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Mercado de Capitais

Capítulo 5 – Políticas Macroeconómicas


e o Mercado Financeiro
A análise económica é determinante para quem desenvolve a
sua atividade no setor financeiro.

Conhecer o modo como funciona a economia é uma mais valia.

A macroeconomia é uma das variáveis determinantes no tipo de


informação que os intervenientes do mercado financeiro
necessitam antecipar, conhecer e controlar.

O Consumo das famílias, o Investimento das empresas, o


Orçamento do Estado, as Exportações e as Importações, a
Oferta e a Procura de moeda, as Taxas de juro, o
Crescimento económico, o Desemprego e a Inflação, são
variáveis macroeconómicas que se relacionam entre si e que
evoluem em ciclos económicos.
Os agentes económicos e do mercado financeiro têm
grande atenção e interesse em todas as notícias e dados
económicos que vão sendo divulgados.

Esse fluxo de informação constitui a base da


fundamentação das suas decisões de investimento.

As fontes de informação são variadas. Os organismos


internacionais como o
 Fundo Monetário Internacional (FMI) e a
 Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico
(OCDE), e
 os principais Bancos Internacionais

publicam regularmente relatórios sobre a economia mundial.


Nessas análises, é frequente encontrar expressões como

recuperação,
expansão ou
recessão económica,

termos que orientam os responsáveis da política económica,


os agentes económicos, os gestores de ativos financeiros e
os investidores em geral nas suas tomadas de decisão.
Os economistas, os analistas de research do mercado e os
investidores analisam os principais indicadores económicos
que são divulgados e que constituem ferramentas
indispensáveis à análise da evolução económica (onde
estamos e para onde vamos).

Os indicadores económicos mais importantes são


 o Produto Interno Bruto (PIB),
 a Inflação,
 o Desemprego,
 o Consumo Privado
 e outros indicadores

… que nos ajudam a definir os ciclos económicos e a sua


relação com o valor dos ativos financeiros e com a evolução
dos mercados.
Produto Interno Bruto (PIB)
A análise das componentes do PIB proporciona um bom
nível de informação sobre a evolução da economia.

A taxa de variação do PIB é a medida que melhor espelha a


evolução económica de um País num determinado período.

Para prever a evolução dos mercados financeiros, os


analistas de research trabalham com o PIB e calculam taxas
de variação entre trimestres e entre anos (cada valor do
PIB trimestral é comparado com o valor do PIB do
trimestre homólogo do ano anterior).

 Porquê?
 Em termos macroeconómicos, utiliza-se o PIB anual e a taxa de
variação interanual, embora como já foi referido, nos mercados
financeiros se analise mais o PIB em termos trimestrais.

 Porque esta comparação revela uma maior sensibilidade ao


comportamento da economia, permitindo detetar com mais
fiabilidade a fase do ciclo económico em que nos
encontramos.

 Quando se analisa a evolução do PIB de um País, verifica-se que


este não tem um crescimento linear e sustentado.

 Ao observar séries de valores em períodos temporais longos,


verifica-se que existem períodos de crescimento económico mais
rápido, períodos de crescimento mais lento e períodos de
desaceleração económica.
A economia apresenta ciclos e estes possuem várias fases.

A análise das diversas fases de um ciclo económico


revela o comportamento das variáveis económicas, muitas
das quais com incidência direta no preço dos ativos
financeiros e, consequentemente, na evolução dos
mercados.

Os economistas concluíram que as economias passam por


fases expansionistas que ocorrem ao mesmo tempo em
vários setores de atividade, seguidas por outras fases de
desaceleração (incluindo períodos de recessão), seguidas
posteriormente por fases de recuperação.
As fases de um ciclo económico são genericamente as
seguintes:
Fases de um ciclo económico
Expansão Auge
É caraterizada por um crescimento da Normalmente de curta duração.
capacidade produtiva. O PIB cresce em A capacidade de produção está no
termos dinâmicos. máximo. A procura é superior à oferta,
gerando pressões inflacionistas. As taxas
de juro normalmente sobem.
Desaceleração ou Aterragem Suave Recessão
O crescimento económico reduz-se, ou Fase negativa, em que as economias
seja, o PIB cresce mas a taxas reduzidas apresentam taxas de variação do PIB
negativas. O desemprego aumenta e a
inflação é baixa. As taxas de juro
normalmente descem
Recuperação ou Retoma
Segue-se à recessão. Verifica-se uma melhoria da atividade económica. Os
indicadores melhoram progressivamente.

Fonte: Bastardo (2011)


As causas destas flutuações do ciclo económico estão
associadas ao desenvolvimento da economia de mercado,
às tensões entre a oferta e a procura de bens e serviços e ao
financiamento da atividade produtiva.

Os ciclos económicos não são simétricos e não tem a


mesma duração.

Hoje há condições para antecipar e identificar melhor os


ciclos económicos.
Os ciclos económicos são permanentemente estudados pelos
analistas de research e economistas em geral, de forma a
antecipar o comportamento dos mercados financeiros
(decisões de investidores).

O objetivo é tentar aproveitar as oportunidades de


investimento ou de desinvestimento não correndo riscos
desnecessários.

Um gestor de ativos financeiros, num contexto de


arrefecimento económico, deverá procurar ativos financeiros
com maior liquidez, evitando os investimentos em ativos de
rendimento incerto e com maior volatilidade (ações e seus
derivados), devendo preferir ativos financeiros de rendimento
certo (obrigações), preferencialmente, com uma taxa de juro
fixa.
A análise dos ciclos económicos é determinante para os
gestores de ativos financeiros pois permite identificar quais
os produtos ou ativos financeiros mais adequados a cada
fase do ciclo económico.

No quadro seguinte são apresentadas as principais variáveis


macroeconómicas e o respetivo efeito nas fases positiva e
negativa da economia.
Variáveis Fases Positivas Fases Negativas
Macroeconómicas
PIB Sobe Desce
Procura Sobe Desce
Oferta Sobe Desce
Desemprego Desce Sobe
Inflação Sobe Desce
Taxa de juro Sobem Descem

Fases positivas – Recuperação e Expansão


Fases negativas – Desaceleração e Recessão

Dependendo da fase do ciclo económico, os ativos financeiros


têm comportamentos diferenciados.
Ações

A fase de recuperação e o início da fase de expansão são


normalmente favoráveis ao mercado de ações, uma vez que
nestas fases, as empresas aumentam os seus resultados
líquidos e os seus fundos libertos de exploração (FCF).

Nestas fases, não existem grandes pressões inflacionistas.

Contudo, à medida que a fase de expansão avança, o


aumento significativo das cotações e o acréscimo de
volatilidade, poderão originar correções do mercado,
seguidas de novos períodos de alta das cotações.
Poderão formar-se bolhas especulativas, cuja consequência
são fortes correções dos preços dos ativos financeiros.

Os investidores e os gestores de ativos financeiros tem de


estar atentos à evolução económica, à evolução da
performance das empresas e às decisões de política
monetária tomadas pelos Bancos Centrais.

Quando ocorre a fase do arrefecimento da economia, as


cotações das ações descem.

Caso a desaceleração económica não seja brusca e não


provoque uma recessão, a dada altura, poderão surgir boas
oportunidades de investimento.
A fase de recessão provoca uma queda prolongada e
significativa das cotações das ações.

Aqui, os investidores e os gestores de ativos financeiros


têm de estar atentos e ao mínimo sinal de fraqueza dos
indicadores macroeconómicos e ao momento em que estes
voltem a dar sinais de inflexão (início de recuperação).

Nessas alturas poderão existir boas oportunidades de


desinvestimento ou de investimento.
Obrigações

Na fase de expansão, a dada altura, surgem pressões


inflacionistas, fato que obriga as autoridades monetárias
(Bancos Centrais) a subirem as taxas de juro de referência.

O investimento em obrigações de taxa de juro fixa deixa de


ser atrativo, uma vez que à medida que as taxas de juro
sobem no mercado, os preços dos ativos financeiros caem.

As obrigações de taxa de juro variável são uma alternativa


para os investidores nesta fase.
Quando a economia desacelera e caso entre em recessão, a
valorização das obrigações de taxa de juro fixa é um fato.

Os bancos centrais com o objetivo de fomentar a dinâmica


económica, descem as taxas de juro de referência e tomam
outras decisões com vista a melhorar as condições de
liquidez no mercado financeiro e na economia em geral.

As obrigações de taxa de juro variável acompanham a


descida das taxas de juro no mercado, pelo que os
rendimentos serão menores, logo, menos atrativos.

Na fase de recuperação e sobretudo quando começa a


expansão, as cotações das obrigações de taxa de juro fixa
tendem a estabilizar.
Existe uma forte correlação entre o ciclo económico, a
política monetária e a variação do preço e da rendibilidade
das obrigações.

O prémio de risco soberano da dívida pública e o prémio de


risco de crédito da dívida privada (empresas) tendem a
exibir uma evolução muito próxima do ciclo económico.

Em períodos económicos conturbados, os balanços das


empresas tendem a deteriorar-se, devido à quebra de
receitas motivada pelo ambiente económico negativo,
pelo acréscimo da concorrência ou pelo agravamento das
condições de recebimento por parte dos clientes.
Por outro lado, os Estados poderão ser confrontados com a
necessidade de auxílio do setor financeiro, aumentando a
dívida emitida e o défice público, como sucedeu na crise
do crédito de 2007 e, mais concretamente em 2008 e 2009.

Esta situação reflete-se diretamente na maior dificuldade


em fazer face aos compromissos financeiros, o que leva
normalmente os investidores a exigirem um maior prémio
de risco, i.e, taxas de rendibilidade superiores.

O inverso acontece em períodos positivos das economias.


Uma vez que os preços de mercado incorporam toda a
informação disponível, a divulgação de indicadores
económicos diferentes (melhores ou piores) dos valores
previstos pelos analistas económicos, vai refletir-se nas
cotações dos ativos financeiros.

As situações mais comuns são as seguintes:

A evolução dos ativos financeiros e os indicadores macroeconómicos


Evolução do Indicador Ações Obrigações de taxa de
juro fixa
PIB superior ao previsto Normalmente sobem Normalmente baixam
PIB inferior ao previsto Normalmente baixam Normalmente sobem
Inflação superior ao previsto Normalmente baixam Normalmente baixam
Inflação inferior ao previsto Normalmente sobem Normalmente sobem
Quais são os dados macroeconómicos que
os gestores de ativos financeiros têm mais
atenção?
 Indicadores de confiança dos negócios
 ISM Manufacturing e ISM Non Manufacturing (EUA - dados
mensais)
 IFO (Alemanha – dados mensais)
 Tankan (Japão – dados trimestrais)

 Indicadores de confiança dos consumidores


 Consumer Confidence (EUA & Zona Euro – dados mensais)

 Indicadores do Imobiliário
 Housing Starts (Início de construção de casas)
 Building Permits (licenças de construção) Dados mensais
 Existing Home Sales (vendas de casas usadas)
 New Home Sales (vendas de casas novas)
 Indicadores de emprego
 Relatório de emprego (EUA & Zona Euro – dados mensais)

 Inflação
 CPI e Core CPI (Índice de preços no consumidor e o mesmo índice mas
sem as classes de alimentação e de energia) – dados mensais

 Outros indicadores importantes


 Vendas a retalho;
 Vendas de automóveis;
Dados mensais
 Ordens industriais
 Produtividade

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