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4.

TUTELA
CAUTELAR
4.1. Conceito de tutela cautelar
4.1.1. Doutrina Ítalo-brasileira (“Escola de São
Paulo”), base em Piero Calamandrei
a) Processo cautelar visa a assegurar o “resultado útil” do processo
principal (processo do processo – “instrumento do instrumento”)

b) Proteção ao processo (defesa da jurisdição estatal) – caráter


acessório

c) Perigo na demora (perigo de tardança)

d) A “antecipação de tutela” era vista e ainda é (Bedaque) como


espécie de medida cautelar
Em suma:
 O processo cautelar visa a garantir, de forma provisória, o resultado útil do
processo principal
 CPC/1973, art. 796: “O procedimento cautelar pode ser instaurado antes ou no
curso do processo principal e deste é sempre dependente”
 O processo cautelar é um acessório do processo principal
 A chamada “tutela antecipada” é um tipo de medida cautelar
4.1.2. Doutrina de Ovídio A. Baptista da Silva
(base em Pontes de Miranda)
a) Tutela cautelar visa a assegurar o próprio direito subjetivo contra o
perigo de dano iminente (instrumentalidade simples)
b) Proteção temporária e autônoma a direito subjetivo
 Marinoni: referibilidade (tutela cautelar assegura outra tutela do direito)
c) Perigo de dano iminente e irreparável (perigo de infrutuosidade)
 Externo ao processo (nada a ver com o perigo na demora )
 Perigo na demora se relaciona à tutela de urgência (outra classificação)
 Distinto do perigo de ilícito (Marinoni: não confundir com tutela
inibitória - satisfativa)
d) Distinção entre tutela cautelar (assegurativa) e tutela antecipada
(satisfativa), que não são a mesma coisa (dicotomia)
Em suma:
 A ação cautelar visa a garantir, de forma temporária, a satisfação futura do direito
subjetivo
 O art. 796 do CPC/1973 é falso: o processo cautelar não precisa ser um acessório
do processo principal. Existem medidas cautelares autônomas.
 A chamada “tutela antecipada” é radicalmente distinta da tutela cautelar
4.2. Tutela cautelar: do Código Buzaid
ao novo CPC
4.2.1. Código Buzaid

a) Processo cautelar “era tudo”


b) Tudo o que era provisório (= não definitivo) era cautelar
 Não havia liminares no procedimento ordinário nem a previsão de uma tutela pura contra o
ilícito (inibitória geral) – art. 798 servia para tudo
c) 1 livro só para as cautelares (Liv III)
d) Tratamento analítico
 Parte geral das cautelares – regras gerais sobre procedimento cautelar
 Parte especial das cautelares – grande número de medidas específicas com procedimentos
próprios
 Algumas assegurativas e outras satisfativas (estrutura, não função)
e) Autonomia procedimental – procedimento próprio, distinto do procedimento principal
4.2.2. Código Reformado (CPC/1973 depois
das minirreformas)
a) Processo cautelar era “alguma coisa”
b) Instituição do art. 273 – divisão entre tutela cautelar de tutela antecipada
c) Primeiro separação radical (Ovídio), depois atenuada (Dinamarco, CAAO) pela
fungibilidade (273, § 7º)
d) Arts. 273 e 461 (TA) x Livro III (TC e TA)
 Purificação do Livro III – art. 798 só para medidas assegurativas
 Tutela antecipada genérica (incidental)
 Abertura para tutelas puras contra o ilícito (art. 461)
4.2.3. Novo CPC (L. 13.105/2015)

a) A tutela cautelar é “quase nada”


b) Tratamento sintético e confuso, junto com a tutela antecipada
 Mero elenco exemplificativo no art. 301, sem conceito, cabimento, procedimento
específico
 Cláusula geral assegurativa
c) Dentro do Livro V da parte geral
d) Medidas cautelares perderam autonomia procedimental
 Ou procedimento começa cautelar e se transforma em comum (antecedente)
 Ou medida cautelar é postulada dentro do procedimento comum (incidental)
4.3. Medidas cautelares em espécie
4.3.1. Arresto

a) Noção: apreensão de bens penhoráveis do provável devedor e sua entrega a um


depositário
b) Garantia da penhora
c) Assegura obrigação de pagar quantia (frutuosidade da execução por créditos)
d) “Falso”: art. 830 (arresto executivo ou pré-penhora) – sem natureza cautelar
(medida satisfativa)
e) Objeto: recai sobre qualquer bem penhorável (“qualquer coisa”)
f) Destino: conversão em penhora (não automática – novo ato)
4.3.2. Sequestro

a) Noção: apreensão de bens certos e determinados e sua entrega a um depositário


b) Garantia da integridade da coisa litigiosa
c) Assegura deveres de entregar coisas reais ou obrigacionais (frutuosidade da
execução para entrega de coisa)
d) “Falso”: art. 100 da CF – sem natureza cautelar (medida satisfativa)
e) Objeto: recai sobre coisas certas e determinadas (coisa litigiosa – “a coisa”)
f) Destino: entrega do bem ao vencedor
4.3.3. Arrolamento

a) Noção: apreensão de um conjunto indeterminado de bens e sua entrega a um


depositário, que elabora elenco dos bens aprendidos
b) Garantia do recebimento de uma parte de um patrimônio comum em face do
perigo de extravio, dissipação, ocultação, adulteração, alienação
c) Direito de Família e Sucessões; Direito da Empresa
d) “Falsos”:
 art. 381, § 1º: arrolamento probatório (só elenco, sem apreensão nem depósito)
 art. 659 e ss.: arrolamento sumário em matéria sucessória (satisfativo)
e) Objeto: conjunto indeterminado de bens (patrimônio, acervo, meação,
herança – “um monte de coisas”)
4.3.4. Protesto contra alienação de bens

a) Noção: manifestação formal de que alguém é contra a alienação de determinado


bem
b) Garantia de futura e eventual penhora ou pretensão à entrega de coisa
c) Medida de jurisdição voluntária a que o novo CPC atribuiu caráter contencioso e
cautelar – semelhante ao arresto e ao sequestro, mas sem apreensão, sem
depósito e sem restrição aos direitos do requerente
d) “Falso”: protesto cambial (L. 9.492/1997) – medida extrajudicial!
e) Pode se dar por meio de comunicação ao requerido, por editais (art. 726, §§ 1º
e 2º) ou mediante averbação na matrícula do imóvel
f) Destino dos autos: em tese, entrega ao requerente (art. 729)
4.4. Procedimento cautelar
4.4.1. Introdução

 Hoje, não há mais um procedimento autônomo para as medidas cautelares


(acabou o “tertium genus”?)
 Ou procedimento cautelar é etapa preliminar do procedimento comum
(procedimento da tutela cautelar antecedente – diferente do procedimento da
tutela antecipada antecedente): 2 etapas
 Ou medida cautelar é requerida dentro do procedimento comum (procedimento da
tutela cautelar incidental – sem peculiaridades em relação ao procedimento geral
da tutela de urgência)
 Permanece o problema das medidas cautelares procedimentalmente
autônomas (ex.: asseguração de prova), ignoradas pelo novo CPC, cuja
existência foi demonstrada por Ovídio
4.4.2. Procedimento da tutela cautelar
antecedente (arts. 305-310)
a) Petição inicial: art. 305

 Causa de pedir e requisitos da tutela de urgência


 Conjugação com art. 319
 Jurisprudência entende necessária atribuição do valor da causa (e pagamento das
custas)
 “Indicação” do pedido principal?

b) Despacho da inicial
c) Justificação prévia ou liminar: art. 300, § 2º

d) Citação do réu: 306 (qualquer meio, a princípio)

e) Prazo para contestação: art. 306 (apenas 5 dias) foco na medida cautelar com
possibilidade de alegação da pretensão principal (contestação 1)

f) Revelia: 307, caput


g) Instrução probatória: 307, parágrafo único

h) Decisão (não aparece no CPC): juiz teria de julgar o pedido de tutela cautelar,
mediante aprofundamento da cognição, confirmando ou revogando a liminar,
com aptidão para a formação de coisa julgada material

i) Efetivação da medida: requerente tem de adotar providências para viabilizar


execução em 30 dias (309, II)
j) Ajuizamento da ação principal (“pedido principal”)

 Pedido de tutela satisfativa (novas causa de pedir e pedido – 308, § 2º)


 Exemplos: cobrança da dívida; execução crédito; entrega da coisa
 Prazo: 30 dias, contados da data da efetivação da medida cautelar (308, caput e 309, I)
 Nos mesmos autos (semelhante ao “aditamento” do art. 303, § 1º, I)

k) Regra dos 30 + 30
l) Se requerente não cumprir: art. 309 + Súmula 482 STJ

m) Prosseguimento de acordo com procedimento comum

 Intimação (não citação) para audiência do art. 334, se for o caso


 Contestação à ação principal (contestação 2)

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