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Semana de Letras, maio/2010

UFSC - Florianópolis

Reflexões sobre o ensino de línguas


estrangeiras na modalidade a distância:
mudanças socioculturais e prática docente
e discente.

Adriana de C. Kuerten Dellagnelo – UFSC


Maria Ester W. Moritz - UFSC
Richards e Lockart (1996): ‘cultura do ensino’

Processo ensino-aprendizagem valores e crenças dos


professores

 fatores de personalidade,
 a prática estabelecida na(s) instituição(ões) em que
trabalham ou trabalharam (papéis sociais),
 princípios derivados de abordagens e métodos de ensino,
 a experiência prévia do professor na qualidade de
professor, e
 a experiência prévia do professor na qualidade de
aluno.
“apprenticeship of observation” (LORTIE, 1975)

milhares de horas de aprendizagem

internalização de modelos e comportamentos de ensino


ativados no momento em que o professor entra em sala.
Modelos implícitos
Uma das causas pelas quais, após tantas tentativas
de mudança no ensino, as práticas ainda continuam as
mesmas.

1980 em diante:

muda o foco do ensino e dos programas de formação de


professores

transmissão de conhecimento para construção de conhecimento


(Piaget/ Vygotsky)

importância do outro – mediação


responsabilidade compartilhada entre professor e alunos

E na prática?
conhecimento teórico vs. experiencial?
Ensino a distância

 Contexto de estudo: motivação, organização e disciplina,


responsabilidade, autonomia, comprometimento, independência;

 professor (fonte mais confiável, provedor de insumo) menos


disponível ao longo do processo para retorno imediato → mediação
do professor: geralmente assíncrona – ponto de ajuste para os
aprendizes;

 aluno mais envolvido nas tomadas de decisão: identificação,


participação e gerenciamento das experiências de aprendizado de
acordo com suas necessidades individuais.
O estudo

 Problema de pesquisa: EaD como modalidade capaz de contribuir para o


EP (autonomia, responsabilidade, comprometimento, enfim co-participação
do aluno e não-centralidade docente).

 Pergunta de pesquisa: pode o ensino a distância ser tomado como


modalidade viabilizadora de mudanças socioculturais quanto ao
comportamento do professor e do aluno?

 Metodologia: 2 professores experientes (mínimo de dois anos) de Inglês


nas duas modalidades (EP e EaD), na ativa no momento da aplicação da
pesquisa, respondem questionário escrito, em tempo não estipulado pelas
pesquisadoras (professores mantidos em anonimato). Pesquisa enviada e
recebida por e-mail.
Questionário
contexto, experiências práticas (crenças) e interferência do
EaD no EP.
 1. Como você se sentiu ao se comprometer com o ensino de uma disciplina de
língua estrangeira a distância? Por quê?
 2. Como foi o início desse processo? Você enfrentou dificuldades de alguma
natureza?
 3. Você acha que o papel do professor difere no EP e no EaD?
 4. E o do aluno? (pense em questões como autonomia, responsabilidade,
comprometimento)
 5. Hoje, após dois anos de experiência em ensino a distância, você acha que
sua prática mudou?
 6. Se sim, você acha que essa experiência teve alguma consequência na sua
prática junto ao ensino presencial?
 7. E você acha que esse comprometimento, essa responsabilidade, essa
autonomia do aluno pode ser bem aproveitada no ensino presencial?
Contexto (sujeitos e EaD)
Perguntas:
 1. Comprometimento com o EaD
 2. Início do processo / dificuldades

Respostas:

 1. Processo de acomodação confortável, porém um pouco


receoso quanto à possibilidade de os alunos buscarem
ajuda externa.
 2. Preocupações relativas à dificuldade de explicar de
forma clara e ser compreendido (ausência de feedback).
Experiências práticas (crenças)
(sujeitos e EaD vs. EP)
Perguntas:
 3. Papel do professor no EP e no EaD
 4. Papel do aluno (aut., resp., compr.)
 5. Mudança de prática no EaD após 2 anos de experiência

Respostas:
 3A – Mesmo papel, mudança na forma de interação.
 3B – Professor tem papel mais central no EP (controla o processo ensino-
aprendizagem). Mudança de opinião quanto ao sucesso da modalidade – resultados
positivos - desconfiança com relação ao desempenho dos alunos (ajuda externa).
 4A e B – Aluno do EP demanda um professor centralizador e provedor de
conhecimento. No EaD, o modelo é diferente (maior resp., disc., aut. e compr.).
 5A e B – Antecipação de dificuldades e melhor entendimento acerca das
especificidades da modalidade (cursos de capacitação), com destaque ao feedback
sem geração de muitas mudanças na prática.
Interferência do EaD no EP
Perguntas:
 6. Experiência no EaD - conseqüência no EP
 7. Características do EaD – transferência para o EP

Respostas
 6A – Não, apesar de saber que algumas práticas podem contribuir para o ensino
presencial.
 6B – Não, são modelos distintos que demandam professores distintos (maior
realização na sala de aula presencial por conta da maior possibilidade de criatividade e
da proximidade com os alunos).
 7A – Sim, mas acredita que tais características só podem surgir a partir da
experiência dos alunos na modalidade a distância; ou seja, não cabe ao professor
instigar esse comportamento.
 7B – Seria ótimo, mas sente-se incapaz de efetivar essas qualidades nos alunos da
modalidade presencial de ensino por achar que os alunos não corresponderiam a esse
modelo mais autônomo e comprometido.
Conclusão
Os professores sujeitos desta pesquisa demonstram-se:
 resistentes em transferir sua postura não-centralizadora do
ensino a distância para a sala de aula presencial;
 resistentes em instigar, no aluno presencial, características
dos alunos da modalidade a distância, apesar de dizerem
acreditar que isso contribuiria para o processo ensino-
aprendizagem.

Mudanças socioculturais após a prática docente e discente não têm


acontecido.

Até que ponto os professores realmente acreditam que

? alunos (das duas modalidades) podem efetivamente


participar com seriedade, responsabilidade,
comprometimento etc. do processo, tornando-se
agentes ativos de seu aprendizado?

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