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Parte A
Noções gerais relativas à técnica de tratamento de solos com cal ou ligantes
hidráulicos (aterro e leito do pavimento)
Parte B
Aplicação do tratamento de solos na construção de aterros
Parte C
Aplicação do tratamento de solos na construção de camadas de leito do
pavimento: estudos; técnicas e equipamentos de construção; garantia da
qualidade.
Parte A
Noções gerais relativas à técnica de tratamento de solos
com cal ou ligantes hidráulicos (aterro e leito do pavimento)
Exemplo de uma
abordagem simplificada
1.1 – Solos
1.1.1– Parâmetros que caracterizam a natureza dos solos
a) Granulometria
• Dmáx -mistura adequada e limitação dos equipamentos
• % < # 0,08 mm -escolha do produto de tratamento
• CU = D60/D10 -para materiais granulares fornece uma
informação qualitativa sobre os valores das dosagens que são necessárias
para atingir o nível de resistência pretendida (maior CU => menor
quantidade de material necessário ao tratamento)
b) Argilosidade (para definir o tipo de aplicação e produto de tratamento)
• Ip
• VBS
c) Teores em constituintes químicos particulares
Matérias orgânicas
• Conforme a sua natureza e proporção no solo, elas consomem, à partida,
uma quantidade mais ou menos importante de produto de tratamento para
neutralizar a acidez do meio, quantidade que não é utilizada para o
desenvolvimento das reações de cimentação.
• Pode ser necessário uma sobredosagem.
Fosfatos e Nitratos
• Geralmente são inibidores, ou pelo menos retardadores, da presa hidráulica.
• A sua presença nos solos é relativamente rara e resulta principalmente do
espalhamento intensivo de adubos químicos.
Cloretos
• Em geral têm uma ação de acelerador de presa e de endurecimento com
possibilidade de expansão por criação de cloro-aluminatos.
• É necessário um estudo do desenvolvimento da presa para decidir da
adequação da técnica de tratamento.
Teores em constituintes químicos particulares (cont.)
Sulfatos e Sulfuretos
• A sua ação pode ser muito nefasta mesmo para teores da ordem de 1%, pois dão
origem à formação de espécies cristalinas muito expansivas, podendo
destruir a presa hidráulica.
• São os constituintes que apresentam a maior probabilidade de presença nos
solos (sob a forma de gesso ou de pirite) e nos materiais de demolição.
Nota geral: apesar de estes constituintes terem uma incidência muito importante
sobre o desenvolvimento da presa, não são medidos sistematicamente, quer
porque não é normal o seu aparecimento nos solos, quer porque os ensaios são
relativamente complicados. Para apreciar o risco de comportamento anormal é
preferível realizar um ensaio de “avaliação da aptidão do solo para tratamento
com cal e ligantes hidráulicos” – ensaio para avaliação da expansão.
- cal quimicamente pura: teor em CaO > 97%; teor em Ca(OH)2 > 97%
- cal gorda: 85% < teor em CaO < 97%; 85%< teor em Ca(OH)2 < 96%
- cal magra: teor em CaO < 85%; teor em Ca(OH)2 < 85%
(rochas calcárias impuras, com elementos argilosos)
A cal hidratada
• apresenta-se sempre na forma pulverulenta (à exceção do leite de cal), e a
sua granulometria é mais fina que a da cal viva, pois o processo de
hidratação confere-lhe um maior grau de finura.
• a granulometria depende da rocha e processo de fabrico (calcinação e moagem).
A superfície específica da cal
•influencia a facilidade de homogeneização e de reação da cal com outros
materiais
•deve ser grande para garantir uma perfeita mistura com o solo e a água.
– 0,5 a 2 m2/g na cal viva
– 15 m2/g na cal hidratada
• varia com as características físicas e Cal muito Cal medianamente Cal pouco
reactiva reactiva reactiva
químicas da cal.
Para a cal aérea hidratada
• não há reação de extinção em presença da água;
• são realizados outros ensaios, como os que avaliam a capacidade de
neutralização em função do tempo, quando em presença de um ácido.
Principais fatores que influenciam a reatividade da cal viva:
• Grau de pureza do óxido de cálcio – a presença de elementos argilosos e de
um teor elevado de MgO influenciam negativamente a hidratação pelo que a cal
dolomítica tem uma menor reatividade do que a calcítica; a reação de
hidratação do óxido de cálcio é altamente exotérmica e processa-se rapidamente,
mas a hidratação do óxido de magnésio é lenta e promovida pelo calor;
• Estado de conservação e idade da cal – o óxido de cálcio é muito sensível à
ação combinada da humidade e do dióxido de carbono do ar, transformando-se
em carbonato de cálcio, que é inerte do ponto de vista calorífico pelo que
diminui a reatividade;
• Superfície específica;
• Granulometria;
• Estado de compacidade – maior compacidade conduz a menor reatividade;
Exemplo:
- a adição de um teor em cloreto de sódio igual a 0,12% pode conduzir a
resultados semelhantes aos que são obtidos com um teor adicional em cal de 4%.
Exemplo:
• A cinza volante torna reativos à cal os solos arenosos, isto é, faz a função
da fração fina do solo, uma vez que pode reagir com a cal.
• Em geral, as partículas de cinza volante têm dimensão silte, forma
esférica e distribuição granulométrica relativamente uniforme.
1.2.2– Ligantes hidráulicos
O princípios de ação dos LHR são semelhantes aos dos cimentos, apresentando
constituintes semelhantes mas em proporções diferentes, e portanto fenómenos de
presa hidráulica da mesma natureza mas com cinética específica.
O betão pobre compactado (HMC) é semelhante ao betão pobre vibrado, mas com
consistência seca. Trata-se de um material fabricado em central constituído por inertes
semelhantes aos utilizados no caso do grave-cimento, e com uma quantidade de cimento da
ordem de 5 a 10 %. A longo prazo, a resistência à compressão deve ser superior a 22 MPa
(ao fim de 7 dias deve apresentar valores superiores a 12 MPa) e o módulo de elasticidade
deve ser da ordem de 30 000 MPa. Emprega-se fundamentalmente como camada de base.
Proporcionam:
o aumento do intervalo de trabalhabilidade da mistura
diminuição da resistência mecânica a curto prazo (recuperada posteriormente)
atraso no desenvolvimento do calor de hidratação
Intervalo de trabalhabilidade
- pode ser entendido como o período em que se pode trabalhar a mistura
sem afetar as ligações que asseguram a resistência, mantendo essa mistura
uma consistência semelhante à inicial.
• ex: mínimo de 3 a 4 horas quando se utiliza ligantes hidráulicos
Existem relatos de obras em que se construíram camadas ligadas
com cimento, em que o intervalo de trabalhabilidade ultrapassou as
10 horas, permitindo a correção da compactação, quando necessário,
e a otimização da gestão do estaleiro.
A6 A-2-7
A-2-6
A-2-4
Alteração da granulometria A6 => A-2-7
de dois solos residuais A-2-6 => A-2-4
graníticos, com adição de
2% de cal (Cristelo, 2001)
Quando se utiliza cal viva, não se deve compactar imediatamente, mas sim
esperar as reações de hidratação da cal (poderão levar algum tempo, por
exemplo, intervalos superiores a 4 horas) pelo facto de o aumento de volume da
mistura na hidratação conduzir a um mau comportamento da camada.
• As características de compactação são influenciadas pelo tempo
que decorre entre a mistura e a compactação, isto é, quando
aumenta o tempo entre a mistura e a compactação, para uma
determinada energia, verifica-se:
Nota: evitar fazer tratamentos com cal com temperaturas abaixo dos 5ºC
quantidade e natureza da fração argilosa do solo – a cal só por si é incapaz
de desencadear as reações físico-químicas de estabilização, sendo por isso
necessário uma aptidão própria da parte do solo.
• Ip > 10 a 15% (em princípio, quanto mais plástico for o solo, melhor para as reações).
• Alguns estudos mostram que o solo tratado com cal dolomítica mostrou-se
mais resistente do que quando tratado com cal calcítica.
Curva teórica da evolução, com o tempo, da resistência à compressão
simples de uma mistura solo-cal (Cristelo, 2000)
• O aumento da coesão
faz-se sentir logo após
a ação imediata da cal
e processa-se ao longo
do tempo, durante a
cimentação.
Em alguns ligantes com forte proporção de cal pode ocorrer floculação dos
minerais argilosos, como no caso da cal (mais lenta e menos intensa)
Notas:
• é recomendável a execução de estudos específicos;
• o aumento da argilosidade reduz a resistência;
• alguns solos requerem um tratamento misto (cal + cimento) ex: A2, A3 (muito
argilosos);
• constituintes como matéria orgânica, fosfatos, nitratos, sulfatos, etc. podem
impedir a presa ou destruí-la por expansibilidade;
• a resistência cresce com o aumento da massa volúmica aparente seca (é mais
favorável uma granulometria contínua e extensa num estado ligeiramente húmido).
Notas:
• a duração do período de mistura e em particular do período de espera até
à compactação influenciam a resistência; após adição de cimento ao solo,
inicia-se a floculação da fração argilosa e a criação de ligações que vão
dificultar a compactação; estes fenómenos dificultam a densificação dos
materiais, conduzindo à diminuição da resistência;
• uma diminuição de 5% na compactação relativa provoca reduções da
resistência à compressão superiores às correspondentes a uma diminuição
de 10 a 15% na quantidade de cimento;
• não se deve estabilizar quando a temperatura
ambiente, à sombra, é superior a 35ºC, pois é
desfavorável para a hidratação dos ligantes
hidráulicos;
verificação da aptidão do solo para ser tratado com um dado produto (NF P 94-100);
Análise de custos
Componentes do custo da solução Componentes do custo da solução
“tratamento” “empréstimo”
Colocação do solo em depósito: expropriação
do local (ou direito de exploração), criação de
Fornecimento do produto de tratamento acessos, extração, carregamento, transporte,
espalhamento e compactação em depósito do
material escavado.
Empréstimo de solos: expropriação do local
Armazenamento, espalhamento e mistura do (ou direito de exploração), criação de acessos,
produto de tratamento extração, carregamento e transporte do
material de empréstimo para a obra.
Extração, carregamento, transporte (solo in situ) ------
Colocação em aterro: molhagem (empréstimo), compactação, etc.
Requalificação do depósito e do empréstimo
Custos indiretos (controlo da qualidade, etc.)
3.3 Estudos económicos
3.3.2 Tratamento de solos para execução da camada de leito do pavimento
Objetivos principais:
• utilização de solos que no seu estado natural são inadequados; ou
• melhoria das características dos materiais adequados, para reduzir volumes.
ATERRO
57F/m3
33F/m3
Ábacos para comparação económica rápida entre o tratamento de solos e o recurso a empréstimo
LEITO
65F/m3
57F/m3
23F/m2
3.3 Estudos económicos
Atender a:
capacidade de armazenamento;
qualidade de conservação (evitar hidratação do cimento e a recarbonatação da cal);
mobilidade (obras lineares);
escolha e adaptação do local de armazenamento (envolvente, acessibilidade).
Silos móveis (2×45t) (mangueiras para
Silos móveis (2×20t) em enchimento
evacuação de poeiras através de filtro e
(problema com poeiras)
depósito de água - contactos com a pele)
Silos fixos (100t) em central de produção Silo (30t) = cisterna de transporte rodoviário
4.2 Equipamentos de espalhamento
O espalhamento manual com
pré-colocação dos sacos,
normalmente só é encarado para
pequenos trabalhos, ou em
zonas de geometria complicada.
dispositivos de ajuda
- largura de espalhamento variável
- registador de volume, etc.
Aspeto de solo tratado com cal
adequado funcionamento do equipamento
condições de visibilidade e experiência do condutor
Aspecto do carregamento de um peneiro Aspecto dos blocos retidos Grelha fixa sobre
basculante num peneiro basculante viatura de transporte
homogeneização da fração misturável (em particular na aplicação em leito)
a) durante a extração e o carregamento
b) durante a extração e o carregamento, seguida de colocação em depósito provisório e
retoma (mais controlo do material, mais caro)
charruas de dentes:
• máxima espessura da camada a
tratar: 500mm
• Dmax<350mm (mais passagens
devido a menor eficácia)
charruas de lâminas:
• adequadas a solos com partículas
grosseiras
pulverizadores de solos de tambor horizontal (pulvimixer)
• máx. 300 a 500mm de profundidade
• alguns destes equipamentos fazem todas as operações de preparação de solos
3ª geração – esp. máx. 500mm Pulverizador moderno com pás de extremidade dura
enxadas (pás) mecânicas:
• espessura máxima de 350mm
• a qualidade de mistura e regularidade de espessura é
intermédia entre as charruas e os pulverizadores
• particularmente adaptadas a solos coesivos húmidos
e a zonas difíceis (aterros técnicos, alargamentos de
aterros, etc.)