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Aula 332
Qual é o seu suco?
Aula 332
ESLEN DELANOGARE 15 de fevereiro de 2023
TRANSCRIÇO
Ã
Olá, pessoal, muito boa noite, eu me chamo Eslen Delanogare, para quem não
me conhece eu sou psicólogo, neurocientista, eu sou psicólogo de formação,
minha graduação, e eu fiz mestrado em neurociências e atualmente estou
no doutorado em neurociências na Universidade Federal de Santa Catarina.
Vim aqui hoje para falar para vocês sobre motivação e tentar ensinar para
vocês alguns raciocínios que possam ajudar vocês a entender um pouco
mais sobre esse assunto.
E hoje eu vou tentar usar o espaço que me deram aqui para ensinar vocês
tudo isso dentro de um recorte neurocientífico, tudo isso explicando para
vocês por uma ótica neurocientífica pautada em estudos, pautada em
dados, pautada em conhecimento que foi construído usando um processo
metodológico que é o que a gente entende dentro das ciências e no meu
caso das neurociências.
Então hoje nós vamos falar sobre motivação, hoje nós vamos entender o
que é motivação e hoje nós vamos entender como uma vez que você tem
conhecimento sobre esse assunto, automaticamente você pode ter mais
motivação. É um loop infinito, saber sobre motivação pode gerar mais
motivação em você e consequentemente vai te dar mais vontade de
entender sobre motivação e consequentemente vai te dar mais vontade de
saber e ter motivação.
Então eu vou tentar explicar para vocês dentro dessa aula como vocês
utilizarem um conhecimento neurocientífico muito específico, muito técnico,
descartando aquilo que não é aplicável na vida de vocês e utilizando aquilo
que é aplicável para que vocês tenham mais motivação, para que vocês
construam mais hábitos benéficos e consequentemente que a produtividade
de vocês e o bem-estar de vocês, ou a felicidade de vocês também aumente.
Perfeito?
Então assim, a aula de hoje, ela será construída nesse eixo central de
entender os processos motivacionais que acontecem no cérebro.
As pessoas muitas vezes falam: “Ah, você tem que estar mais motivado, você
tem que ter mais motivação.”, que você precisa se motivar mais.
Vou dar um exemplo para você, se você quer parar de fumar, você
provavelmente tem vontade de parar de fumar, né?
Então você tem vontade de parar de fumar, mas você não tem motivação
para parar de fumar.
Neurocientificamente falando, ela não é como as pessoas acham que é algo
simplesmente negociável, que você decide ter e você tem: “Agora eu vou ficar
motivado para treinar. Agora eu vou ficar motivado para desconstruir alguns
hábitos ruins. Agora eu vou ficar motivado para construir hábitos bons.”.
Isso seria o que a gente chama de força de vontade, motivação você precisa
construir um cenário ideal para que a motivação existe. Então de certa forma
ela é produto de uma construção que você faz dentro do seu ambiente,
dentro da sua rotina.
A gente vai entender tudo isso hoje, na aula, tá? Fiquem tranquilos.
A motivação que eu vou falar aqui, é você ter motivo para realizar alguma
ação e que o seu cérebro entenda esses motivos como algo suficiente para
você realizar esse comportamento. E isso é totalmente diferente de você ter
simplesmente vontade de fazer algo.
De novo, só ter vontade de fazer algo, muitas vezes não funciona, você
precisa do componente motivacional.
[00:05:00] Eu vou falar alguns nomes diferentes aqui para vocês, mas a gente vai
destrinchando conforme a aula for passando, tá? Talvez vocês já tenham
ouvido falar de alguns deles, mas vai ser importante vocês entenderem eles
aqui para vocês terem substrato para acompanhar a aula toda.
Essas sinapses, elas ocorrem por meio de uma conectividade feita por
neurotransmissores, tá?
A dopamina por muitos anos e muitos anos, ela foi confundida, as pessoas
achavam que a dopamina tinha a ver com prazer, as pessoas associavam e
talvez você até hoje entenda dopamina por essa lógica, talvez até hoje você
entenda dopamina como neurotransmissor envolvido com prazer, mas os
estudos científicos hoje, eles são bem claros mostrando que dopamina tem
a ver com motivação, dopamina não tem a ver com prazer, dopamina tem a
ver com motivação para buscar um um eventual prazer.
Se ele prefere uma comida mais gostosa, em vez da comida normal, isso
indica que ele tem prazer, se ele não tivesse prazer, ele ia comer qualquer
um, concorda?
Agora, se você afasta — e esses estudos são bem legais — se você afasta a
comida 10 cm do animal, 10 cm, a comida está aqui, o ratinho está aqui, você
bota comida aqui, o animal, ele não busca a comida. Ou seja, na ausência
desse neurotransmissor dopamina, o animal ele entra no estado de não ter
motivação para buscar uma recompensa, então muito tempo se associou
dopamina com recompensa, hoje a gente sabe que dopamina não tem a
ver com a recompensa propriamente dita, mas sim com a motivação para
buscar uma recompensa.
E vocês vão entender o porquê que a gente está falando tudo isso na aula
de hoje, tem um estudo que foi feito por um pesquisador e agora eu gostaria
que vocês prestassem a atenção aqui em mim, tá, pessoal?
Segundo ponto, depois que ele ensinou isso, ele abriu o cérebro do
macaquinho e colocou os eletrodos dentro do cérebro do macaquinho,
numa regiãozinha — eu vou falar alguns nomes estranhos aqui, você pode
eventualmente utilizar esses nomes para colocar no nome do seu cachorro,
no seu gato, se você quiser são nomes bem interessantes para o seu pet, é
esses nomes estranhos que eu vou falar agora, tá?
[00:10:00] Ele colocou uns eletrodos numa regiãozinha chamado estriado dorsal e
ele colocou eletrodos numa regiãozinha chamada área tegmental ventral,
vocês não precisam saber esses nomes aqui, mas é bom que vocês escutem
isso nessa aula, tá?
Uma vez que o macaquinho estava sentado ali, ele estava medindo o
sistema de recompensa, o sistema dopaminérgico do animal dentro de um
contexto experimental no laboratório.
O macaquinho estava sentado. E é bem difícil fazer esses estudos, até você
ensinar o macaco a ficar sentado é um trabalhão, mas eles fizeram isso.
Então o macaco sabia que tinha suco lá dentro, tinha sido mostrado
previamente para ele, o pesquisador pegou a mamadeira e colocou o
macaquinho para provar o suco, perfeito?
Então agora o macaco sabe, aquela mamadeira lá que tem aquele líquido
daquela cor tem suco, é o alvo dele, ele descobriu o alvo dele e ele descobriu
que é bom.
Só que para conseguir o suco, ele precisava realizar um trabalho que era
apertar dez, vinte vezes um botão e ele só podia realizar esse trabalho, o
botão só era liberado para apertar quando uma luz acendia no teto. Dentro
desse contexto experimental, o estudo se estava medindo a atividade dos
neurônios dopaminérgicos do cérebro do macaquinho e ele queria saber
em qual momento do experimento a dopamina subiu, em qual momento do
experimento o animal teve mais liberação de dopamina.
Então esse experimento, pessoal, vou mostrar aqui, vou desenhar para vocês
uma coisa aqui, tá?
O que o Schultz achou foi esse gráfico aqui, pessoal, vamos imaginar esse
eixo aqui, esse eixo X, Y, tá? E o que o Schultz percebeu, foi algo mais ou
menos assim: nesse lado aqui a gente tem a dopamina sendo medida, tá?
Só que a conclusão parcial que você pode estar tirando disso aqui, você
deve estar pensando então que para eu estar motivado, eu preciso
automaticamente saber qual é a minha luz, porque se houve um aumento
de dopamina no momento que o animal viu a luz no teto, logo eu tenho que
saber qual é a minha luz. E não qual é o meu suco que é a aula de hoje,
essa é uma conclusão, se você está pensando num modo minimamente
racional, você pode ter chegado parcialmente a essa conclusão até, com
as informações que eu dei para você até agora, ok?
O que eu quero dizer com isso? Se você não tiver dentro do seu repertório
de comportamento dentro do que é a sua vida, o mínimo entendimento do
que você quer e qual é o seu suco, você não vai ter motivação para buscar
o seu suco, você não vai ter motivação para procurar o seu suco. Você não
vai ter motivação para querer buscar a sua recompensa, porque você nem
sabe qual é a recompensa.
A primeira conclusão que a gente pode tirar desse gráfico aqui, é o seguinte:
saiba qual é o seu suco.
Então é isso, se você quer pensar em trabalhar com tal coisa, experimente,
converse com pessoas que trabalham com aquilo, viva um dia com pessoas
que trabalham com aquilo, às vezes na sua construção perceptiva, num
determinado contexto, pode ser recompensador e satisfatório, mas quando
você experimenta aquele contexto, você fala: “Meu, isso daqui é muito ruim.”.
E às vezes o oposto acontece, você fala: “Meu aquilo ali não tem interesse
algum.”, aí você experimenta aquilo, sabe como é aquilo e você começa a
fazer com mais frequência.
As pessoas falam que dormir cedo não é para elas, que dormir direito não
é para elas até conseguir colocar na vida uma agenda de sono e sentir os
benefícios de um sono adequado.
Pessoal que tem empresa aí, é uma dica que eu dou para vocês, que
eventualmente trabalham, que vocês têm alguns colaboradores, ou tem
contratos etc. na empresa de vocês.
Macaquinho viu a luz, explodiu a dopamina dele, como a gente vê aqui, ele
trabalhou, apertou o botão, você vê que depois que ele trabalha e sabe que
a recompensa vai vir, a dopamina já desce, segue basal, só que aí em vez dos
pesquisadores, eles darem o suco para eles, o macaquinho, eles dão água.
Então ele trabalhou, trabalhou, o suco estava vindo em direção a ele, ele
estava com a expectativa de ser um suco, na hora que ele tomou, era água,
você pode pensar: “Bom, então significa que nessa hora aqui os neurônios
dele produtores de dopamina ficaram no basal.”.
Não, o que o pesquisador percebeu é que se o macaquinho trabalha para
buscar o suco que é a recompensa dele e não vem a recompensa, os
neurônios motivacionais dele não ficam no basal, ele não volta para o basal
onde estava, ele volta um pouquinho para baixo. Os neurônios são inibidos,
são desligados.
Então perceba que o gráfico, ele fica um delta entre o que é o basal e o que
é atividade dos neurônios produtores de dopamina.
[00:20:00] Então a expectativa era assim e aconteceu isso, esse delta aqui é uma
surpresa, tipo quando você acha dinheiro no bolso da calça, não estava
esperando aquilo ali, aconteceu.
Ou quando alguém no trabalho te recompensa por uma coisa que você não
estava esperando.
Então o que isso nos indica?
Você precisa ter sempre para evitar o que a gente chama de “crash
dopaminérgico”, você teria que ser sempre ajustado, as suas expectativas,
elas precisam ser ajustadas com a realidade.
Porque se você vive num contexto onde as suas expectativas, elas são
sempre quebradas num sentido ruim, então você espera isso, você espera isso
e sempre vem isso, a existência desse delta atribuindo um fator tempo nele...
A existência desse delta entre o que é o que você espera e o que a sociedade
te dá, ou que o seu resultado te dá, parece que a sociedade eu estou botando
a culpa, que o seu resultado também te dá, né? Atribuindo fator tempo,
sustentando esse delta, muito provavelmente vai colocar você no que a gente
chama de zona alostática fisiológica — olha aí que outro nome bonito para
você botar no seu gato, o Alostático, bom nome pra gato, hein, o Alostático,
nome forte.
Então na zona alostática fisiológica, o seu cérebro, ele começa a viver num
ambiente químico, pensa que o seu cérebro ele está banhado agora por uma
enxurrada de substâncias, o seu cérebro, ele começa a viver num ambiente
químico que para ele é disfuncional. E o que que tende a começar a acontecer?
Tem dia que você acorda: “Agora eu vou mostrar para todo mundo quem é
que manda.”. E quer fazer e conquistar o mundo, aí chega meio dia você fala:
“É, realmente eu não consigo.”.
Primeiro, você precisa saber qual é o seu suco, qual é o seu suco?
Eu vou dar um exemplo que é eu, tá, pessoal? Vou dar um exemplo aqui que
é o meu exemplo, tá?
Deve ser mais ou menos tipo quem acorda para jogar vídeo-game e tem um
tempo livre assim, é eu com o estudo.
“Hoje eu vou dar uma estudada aqui violenta.”.
Para quem não sabe, eu durmo às nove da noite. Eu sou muito estranho, tá?
Sou bem estranho.
Dormi, falei: “Bom, amanhã eu vou destroçar esses artigos científicos aqui, eu
vou pegar e vou arrebentar todos eles na paulada, eu vou aprender todos
esses artigos que eu selecionei aqui e eu não quero nem saber.”.
Então pensa, o meu suco era estudar aquilo ali, cara, queria estudar aquilo ali.
Eu falei: “Eu vou estudar isso aqui e eu não quero nem saber.”.
O telefone no silencioso, aviso para os meus sócio, para todo mundo: “Não
enche o meu saco, porque eu quero estudar, resolvam as coisas aí e me deixa
estudar.”.
Bom, comecei, né? Aqueci, tomei um café, liguei o ar, fiz todo o esquema.
Então assim, entenda qual é o seu suco, busque o que você gosta, busque o
que você quer, busque o que é a sua praia, busque o que é o seu movimento,
busque o que é a sua rotina, busque o que é o seu ideal.
Busque o que é essa a sua parada, cuide para que o seu suco não seja
confundido com dinheiro, tá?
No início pode ser dinheiro sim, para quem está começando agora o dinheiro
pode ser o seu suco, porque você tem que pagar uma coisa, você tem que
pagar sei lá o que, então pode ser sim.
O seu suco, ele é uma instituição fluida, né? Durante a vida ela vai mudando,
mas você tem que ter algo para você fazer, buscar, tá?
Ponto importante: o seu suco, ele é altamente influenciado pelo que a gente
chama na psicologia comportamental de comunidade verbal, o que é a
comunidade verbal?
Eu não sei se você percebe, mas você é muito modulado pela sua comunidade
verbal, digamos que se fosse possível aqueles macaquinhos conversarem e
falar: “Meu, o suco é muito ruim, aquele suco e não é legal.”.
“Não, cara, você é muito jovem, você tem que fazer festa, você tem que
farrear, tem que usar droga, curte a vida, esquece isso.”.
E você de fato, às vezes você era um cara que gostava de trabalhar, ali fazer
os seus corres, treinar, organizar a sua vida e você começa a se achar ruim,
uma pessoa ruim, porque a sua comunidade verbal está sacrificando aquilo
que era seu suco, jogaram água no... Como era a frase?
Jogaram água no... sei lá, leite? Não sei essas frases comuns aí que o
pessoal fala.
É a internet, você assiste vídeos de pessoas que você se inspira etc. Modula
o que é a sua motivação para determinadas coisas.
Então crie um contexto modulatório virtual que leve você para um lado
positivo, alimente esse suco, para você saber. De novo, se o macaquinho
não soubesse que tinha suco lá, ele não ia ter motivação em querer aquilo,
então você tem que saber qual é o seu suco, perfeito?
Segundo: cuide muito, tá? Para que a sua expectativa, não seja estrondosa,
porque aí você vai viver se frustrando, você vai viver se frustrando demais.
Se você ficar achando que sempre vai ser isso, sempre vai ser isso e é muito
alto do que possivelmente deve ser, você vai se frustrar, então alinhe a sua
expectativa com o que é realidade.
E uma das formas de você alinhar a sua expectativa com a sua realidade é
você ter critérios.
Você não vai começar a treinar agora e daqui há dois meses estar com o
shape de um Fulano X que você acompanha na internet que tem 35 anos
e treina desde os 20 e usa esteroides e anabolizante, esquece. Então se
aquele shape for teu suco, alinha a porcaria da tua expectativa, porque
senão tu vai treinar dois meses e a única coisa que tu vai ter conseguido é
dor, sentir dor nos músculos.
Joga a sua expectativa para um contexto real de modo que você não fique
se frustrando, se não é um tiro no seu próprio pé, ou o que comumente as
pessoas chamam de “autosabotagem”, o que é uma autossabotagem? Você
criou um objetivo impossível de ser alcançado.
É óbvio que você não vai conseguir botar o shape em dois meses, é óbvio
que você não vai conseguir começar a fazer dieta sexta, sábado e domingo,
tomou 18 long neck cada um dos dias, fumou duas carteiras de cigarro e
ficou maluco nos rolê e aí quer começar a comer salada com frango sem sal
na segunda-feira e quer seguir assim pelo ano inteiro.
[00:30:00] Entenda: hábitos e mudança de hábitos não são negociáveis desse jeito.
Lembra do início da aula? Não basta só a força de vontade, você tem que ter
um contexto modulatório que você veja as recompensas, estão conseguindo
acompanhar? Você tem que ter um contexto modulatório que você veja
as recompensas e o reforço daquilo e dar tempo para você chegar lá e ir
construindo isso, tá bom?
Então crie expectativas reais e dentro dessas expectativas que você criou,
tente recompensar o processo de execução, perfeito?
Terceiro: se você sentir que as suas expectativas estão alinhadas, que o
seu trabalho está ok e que a recompensa não está proporcional dentro do
possível, converse com as pessoas, fale com o seu chefe, fale com a sua
chefe, não sei. Sinalizar uma possível frustração é importante da sua vida,
no seu relacionamento, para o seu treinador, para o seu nutricionista, para
os seus pais, enfim.
Pensa assim: hoje a gente tem bons estudos mostrando que macacos...
Digamos que eu... E tem estudos que mostraram isso, tá? Digamos que eu
larguei os macaquinhos lá, eles estabeleceram a hierarquia deles e aí eu dei
a possibilidade desses animais usarem cocaína, você consegue fazer lá, você
faz alguns experimentos, você bota cocaína venosa no animal e ele pode
apertar um botãozinho para injetar a droga nele mesmo e dependendo
quanto mais ele apertar o botãozinho, mais high ele vai sentir, né? O barato
vai ser maior.
Quando você vai olhar os animais que estão na cadeia final do da zona
hierárquica, eles se auto-administram muita droga e quando você vai
olhar o cérebro desses animais, eles têm menos receptores dopaminérgicos
indicando que eles precisam de muita dopamina para ativar eles, por quê?
Meio que é o que resta para eles.
Presta atenção aqui, pessoal, comigo, tá? É meio que é o que resta para o
macaco, usar droga e isso pode ser feito até um paralelo com a sociedade, tá?
Isso pode ser feito até um paralelo com a sociedade, em média obviamente.
Então assim, quando você encontra uma parada que você gosta, você tem
menos razão para ter comportamentos disfuncionais, porque você já curte
o teu negócio, você já sabe qual é o seu suco.
É tipo eu, eu não quero ir no banco, cara, nem que seja um negócio do meu
apartamento. Outras vem falar: “Cara, vai lá.”.
É quase um vício mesmo assim, é tipo um vício, sabe? De você não atender
o telefone quando alguém está te ligando, tipo fingir que não está em casa
para poder ficar em casa, sabe? É eu, falei que eu sou estranho.
Então assim, na medida em que você encontra o seu suco, que você sabe
qual é a sua parada e essa parada é uma coisa minimamente funcional,
você tira do que é ali o seu comportamento pulverizado, né? Que você fica
em todo lugar fazendo um monte de coisas e você começa a focar no que
importa para você.
E isso pode ser qualquer coisa, pode ser, ser um bom pai, pode ser ser uma
boa mãe, pode ser ser um bom filho, um bom amigo, um bom trabalhador,
ter saúde, ter dinheiro, ser um bom corredor. Enfim, você pode ter vários sucos
que geram motivação em você para buscar aquelas coisas.
[00:35:00] Outro ponto interessante nesse estudo aqui do Schultz e agora vai ser bem
didático assim para algumas coisas que a gente vê na sociedade hoje, é
que esse contexto aqui da linha preta onde a gente vê aqui no gráfico que
houve uma liberação de dopamina, aqui o macaquinho viu a luz, a dopamina
explodiu, ele trabalhou, recebeu a recompensa, perceba que quando ele
recebe a recompensa, tem um pequeno aumento dopaminérgico ali, né?
Se você dá a recompensa para o animal 100% das vezes, foi esse disparo
dos neurônios dopaminérgicos que aconteceu no cérebro dele, então 100%
das vezes que acendia a luz, ele apertava o botão e vinha o suco.
Se você experimentalmente altera para 50% das vezes, então acende a luz
o macaquinho aperta o botão e talvez vem o suco, talvez vem o suco, o que
vocês acham que aconteceu com a dopamina do animal? Vocês acham
que ela reduziu? Vocês acham que ela manteve igual? Ou vocês acham que
ela aumentou?
“Eu vou mandar mensagem para aquela menina e talvez role alguma coisa.”.
Sabe aquele tipo assim: “Eu vou girar essa roleta do cassino e talvez eu fique
rico.”.
O adolescente como ele não tem essa região bem desenvolvida que é o
córtex pré-frontal, o sistema de recompensa, o núcleo acumbente lá que
você vai botar o nome do seu cachorro de acumbente, o núcleo acumbente,
ele toma emprestado a função do córtex pré-frontal e tenta gerenciar o
comportamento do adolêscente.
Eu falo isso, sabe? Falei isso num podcast já e quase fui cancelado pelos
adolescentes, eu falei que o adolescente é uma limitação neurológica,
adolescente é uma limitação neurológica, falta um pedaço do seu cérebro
funcionando direito, tanto é que se você for ver na vida de uma pessoa, na
adolescência é o período que mais existe suicídio, adolescente se suicida
demais. É o período que você tem maior chance de tirar a sua vida e a maior
chance de tirar a vida de outra pessoa.
Agora se você Mira essa Ferrari para destruição, ela vai que é um foguete
assim, droga, enfim...
[00:40:00] Bom, no experimento do Schultz, o animalzinho que teve 50% das vezes a
recompensa chegando para ele, teve uma explosão dopaminérgica, por quê?
A busca por algo novo, por uma experiência nova, se a relação ali, o
relacionamento não tem abertura para conversas, né? Para, sei lá, mudar
as coisas, enfim, eu não vou falar disso que não é o tema da aula, fica
monótono, fica desmotivante, neuroquimicamente desmotivante, tá?
E por isso que no início é um fogo, né? Você quer ver toda hora, porque
tudo é muita novidade, inclusive início de relacionamento é quase um vício
muitas vezes, você não consegue trabalhar, pensando na pessoa. Isso é
característica de um vício, tá? Pessoa que usa droga, usa álcool etc., não
consegue trabalhar porque pensa no álcool e na droga, quando você está
se relacionando com alguém no início, pode ser que isso aconteça também.
Por isso aqui, você tem muita motivação, muita motivação, por isso eu falei
no início da aula, motivação aqui que a gente está falando não é como no
senso comum, ter vontade, motivação é estar alegre. Não, motivação é ter um
motivo para ter aquilo, querer aquilo demais, neurobiologicamente falando.
“Ah, Eslen, o que eu faço com isso daí, cara? 50% das recompensas aumenta
a probabilidade de ter dopamina? Como é que eu uso isso ao meu favor?”.
Eu estou aqui só para dar algumas dicas e aí você pega o que eu ensinei
aqui e você se vira aí na sua vida, mas dentro da lógica do que a gente
vê em muitas empresas, a forma com que são planejados programas
de bonificação etc., a gente percebe que existe isso, né? Você tem ali
dependendo do desfecho, você pode ganhar um bônus x, ou um bônus y,
então aquele “Não sei, não sei, não sei.” pode ser algo a ser trabalhado e na
sua vida também de alguma forma.
E isso aqui acontece em micros-fenômenos, tá? Por exemplo, você começou
a fazer exercício físico e aí você vai para um treino, um dia que vai ser um
treino diferente, só de você não saber o que vai acontecer no treino, porque
as pessoas acham assim: musculação é chato, corrida é muito chato,
natação é chato, sempre a mesma coisa.
Não é ser sempre a mesma coisa, cada treino é um treino diferente, porque
o seu estado de espírito vai estar diferente naquele dia do treino, a sua
glicose no sangue vai estar diferente, a sua insulina plasmática vai estar
diferente, seus lipídios vão estar diferente, a sua adenosina no cérebro vai
estar diferente, a sua dopamina vai estar diferente, você é uma pessoa nova
todos os dias.
E na medida em que você vive coisas todos os dias, mesmo as coisas sendo
iguais e você sendo uma pessoa nova, cada encontro pedindo licença e
escusas aqui quem estuda filosofia para fazer uma filosofada: cada encontro
com a vida é um novo encontro, mesmo sendo as mesmas situações, porque
você é uma pessoa diferente mudado pelo que foi o dia de ontem.
Você pergunta muitas vezes para um atleta: “Como você consegue fazer a
mesma coisa todo dia?”.
Mas não é a mesma coisa, é isso, se fosse a mesma coisa todo dia, a
dopamina iria estar naquele 100%.
Todo dia ele já sabe o que vai ser, então ele desmotiva com o tempo, agora
hoje eu vou lá dar um treino e talvez eu bata meu recorde pessoal, você já
jogou probabilidade em cima do negócio, então começa a entender a vida
dessa forma, porque às vezes pode isso pode ser um hack para você usar
o sistema dopaminérgico ao seu favor, comece a entender a vida como se
fosse de fato um talvez: “Talvez hoje eu bata meu recorde.”.
Aí você vai lá e não bateu, mas daí fica para amanhã e esse talvez, talvez,
é o que faz a máquina girar: “Talvez hoje eu estude melhor. Talvez hoje eu
aprendo alguma coisa nova. Talvez hoje eu fecho um cliente. Talvez hoje vai
ser um...”, não sei.
Ou talvez eu abra a porta desse armário aqui e vai ter uma cura, uma poção
de cura ali dentro isso. É um processo de gameficação da vida, entendeu
isso daí ou não?
E espero que de alguma forma, eu sei que provavelmente mais para umas
pessoas e menos para outras pessoas, mas espero que de alguma forma
esse conteúdo da aula de hoje tenha auxiliado aí você, ou auxilie você em
algum momento na sua vida, porque uma coisa é certa: nosso cérebro,
nós temos cinco vias descritas que trabalham com esse neurotransmissor
chamado dopamina.
Então assim, espero que essa aula de alguma forma tenha auxiliado você,
espero que essa aula de alguma forma ajude você e obviamente eu convido
você a assistir essa aula de novo, tá? Eu convido você a reassistir essa aula,
não assista só uma vez essa aula, porque a nossa atenção, ela é muito
seletiva e se você eventualmente perdeu algum ponto importante da aula,
reassistir ela no futuro vai ser fundamental para você reconectar os pontos e
criar novos insights e aumentar o seu repertório comportamental.
Você assistiu a aula hoje, esfria um pouco a cabeça com essas informações,
olha o que você anotou no papel, sei que foi muita informação nova,
dá 10 dias, 5, 10 dias e reassista essa aula de novo para que você tenha
possibilidade de absorver novos conhecimentos, ok? Beleza?
Então está ótimo, espero que vocês tenham bastante sucesso e fica aqui o
meu abraço a todos, sintam-se abraçados e muito obrigado pela atenção
de vocês. Obrigado.
OBRIGADO!