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TRATAMENTO DE SOLOS COM CAL

E/OU COM LIGANTES HIDRÁULICOS

Aplicação na realização de aterros e de


camadas de leito do pavimento
TRATAMENTO DE SOLOS COM CAL E/OU COM LIGANTES HIDRÁULICOS
Aplicação na realização de aterros e de camadas de leito do pavimento

Parte A
Noções gerais relativas à técnica de tratamento de solos com cal ou ligantes
hidráulicos (aterro e leito do pavimento)

Parte B
Aplicação do tratamento de solos na construção de aterros

Parte C
Aplicação do tratamento de solos na construção de camadas de leito do
pavimento: estudos; técnicas e equipamentos de construção; garantia da
qualidade.
Parte A
Noções gerais relativas à técnica de tratamento de solos
com cal ou ligantes hidráulicos (aterro e leito do pavimento)

• Propriedades dos solos significativas tendo em vista o seu


tratamento.
• Características dos diferentes produtos de tratamento.
• Diversos fenómenos que regem as interações solo-ligante.
• Metodologia geral dos estudos geotécnicos e económicos a
realizar para escolher os produtos de tratamento e as dosagens
adequadas.
• Elementos gerais sobre equipamentos e técnicas de execução.
• Garantia da qualidade dos trabalhos.
Tratamento de solos em obras de terraplenagem e pavimentação

Ligantes aéreos - presa em contacto com o ar (ex: cal aérea)


Ligantes hidráulicos - presa em contacto com a água (ex: cimento e cal hidráulica)

Utilidade do tratamento de solos:

• no plano técnico: evita a substituição de materiais que são impróprios no


seu estado natural por outros com características adequadas às obras de
terraplenagens, que são escassos ou não existem;

• no plano económico e a nível ambiental permite:


utilizar materiais locais
reduzir o consumo de solos de boa qualidade e de agregados
reduzir a necessidade de recurso a empréstimos, depósitos e transporte,
permitindo a redução de custos
diminuir o prazo de execução
Tratamento de solos:
No caso das terraplenagens, visa melhorar a capacidade de carga dos
solos de modo a poderem ser compactados em camadas com a
utilização de equipamento convencional.

Exemplo de uma
abordagem simplificada

No âmbito da construção de infraestruturas de transportes, a cal tem sido utilizada


mais correntemente na fase de execução das terraplenagens, em:
– aterros com solos argilosos húmidos, em que as condições de
traficabilidade e de compactação são difíceis
– na parte superior de aterros
– camadas de leito do pavimento
Técnicas de aplicação da cal em função dos objectivos:
Tratamento de solos:
• Melhoramento de solos – adição de teores em cal da ordem de 1 a 3%
Tratamento para assegurar temporariamente as condições de
traficabilidade dos materiais, proporcionando:
melhoramento da trabalhabilidade
secagem
redução de forças de ligação entre partículas
destruição da estrutura laminar das argilas
redução da sensibilidade à água
plasticidade
granulometria
compactação

• Estabilização de solos – adição de teores em cal da ordem de 5 a 10%


Técnica utilizada para alterar significativamente, a médio e a longo prazo,
as características dos solos:
Resistência mecânica
Durabilidade
Permeabilidade
1. MATERIAIS
A procura da melhor adequação (técnica e económica) entre produtos de
tratamento e o material a tratar, para uma dada aplicação, implica a
caracterização dos materiais a partir de parâmetros significativos, tendo
em conta os fenómenos que intervêm na técnica de tratamento dos solos.

1.1 – Solos
1.1.1– Parâmetros que caracterizam a natureza dos solos
a) Granulometria
• Dmáx -mistura adequada e limitação dos equipamentos
• % < # 0,08 mm -escolha do produto de tratamento
• CU = D60/D10 -para materiais granulares fornece uma
informação qualitativa sobre os valores das dosagens que são necessárias
para atingir o nível de resistência pretendida (maior CU => menor
quantidade de material necessário ao tratamento)
b) Argilosidade (para definir o tipo de aplicação e produto de tratamento)
• Ip
• VBS
c) Teores em constituintes químicos particulares
Matérias orgânicas
• Conforme a sua natureza e proporção no solo, elas consomem, à partida,
uma quantidade mais ou menos importante de produto de tratamento para
neutralizar a acidez do meio, quantidade que não é utilizada para o
desenvolvimento das reações de cimentação.
• Pode ser necessário uma sobredosagem.

Fosfatos e Nitratos
• Geralmente são inibidores, ou pelo menos retardadores, da presa hidráulica.
• A sua presença nos solos é relativamente rara e resulta principalmente do
espalhamento intensivo de adubos químicos.

Cloretos
• Em geral têm uma ação de acelerador de presa e de endurecimento com
possibilidade de expansão por criação de cloro-aluminatos.
• É necessário um estudo do desenvolvimento da presa para decidir da
adequação da técnica de tratamento.
Teores em constituintes químicos particulares (cont.)
Sulfatos e Sulfuretos
• A sua ação pode ser muito nefasta mesmo para teores da ordem de 1%, pois dão
origem à formação de espécies cristalinas muito expansivas, podendo
destruir a presa hidráulica.
• São os constituintes que apresentam a maior probabilidade de presença nos
solos (sob a forma de gesso ou de pirite) e nos materiais de demolição.

Nota geral: apesar de estes constituintes terem uma incidência muito importante
sobre o desenvolvimento da presa, não são medidos sistematicamente, quer
porque não é normal o seu aparecimento nos solos, quer porque os ensaios são
relativamente complicados. Para apreciar o risco de comportamento anormal é
preferível realizar um ensaio de “avaliação da aptidão do solo para tratamento
com cal e ligantes hidráulicos” – ensaio para avaliação da expansão.

A medição do pH poderá também ser útil na avaliação do solo


• Os solos com baixo valor de pH necessitam de maior quantidade de cal.
• Quando o pH do solo é elevado, a dissolução da sílica e da alumina é mais
fácil pois as reações de estabilização desenvolvem-se em meio básico.
1.1.2 Parâmetros de caracterização do estado dos solos
a) Estado hídrico

Médio, seco e muito seco

Índice Portante Imediato (IPI) Húmido e muito húmido

Todos os estados, para solos # 0,08 mm


> 35% e Ip > 12
b) Estado de compacidade “in situ”
• relação estreita com a sua fragmentabilidade (ex: cré e calcários), e fornece
informação obre as condições práticas de execução da mistura.

1.1.3 Parâmetros que caracterizam o comportamento (prever as condições de mistura)


a) Fragmentabilidade dos elementos grossos ( > 50mm)
Para estabelecer o limite de execução da mistura com equipamentos mecânicos
(essencialmente pulverizadores de solos)
b) Abrasividade da fração granular ( > # 0,08mm)
Esta característica é responsável pelo desgaste dos equipamentos de mistura.
1.2 – Produtos de tratamento
1.2.1– Cal
1.2.1.1– Cal aérea
Obtida a partir da calcinação do calcário a uma temperatura entre 900 e
1200ºC, transformando-se o carbonato de cálcio (CO3 Ca) em óxido de
cálcio (CaO) e libertando-se dióxido de carbono (CO2) de acordo com a
reação:
CO3 Ca + 50 kcal => CaO + CO2
• A reação é reversível e a cal viva pode, após hidratação pela humidade
ambiente, se recarbonatar lentamente pela ação do dióxido de carbono
atmosférico, com formação de presa ao ar;
• Daí resulta a classificação de cal aérea, por oposição à cal
hidráulica; o seu endurecimento é feito pela ação do ar atmosférico
através da reação lenta de carbonatação.
Nota: é normal utilizar o termo cal para todas as variedades físicas ou
químicas nas quais se pode apresentar o óxido de cálcio.
Principais fatores que estão na origem dos diferentes tipos de cal:
• temperatura e grau de calcinação da rocha calcária
• riqueza da rocha calcária em carbonato de cálcio (CaCO3)

- cal quimicamente pura: teor em CaO > 97%; teor em Ca(OH)2 > 97%
- cal gorda: 85% < teor em CaO < 97%; 85%< teor em Ca(OH)2 < 96%
- cal magra: teor em CaO < 85%; teor em Ca(OH)2 < 85%
(rochas calcárias impuras, com elementos argilosos)

• extinção da cal em água segundo uma reação fortemente exotérmica


CaO + H2O => Ca(OH)2
A cal aérea pode existir sob três formas, cada uma delas apresentando
interações específicas com os solos:
• cal aérea viva = óxido de cálcio (CaO) (± puro)

• cal aérea hidratada (apagada ou extinta) = hidróxido de cálcio


Ca(OH)2) (± puro) - obtida por reação em presença da água da cal
aérea viva (hidratação).

• leite de cal – suspensão de cal aérea hidratada, num teor usualmente


compreendido entre 30 e 150 g/l, obtido quer a partir da cal aérea viva
(necessidade de muito mais água) quer hidratada.

A cal aérea viva


• é a que produz mais rapidamente alterações das características
geotécnicas dos solos;
• em geral, são necessárias quantidades menores de cal.
A cal viva e a cal hidratada
• podem exibir eficiência semelhante relativamente ao aumento da
resistência e à diminuição da deformabilidade, pois estas
características relacionam-se com o desenvolvimento das reações
pozolânicas, que se processam a longo prazo;
• no entanto, alguns estudos conduziram a valores muito superiores de
resistência à compressão simples quando se utilizou cal viva em vez de
cal hidratada.
Principais características físico-químicas da cal:
• granulometria • solubilidade • teor em CaO livre • teor em MgO total
• superfície específica • peso volúmico • teor em CaO total • reatividade

A cal hidratada
• apresenta-se sempre na forma pulverulenta (à exceção do leite de cal), e a
sua granulometria é mais fina que a da cal viva, pois o processo de
hidratação confere-lhe um maior grau de finura.
• a granulometria depende da rocha e processo de fabrico (calcinação e moagem).
A superfície específica da cal
•influencia a facilidade de homogeneização e de reação da cal com outros
materiais
•deve ser grande para garantir uma perfeita mistura com o solo e a água.
– 0,5 a 2 m2/g na cal viva
– 15 m2/g na cal hidratada

Em geral a cal é pouco solúvel na água e a solubilidade decresce


com a temperatura.

O peso volúmico do óxido de cálcio puro depende da sua porosidade


e estado de agregação e aumenta com a temperatura de calcinação.
– peso volúmico da cal viva: 32 a 33 kN/m3
– peso volúmico da cal hidratada: 22 a 23 kN/m3
A presença de impurezas como o Carbonato de cálcio (CaCO3) e o
Carbonato de magnésio (MgCO3) tende a diminuir o peso volúmico da cal
viva e a aumentar o da cal hidratada.
O CaO, que é a principal característica de uma cal, pode apresentar-se
livre ou combinado, nas formas de carbonatos, silicatos e aluminatos,
o mesmo acontecendo com o MgO. O valor total deve contabilizar o
valor livre e o combinado. Mais raramente, encontram-se, também,
outros sais, como os sulfatos e os fosfatos.
A presença de carbonatos, cuja importância é avaliada através da
determinação do CO2 da cal, pode ser devida:
– ao calcário de origem
– à recarbonatação por contacto com o ar

Os carbonatos de cálcio e magnésio originados pela carbonatação


desencadeada pelo dióxido de carbono do ar (reação química inversa
do fabrico do material) são cimentos fracos que prejudicam o
normal desenvolvimento das reações pozolânicas, impedindo que se
atinja a resistência mecânica desejada.
A formação do carbonato de cálcio no solo
• aumenta a plasticidade e flocula a cal entre si, não permitindo
a reação com as partículas argilosas;
• qualquer carbonatação que ocorra antes de a cal reagir com o
solo reduz a quantidade de cal disponível para tal.

Classificação da cal consoante a natureza do calcário


(teor em magnésio)

• cal cálcica ou calcítica (MgO < 2%)


• cal cálcico-dolomítica (2% < MgO < 25%)
• cal dolomítica (25% < MgO < 45%)
Reatividade ou velocidade de hidratação da cal
A reatividade da cal Temperatura (ºC)

• traduz-se pelo gradiente da


temperatura em função do tempo
aquando do processo de hidratação;
• exprime a eficiência e a rapidez da
ação estabilizante da cal, podendo
interpretar-se como um teste global
à qualidade da cal;
Tempo (min)

• varia com as características físicas e Cal muito Cal medianamente Cal pouco
reactiva reactiva reactiva
químicas da cal.
Para a cal aérea hidratada
• não há reação de extinção em presença da água;
• são realizados outros ensaios, como os que avaliam a capacidade de
neutralização em função do tempo, quando em presença de um ácido.
Principais fatores que influenciam a reatividade da cal viva:
• Grau de pureza do óxido de cálcio – a presença de elementos argilosos e de
um teor elevado de MgO influenciam negativamente a hidratação pelo que a cal
dolomítica tem uma menor reatividade do que a calcítica; a reação de
hidratação do óxido de cálcio é altamente exotérmica e processa-se rapidamente,
mas a hidratação do óxido de magnésio é lenta e promovida pelo calor;
• Estado de conservação e idade da cal – o óxido de cálcio é muito sensível à
ação combinada da humidade e do dióxido de carbono do ar, transformando-se
em carbonato de cálcio, que é inerte do ponto de vista calorífico pelo que
diminui a reatividade;
• Superfície específica;
• Granulometria;
• Estado de compacidade – maior compacidade conduz a menor reatividade;

• Presença de sais estranhos.

Nota: o processo experimental de medição da reação também influencia o


resultado final.
Resumindo, as características importantes da cal aérea com vista ao
tratamento de solos são:
a) a forma sob a qual é utilizada: viva, apagada, ou leite;
b) o seu teor em cal livre expresso sob a forma de CaO;
c) a sua granulometria, definida a partir dos peneiros 2, 0,2 e 0,08mm;
d) a sua reatividade (no caso da cal viva).

Características da cal aérea cálcica utilizada no tratamento de solos


(LCPC-SETRA, 2000)
Cal viva • Teor em CaO livre global (NF P 15-461) ≥ 80%
• Teor em MgO ≤ 8%
• Passados no peneiro 0,08 mm ≥ 50%
• Passados no peneiro 0,2 mm ≥ 80%
• Passados no peneiro 2 mm : 100%

Cal apagada • Teor em CaO livre global (NF P 15-461) ≥ 50%


• Teor em MgO ≤ 6%
• Passados no peneiro 0,08 mm ≥ 90%
• Teor em água livre ≤ 2%
1.2.1.2 – Cal hidráulica
• Mistura ou combinação do óxido de cálcio com materiais de
natureza argilosa para formar os silicatos e os aluminatos de
cálcio.

• Obtida com uma temperatura de calcinação superior a 1200ºC e


com impurezas argilosas da rocha calcária superiores a 5%.
• O teor em carbonato de cálcio (calcite) (CaCO3) varia entre
40 e 95% e o teor de elementos argilosos entre 8 e 20%.
• Possui um teor em cal livre geralmente fraco e é constituída,
essencialmente, pela mistura química de sílico-aluminatos
complexos de cálcio e magnésio, em proporções variáveis, com
propriedades similares às do cimento e da cal viva, bem como
sais duplos de cálcio e alumínio e de cálcio e ferro.
Classificação da cal hidráulica em função da rapidez de presa
(depende do teor em elementos argilosos que reagem durante a calcinação)
Tipo de cal Teor em Período de
Tipo de rocha Comentários
hidráulica CaO endurecimento
fracamente Rochas ricas em Presa devida à ação conjunta da
> 85%, 15 a 20 dias
hidráulica CaCO3 carbonatação e das propriedades hidráulicas.
medianamente Rochas calcárias
60% a 85% 2 a 15 dias
hidráulica argilosas
fortemente Rochas calcárias Presa devido, sobretudo, à natureza
50% a 60% 2 dias
hidráulica argilosas predominantemente hidráulica da cal.

A cal hidráulica é uma variedade que está na transição da cal


aérea para os cimentos, pois a sua composição química e
propriedades são similares às dos cimentos.

Alguns estudos mostram que a cal hidráulica é um aditivo eficaz na


estabilização de solos, podendo estar ao nível da cal aérea no que
respeita ao melhoramento da plasticidade.

No entanto, esta cal não tem sido utilizada na estabilização de solos.


Aditivos

– utilizados na estabilização de solos com cal para melhorar o


desenvolvimento de produtos cimentícios resultantes das reações
pozolânicas:

maiores resistências mecânicas;


menor deformabilidade;
aumento da velocidade de melhoramento das características.

Mecanismos desenvolvidos com a adição dos aditivos


aceleração da reação pozolânica;
produção de compostos cimentícios secundários;
combinação com os produtos cimentícios primários.
Exemplo de aditivos:
cloreto de cálcio;
sais de sódio (carbonato, fosfato, hidróxido, cloreto);
cinzas volantes (fly ash) - pozolana artificial, produzida geralmente
em centrais termoelétricas que queimam carvão mineral ou matéria orgânica.

Exemplo:
- a adição de um teor em cloreto de sódio igual a 0,12% pode conduzir a
resultados semelhantes aos que são obtidos com um teor adicional em cal de 4%.

Exemplo:
• A cinza volante torna reativos à cal os solos arenosos, isto é, faz a função
da fração fina do solo, uma vez que pode reagir com a cal.
• Em geral, as partículas de cinza volante têm dimensão silte, forma
esférica e distribuição granulométrica relativamente uniforme.
1.2.2– Ligantes hidráulicos

Os ligantes hidráulicos são produtos que se hidratam em presença


da água, dando origem a espécies cristalinas insolúveis e
resistentes que aglomeram os elementos granulares do solo.
Este fenómeno, correntemente denominado “presa hidráulica”,
confere ao solo uma coesão permanente cuja importância depende:
a) da natureza do material a tratar;
b) do tipo de ligante;
c) da quantidade misturada;
d) da compacidade atingida na colocação em obra;
e) da temperatura do meio e da idade da mistura.
Os ligantes hidráulicos são misturas que comportam, em
proporções variáveis:

a) materiais hidráulicos que fazem presa em presença da água:


clinker Portland, cinzas volantes sulfocalcicas de carvão, etc.;
b) materiais pozolânicos que fazem presa em presença da água
com pH elevado (≥12): escórias de alto forno, cinzas volantes
sílico-aluminosas, pozolanas naturais;
c) se necessário, um ou mais aditivos cujo papel principal é elevar o
pH do meio para desencadear a presa hidráulica dos materiais
pozolânicos;
d) diversos adjuvantes destinados a conferir propriedades
específicas (sobre a velocidade de presa, por exemplo).
a) Cimentos
• usualmente utilizam-se cimentos correntes no tratamento de solos;
• a sua utilização conduz a uma significativa melhoria das propriedades e da
homogeneidade da mistura.

b) Ligantes hidráulicos rodoviários (LHR)


Em complemento aos cimentos normalizados existem materiais cuja experiência
de aplicação tem muitos anos, no tratamento de solos in situ, ou em central, e na
fabricação de materiais de camadas do pavimento.

O princípios de ação dos LHR são semelhantes aos dos cimentos, apresentando
constituintes semelhantes mas em proporções diferentes, e portanto fenómenos de
presa hidráulica da mesma natureza mas com cinética específica.

Existem pareceres técnicos sobre a utilização destes materiais, emitidos pelo


Comité Francês para as Técnicas Rodoviárias, que indicam que para um
determinado tipo de obra e tipo de solo, um determinado LHR tem um bom
comportamento; a extrapolação desta informação para outras condições tem
riscos.
Vantagens dos LHR:
• Custo de fabricação mais baixo, devido à sua composição ter
uma forte proporção de constituintes que não necessitam de
cozedura específica (escórias, cinzas volantes, pozolanas, etc.);

• Possibilidade de melhor se adaptarem a cada caso particular; se


se justificar podem produzir-se produtos específicos para cada
solo e condições de execução.

Desvantagens dos LHR:


• Usualmente é necessário proceder a estudos mais elaborados do
que os requeridos para o cimento.
Estabilização de solos com cimento
Os principais objetivos da utilização do cimento na estabilização de solos
são:
• a melhoria das características mecânicas
• aumento da estabilidade relativamente à variação do teor em
água.
No entanto, também se utiliza no tratamento de certos solos pouco
plásticos ou não plásticos, com teor em água elevado que impede a sua
adequação aos trabalhos de terraplenagem.

Normalmente a percentagem máxima de cimento situa-se entre:


• 5 a 7% nos siltes
• 7 a 15% nas areias
• 4% no cascalho

•A mistura obtida é aplicada e compactada, ficando posteriormente a


hidratar (ex: cura de 3 a 7 dias, exceto se for coberta por outra) com
humidade adequada, verificando-se o seu progressivo endurecimento.
Estabilização de solos com cimento (cont.)
Solos pouco plásticos (Ip<10%)

• o tratamento com cimento permitirá a reutilização dos solos em aterro,


mesmo que tenham um elevado w (o wopt aumenta com o tratamento) e
melhora as características mecânicas, permitindo a sua utilização em leito
e em camadas de apoio do pavimento;
• neste caso, a reduzida fração argilosa do solo não permitiria que a cal
produzisse outro efeito senão a redução do teor em água.

Solos finos plásticos


• as forças de ligação entre as partículas impedem uma adequada mistura
com o cimento;
• quebrando as ligações entre as partículas e transformando o solo em
pequenos grânulos, com recurso ao tratamento com cal, é possível
posteriormente utilizar o cimento como ligante dessas novas partículas
incoerentes, melhorando consideravelmente as características do solo.
Exemplo de alguns resultados de
tratamento de solos plásticos com cimento
(Oduola, 2010)
Designação e características mecânicas de materiais
tratados com cimento HC – betão compactado
ABGE + 10 a 14% de cimento
Em função de: RC > 35 MPa
• tipo de solos E > 33 000 MPa
• teor em ligante HMC – betão pobre compactado
• tipo de fabrico ABGE + 5 a 10% de cimento
RC > 22 MPa
E > 30 000 MPa
GCA – agregado-cimento de
altas prestações
ABGE + 5 a 7% de cimento
RC > 14 MPa
E > 25 000 MPa
GC – agregado-cimento
ABGE + 3,5 a 5% de cimento
RC > 8 MPa
E > 20 000 MPa
SC – solo-cimento
Solo + 3 a 7% de cimento
RC > 4 MPa
E > 6 000 a 10 000 MPa
O solo-cimento (SC) é um material fabricado com solos granulares ou com
agregados naturais ou britados, cuja quantidade de cimento em massa deve ser da
ordem de 3 – 7 %. A longo prazo, a sua resistência à compressão deve ser superior
a 4 MPa (segundo as especificações espanholas, ao fim de 7 dias deve ser superior
a 2,5 MPa), e o seu módulo de elasticidade apresenta valores da ordem de 6 000
MPa com solos granulares e superiores a 10 000 MPa se se utilizam agregados
britados. Usa-se normalmente como camada de apoio (sub-base) de outros
materiais tratados com cimento, ou como camada resistente (base) abaixo das
camadas betuminosas. Também há uma ampla experiência na sua utilização como
base e sub-base de um mesmo pavimento semi-rígido, com resultados muito
positivos. Fabrica-se normalmente em central, ainda que se possa produzir in situ
mediante a utilização de equipamentos semelhantes aos utilizados na estabilização
de camadas de leito ou aos utilizados na reciclagem de pavimentos de cimento.

O grave-cimento (GC) é um material constituído por inertes britados, sem finos


plásticos e com uma granulometria ajustada, e quantidade de cimento da ordem de
3,5 – 5 %, cuja fabricação se realiza em central. A longo prazo, a sua resistência à
compressão deve ser superior a 8 MPa (segundo as especificações espanholas, ao
fim de 7 dias deve ser maior que 4,5 MPa) e o seu módulo de elasticidade deve ser
da ordem de 20 000 MPa. Aplica-se como base de pavimentos betuminosos.
O grave-cimento de altas prestações (GCA), cuja fabricação se realiza em central, é um
material onde se aplicam os mesmos inertes utilizados no grave-cimento e uma quantidade
de cimento mais elevada, entre 5 – 7 %. A sua resistência à compressão a longo prazo deve
ser superior a 14 MPa (ao fim de 7 dias deve apresentar valores superiores a 8 MPa), e o
seu módulo de elasticidade deve ser da ordem de 25 000 MPa. A sua aplicação como base
pressupõe uma redução de espessuras, relativamente ao grave-cimento convencional.

O betão pobre compactado (HMC) é semelhante ao betão pobre vibrado, mas com
consistência seca. Trata-se de um material fabricado em central constituído por inertes
semelhantes aos utilizados no caso do grave-cimento, e com uma quantidade de cimento da
ordem de 5 a 10 %. A longo prazo, a resistência à compressão deve ser superior a 22 MPa
(ao fim de 7 dias deve apresentar valores superiores a 12 MPa) e o módulo de elasticidade
deve ser da ordem de 30 000 MPa. Emprega-se fundamentalmente como camada de base.

O betão compactado (HC) é um material fabricado em central, constituído por inertes


semelhantes aos utilizados no caso do grave-cimento e com uma quantidade de cimento da
ordem de 10 – 14 %. A longo prazo, a resistência à compressão deve ser superior a 35 MPa
(ao fim de 7 dias deve apresentar valores superiores a 18 MPa) e o módulo de elasticidade
deve ser da ordem de 33 000 MPa. Pelas suas características, pode suportar, directamente
ou com um tratamento superficial, a passagem de tráfego pesado. No entanto, para tráfego
que circula a velocidade elevada, é necessária uma camada de betuminoso de desgaste para
melhorar a regularidade superficial, actuando assim como camada de base.
Retardadores de endurecimento
• inorgânicos (ex: ácido bórico, óxido de zinco)
• orgânicos (ex: ácidos carboxílicos)

Proporcionam:
o aumento do intervalo de trabalhabilidade da mistura
diminuição da resistência mecânica a curto prazo (recuperada posteriormente)
atraso no desenvolvimento do calor de hidratação

Intervalo de trabalhabilidade
- pode ser entendido como o período em que se pode trabalhar a mistura
sem afetar as ligações que asseguram a resistência, mantendo essa mistura
uma consistência semelhante à inicial.
• ex: mínimo de 3 a 4 horas quando se utiliza ligantes hidráulicos
Existem relatos de obras em que se construíram camadas ligadas
com cimento, em que o intervalo de trabalhabilidade ultrapassou as
10 horas, permitindo a correção da compactação, quando necessário,
e a otimização da gestão do estaleiro.

O intervalo de trabalhabilidade para uma determinada temperatura


da mistura depende fundamentalmente das características intrínsecas
da mesma:
tipo de cimento e dosagem;
tipo de solo;
relação água/cimento;
tipo de aditivo e dosagem.

Com temperaturas ambiente altas, acima dos 30ºC, torna-se


praticamente imprescindível o uso de retardadores de
endurecimento.
1.3 – Qualidade da água presente nos solos
• A presença eventual de:
Trióxido de enxofre (SO3)
Nitrato (NO3)
Fostato (PO4)
Cloro (Cl2,)
etc.

na água livre retida nos solos, pode modificar sensivelmente e de forma


desfavorável a ação dos diversos produtos de tratamento sobre os solos.

• Conforme o contexto, particularmente o geológico, convém


proceder a ensaios de aptidão do solo para o tratamento, em
particular se o objetivo do tratamento é a realização da camada
de leito do pavimento.
2. PRINCÍPIOS DE AÇÃO DOS PRODUTOS DE TRATAMENTO SOBRE SOLOS
2.1 Ação da cal aérea
2.1.1 Ações imediatas (produzem-se a partir do momento em que se constitui a mistura solo-cal)
a) Modificações do estado hídrico (dependem da forma da cal (viva, apagada, leite) e da quantidade)
Cal viva
Diminuição do teor em água do solo (w) pela ação combinada de 3 fenómenos,
cuja importância relativa é sensivelmente igual e que conduzem a uma diminuição
total de w de cerca de 1% por cada ponto percentual de cal viva introduzida:
• hidratação da cal viva segundo a reação: CaO + H2O => Ca (OH)2 + 15,5 kcal
• evaporação de uma determinada quantidade de água, produzida pelo
calor de hidratação da cal viva (15,5 kcal/mole)
• adição de matéria seca que reduz a relação w = Wγ/Ws
Cal apagada
Diminuição de w total da ordem de 0,3% por cada ponto percentual de cal
apagada introduzida, mas apenas pelo facto de se adicionar matéria seca.
Leite de cal
Ao contrário, produz um aumento de w, que é função da sua concentração
(massa de CaO por litro de água) e da quantidade misturada com o solo.
Central de produção de leite de cal Espalhamento do leite de cal para tratamento
(por extinção da cal viva) em leito do pavimento de um solo argiloso

Nota: quando o tratamento é realizado com condições atmosféricas evaporantes,


a redução do teor em água é superior à que resulta apenas da adição da cal; nestas
condições, as perdas de água podem atingir 4 a 6%, ocorrendo essencialmente
durante a mistura, e podem ser benéficas (no caso de reutilização de solos
húmidos em aterro) ou, ao contrário, ser prejudiciais, devendo ser compensadas
por rega (por exemplo no caso do tratamento do leito do pavimento).

Nota: a temperatura não tem influência nas ações de curto prazo.


b) Modificações das características da fração argilosa do solo
- permuta iónica e floculação
Depois de incorporada num solo argiloso húmido, a cal atua sobre as
cargas elétricas das partículas finas e modifica os campos elétricos inter-
partículas, o que conduz à sua floculação (aglomeração das partículas
finas do solo em flocos estáveis).

A6 A-2-7

A-2-6

A-2-4
Alteração da granulometria A6 => A-2-7
de dois solos residuais A-2-6 => A-2-4
graníticos, com adição de
2% de cal (Cristelo, 2001)

•As reações iniciais de permuta iónica e floculação proporcionadas por pequenas


quantidades de cal são responsáveis pelo melhoramento das características de
plasticidade e expansibilidade, como se apresenta em seguida.
TRADUZINDO-SE EM TERMOS GEOTÉCNICOS POR:

Redução do índice de plasticidade por aumento importante do


limite de plasticidade do solo sem modificação significativa do
limite de liquidez, o que torna o solo mais fácil de trabalhar;

A plasticidade sofre maior


redução nos solos que à
partida são mais plásticos.

•Estudos mostram que percentagens superiores a 3% podem resultar


em melhoramentos na plasticidade do solo muito pouco significativos.

•A utilização de quantidades reduzidas de cal requer porém cuidados


especiais na homogeneização da mistura.
um aumento da resistência mecânica

Aumento do IPI, cuja amplitude depende do estado hídrico do solo


antes do tratamento.
Para reutilização de solos demasiado húmidos a máxima eficácia é
obtida utilizando cal viva no tratamento.

Dosagens da ordem de 1% podem ser suficientes quando:


1,1 wOPN < w < 1,3 wOPN

Valores superiores de humidade


• conduzem a dosagens mais elevadas
Valores inferiores de humidade
• podem trazer problemas de compactação, exigindo rega,
sobrecompactação, tratamento com leite de cal, etc. (ex:
tratamento de solos para leito de pavimento)
uma alteração das características de compactação dos solos
A curva Proctor do solo tratado
inscreve-se sob a curva do solo
natural e à direita desta, qualquer
que seja a energia de compactação:
• menor peso volúmico máximo
porque a floculação dificulta a
arrumação das partículas e o
consumo de água na hidratação
dificulta a lubrificação
• maior teor em água óptimo

Este comportamento é tanto


mais evidente quanto mais
argiloso for o solo e acentua-se
com o aumento do teor em cal.

A diferença nas curvas de


compactação é mais
pronunciada no ramo seco.
Com o tratamento potencia-se um aumento do grau de compactação (γd/γdmáx)
• porque a concavidade da curva do solo tratado é sucessivamente menos
acentuada (curva mais “achatada”)
• pela redução do teor em água do solo, em particular nos solos demasiado
húmidos
• pelo aumento do teor em água ótimo de compactação

A compactação das misturas solo-cal é imprescindível,


– para se darem as ligações das partículas,
– para evitar o fenómeno da carbonatação.
A longo prazo, se a mistura não for compactada, são destruídas as ligações
que originam a floculação e, portanto, a composição granulométrica do solo
natural é recuperada.

Quando se utiliza cal viva, não se deve compactar imediatamente, mas sim
esperar as reações de hidratação da cal (poderão levar algum tempo, por
exemplo, intervalos superiores a 4 horas) pelo facto de o aumento de volume da
mistura na hidratação conduzir a um mau comportamento da camada.
• As características de compactação são influenciadas pelo tempo
que decorre entre a mistura e a compactação, isto é, quando
aumenta o tempo entre a mistura e a compactação, para uma
determinada energia, verifica-se:

diminuição da baridade seca máxima;

aumento do teor em água ótimo.

• O aspeto visual das misturas é um bom indicador da


homogeneidade e qualidade das mesmas: uma mistura
homogénea apresenta aspeto granular e coloração uniforme.
2.1.2 Ações de longo prazo
Estas ações produzem-se durante vários meses, ou anos, após a colocação em obra.
Tradução prática: ICBR > IPI (depende do teor em água do solo tratado)
a) Ação pozolânica (ou de cimentação) – responsável pelos ganhos de resistência
Produz-se entre a cal e os minerais argilosos do solo (Ip determinável ou
VBS>0,5g), criando ligações da mesma natureza que as produzidas com ligantes
hidráulicos, mas geralmente os fenómenos de cimentação desenvolvem-se
muito lentamente em condições climatéricas normais.
A dissolução da sílica e da alumina presentes nos minerais argilosos
(facilitada pelo aumento do pH devido à adição de cal ao solo), em contacto com
os iões cálcio da cal, origina a formação dos silicatos e aluminatos de cálcio
hidratados que, ao cristalizarem, conduzem à cimentação das partículas entre
si. Assim, é necessário que o solo natural contenha, também, aqueles elementos
químicos em quantidade suficiente para se darem as reações pozolânicas.
Nota: a ação pozolânica conduz a ligações físicas muito mais fortes do que as
ligações elétricas resultantes da troca iónica.
Nota: a perda de resistência devido à diminuição da densidade é mais do que
compensada pela cimentação pozolânica.
FATORES QUE INFLUENCIAM A VELOCIDADE DE PRESA DA MISTURA SOLO-CAL

temperatura do meio – é um fator de grande importância no desenvolvimento das


reações pozolânicas

• temperaturas baixas retardam a ação de cimentação das partículas, enquanto


que temperaturas elevadas aceleram aquele mecanismo.

ex: R30dias (40º) = R1ano (20º)

Nota: evitar fazer tratamentos com cal com temperaturas abaixo dos 5ºC
quantidade e natureza da fração argilosa do solo – a cal só por si é incapaz
de desencadear as reações físico-químicas de estabilização, sendo por isso
necessário uma aptidão própria da parte do solo.

• Ip > 10 a 15% (em princípio, quanto mais plástico for o solo, melhor para as reações).

Nota: alguns solos considerados argilosos (Ip elevado), não desenvolvem


reações pozolânicas (ex: argilas com forte teor em mica provenientes da
alteração dos xistos).
estado hídrico do solo – a presença da água é fundamental para o sucesso das
reações entre a cal e a argila, pois constitui o meio de transferência dos iões
cálcio da cal para a superfície das partículas de argila.

• o teor em água deve ser adequado ao desenvolvimento das potencialidades


reativas da cal com os minerais argilosos;

• na mistura deve existir sempre a quantidade necessária de água para hidratar


toda a cal, de forma a evitar o aparecimento de núcleos de cal não hidratada,
cuja fácil carbonatação conduz à fragilização da mistura.

• em climas quentes e húmidos (como os tropicais) e com materiais


suficientemente argilosos, é possível, por tratamento apenas com cal, beneficiar
dos efeitos imediatos e obter em algumas semanas bons desempenhos
mecânicos, comparáveis aos obtidos com ligantes hidráulicos.
Nota: as primeiras doses de cal destinam-se à modificação da
textura e granulometria dos solos;

⇒ para melhorar as características resistentes são necessários


teores em cal mais elevados;

=> no entanto, contrariamente ao que acontece com os ligantes


hidráulicos, existe uma dosagem de cal máxima (função da
quantidade máxima de cal “consumível” pela argila presente no
solo) a partir da qual o desempenho mecânico não aumenta
mais, e pode mesmo diminuir devido ao facto de a cal não
“consumida” reforçar a sensibilidade à água do material.
b) Ação de sintaxe
Produz-se em materiais do tipo cré e calcários brandos saturados ou próximo da
saturação. O seu princípio pode ser descrito assim:
a cal viva, misturada com as partículas dos materiais calcários porosos
húmidos, hidrata-se, provocando simultaneamente uma redução do teor em
água livre e a formação de cal apagada;
a cal apagada, tendo uma superfície específica muito elevada, pode
distribuir-se na superfície das partículas, formando um tipo de “cobertura”;
a redução do teor em água originado pela extinção da cal viva e por
evaporação provoca a precipitação, sob a forma de calcite, dos carbonatos
presentes na solução saturada na água livre do agregado; esta calcite obtura
os poros das partículas aumentando assim a sua resistência;
a manutenção de um meio com um pH elevado, devido à “cobertura” de cal
criada garante a insolubilidade dos “rolhões” de calcite formados e portanto
a perenidade da resistência dos grãos;
a cal de “cobertura” quando se recarbonata sob ação do gás carbónico forma
uma espécie de presa “aérea” que aglomera de forma durável as partículas
da parte superficial da camada em contacto com a atmosfera.
Tipo de cal a utilizar em cada situação:
• Solos argilosos com teor em água acima do valor óptimo para
compactação: será mais vantajosa a utilização de cal viva, uma vez que as
reações de hidratação conduzem a uma secagem rápida do solo, reduzindo
assim a quantidade de água até valores próximos do teor óptimo;
• Solos argilosos cujo teor em água é ligeiramente inferior ao seu valor
óptimo: neste caso será mais indicado utilizar cal hidratada, uma vez que a
utilização de cal viva implica a adição da água necessária para hidratar a cal
e para promover as reações físico-químicas da estabilização; a hidratação
da cal viva no solo leva à formação duma mistura grosseira não
homogénea, e portanto menos eficiente;

• Solos argilosos com um teor em água muito inferior ao valor óptimo


para compactação: será mais indicado utilizar leite de cal, para aumentar a
quantidade de água presente no solo e facilitar a posterior compactação;
além disso, consegue-se otimizar a homogeneização da mistura; evita-se
também a produção de poeiras.
Influência na resistência à compressão simples de solos com cal:
• A longo prazo, para um dado instante e para o mesmo teor em cal, a resistência à
compressão simples é maior quando o teor em água da mistura é mais
elevado, o que permite concluir que a água tem um papel de acelerador da
resistência;

• A variação da resistência à compressão simples é bastante mais importante


quando o peso volúmico seco da mistura solo-cal é mais elevado, o que
evidencia a grande importância da compactação cuidada da mistura;

• Os valores da resistência à compressão simples obtidos a longo prazo, para o


mesmo período de cura, são mais elevados quando os teores em cal iniciais
são maiores;

De um modo geral, o consumo de cal na mistura solo-cal conduz a um


aumento da resistência à compressão simples;

• A diferença entre o valor da resistência à compressão simples das amostras


saturadas durante a cura e não saturadas pode ser da ordem de 40%;
• A diferença entre a resistência de amostras saturadas e não saturadas
mantém-se aproximadamente constante no tempo;

• Os valores de resistência à compressão simples obtidos com cal hidratada


são mais baixos durante a fase inicial da estabilização, mas podem vir a ser
da mesma ordem de grandeza, ou mesmo superiores, aos resultados obtidos
com cal viva;
• Se a cal tiver uma granulometria fina poderá repartir-se melhor pela mistura,
conduzindo a valores mais elevados de resistência à compressão simples;
contudo, se o grau de finura for demasiado elevado, observa-se o efeito
contrário devido à dificuldade em compactar;
• O aumento da temperatura durante a cura acelera a velocidade de reação
da cal com os minerais argilosos do solo, o que conduz a um aumento da
resistência à compressão simples, para um determinado teor em cal e tempo
de cura constantes;

• Alguns estudos mostram que o solo tratado com cal dolomítica mostrou-se
mais resistente do que quando tratado com cal calcítica.
Curva teórica da evolução, com o tempo, da resistência à compressão
simples de uma mistura solo-cal (Cristelo, 2000)

1 – Troca iónica => floculação

2 – Período de indução: início da formação dos


núcleos de silicato de cálcio hidratado
3 – Formação de produto cimentício (gel) por
aumento de volume dos núcleos, que cimenta as
partículas do solo e aumenta a sua resistência
4 – Paragem da expansão do volume dos núcleos
e a cal disponível já não é suficiente para que
mais cálcio continue a ser adicionado aos núcleos
Influência na resistência à tração de solos com cal:
• A resistência à tração aumenta com o teor em cal, até este ser
suficientemente elevado que origine a carbonatação da cal em excesso, o que
poderá originar a quebra de resistência;

• A resistência à tração aumenta com o tempo de cura das misturas de solo


com cal compactadas;
• A resistência à tração é cerca de 10 a 15% da resistência à compressão
simples.

Influência na durabilidade de solos com cal:


• O efeito da humidificação durante a cura depende do nível de resistência ou da
reação pozolânica obtida anteriormente; após o desenvolvimento de uma %
significativa da reação pozolânica, os efeitos são pouco importantes; contudo, se
ocorre antes de o desenvolvimento da resistência pozolânica ser significativo,
os efeitos podem ser muito importantes, com perdas de cerca de 40% na
resistência à compressão simples (como foi referido anteriormente).
Influência na resistência ao corte de solos com cal:
• Em geral, verifica-se um aumento da resistência ao corte devido a um
aumento significativo da coesão e a um ligeiro incremento do ângulo de atrito
interno da mistura de solo com cal.
Adaptado de Tuncer e Basma, 1991 e Little, 1995

• O aumento da coesão
faz-se sentir logo após
a ação imediata da cal
e processa-se ao longo
do tempo, durante a
cimentação.

• Para valores do teor em cal pequenos (ex: 2%), o aumento de resistência


termina pouco tempo depois de efectuada a mistura do solo com a cal; a
quantidade de cal disponível não é suficiente para que se desenvolva o
material cimentício, responsável pelos principais ganhos de resistência
mecânica.
• Alguns estudos apontam para valores de coesão de cerca de 30% do valor da
resistência à compressão não confinada.
Influência na deformabilidade de solos com cal:
Adaptado de Little, 1995

• A estabilização com cal conduz, de um


modo geral, a um incremento
significativo do módulo de
deformabilidade, que depende do teor
em cal e do tempo de cura.

• A estabilização com cal diminui, em


geral, o valor do coeficiente de Poisson.

• Alguns estudos concluem que se pode


estimar o módulo de elasticidade da
mistura a partir da resistência à
compressão simples.

• Quanto maior a quantidade de cal


presente na mistura mais frágil é a
rotura do provete.
• Quanto maior o período de cura, mais
frágil é a rotura do provete.
(Cristelo, 2000)
Influência na permeabilidade de solos com cal:
• A estabilização com cal

- de um solo argiloso conduz, em geral, a um aumento do


coeficiente de permeabilidade

- em solos granulares, a tendência é diminuir

• A permeabilidade de um solo estabilizado com cal depende


essencialmente dos seguintes fatores:
-tipo de solo;
-peso volúmico após compactação;
-teor em água de compactação;
-quantidade de cal;
-tempo de cura (a permeabilidade pode aumentar após a adição de cal e diminuir posteriormente).
2. 2 Ação dos ligantes hidráulicos
2.2.1 As ações imediatas
a) Modificações do estado hídrico
Adição de matéria seca + consumo de água por hidratação do ligante (pouco
importante)
Redução de 0,3 a 0,5% de w por cada ponto percentual de ligante (sem
contar com a evaporação durante a mistura)
b) Modificações das características da fração argilosa do solo

Em alguns ligantes com forte proporção de cal pode ocorrer floculação dos
minerais argilosos, como no caso da cal (mais lenta e menos intensa)

2.2.2 Ações de médio e longo prazo (as mais importantes)


Consequência da presa hidráulica que confere aos materiais tratados
resistência à tração, que pode variar significativamente em função da
dosagem e do tipo de ligante, desenvolvendo-se em 3 etapas, cuja duração
depende do ligante e da temperatura da mistura.
a) Primeira etapa: início de presa – entre 2 a 24h (intervalo de trabalhabilidade)
Precipitação dos compostos de cálcio na água livre do solo
b) Segunda etapa: rigidificação da mistura – presa hidráulica
Alguns dias (ligantes com muito clinker) a semanas
b) Terceira etapa: endurecimento (aumento da resistência)
Algumas semanas a meses

Notas:
• é recomendável a execução de estudos específicos;
• o aumento da argilosidade reduz a resistência;
• alguns solos requerem um tratamento misto (cal + cimento) ex: A2, A3 (muito
argilosos);
• constituintes como matéria orgânica, fosfatos, nitratos, sulfatos, etc. podem
impedir a presa ou destruí-la por expansibilidade;
• a resistência cresce com o aumento da massa volúmica aparente seca (é mais
favorável uma granulometria contínua e extensa num estado ligeiramente húmido).
Notas:
• a duração do período de mistura e em particular do período de espera até
à compactação influenciam a resistência; após adição de cimento ao solo,
inicia-se a floculação da fração argilosa e a criação de ligações que vão
dificultar a compactação; estes fenómenos dificultam a densificação dos
materiais, conduzindo à diminuição da resistência;
• uma diminuição de 5% na compactação relativa provoca reduções da
resistência à compressão superiores às correspondentes a uma diminuição
de 10 a 15% na quantidade de cimento;
• não se deve estabilizar quando a temperatura
ambiente, à sombra, é superior a 35ºC, pois é
desfavorável para a hidratação dos ligantes
hidráulicos;

• não se deve estabilizar quando a temperatura


ambiente é inferior a 5ºC, pois o aumento de
resistência é muito pequeno.

Evolução no tempo da resistência ao corte de


um solo tratado com cal ou com cimento
(adaptado de Van Impe, 1989)
3. METODOLOGIA GERAL DOS ESTUDOS DE TRATAMENTO DE SOLOS

3.1 Sequência dos estudos


Nível do Fase do
Objectivo Conteúdo do estudo
estudo projeto
• Informação geral: geologia, projetos de
• Analisar a viabilidade do projeto com
características semelhantes; conclusões Estudo
0 elementos técnicos, económicos,
relativamente ao projeto em causa; eventual preliminar
ambientais, etc.
consulta de especialista.
• Interpretação dos elementos em face da
• Pré-dimensionamento confirmando a aplicação prevista e realização de ensaios.
Ante-
1 viabilidade do tratamento (técnica e
• Estudos de formulação preliminares. projeto
económica).
• Estudos económicos.
• Estudos geotécnicos detalhados.
• Estabelecer a solução de base do
Aterro: estudos de formulação Projeto de
2 projeto através da pormenorização dos
complementares. execução
elementos de estudo de Nível 1.
Leito: estudo de formulação Nível 1 (a ver)
• Trecho experimental (viabilidade da
• Validar soluções através da produção mistura, compactação, emissão de poeiras).
Possível em
de elementos técnicos, económicos, • Acompanhamento, num ciclo anual, do
3 qualquer
ambientais, etc. que não se consigam estado hídrico dos solos do empréstimo ou
fase
obter nos níveis anteriores. da escavação.
• Verificação in situ do desempenho.
3.2 Estudos geotécnicos
3.2.1 Estudo de qualificação dos materiais a tratar
identificação dos materiais a partir dos parâmetros considerados significativos
para o tratamento (granulometria, plasticidade, estado);
localização dos materiais no perfil geotécnico;
estimativa da quantidade dos materiais.

3.2.2 Estudo de formulação das misturas


identificação dos produtos de tratamento a utilizar;
Cimento; Cal (teor em cal livre e curva de reatividade no caso da cal viva); Ligantes
rodoviários especiais (desempenho mecânico)
Nota: as amostras dos produtos de tratamento utilizadas nos estudos de formulação
devem ser devidamente conservadas.

verificação da aptidão do solo para ser tratado com um dado produto (NF P 94-100);

determinação da dosagem do produto de tratamento, em função dos objetivos, das


variações previsíveis do estado hídrico e da compacidade do solo.

Q= massa do produto de tratamento


MSs= massa do solo seco ou pré-tratado
mCg= massa do corrector granulométrico
3.2.3 Trechos experimentais
(estudos de Nível 3)
definição clara dos objetivos e da sua importância relativa (ex: diminuição
do teor em água);
escolha de um local representativo;
estabelecimento dos recursos humanos e equipamentos;
estabelecimento dos parâmetros a avaliar nos estudos;
avaliação dos problemas tecnológicos (equipamentos, procedimentos,
qualidade da mistura, homogeneização e modificação das características
dos solos, tipo de proteção superficial);
confirmação do desempenho mecânico previsto no projeto e determinado
em estudos de formulação;
avaliação dos problemas ambientais (poeiras, contaminação de águas).
3.3 Estudos económicos
3.3.1 Tratamento de solos húmidos sensíveis à água para aplicação em aterro

Análise de custos
Componentes do custo da solução Componentes do custo da solução
“tratamento” “empréstimo”
Colocação do solo em depósito: expropriação
do local (ou direito de exploração), criação de
Fornecimento do produto de tratamento acessos, extração, carregamento, transporte,
espalhamento e compactação em depósito do
material escavado.
Empréstimo de solos: expropriação do local
Armazenamento, espalhamento e mistura do (ou direito de exploração), criação de acessos,
produto de tratamento extração, carregamento e transporte do
material de empréstimo para a obra.
Extração, carregamento, transporte (solo in situ) ------
Colocação em aterro: molhagem (empréstimo), compactação, etc.
Requalificação do depósito e do empréstimo
Custos indiretos (controlo da qualidade, etc.)
3.3 Estudos económicos
3.3.2 Tratamento de solos para execução da camada de leito do pavimento
Objetivos principais:
• utilização de solos que no seu estado natural são inadequados; ou
• melhoria das características dos materiais adequados, para reduzir volumes.

Condições que podem limitar o interesse económico:


• abundância de materiais naturais com características adequadas;
• inexistência de estudos geotécnicos que permitam garantir a qualidade e
quantidade de materiais suscetíveis de serem tratados de forma a atingir as
características mecânicas desejadas;
• falta de garantias mínimas de qualidade da execução
tecnologia
estado dos materiais
experiência dos técnicos
meios de controlo, etc.
3.3 Estudos económicos
3.3.2 Tratamento de solos para execução da camada de leito do pavimento
(cont.)

Análise comparativa das soluções:


• custo do m2 de plataforma e de pavimento
• custos de operações sistemáticas
armazenamento
mistura, etc.
• custos de operações complementares
homogeneização
humidificação
revestimento superficial; etc.
• custos com as ações de garantia da qualidade
(usualmente superiores no caso de tratamento)
Ábacos para comparação económica rápida entre o tratamento de solos e o recurso a empréstimo

ATERRO

57F/m3

33F/m3
Ábacos para comparação económica rápida entre o tratamento de solos e o recurso a empréstimo

LEITO

65F/m3
57F/m3

23F/m2
3.3 Estudos económicos

3.3.3 Limitações dos estudos económicos


Fatores críticos:
• avaliação da quantidade, do tipo e do estado dos solos;
• avaliação das condições atmosféricas durante os trabalhos;
• custos para garantir a qualidade final do produto (leito).

Avaliação dos custos/benefícios indiretos:


• rapidez de execução e cumprimento dos prazos;
• problemas ambientais (ruído, poluição atmosférica, aumento do
tráfego)
• custos associados à deterioração de vias de acesso a depósitos e
empréstimos;
• garantia da qualidade
• …
4. EQUIPAMENTOS DE TRATAMENTO DE SOLOS
4.1 Equipamento de armazenamento de produtos de tratamento
• Fornecimento individual
• Silos
grande quantidade, o que permite a regularidade da aplicação
possibilita o arrefecimento de alguns produtos fornecidos quentes e a
neutralização das cargas elétricas estáticas, o que facilita o espalhamento

• Sacos individuais (50 kg) – poderá haver problemas com humidade

Atender a:
capacidade de armazenamento;
qualidade de conservação (evitar hidratação do cimento e a recarbonatação da cal);
mobilidade (obras lineares);
escolha e adaptação do local de armazenamento (envolvente, acessibilidade).
Silos móveis (2×45t) (mangueiras para
Silos móveis (2×20t) em enchimento
evacuação de poeiras através de filtro e
(problema com poeiras)
depósito de água - contactos com a pele)

Silos fixos (100t) em central de produção Silo (30t) = cisterna de transporte rodoviário
4.2 Equipamentos de espalhamento
O espalhamento manual com
pré-colocação dos sacos,
normalmente só é encarado para
pequenos trabalhos, ou em
zonas de geometria complicada.

O espalhamento manual da cal


conduz a maiores dispersões.

4.2.1 Quantidade do produto a espalhar


Q = massa do produto a espalhar (kg/m2)
d = dosagem desejada
e = espessura da camada de solo “in situ” sobre a
qual se fará a mistura (m)
ρd = massa volúmica aparente seca do solo (kg/m3)

Nota: quando a quantidade do produto é insuficiente, podem ocorrer problemas


na mistura com o solo.
4.2.2 Equipamentos de espalhamento
Doseadores volumétricos horários (fornecimento proporcional ao tempo)
– o débito não depende da velocidade do veículo, pelo que
a massa espalhada depende - com vantagens (em zonas muito
húmidas o equipamento circula mais devagar, logo espalha
mais) e desvantagens (depende do operador); pouco rigoroso.
Doseadores volumétricos ajustados à velocidade de deslocação do equipamento
– constituídos por um tambor alveolar ou tapete extrator,
cujo débito depende da velocidade do equipamento,
permitindo o espalhamento de uma massa de produto
independente da velocidade; a taxa de débito é geralmente
pequena (< 30kg/m2), o que pode obrigar a várias passagens;
são adequados para o tratamento de solos em aterro.

Doseadores volumétricos ajustados por um dispositivo de ponderação


– semelhantes aos anteriores, completados por um elemento de
pesagem da cuba do espalhador e de medida do deslocamento
do equipamento; permite fazer uma regulação precisa e rápida
do doseador volumétrico e, assim, reduzir o custo do controlo
do espalhamento, ao mesmo tempo que melhora a fiabilidade.
4.2.3 Precisão de espalhamento

exatidão = desvio entre o valor da quantidade média


espalhada (ms) e o valor estabelecido no estudo de
formulação (mv)
Quantidade média espalhada do produto (massa M espalhada na superfície S)

Pesagem do espalhador Medição da superfície espalhada

coeficiente de variação calculado sobre um conjunto


de determinações de massa por m2 (com média m e
desvio padrão s), estimado como sendo representativo
da operação de espalhamento analisada:
Procedimento para determinação da massa por m2 (espalhamento mecânico)

No espalhamento manual um dos métodos possíveis de utilizar para determinar o


teor em cal da mistura é o da titulação (ex: ASTM D 3155-83).
A precisão de espalhamento depende de:
conceção do doseador: tipo e taxa de débito
Recomendada uma só passagem para:
- controlo mais adequado
- evitar poeiras ao passar novamente

dispositivos de ajuda
- largura de espalhamento variável
- registador de volume, etc.
Aspeto de solo tratado com cal
adequado funcionamento do equipamento
condições de visibilidade e experiência do condutor

4.2.4 Outros aspectos a considerar


Conceção do equipamento relativamente à produção de poeiras.
Produtividade do espalhador em relação à do equipamento de mistura
(capacidade da cuba, velocidade, mobilidade e traficabilidade, tempo de
enchimento, distância entre armazenagem e local do tratamento,… ).
Nota: o rendimento na estabilização de uma espessura de 20 cm de solo de
qualidade aceitável numa camada de leito pode variar entre 4 000 e 12 000 m2/dia
(o valor médio de 10 000 m2/dia é aceitável numa zona liberta de constrangimentos).

Nota: a descarga de uma cuba de abastecimento de cimento pode demorar quase


½ hora, o que pode significar 3 a 4 horas de paragem por dia (6 a 8 cubas de
25 a 27 t), por exemplo na estabilização de uma camada de 20 cm de leito de um
auto-estrada, com um solo de qualidade aceitável, onde o rendimento médio pode
ser de cerca de 10 000 m2/dia.

Nota: o emprego de cal apagada diminui muito o rendimento do equipamento de


espalhamento de ligante pelo facto de a sua densidade ser inferior à da cal viva ou
à do cimento.
4.3 Equipamento de preparação de solos
• “desagregação” ou “destorroamento”
pode ser feito com escarificador (riper de dentes montado sobre trator ou
motoniveladora, ou equipamento de mistura) (30 a 70 cm de profundidade);
aumenta a produtividade dos misturadores, melhora a operação de humidificação,
segrega os elementos grosseiros;
em geral o esforço de desagregação é mais intenso nas argilas.
• eliminação de elementos grossos (recolha manual ou mecânica, crivos fixos ou
móveis, esmagamento com martelo ou cilindros pés de carneiro, etc.)
Dmáx < 100 ou 150 mm (conforme a natureza petrográfica dos blocos e a potência
do pulverizador) para evitar problemas mecânicos
Dmáx < 50 mm no caso de fabricação em central

Aspecto do carregamento de um peneiro Aspecto dos blocos retidos Grelha fixa sobre
basculante num peneiro basculante viatura de transporte
homogeneização da fração misturável (em particular na aplicação em leito)
a) durante a extração e o carregamento
b) durante a extração e o carregamento, seguida de colocação em depósito provisório e
retoma (mais controlo do material, mais caro)

humidificação para alteração do estado hídrico (com ou sem escarificação)


No caso de solos secos ou com teor em água próximo do ótimo é necessário humidificar
para atender à água consumida pelas reações de hidratação da cal e pela evaporação

Depósito de grande capacidade Bacias provisórias


4.4 Equipamento de mistura de solos “in situ”
charruas de grades de discos:
• máxima espessura da camada a tratar: 200mm
• Dmax<250mm

charruas de dentes:
• máxima espessura da camada a
tratar: 500mm
• Dmax<350mm (mais passagens
devido a menor eficácia)

charruas de lâminas:
• adequadas a solos com partículas
grosseiras
pulverizadores de solos de tambor horizontal (pulvimixer)
• máx. 300 a 500mm de profundidade
• alguns destes equipamentos fazem todas as operações de preparação de solos

1ª geração – câmara de mistura atrás do 2ª geração – câmara de mistura intercalada


trator (esp. máx. 300mm) entre rodados esp. máx. 350mm

3ª geração – esp. máx. 500mm Pulverizador moderno com pás de extremidade dura
enxadas (pás) mecânicas:
• espessura máxima de 350mm
• a qualidade de mistura e regularidade de espessura é
intermédia entre as charruas e os pulverizadores
• particularmente adaptadas a solos coesivos húmidos
e a zonas difíceis (aterros técnicos, alargamentos de
aterros, etc.)

A mistura do solo com cal deve efetuar-se, de preferência, logo após o


espalhamento da cal (até 1 hora), de forma a evitar deteriorações por prolongada
exposição ao ar e perdas devidas ao vento ou a outras condições meteorológicas.
A espessura da camada estabilizada pode ser medida por um método que
recorra à determinação do pH da mistura a diferentes profundidades (a cal
aumenta o pH do solo).
Nota: é importante considerar no cálculo do rendimento destes equipamentos o
desgaste dos elementos do tambor, que em casos extremos exige a sua
substituição várias vezes por dia.

4.5 Centrais de fabricação, Equipamentos de compactação, Equipamentos de


regularização e de proteção superficial
Outros produtos de tratamento
– substâncias químicas, soluções betuminosas, emulsões poliméricas
5. ASPECTOS GERAIS DA GARANTIA DA QUALIDADE DOS
TRABALHOS DE TRATAMENTO DE SOLOS

Princípios da garantia da qualidade (Plano de Garantia da Qualidade, etc.)

Adequação das especificações técnicas (ex: limitações à granulometria, etc.)

Adequação dos métodos de controlo da qualidade (ex: é difícil a colheita de


amostras intactas de solo-cal a curto prazo (24 horas), porque os provetes se
desagregam ao serem extraídos dos moldes

Proteção do ambiente (ex: controlo de poeiras)

Segurança das pessoas (ex: identificação dos riscos, medidas de prevenção –


olhos, pele, vias respiratórias, primeiros socorros, etc.)

Nota: a utilização da cal viva exige cuidados


acrescidos de segurança de pessoas e
equipamentos

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