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Transcriçã

Aula 332
Qual é o seu suco?
Aula 332
ESLEN DELANOGARE 15 de fevereiro de 2023

TRANSCRIÇO
Ã
Olá, pessoal, muito boa noite, eu me chamo Eslen Delanogare, para quem não
me conhece eu sou psicólogo, neurocientista, eu sou psicólogo de formação,
minha graduação, e eu fiz mestrado em neurociências e atualmente estou
no doutorado em neurociências na Universidade Federal de Santa Catarina.

Vim aqui hoje para falar para vocês sobre motivação e tentar ensinar para
vocês alguns raciocínios que possam ajudar vocês a entender um pouco
mais sobre esse assunto.

Muita gente vê na internet as pessoas falando sobre disciplina, muitas vezes


muita gente vê na internet as pessoas falando sobre motivação, muita
gente vê na internet as pessoas falando sobre hábitos, muita gente vê na
internet as pessoas falando algumas coisas inclusive equivocadas sobre
esses assuntos.

E hoje eu vou tentar usar o espaço que me deram aqui para ensinar vocês
tudo isso dentro de um recorte neurocientífico, tudo isso explicando para
vocês por uma ótica neurocientífica pautada em estudos, pautada em
dados, pautada em conhecimento que foi construído usando um processo
metodológico que é o que a gente entende dentro das ciências e no meu
caso das neurociências.

Então hoje nós vamos falar sobre motivação, hoje nós vamos entender o
que é motivação e hoje nós vamos entender como uma vez que você tem
conhecimento sobre esse assunto, automaticamente você pode ter mais
motivação. É um loop infinito, saber sobre motivação pode gerar mais
motivação em você e consequentemente vai te dar mais vontade de
entender sobre motivação e consequentemente vai te dar mais vontade de
saber e ter motivação.
Então eu vou tentar explicar para vocês dentro dessa aula como vocês
utilizarem um conhecimento neurocientífico muito específico, muito técnico,
descartando aquilo que não é aplicável na vida de vocês e utilizando aquilo
que é aplicável para que vocês tenham mais motivação, para que vocês
construam mais hábitos benéficos e consequentemente que a produtividade
de vocês e o bem-estar de vocês, ou a felicidade de vocês também aumente.
Perfeito?

Então assim, a aula de hoje, ela será construída nesse eixo central de
entender os processos motivacionais que acontecem no cérebro.

Antes de mais nada, eu preciso alertar vocês que motivação dentro de um


conceito neurocientífico é diferente da motivação que comumente a gente
ouve falar no senso comum.

As pessoas muitas vezes falam: “Ah, você tem que estar mais motivado, você
tem que ter mais motivação.”, que você precisa se motivar mais.

Só que a motivação no senso comum, as pessoas normalmente usam


essa palavra para dizer coisas no sentido de ter vontade de fazer algo, ter
vontade de executar alguma coisa, ter vontade de realizar algum tipo de
comportamento, nas neurociências motivação é diferente, tá, pessoal?

Uma coisa que a gente começa a entender quando estuda neurociência,


é que muitas vezes a força de vontade, ela não é suficiente para a gente
executar algum tipo de comportamento.

Vou dar um exemplo para você, se você quer parar de fumar, você
provavelmente tem vontade de parar de fumar, né?

Se eu perguntar para você: você gostaria de parar de fumar? É um hábito


que está fazendo com que o seu pulmão se deteriore, fazendo com que as
suas artérias fiquem com mais lipídios, fazendo com que você perca sua
capacidade cardiovascular, fazendo com que o seu cardiorrespiratório fique
mais ruim.

E você muito provavelmente pode falar: “Sim, eu gostaria. Gostaria de parar


de fumar.”.

Então você tem vontade de parar de fumar, mas você não tem motivação
para parar de fumar.
Neurocientificamente falando, ela não é como as pessoas acham que é algo
simplesmente negociável, que você decide ter e você tem: “Agora eu vou ficar
motivado para treinar. Agora eu vou ficar motivado para desconstruir alguns
hábitos ruins. Agora eu vou ficar motivado para construir hábitos bons.”.

Isso seria o que a gente chama de força de vontade, motivação você precisa
construir um cenário ideal para que a motivação existe. Então de certa forma
ela é produto de uma construção que você faz dentro do seu ambiente,
dentro da sua rotina.

A gente vai entender tudo isso hoje, na aula, tá? Fiquem tranquilos.

Eu só preciso fazer essa ressalva, porque as pessoas muitas vezes acham


que motivação, o jeito que eu vou falar de motivação aqui, é a mesma
motivação que as pessoas falam no senso comum, a motivação que eu vou
falar aqui não é aquela motivação de você estar animado, de você estar
feliz, de você estar entusiasmado, de você estar alegre.

A motivação que eu vou falar aqui, é você ter motivo para realizar alguma
ação e que o seu cérebro entenda esses motivos como algo suficiente para
você realizar esse comportamento. E isso é totalmente diferente de você ter
simplesmente vontade de fazer algo.

De novo, só ter vontade de fazer algo, muitas vezes não funciona, você
precisa do componente motivacional.

Para entender a motivação, a gente precisa voltar um pouco no tempo e


entender alguns neurotransmissores, tá?

[00:05:00] Eu vou falar alguns nomes diferentes aqui para vocês, mas a gente vai
destrinchando conforme a aula for passando, tá? Talvez vocês já tenham
ouvido falar de alguns deles, mas vai ser importante vocês entenderem eles
aqui para vocês terem substrato para acompanhar a aula toda.

Quem aí já ouviu falar que, por exemplo, um neurotransmissor, neurotransmissor


nada mais é do que uma substância química que ocorre no seu cérebro e
que lá no seu cérebro essa substância química, ela gera uma conexão entre
os neurônios do seu cérebro, neurônios do seu cérebro são células. Então o
seu cérebro inteiro, ele é composto por várias células, essas células a gente
chama de neurônio. E essas células, elas se conectam por meio de sinapses,
vocês não precisam saber agora esses nomes, mas vou falar eles aqui para
vocês ouvirem, talvez pela primeira, segunda, ou terceira vez, tá?

Essas sinapses, elas ocorrem por meio de uma conectividade feita por
neurotransmissores, tá?

O que é um neurotransmissor? Nada mais é do que uma substância que


transfere informações diárias do seu cérebro, para outras áreas do seu
cérebro, isso é um neurotransmissor.

Existem vários tipos de neurotransmissores, mas um dos neurotransmissores


mais comuns que a gente conhece e a mais estudada que a gente conhece,
é um neurotransmissor chamado dopamina.

A dopamina por muitos anos e muitos anos, ela foi confundida, as pessoas
achavam que a dopamina tinha a ver com prazer, as pessoas associavam e
talvez você até hoje entenda dopamina por essa lógica, talvez até hoje você
entenda dopamina como neurotransmissor envolvido com prazer, mas os
estudos científicos hoje, eles são bem claros mostrando que dopamina tem
a ver com motivação, dopamina não tem a ver com prazer, dopamina tem a
ver com motivação para buscar um um eventual prazer.

Então se você pega um animal por exemplo, ou se você pega um humano


por exemplo e você tira a dopamina do cérebro desse organismo, você vai
perceber que esse organismo continua sentindo prazer, mas esse organismo,
ele deixa de sentir vontade de buscar o prazer.

Isso já foi muito estudado em roedores e já foi muito estudado em macacos.


O que os pesquisadores fazem em laboratório? Por um meio lá experimental
específico, eles conseguem depletar os neurônios que produzem dopamina
no cérebro desse animal. E o que eles percebem?

Eles percebem que se você colocar uma comida suculenta, açucarada, na


frente do animal na boca do animal, ele prefere comer a comida suculenta,
açucarada, em detrimento da comida normal, mesmo sem ter dopamina no
cérebro, isso indica o quê

Se ele prefere uma comida mais gostosa, em vez da comida normal, isso
indica que ele tem prazer, se ele não tivesse prazer, ele ia comer qualquer
um, concorda?

Agora, se você afasta — e esses estudos são bem legais — se você afasta a
comida 10 cm do animal, 10 cm, a comida está aqui, o ratinho está aqui, você
bota comida aqui, o animal, ele não busca a comida. Ou seja, na ausência
desse neurotransmissor dopamina, o animal ele entra no estado de não ter
motivação para buscar uma recompensa, então muito tempo se associou
dopamina com recompensa, hoje a gente sabe que dopamina não tem a
ver com a recompensa propriamente dita, mas sim com a motivação para
buscar uma recompensa.

E vocês vão entender o porquê que a gente está falando tudo isso na aula
de hoje, tem um estudo que foi feito por um pesquisador e agora eu gostaria
que vocês prestassem a atenção aqui em mim, tá, pessoal?

Prestem um pouquinho de atenção em mim, para de fazer o que você está


fazendo agora e escuta o que eu vou falar aqui na aula, tá? Essa parte
da aula é realmente mais importante, o ponto alto dela, se você tiver
absorvido o que a gente vai falar agora aqui, eu tenho certeza que você vai
conseguir aplicar minimamente isso na sua vida, então vamos lá, construam
junto comigo esse raciocínio e se você tiver algum papel, alguma caneta aí
próximo, já pega esse papel e essa caneta e anote isso que eu vou falar aqui
também, perfeito?

Bom, um pesquisador alemão chamado Wolfram Schultz, ele desenvolveu


um estudo muito interessante com macacos e dentro do que a gente tem aí
hoje entre os animais, os macacos são os mais próximos aos humanos. E isso
permite a gente concluir algumas coisas translacionais bem importantes
entre esses estudos, tá?

O que o Schultz fez? O que esse pesquisador fez?

Ele basicamente pegou um macaquinho, tá? Ele deixou o macaquinho


sentado numa cadeirinha e ele ensinou, prestem atenção aqui, ele ensinou
o macaquinho que sempre que ele apertar um botãozinho, vem uma
recompensa para ele, esse é o primeiro ponto.

Segundo ponto, depois que ele ensinou isso, ele abriu o cérebro do
macaquinho e colocou os eletrodos dentro do cérebro do macaquinho,
numa regiãozinha — eu vou falar alguns nomes estranhos aqui, você pode
eventualmente utilizar esses nomes para colocar no nome do seu cachorro,
no seu gato, se você quiser são nomes bem interessantes para o seu pet, é
esses nomes estranhos que eu vou falar agora, tá?

Ele colocou os eletrodos no cérebro do macaquinho, em algumas regiões


importantes para o processamento motivacional, entre elas o núcleo
accumbente, olha que nome legal para você botar no seu pet, accumbente,
imagina um cachorro chamado “Accumbente”.

[00:10:00] Ele colocou uns eletrodos numa regiãozinha chamado estriado dorsal e
ele colocou eletrodos numa regiãozinha chamada área tegmental ventral,
vocês não precisam saber esses nomes aqui, mas é bom que vocês escutem
isso nessa aula, tá?

O que esses eletrodos fazem, pessoal?

Basicamente esses eletrodos, eles conseguem medir a atividade do cérebro


do animal, nessas regiões envolvidas com motivação e recompensa, perfeito?
Regiões envolvidas com processamento dopaminérgico, tá?

Uma vez que o macaquinho estava sentado ali, ele estava medindo o
sistema de recompensa, o sistema dopaminérgico do animal dentro de um
contexto experimental no laboratório.

Como é que era esse contexto experimental?

O macaquinho estava sentado. E é bem difícil fazer esses estudos, até você
ensinar o macaco a ficar sentado é um trabalhão, mas eles fizeram isso.

Então o macaquinho estava sentado numa cadeira e eles fizeram um


desenho experimental que é o seguinte, presta atenção aqui, tá?

Olha, presta atenção aqui se você estiver distraído.

O desenho experimental é o seguinte: sempre que acendia uma luz no teto,


sempre que uma luz no teto ligava, se o macaquinho apertasse 10 vezes
o botão, uma garrafa de suco, uma mamadeirinha com suco vinha até o
macaco por uma correia específica ali.

Então o macaco sabia que tinha suco lá dentro, tinha sido mostrado
previamente para ele, o pesquisador pegou a mamadeira e colocou o
macaquinho para provar o suco, perfeito?

Então agora o macaco sabe, aquela mamadeira lá que tem aquele líquido
daquela cor tem suco, é o alvo dele, ele descobriu o alvo dele e ele descobriu
que é bom.
Só que para conseguir o suco, ele precisava realizar um trabalho que era
apertar dez, vinte vezes um botão e ele só podia realizar esse trabalho, o
botão só era liberado para apertar quando uma luz acendia no teto. Dentro
desse contexto experimental, o estudo se estava medindo a atividade dos
neurônios dopaminérgicos do cérebro do macaquinho e ele queria saber
em qual momento do experimento a dopamina subiu, em qual momento do
experimento o animal teve mais liberação de dopamina.

Se a dopamina tinha a ver com prazer, devia ser quando o macaquinho


recebia o suco. Se a dopamina tinha a ver com motivação realmente, devia
ser quando o macaquinho viu a luz e apertou o botão para receber o suco.

Então esse experimento, pessoal, vou mostrar aqui, vou desenhar para vocês
uma coisa aqui, tá?

Esse experimento, ele resultou, eu vou simplificar obviamente o gráfico, né?

Isso daqui foi publicado um artigo, tem todos os dados neurofisiológicos


complexos lá de entender, mas eu vou resumir aqui para vocês os principais
achados do Schultz e a partir de agora eu quero que você tire conclusões
para a sua própria vida, perfeito?

O que o Schultz achou foi esse gráfico aqui, pessoal, vamos imaginar esse
eixo aqui, esse eixo X, Y, tá? E o que o Schultz percebeu, foi algo mais ou
menos assim: nesse lado aqui a gente tem a dopamina sendo medida, tá?

E o Schultz percebeu algo mais ou menos assim, olha.

O gráfico de liberação de dopamina foi mais ou menos assim, perfeito?


Neste momento aqui, a gente teve o momento em que o macaquinho viu
a luz, neste momento aqui a gente viu, a gente teve um momento em que
o macaquinho trabalhou, ou seja, quando ele viu, quando ele começou
a apertar o botãozinho. E neste momento aqui foi quando ele recebeu a
recompensa, o suco, né?

O que esse gráfico aqui mostra para nós, pessoal?

O aumento dopaminérgico do macaquinho, realmente aconteceu quando


ele teve uma deixa para conseguir a recompensa, prestem atenção aqui no
gráfico comigo por favor, tá?

Só que a conclusão parcial que você pode estar tirando disso aqui, você
deve estar pensando então que para eu estar motivado, eu preciso
automaticamente saber qual é a minha luz, porque se houve um aumento
de dopamina no momento que o animal viu a luz no teto, logo eu tenho que
saber qual é a minha luz. E não qual é o meu suco que é a aula de hoje,
essa é uma conclusão, se você está pensando num modo minimamente
racional, você pode ter chegado parcialmente a essa conclusão até, com
as informações que eu dei para você até agora, ok?

Porém, a gente precisa lembrar do início do experimento, o macaquinho,


ele só teve vontade de apertar o botão após ver a luz, porque ele já tinha
experimentado a mamadeira antes, ele já sabia o que tinha dentro da
mamadeira, ele já sabia qual era o suco dele.

O que eu quero dizer com isso? Se você não tiver dentro do seu repertório
de comportamento dentro do que é a sua vida, o mínimo entendimento do
que você quer e qual é o seu suco, você não vai ter motivação para buscar
o seu suco, você não vai ter motivação para procurar o seu suco. Você não
vai ter motivação para querer buscar a sua recompensa, porque você nem
sabe qual é a recompensa.

[00:15:00] Se os pesquisadores não tivessem dado a mamadeira para o macaco


experimentar, falando: “Olha, isso daqui é bom, você vai querer isso.”.

O macaquinho ia ver a luz acendendo no teto, ia ver aquela mamadeira lá,


ele não ia dar importância para aquilo. Ele só quis buscar aquela mamadeira,
porque ele já tinha provado, esse sistema aqui, pessoal, ele funciona para o
lado ruim também, tá?
É por isso que muitas pessoas que experimentam uma, ou duas vezes
alguma substância, começam a se viciar naquilo, até então elas falavam
que não gostavam, que nunca haviam experimentado e algumas podem
ter um efeito reforçador maior da substância, outras podem ter um efeito
reforçador menor, a gente vai conversar sobre isso também, tá? Esperem um
pouco aí.

A primeira conclusão que a gente pode tirar desse gráfico aqui, é o seguinte:
saiba qual é o seu suco.

Então é isso, se você quer pensar em trabalhar com tal coisa, experimente,
converse com pessoas que trabalham com aquilo, viva um dia com pessoas
que trabalham com aquilo, às vezes na sua construção perceptiva, num
determinado contexto, pode ser recompensador e satisfatório, mas quando
você experimenta aquele contexto, você fala: “Meu, isso daqui é muito ruim.”.

E às vezes o oposto acontece, você fala: “Meu aquilo ali não tem interesse
algum.”, aí você experimenta aquilo, sabe como é aquilo e você começa a
fazer com mais frequência.

Um exemplo clássico disso é o exercício físico, as pessoas falam que exercício


físico é ruim, até começar a conseguir fazer pelo tempo suficiente para sentir
os reforços dos exercícios físicos, ponto final.

As pessoas falam que dormir cedo não é para elas, que dormir direito não
é para elas até conseguir colocar na vida uma agenda de sono e sentir os
benefícios de um sono adequado.

As pessoas falam que se alimentar saudável é ruim, até conseguirem começar


a fazer aquilo e sentir.

Você precisa executar o comportamento até você sentir o reforço do


comportamento, tem pessoas que vão sentir em um ou dois dias, tem pessoas
que vai demorar uma semana, duas, três semanas, um mês. Mas você precisa
experimentar qual é o seu suco para que você tenha a oportunidade de
ser reforçado, recompensado e gere motivação para você buscar ele mais
vezes, está perfeito até aqui?

Vocês estão me entendendo?

Nesse mesmo experimento, é o segundo ensinamento que a gente vai tirar


daqui, quando o pesquisador faz todo esse engendramento metodológico,
mas isso daqui é uma dica que eu dou pro pessoal que tem empresa
também, tá?

Pessoal que tem empresa aí, é uma dica que eu dou para vocês, que
eventualmente trabalham, que vocês têm alguns colaboradores, ou tem
contratos etc. na empresa de vocês.

Macaquinho viu a luz, explodiu a dopamina dele, como a gente vê aqui, ele
trabalhou, apertou o botão, você vê que depois que ele trabalha e sabe que
a recompensa vai vir, a dopamina já desce, segue basal, só que aí em vez dos
pesquisadores, eles darem o suco para eles, o macaquinho, eles dão água.

Preste atenção aqui, tá, pessoal? Presta atenção aqui comigo.

Isso daqui, pessoal, é uma quebra de expectativa, porque o macaquinho


teve a expectativa de que, bom a luz acendeu, eu vou trabalhar, a dopamina
explodiu no cérebro, está vindo suco para mim. É importante falar, tá? Macaco
adora suco, suco de maçã, suco de laranja, eles ficam maluco com suco,
eles gostam muito de suco, por isso que a dopamina no cérebro explode.

Então ele trabalhou, trabalhou, o suco estava vindo em direção a ele, ele
estava com a expectativa de ser um suco, na hora que ele tomou, era água,
você pode pensar: “Bom, então significa que nessa hora aqui os neurônios
dele produtores de dopamina ficaram no basal.”.
Não, o que o pesquisador percebeu é que se o macaquinho trabalha para
buscar o suco que é a recompensa dele e não vem a recompensa, os
neurônios motivacionais dele não ficam no basal, ele não volta para o basal
onde estava, ele volta um pouquinho para baixo. Os neurônios são inibidos,
são desligados.

E o que acontece com o gráfico é isso aqui, olha, o gráfico cai.

Então perceba que o gráfico, ele fica um delta entre o que é o basal e o que
é atividade dos neurônios produtores de dopamina.

Isso, pessoal, leva para qualquer coisa na sua vida, tá?

Se você espera isso, depois de executar um comportamento motivado por


algum tempo e a realidade te dá isso.
Esse delta entre o que você esperava e o que a sociedade te deu, ou o
resultado te deu, é o que a gente chama comumente de frustração, frustração
é a diferença entre o que você esperava e o que de fato aconteceu.

O termo técnico para isso é erro de predição de recompensa, você errou, o


seu cérebro errou o cálculo, você esperava que ia acontecer x e aconteceu y,
para baixo.

Agora, pode acontecer o inverso, o macaquinho podia estar esperando um


suco e veio, sei lá, um bolo de chocolate, não sei, uma coisa que ele gosta
muito mais que suco.

[00:20:00] Então a expectativa era assim e aconteceu isso, esse delta aqui é uma
surpresa, tipo quando você acha dinheiro no bolso da calça, não estava
esperando aquilo ali, aconteceu.

Ou quando alguém no trabalho te recompensa por uma coisa que você não
estava esperando.
Então o que isso nos indica?

Você precisa ter sempre para evitar o que a gente chama de “crash
dopaminérgico”, você teria que ser sempre ajustado, as suas expectativas,
elas precisam ser ajustadas com a realidade.

Porque se você vive num contexto onde as suas expectativas, elas são
sempre quebradas num sentido ruim, então você espera isso, você espera isso
e sempre vem isso, a existência desse delta atribuindo um fator tempo nele...

Vocês estão me acompanhando, pessoal, que está assistindo aí? Eu queria


muito que essa aula fosse presencial, porque eu ia estar olhando o rostinho
de vocês e ia estar vendo quem está prestando atenção e quem não está
prestando atenção, ia ser bastante interessante, me acompanhe aqui.

A existência desse delta entre o que é o que você espera e o que a sociedade
te dá, ou que o seu resultado te dá, parece que a sociedade eu estou botando
a culpa, que o seu resultado também te dá, né? Atribuindo fator tempo,
sustentando esse delta, muito provavelmente vai colocar você no que a gente
chama de zona alostática fisiológica — olha aí que outro nome bonito para
você botar no seu gato, o Alostático, bom nome pra gato, hein, o Alostático,
nome forte.

Então na zona alostática fisiológica, o seu cérebro, ele começa a viver num
ambiente químico, pensa que o seu cérebro ele está banhado agora por uma
enxurrada de substâncias, o seu cérebro, ele começa a viver num ambiente
químico que para ele é disfuncional. E o que que tende a começar a acontecer?

Presta atenção aqui, tá? Vem comigo.

O que no seu cérebro começa a acontecer quando isso é frequente na sua


vida?

Os neurônios produtores de dopamina... Melhor, os neurônios produtores não,


os receptores aonde a dopamina vai ligar, eles começam a internalizar dentro
da célula, então agora você começa a não ter mais essa resposta, aqui olha.

E aí você começa a entrar num quadro que a gente chama de anedonia, ou


seja, você fica desmotivado, então você não quer mais fazer, você não acredita
mais em você e aí você pode começar a ter erros cognitivos catastróficos,
você começa a pensar: “Eu não consigo, eu sou um merda, isso não é para
mim, as pessoas são melhores do que eu.”.
E você começa a criar um ciclo de autossabotagem, muito provavelmente — eu
espero que vocês estejam acompanhando o raciocínio — muito provavelmente
esse descompasso emocional gerado por estímulos frustrantes corriqueiros,
esse descompasso emocional, então a sua emoção faz assim, olha, a emoção
faz assim, ela fica hábil.

Tem dia que você acorda: “Agora eu vou mostrar para todo mundo quem é
que manda.”. E quer fazer e conquistar o mundo, aí chega meio dia você fala:
“É, realmente eu não consigo.”.

Esse descompasso emocional, dependendo do ambiente — lê-se pessoas


também, tá? Que você vive. Esse descompasso emocional, ele vai ser
compensado com comportamentos disfuncionais, que é o que, por exemplo?

Você começa a ficar frustrado, frustrado, frustrado, estressado, estressado,


estressado, o seu balanço emocional começa a ruir, então você não é mais
aquela pessoa perene. Aquele pessoa organizada, aquela pessoa centrada.

E aí você começa o quê? Beber um álcool terça-feira à noite, compensar na


comida, fumar, comportamento de risco, explosões de raiva, gastos, compras
que não precisa.

E aí você começa a criar um contexto autodestrutivo.

“Eslen, como eu corrijo isso, cara?”.

Primeiro, você precisa saber qual é o seu suco, qual é o seu suco?

Eu vou dar um exemplo que é eu, tá, pessoal? Vou dar um exemplo aqui que
é o meu exemplo, tá?

O meu suco é estudar, eu gosto de estudar. Se vocês deixarem, eu posso


ficar tranquilamente 14 horas estudando sem comer e sem beber água, de
preferência urinando na minha própria calça, para não precisar ir ao banheiro.

É tipo um vício assim, cara.

Esses tempos eu estava estudando, acordei numa sexta-feira, bem tranquilo,


falei: “Bom, hoje eu vou dar uma estudada.”.

Deve ser mais ou menos tipo quem acorda para jogar vídeo-game e tem um
tempo livre assim, é eu com o estudo.
“Hoje eu vou dar uma estudada aqui violenta.”.

Acordei mais cedo, às cinco e meia, seis da manhã.

Para quem não sabe, eu durmo às nove da noite. Eu sou muito estranho, tá?
Sou bem estranho.

Dormi, falei: “Bom, amanhã eu vou destroçar esses artigos científicos aqui, eu
vou pegar e vou arrebentar todos eles na paulada, eu vou aprender todos
esses artigos que eu selecionei aqui e eu não quero nem saber.”.

Então pensa, o meu suco era estudar aquilo ali, cara, queria estudar aquilo ali.

E aí eu já ia dormir e no outro dia minha dopamina já estava aqui, olha,


explodindo.

Eu falei: “Eu vou estudar isso aqui e eu não quero nem saber.”.

O telefone no silencioso, aviso para os meus sócio, para todo mundo: “Não
enche o meu saco, porque eu quero estudar, resolvam as coisas aí e me deixa
estudar.”.

Bom, comecei, né? Aqueci, tomei um café, liguei o ar, fiz todo o esquema.

[00:25:00] Quando eu comecei a estudar, passou 45 minutos e eu tive que ir ao banco,


olha que coisa maravilhosa, o banco me ligou, eu comprei um apartamento e
eu precisava resolver um problema do banco.

O que vocês acham que aconteceu com a minha dopamina?


Ela fez assim, olha, ela se estivesse medindo nesse gráfico aqui que está na
tela, ela teria caído abaixo do que é a zona do gráfico, teria saído do gráfico
da dopamina, de tanto que foi inibida.

Eu queria, pessoal, dar um chute na quina da mesa e ter quebrado meu pé


para poder ir pro hospital e não ir ao banco, aí pelo menos eu ia lendo um
artiguinho ali na ambulância, sabe?

Então assim, entenda qual é o seu suco, busque o que você gosta, busque o
que você quer, busque o que é a sua praia, busque o que é o seu movimento,
busque o que é a sua rotina, busque o que é o seu ideal.

Busque o que é essa a sua parada, cuide para que o seu suco não seja
confundido com dinheiro, tá?

O dinheiro, ele tem um efeito reforçador em nós, até um determinado


patamar, depois ele entra num platô e aí você fica viajando, se você não
tem mais nada para colocar no lugar, tá?

No início pode ser dinheiro sim, para quem está começando agora o dinheiro
pode ser o seu suco, porque você tem que pagar uma coisa, você tem que
pagar sei lá o que, então pode ser sim.

O seu suco, ele é uma instituição fluida, né? Durante a vida ela vai mudando,
mas você tem que ter algo para você fazer, buscar, tá?

Ponto importante: o seu suco, ele é altamente influenciado pelo que a gente
chama na psicologia comportamental de comunidade verbal, o que é a
comunidade verbal?

É um grupo anônimo de professores de língua portuguesa?

Não, comunidade verbal é o que a gente chama de basicamente as pessoas


com quem você convive, as pessoas que falam no seu ouvido o que é bom e
o que é ruim.

Eu não sei se você percebe, mas você é muito modulado pela sua comunidade
verbal, digamos que se fosse possível aqueles macaquinhos conversarem e
falar: “Meu, o suco é muito ruim, aquele suco e não é legal.”.

Talvez a percepção de gostosura daquele suco ia ser alterado pela


comunidade verbal do animal, então às vezes você tá no momento que
é a sua praia, que é o teu negócio, mas a comunidade verbal que muitas
vezes pode ser disfuncional, os seus amigos, os seus colegas, não sei, ficam
falando: “Não, isso é ruim, isso daí não é para ti, isso daí não vai dar futuro,
não sei o quê...”.

E você perde a motivação porque as pessoas modularam o que é a sua


percepção daquilo.

E elas podem inclusive aumentar o valor perceptivo de condições


disfuncionais:

“Não, cara, você é muito jovem, você tem que fazer festa, você tem que
farrear, tem que usar droga, curte a vida, esquece isso.”.

E você de fato, às vezes você era um cara que gostava de trabalhar, ali fazer
os seus corres, treinar, organizar a sua vida e você começa a se achar ruim,
uma pessoa ruim, porque a sua comunidade verbal está sacrificando aquilo
que era seu suco, jogaram água no... Como era a frase?

Jogaram água no... sei lá, leite? Não sei essas frases comuns aí que o
pessoal fala.

Então é: tenta entender qual é a sua praia, entenda que a comunidade


verbal modula demais o que é a sua praia, eu diria que ela até cria o que é
a sua praia.

E a comunidade verbal não é só as pessoas físicas que você vive, tá?

É a internet, você assiste vídeos de pessoas que você se inspira etc. Modula
o que é a sua motivação para determinadas coisas.

Então crie um contexto modulatório virtual que leve você para um lado
positivo, alimente esse suco, para você saber. De novo, se o macaquinho
não soubesse que tinha suco lá, ele não ia ter motivação em querer aquilo,
então você tem que saber qual é o seu suco, perfeito?

Segundo: cuide muito, tá? Para que a sua expectativa, não seja estrondosa,
porque aí você vai viver se frustrando, você vai viver se frustrando demais.

Se você ficar achando que sempre vai ser isso, sempre vai ser isso e é muito
alto do que possivelmente deve ser, você vai se frustrar, então alinhe a sua
expectativa com o que é realidade.
E uma das formas de você alinhar a sua expectativa com a sua realidade é
você ter critérios.

O que de fato eu consigo alcançar em um ano?

Você não vai começar a treinar agora e daqui há dois meses estar com o
shape de um Fulano X que você acompanha na internet que tem 35 anos
e treina desde os 20 e usa esteroides e anabolizante, esquece. Então se
aquele shape for teu suco, alinha a porcaria da tua expectativa, porque
senão tu vai treinar dois meses e a única coisa que tu vai ter conseguido é
dor, sentir dor nos músculos.

Joga a sua expectativa para um contexto real de modo que você não fique
se frustrando, se não é um tiro no seu próprio pé, ou o que comumente as
pessoas chamam de “autosabotagem”, o que é uma autossabotagem? Você
criou um objetivo impossível de ser alcançado.

É óbvio que você não vai conseguir botar o shape em dois meses, é óbvio
que você não vai conseguir começar a fazer dieta sexta, sábado e domingo,
tomou 18 long neck cada um dos dias, fumou duas carteiras de cigarro e
ficou maluco nos rolê e aí quer começar a comer salada com frango sem sal
na segunda-feira e quer seguir assim pelo ano inteiro.

Claro que você não vai conseguir.

“Não, Eslen, mas eu sou forte, eu consigo.”.

[00:30:00] Entenda: hábitos e mudança de hábitos não são negociáveis desse jeito.
Lembra do início da aula? Não basta só a força de vontade, você tem que ter
um contexto modulatório que você veja as recompensas, estão conseguindo
acompanhar? Você tem que ter um contexto modulatório que você veja
as recompensas e o reforço daquilo e dar tempo para você chegar lá e ir
construindo isso, tá bom?

Então assim, maneire as suas expectativas, crie expectativas realistas,


porém não crie expectativas abaixo do que é o normal, porque senão você
pode desmotivar, você ficar assim: “Não, só vou conseguir esse físico daqui
sei lá quanto tempo, isso não é para mim.” e você começa a se desmotivar.

Então crie expectativas reais e dentro dessas expectativas que você criou,
tente recompensar o processo de execução, perfeito?
Terceiro: se você sentir que as suas expectativas estão alinhadas, que o
seu trabalho está ok e que a recompensa não está proporcional dentro do
possível, converse com as pessoas, fale com o seu chefe, fale com a sua
chefe, não sei. Sinalizar uma possível frustração é importante da sua vida,
no seu relacionamento, para o seu treinador, para o seu nutricionista, para
os seus pais, enfim.

Porque um contexto frustrante ao longo do tempo, vai gerar desmotivação


em você e vai gerar problema.

Outro ponto extremamente importante: na medida em que você sabe qual


é o seu suco, na medida em que você sabe qual é a sua coisa, você fica
automaticamente mais protegido contra vícios. Exatamente isso que você
ouviu.

Por que você fica protegido contra vícios?

Pensa assim: hoje a gente tem bons estudos mostrando que macacos...

Tem estudos de macacos e humanos, tá?

Quando você pega macacos e coloca dentro de um zoológico, de alguma


jaula e tal, eles formam uma hierarquia. Então você tem um, o dois, o três, até
o doze, quinze, dependendo quantos macacos tiver.

O um manda em todos, o dois manda em todos menos no um, o três manda


em todos, menos no um e dois e assim sucessivamente.

Digamos que eu... E tem estudos que mostraram isso, tá? Digamos que eu
larguei os macaquinhos lá, eles estabeleceram a hierarquia deles e aí eu dei
a possibilidade desses animais usarem cocaína, você consegue fazer lá, você
faz alguns experimentos, você bota cocaína venosa no animal e ele pode
apertar um botãozinho para injetar a droga nele mesmo e dependendo
quanto mais ele apertar o botãozinho, mais high ele vai sentir, né? O barato
vai ser maior.

Se você bota o número um no ranking, o número dois no ranking e o número


três e depois você bota o número dez, onze e doze, esses três primeiros
no ranking, eles se auto administram muito menos cocaína do que os
subordinados.

E quando os pesquisadores foram olhar o cérebro deles para entender o


porquê disso, eles descobriram que o número um, dois e três no ranking, eles
têm o sistema dopaminérgico mais usado do que o dos últimos do ranking,
por quê?

Porque o animal dominante, ele come primeiro do que os outros, então se


você joga comida lá, ele que come, os outros ficam lá tudo olhando. Depois
vai o dois, depois vai o três e assim vai até os últimos ficarem só com os restos.

Os primeiros animais do ranking escolhem onde vão dormir, então está


chovendo, o lugar embaixo da parede é minha, você dorme na chuva.

Os primeiros do ranking tem acesso às fêmeas, os primeiros do ranking,


eles têm acesso a situações que já são reforçadoras por si só, que são
recompensadoras por si só, então eles precisam menos da droga.

Quando você vai olhar os animais que estão na cadeia final do da zona
hierárquica, eles se auto-administram muita droga e quando você vai
olhar o cérebro desses animais, eles têm menos receptores dopaminérgicos
indicando que eles precisam de muita dopamina para ativar eles, por quê?
Meio que é o que resta para eles.

Presta atenção aqui, pessoal, comigo, tá? É meio que é o que resta para o
macaco, usar droga e isso pode ser feito até um paralelo com a sociedade, tá?

Isso pode ser feito até um paralelo com a sociedade, em média obviamente.

Então assim, quando você encontra uma parada que você gosta, você tem
menos razão para ter comportamentos disfuncionais, porque você já curte
o teu negócio, você já sabe qual é o seu suco.

É tipo eu, eu não quero ir no banco, cara, nem que seja um negócio do meu
apartamento. Outras vem falar: “Cara, vai lá.”.

Eu falei: “Eu não quero, cara, eu quero ler meus artigos.”.

É quase um vício mesmo assim, é tipo um vício, sabe? De você não atender
o telefone quando alguém está te ligando, tipo fingir que não está em casa
para poder ficar em casa, sabe? É eu, falei que eu sou estranho.

Então assim, na medida em que você encontra o seu suco, que você sabe
qual é a sua parada e essa parada é uma coisa minimamente funcional,
você tira do que é ali o seu comportamento pulverizado, né? Que você fica
em todo lugar fazendo um monte de coisas e você começa a focar no que
importa para você.

E hoje a gente sabe que esse contexto de liberação de dopamina, ele


é dependente de você encontrar o seu suco, ele é dependente de você
encontrar o seu motivador principal.

E isso pode ser qualquer coisa, pode ser, ser um bom pai, pode ser ser uma
boa mãe, pode ser ser um bom filho, um bom amigo, um bom trabalhador,
ter saúde, ter dinheiro, ser um bom corredor. Enfim, você pode ter vários sucos
que geram motivação em você para buscar aquelas coisas.

[00:35:00] Outro ponto interessante nesse estudo aqui do Schultz e agora vai ser bem
didático assim para algumas coisas que a gente vê na sociedade hoje, é
que esse contexto aqui da linha preta onde a gente vê aqui no gráfico que
houve uma liberação de dopamina, aqui o macaquinho viu a luz, a dopamina
explodiu, ele trabalhou, recebeu a recompensa, perceba que quando ele
recebe a recompensa, tem um pequeno aumento dopaminérgico ali, né?

Tem um pequeno aumento dopaminérgico ali, isso daqui aconteceu num


contexto onde a recompensa era liberada 100% das vezes, prestem atenção
aqui, prestem atenção aqui, tá? Presta atenção aqui comigo.

Se você dá a recompensa para o animal 100% das vezes, foi esse disparo
dos neurônios dopaminérgicos que aconteceu no cérebro dele, então 100%
das vezes que acendia a luz, ele apertava o botão e vinha o suco.

Se você experimentalmente altera para 50% das vezes, então acende a luz
o macaquinho aperta o botão e talvez vem o suco, talvez vem o suco, o que
vocês acham que aconteceu com a dopamina do animal? Vocês acham
que ela reduziu? Vocês acham que ela manteve igual? Ou vocês acham que
ela aumentou?

Fiquem pensando mais ou menos em como acontece na sociedade, quando


você experimentalmente cria um contexto onde em 50% das vezes vem a
recompensa, eles viram isso aqui, olha, vou desenhar bem devagarinho para
aumentar a dopamina de vocês, tá? Bem devagarinho, olha.

Aconteceu isso aqui, olha, a dopamina do animal explodiu em níveis nunca


antes vistos, por que, pessoal? Porque dopamina tem a ver com motivação
para buscar uma possível recompensa, sabe aquele friozinho na barriga que
diz assim:

“Eu vou mandar mensagem para aquela menina e talvez role alguma coisa.”.

Sabe aquele tipo assim: “Eu vou girar essa roleta do cassino e talvez eu fique
rico.”.

Sabe? Essa busca por novidade, por coisas novas, em adolescentes,


em adolescentes, não sei qual que é a proporção de adolescente, em
adolescentes isso daqui é muito mais comum do que em adultos. Adultos,
eles têm um processo de ficar de serem pessoas mais chatas mesmo, adulto
é um pouco mais chato.

Em adolescentes o sistema da dopaminérgico do adolescente, ele funciona


assim meio que natural, tá? O adolescente, ele tem o córtex pré-frontal que
é uma região do cérebro envolvida por racionalidade que fica aqui atrás
da testa, ele termina de amadurecer por volta dos 23, 25 anos, aí vocês
podem prestar atenção na vida de vocês que até os 20, 23, 25 anos o cara é
meio porra louca mesmo, depois o cara começar a dar uma sentada assim,
pensar mais, medir as consequências das coisas, se preocupar um pouco,
ficar um pouco mais ok, se preocupar menos com a opinião dos outros, né?
Não é que não se preocupa, mas se preocupa menos.

O adolescente como ele não tem essa região bem desenvolvida que é o
córtex pré-frontal, o sistema de recompensa, o núcleo acumbente lá que
você vai botar o nome do seu cachorro de acumbente, o núcleo acumbente,
ele toma emprestado a função do córtex pré-frontal e tenta gerenciar o
comportamento do adolêscente.

Eu falo isso, sabe? Falei isso num podcast já e quase fui cancelado pelos
adolescentes, eu falei que o adolescente é uma limitação neurológica,
adolescente é uma limitação neurológica, falta um pedaço do seu cérebro
funcionando direito, tanto é que se você for ver na vida de uma pessoa, na
adolescência é o período que mais existe suicídio, adolescente se suicida
demais. É o período que você tem maior chance de tirar a sua vida e a maior
chance de tirar a vida de outra pessoa.

O adolescente é uma Ferrari com um tijolo apertado no acelerador, se você


coloca essa Ferrari direcionada a um lado produtivo, ele cria o Facebook, ele
cria o Meta, ele cria uma Startup unicórnio, ele muda de cidade para estudar,
ambiente novo, sai quer estudar coisas novas, aprende novas músicas, raspa
o cabelo e pinta de vermelho, adolescente, ele tem essa parada.

Agora se você Mira essa Ferrari para destruição, ela vai que é um foguete
assim, droga, enfim...

O cérebro do adolescente, ele já é meio assim, tá? Depois com a maturidade


do pré-frontal, o pré-frontal meio que começa a inibir o sistema de
recompensa, falar: “Calma, segura, talvez não seja interessante você sair
para uma festa na terça à noite, se você tem trabalho amanhã de manhã
para fazer.”.

Você começa a dar uma racionalizado na sua vida, existe um processo de


chateação dos adultos, ele começa a ficar um pouco mais chato mesmo,
por isso os adolescente olha e fala: “Nossa, como você é chato, cara.”.
É mesmo, adultos que são chamados de chatos pelos adolescentes, entenda
isso como um elogio, significa que você tem maturidade minimamente.

[00:40:00] Bom, no experimento do Schultz, o animalzinho que teve 50% das vezes a
recompensa chegando para ele, teve uma explosão dopaminérgica, por quê?

Porque o nosso cérebro adora um talvez, talvez vai conseguir uma


recompensa, talvez eu consiga...

Novidade é combustível motivacional, é por isso que muitos casamentos


que são monótonos, terminam, acaba a novidade, qual que é o processo
fundamental de uma traição?

A busca por algo novo, por uma experiência nova, se a relação ali, o
relacionamento não tem abertura para conversas, né? Para, sei lá, mudar
as coisas, enfim, eu não vou falar disso que não é o tema da aula, fica
monótono, fica desmotivante, neuroquimicamente desmotivante, tá?

E por isso que no início é um fogo, né? Você quer ver toda hora, porque
tudo é muita novidade, inclusive início de relacionamento é quase um vício
muitas vezes, você não consegue trabalhar, pensando na pessoa. Isso é
característica de um vício, tá? Pessoa que usa droga, usa álcool etc., não
consegue trabalhar porque pensa no álcool e na droga, quando você está
se relacionando com alguém no início, pode ser que isso aconteça também.

Por isso aqui, você tem muita motivação, muita motivação, por isso eu falei
no início da aula, motivação aqui que a gente está falando não é como no
senso comum, ter vontade, motivação é estar alegre. Não, motivação é ter um
motivo para ter aquilo, querer aquilo demais, neurobiologicamente falando.

“Ah, Eslen, o que eu faço com isso daí, cara? 50% das recompensas aumenta
a probabilidade de ter dopamina? Como é que eu uso isso ao meu favor?”.

Cara, não sei, isso é um problema teu, né?

Eu estou aqui só para dar algumas dicas e aí você pega o que eu ensinei
aqui e você se vira aí na sua vida, mas dentro da lógica do que a gente
vê em muitas empresas, a forma com que são planejados programas
de bonificação etc., a gente percebe que existe isso, né? Você tem ali
dependendo do desfecho, você pode ganhar um bônus x, ou um bônus y,
então aquele “Não sei, não sei, não sei.” pode ser algo a ser trabalhado e na
sua vida também de alguma forma.
E isso aqui acontece em micros-fenômenos, tá? Por exemplo, você começou
a fazer exercício físico e aí você vai para um treino, um dia que vai ser um
treino diferente, só de você não saber o que vai acontecer no treino, porque
as pessoas acham assim: musculação é chato, corrida é muito chato,
natação é chato, sempre a mesma coisa.

Não é ser sempre a mesma coisa, cada treino é um treino diferente, porque
o seu estado de espírito vai estar diferente naquele dia do treino, a sua
glicose no sangue vai estar diferente, a sua insulina plasmática vai estar
diferente, seus lipídios vão estar diferente, a sua adenosina no cérebro vai
estar diferente, a sua dopamina vai estar diferente, você é uma pessoa nova
todos os dias.

E na medida em que você vive coisas todos os dias, mesmo as coisas sendo
iguais e você sendo uma pessoa nova, cada encontro pedindo licença e
escusas aqui quem estuda filosofia para fazer uma filosofada: cada encontro
com a vida é um novo encontro, mesmo sendo as mesmas situações, porque
você é uma pessoa diferente mudado pelo que foi o dia de ontem.

Você pergunta muitas vezes para um atleta: “Como você consegue fazer a
mesma coisa todo dia?”.

Mas não é a mesma coisa, é isso, se fosse a mesma coisa todo dia, a
dopamina iria estar naquele 100%.

Todo dia ele já sabe o que vai ser, então ele desmotiva com o tempo, agora
hoje eu vou lá dar um treino e talvez eu bata meu recorde pessoal, você já
jogou probabilidade em cima do negócio, então começa a entender a vida
dessa forma, porque às vezes pode isso pode ser um hack para você usar
o sistema dopaminérgico ao seu favor, comece a entender a vida como se
fosse de fato um talvez: “Talvez hoje eu bata meu recorde.”.

Aí você vai lá e não bateu, mas daí fica para amanhã e esse talvez, talvez,
é o que faz a máquina girar: “Talvez hoje eu estude melhor. Talvez hoje eu
aprendo alguma coisa nova. Talvez hoje eu fecho um cliente. Talvez hoje vai
ser um...”, não sei.

Esse “talvez” pode ser um combustível motivacional para você.

Vejam quantos insights legais a gente pode tirar de um pesquisador que


resolveu estudar o cérebro de macacos. E é legal quando você vai olhar isso
aqui em humanos, acontece a mesma coisa, tá? Esse talvez é o mecanismo
pelo qual as pessoas ficam 14 horas dentro de um cassino, esse talvez é
o mecanismo porque muitos videogames explodem os joguinhos, porque
talvez você vai abrir aquela porta ali, passar para a próxima fase e tem um
monstro lá dentro.

Ou talvez eu abra a porta desse armário aqui e vai ter uma cura, uma poção
de cura ali dentro isso. É um processo de gameficação da vida, entendeu
isso daí ou não?

Vocês podem pensar, né? “Tem um cara gritando aí na frente da câmera,


falando um monte de coisa de dopamina para mim.”.

Bom, particularmente esse raciocínio aqui para quem eu já ensinei,


ajudou bastante, se você não entendeu a lógica desse raciocínio por ser
eventualmente um tema novo na sua vida, peço que revisite essa aula outras
vezes, porque de fato cada vez que você assistir, provavelmente você vai
tirar a conclusões diferentes, principalmente se foi a primeira vez que você
assistiu, provavelmente você vai tirar conclusões diferentes, principalmente
se foi a primeira vez que você assistiu.

E espero que de alguma forma, eu sei que provavelmente mais para umas
pessoas e menos para outras pessoas, mas espero que de alguma forma
esse conteúdo da aula de hoje tenha auxiliado aí você, ou auxilie você em
algum momento na sua vida, porque uma coisa é certa: nosso cérebro,
nós temos cinco vias descritas que trabalham com esse neurotransmissor
chamado dopamina.

[00:45:00] O menor número de vias entre os neurotransmissores do cérebro, tem a


sitiocolina, noradrenalina, ocitocina e muitas outras.

A dopamina especificamente, ela é relativamente escassa no cérebro,


comparado aos outros neurotransmissores, mas é o neurotransmissor plano
de fundo para praticamente todos os transtornos mentais, o esquizofrênico
tem muita dopamina, por isso que ele alucina, o deprimido pode ter pouca.

E aqui no meio tem um degradê de diferentes tonalidades dopaminérgicas


do cérebro de diferentes condições psiquiátricas. O paciente com
parkinson que tem característico os tremores, ele tem morte de neurônios
dopaminérgicos numa via chamada nigroestriatal, não importa agora, que
é envolvida com movimento.
Então pensem, pessoal, a motivação, ela é gerada pela dopamina. E a
dopamina também gera um movimento para fazer o ato, o macaquinho, ele
tem motivação para apertar o botão e a dopamina também dá combustível
para fazer o movimento.

Então é um dos sistemas hoje mais importantes do nosso cérebro de longe e


é um sistema que se tiver desbalanceado pode gerar problemas no sentido
comportamental na sua vida.

Então assim, espero que essa aula de alguma forma tenha auxiliado você,
espero que essa aula de alguma forma ajude você e obviamente eu convido
você a assistir essa aula de novo, tá? Eu convido você a reassistir essa aula,
não assista só uma vez essa aula, porque a nossa atenção, ela é muito
seletiva e se você eventualmente perdeu algum ponto importante da aula,
reassistir ela no futuro vai ser fundamental para você reconectar os pontos e
criar novos insights e aumentar o seu repertório comportamental.

Você assistiu a aula hoje, esfria um pouco a cabeça com essas informações,
olha o que você anotou no papel, sei que foi muita informação nova,
dá 10 dias, 5, 10 dias e reassista essa aula de novo para que você tenha
possibilidade de absorver novos conhecimentos, ok? Beleza?

Então está ótimo, espero que vocês tenham bastante sucesso e fica aqui o
meu abraço a todos, sintam-se abraçados e muito obrigado pela atenção
de vocês. Obrigado.

OBRIGADO!

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