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Delegacia de Polícia Civil

de Aragarças-GO

z
A Lei Maria da Penha
e os relacionamentos
abusivos
Delegado Fabio Marques
z
O que
z
é violência?

A violência é um fenômeno social,


complexo e multifatorial que afeta
pessoas, famílias e comunidades.

Para a OMS, a violência é um problema de


saúde pública.
Violência
z
contra a mulher:

É aquela que decorre das relações


desiguais entre mulheres e homens e da
subordinação do feminino pelo masculino. É
toda ação ou omissão baseada no gênero.
Quemz são os agressores?
No caso da violência praticada contra a
mulher, no âmbito doméstico e familiar, os
agressores são pessoas com as quais as
vítimas mantêm relacionamentos íntimos.

78% - Pesquisa Violência Doméstica e


Familiar contra a Mulher (2019), realizada
pelo Instituto de Pesquisa DataSenado, em
parceria com o Observatório da Mulher
contra Violência.
A Lei
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Maria da Penha surgiu como meio
para coibir e prevenir a violência doméstica
e familiar contra a mulher, dispondo sobre a
criação de Juizados de Violência Doméstica
e Familiar contra a Mulher, bem como
estabelecer medidas de proteção e
assistência às mulheres em situação de
violência doméstica e familiar (Art. 1º).

Lei 11.340/06 - Lei Maria da Penha


O isolamento
z
social causado pela Pandemia
agravou a situação: Problemas econômicos
causados pela redução da renda e o
aumento do consumo de álcool no período
de isolamento social estão entre possíveis
gatilhos para agressões.
Origem
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da violência: O desequilíbrio de
poder entre os valores femininos e
masculinos resultam em práticas de
violência.
Tiposz de violência

Física
Psicológica
Sexual
Moral
Patrimonial
Violência Física:
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Conduta que ofenda a integridade ou saúde corporal da


mulher.

Ex.: beliscões, tapas, socos, pontapés, mordidas, queimaduras,


agressões com arma branca ou de fogo; feminicídio.
Relatos
z de vítimas na DPC

“Não!! Ele nunca me espancou, apenas me


empurrou, puxou meu cabelo e me deu um
murro no ombro” (R.M.S., 29 anos).

“Ele só fica violento quando bebe. Mas é


muito carinhoso comigo” (F.V.S.D., 32 anos).
Violência
z
psicológica:

Qualquer conduta que lhe cause dano


emocional e diminuição da autoestima ou que lhe
prejudique e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise
degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças
e decisões, mediante ameaça, constrangimento, humilhação,
manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição
contumaz, insulto etc.
Na Violência
z
psicológica há a tentativa de negar o
outro, considerá-lo um objeto, submetê-lo, controlá-lo
em uma relação de poder;

O controle: horas, despesas, relações sociais, até


mesmo do pensamento.

O isolamento: progressivamente da família, amigos,


impedida de trabalhar, ter vida social / redes sociais.

O ciúme patológico: comportamento de suspeição


permanente
“Meu marido
z nunca foi violento... Acho que a
culpa é minha... Ele é muito Ciumento”
(B.D.C.B, 42 anos).

O assédio: vigiar a pessoa, segui-la pela


rua, assediá-la por telefone, esperá-la na
saída do trabalho, entre outros.

As ameaças: tirar as crianças, negar-se a


dar dinheiro, espancar, suicidar-se.
Violência
z sexual
Conduta que a constranja a presenciar, a manter
ou a participar da relação sexual não desejada,
mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da
força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de
qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça
de usar qualquer método contraceptivo ou que a
force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à
prostituição, mediante coação, chantagem,
suborno ou manipulação etc.
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Violência patrimonial

Entendida como qualquer conduta que


configure retenção, subtração, destruição
parcial ou total de seus objetos,
instrumentos de trabalho, documentos
pessoais, bens, valores e direitos ou
recursos econômicos, incluindo os
destinados a satisfazer suas necessidades;
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Violência moral

Entendida como qualquer conduta que


configure calúnia, difamação ou injúria.
Demonstra abertamente sua rejeição ou é
indiferente às demandas da parceira;
Difamar a companheira ou ex-companheira
no ambiente familiar ou social,
desqualificando-a; Divulgação de vídeos
íntimos (vingança virtual)
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ESCALADA DA VIOLÊNCIA

Geralmente inicia no namoro, com


ameaças, xingamentos, empurrões,
proibições.
Após o casamento intensifica: danos a
objetos, violências na presença da vítima,
tapa, soco, ponta pés, mordidas, ataque
sexual, etc.
Cicloz da violência
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Motivos
z para aceitar a violência

Ligação afetiva entre agressor e agredida;

Esperança que o companheiro mude;

Receio que o agressor seja prejudicado


socialmente;

Culpa por sentir-se responsável pela


violência;
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Dependência ou interdependência
econômica;

Medo que a violência se transforme em algo


maior;

Receio de prejudicar ainda mais os filhos;

Vergonha dos familiares e amigos;


Sinaisz de alertas

A pessoa cresceu em uma família violenta;

Tende a usar a violência para resolver seus


problemas;

Tem ciúmes de outras pessoas do rol de


amizades da companheira;
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Abusa do álcool e de outras drogas;

Ostenta o uso de instrumentos letais: armas


de fogo, faca, entre outros;
Comoz a Lei Maria da Penha pode ajudar?

Tipifica e define a violência doméstica e


familiar contra a mulher;

Estabelece que a violência contra a mulher


independe de orientação sexual;

Proíbe as penas pecuniárias;


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Proíbe que a própria mulher faça a entrega


da intimação ao agressor;

Prevê as medidas protetivas de urgência.

Afastamento do lar;
Distanciamento da vítima;
Pensão;
Acompanhamento psicossocial;
Suspensão posse / restrição porte.
Do Crime
z de Descumprimento de Medidas
Protetivas de Urgência

Art. 24-A. Descumprir decisão judicial que


defere medidas protetivas de urgência
previstas nesta Lei:

Pena – detenção, de 3 (três) meses a 2


(dois) anos.

Obs.: em caso APF, fiança apenas pelo juiz.


Retratação
z da vítima

No caso de crime de ação pública


incondicionada, como por exemplo a lesão
corporal (agressão física), mesmo que a
vítima não queira, o processo terá
prosseguimento.

A revogação da protetiva não obsta o


prosseguimento da ação.
As vezes
z a mulher não consegue sair do
ciclo da violência, revoga a medida protetiva,
mesmo tendo vários boletins de ocorrência e
processos, mas o agressor não é preso em
razão da falta de representação e ausência
da medida de proteção.

É necessário que a vítima comunique


imediatamente o descumprimento da
medida protetiva na Delegacia, no Ministério
Público ou na Defensoria Pública.
Comoz se obtém medida protetiva e por
quanto tempo ela vale?

A medida protetiva pode ser solicitada


através do registro de boletim de ocorrência
em qualquer Delegacia de Polícia,
especialmente na Delegacia Especializada
de Atendimento à Mulher. A medida também
pode ser solicitada através Defensoria
Pública, Advogado particular e Promotoria
de Justiça (Ministério Público).
Ao ser
z
realizada a ocorrência da violência,
a autoridade ouvirá a ofendida, colherá
depoimentos das testemunhas, ordenará a
identificação do agressor e encaminhará os
autos do inquérito policial ao Ministério
Público (Art. 12).

Recebido o pedido da ofendida, o juiz, no


prazo de 48 horas, determinará medidas
protetivas de urgência.
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A medida durará pelo prazo determinado na


decisão.

A vítima será avisada sobre esses prazos,


principalmente acerca de eventual prisão e
soltura do agressor.
Medidas
z de urgências determinadas pela Polícia

Art. 12-C. Verificada a existência de risco


atual ou iminente à vida ou à integridade
física ou psicológica da mulher em situação
de violência doméstica e familiar, ou de seus
dependentes, o agressor será
imediatamente afastado do lar, domicílio ou
local de convivência com a ofendida:

Delegado e PM: comunicação em 24h juiz.


O agressor
z sempre vai preso? Por quanto
tempo ele fica preso?

A prisão nem sempre é imediata. A primeira


medida é geralmente aplicação de uma
protetiva para a vítima, como o afastamento
do lar e a proibição de aproximação e
contato. O agressor será preso caso seja
condenado a uma pena privativa de
liberdade ou descumpra a medida protetiva
fixada pelo Juízo (pena de até 2 anos).
Reformas
z no Código Penal

Art. 61 - São circunstâncias que sempre


agravam a pena, quando não constituem ou
qualificam o crime: [...]

f) com abuso de autoridade ou


prevalecendo-se de relações domésticas, de
coabitação ou de hospitalidade, ou com
violência contra a mulher na forma da lei
específica;
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Feminicídio

VI - contra a mulher por razões da condição


de sexo feminino;

Pena - reclusão, de doze a trinta anos.


§ 2o-Az Considera-se que há razões de
condição de sexo feminino quando o crime
envolve

I - violência doméstica e familiar;

II - menosprezo ou discriminação à condição


de mulher.
Lesãoz Corporal

Art. 129 [...]

§ 13. Se a lesão for praticada contra a


mulher, por razões da condição do sexo
feminino...

Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro anos).


Perseguição
z (depende representação)

Art. 147-A. Perseguir alguém,


reiteradamente e por qualquer meio,
ameaçando-lhe a integridade física ou
psicológica, restringindo-lhe a capacidade de
locomoção ou, de qualquer forma, invadindo
ou perturbando sua esfera de liberdade ou
privacidade.

Pena: de 1 a 3 anos, vítima mulher


Art. 147-B.
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Causar dano emocional à
mulher que a prejudique e perturbe seu
pleno desenvolvimento ou que vise a
degradar ou a controlar suas ações,
comportamentos, crenças e decisões,
mediante ameaça, constrangimento,
humilhação, manipulação, isolamento,
chantagem, ridicularização, limitação do
direito de ir e vir ou qualquer outro meio que
cause prejuízo à sua saúde psicológica e
autodeterminação: (pena 2 anos)
JURISPRUDÊNCIA
z

ADC 19 - Os dispositivos da Lei Maria da


Penha são constitucionais.

Lei Maria da Penha é aplicável às mulheres


trans (STJ, REsp 1977124, j. em
05/04/2022).

Vias de Fato em sede de Maria da Penha –


STJ, HC 196.253 – ação pública incondic.
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TJDFT – Feminicídio: o crime foi motivado
“por ódio à condição de transexual” da
vítima, o que caracteriza menosprezo e
discriminação ao gênero feminino adotado
por ela, inclusive com alteração do registro
civil (RSE 2018 07 1 001953-0)

STJ (HC 541.237): Qualificação de


feminicídio em crime contra mulher
transexual é decisão do júri.
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Denuncie: Ligue 180 ou procure à Polícia.

Obrigado!

@policiacivilaragarcas
Referências:
z
AUAD, Daniela, Feminismo; Que História ´Essa? Rio de Janeiro,
Editora D&A, 2003
Lei n. 11.340. (2006). Lei Maria da Penha. Brasília, DF: Presidência
da República.
CECIP; Quebrando Silêncios e Lendas: Uma abordagem para
policiais; São Paulo, 1999Fundação Perseu Abramo. (2001). Pesquisas
de opinião: a mulher brasileira nos espaços público e privado.
HIRIGOYEN, M. A Violência no casal: da coação psicológica à
agressão física. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.
MAPA DA VIOLÊNCIA 2015 – Atualização: Homicídios de Mulheres
no Brasil – CEBELA , 2012
PRÓSPERO, Neuza Ramos – Violência Doméstica Contra Mulher –
Caminhos e Descaminhos Histórias Vividas,Histórias Contadas.
UCDB, Campo Grande, 2007.
IV Relatório Nacional Brasileiro CEDAW – Secretaria Especial de
Políticas para as Mulheres, 2008
SAFFIOTI, Heleieth I.B. Gênero, Patriarcado, Violência. São Paulo:
Editora da Fundação Perseu Abramo, 2004;

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