir a lenta eternidade. Enquanto
Fátima ao pó de estrelas sitibundo
Lança a misericórdia do seu manto.
 
Teu nome é uma lembrança tão antiga,
Que não tem som nem cor, e eu, miserando,
Não sei mais como o ouvir, nem como o diga.
 
Falta a morte chegar… Ela me espia
Neste instante talvez, mal suspeitando
Que já morri quando o que eu fui morria.
                                                          
Petrópolis, 21-2-1953. Opus 10

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