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ONG Círculo de São Francisco

Instituto de Animagogia

Educação, Saúde e Espiritualidade:


Introdução à Animagogia

Adilson Marques - Doutor em Educação/USP

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Apresentação
Este pequeno texto foi escrito entre os anos de 2002 e 2003 e
serviu de base para a criação da ONG Círculo de São Francisco
(ONGCSF), em março de 2003, herdeira do antigo Centro de Estudos e
Vivências Cooperativas e para a Paz ENCANTOS DA LUA, e servindo
de inspiração para a construção coletiva e prática da ação educativa por
nós chamada de Animagogia, que teve na ONGCSF o seu palco de
pesquisa-ação no âmbito da Educação Popular em Saúde, enfatizando,
sobretudo, a dimensão da Espiritualidade de uma forma transreligiosa e
universalista.

Em março de 2018, a ONG Círculo de São Francisco completará


15 anos de existência e a publicação desse texto, juntamente com um
resumo do que a ONG realizou nesse período, é uma forma de
homenagear a todos que de alguma forma dedicaram um pouco de seu
tempo nas diferentes atividades, programas e projetos até o momento
realizados. Foram muitas as pessoas, algumas centenas, todas
voluntárias, oriundas de diferentes cidades e estados brasileiros, que
ajudaram a construir uma modesta história, mas repleta de amor e
sensibilidade.

Em seus quinze anos de vida, a ONGCSF foi o centro de difusão


da Animagogia, uma proposta de educação espiritualista voltada para a
valorização da cultura de paz e para o desabrochar do Homo spiritualis,
o ser humanizado do terceiro milênio, mais preparado para se
(re)envolver e tratar com mais carinho e respeito o seu corpo físico, a sua
comunidade, o meio ambiente e, sobretudo, a sua alma.

Na primeira parte deste livreto apresentamos o texto, que foi de


alguma maneira o manifesto elaborado para a criação da ONGCSF. O
texto foi revisado em janeiro de 2018, melhorando sua linguagem, mas
sem alterar o conteúdo. Por sua vez, na segunda, apresentamos um
pequeno resumo dos diferentes projetos e atividades realizados nestes
quinze anos de existência que se completam em março de 2018.

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Educação, Saúde e Espiritualidade:
introdução à Animagogia

Introdução
A chamada Psicologia Transpessoal é considerada a “quarta
força” no meio psicológico, ao lado da abordagem comportamentalista,
da psicanálise e da humanista (da qual deriva). As investigações sobre o
inconsciente, o imaginário e a espiritualidade são as que mais podem se
beneficiar com a Psicologia Transpessoal, que possibilita ao cenário
acadêmico abarcar fenômenos desvalorizados pelas correntes
tradicionais.

Nos EUA, desde a década de 1960, a Psicologia Transpessoal


vêm se debruçando sobre as filosofias orientais e suas práticas
meditativas para compreender fenômenos pouco estudados pela ciência
ocidental: a reencarnação, a vida após a morte e os estados ampliados de
consciência.

No Brasil, até o momento, a rica literatura mediúnica e a


fenomenologia espiritista e umbandística, por exemplo, ainda não foram
consideradas como fontes de pesquisa para quem deseja compreender o
homem e a mulher holísticos a partir do referencial da Psicologia
Transpessoal. Porém, assim como as Terapias orientais (Tai Chi,
Meditação - budista, veda, zen etc. -, Yoga, Reiki, entre outras práticas
estudadas ou praticadas por psicólogos transpessoais), as práticas
medianímicas podem enriquecer este campo da pesquisa, ajudando a
compreender a dimensão espiritual humana, liberta de proselitismo e
religiosidade.

A Psicologia Transpessoal contribui para a desconstrução das


teorias materialistas da predominância genética na condição das doenças
e enfermidades mentais e outros fenômenos psíquicos. Ajuda a revelar a
existência do self (alma), do corpo bioplásmico (o corpo astral dos
esotéricos ou perispírito dos espiritistas e umbandistas) em interação
com o corpo físico, possibilitando estabelecer um outro olhar ou
paradigma capaz de compreender os fenômenos que as escolas

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psicológicas tradicionais não conseguem explicar, como são, ainda hoje,
os fenômenos mediúnicos como a clarividência, as ectoplasmias, a
psicografia, entre outros, e que são tratados, quase sempre, como
regressões mentais, patologias ou charlatanismo.

A construção de um novo paradigma que possibilite abarcar o


ser humano em sua estrutura física, psíquica e transcendental é necessária
para que se possa obter respostas convincentes para estes fenômenos
humanos, conhecidos e vividos desde a pré-história, e que necessita de
um enfoque "pós-moderno" para ser estudado sem pré-conceitos.

A questão paradigmática
Para Jean-François LYOTARD, estaríamos vivendo sobre a
égide da "pós-modernidade", um período que se caracterizaria pela crise
dos "relatos", ou seja, pela transformação do pensamento do homem em
relação à existência de uma Verdade, caracterizada por um tipo
específico de linguagem. Sua obra transcende os domínios da filosofia e
refletem, por exemplo, na do sociólogo português Boaventura de Souza
SANTOS. Sua contribuição também pode ser pensada tendo em vista a
constituição de uma ciência com consciência (MORIN, 1990). O
conceito de pós-modernidade nos possibilita elucidativas reflexões no
âmbito sócio-educacional e acadêmico.

De forma resumida, a partir de seu famoso texto O pós moderno,


LYOTARD compreende que a Modernidade se caracterizou pela
pretensão de instituir o conhecimento científico como o único saber
capaz de orientar o homem em todos os domínios da vida social. Nela
estariam contextualizados os metadiscursos de “pretensões atemporais e
universalizantes”. Podemos relacionar tal pretensão da Modernidade
como um dos frutos das imagens que Gilbert DURAND (1997) chamou
de diairéticas e que são típicas das “estruturas heróicas do imaginário”,
e que estimulam em muitos especialistas uma mentalidade e um
comportamento egocêntrico, esquizomórfico e “monárquico”, uma vez
que estes devem apresentar uma postura diferente – e superior – em
relação à maioria das pessoas que compreendem o mundo através de
“pré-conceitos” teológicos ou do senso comum.

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Dentro dessa perspectiva, temas como Espiritualidade sempre
ficaram em segundo plano quando não foram completamente rechaçados
do meio acadêmico. A superação do senso comum eliminaria para
sempre o "irracionalismo" popular e religioso. Como exemplo, temos as
pesquisas antropológicas do início do século XX, no Brasil, que
afirmavam que a Umbanda era fruto do subdesenvolvimento do país e
que iria desaparecer com os avanços científicos e tecnológicos. Porém,
hoje, até os pretos-velhos se servem da internet para fazer suas palestras
públicas, como é o caso de Pai Joaquim de Aruanda, através do médium
Firmino José Leite, residente no interior do estado de São Paulo.

Na modernidade, o conhecimento (ou o saber científico), ao ser


construído, deveria adquirir uma materialidade própria e o cientista, por
sua vez, passaria a ser “objetivado”, ou seja, tornar-se-ia anônimo,
tornando o produto do saber científico socialmente compartilhado, por
exemplo, através da didática ou dos manuais de divulgação científica,
separado e alienado de seu próprio criador. Essa proposta arduamente
defendida por PIAGET pode ser verificada ainda hoje nos manuais e
livros didáticos do ensino fundamental ou médio.

Por sua vez, o termo pós-moderno originou-se nos anos de 1960


na arquitetura. Alguns de seus profissionais, propondo uma arquitetura
mais leve que enfatizasse os aspectos decorativos e integrasse as formas
passadas, se autodenominaram pós-modernos. Em 1978, Charles
JENCKS, crítico da arquitetura, publicou o livro L'architecture
postmoderne e, no ano seguinte, Jean-François LYOTARD publicou seu
livro mais famoso, O pós-moderno, que alcançou uma repercussão
considerável no meio acadêmico, gerando polêmicas calorosas.

LYOTARD procurou compreender como as grandes teorias


científicas, morais, ideológicas e artísticas do período moderno entraram
em crise de legitimidade. A abordagem científica proposta por
GALILEU, NEWTON e outros arautos da Modernidade, transformou-se
em “paradigma” e, como apontou LYOTARD, criou nos cientistas a
obsessão pela medição e a eliminação de tudo o que não poderia ser
quantificado como algo não científico. Mas, curiosamente, foi no seio da
Modernidade que surgiu o seu próprio algoz: as descobertas no âmbito
da Termodinâmica que trouxeram novas questões, impossíveis de serem

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resolvidas sem abandonar a ideia motriz da modernidade, ou seja, a
suposta descrição objetiva da natureza, baseada na física newtoniana.

Em outras palavras, com a segunda lei da termodinâmica (da


dissipação da energia), o quadro determinístico (causa e efeito) da Física
newtoniana passou a ser questionado. A solução para esse conflito só foi
possível com o surgimento da chamada Teoria das Probabilidades e, com
as teorias da Física Quântica, nas três primeiras décadas do século XX,
os conceitos clássicos da Física, como Tempo e Espaço, deixaram de ser
considerados certos e imutáveis. Um exemplo emblemático encontra-se
em BACHELARD elogiando o procedimento pedagógico que
HEISENBERG utilizou na obra Princípios físicos da teoria dos quanta,
quando elaborou dois capítulos antagônicos. O primeiro criticando as
noções físicas da teoria corpuscular à luz da teoria ondulatória e, o
segundo, estabelecendo o procedimento contrário, ou seja, criticando as
noções físicas da teoria ondulatória à luz da teoria corpuscular.

Este procedimento didático (conhecido como “o princípio da


incerteza de HEISENBERG”) foi fundamental para demonstrar a
importância da subjetividade e de outros elementos “não científicos”
para a Ciência de uma forma geral. Em suma, colocou-se em discussão,
novamente, o paradoxo (ou seja, o oxímoron dos pré-socráticos) e, por
conseguinte, a relatividade também do conhecimento científico.

A "ciência Pós-moderna", na linha sugerida por LYOTARD e


seus desdobramentos em outras áreas, como na pedagogia, deveria
introduzir no saber científico, o chamado pensamento “dilemático" ou
“anfibólico”, ou seja, a ambiguidade que compartilha com o seu oposto
uma qualidade comum. Em outras palavras, a epistemologia proposta por
LYOTARD não representa uma condenação das teses da Ciência
Moderna, mas a relativização das doutrinas absolutas (metanarrativas),
como foram as de MARX, FREUD, entre outras. A "ciência Pós-
moderna" deveria assumir um papel mais modesto e menos pretensioso,
relativizando o saber científico e abrindo-se para outras formas de
aquisição de conhecimento (arte, religião, senso comum etc.).

Esta proposta, de certa forma, encontra-se na prática da


Psicologia Transpessoal. Esta mudança, se de fato vier a acontecer,
poderá, sem dúvida, refletir-se também nas práticas didáticas, com o

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fortalecimento da interdisciplinaridade na escola e a consequente
contextualização do meio sociocultural em que ela está inserida,
aceitando, inclusive, o tema Espiritualidade como sendo de vital
importância.

Vamos buscar compreender como se deu o surgimento e o


aperfeiçoamento da chamada Psicologia Transpessoal e expor nossas
contribuições, integrando, inclusive, a fenomenologia mediúnica em seu
escopo.f

O que é a Psicologia Transpessoal?


A década de 1960 foi importante para o aprofundamento dos
pressupostos básicos da chamada Psicologia Humanista. A discussão
sobre os limites e potencialidade da consciência humana ganhou
destaque com as obras, entre outros, de MASLOW, Carl ROGERS e
Stanislav GROF.

Muitos fenômenos mentais passaram a intrigar alguns


psicólogos e psiquiatras que questionavam a interpretação “heróica” da
Psicanálise e do Behaviorismo, ou seja, nos quais os estudos sobre a
personalidade possuíam como fundamento a consciência em estado
de vigília, considerada como a “consciência normal”. Em outras
palavras, tais escolas consideravam a “consciência normal” como o nível
saudável de percepção cognitiva e todos os desvios desse sintoma eram
classificados como psicopatológicos.

As pesquisas no âmbito da Psicologia Transpessoal


questionaram tais conclusões e abriram a possibilidade de estudos mais
avançados, indo além da história orgânico-biográfica de alguns
pacientes. Entre suas hipóteses mais criativas está a que concebe a
consciência humana como um espectro eletromagnético no qual cada
"frequência" passa a expressar um modo de percepção. Dessa forma, a
consciência não se resume a um conjunto de traços ou características
rigidamente definidas, mas é possível abranger elementos que não têm
nenhuma continuidade com a identidade egóica e que não derivam de
suas experiências no mundo fenomênico. A partir de um enfoque
holonômico, postula-se até que a consciência vibre em uma outra
dimensão, além da biológica.

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Essa proposta de GROF vem ao encontro dos estudos
psicografados por médiuns espíritas e umbandistas brasileiros. Por
exemplo, no livro A escrita mágica dos orixás, obra mediúnica
psicografada por Rubens SARACENI (2000), discute-se, entre outros
assuntos, como cada religião possui um magnetismo específico que se
irradia a partir dos espaços sagrados (igrejas, mesquitas, sinagogas,
centros espíritas etc.), ativado pelos respectivos sacerdotes e que apenas
os que receberam suas “pedras fundamentais” (iniciação naquela
religião) conseguem fazer com que suas consciências vibrem na mesma
frequência eletromagnética. Outro estudo esclarecedor sobre a
importância da mente na emanação fluídica ou eletromagnética é o
clássico estudo de André Luiz, psicografado por Chico Xavier: Os
mecanismos da mediunidade.

Essas interpretações que nos vêm por vias mediúnicas, além de


elucidar a dimensão hologramática da mente e da consciência, abre as
portas do ecumenismo e da tolerância, pois demonstra que não há uma
religião melhor que a outra, apenas vibrações numinosas diferentes, cada
uma com sua finalidade providencial. Esta é, por exemplo, as conclusões
do espírito Pai Joaquim de Aruanda, que entrevistamos entre 2005 e
2008, e cuja psicosofia pode ser acessada no livreto Umbanda:
manifestação cultural pós-moderna, publicada em 2008, ano do
centenário da Umbanda no Brasil.

Porém, voltando ao estudo da consciência, as teorias empiristas


e materialistas definem a consciência “normal” como sendo aquela no
qual o indivíduo se experimenta e se reconhece existindo dentro dos
limites de seu corpo físico e a sua percepção do meio ambiente é
restringida pela extensão de seus órgãos de percepção externa. A
consciência seria fruto da vida orgânica e se extingue com a morte física.

Essa concepção dominante “naturaliza” a ideia de que tanto a


percepção interna quanto a percepção do meio ambiente estão confinadas
dentro dos limites do espaço e do tempo, como bem definiu o paradigma
empírico-newtoniano. Porém, as experiências psicodélicas realizadas por
GROF, as experiências com alucinógenos realizadas pelo antropólogo
CASTANEDA ou mesmo os relatos místicos-esotéricos relacionados às
práticas orientais como a Meditação, Yoga, Reiki etc. vêm demonstrar
que os estados “alterados” de consciência não são, necessariamente,

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sintomas psicopatólógicos. Ao contrário, são manifestações que nos
permitem estudar e compreender a dimensão transpessoal da consciência
que, dentro de um novo paradigma, podemos dizer que se trata de estados
ampliados de consciência.

De forma esporádica e tímida, algumas abordagens empiristas


se referiram a esses fenômenos. FREUD, por exemplo, chamou de
"Experiências Oceânicas" os casos em que o
sujeito consegue afrouxar os limites do Ego, expandindo sua
consciência de forma capaz de
incluir e abranger outros indivíduos e elementos do mundo externo ou
quando consegue experienciar sua própria identidade em um tempo ou
espaço diferente.

É importante reconhecer que tais experiências, antes


negligenciadas ou tratadas como psicopatologias, tornaram-se o foco
central da Psicologia Transpessoal, movimento que reúne desde
psicólogos humanísticos até psiquiatras insatisfeitos com a abordagem
mecanicista e biomédica dos estudos behavioristas e psicanalíticos. É
importante reconhecer os esforços de Abraham MASLOW e Anthony
SUTICH na gestação dessa abordagem “pós-moderna”, buscando
integrar os trabalhos de C. G. JUNG, Carl ROGERS e outros que
desafiaram, de modo convincente, os pressupostos mecanicistas e
newtonianos, revelando a importância dos aspectos não racionais e não
lineares da psique, defendendo o inefável, o criativo e o espiritual como
meios válidos para se obter conhecimento.

JUNG, por exemplo, ao defender que o inconsciente não podia


mais ser pensado como um mero depósito psicobiológico de instintos
reprimidos, mas que deveria ser aceito como um princípio ativo
inteligente (em sua dimensão mais profunda, o Self ligaria o indivíduo à
humanidade, à natureza e ao cosmos), passou a aceitar a necessidade de
interação entre elementos conscientes e inconscientes ou a constante
troca de informação e fluidez entre ambos para que a individuação se
processasse, ou seja, o processo de maturação psíquica que transcende os
estreitos limites do ego e do inconsciente individual.

Outra questão importante que a obra de JUNG nos fornece é a


aceitação do irracional e do paradoxal como válidos em si mesmos. Ele

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também estava convicto da realidade da dimensão espiritual no esquema
universal das coisas. Sua suposição básica era que o elemento espiritual
é parte orgânica e integral da psique. Ele é a centelha divina que se
localiza no Self. Assim, a verdadeira espiritualidade, ou a sua busca, é
um aspecto pulsional do inconsciente coletivo, independente do
condicionamento da infância e da vida do indivíduo, do ponto de vista
cultural e educacional. Dessa forma, tanto a análise como o
autoconhecimento, quando alcançam suficiente profundidade, permitem
que os elementos espirituais se manifestem espontaneamente na
consciência. São as manifestações numinosas, como diria Kant.

Assim, entre as principais contribuições de JUNG para a


psicoterapia e, em breve, para a educação, é o reconhecimento das
dimensões espirituais da psique e a abertura para os campos transpessoais
da consciência, pois a hipótese da existência de uma centelha numinosa
no Self vem ao encontro das filosofias orientais e são corroboradas pela
literatura medianímica produzida no Brasil.

Acreditamos que esse paralelo entre as filosofias e práticas


orientais e as revelações por vias medianímicas comprovam as hipóteses
de JUNG que não aceitava a ideia de causalidade linear como o único
princípio motor na natureza. De sua mente transgressora surgiu o termo
sincronicidade, a palavra que encontrou para designar o princípio de
ligação entre eventos de forma não causal. Dessa forma, JUNG procurou
interpretar as coincidências significativas de eventos separados no tempo
e/ou no espaço.

É importante ressaltar que suas ideias passaram a interessar


vários físicos pós-modernos, entre eles EINSTEIN. Acredita-se que em
um encontro pessoal, EINSTEIN encorajou JUNG para dar
prosseguimento em suas pesquisas. Wolfgang PAULI, um dos pioneiros
da teoria quântica, também foi um cientista que compartilhou com
entusiasmo as ideias de JUNG sobre sincronicidade. Em linhas gerais,
podemos afirmar que para se estudar as experiências transpessoais e
encontrar formas seguras de utilizá-las na Educação, objetivo da ONG
Círculo de São Francisco, precisamos nos abrir para os estudos sobre a
gênese da consciência realizados por místicos e por físicos pós-
modernos, relativizando o conhecimento estável e aceito com quase
unanimidade pela Psicológica acadêmica.

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Hoje em dia, já são muitos os pesquisadores (MASLOW,
WEIL, GROF, WILBER, entre outros) que formularam consistentes
teorias sobre os “estados alterados de consciência”, afirmando que eles
não são apenas naturais, mas que são necessários para o bem-estar e para
a saúde do indivíduo que atingiu um certo grau de expansão cognitiva. É
claro que estes autores não defendem que tais estados sejam obtidos
através de drogas, uma vez que estas podem causar dependência química
e destruir nosso corpo físico, mas através das diferentes práticas
meditativas ou religiosas e também de atividades psico-corporais como
o T’ai Chi, o Yoga etc., possibilitando o “desentupimento” dos chakras
e, consequentemente, permitindo um reequilíbrio físico, mental,
emocional e espiritual.

Por exemplo, MASLOW, aos estudar pessoas que vivenciaram,


espontaneamente, experiências místicas de "pico", formulou a hipótese
de que muitos sintomas emocionais graves vividos no mundo
contemporâneo são frutos do não afloramento dos níveis transcendentes
da personalidade. Assim, da mesma forma que aceitamos que existe uma
pulsão para a experiência sexual, possivelmente há também uma pulsão
para a expansão da consciência para se atingir outros níveis de percepção.
Em seus estudos, a conclusão a que chega é que as pessoas que têm
experiências espontâneas de "pico" beneficiam-se delas, mostrando uma
clara motivação para a auto-realização, um dos objetivos da psicoterapia
humanística. Ao contrário de seus pares psicólogos, avaliou tais
experiências como “supernormais” ao invés de “subnormais”.

E é preciso não se esquecer da importante contribuição de Carl


ROGERS para o amadurecimento das abordagens transpessoais na
psicologia. Duramente criticado por valorizar as dimensões
transcendentes ou espirituais que emergiam no contexto terapêutico,
especialmente nas Terapias de Grupo, ROGERS parece não ter se
intimidado e deu prosseguimento ao seu transgressor e revolucionário
trabalho. Em suas últimas obras, a formulação de uma temática
transpessoal começou a se destacar após a observação de fenômenos que
demonstravam a existência de estados sutis de consciência e concluiu que
se tratava, de fato, de experiências transcendentais e espirituais. O
próprio ROGERS (1983:
62) afirmou que no passado não empregaria estas palavras
(transcendência e espiritualidade), “mas a estrema sabedoria do grupo,

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a presença de uma comunicação profunda quase telepática, a sensação
de que existe ‘algo mais’, parecem exigir tais termos”.

A partir do que acabamos de expor, vamos concluir que a


abordagem transpessoal possui uma base holonômica no qual o
organismo humano passa a ser pensado como um todo integrado que
envolve padrões físicos, mentais, sociais e espirituais. Ken WILBER
demonstrou que estes padrões definem diferentes espectros ou níveis de
consciência: o do ego, o do biossocial, o do existencial e o do
transpessoal.

No primeiro caso, a consciência está identificada com uma


representação mental do organismo ou do corpo físico. É o domínio da
auto-imagem construída ou egóica. Nesse nível, a pessoa se identifica
com o seu “eu” (diferente e independente de tudo e de todos) e
só cultiva relações interpessoais quando sente ou percebe que isso trará
vantagens específicas para o ego. Nesse nível de consciência,
praticamente não há preocupação com
aspectos ecológicos ou sociais.

O segundo nível, o biossocial, envolve uma outra frequência nos


padrões de consciência e a preocupação com a preservação ou construção
de um ambiente social aumenta. A pessoa começa a se sentir como parte
de seu meio ambiente social e natural, aumentando o seu grau de
responsabilidade pelo mesmo.

O terceiro nível, o existencial, engloba o organismo total. Nesse


estágio, a pessoa apresenta um senso de identidade corpo/mente auto-
organizador. É quando surgem os ideais humanistas e os pensamentos
mais complexos e elaborados, sobretudo em relação à Filosofia de Vida.
Nesse estágio, Emoção e Razão seguem juntas para que haja o
crescimento e expansão das potencialidades humanas, desde que haja
meios propícios para
que esse processo ocorra. O que não significa também que na ausência
desses meios a pessoa não irá se auto-realizar ou se solidarizar com seus
semelhantes. Normalmente, um
alto grau de envolvimento ético e moral está associado a este estágio.

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O último nível, o transpessoal, é o da expansão da consciência
para além das fronteiras do ego, correspondendo a um senso de
identidade muito mais amplo e envolvente. Esse nível costuma envolver
percepções do meio ambiente onde tudo está relacionado, mas não de
forma linear ou causal. É o nível que permite uma abertura segura ao
inconsciente coletivo e aos fenômenos que lhe estão associados, entre
eles, a telepatia, a precognição, os diferentes tipos de mediunidade e até
lembranças de vidas passadas.

Enfim, enquanto as abordagens empiristas e mecanicistas


consideram a consciência “normal” (ego) com base apenas nos
fenômenos típicos do estado de vigília. Ou seja, concentra-se na razão
instrumental para lidar com quase todas as situações da vida cotidiana.,
há evidências de outros conjuntos de dados ou de informações muito
mais rico e profundo e que não são obtidos ou recuperados pela vontade
consciente da pessoa. E são vários os conjuntos: os da vida presente da
pessoa, sobretudo, da infância (FREUD), da vida intra-uterina (Otto
RANK) e das experiências perinatais (GROF) e há também muitas
informações no inconsciente que são referentes à pessoa, porém,
anteriores à vida presente. Muitas das informações obtidas através das
Terapias de Vida Passada (TVP) ou outras técnicas dificilmente podem
ser relacionadas com a história biográfica do paciente (GROF, 1988).

A Terapia de Vida Passada, formulada por Morris


NETHERTON relaciona, além das teorias de JUNG, MASLOW e
ROGERS, os conhecimentos produzidos pela Neurofisiologia
contemporânea e as teorias holográficas de Karl PRIBAM e do físico
David BOHM. Do ponto de vista terapêutico, GROF demonstrou que o
fato de reviver tais memórias cármicas, de forma geral, possibilita ao
paciente sentir um “profundo alívio”, a
sensação de libertação dos opressivos "vínculos cármicos", além de
sentimentos de êxtase e
de realização.

Nesse sentido, podemos afirmar que os estudos sobre a


reencarnação se baseiam nos pressupostos de uma ciência pós-moderna,
ou seja, não empirista-newtoniana. Culturalmente, a crença na
reencarnação é algo típico das Civilizações Orientais. Tanto o Budismo
como o Hinduismo se fundamentam nessa crença. Porém, no Ocidente,

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essa concepção também está presente, sobretudo nos antigos cultos
órficos. Para SÓCRATES, PLATÃO e PITÁGORAS a reencarnação era
a condição necessária da existência humana.

No século XIX, o estudo da reencarnação voltou à tona com o


surgimento do Espiritismo, da Teosofia e de outras abordagens religiosas
ou filosóficas. Podemos notar que, a cada dia, se tornam mais evidentes
as semelhanças entre as doutrinas medianímicas (como o Espiritismo e a
Umbanda) e as doutrinas orientais. No começo do espiritismo dizia-se
que os chakras, por exemplo, não existiam, que seria uma ideia
“mística”. Com o aumento da literatura mediúnica e com espíritos
considerados “evoluídos” e de “confiança” como André Luiz escrevendo
sobre os “campos de força”, que curiosamente se assemelhavam aos
chakras das literaturas orientais, o tema passou a ser aceito com mais
naturalidade no meio espiritista.

E sobre a reencarnação, um tema polêmico, pesquisadores como


J. FADIMAN e R. FRAGER (1986) afirmam que há evidências factuais
não podem ser descartadas. E, no Brasil, temos as pesquisas de Hernani
Guimarães Andrade que reforçam a tese de que a reencarnação é um fato
natural. Poderíamos falar também do crescimento exponencial da
Transcomunicação Instrumental (contatos com espíritos através dos mais
modernos aparelhos de comunicação) para demonstrar que o contato com
os seres incorpóreos é uma realidade incontestável.

Em suma, da mesma forma que nos EUA os psicólogos


transpessoais se voltaram ao estudo das filosofias orientais e de suas
práticas meditativas, no Brasil não podemos menosprezar a abundante
literatura espiritista e umbandista em nossos estudos. A fenomenal obra
mediúnica de Chico Xavier é fonte inesgotável de estudos transpessoais.
Mas, como dissemos, a doutrina espírita deve ser objeto de estudo e fonte
de hipóteses de trabalho e não campo para "doutrinação" religiosa.

Para exemplificar, tomemos a polêmica questão da


espiritualidade indígena. Se para muitos adeptos da doutrina espírita, os
espíritos indígenas são “inferiores” ou os “bárbaros” que invadem o
mundo civilizado por meio da reencarnação (Richard SIMONETTI) ou
que devem ser “doutrinados” quando se manifestam em um trabalho
mediúnico (Divaldo FRANCO), tais afirmações devem ser apenas

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hipóteses de trabalho em um enfoque transpessoal. Além da perspectiva
espiritista temos de levar em consideração a visão umbandística e outras.
Para muitos umbandistas, uma entidade indígena ou caboclo pode ser
“evoluída” a tal ponto que não necessite mais encarnar sobre a Terra. Ele
pode utilizar a forma perispiritual de um índio por várias razões: manter
sua privacidade, pois pode ter sido uma figura de destaque no meio
sociocultural, em uma de suas encarnações passadas; para expressar
humildade diante das leis numinosas que regem o Universo etc.

No campo educativo, uma proposta que parte do referencial da


Psicologia Transpessoal, integrando-a ao complexo campo do
mediunismo é a Animagogia, assunto do próximo capítulo.

A Animagogia e os estados ampliados de consciência


Passaremos, agora, da Psicologia Transpessoal para o domínio
da Educação. Para tanto vamos cunhar o neologismo Animagogia para
se referir a ela. Trata-se de um enfoque educativo que reconhece,
necessariamente, as dimensões espirituais e o potencial para a
expansão da consciência humana. Assim, o educador transpessoal ou
animagogo pensa, propõe e realiza com seus alunos novos campos
experienciais a partir dos pressupostos da
Psicologia Transpessoal, visando promover e valorizar a dimensão
numinosa da vida humanizada. Seu objetivo é ajudar na consolidação do
Homo spiritualis, o ser humanizado
“pós-moderno” que já aceita com mais naturalidade questões como a
reencarnação, a vida após a morte e o contato com os seres incorpóreos.

Antes da abordagem transpessoal, as experiências místicas ou


os estados ampliados de consciência foram classificados, pelas escolas
tradicionais, como neurose, regressão a estágios intra-uterinos etc. A
Psicologia Transpessoal (re)descobriu o Ser espiritual e também que este
se aprimora ao longo de várias encarnações. Unindo a psicosofia do
Oriente e as modernas pesquisas do Ocidente manifestou a estrutura do
ser humano como Homo spiritualis.

Como já salientamos, no Brasil, a fenomenologia mediúnica


pode e deve contribuir para o avanço da Psicologia Transpessoal, desde
que não seja utilizada para legitimar opções religiosas. O importante é

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que a pessoa que experimenta estados ampliados de consciência ou
vivencia sua "emergência espiritual" através de contatos com seres
incorpóreos, acesso às vidas passadas ou através de outros fenômenos, e
que não encontra as melhores palavras para explicar o fato para aquele
que nunca viveu tais experiências, precisa de um processo educativo que
o ajude a absorver a nova informação.

A energia que contém tais experiências exige que toda a


personalidade se reestruture, superando velhos hábitos, velhos
paradigmas, bloqueios psicológicos e religiosos. Mas é importante
ressaltar também que, quase sempre, tais mudanças são acompanhas pela
necessidade de assumir novas responsabilidades diante da vida. E esse é
o cerne da Animagogia.

Passar por essa metanoia de forma segura e compreensiva,


possibilitando que a pessoa renove sua sensibilidade ou atitude diante do
mundo é um dos objetivos centrais da proposta educativa que estamos
chamando de Animagogia. Nesse sentido, no âmbito da saúde, o enfoque
deixa de ser a doença para se centrar no pensamento, nos sentimentos e
nas atitudes que estão por trás das enfermidades. Ao invés de curar os
doentes, o foco passa a ser a promoção da saúde.

E no âmbito educativo, o enfoque é o despertar espiritual através


de diferentes técnicas psicossociais, corporais e meditativas que ajudem
a desabrochar o Homo spiritualis adormecido no mundo técnico-
informacional contemporâneo. Em suma, possibilitar a vivência de uma
nova modalidade de ser no mundo, de mente universalista e livre de
amarras doutrinárias, apesar de sua abertura neg-entrópica para as
contribuições das psicosofias espiritista, budista, umbandista, hinduísta,
taoista, teosófica, católica etc.

A Animagogia, como uma educação da alma, pressupõe a


aceitação do fato de que somos seres autônomos e multidimensionais que
antecedem a criação do nosso veículo físico, necessário para a vida sobre
a Terra, e que retorna para casa ao fim de mais uma jornada sócio-cultural
e educativa., como o leitor pode aprofundar a reflexão com a leitura do
livreto Animagogia: educação espiritual para um mundo em
regeneração.

18
A Animagogia se processa através dos programas de
anima-ação cultural
O termo Anima-ação cultural foi cunhado em minha tese de
doutoramento, defendida em 2003, na FEUSP, e denominada:
“sociagogia do (re)envolvimento e anima-ação cultural”. Esse termo, ao
contrário do usual animação cultural, foi proposto para representar toda
e qualquer programação sociocultural e educativa que tenha como
objetivo o aprimoramento espiritual do ser humano, sem preocupação
doutrinária ou religiosa.

O que poderíamos indicar como característica central da Anima-


ação cultural é o seu “modo de pensar” residual, ou seja, “impuro”. Ela
se formula na trajeto entre o conhecimento produzido pela ciência
contemporânea e as psicosofias (sabedorias espirituais) das diferentes
religiões e filosofias reencarnacionistas. Porém, seu campo de ação não
é o religioso, mas o cultural. É nesse âmbito que sua função simbólica se
concretiza.

Nos itens anteriores foi possível apresentar, resumidamente, a


base teórica e epistemológica do que entendemos por Animagogia.
Passemos, agora, para a sua realização através da anima-ação cultural, o
caminho aqui proposto como contribuição para o processo de realização
do ser humanizado enquanto um ser “neótono neg-entrópico”, ou seja,
como um ser aberto para o mundo, lúdico-explorador, permanentemente
incompleto e inacabado. Em suma, o Homo spiritualis.

O prefixo anima - que na psicologia analítica de Jung tem uma


conotação peculiar, referindo-se ao princípio feminino no homem -
indicaria um programa de ação cultural ou uma inter(in)venção com
grupos específicos (crianças, idosos, etc.) em que a sensibilidade – ou a
anima – é o seu principal “catalisador”. É preciso salientar que estamos
compreendo o termo ação cultural no sentido proposto por TEIXEIRA
COELHO (1989:33):

... [a ação cultural] Tem sua fonte, seu campo e seus


instrumentos na produção simbólica de um grupo. E entre as
formas do imaginário que a constituem, as da arte – ao lado
de praticas culturais leigas, mítico-religiosas, etc. – são

19
privilegiadas, por mais que se diga o contrário. O trabalho
com uma modalidade artística em particular pode até não ser
do interesse de uma ação cultural específica. Mas, o que é
vital à ação cultural é a operação com os princípios da
prática em arte, fundados no pensamento divergente
(identificado por Gaston Bachelard como o ‘princípio do
diagrama poético’, que consiste em aproveitar,
para o processo, tudo o que interessar, venha de onde vier, na
hora em que for necessário, sem o recurso a justificativas
claras e precisas) e no pensamento organizado, e movido pela
possibilidade, pelo vir-a-ser. É esse tipo de pensamento e essa
modalidade de prática, em parte privilegiada também pela
ciência mais criativa, que permite o ‘movimento’ de mentes e
corpos tão privilegiado pela ação cultural. É esse na verdade
o tipo de pensamento que altera os estados, transforma o
estado em processo, questiona o que existe e o coloca em
movimento na direção do não conhecido. A proposta,
portanto, é usar o modo operativo da arte – livre, libertário,
questionador, que carrega em si o espírito da utopia – para
revitalizar laços comunitários corroídos e interiores
individuais dilacerados por um cotidiano fragmentante.

A inter(in)venção sócio-educativa promovida pelo animagogo


(o agente da Anima-ação cultural) poderá ser realizada com diferentes
grupos sociais, envolvendo crianças, adolescentes, adultos e idosos (e até
desencarnados, dependendo do caso). Não há dúvidas
que se trata de um tipo peculiar de educador. De certa forma sua ação
ocorre no tempo livre do grupo e não é o ambiente escolar o seu principal
locus de atuação. Se o seu trabalho não é pedagógico, no sentido estrito
da palavra, ou seja, de um ensino aprendizagem voltado para crianças,
ele é, sobretudo, animagógico, como apresentamos acima, ou seja, para
o despertar do Homo spiritualis.

Em relação às atividades que normalmente compõem um


programa de Anima-ação cultural encontraremos aquelas que
possibilitam uma ponte entre a luz e a sombra ou entre a vigília e o
repouso, por exemplo. Algumas atividades típicas de um programa de
anima-ação cultural são, entre outras, a Meditação, o Yoga e as Danças
Circulares. Meditar, por exemplo, não significa dormir, mas, em estado

20
de vigília, manter uma postura e formas de respiração que permitam a
pessoa entrar em contato com o seu mundo interior e com fenômenos
“transpessoais”. A expressão Yoga em sânscrito significa religar.

Podemos afirmar que a Anima-ação cultural, pelo menos do


ponto de vista aqui discutido, implica um problema religioso (religare),
mas não necessariamente doutrinário. A Anima-ação cultural se realiza,
normalmente, através de atividades de introversão ou de atividades que
apresentam forte homologia com a Alquimia ou que nos faz reconhecer
que é através de nós, mas não a partir de nós (ou seja, de dentro da
personalidade, mas não a partir do ego) que encontramos tudo o que
necessitamos, mas que, por não termos consciência desse fato,
procuramos, desesperadamente, do lado de fora.

As atividades que compõe um programa de Anima-ação cultural


têm como função fazer brilhar dentro de nós, ainda que tenuamente, a
vida e a luz do homem, porém, uma luz que não emana de nós (em outras
palavras, do ego), mas que, no entanto, está dentro de nós (Self).

Em suma, a Anima-ação cultural vem ao encontro da crítica


junguiana ao cristianismo oficial de sua época, pois acentua a ideia de
que todo ser humano abriga no mais fundo de sua psique (no Self) uma
centelha divina, uma parte da Divindade. Como disse FRANZ (1998:72),
seguindo as trilhas de JUNG: "admitamos ter a imagem de Deus como
uma entidade ativa, como uma essência, em nossa própria psique, então
não precisamos ficarcorrendo a esmo para procurá-la; nós a temos ali
mesmo".

21
Bibliografia básica

ANDRADE, Hernani Guimarães. Morte, Renascimento, Evolução. Ed.


Pensamento: São Paulo, 1987.__________________. Reencarnação no
Brasil. Editora O Clarim: Matão, 1990.
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filosofia da imagem. Rio de Janeiro: Difel, 1998.
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mágico-religioso. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
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22
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Paulo: Pensamento, 1998.
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1994.
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23
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após a morte. Rio de Janeiro: Nova Era, 1996.
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ROGERS, Carl R e outros. Em Busca de Vida: Da Terapia Centrada
no Cliente à Abordagem Centrada na Pessoa. Summus Editorial: São
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Hammed). Catanduva: Boa Nova, 1998.
SARACENI, Rubens. A escrita mágica dos Orixás (pelo espírito
MESTRE SEIMAN HAMISER YÊ). São Paulo: Editora Cristális,
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Summus Editorial: São Paulo, 1994.
WEIL, Pierre. Fronteiras da Evolução e da Morte. Ed. Vozes:
Petrópolis, 1979.
_______________. Fronteiras da regressão. Ed. Vozes: Petrópolis,
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Transpessoais em Psicologia. Editora Cultrix: São Paulo, 1991.
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Rio de Janeiro: FEB, 2002.
_____________. Ação e reação (pelo espírito André Luiz). Rio de
Janeiro: FEB, 1983.
_____________. Os mensageiros (pelo espírito André Luiz). Rio de
Janeiro: FEB, 2002.
_____________. A caminho da luz (pelo espírito Emmanuel). Rio de
Janeiro: FEB, 2002.

24
Um pouco do trabalho da ONG
Círculo de São Francisco realizado
entre março de 2003 e março de 2018

A ONG Círculo de São Francisco (ONGCSF) foi criada em


março de 2003 para colocar em prática diferentes programas de Anima-
ação cultural, dentro do enfoque animagógico proposto acima. A
ONGCSF foi criado para substituir o antigo Centro de Estudos e
Vivências Cooperativas e para a Paz, criado em setembro de 1999, para
difundir os valores da Cultura de Paz, seguindo as orientações do
Manifesto da UNESCO para a década da Cultura de Paz (2001-2010).

Entre as atividades mantidas pela ONGCSF nestes 15 anos,


podemos destacar alguns projetos, como o Rede da Esperança, que
distribuiu gratuitamente mil e quinhentos exemplares do livro
homônimo, junto com uma contação de história e uma oficina de
criatividade. O livro aborda questões como cidadania, participação
popular, sustentabilidade e espiritualidade. Foi pensado para ser
trabalhado com crianças de 7 a 12 anos de idade.

Durante os anos de 2001 e 2014 foram realizados os Encontros


Homospiritualis de Educação e Cultura para a Paz. Este evento era
realizado na semana do dia 04 de outubro, em homenagem à Francisco
de Assis. O objetivo do evento era promover a cultura de paz e valorizar
a diversidade religiosa. Eventos com a presença de religiosos de
diferentes concepções e, inclusive, com seres incorpóreos, fizeram do
encontro um dos mais significativos eventos de promoção da diversidade
religiosa no município de São Carlos.

Por sua vez, entre os anos de 2010 e 2014, um outro evento foi
organizado, acontecendo entre o dia 21 de janeiro, dia da religião, e o dia
30 de janeiro. O evento foi denominado Fórum Permanente de Educação,
Cultura de Paz e Tolerância Religiosa. Ao contrário do anterior, o Fórum
visava uma ação política em defesa da diversidade religiosa. Nos fóruns
foram escritos o Manifesto da Cultura de Paz e da Tolerância Religiosa
em São Carlos e a criação do Observatório Social da Liberdade Religiosa
em São Carlos.

25
Além desses dois, foram organizados, a partir de 2007, a
Jornada de Saúde e espiritualidade, nos anos ímpares, e a Jornada de
Educação e Espiritualidade, nos anos pares, a partir de 2010. Esses
eventos costumavam acontecer no mês de março, durante as
comemorações do aniversário da ONGCSF.

Outro evento de destaque foi a pesquisa denominada Cultura de


Paz e Mediunidade que resultou na edição de sete livros, entre eles, um
denominado A psicosofia de Lao Tsé, Krishna e Buda segundo a
Espiritologia. O neologismo espiritologia foi criado para representar o
uso da História Oral para se entrevistar os seres incorpóreos, utilizando-
se da mediunidade. Por sua vez, por psicosofia compreende-se os
ensinamentos espiritualistas que não se confundem nem com a
Psicologia e nem com a Filosofia.

Além desses eventos e pesquisas, a ONGCSF mantém em sua


sede o Centro de Referência Comunitária em Tratamentos Naturais,
Complementares, Integrativos e Populares onde atende a população de
São Carlos e de outras cidades gratuitamente com diferentes práticas
terapêuticas.

E talvez a grande contribuição da ONGCSF neste período foi a


sistematização e a difusão gratuita da Terapia Vibracional Integrativa
(TVI), uma técnica de tratamento psicossocial e bioenergética realizada
através da imposição das mãos. A TVI começou a ser ensinada a partir
de 2003 e mais de 5 mil pessoas foram capacitadas, no Brasil e em
Portugal.

26
Links para alguns dos textos e livros editados no
período acima, disponibilizados na forma de ebooks no
portal scribd. Para ter acesso ao conteúdo integral,
gratuitamente, basta abrir uma conta no scribd:

01 - comunicações acadêmicas
Os espíritos na internet: o nascimento do espiritualismo ecumênico
universal

Comunicação apresentado no XII Encontro de História das Religiões, em


Juiz de Fora, MG. Pode ser acessado no scribd através do link:
https://pt.scribd.com/document/53699103/Os-espiritos-na-internet-o-
nascimento-do-espiritualismo-ecumenico-universal

Chi Kung: uma ecolinguagem corporal e bioenergéticas

Comunicação apresentado no I Encontro de Ecolinguística e Imaginário,


na UFG, em Goiania/GO. Pode ser acessado no scribd através do link:
https://pt.scribd.com/doc/44659335/Chi-Kung-uma-ecolinguagem-
corporal-e-bionergetica

Programa Homospiritualis: diversidade religiosa, expressão do


espírito e (re)envolvimento humano

Comunicação apresentado no V Colóquio Internacional Educação,


Imaginário, Mitanálise e Utopia, na UFF, em Niteroi/RJ. Pode ser
acessado no scribd através do link:
https://pt.scribd.com/document/62012277/Programa-Homospiritualis-
Diversidade-religiosa-expressao-do-espirito-e-re-envolvimento-humano

27
02 - coleção Animagogia
Animagogia: educação espiritual para um mundo em regeneração

Livreto da coleção Animagogia, editada pela ONGCSF. Pode ser


acessado no scribd através do link:
https://pt.scribd.com/document/125520983/Animagogia-educacao-
espiritual-para-um-mundo-em-regeneracao

Umbanda: manifestação cultural pós-moderna

Livreto da coleção Animagogia, editada pela ONGCSF. Pode ser


acessado no scribd através do link:
https://pt.scribd.com/document/25639419/Umbanda-manifestacao-
cultural-pos-moderna

Os símbolos do Reiki e seus ensinamentos morais

Livreto da coleção Animagogia, editada pela ONGCSF. Pode ser


acessado no scribd através do link:
https://pt.scribd.com/document/28646532/Os-simbolos-do-reiki-e-seus-
ensinamentos-morais

Terapia Vibracional Integrativa: o poder da vontade, do


pensamento elevado, da imaginação criativa e do amor

Livreto da coleção Animagogia, editada pela ONGCSF. Pode ser


acessado no scribd através do link:
https://pt.scribd.com/document/34850559/Terapia-Vibracional-
Integrativa

28
03 - livros
A arte de envelhecer com saúde integral e paz interior
Livro da coleção Educação e Espiritualidade, editada pela ONGCSF
através da editora Rima. Pode ser acessado no scribd através do link:
https://pt.scribd.com/document/17463495/A-arte-de-envelhecer-com-
saude-integral-e-paz-interior

Saúde e Espiritualidade: Reflexões sobre tratamentos vibracionais


e medianímicos
Livro da coleção Cultura de Paz e Mediunidade, editada pela ONGCSF
através da editora Rima. Pode ser acessado no scribd através do link:
https://pt.scribd.com/document/26726833/Saude-e-Espiritualidade-
reflexoes-sobre-tratamentos-vibracionais-e-medianimicos

Apometria: O poder da mente e a mediunidade a serviço da


regeneração da terra
Livro da coleção Cultura de Paz e Mediunidade, editada pela ONGCSF
através da editora Rima. Pode ser acessado no scribd através do link:
https://pt.scribd.com/document/17530329/Apometria-o-poder-da-
mente-e-a-mediunidade-a-servico-da-regeneracao-da-Terra

A psicosofia de Lao Tsé, Krishna e Buda através da espiritologia


Livro da coleção Cultura de Paz e Mediunidade, editada pela ONGCSF
através da editora Rima. Pode ser acessado no scribd através do link:
https://pt.scribd.com/document/33237216/A-Psicosofia-de-Lao-Tse-
Krishna-e-Buda-segundo-a-espiritologia

Gênero e Espiritualidade: uma introdução ao estudo das imagens e


do imaginário do invisível
Livro da coleção Cultura de Paz e Mediunidade, editada pela ONGCSF
através da editora Rima. Pode ser acessado no scribd através do link:
https://pt.scribd.com/document/18239605/Genero-e-espiritualidade-
introducao-ao-estudo-das-imagens-e-do-imaginario-do-invisivel

29
A prática da meditação integrativa na terceira idade
Livro baseado na pesquisa de pós-doutorado realizada na UFSCar, por
Adilson Marques. Foi publicada também pelo projeto VEPOP-SUS em
parceria com o Ministério da Saúde. Pode ser acessado no scribd através
do link:
https://pt.scribd.com/document/28529538/A-pratica-da-meditacao-
integrativa-na-terceira-idade

04 - outros
Manifesto pela Paz e pela Tolerância Religiosa

Documento aprovado no I fórum de Educação, cultura de paz e tolerância


religiosa e reformulado no V fórum, em 2014. Pode ser acessado no
scribd através do link:
https://pt.scribd.com/document/34029006/manifesto-pela-Paz-e-pela-
Tolerancia-Religiosa

Ensino religioso, educação em valores humanos e animagogia

Transcrição de palestra realizada por Adilson Marques na ONGCSF.


Pode ser acessado no scribd através do link:
https://pt.scribd.com/doc/17463454/ensino-religioso-educacao-em-
valores-humanos-e-animagogia

História Oral com espíritos: a construção de narrativas visionárias


e hermesianas na pós-modernidade

Transcrição de palestra realizada por Adilson Marques na ONGCSF.


Pode ser acessado no scribd através do link:
https://pt.scribd.com/document/26059737/Historia-oral-com-espiritos-
a-construcao-de-narrativas-visionarias-e-hermesianas-na-pos-
modernidade.

30
Adilson Marques, sócio-fundador da ONG Círculo de
São Francisco, participou das pesquisas que resultaram
na coleção de livros Cultura de Paz e Mediunidade.

31
Conheça os demais cadernos de animagogia editados
pela ONG Círculo de São Francisco

32

Você também pode gostar