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CMI EM CONCRETO

DE SISTEMAS DE
ESGOTAMENTO
SANITÁRIO

Marina Clara Davi Guimarães


CONCRETO &
ESGOTO
• 40% da infraestrutura de saneamento dos EUA é
de concreto;

• ETE Jaguaribe (Natal/RN) com mais de 20 mil


m³ de concreto.

• R$ 7,35 bi investidos em sistemas de


esgoto no Brasil em 2021.

ETE JAGUARIBE – NATAL/RN


Deep Tunnels
Sewage System
Singapura

• Duas fases, de 2000 a 2026;


• Investimento de U$ 10 bilhões;
• Expectativa de vida de 100 anos;
• 40 km de extensão e até 6m de
diâmetro.
• Objetivo de interceptar, armazenar e transferir os efluentes sanitários;
• Comprimento de 25 km e diâmetro de até 7,2m;
• Construído sob o Rio Tâmisa.

Thames Tideway
Reino Unido
CORROSÃO MICROBIOLOGICAMENTE
INDUZIDA (CMI)
• Por estarem expostas a agentes agressivos, as estruturas de concreto podem sofrer deterioração total ou
parcial ao longo do tempo, o que irá interferir em sua durabilidade e desempenho (PINHEIRO, 2003).
• Os danos causados podem ser de origem puramente química, ou os agentes químicos podem surgir de
atividade microbiológica, resultando em uma deterioração conhecida como corrosão
microbiologicamente induzida (CMI) (GÓIS, 2016).
• As estruturas de concreto de SES são calculadas para ter uma expectativa de vida útil de 100 anos ou
mais (WU et al., 2020).
• Porém, em casos extremos essa expectativa pode ser reduzida para 10 anos ou menos (JENSEN, 2009).
Desarenador da ETE Feu Rosa (ES) com CMI

Fonte: Góis (2016).


Reator UASB da ETE Feu Rosa (ES) com CMI

Fonte: Góis (2016).


Ilustração esquemática dos principais eventos envolvendo CMI
no concreto exposto a esgoto

Fases da CMI no concreto


1 - Formação de sulfeto de hidrogênio na solução (H 2S(aq));
2 - Liberação e acumulação do H2S(g);
3 - Geração de ácido sulfúrico (H2SO4);
4 - Deterioração do concreto.
1 - Formação de H2S(aq)
2C + 2H20 + SO4-2 BRS
H2S + 2HCO3-
• Ambiente rico em compostos de
enxofre e matéria orgânica; Formação do biofilme bacteriano

• O SO₄²⁻ é reduzido a H2S(aq) por


bactérias redutoras de sulfato (BRS)
• Reações ocorrem principalmente nos
biofilmes, abaixo da linha d’água.

Fonte: Góis (2016).


2 - Liberação e acumulação do H2S(g)
H2S sendo liberado e transformado em H2SO4 por BOE
em um tubo de esgoto de concreto
Depende de fatores como:
• pH do esgoto (+);
• Condições de equilíbrio entre as fases;
• Temperatura;
• Efeitos mecânicos (+);
• Presença de metal (ferro, cobre e
chumbo).
3 - Geração de ácido sulfúrico (H2SO4)
H2S sendo liberado e transformado em H2SO4 por BOE
em um tubo de esgoto de concreto

• O H2S acumulado no sistema é oxidado


pelas bactérias oxidantes de enxofre
(BOE) a H2SO4 (JOORABCHIAN,
2010);

• O H2SO4 concentra-se nos poros do


concreto, causando uma deterioração
responsável pela redução da vida útil
(GÓIS, 2016).
4 - Deterioração do concreto
• Devido à composição química, o concreto preparado com CP é suscetível à degradação
quando exposto a condições ácidas;

• O H2SO4 gerado por BOE reagirá com os produtos de hidratação do cimento.


Dissolução do hidróxido de cálcio

CA(OH) 2 + H2SO4 CaSO2 + 2H2O


Descalcificação do silicato de cálcio hidratado

CaO . SiO2 . + 2H2O + H2SO4 CaSO2 + Si(OH) 4 + 2H2O


4 - Deterioração do concreto
Ataques por sulfato
• hidróxido de cálcio (Ca(OH)2)+ sulfato + água gipsita
Expansão volumétrica de 120 a 220%

• aluminato tricálcico (C3A) + gipsita + água monossulfato

+ gipsita + água → etringita


Expansão volumétrica de 227% a 700%.
Estrutura e características do concreto com CMI: (a) ilustração
esquemática das diferentes zonas da camada de corrosão (Ett. para
etringita); (b) À esquerda: uma imagem por microscopia eletrônica de
varredura (MEV) mostrando a transição (linha vermelha) de uma
zona fortemente deteriorada no lado esquerdo para uma menos
alterada no lado direito, onde há gipsita (Gp) recém-formada; À
direita: Uma segunda imagem MEV mostrando a morfologia de 4 - Deterioração do
gipsitas recém-formadas.
concreto
• Apenas uma quantidade limitada de
etringita se formará em seções mais
profundas do concreto, quando o pH
for suficientemente alto e uma
quantidade adequada da gipsita puder
se mover para o concreto.
• A etringita não consegue sobreviver em
um ambiente ácido pH > 10,6.
(a) Gráfico de quantidade de aglomerantes (Cimento GU10, Metacaulim
e Cal) em Kg/m³ por diferentes traços de concreto; (b) Corpos de prova
submetidos a 4 semanas de exposição a uma solução de 7% de ácido
sulfúrico.

A superfície externa
do concreto
• Produtos como hidróxido de cálcio (Ca(OH)2),
silicato de cálcio hidratado (C-S-H) e agregado
de calcário são forças neutralizantes que podem
ajudar a proporcionar ao concreto uma melhor
resistência contra a corrosão ácida
• Além das vantagens econômicas e ambientais
de substituir parcialmente o cimento comum
por cal, esse aditivo mineral tem a capacidade
de neutralizar e reduzir o pH de áreas ácidas
próximas à superfície de amostras de concreto.
Fatores que influenciam na CMI
Fatores de primeira ordem que influenciam na CMI do concreto de estruturas de esgotamento sanitário.

Classificação Diretamente proporcional Inversamente proporcional N.A.

Características do
Quantidade de sulfato, demanda bioquímica Oxigênio dissolvido, pH -
esgoto
de oxigênio (DBO), temperatura

Condições do Umidade relativa, temperatura atmosférica


- -
ambiente

Fator a/c, materiais


Propriedades do
- Alcalinidade, geopolímeros cimentícios suplementares,
concreto
porosidade

Microorganismos BRS, BOE - Outros microorganismos

Hidráulica e Turbulência, velocidade, tempo de


Condições de ventilação -
geometria retenção , condições de ventilação

Fonte: Góis (2016)


Métodos de medição da CMI
Métodos de medição da CMI no concreto, suas vantagens e desvantagens.
Método Vantagem Desvantagem
Monitoramento Fornece facilmente indicador da progressão da corrosão, pois o
É insensível para condições avançadas de corrosão, pois o
do pH da decréscimo do pH da superfície varia de acordo com a
decréscimo do pH da superfície para quando atinge cerca de 2
superfície severidade da corrosão
Demanda anos de monitoramento e não permite o monitoramento
Pode ser diretamente relacionada com a taxa de corrosão e contínuo de uma única amostra, pois é necessário eliminar os
Perda de massa
avaliar a vida útil produtos da corrosão. Só é possível em concretos em condições
severas de corrosão
Pode fornecer informações qualitativas do processo de
corrosão, além da caracterização dos mesmos através de
Análise de
diversos métodos como: análises químicas por fluorescência de
produtos de Geralmente não fornecem informações quantitativas da corrosão
raios-X, espectroscopia de fotoelétrons excitados por raios-X e
corrosão
análise de imagens por Microscópio Eletrônico de Varredura
(MEV)
É difícil, demorada, cara e não pode fornecer informações
Analisa o progresso da CMI no concreto a partir do
quantitativas, somente dados qualitativos do processo de
Análise monitoramento da atividade microbiana, que muda à medida
corrosão. Alguns autores acreditam que os resultados são
microbiológica que a corrosão progride. Pode permitir uma modelagem do
limitados e não detalhados, não havendo uma correlação
processo de corrosão.
satisfatória

Fonte: Góis (2016)


Considerações finais
O entendimento da CMI ainda Dificuldade em realizar A maioria dos métodos
é por correlações empíricas, métodos quantitativos e empregados são qualitativos e
que nem sempre conseguem contínuos de monitoramento possuem limitações quanto ao
produzir com precisão os da taxa de corrosão dessas custo, aplicabilidade e
processos reais. estruturas. duração.

Implementar práticas de
Pesquisas contínuas e
manutenção preventiva e Compreensão aprofundada dos
desenvolvimento de materiais
estratégias de proteção mecanismos envolvidos.
mais resistentes.
adequadas.
Referências
COSTA, R. M. Análise de propriedades mecânicas do concreto deteriorado pela
ação de sulfato mediante utilização do UPV. Universidade de Minas Gerais, Belo
Horizonte. Tese de Doutorado. 246 p., 2004.

DAVIS, Jeffrey L. et al. Analysis of concrete from corroded sewer pipe. International
Biodeterioration & Biodegradation, v. 42, n. 1, p. 75-84, 1998.

GÓIS, Thaís. Estudo da corrosão do concreto microbiologicamente induzida


(CCMI) em estruturas de saneamento. Universidade Federal do Espírito Santo,
Vitória. Dissertação de mestrado. 164 p., 2016.

JOORABCHIAN, Seyed M. Durability of concrete exposed to sulfuric acid attack.


Ryerson University, Toronto, 2010. Disponível em:
https://rshare.library.torontomu.ca/articles/thesis/Durability_of_concrete_exposed_to_
sulfuric_acid_attack/14654622/1/files/28136442.pdf
.

KAEMPFER, W.; BERNDT, M. Estimation of service life of concrete pipes in sewer


networks. Durability of Building Materials and Components, v. 8, p. 36-45, 1999.

WU, Min. Microbiologically induced corrosion of concrete in sewer structures: A


review of the mechanisms and phenomena. Construction and Building Materials,
Abril, 2020, v. 239, p. 117813. Disponível em:
https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0950061819332660.

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