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MÓDULO 9 TEMA

A CULTURA DO CINEMA Ultimatum futurista às gerações portuguesas do século XX, 1.ª 1


Conferência Futurista, de Almada Negreiros, 1917

Ultimatum futurista às gerações portuguesas do século XX, de Almada negreiros, 1917


Almada Negreiros foi um dos artistas portugueses
mais importantes do século XX, com obra desenvolvida
em vários domínios da criação: pintura, desenho,
romance, poesia, teatro e dança.

Pertenceu ao primeiro grupo de modernistas


portugueses, fortemente inspirados pelas vanguardas
europeias, sendo marcado pelo «grupo de Orpheu»,
Autorretrato, cujos protagonistas agitaram o meio artístico nacional
Almada Negreiros, através de manifestos, publicações, exposições e
1927.
sessões públicas.

O documento mais polémico publicado pelo «grupo do


Orpheu» foi a revista Portugal Futurista (Lisboa, 1917).
Pelo seu caráter polémico, subversivo e provocador, a
revista seria apreendida antes de chegar às bancas.

Por entre os artigos, são publicadas obras de Amadeo


e de Santa Rita Pintor com títulos de inspiração
«futurista».
Capa da revista
Portugal Futurista,
1917. Paulo Simões Nunes
História da Cultura e das Artes
© Raiz Editora, 2023 Todos os direitos reservados.
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A CULTURA DO CINEMA Ultimatum futurista às gerações portuguesas do século XX, 1.ª 2
Conferência Futurista, de Almada Negreiros, 1917

Importância da revista Portugal Futurista:


• foi uma publicação que juntou os artistas
modernistas portugueses, autoproclamados
«futuristas», a algumas figuras de destaque do
panorama futurista internacional;
• a edição de Portugal Futurista pretendia ser uma
Página de «Portugal afirmação de vitalidade de um grupo no meio
Futurista» com artístico nacional, conferindo-lhe projeção
ilustração de Santa-
internacional;
-Rita Pintor, 1917.
• além das várias homenagens a Santa-Rita Pintor,
de poemas futuristas e de outros textos
polémicos, era publicado o Ultimatum futurista
às gerações portuguesas do século XX», dito na
1.a Conferência Futurista no Teatro República, a
14 de abril de 1917

Santa-Rita Pintor autoproclamando-se


«o grande iniciador do movimento
futurista em Portugal», Paulo Simões Nunes
«Portugal Futurista», 1917. História da Cultura e das Artes
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Conferência Futurista, de Almada Negreiros, 1917

O texto do Ultimatum... e a 1.a Conferência


Futurista foi um dos momentos mais intensos da
atividade do «grupo do Orpheu».

Almada Negreiros assume um tom de autêntico


«terrorismo verbal», glorificando a «tumultuosa
vida moderna» e a «exaltação do futuro» que
caracterizavam a retórica futurista.

No texto, Almada assume posições radicais,


segundo as orientações «futuristas»:
• exaltação da nacionalidade e do patriotismo;
• crítica corrosiva ao Portugal do passado;
• glorificação da guerra como via para a
construção do futuro;
• elogio da vida urbana e do progresso
industrial.

Paulo Simões Nunes


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1. Conferência Futurista, Almada Negreiros, «Portugal Futurista», 1917.
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Conferência Futurista, de Almada Negreiros, 1917

Nesta apresentação-encenação segundo as regras


futuristas, Almada terá declarado várias vezes:
«É preciso criar a pátria portuguesa do século XXI.»

E declara:
«Inspirado em Marinetti, consegui atingir a
expressão da intensidade da vida moderna...»

«Eu não pertenço a nenhuma das gerações


revolucionárias. Eu pertenço a uma geração
construtiva.»

«Eu não tenho nenhuma culpa de ser português,


mas sinto a força para não ter, como vós outros, a
cobardia de deixar apodrecer a pátria.»

O texto termina:
«O povo completo será aquele que tiver reunido
no seu máximo todas as qualidades e todos os
defeitos. Coragem, Portugueses, só vos faltam as
qualidades.»

Paulo Simões Nunes


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Almada Negreiros na 1. Conferência Futurista, Lisboa, 1917.
a
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A CULTURA DO CINEMA A Partida dos Emigrantes, Almada Negreiros, tríptico «Cais» da Gare 5
Marítima da Rocha do Conde de Óbidos, Lisboa, 1948

A Partida dos Emigrantes, Almada Negreiros, tríptico «Cais»


da Gare Marítima da Rocha do Conde de Óbidos, Lisboa, 1948

Em 1948, Almada concebeu os «painéis decorativos»


pintados a fresco para o átrio da Gare Marítima da
Rocha do Conde de Óbidos.

Exprimindo um espírito de permanente pesquisa e


experimentalismo, Almada criou dois trípticos para
duas paredes opostas:
• num deles retratam-se três cenas de uma Lisboa
calma e pacata – «Passeio de Domingo no Tejo»,
«Varinas e Pescadores» e «Saltimbancos e
Funâmbulos no Cais», sempre com o Tejo em
fundo;
• no tríptico oposto, é abordado um tema
consistente com aquele lugar, a partida e a
chegada de emigrantes – «Partida do Paquete de
Tríptico A Partida dos Emigrantes, Almada Negreiros, Gare Marítima da Rocha de Emigrantes», «Chegada de Emigrantes ao Cais» e
Conde de Óbidos, Lisboa, 1948. «Construção das Gares».

Paulo Simões Nunes


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A CULTURA DO CINEMA A Partida dos Emigrantes, Almada Negreiros, tríptico «Cais» da Gare 6
Marítima da Rocha do Conde de Óbidos, Lisboa, 1948

Mais do que uma contundente abordagem ao


tema da emigração, Almada reflete sobre
aquele que é o destino de um povo obrigado
a deixar a sua pátria em busca de
prosperidade noutras terras.
Tendo o barco como pano de fundo, Almada
apresenta-nos a dor de quem fica e se
despede, a par do olhar vazio de quem parte,
denunciando uma antecipada saudade.
Os sentimentos fundem-se num complexo jogo
de linhas, de estruturas e de formas, numa
matriz cubista que se evidencia:
• nas composições dinâmicas;
• na fragmentação de planos;
Tríptico A Partida dos Emigrantes, Almada Negreiros, Gare Marítima da Rocha de Conde de • na geometrização das formas;
Óbidos, Lisboa, 1948.
• e na redução dos volumes à
bidimensionalidade.

Paulo Simões Nunes


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