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Os processos de significação,

signo e significado
Vânia Mara Alves Lima
Cibele A. C. Marques dos Santos
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Giovana Deliberali Maimone

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“A língua não é um sistema de mostração
de objetos, pois a linguagem humana pode
falar de objetos presentes ou ausentes da
situação de comunicação [...] o objeto
nem precisa existir, para que falemos dele,
pois a língua pode criar universos de coisas
inexistentes. A atividade linguística é uma
atividade simbólica, o que significa que as
palavras criam conceitos e esses conceitos
ordenam a realidade, categorizam o mundo”
(FIORIN, 2015 p.56).
Semiótica
 Ciência dos signos e dos processos
significativos (semiose) na natureza e na
cultura.
 Teoria da significação (NOTH, 2003).

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Semiótica
. Adotado oficialmente em 1969 pela
Associação Internacional de Semiótica por
iniciativa de Roman Jakobson para as
investigações nas áreas de Semiologia e
Semiótica Geral.

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Signo
 “Os signos são uma
forma de apreender a
realidade. Só
percebemos no mundo o
que nossa língua
nomeia” (FIORIN, 2015
p.55).
 Forma de categorizar,
organizar e interpretar o
mundo.
 Com os signos, o
homem cria universos
de sentido.
 Poder criador da
linguagem.
Signo
 O objeto não designa tudo o que uma
língua pode expressar:
 não exprime as propriedades de uma coisa,
 não constrói metáforas e metonímias.
 Mostrar um objeto não exprime pertença
do objeto a uma determinada classe,
porque no léxico, nomes são agrupados
em classes.
Processo de significação
 O valor de um signo é dado por outro
signo.
 Um signo é sempre interpretável por outro
signo: no interior do mesmo sistema
pelos sinônimos, pelas paráfrases, pelas
definições, em outro sistema ou língua
pela tradução.
 A dificuldade de traduzir indica que não há
univocidade na relação entre os nomes e
as coisas.
Processo de significação
 O significado é composto de:
 Traços funcionais: morde / não morde; come
cereais / não come cereais
 Traços qualificacionais: corpo grande /
corpo pequeno; cauda enrolada / cauda reta.
Processo de significação
 O significado não é a realidade que ele
designa, mas sua representação, é o que
quem emprega o signo entende por ele.
 O significante é o veículo do significado,
que é o que se entende quando se usa o
signo, é sua parte sensível, e esta definição
se estende as diversas linguagens.
 A significação é uma diferença entre um
signo e outro (noção de valor), porque a
língua é produção e a interpretação de
diferenças.
Signo (Hjelmslev)
 O signo une uma forma de expressão a
uma forma de conteúdo.
 A substância da expressão são os sons
e a substância do conteúdo, os
conceitos. Sons e conceitos são gerados
pela forma e não preexistem a ela.
 Exemplo: homem = “ser humano” e “ser
humano do sexo masculino”. Em latim,
“homo” e “uir”, grego “ánthropos” e “anér”
Signo
 O signo é arbitrário, portanto cultural.
 Mas ... pode ser parcialmente motivado
já que em todos os níveis da língua
aparecem motivações.
Signo
 A arbitrariedade do signo não se aplica a
todas as linguagens, há linguagens que
têm signos em que a relação entre o
significante e significado é motivada como
nas linguagens visuais, nos símbolos.
Classificação dos signos (Schaff)

Fonte: FIORIN (2015, p. 73).


Signo: elemento do processo de
comunicação
“O signo é usado para transmitir uma informação, para
indicar a alguém alguma coisa que um outro conhece e
quer que os outros também conheçam”. (ECO, 1973)

E M D

Mensagem =>organização complexa de muitos


signos

código
Sistema de significação comum ao Emissor e ao Destinatário com uma 14
série de regras que atribui ao signo um significado.
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Processo de comunicação sem
código
 Processo de estímulo-resposta
 Estímulo = não está por outra
coisa, mas provoca outra coisa; não
há inferência, nem processo lógico-
intelectual; processo não-reversível.
Exemplo:
 Uma luz forte que obriga a fechar

os olhos.

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Processo sígnico
 É reversível podendo passar do signo
ao seu referente e vice-versa,
característica dos processos
intelectuais. Exemplo:
 Ordem verbal que me manda
fechar os olhos.

Decodifico a mensagem (processo sígnico) e depois


decido se vou obedecer (processo volitivo).
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Signo e processo de significação
 Para os Estóicos em cada processo sígnico deve-
se distinguir:
 semainon  signo, considerado como entidade física

 semainomen  o que é dito pelo signo e que não


representa uma entidade física

 pragma  objeto a que o signo se refere, entidade física,


acontecimento, ação

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Triângulos semióticos

Ogden & Richards Saussure


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Triângulos semióticos

Peirce Morris
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Triângulos semióticos

Hjelmslev
Carnap
Expressão e Conteúdo
Intensão e Extensão
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Triângulos semióticos
Referência (Ogden &
Richards)
Significado, conceito
(Saussure)
Interpretante (Peirce)
Designatum (Morris)
Conteúdo (Hjelmslev)
Intensão (Carnap) …
Símbolo
Significante
Signo, Referente
representamen ..........
Veículo sígnico Objeto
Expressão Denotatum
.......
Extensão

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Triângulo semiótico
significado Interpretante
Signo linguístico “x”

significante

Signo Objeto/Referente
[cavalo]
/cavalo/
intérprete
contexto

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Signo
 Objeto fundamental da pesquisa semiótica.

 Alguma coisa está em lugar de outra


(helenistas; teóricos medievais).

 Presença que remete a algo não presente.

“Tudo aquilo que, aos olhos de alguém,


está no lugar de alguma outra coisa sob
algum aspecto ou capacidade” (Peirce)

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Signo
 Aquilo que cria algo na Mente do Intérprete.
 É um cognoscível determinado por algo que
não ele mesmo (seu Objeto) e que determina
alguma Mente concreta ou potencial
(Interpretante) criado pelo signo, de tal
forma que essa Mente Interpretante é assim
determinada mediatamente pelo Objeto
(Peirce)

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Signo
 É a correlação de uma forma significante com uma
unidade que definimos como significado.
 Cada signo liga o plano da expressão (plano
significante) ao plano do conteúdo (plano significado),
ambos opondo ao seu nível substância e forma.

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Signo
 Os signos se diferenciam é na articulação
da forma significante.
 Não existe nunca como entidade física
observável e estável, dado que ele é produto
de uma série de relações.

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Signo
 Usado no sentido do representamen e como signo na
totalidade (Peirce).
 No lugar de algo para alguém (intérprete).
 Referência a uma ideia, função de um objeto no processo
de semiose, existência na mente do receptor.
 Veículo que traz para a mente algo de fora.
 Objeto perceptível que serve de signo para o receptor.

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Objeto do signo
 Está no universo das coisas ou das expectativas -
individual – material - mental – imaginário –
corresponde ao referente.
 Objeto imediato:
 objeto dentro do signo, idéia, qualidade da sensação,
representação mental de um objeto.

 Objeto dinâmico (mediato):

• tal como é, independentemente de qualquer aspecto


particular seu, referido à condição real, o Objeto em
relações tais como seria mostrado por um estudo
definitivo e ilimitado.
 Objeto fora do signo que não pode exprimir, só pode indicar,
deixando para o interprete descobri-lo pela experiência colateral.
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Dimensões do signo
 Semântica
 o signo é considerado em relação aquilo que
significa (Morris).
 estuda o potencial dos signos para dizer a verdade
ou não (Noth).

 Sintática
 o signo é considerado enquanto inserível em
sequências de outros signos com base em regras
de combinação(Morris).
 Determina as condições combinatórias favoráveis
para que as remas participem de proposições 29
(dicentes) e de discursos racionais (argumento),
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Dimensões do signo
 Pragmática
 o signo é considerado quanto as próprias
origens, aos próprios efeitos sobre os
destinatários, aos usos que dele fazem (Morris).
 estudo do efeito do signo sobre os intérpretes em
situações de comunicação.
 relações entre o intérprete e seu ambiente
semiótico.

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Código
 “Regra de junção de elementos da
expressão com elementos do conteúdo,
depois de ter organizado em sistemas formais
ambos os planos ou de os ter permutado como
já organizados por outros códigos” (ECO,
1973).
 Para que exista código é indispensável que
exista correspondência convencionalizada e
socializada.
 É condição necessária e suficiente para a
subsistência do signo.
 Um sintoma médico é signo na medida que
31
existe o código da semiologia médica.
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Interpretante
 [algo que], de modo mediato e relativo, [foi] criado
pelo Objeto do Signo na mente do intérprete
(PEIRCE)

 mecanismo semiótico, através do qual , o


significado é predicado de um significante (ECO).

 aquilo que o próprio signo expressa; [algo] que


requer ... raciocínio

 o sentido de um signo é outro que o traduz mais


explicitamente

 qualquer signo, ou complexo de signos que traduz o


primeiro signo em circunstâncias adequadas. 32

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Interpretante
 Pode ser um outro signo da mesma semia
 sinônimo
 Um signo de outra semia que use a mesma
substância da expressão
 termo equivalente em outra língua
 Um signo de semias com substância expressiva
diversa
 um desenho, uma cor
 um objeto assumido como signo
 uma definição intensional das propriedades
atribuídas comumente ao suposto objeto do
signo. 33

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Interpretante
 Interpretante imediato
 Qualidade de impressão que o signo é
capaz de produzir sem reação atual

 Interpretante dinâmico
 Efeito direto realmente produzido por um
signo sobre o interpretante, experimentado
em cada ato de interpretação sendo
diferente em cada um.
 Interpretante final: estudo das significações pelos
lexicógrafos
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Semiose
 Processo pelo qual qualquer coisa age como signo, ou
seja, significa, processo no qual o signo tem um efeito
cognitivo sobre o interprete.

 Processo que compreende :


 um representamen (1o. termo da relação triádica de Peirce)
 seu Objeto (2o. termo)
 seu Interpretante (3o. termo)
 um quarto (Morris), Intérprete

 Passagem contínua de signo a signo.

A definição completa da semiose é também a definição do signo:

“Um signo, ou representamen, é aquilo que, sob certo aspecto


ou modo, representa algo para alguém" (Peirce). 35

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Semiose
 “Para estabelecer o significado de um significante (signo) é
necessário nomear o primeiro significante por meio de um
outro significante que, a seu turno, conta com outro
significante que pode ser interpretado por outro significante,
e assim sucessivamente “(ECO, Lector in fabula)
 “A significação (e a comunicação) opera por meio de
deslocamentos contínuos, que referem um signo a outros
signos ou a outras cadeias de signos, circunscreve as
unidades culturais ... sem jamais 'tocá-las' diretamente, mas
tornando-as acessíveis através de outras unidades culturais”
(ECO, Tratado geral de semiótica)
 Semiose ilimitada: um interpretante remete a outro interpretante
ad infinitum
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Semiose
 Cada signo cria um interpretante que é o
representamen de um novo signo, série de
interpretantes sucessivos, cada pensamento
tem de dirigir-se a um outro.
 O processo contínuo de semiose (ou
pensamento) só pode ser interrompido, mas
nunca finalizado.
 Por exigências práticas, as séries de ideias
não continuam.
 O nosso repertório de signos, ao menos em
nível de vocabulário, é limitado e, por isso
temos que, no processo da semiose verbal,
recorrer a signos anteriormente empregados.
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Semiose ilimitada
S I1 I2 I3

Cada interpretante de um signo é uma unidade


cultural ou unidade semântica.

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Unidade cultural
 Cada interpretante de um signo é uma unidade
cultural que se constituem autonomamente
em:
 Uma cultura,
 Um sistema de oposições,
 Sistema semântico global.
 individualizadas em campos semânticos ou em simples
eixos oposicionais.
 Sistema das unidades semânticas
 modo como uma certa cultura segmenta o universo
perceptível e pensável e constitui a Forma do
Conteúdo.
 Unidade observável e manobrável, porque se
manifesta através de seus interpretantes: 39

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palavras, gestos... 39
Sistema semântico
 Postulado da significação: para que exista
significação é necessário que ao sistema
de significantes corresponda um sistema
de unidades culturais.
 No círculo da semiose ilimitada as
unidades culturais se reestruturam
continuamente na sua correlação, ou sob o
impulso de novas percepções, ou pelo jogo
das suas recíprocas contradições.
 Um signo denota uma posição no sistema
semântico.
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Denotação e Conotação
 Denotação
 é o reenvio, realizado em circunstâncias e contextos
dados, para aquela posição no Sistema Semântico para
a qual, primeiramente e potencialmente, o código
fazia com que o significante tivesse que remeter.
 Entendida como a extensão de um signo, no sentido
de que o signo remete para o conjunto das unidades
semânticas (culturais) a que o código faz corresponder.
 Conotação
 define-se como o reenvio do significante para outras
unidades (parcial ou geral).
(ECO, 1973)
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Denotação e Conotação
 Para criar um signo conotado, é preciso
que haja uma relação entre o significado
que se acrescenta e o significado já
presente no signo denotado. Entre os dois
significados há um traço comum (FIORIN.
2015).
Semema
 Árvore hierárquica dos interpretantes
possíveis da unidade cultural.
 Conjunto dos reenvios que a unidade
cultural realiza no interior de eixos ou
campos oposicionais de outras unidades
culturais de que dadas posições são
consideradas como interpretante da primeira
unidade cultural (ECO,1973).
 Conjunto de semas que define o significado.

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Definição
 Artifício metalinguístico através do qual se
ligam as diversas componentes semânticas
que constituem o semema, ou pelo menos as
que relevam do ponto de vista definicional
considerado.

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Fonte: ECO, U. O signo. 4a. ed. Lisboa: Ed. Presença, 1973. p.167
Definição
 É logicamente uma definição das intensões do
termo, isto é, das componentes semânticas
que o código atribui ao semema
correspondente (características específicas).
 Ex: flor – órgão reprodutor das plantas, geralmente
colorida e cheirosa que serve também para enfeitar.

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Código
 Sistema convencionalizado de regras
metalinguísticas que ligam dados elementos
expressivos a dadas unidades culturais,
coordenando-as em sememas e atribuindo a
cada ligação as seleções restritivas, contextuais e
circunstanciais.

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Código
 Atribui ao semema não só as marcas
semânticas e diferenciadores, mas também
seleções restritivas que indicam a que outros
sememas pode o semema estar amalgamado e
também seleções contextuais e
circunstanciais que estabelecem quais
sentidos devem ser amalgamados segundo a
circunstância.
 O contexto é resultante da amálgama de
sememas.

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Sentido
 O sentido de um termo é o percurso
de leitura que no interior do semema
se escolhe, tendo em conta as
restrições resultantes do contexto.

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Peirce: Categorias universais

Três categorias universais relacionadas aos


fenômenos do mundo (NOTH, 2003)

Primeiridade: sentimento imediato e


presente das coisas.
Secundidade: o fenômeno primeiro é
relacionado com o segundo – comparação,
ação, tempo e espaço.
Terceiridade: fenômeno segundo
relacionado a um terceiro – mediação, hábito,
memória, síntese, comunicação, representação 49
e semiose.
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Peirce: Tricotomias
 1ª. Tricotomia: ponto de vista do representamem

 Quali-signo: qualidade de um signo,


potencialidade

 Sin-signo: signo corporificado

 Legi-signo: signo convencionado (definido por


uma “lei”).

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Peirce

 2ª. Tricotomia: ponto de vista do representamem


e do objeto

 Ícone: semelhante ao seu objeto, participa do


caráter do objeto

 Índice: relação diádica entre representamen e


objeto, causalidade.

 Símbolo: a relação entre representamen e objeto é


arbitrária e depende de convenções sociais, denota
associação de ideia. 51

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Peirce
 3ª. Tricotomia
 Rema = termo simples
 signo como possibilidade qualitativa
 Dicisigno (dicente) = proposição /Sócrates é
mortal/
 Sujeito + predicado – exprime ideia (V ou F) e
veicula informação
 Argumento = é um raciocínio complexo, ex:
silogismo.

Signo simples = /chávena/


Signo complexo = /a chávena de café/
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Os dois denotam alguma coisa.
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Peirce
Tricotomias I II III

Representamen Relação ao Relação ao


em si objeto Interpretante

Categorias
PRIMEIRIDADE QUALI-SIGNO ÍCONE REMA

SECUNDIDADE SIN-SIGNO ÍNDICE DICISIGNO ou


DICENTE

TERCEIRIDADE LEGI-SIGNO SÍMBOLO ARGUMENTO

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Peirce

Dez classes principais de signos

Quali-signo Legi-signo indicial remático


Ex: sensação de vermelho Ex: pronome demonstrativo

Sin-signo icônico Legi-signo indicial discente


Ex: diagrama de circuitos Ex: placa de trânsito / ordem

Sin-signo indicial remático Símbolo remático


Ex: grito de dor Ex: dicionário

Sin-signo discente Símbolo discente


Ex: cata-vento e seu movimento Ex: proposição

Legi-signo icônico Argumento


Ex: diagrama em um manual Ex: discurso racional / silogismo54
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Peirce

Fonte: PEIRCE, C.S. Semiótica. São Paulo: Perspectiva, 1977. p. 58.


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Referências
ECO, U. Premissa; O processo sígnico;
Delineamentos de uma teoria unificada do signo.
In: ___. O signo. 4a. ed. Lisboa: Ed. Presença,
1973. p. 7-20; 21-30; 149-177.
PEIRCE, C.S. O que é o significado?, de Lady
Welby. In: ____. Semiótica. São Paulo:
Perspectiva, 1977. p.157-164.
NOTH, W. Panorama da semiótica: de Platão a
Pierce. 4. ed. São Paulo, Annablume, 2005.
FIORIN, J. Teoria dos signos. In:___. Introdução
à Linguistica: I. Objetos Teóricos. 6. ed. São
Paulo: Contexto, 2015. p. 55-74. 56

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