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Disciplina Ciencias Biologicas Aula 12

Anatomia e Fisiologia do Sistema


Tópico Tipo Teórica
Nervoso

A. Anatomia do Sistema Nervoso (1)


Conteúdos Duração 2h
B. Fisiologia do Sistema Nervoso (1)
O sistema nervoso juntamente com o sistema endócrino coordena as actividades do
resto dos sistemas do organismo. Por tanto, ambos capacitam o organismo a perceber
as variações do meio (interno e externo), a difundir as modificações que essas
variações produzem e a executar as respostas adequadas para que seja mantido o
equilíbrio interno do corpo (homeostase).
As principais diferencias entre os sistemas nervoso e endócrino são:
O sistema nervoso recebe informação e envia ordens específicas a destinos concretos,
por meio de fibras nervosas.
O sistema endócrino envia sinais mais gerais, por via hemática.
No sistema nervoso a recepção de informações e o envio de ordens são efectuados de
forma imediata, resultando em respostas do organismo em milésimos de segundo.
O sistema endócrino trabalha com tempos de reacção maiores (segundos ou
minutos).
De igual maneira, a cessação do sinal nervoso implica uma cessação imediata da
actividade que se desencadeia (por exemplo, a exposição do olho a uma luz provoca
uma diminuição automática do tamanho pupilar, e a cessação do estímulo luminoso
relaxa imediatamente o íris).
Os resultados de ordens do sistema endócrino se mantêm, depois de ter cessado o
sinal, durante tempos prolongados (até de dias, por exemplo a falta de iodo na dieta
estimula a produção de hormónios tiróideos durante semanas).
É por isso, que o sistema nervoso está mais vinculados a processos que requerem
resposta rápida (sentidos, movimento, reflexos) e o endócrino com processos mais
estáveis (manutenção do meio interno, ciclos sexuais, crescimento do organismo).
O sistema nervoso é relativamente pequeno em tamanho (supõe menos do 5% do
peso do organismo) mas é o sistema corporal mais complexo estrutural e
funcionalmente, sendo fundamental não só para a manutenção das funções vitais
básicas (alimentação, respiração, reprodução) mas também para a realização das
funções superiores (relação com o ambiente, aprendizagem de comportamentos,
inteligência).
O tecido principal que forma o sistema nervoso é o tecido nervoso ou neural,
composto por:
Neurónios, células neurais activas, com um pequeno corpo celular de onde partem
diferentes tipos de fibras, com capacidade para receber, processar e transmitir sinais
electroquímicos, e
Células da glia, diferentes tipos celulares que protegem, dão estrutura de suporte e
criam as condições micro-ambientais para o funcionamento dos neurónios.
Junto ao tecido nervoso, os órgãos que compõem o sistema nervoso também contêm
quantidades pequenas de tecidos não neurais, como:
Conjuntivo, que o protege e integra às outras estruturas, e
Vascular que proporciona o aporte necessário de sangue para a alimentação,
oxigenação, eliminação de resíduos,… que o tecido neural precisa.
Embriologicamente, todas as células do tecido nervoso procedem da placa neural do
ectodermo, que começa a desenvolver-se na 4ª semana, para formar o tubo neural (a
partir do qual desenvolve-se o SNC e o SNP motor) e a crista neural (a partir da que
forma-se o SNP sensorial e o SNA).
Estrutura geral do sistema nervoso. O sistema nervoso é um complexo sistema de
estruturas relacionadas entre elas e com órgãos de outros sistemas, que pode se
dividir em:
Sistema Nervoso Central (SNC). Inclui os órgãos que recebem a diversa informação
periférica para processá-la e integrá-la em respostas específicas, que partem como
comandos. É composto pelo encéfalo (localizado no interior do crânio) e a medula
espinal (localizado no interior do canal medular da coluna vertebral).
O encéfalo inclui: cérebro, cerebelo e tronco encefálico.

Sistema Nervoso Periférico (SNP). Inclui o resto de estruturas fora do SNC,


principalmente feixes de fibras nervosas que formam estruturas filamentosas
macroscópicas, os nervos, que transmitem o impulso nervoso entre o SNC e os
diferentes órgãos e sistemas do organismo.
Os nervos relacionados com o encéfalo (são 12 pares) denominam-se nervos
cranianos.
Os nervos relacionados com a medula (são 31 pares) denominam-se nervos
medulares/raquidianos ou espinhais.
Todos os nervos partem do SNC para depois irem ramificando progressivamente até serem
milhões de fibras nervosas que chegam a todos os grupos celulares do corpo.
Encéfalo

•Figura 1. Sistema nervoso. Aspecto geral.

Medula espinhal

Nervos do
sistema
nervoso
periférico

Imagem cortesia de ocorpohumano.com.br


Segundo o sentido em que se transmite o impulso nervoso, o SNP pode-se dividir
em:
Fibras aferentes, que são aquelas que transmitem a informação recolhida nos
órgãos ou sistemas periféricos (pele, órgãos dos sentidos, vísceras,…) até o SNC
(impulso centrípeto, de fora para dentro).
As fibras aferentes também denominam-se nervos sensitivos, e estão compostos
por neurónios sensitivos.

Fibras eferentes, que são aquelas que transmitem comandos desde o SNC até as
estruturas (músculos, glândulas,…) situados nos órgãos e sistemas periféricos
(impulso centrífugo, de dentro para fora), para que possam realizar uma certa
acção (contracção muscular, secreção glandular,…).
As fibras eferentes também denominam-se nervos motores, e estão compostos
por neurónios motores ou moto-neurónios.

Muitos dos nervos não são puramente sensitivos ou motores, mas são mistos,
pois contêm ambos tipos de fibras, tanto aferentes (sensitivas) como eferentes
(motoras).
Dentro do SNP motor, ainda pode-se fazer mais uma divisão, considerando o tipo
de comandos que transmitem:
Fibras motoras somáticas ou sistema nervoso somático (SNS), que enviam
comandos de contracção ao sistema muscular. Estes comandos podem ser:
Voluntários, sob controlo consciente (por exemplo, quando tentamos colher
algo com a mão), ou
Involuntários, que se realizam inconscientemente (por exemplo, os
movimentos respiratórios).

Fibras motoras viscerais ou sistema nervoso autonómico ou autónomo (SNA), que


enviam comandos involuntários ao músculo liso, ao músculo cardíaco e às
glândulas, mediante dois sistemas que transmitem comandos antagónicos que
estão em equilíbrio:
Sistema simpático (por exemplo, provoca contracção vascular, aumentando a
pressão arterial) e
Sistema parassimpático (por exemplo, provoca dilatação vascular,
diminuindo a pressão arterial)
•Figura 2: Esquema Anatomo-Funcional do Sistema Nervoso
Outros conceitos gerais do sistema nervoso. No estudo da anatomia (estrutura
macroscópica), histologia (estrutura microscópica) ou fisiologia (função) do sistema
nervoso, utilizam-se frequentemente termos especializados que devem ser bem
entendidos:
Centro. Grupo de corpos neuronais do SNC, com impreciso limite anatómico, mas
com única função bem definida. Como o “centro respiratório bulbar”, que regula a
respiração. Os centros também se denominam áreas, especialmente quando são
de grande tamanho, como a “área da visão do córtex occipital”.
Núcleo. Grupo de corpos neuronais do SNC, com claro limite anatómico, mas com
diferentes funções. Como o “núcleo caudado”, que intervém em diferentes
funções sensoriais e motoras.
Matéria cinzenta. Grandes áreas de tecido neural de cor cinzenta (periférica do
cérebro ou interna da medula), que contêm predominantemente corpos
neuronais, que dão esta coloração. No caso do cérebro, a matéria cinzenta
corresponde ao chamado córtex cerebral, onde se encontram as funções motoras
e sensoriais superiores.
Matéria branca. Grandes áreas de tecido neural de cor branca (interna do cérebro
e periférica da medula) que contêm predominantemente fibras neuronais, que dão
a coloração branca(facilita a transmissão do impulso).
Coluna. Áreas da matéria branca medular dispostas como uma coluna ao longo da
medula.
Trato. Grupo (feixe) de fibras neuronais com identidade histológica (todas são
iguais) e fisiológica (todas transmitem informações relacionadas). Por exemplo,
cada coluna medular é composta por vários tratos, uns de sentido descendente
(levam a informação motora desde o encéfalo) e outros ascendentes (levam a
informação sensorial para o encéfalo). Também existem tratos entre diferentes
partes (núcleos, áreas ou centros) do encéfalo.
Gânglio. Grupo de corpos neuronais (sensoriais ou motoras) do SNP, com claro
limite anatómico (semelhante aos núcleos do SNC). Como os “gânglios simpáticos”,
parte do SNA, situados em ambos lados da coluna vertebral formando cadeias
ganglionares.
Nervo e/ou ramo nervoso. Conjunto anatomicamente identificável (feixe) de fibras
nervosas do SNP, que pode incluir fibras sensoriais e/ou motoras, e que se dirige a
uma certa região anatómica. Refere-se a “ramo” quando são as ramificações
terminais de um nervo, de pequeno diâmetro e função única (como ramos
cutâneos de nervos periféricos, que inervam uma certa área restrita da pele).
Receptor. Estrutura celular (uma célula ou várias) especializada para reagir perante
um determinado estímulo do seu meio (calor, pressão, irritação química,…) gerando
um impulso nervoso. Incluem:
Exteroceptores, que informam sobre o ambiente exterior (vista, ouvido, gosto,…)
Proprioceptores, que informam sobre a posição e movimento do sistema
músculo-esquelético.
Interoceptores, que informam sobre o ambiente interior (composição dos líquidos
internos, dor visceral,…).
Efector. Tecido, órgão ou aparelho susceptível de responder perante um comando
nervoso procedente do SNC, provocando uma acção (contracção muscular, secreção
glandular,…) capaz de modificar a morfologia ou fisiologia do organismo.

Reflexo. Resposta nervosa rápida (somática ou visceral), de carácter automático,


involuntário e imediato perante um estímulo determinado. Por exemplo, quando
retiramos subitamente a mão perante o toque de um objecto muito quente. Inclui
um receptor (termo-receptores cutâneos), uma fibra aferente (nervo sensitivo que
leva a informação), um centro do SNC (pode ser apenas uma conexão neuronal,
neste caso ao nível medular), uma fibra eferente (moto-neurónios correspondentes)
e um efector (grupos musculares que afastam a mão).
Somático. Pertencente ao sistema dermo-músculo-esquelético (ossos, articulações,
músculos e pele, derivado todos dos somitos do mesodermo embrionário). Inclui
fibras sensitivas (desde a pele, tendões, articulações,…) e motoras (para os
músculos).

Visceral. Pertencente ao controlo das funções das vísceras (digestivas, respiratórias,


…). Inclui também fibras sensitivas (informação desde receptores viscerais, como os
da pressão arterial) e motoras (comandos para o músculo liso ou cardíaco, ou para
as células glandulares).

Inervação. Condição pela qual um nervo (ou uma fibra nervosa) está em contacto
anatómico com um certo tecido (ou célula) para receber ou enviar informação.
Quase todos os tecidos corporais estão mais ou menos inervados, como meio para
dar informação e receber instruções.
•CÉLULAS NERVOSAS
O sistema nervoso tem dois grupos celulares próprios e bem diferenciados, com
características e funções especializadas: os neurónios e as células da glia.
Neurónios.É a célula nervosa especializada na transmissão rápida de impulsos
(informação), mediante impulsos electroquímicos.
Morfologicamente, o neurónio é constituído por:
Corpo celular ou Soma, com um núcleo grande rodeado por um citoplasma com
proeminente estrutura tubular, sobre o qual se encontram mitocôndrias e retículo
rugoso em áreas definidas (corpos de Nissl, responsáveis pela cor típica da matéria
cinzenta).
Dendritos, múltiplos processos filamentosos curtos e muito ramificados que partem
do soma em sentido proximal, com a função de estabelecer contacto com outros
neurónios.
Axónio ou fibra nervosa, processo citoplasmático filamentoso comprido que parte do
soma em sentido distal, composto por uma membrana celular (axolema) preenchida
por um citoplasma tubular (axoplasma). É único para cada neurónio, embora no seu
comprimento (que pode ser entre poucos milímetros até muitos centímetros) pode
dar ramos (colaterais). O axónio distal acaba em várias ramificações curtas
terminadas em botões especializados na transmissão de impulsos (terminais
sinápticas), que estão em contacto íntimo (sinapse) com dendrites, axónios ou
somas de outros neurónios.
Mielina, é uma substancia branca formada por lípidos e proteínas que forma uma
bainha isolante a volta dos axónios (como o plástico que recobre os fios eléctricos)
que facilita a transmissão do impulso. É formada por células da glia muito
diferenciadas. Não é uma bainha contínua ao longo de todo o axónio, mas está
segmentada, sendo cada segmento formado por uma célula glial. Estes segmentos
são separados por constrições periódicas chamadas nodos de Ranvier (pequenos
espaços não mielinizados).
Embora a maioria das fibras nervosas tenham mielina (fibras mielinizadas ou
mielínicas), algumas carecem dela (fibras amielinizadas ou amielínicas).
Figura 3. Neurónio.
O esquema básico descrito antes (vários dendritos e um único axónio)
corresponde aos neurónios multipolares, como os moto-neurónios e a maioria dos
outros neurónios do encéfalo e da medula. Mas existem também outros tipos de
neurónios, modificações do anterior:
Neurónios anaxónicos, sem axónio e com múltiplos dendritos. Estes, encontram-se
em certas zonas do cérebro, com funções de interconexão entre neurónios
multipolares. Também são chamados inter-neurónios.

Neurónios bipolares, com dois axónios curtos, um funcionando como dendrito


(leva o impulso até o soma) e outro como axónio verdadeiro (leva o impulso
desde o soma). São raros e existem especialmente em órgãos dos sentidos.

Neurónio unipolares, como os bipolares, mas o soma fica separado pelo que o
impulso passa directamente do dendrito ao axónio, sem passar pelo soma.
Exemplos são a maioria dos neurónios sensitivos do SNP.
•Figura 4. Tipos de neurónios.

Dendritos
Dendritos Dendritos

Núcleo Axónio
Núcleo

Núcleo
Axónio

Neurónio anaxónico Neurónio bipolar Neurónio unipolar


Adaptada de uma imagem de Quasar Jarosz , en.wikipedia.
Funcionamento dos neurónios. Os neurónios formam uma rede em que uns estão
conectados com outros (como o enfiamento de um sistema eléctrico) mediante as
sinapses e transmitem o impulso nervoso no sentido “dendrito > soma > axónio”.
O fluxo de informação dentro do neurónio (impulso nervoso) parte dos dendritos,
que recebem o estímulo dos axónios de outros neurónios com os quais estão
conectadas.
O dendrito uma vez excitado por uma sinapse, transmitirá o impulso de maneira
centrífuga ao soma e ao longo do axónio, que passará a informação aos dendritos
de outros neurónios com os quais está conectado sinápticamente.

As vias aferentes (sensitivas), que levam informação da periferia ao SNC, têm uma
orientação centrípeta (dendrites periféricas e axónio em sentido central) para
desempenhar a sua função.

As vias eferentes (motoras), que levam informação desde o SNC aos efectores
periféricos, têm uma orientação centrífuga (dendrites centrais e axónio em
sentido periférico).
Células da Glia (neuróglia). São as células não neuronais (não excitáveis) do sistema
nervoso, que forma a estrutura de suporte, sustentação, defesa, limpeza e
alimentação das células neuronais. São mais abundantes que os neurónios, e podem
ser de vários tipos:
Astrócitos. As maiores, em forma de estrela e que desempenham muitas e diferentes
funções, nomeadamente:
Manter a barreira hemato-encefálica (entre o sangue e o cérebro, protegendo este
de agressões químicas e de microorganismos),
Suporte estrutural,
Reciclagem de restos dos neurónios,
Ligam os neurónios e vasos sanguíneos (função nutritiva)
Reparação e cicatrização do tecido nervoso, e
Regulação da composição química do meio ambiente.
Oligodendrócitos. São células responsáveis pela formação da bainha de mielina que
protege os axónios. A bainha é como um lençol plasmático recoberto de membrana
que se enrola em volta do axónio, isolando-o.
Micróglia. Pequenas células com função de limpeza de restos celulares, por
fagocitose.
Células ependimárias. Semelhantes a células epiteliais, que recobrem as cavidades
do encéfalo e o canal medular, produzindo e reabsorvendo o líquido que circula por
estas cavidades.
Figura 5: Células da glia no SNC
Glia do SNP. As células da glia antes vistas estão apenas no SNC.
Os nervos e gânglios periféricos são protegidos por células satélites, que dão
estrutura de suporte, e por células de Schwann, que são as que formam as
bainhas de mielina dos nervos periféricos.
A superfície exterior da célula de Schwann, que está em contacto com as outras
células, é chamada neurolema.
Cada feixe de fibras nervosas é constituído por muitas fibras mielinizadas, com
neurolemas unidos numa matriz produzida pelas próprias células de Schwann,
chamada endoneuro.
Externamente cada feixe de fibras nervosas é protegido por uma camada
conjuntiva chamada perineuro. Vários feixes unidos formam um nervo ou ramo
nervoso, que é recoberto pelo epineuro, também de conjuntivo de protecção.
Impulso nervoso. Os neurónios são células excitáveis capazes de transmitir
mensagens electroquímicas, mediante mudanças instantâneas na sua carga
eléctrica dependentes do trânsito dos diferentes iões entre o interior do seu
citoplasma e o ambiente exterior.
Em repouso, o neurónio tem um equilíbrio dinâmico de sua composição
electroquímica, chamado polarização, de forma que:
O seu citoplasma é electricamente negativo (-) e com alta concentração de
proteínas e de potássio.
O ambiente exterior em volta do neurónio é positivo (+) e rico em sódio e cloro.
A diferencia eléctrica entre exterior e interior é de -70 mV. É o chamado potencial
de repouso.

Quando o neurónio (dendrites ou soma) recebe um estímulo electroquímico


adequado, capaz de aumentar o seu potencial de repouso por cima de -60 mV,
desencadeia (dispara) uma série de mudanças do equilíbrio químico através da
membrana.
É o chamado potencial de acção, que dura uns 3 mseg (milisegundos) e tem três
fases:
Despolarização. Inicialmente se produz uma abertura dos canais de sódio, que
provoca uma passagem massiva deste ião para o interior celular, criando uma
mudança do potencial, que se faz positivo. Passa a ser de +30 mV.

Repolarização. Como reacção compensadora, abrem-se os canais de potássio e


ocorre a saída deste para o exterior, até devolver o potencial a valores ainda mais
negativos que os de repouso.

Período refractário. Em que os canais de sódio e potássio se fecham e pela bomba


de sódio-potássio os iões se devolvem a seu nível de repouso, restaurando o
potencial de repouso. Isto requer energia, em forma de consumo de ATP.

Depois de acabado o período refractário e restituídas as concentrações de iões a


ambos lados da membrana, o neurónio fica outra vez pronto para receber novos
estímulos e desencadear novos potenciais de acção. Pela rapidez da sequência, o
neurónio é capaz de gerar centos de potenciais de acção por segundo.
Figura 6. Potencial de acção.

Imagem cortesia de Synaptidude, Wikimedia Commons


Logo que se produz um potencial de acção no soma de um neurónio, as mudanças
electroquímicas se transmitem a alta velocidade como uma onda por todo o
axónio, provocando um potencial de acção nas terminais sinápticas. É a chamada
propagação. Esta pode ser:
Contínua, como a que se dá nas fibras amielinizadas, que é relativamente lenta (1
m/seg).
Descontínua (A saltos), que se transmite de nó em nó nas fibras mielinizadas, e é
mais rápida, com velocidades entre 15 e 150 m/seg. Quanto maior for o diâmetro
do axónio, maior a velocidade de propagação do impulso.

Transmissão sináptica. Como já foi referido, no sistema nervoso, as mensagens se


transmitem ao longo dos axónios em forma de potenciais de acção, sequência de
mudanças electroquímicas que geram um impulso nervoso. Para esta
transmissão da informação ser efectiva deve ser propagada também entre
neurónios diferentes, para ser distribuída por diferentes partes do sistema
nervoso o dos órgãos efectores.
Sinapse é a estrutura celular especializada que põe em contacto dos neurónios,
através da qual se transmite o impulso nervoso entre as células diferentes. Na
sinapse, o impulso sempre corre num sentido, e é constituída por:

Terminal ou neurónio pré-sináptico (extremo do axónio do neurónio que porta o


impulso nervoso). É um alargamento citoplasmático que contém múltiplas
vesículas com produtos químicos activos na transmissão do impulso: os
neurotransmissores.

Terminal ou neurónio pós-sináptico (zona da membrana do dendrite ou soma que


recebe o impulso, para depois propagar ao resto do neurónio), separada da
anterior pela fenda sináptica.
•Figura 7. Sinapse.

Imagem cortesia do Núcleo de Apoio ao Ensino da Química


Quando um impulso nervoso chega à terminal pré-sináptica, esta responde
libertando na fenda sináptica os neuro-transmissores armazenados nas vesículas.
Estes são capazes de se ligar a receptores apropriados da terminal pós-sináptica
desencadeando mudanças na polarização da membrana do neurónio pós-
sináptico. Isto demora cerca de 0,5 mseg, depois do que a fenda é “limpa” de
neuro-transmissores mediante enzimas que os degradam quimicamente.
A reacção pós-sináptica pode ser:
Um aumento da negatividade do potencial de repouso (hiperpolarização),
protegendo o neurónio pós-sináptico de qualquer outro estímulo. Trata-se dum
estímulo inibitório, que anula a excitabilidade do neurónio.
Uma diminuição da negatividade do potencial de repouso até o ponto de disparo
dum potencial de acção (despolarização), que se transmitirá pelo neurónio pós-
sináptico. Trata-se dum estímulo excitador.

Há muitos diferentes neuro-transmissores. Embora cada um deles tenha uma


tendência excitadora ou inibitória, a maioria pode provocar inibição ou excitação,
dependendo do lugar anatómico em que se encontra a sinapse (o mesmo neuro-
transmissor provoca inibição em certas zonas do sistema nervoso e excitação em
outras).
Os mais importantes são:
Dopamina, nas chamadas sinapses “dopaminérgicas”, predominantemente
inibitórias.
Acetil-colina, nas chamadas sinapses “colinérgicas”, fundamentalmente
excitadoras.
Noradrenalina e Adrenalina, nas chamadas sinapses “adrenérgicas”,
fundamentalmente excitadoras.
Serotonina, nas chamadas sinapses “serotoninérgicas”, fundamentalmente
excitadoras.

Cada neurónio recebe sinapses de vários neurónios (vias convergentes), que


podem ser inibitórias ou excitadoras. Igualmente, o seu axónio dá sinapses para
vários neurónios (vias divergentes), que também podem ser inibitórias ou
escitadoras.
A sinapse entre uma terminal axónica e uma célula não nervosa é a chamada
junção neuroefectora. Incluem as:
Junções neuromusculares, sinapses colinérgicas entre neurónios e fibras
musculares, também chamadas placas motoras e
Junções neuroglandulares, entre neurónios e células glandulares.
PONTOS-CHAVE
.O sistema nervoso coordena, junto ao sistema endócrino, as
actividades dos outros sistemas do organismo para sincronizá-
las e ajustá-las às necessidades de cada momento.
.O sistema nervoso é formado principalmente por tecido neural
altamente especializado, composto por neurónios, células com
capacidade para transmitir informação na forma de impulsos
nervosos, e por células da glia, que protegem e facilitam a
função dos neurónios.
.O sistema nervoso é composto pelo sistema nervoso central
(SNC) e pelo sistema nervoso periférico (SNP). O primeiro
processa e integra a informação recebida pelos nervos
sensitivos vindos dos órgãos periféricos, e envia comandos aos
órgãos efectores através dos nervos motores.
.O circuito nervoso mais básico é o reflexo simples, composto
por um receptor periférico, uma fibra aferente, um neurónio
integrador e uma fibra eferente até o órgão efector.
PONTOS-CHAVE
.O neurónio é constituído por uma série de ramificações que
recebem os impulsos, os dendrites, um soma que contém o
núcleo celular, e um único axónio, filamento mais ou menos
comprido, recoberto ou não de mielina, que leva o impulso até
aos outros neurónios.
.O impulso nervoso é transmitido ao longo do axónio como
uma onda produzida por uma série de mudanças na carga
eléctrica a ambos lados da membrana, provocadas pelo
trânsito diferencial de diferentes iões, conhecidos como
potenciais de acção.
.O impulso nervoso se propaga de um neurónio para outro nas
sinapses, pelo estímulo químico de neuro-transmissores,
moléculas especializadas em excitar ou inibir a membrana do
neurónio seguinte.

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