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Faculdade de Psicologia

Órbita: Orientação Profissional e de Carreira


Profª Luana Santiago

Planejamento de avaliações em processos de


orientação profissional de carreira

AMBIEL, Rodolfo A.M. et al. (Orgs.). Avaliação em Orientação Profissional e de Carreira: Fundamentos, planejamento e
aplicações. São Paulo: Hogrefe Editora, 2023.
Planejamento de avaliações em processos de Orientação
Profissional e de Carreira

• O campo da OPC passou por significativas alterações e continua em constante


evolução relacionada às mudanças no mundo do trabalho.

• A OPC foi acompanhando mudanças, como o surgimento de novas ocupações e


a extinção de outras, o impacto da tecnologia na comunicação, a globalização e
outros fenômenos que exercem influência sobre como o trabalho é executado.

• O uso de instrumentos foi por muito tempo o principal meio utilizado nesse
formato de orientação, buscando-se um encontro entre as características da
pessoa e as características do trabalho.
Planejamento de avaliações em processos de Orientação
Profissional e de Carreira
• As teorias do traço e fator tinham como principal objetivo a identificação das
características do orientando por meio dos testes, e o resultado da OPC era
exatamente a geração desse perfil e a indicação de profissões compatíveis com
ele.

• No século XX a utilização dos testes psicológicos passa a ser menos frequente, e


o foco na obtenção de um perfil psicológico passível de comparação com as
características das profissões deixa de ser prioritário.

• Iniciam-se então as intervenções com foco no processo de escolha, tornando a


intervenção não diretiva.
Planejamento de avaliações em processos de Orientação
Profissional e de Carreira

• Com enfoque no processo de escolha (e não no resultado), a avaliação


psicológica é vista como uma aliada para o levantamento de informações e o
planejamento da OPC.

Apesar das mudanças nos paradigmas de OPC,


as ferramentas utilizadas (testes psicológicos,
questionários, entre outros) são até hoje úteis
para a realização desse processo.
O início do processo: O levantamento de demanda

Para planejarmos a realização de avaliações no contexto das intervenções de


carreira, precisamos de algumas informações iniciais:

• Público-alvo da intervenção
• Motivo declarado para a busca do serviço
• Informações pessoais para a “ficha de inscrição”

A entrevista inicial permitirá coletar informações preliminares sobre o cliente e a


demanda, de modo a viabilizar o planejamento da intervenção.
O início do processo: O levantamento de demanda

1. Quais são as características


do público que atenderei?
Disponho de informações
Idade, gênero, escolaridade, prévias?
“queixa” ou demanda, outras
informações prévias
disponíveis.
O início do processo: O levantamento de demanda

• Caracterização inicial dos clientes e


da sua demanda.

• Estabelecimento do contrato de
2. Entrevista inicial
trabalho.

• Quais são as expectativas dos


clientes quando aos resultados do
processo?
O início do processo: O levantamento de demanda

• O que irei avaliar?

• Quais são as ferramentas


3. Planejamento da avaliação
disponíveis para avaliar esses
fenômenos?

A partir dos dados coletados, é possível • De quanto tempo disponho?


avançar no planejamento da intervenção e
da avaliação.
O início do processo: O levantamento de demanda
Considerando as informações que devem ser obtidas no início do processo,
devemos buscar responder às seguintes questões:

• O cliente possui alguma característica específica que deve ser considerada no


planejamento da intervenção e avaliação?

• Quantas sessões terei disponíveis para atuar com os clientes?

• A intervenção será feita de forma individual ou em grupo?

• É necessário/pertinente realizar uma avaliação de forma sistemática?

• O que será possivelmente avaliado, considerando as características do público-


alvo e da demanda apresentada?
O início do processo: O levantamento de demanda

Com base nessas informações, temos a possibilidade de começar a estruturar o


planejamento da avaliação.

Avaliação e intervenção devem ocorrer de maneira integrada (ao avaliarmos


também estamos intervindo. Os resultados da intervenção vão repercutir na
avaliação).

LEMBRANDO QUE:
Para a realização de avaliação psicológica, independente do contexto de
aplicação, a coleta de informações deve se dar por meios de fontes variadas
(entrevistas, testes, observação, fontes complementares...) e devem-se
efetuar a síntese, comparação e integração dos resultados obtidos por meio
das variadas estratégias
O início do processo: O levantamento de demanda

Para cada sessão, é importante que o(a) psicólogo(a) tenha clareza dos objetivos e
dos procedimentos que pretende adotar, de modo a otimizar seu tempo.

É importante fazer o questionamento: “Por que é pertinente avaliar essa


característica com o cliente que estou atendendo?”

O(a) psicólogo(a) deve conhecer teorias de carreira e refletir sobre os diferentes


estágios de desenvolvimento de carreira, de modo a auxiliar que a pessoa
desenvolva recursos para lidar com as transições de carreira e/ou processos de
tomada de decisão.
O início do processo: O levantamento de demanda

Quando se tenta caracterizar a situação vivenciada pelo cliente, é possível


identificar e planejar quais aspectos devem ser avaliados.
Proposta de organização de avaliação com público adolescente

SESSÃO 01

OBJETIVOS: PROCEDIMENTOS:
• Verificar demandas; Realizar entrevista inicial semiestruturada,
com foco em aspectos como trajetória
• Estabelecer contrato de trabalho; acadêmica, relacionamento familiar, rotina,
entre outros.
• Conhecer o contexto em que a
demanda está inserida;

• Levantar as expectativas para o


atendimento.
Proposta de organização de avaliação com público adolescente

SESSÃO 02

OBJETIVOS: PROCEDIMENTOS:
Avaliar influências para a escolha • Aplicar a Escala de Maturidade para a
profissional e o nível de maturidade Escolha Profissional – EMEP (Neiva,
para a escolha. 2013);

• Exercício escrito sobre influências para a


escolha profissional
Proposta de organização de avaliação com público adolescente

SESSÃO 03

OBJETIVOS: PROCEDIMENTOS:
Discutir resultados sobre a • Usar teste psicológico para avaliar
maturidade para a escolha, os interesses profissionais;
interesses profissionais e o mundo do
trabalho • Discutir sobre os passos que devem ser
dados fora do consultório para ampliar
o autoconhecimento e o conhecimento
sobre o mundo do trabalho.
Proposta de organização de avaliação com público adolescente

SESSÃO 04

PROCEDIMENTOS:
OBJETIVOS:
• Adotar recurso lúdico para abordar os
• Buscar informações sobre o
critérios utilizados para a escolha;
mundo do trabalho e as profissões
de interesse;
• Discutir os processos de escolha que
• Discutir critérios de comparação ocorrem ao longo da vida e em vários
contextos;
de opções.
• Abordar as melhores estratégias de
busca de informações para que elas
possam ser usadas em ocasiões futuras.
Proposta de organização de avaliação com público adolescente

SESSÕES 05 e 06

OBJETIVOS: PROCEDIMENTOS:
Avaliar a personalidade e a Usar testes psicológicos para avaliar
inteligência personalidade e inteligência
Proposta de organização de avaliação com público adolescente

SESSÃO 07

OBJETIVOS: PROCEDIMENTOS:
Encerrar o processo e oferecer • Fornecer devolutiva verbal e por escrito
devolutiva. dos resultados do processo de avaliação
psicológica;

• Planejar os próximos passos com o


cliente.
O início do processo: O levantamento de demanda
Vários aspectos devem ser considerados quando se utiliza uma proposta
semelhante, entre eles:

• Os aspectos-alvo dessa avaliação são pertinentes a esse cliente em específico?

• Essas etapas permitirão que o cliente desenvolva mais maturidade para a


tomada de decisão?

Obter esse tipo de informação pode ser interessante, mas não necessariamente os
clientes estarão prontos/aptos para utilizá-las em seus processos de escolha.

Devemos ter sensibilidade e flexibilidade para planejar e replanejar a intervenção


e a avaliação conforme nossas hipóteses são testadas ao longo das sessões.

Não buscar “receitas-prontas”!


O que e por que avaliar: escolhendo as ferramentas certas

Antes de descobrirmos como avaliar, precisamos saber o que e porque avaliar.


Sabendo disso podemos avançar na escolha de ferramentas.

Nesse processo de escolha de instrumentos, há alguns critérios que podem


auxiliar na resposta do que e por que avaliar:

1- Construto que será avaliado – É necessário que o(a) psicólogo(a) tenha clareza da
relevância, da possibilidade e do conhecimento do que ele pretende avaliar, para
então selecionar o instrumento mais adequado.

2- Público em que se dará tal avaliação – A OPC tem se estendido ao longo da vida,
não sendo mais algo restrito apenas do adolescente estudante do ensino médio. É
necessário considerar quem vamos avaliar.
O que e por que avaliar: escolhendo as ferramentas certas

3- Atentar-se ao formato do instrumento/técnica – Verificar o formato de resposta,


o tipo de instrumento (estruturado ou menos estruturado), o contexto em que se
dará a avaliação (aplicações individuais, grupais, em ambiente escolar, clínica, etc),
o tempo que se terá para a aplicação, entre outras questões.

4- Atenção para as qualidades psicométricas dos testes que serão utilizados –


Estudos de validade e de precisa.

5- Habilidades do(a) psicólogo(a) para aplicar tal instrumento.


 Validade
 Precisão
 Padronização
 Normatização
Os parâmetros psicométricos dos testes psicológicos não são meras formalidades
técnicas, mas dados que objetivamente informam ao profissional quais decisões ele
pode ou não pode tomar com base nos resultados de um instrumento.
Diz respeito ao grau em que as pontuações obtidas em um
teste são livres de erros de medida.

Precisão O termo fidedignidade sugere confiabilidade.


Baseia-se na consistência e precisão dos resultados no
processo de mensuração.

É o grau em que as interpretações propostas para os


resultados (escores) de um teste são suportadas pela
teoria e por evidências verificadas a partir de dados de Validade
pesquisa, vinculadas aos usos propostos de um teste
(contextos).
Cuidados e a preparação necessária que o psicólogo
deve ter antes e durante a aplicação de um
instrumento com evidências de validade. Ela envolve
Padronização desde as instruções do instrumento, questões
relativas ao ambiente, características do avaliador,
do próprio testando.

A normatização diz respeito à interpretação dos


resultados, ou seja, à forma como os resultados de
um teste devem ser compreendidos. Entende-se que
resultados brutos de um teste só irão adquirir sentido
Normatização
quando contextualizados.
O que e por que avaliar: escolhendo as ferramentas certas

Caso haja mais de um teste aprovado para avaliação do fenômeno-alvo, o que


o(a) psicólogo(a) deve fazer?

R= Refletir sobre as características como: estudos de validade e precisão, referencial


teórico, faixa etária recomendada, tempo de aplicação, custo, demanda a ser
atendida, etc.

Com base nisso, é possível decidir quais instrumentos são mais adequados para uso
com aquele cliente em específico.

Além dos testes psicológicos, existem uma série de jogos e atividades lúdicas
comercializadas por editoras de psicologia e educação que podem ser utilizados
como recursos interventivos e educativos.
O que fazer com os resultados das avaliações?

Realizou o processo de É necessário trabalhar com as


avaliação? informações levantadas

As avaliações realizadas durante os processos de OPC podem gerar relevantes


informações a respeito do cliente, de suas características e aptidões, entre outros
dados.

Os resultados obtidos por meio dos instrumentos poderão ser aproveitados tanto para
planejar o avanço das sessões como (e principalmente) para obter informações
relevantes sobre o funcionamento da pessoa.
O que fazer com os resultados das avaliações?

• As informações levantadas com a avaliação no contexto de OPC também podem


gerar dados sobre a eficácia das intervenções.

• A comparação dos dados obtidos por diferentes estratégias é algo que também
deve ser considerado quando se realiza o processo avaliativo.

Por exemplo: Na entrevista inicial o adolescente relata o quanto está engajado nos
processos de escolha profissional e busca de profissões. Isso pode ser comparado
com o seu desempenho em um instrumento que avalia autoeficácia para escolhe
profissional (o quanto a pessoa acredita em sua capacidade).
O que fazer com os resultados das avaliações?

• Na prática da avaliação em OPC, analisar os resultados de diferentes


ferramentas de forma integrada poderá render informações pertinentes sobre o
processo e o próprio cliente.

• Os resultados decorrentes da avaliação psicológica no contexto de OPC podem,


dessa forma, ser de grande importância para o processo de OPC como um todo.

• Os dados obtidos com tal procedimento devem ser tratados conforme a ética
profissional e utilizados exclusivamente para os objetivos do atendimento.
É recomendado que o(a) psicólogo(a) esteja sempre
atento aos cuidados necessários para a realização de
uma atuação cientificamente fundamentada e ética na
área, de modo a gerar os benefícios individuais e sociais
que esse tipo de intervenção pode proporcionar.

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