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Reações adversas aos

cosméticos
Definição
• Os cosméticos podem ser definidos como preparações
constituídas por substâncias naturais ou sintéticas, de uso
externo nas diversas partes do corpo humano, pele, sistema
capilar, unhas, lábios, órgãos genitais externos, dentes e
membranas mucosas da cavidade oral, com o objetivo
exclusivo ou principal de limpá-los, perfumá-los, alterar sua
aparência, corrigir odores corporais e ou protegê-los ou
mantê-los em bom estado.
Categorias
• Os cosméticos podem ser enquadrados em
quatro categorias:
– produtos de higiene,
– cosmético,
– perfume
– produto de uso infantil.
Graus de risco
• Pelo grau de risco que oferecem são
classificados:
– grau 1 (produtos com risco mínimo)
– grau 2 (aqueles com risco potencial)
Riscos
• Qualquer produto a ser aplicado na pele, ele poderá
interferir no ecossistema cutâneo e modificar sua
bioquímica e a fisiologia em maior ou menor grau.
– pode ser benéfica ou nociva, dependendo do tipo de
manifestação, após curtos ou longos períodos de sua
utilização.
(NUNES, 2000).
Reações adversas
• 1. Reações irritativas:
• intolerância local que se restringe à área de contato
direto com o produto
• reações de desconforto menores,
• reações mais ou menos agudas, variando sua intensidade,
• Ardor, coceira e pinicação podendo chegar à corrosão e
destruição do tecido.

– imediatas (ex: hidróxido de sódio)


– acumulativa (ex: tensoativos). A irritação
• Tais reações dependem fundamentalmente da
concentração do agente agressor, do tempo de ação,
biodisponibilidade química e local do corpo em que o
produto é aplicado (BASKETTER, 1980).
• Na maioria dos casos, as reações irritativas não
dependem de fatores genéticos ou individuais
(DRAELOS, 1999).
Agentes irritantes
• Principais agentes químicos irritantes:
– determinados ácidos e bases fortes, alcoóis,
fósforo, xampus, sabonetes e cremes depilatórios.
• Principais agentes físicos:
– raios ultravioleta, radiações ionizantes, calor, frio,
fricções e coceiras repetidas.
• WILKINSON & mOORE (1982) definem substâncias irritantes
como aquelas que induzem inflamação, ou seja, substâncias
não corrosivas e formulações que, por contato imediato,
prolongado ou repetido com a pele ou membranas mucosas,
causam inflamação.

• principais sinais clínicos


– vermelhidão, calor, dor e inchaço, mas nem todas as lesões
apresentam estes quatro sinais.
• Principais consequências da inflamação são:
– eritema,
– edema,
– adesão e
– infiltração de leucócitos,
– deposição de fibrina
– trombose,
– degradação de tecidos,
– proliferação capilar,
– fibrose e cicatriz
Inflamação X infecção
• As principais mudanças no estrato córneo após a
aplicação de substâncias irritantes são:
– remoção de lipídios,
– remoção de substâncias celulares solúveis e de água,
– desnaturação de proteínas,
– descamação,
– mudanças no conteúdo de enzimas,
– hiperqueratose (aumento transitório no número de corneócitos)
– prejudicam a resistência à penetração por microrganismos ou substâncias do
ambiente
– diminuição de plasticidade ou elasticidade, podendo levar a finas rupturas e
descamação.
• 2. Reações alérgicas ou sensibilizantes:
– Ela envolve mecanismos imunológicos e pode aparecer em
outra área, diferente da área de aplicação, podendo se
manifestar por eritema, edema e secreção com formação de
crostas (VIGLIOGLIA & RUBIN, 1991).
• Dermatite alérgica de contato (ex: princípios ativos, veículos, conservantes)
• granuloma alérgico (ex:zircônio).

– A sensibilização corresponde a uma alergia e pode ser:


• 2.1 -Reação de efeito imediato (de contato ou urticária)
• 2.2 -Reação de efeito tardio (hipersensibilidade).

– Pode ocorrer em função das matérias primas ou do produto


final.
1.1- Reações de efeito imediato
• Mecanismos e sintomas
– É um fenômeno imunológico que envolve células processadoras de
antígenos e que apresentam antígenos sem relação com a condição do
estrato córneo protetor. Isto nos leva a supor que a única forma de
evitar a dermatite alérgica de contato é evitar a exposição ao alérgeno
(DRAELOS, 1999).
– Os principais sintomas são coceira, queimação, podendo até mesmo
ocorrer urticária generalizada e anafilaxia.
Principais causas de dermatite alérgica ou urticária

• produtos de tratamento da pele - 28%


• produtos de tratamento do cabelo (24%),
• cosméticos faciais (11%),
• cosméticos para unha (8%)
• produtos de fragrância (7%).

• Dentre as substâncias responsáveis pelas dermatites alérgicas, as mais frequentes


foram fragrâncias, conservantes, p-fenilenediamina (componente de solução de
ondulação permanente), lanolina,
tioglicolato de gliceril (componente de solução de ondulação permanente),
propilenoglicol, resina de toluenossulfonamida/formaldeído (componente de
esmalte de unha) e fltros solares.
2.2 -Reação tardia (hipersensibilidade)
• A hipersensibilidade é uma resposta imunológica na qual há a
formação de anticorpos.
– É necessária a presença de um antígeno, que é a substância que
estimulará a formação do anticorpo.
– Os antígenos que induzem alergia são frequentemente chamados de
alérgenos, os quais apresentam como característica principal a
especificidade.
• Tipos de reações alérgicas:
– tipo I – imediata ou anafilática;
– tipo II – citotóxica;
– tipo III – por imunocomplexos circulantes;
– tipo IV – hipersensibilidade tardia.
• Hipersensibilidade anafilática
– eritema, edema e de urticária alérgica de contato
– Conhecida como reação alérgica imediata, observa-se sinais
com minutos de exposição ao antígeno é mediada pelos
anticorpos IgE que conseguem ligar-se com mastócitos e
leucócitos
– Reação inflamatória aguda, podendo ocorrer urticária, edema
angioneurótico, edema de laringe e choque anaflático
Mecanismo
– Principais agentes indutores de hipersensibilidade
tardia
• Em fragrâncias, têm-se várias substâncias sensibilizantes, como
álcool e aldeído cinâmico, álcool alfa-amil-cinâmico,
hidroxicitronelal, eugenol, isoeugenol e geraniol;
• em tinturas de cabelo, as mais comuns são o parafenileno diamina
e derivados;
• na classe de conservantes, antioxidantes e antissépticos, têm-se o
formaldeído e formalina, os parabenos e poliquaternos;
• veículos, a lanolina e o propilenoglicol;
• na categoria de cosméticos para unhas, as substâncias
sensibilizantes mais comuns são resina de paratoluenosulfonamida
e acrilatos
• protetores solares, o ácido p-aminobenzóico (PABA).
• Hipersensibilidade tardia
– manifestada pela dermatite alérgica de contato ou eczema
– resposta imune celular, porque a resposta clínica é mediada pelos linfócitos T
na ausência de anticorpo específico
– ingredientes de perfumes
• 3. Dermatite de fotossensibilização (fototoxia ou
fotoalergia)
– substâncias que são inócuas e até mesmo bem toleradas podem
tornar-se prejudiciais quando ativadas pela luz, podendo levar a
fenômenos fototóxicos (ou seja, inflamação induzida pela luz) ou
fotoalérgicos (onde o estímulo antigênico é ativado pela luz).
– A energia para ativar tais substâncias é derivada de radiações nos
comprimentos de onda de 300 a 800 nm.
• as reações fototóxicas
– geralmente aparecem como uma queimadura
de sol que pode ser seguida de hiperpigmentação
e descamação, sendo originadas de substâncias de
baixo peso molecular, as quais possuem estruturas
altamente ressonantes que absorvem radiação
ultravioleta A (UVA).
• reações fotoalérgicas
– são reações imunológicas mediadas por linfócitos,
como os casos de hipersensibilidade tardia, ou por
anticorpos mediando mudanças anafiláticas.
– são menos comuns e são caracterizadas por
eritema, edema e vesiculação
• Os fotoalérgenos, por sua vez, apresentam algumas peculiaridades, como
solubilidade em lipídios de baixo peso molecular e presença de estruturas
altamente ressonantes que absorvem energia sobre ampla variação de
comprimento de onda, mas predominantemente sobre UVA.
• Substâncias utilizadas em cosméticos que induzem fototoxicidade ou
fotoalergia:
– os derivados PABA presentes em protetores solares,
– bitionol e hexaclorofeno presentes em desodorantes,
– determinadas substâncias bacteriostáticas, como a tetraclorosalicilanilida.
– Fragrâncias que contém óleos essenciais de algumas plantas, como, por
exemplo, bergamot, são potentes fontes de fototoxinas .
• 4. Reações sistêmicas:
– São reações resultantes da passagem de quaisquer substâncias do
produto para a circulação sanguínea, diretamente por via oral,
inalatória, transcutânea ou transmucosa, metabolizadas ou não
(BRASIL, 2003).
• por inalação (ex: fragrâncias)
• por absorção percutânea (ex: persulfato de amônio).
– a fórmula do produto acabado pode interferir, à medida que
facilita a absorção total ou parcial dos componentes, sendo
responsável, também, por possíveis sinergismos, resultantes da
associação de matérias-primas.
• Substâncias presentes em branqueadores capilares –persulfato de
amônio, podem causar reações generalizadas do tipo eritema facial,
edema e desmaios.

• Já substâncias presentes em tinturas capilares, como a


parafenilendiamina, se absorvidas por via percutânea, podem ligar-se à
hemoglobina do sangue formando metahemoglobina, levando à produção
de cianoses, estado tóxico geral e manifestações neurológicas .
• 5. Reações físicas e outras: por oclusão (ex: foliculite
por óleos).
– Determinados cosméticos que apresentam ação despigmentante podem
levar à reações adversas.
• a utilização de hidroquinona, despigmentante muito empregado em formulações
cosméticas, pode levar ao aparecimento de lesões vitiliginosas locais.
– veículos, principalmente os de natureza oleosa, podem levar à erupções
acneiformes por ação mecânica ou bioquímica, as quais são
caracterizadas pelo aparecimento de comedões, pápulas e pústulas
• Comedões ou vulgarmente chamados de
cravos
• 6. Ação carcinogênica

• A indústria cosmética aparece como uma fonte potencial de tóxicos


ambientais cujo poder mutágeno e cancerígeno deve ser avaliado.
• De cada 10 corantes presentes em preparações cosméticas
como batons, três se mostraram mutágenos nos testes de
Ames, que é um teste in vivo utilizado para predizer ação
carcinogênica.
Testes empregados em
reações adversas a cosméticos
• estudos de tolerância a cosméticos
– muitos dos testes empregados para verificação de
reações adversas a cosméticos estão deixando de
serem realizados em animais e estão sendo
adotadas metodologias in vitro.
– longe de mimetizar o que ocorre in vivo
• TESTE “in vivo”
– Teste de irritação ocular primária (Teste de Draize) – coelhos
• Escala de Draize:
– discretamente irritantes (índice ≤ 2);
– moderadamente irritantes (índice entre 2 e 5);
– e muito irritantes (índice ≥ 6).
– Teste de toxicidade aguda dérmica – cobaias de ambos os sexos.
– Fotossensibilidade e fototoxicidade – animais albinos sensibilizados e expostos à luz.
– Teste de irritação cutânea – homem ou coelhos
– Testes de sensibilização cutânea - fase de sensibilização e fase de revelação.
– Acneigênese - pincelando o conduto auditivo externo do coelho e observação quanto a
formação de comedões.
– Toxicidade oral e percutânea
– Potencial mutagênico – teste de curta duração
– Potencial teratogênico – animais prenhes
– Potencial carcinogênico – teste de longa duração.
Teste “in vitro”
• avanços em procedimentos de isolamento de células e conhecimento das técnicas
de cultura de tecidos.
• técnicas analíticas sofisticadas que permitem a medida de pequenas quantidades
de materiais biologicamente importantes;
• novos produtos humano-específicos desenvolvidos por biotecnologia;
• Pressão imposta pelas comunidades regulatórias e pela
sociedade para diminuição do número de animais usados em pesquisa;
• menor tempo das análises toxicológicas in vitro e reconhecimento
pela comunidade científica de que as metodologias in vitro fornecerão melhores
abordagens em áreas específicas
Normas para proteção dos animais usados em experimentos e
outros fins científicos
• exigência de que a experimentação seja supervisionada por
um comitê de ética local;
• criação de uma comissão ética estatal do bem-estar animal,
• classificar os indivíduos que trabalham com o manuseio de
animais em diversas categorias:
– a) indivíduo responsável pelo cuidado dos animais;
– b) indivíduo que executa os experimentos;
– c) indivíduo responsável por dirigir os experimentos;
– d) indivíduo especialista em ciências de experimentação animal que
cuide do bem-estar dos mesmos.
3 R’s (Refinamento,Redução e Substituição)
• A substituição dos testes em animais tem sustentação na
política dos 3 R’s (Refinamento, Redução e Substituição)

– humanizar a experimentação científica, tendo como estratégia


uma pesquisa racional;
– Minimizar o uso de animais e seu sofrimento;
– não comprometer a qualidade do trabalho científico que está
sendo executado.

Métodos alternativos à experimentação animal
• A primeira manifestação social que tentou doutrinar as pesquisas que provocam
dor em animais vertebrados denominou-se Cruelty to Animals Act e foi redigida
em 1876 (PETROIANU, 2010).

• modelos in vitro utilizando culturas de tecidos ou organismos inferiores e modelos


matemáticos e humanos.
– culturas celulares (de pele, células tumorais e fibroblastos), avaliação da
indução da liberação de substâncias indicadoras de inflamação ou alergia, construção de
modelos matemáticos e computadorizados, ensaios com isótopos radioativos, recurso a
banco de órgãos, etc.

• Formação de bancos de dados contendo informações sobre alérgenos também


estão sendo desenvolvidos em vários casos de reações adversas.
Desvantagens
• cultura simples não pode mimetizar as interações complexas dos tipos de
células no corpo;
• sistemas de cultura são relativamente estáticos e a dose da substância
química teste pode não ser a mesma do teste in vivo.
• metodologias de cultura podem estar presentes problemas físicos como
solubilidade, estabilidade e efeitos biofísicos da substância teste
• necessidade de que estes testes sejam validados antes de serem
executados.
• Teste in vitro de irritação da pele;
• Teste de fototoxicidade ;
• Teste de absorção cutânea;
• Teste “in vitro” de sensibilização da pele;
• Teste de irritação ocular

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