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A inserção feminina

Cecilia L Queirós Mattoso – UNESA – MADE


Antonio Alberto Carmona P. Barros – UNESA –
MADE

na tribo do Jui-jitsu
Lorena Meyer Campos – UNESA – MADE
Mayara Haddad Borges – UNESA – MADE
Pergunta de pesquisa:
Sendo o jiu-jitsu um esporte, em
sua origem, essencialmente
masculino, o presente estudo
buscou entender como se dá a sua
adoção pelo público feminino?
Especificamente:
• Como se dá a construção do gênero feminino dentro de um
contexto historicamente masculino como o BJJ?
• Como fica hoje a visão feminina da masculinidade e
violência?
• As mulheres assimilam a masculinidade como atributo
desejado para lutar?
• Está havendo uma dissolução de fronteiras de gênero?
• Na construção social o gênero feminino ainda é visto como
inferior? Como ele é visto no BJJ?
• Novos significados de gênero estão surgindo?
• Que transposições de obstáculos e motivações para a
prática do esporte pelo público feminino podem ajudar às
academias a conseguirem novas adeptas ao esporte?

Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-SA


Referencial teórico
A construção de gênero e o esporte:

Bourdieu (2001) fala do potencial do esporte para a subversão dessa


dominação masculina.
O conceito de gênero não é fixo e as pessoas não são aquilo que foram
previamente determinadas (CHANNON, 2014).
Processo é chamado de doing gender (WEST; ZIMMERMAN, 1987).
A integração de gêneros nas artes marciais podem ajudar na
desconstrução de gêneros trazendo mais igualdade social (CHANNON,
2014).
Três movimentos sociais feministas atuais: Terceira Onda do Feminismo;
Pós Feminismo; Neoliberalismo Feminino (COCCA, 2014; GILL, 2007;
ROTTENBERG 2014; PRÜGL, 2015).
Referencial teórico
Feminismo e esporte:
Roth e Basow (2004) ressaltam a participação de mulheres nos esportes
como uma libertação feminista baseada em físico, mais respeito, poder e
confiança. As mulheres não são mais fracas que os homens.
“Como mais mulheres tornam-se treinadas, diferenças físicas entre
homens e mulheres provavelmente se tornarão menos óbvias” (MCCAUGHEY,
1997, pag.84).
Para Lawler (2002) a participação em esportes de combate pode ser um
desafio deliberado de estereótipos de gênero.
“Nas artes marciais podem ser desfeitas visões sociais sobre a
segurança das mulheres, fornecendo mensagens de oposição às normas
dominantes (NOEL, 2009, pag. 35).
No wrestling, por exemplo, as lutas femininas eram vistas como “show
de aberrações”, uma vez que as mulheres eram vistas com imprevisíveis e de
emocionalmente instáveis (OPPLINGER, 2003).
Para Quinney (2016) não há distinção entre faixa preta feminino ou
masculino.
Método de
investigação

As evidências foram coletadas


mediante observações, entrevistas
semiestruturadas ou informais, e
também foram analisados textos e
fotos do Instagram retirados de
comunidades femininas de Jiu-jitsu.

Esta Foto de Autor Desconhecido está licenciado em CC BY-ND


Análise dos Resultados

Tabela 1: Perfil dos Respondentes

Estado Tempo de
Entrevistada Idade Civil Filhos Profissão Esporte Prática
1 27 solteira 0 Psicologa Jiu Jitsu 2 anos
Empresária e
2 35 Casada 2 Professora BJJ Jiu Jitsu 15 anos
Muay
3 36 separada 1 Tradutora Thai 2 anos
4 40 Casada 2 Médica Jiu Jitsu 8 meses
Análise dos
Resultados

Significado de feminino na luta = Pós


feminismo
“Feminista é ser uma pessoa que defende o espaço da
mulher, defende características das mulheres, etc. Luta por
valores e direitos. É uma posição mais politizada. É
diferente de ser feminina, que tem mais a ver com a
vaidade, em se cuidar, a forma como se coloca, como fala,
tem a ver com o charme”.
Análise dos Resultados
Significado de feminino na luta = Pós
feminismo
A visão de que ser feminina é também cuidar da
estética é reforçada pela análise dos grupos do
Instagram: Jiujuteiras, Jui-jitsu para mulheres e
Marrentas BJJ. O quimono rosa, a gravidez,
etc...mostrando que é possível ser marrenta na
luta e vaidosa.
Novos ideais de beleza: juntar
antigos estereótipos do feminino
(maquiagem), ao lado de antigos
estereótipos do masculino (ser musculoso)
Um corpo musculoso não é algo amplamente desejado, mas não é negativo, ou
exclusivo do masculino, dá para ser musculosa e feminina.
Análise dos Resultados
Ter ou não ter que assimilar aspectos da masculinidade
para ser respeitada na luta
“Em todos os esportes acontece o fato de que a testosterona é
estimulada pelo esporte, é um hormônio masculino, mas não acho
que seja por causa da performance da luta. Acho que é algo natural.
Querer ter mais força, aguentar mais a dor, a sociedade diz que é
masculino, mas não acho que seja necessariamente masculino. Eu
treino jiujitsu e eu consigo manter meu lado feminino, não tem
relação nenhuma, o BJJ e ser masculino” – E1 Psicologa – 27 anos.
“ Na época que eu entrei sim, tinha preconceito em mulher lutar.
Era muito masculino. Mas mudou muito. [...] agora disseminou
mais, já tem mais mulheres, é uma coisa menos preconceituosa.
Antigamente você não via muita menina. Judô tinha, sempre
teve. ...Elas não perdem o feminino, fazem trancinha, quimono
rosa”. – Entrevistada 2
Análise dos Resultados
Luta gera igualdade ou não?
A mulher é vista como mais frágil fisicamente, mas isso não é percebido como
inferioridade, vem seguido de outras vantagens como mais resistência. Ao mesmo
tempo corroboram a ideia de que elas se sentem mais seguras e empoderadas. A
luta mista é vista como inviável pelas entrevistadas, elas reconhecem seus limites.
Análise dos Resultados
Luta gera igualdade ou não?
A mulher é vista como mais frágil fisicamente, mas isso não é percebido como
inferioridade, vem seguido de outras vantagens como mais resistência. Ao mesmo
tempo corroboram a ideia de que elas se sentem mais seguras e empoderadas. A
luta mista é vista como inviável pelas entrevistadas, elas reconhecem seus limites.
Análise dos
Resultados
Luta gera igualdade ou não?
A mulher é vista como mais frágil
fisicamente, mas isso não é percebido
como inferioridade, vem seguido de outras
vantagens como mais resistência. Ao
mesmo tempo corroboram a ideia de que
elas se sentem mais seguras e
empoderadas. A luta mista é vista como
inviável pelas entrevistadas, elas
reconhecem seus limites.
Análise dos
Resultados
Motivadores p as mulheres adotarem o
BJJ
A questão da defesa e do empoderamento
aparecem claramente.
A parte intelectual, da estratégia, é pouco
explorada, mas é um diferencial único do Jiu-
jitsu.
Análise dos Resultados

Motivadores p as mulheres adotarem o BJJ


Buscar namorado:
“Elas entravam e logo estavam no grupo da zap e
ficavam se metendo, falando muito, aí os caras
não gostavam. Não dava muito certo, ... vão
dando muita abertura, tirando foto,
atrapalhando... “
“Mulher nhenhem não fica”.
Análise dos Resultados
Barreiras para praticar BJJ
• Ambiente masculino;
• Esporte de contato físico total, desconstrução do socialmente
aprendido;
• O desconhecimento do esporte pode ser uma barreira para que as
mulheres não pratiquem.
"violência é uma forma em que a vulnerabilidade humana é exposta a
outros seres humanos, [...] pela qual somos entregues, sem controle,
para a vontade do outro, uma forma pela qual a própria vida pode ser
extinta pela ação intencional de outro” (BUTLER, 2004, p.22).

“o boxe não é violento, porque "a violência é coercitiva por definição; é


feito para alguém contra sua vontade, enquanto que, no box, você
Significado entra no ringue voluntariamente" (HERN, 2013, p.26).

de
masculinidad O técnico de MMA Kavanagh (2016): “a violência é inerentemente ruim,
porque não é acordada consensualmente. Esportes de combate e artes
e e violência marciais não são ruins; portanto, o MMA não é violência”.

A luta tem regras, tem ganhador e perdedor e não vítimas como num
assalto.
Significado de
masculinidade e violência
As entrevistadas também acham que a onda de associações
de BJJ com brigas mudou muito e que hoje a imagem é outra.
“[...]Hoje em dia profissionalizou, até porque muita gente vive
disso. A academia não quer ter uma imagem negativa. Antes,
eu fui lá briguei, então eu sou bom, chamava atenção. Agora
não, é queimação”. – Entrevistada 2
Igualdade de gênero ou diminuição dos estereótipos

Ana Hissa, Jornalista do SporTV e do Canal Combate e especialista em lutas marciais,


declarou que melhorou muito a maneira como as pessoas enxergam a mulher no
mundo da luta. Segundo ela, antes você tinha um tabu de que mulher que trabalha
com luta é bruta. No Invicta, no MMA ou BJJ, as meninas provaram que elas podem
ser o que elas quiserem. Elas podem ser femininas, podem ser meninas que não
são tão femininas. A luta é um esporte como qualquer outro e o perfil da mulher
que faz luta independe da aparência, a capacidade dela é o que importa.
Igualdade de gênero ou
diminuição dos estereótipos
A distinção continua existindo, mas não
de forma pejorativa ou com uma visão
diminuída da mulher. A questão é vista
como biológica, pode-se treinar muito,
mas o homem é fisicamente mais forte.
Um avanço constatado é que não é mais
necessário copiar o homem, é o pós-
feminismo, onde pode-se atribuir o
sucesso as características delas, ao invés
de somente defender o sexo feminino e
igualdade de gêneros (GILL; SCHARFF,
2002).
Conclusão
Dentro do jiu-jitsu a construção do gênero feminino se deu mantendo
características historicamente femininas, como a vaidade e a beleza,
mas mudando a visão de fragilidade.
O olhar desse novo feminino reconhece que biologicamente elas têm
menos força, mas não são frágeis, são empoderadas e mais seguras.
A luta por um espaço parece não ser mais necessária, então a mulher
pode ser o que ela quiser. As mulheres não precisam buscar ser
masculinas para serem respeitadas, mas podem ser se assim o
desejarem.
Conclusão
A secular doutrinação de que a mulher é inferior não tem adesão nas lutadoras
entrevistadas. A mulher que domina a técnica da luta passa a ser respeitada pelas
mulheres e pelos homens. Ela aprende uma nova forma de inserção, a do respeito
advindo da técnica e da disciplina no esporte e por meio disto se empodera.

As fronteiras de gênero não se dissolveram, pois existe um desejo de expressar o


feminino, mas essa expressão é livre. Tal qual na Terceira Onda do Feminismo,
defendem a diferença, a multiplicidade, complexidade e as atitudes livres, sem
restrição do sexo feminino (COCCA, 2014; FERNANDES, 2010). Não são mais
atributos inconscientemente absorvidos da sociedade, mas livremente escolhidos.
Conclusão
O esporte parece ter de fato
empoderado as mulheres e ter sido um
forte agente de mudanças. As praticantes
têm corpos bem trabalhados que trazem
força e poder, elementos importantes do
movimento Pós Feminismo.
Muito
obrigada!

Dúvidas?

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