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O AUXÍLIO-RECLUSÃO NO ORDENAMENTO
JURÍDICO BRASILEIRO
MESTRADO EM DIREITO
PUC/SP
2006
MARCIA UEMATSU FURUKAWA
O AUXÍLIO-RECLUSÃO NO ORDENAMENTO
JURÍDICO BRASILEIRO
MESTRADO EM DIREITO
PUC/SP
2006
MARCIA UEMATSU FURUKAWA
O AUXÍLIO-RECLUSÃO NO ORDENAMENTO
JURÍDICO BRASILEIRO
SÃO PAULO
2006
PONTIFÍCIA UNVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
Pós-graduação em Direito
Auxílio-reclusão
Marcia Uematsu Furukawa
Comissão Julgadora:
1o. ___________________________________
2o. ___________________________________
3o.___________________________________
Média: ____________
Dedicatória
À minha mãe,
grande responsável por todas minhas conquistas
Ao meu pai,
que tão cedo nos deixou,
mas que certamente nos acompanha
a cada nova etapa de nossa vida.
Ao meu amado esposo César e
aos meus queridos irmãos Nívea e Roberto.
Agradecimentos
Às minhas amigas Noemi Martins, Lin Peng Jeng e Priscila Tanaka, pelas
palavras de carinho e apoio, nos momentos difíceis.
This work is about the benefit of reclusion-aid foreseen in the General Regime of
Social Security. For a better comprehension of this benefit, it was analyzed the
Social Welfare as a whole, from the beginning of its development to its modern
aspect. The Social Welfare arose with the Constitution of 1988, as a tool of the
Social Order in search of social justice and well being, becoming concrete through
the subsystems of health, social assistance and social security. In the chapter that
describes the Social Security, it is studied the characteristics of this subsystem, as
well as the protection that it gives to the family of the insured, which includes the
benefit of reclusion-aid. Through a historical summary of this benefit, it is
demonstrated that the reclusion-aid is not new in our judicial system; it has been
appearing in welfare laws since the 1950’s and became a constitutional rule with
the Constitution of 1988. Despite the criticism against the benefit, it is among the
several protection measures enacted by the constitutional legislator in accordance
with the aims of the Social Security. The benefit is studied with the analysis of the
protected risk, the influence of the work activity to establish the conception of
risk/necessity and the alterations brought by Law 10666/03. There are still some
comments about the alterations brought by the Constitutional amendment no.
20/98, which limited the benefit for the dependents of the insured with low income,
considering the constitutional principles of uniformity and equivalence of benefits,
selectivity, and distributiveness. Some law cases about this question were also
taken into account. In the end, there are some brief considerations about collective
protection, through the public civil action in issues of social security, highlighting
the importance of this tool, especially for the maintenance of the equity of the
group of insured and dependents, in a way that similar issues can be decided
uniformly.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 1
CONCLUSÕES ...................................................................................................172
BIBLIOGRAFIA ..................................................................................................178
1
INTRODUÇÃO
1.1 Evolução
1
VENTURI, Augusto. Los fundamentos científicos de la seguridad social, p. 21-24.
2
SUSSEKIND, Arnaldo. Previdência social brasileira, p. 18
5
3
ASSIS, Armando de Oliveira. Em Busca de uma Concepção Moderna de “Risco Social”, p. 24.
6
4
Para explicación coherente del origen de los seguros sociales en Alemania hay que partir de que
los principios individualistas imperantes en Europa fueron contrarrestados por el pensamiento
de Fichte, de Hegel y de Marx,que promovieron um temprano desarrollo de las ideas socialistas.
Plasmación de éstas fue la creación em 1863 de la Associación General de Trabajadores
Alemanes (Allgemeiner Deutscher Arbeiterverein), que daria lugar más tarde, em 1867, a la
fundación Del Partido social-democrático obrero (Sozialdemokratrische Arbeiter-partei). La
expanción el Partido, y sus tácticas violentas hicieron recelar al Canciller, quien emprendió una
política represiva, declarando ilegal el Partido, prohibiendo sus reuniones, y persiguiendo a sus
jefes. Sin embargo, y comprendiendo que la simple política represiva no bastaria, Bismark,
clarividente, se propuso además una actitude defensiva, la acoger y praticar algunos de
los postulados defendidos por el socialismo. A tal fin, adoptó, para su proyección política
principios defendidos por las tendecias más moderadas del socialismo científico o de cátedra,
impulsor de una solidariedad entre los indivíduos y las clases sociales, que había de expresarse
através del impuesto como instrumento redistributivo. [...]A estas orientaciones respondió el
mensaje de 17 de noviembre de 1881, en el expuso Bimarck una nueva visión del Estado,
dirigido sólo a garantizar los derechos individuales, sino también a promover el bienestar de los
miembros de la colectividad y especialmente de los necesitados, mediante la creación de los
seguros sociales (nossos os destaques). Cf. PASTOR, José M. Almansa. p. 70.
5
FERRARI, Francisco de. Los principios de la seguridad social, p. 101.
7
Ressalta ainda a autora que tal idéia, no entanto, não descarta aquelas
prestações adquiridas pelos trabalhadores assalariados. Entretanto, segundo
essa concepção, a seguridade social passa a ser um direito subjetivo do cidadão,
estruturada como política pública das nações7.
6
LIGERO, Ma de los Santos Alonso, Los Servicios Sociales y la Seguridad Social, v. 6., Revista
Ibero-Americana de Seguridade Social, p. 1.497
7
Segundo as palavras da autora: “Va abriéndose paso, poco a poco, la idea de solidariedad, van
afirmándose las responsabilidades propias de la colectividad, destacándose cada vez con más
fuerza la idea de que es la colectividad la que debe tomar a su cargo las prestaciones
destinadas a garantizar a todos los miembros de la colectividad un mínimo. Se trata de asegurar
8
un mejor reparto de las rentas en función de las necesidades del individuo: la Seguridad Social
reviste así la forma de un sistema de garantías de un mínimo social. Ahora bien, sin olvidar
nunca que por encima de estos niveles mínimos están las prestaciones adquiridas por los
trabajadores asalariados en cuanto tales. La relación entre la prestación de trabajo y la
prestación en especies ha perdido su valor; la Seguridad Social se convierte en un derecho
del ciudadano como tal; en principio, cada uno puede hacer valer este derecho la renta del
trabajo anterior, sino a título de participación en el nivel general de bien estar”. Cf LIGERO, Ma
de los Santos Alonso, Los Servicios Sociales y la Seguridad Social, v 6., Revista Ibero
Americana de Seguridade Social, p. 1.497.
8
SUSSEKIND, Arnaldo. Previdência social brasileira, p. 26-27.
9
Ob. Cit. p. 44.
9
[...]
O modelo elaborado por William Beveridge e sua equipe adotou como uma
das principais medidas a criação de um plano voltado a todos os cidadãos, sem
10
SUSSEKIND, Arnaldo. Previdência social brasileira, , p.46
11
BEVERIDGE, William. O plano beveridge, tradução de Almir de Andrade, , p. 11.
10
15
LIGERO, Ma de los Santos Alonso, Los servicios sociales y la seguridad social, v 6., Revista
Ibero Americana de Seguridade Social. 1971, p. 1.497. “Va abriéndose paso, poco a poco, la
idea de solidariedad, van afirmándose las responsabilidades propias de la colectividad,
destacándose cada vez con más fuerza la idea de que es la colectividad la que debe tomar a su
cargo las prestaciones destinadas a garantizar a todos los miembros de la colectividad un
mínimo. Se trata de asegurar un mejor reparto de las rentas en función de las necesidades del
individuo: la Seguridad Social reviste así la forma de un sistema de garantías de un
mínimo social. Ahora bien, sin olvidar nunca que por encima de estos niveles mínimos están
las prestaciones adquiridas por los trabajadores asalariados en cuanto tales. La relación entre la
prestación de trabajo y la prestación en especies ha perdido su valor; la Seguridad Social se
convierte en un derecho del ciudadano como tal; en principio, cada uno puede hacer valer
este derecho la renta del trabajo anterior, sino a título de participación en el nivel general de
bien estar.”
12
16
PASTOR, José M. Almansa. Derecho de la seguridad social, p. 70.
17
LEITE, Celso Barroso. Conceito de seguridade social, in Curso de direito previdenciário, p. 17.
13
19
BALERA, Wagner. A seguridade social na Constituição de 1988, p. 32.
20
SIMÕES, Aguinaldo. Princípios da segurança social. p. 42.
16
21
BALERA, Wagner. Noções preliminares de direito previdenciário. p. 175.
22
Balera, Wagner. Noções Preliminares de Direito Previdenciário, p. 16.
17
brasileira, em seu artigo 3o, inciso IV, dispõe que a promoção do bem de todos
constitui um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil.
23
MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do direito, p. 219.
24
MENDONÇA, Jacy de Souza. O Curso de filosofia do direito do professor Armando Câmara, p.
224.
25
BALERA, Wagner. Introdução à seguridade social. p. 15.
18
26
LEITE, Celso Barroso. A proteção social no Brasil., p. 24/25.
27
MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do direito, p. 219.
28
MONTORO, André Franco. Introdução à ciência do direito, p. 213.
19
29
BALERA, Wagner.Noções preliminares de direito previdenciário, p. 23 e 28.
20
1.4.1. A Saúde
A saúde foi garantida pela Constituição em seu artigo 196 como um direito
de todos e dever do Estado, cabendo a este prestar serviços de caráter
preventivo e curativo por meio de políticas sociais e econômicas que visem à
redução do risco doença.
O Estado deve prover o mínimo social, por meio das ações da assistência
social, realizando ações integradas junto com a sociedade para garantir as
necessidades básicas dos homens.
30
Diz-se que na assistência social vigora o princípio da solidariedade de forma plena, pois, não se
exige prévia filiação ou contribuição, sendo essas prestações concedidas aos necessitados que
não disponham de meios para prover a subsistência, nos termos em que previsto na Lei
Orgânica da Assistência Social.
22
31
BALERA, Wagner. Noções preliminares de direito previdenciário, p. 100.
32
VILANOVA, Lourival. Causalidade e relação no direito, p. 75.
33
Ob. Cit. p. 84.
24
34
CARVALHO, Paulo de Barros. Teoria da norma tributária, p. 188.
25
Cumpre observar que a idéia, durante muito tempo assente, de que esses
benefícios não se incluíam dentre os direitos subjetivos do cidadão e, sendo,
26
35
Exemplo disso é o disposto no artigo 76 do ADCT, com redação dada pela Emenda
Constitucional n. 27/2000 e, posteriormente, pela n. 42/2003, que desvinculou de órgão, fundo
ou despesa, 20% da arrecadação de impostos e contribuições sociais e contribuições de
intervenção do domínio econômico, possibilitando a utilização do montante arrecadado por meio
de contribuições sociais para outras finalidades que não as ligadas à seguridade social.
27
36
BALERA, Wagner. Noções preliminares de previdência social, p. 49.
28
[...]
38
Modelo esse considerado pelo próprio Almansa Pastor como uma visão paradisíaca, uma
idealidade platônica, que encontra seu principal entrave nos recursos financeiros que seriam
necessários para implantá-lo (cf. Derecho de la seguridad social, p. 61).
39
PASTOR, Almansa Manuel. Derecho de la seguridad social, p. 61.
30
40
PULINO, Daniel. A aposentadoria por invalidez no direito positivo brasileiro, p. 33.
31
seguridade social, esta não se afastou do modelo de seguro social que inspirou
seu advento, mantendo em grande parte o arcabouço engendrado na Alemanha41
por Bismarck.
41
BALERA, Wagner. Introdução à seguridade social, in introdução ao direito previdenciário, p. 31.
42
LEITE, Celso Barroso. Conceito de seguridade social in curso de direito previdenciário -
homenagem a Moacyr Velloso Cardoso de Oliveira, p. 27.
43
CASTRO, Carlos Alberto Pereira de,Lazzari, João Batista. Manual de direito previdenciário, p.
92.
32
Pode-se dizer que o regime geral fornece proteção aos trabalhadores a ele
vinculados em nível básico, isto é, provendo um padrão da remuneração
percebida pelo trabalhador, suficiente para garantir a subsistência do segurado e
de seus dependentes, em substituição à remuneração antes percebida, na
medida em que prevê limite máximo de contribuição e valor de benefícios pagos
nessa seara.
44
Aplicáveis àqueles que se vinculem ao sistema após o advento da Emenda Constitucional n. 20,
de 15/12/1998 (art. 40, §14, da CF).
34
45
BALERA, Wagner. Sistema de seguridade social, p. 76 .
35
46
CARDONE, Marly. Previdência, assistência, saúde, p. 23.
36
Desse vínculo jurídico decorrem duas relações jurídicas,: uma que obriga o
segurado a custear o sistema, por meio do pagamento das contribuições, e outra
47
BALERA, Wagner. Sistema de seguridade social, p. 70.
37
2.1.3. Contributividade
48
Esse princípio era aplicável aos empregados e avulsos, pois estes tinham suas contribuições
retidas e recolhidas pelo empregador. A Lei n. 10.666/03 determinou que a empresa passasse a
reter contribuições devidas pelos contribuintes individuais que lhes prestassem serviços (art.
o
4 ), devendo tal princípio ser estendido a todos os trabalhadores que prestem serviços a
empresas.
40
Não se pode verificar uma relação direta entre o quantum, vertido pelo
trabalhador ao instituto previdenciário, e o valor do benefício que perceberá diante
da ocorrência de uma das situações cobertas pela previdência.
Assim, embora a maior parte dos benefícios seja calculada com base no
valor das contribuições sociais vertidas pelos trabalhadores, isto é, com base no
salário-de-contribuição, não se verifica exata co-relação entre os valores
efetivamente recolhidos pelo trabalhador ao longo de sua vida profissional e o
valor dos benefícios que poderá vir a receber quando da ocorrência dos eventos
protegidos.
O risco social pode ser caracterizado como a ameaça que atinge toda a
sociedade, caso um de seus membros venha a ser colocado em situação de
necessidade.
49
ASSIS, Armando de Oliveira. Em Busca de uma concepção moderna de “risco social”, p. 28.
50
PERSIANI, Mattia. Diritto della previdenza sociale, p. 12.
43
53
PERSIANI, Mattia. Diritto della Previdenza Sociale, p.15/16. Nas palavras do autor: “lavoratori,
inoltre, hanno diritto a che siano preveduti e assicutati mezzi adeguati alle loro esigenze di vita
quando si verificano determinati eventi generatori di bisogno. L’indicazione di tali eventi,
contenuta nel secondo comma dell’art. 38, non ha valore tassativo.
Essa pone, però, un vincolo al legislatore ordinario nel senso che, salvo che per quanto attiene
ai requisiti per aver diritto alle prestazioni e ai criteri per determinarne l’ammontare, rende
irreversibile l’evoluzione già realizzata. Per contro, quell’indicazione non esclude la possibilita di
un’ulteriore estensione della tutela previdenziale, come, ad esempio, è avvenuto per la tutela dei
superstiti (cfr.n.104)” (grifo nosso).
45
Essa idéia foi plenamente adotada pela Assembléia Geral das Nações
Unidas, na Declaração Universal dos Direitos do Homem, artigo 22, que dispõe:
“Toda pessoa, como membro da sociedade, tem direito à segurança social e à
realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional, de acordo com
a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociais e
culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da sua
personalidade” (grifos nossos).
(...)
54
MONTEIRO, Meire Lucia Gomes (coord.). Introdução ao Direito Previdenciário, p. 68.
46
Por fim, cumpre salientar que a busca pelo equilíbrio financeiro constitui
exigência não apenas do subsistema da previdência social, mas do sistema de
seguridade social, consoante se depreende da regra da contrapartida insculpida
55
BALERA, Wagner. Curso de Direito Previdenciário. Organização e Custeio da Seguridade
Social. p. 40.
56
RUSSOMANO, Mozart Victor. Comentários à Consolidação das Leis da Previdência Social, São
Paulo: RT, 1977, p. 309.
57
Marly Cardone, em sua obra Previdência, Assistência e Saúde, discorre sobre o tema,
explicitando os motivos pelos quais prefere a expressão segurança social à expressão
seguridade social.
48
pelo legislador constituinte no artigo 195, §5o, que dispõe que nenhum beneficio
ou serviço da seguridade social poderá ser criado, majorado ou estendido sem a
correspondente fonte de custeio.
58
NEVES, Ilídio das. Direito da segurança social, p. 470 e 471.
49
59
GOMES FILHO, Antonio Magalhães. Presunção de inocência e prisão cautelar, p. 64.
60
DOTTI, René Ariel. A reforma do sistema de penas – antigo e novos desafios 20 anos depois. p.
8.
61
TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro p. 301-302.
51
62
TUCCI, Rogério Lauria. Direitos e garantias individuais no processo penal brasileiro, p. 305-306.
52
63
HORVATH JUNIOR, Miguel, Direito previdenciário, p. 112.
53
64
MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução penal, p. 93.
55
pois enquadrando o preso como segurado obrigatório, surge para este o dever de
contribuir para a previdência social.
também dos interesses dos dependentes dos presos, fim colimado pela prestação
do auxílio-reclusão, como veremos no capítulo adiante.
57
65
SUSSEKIND, Arnaldo. Previdência social brasileira, p. 63.
58
66
Art. 8º São direitos do segurado: IX – Instituir seguro por morte (pensão) a favor de beneficiados
inscritos, com a metade das vantagens a que teria direito si aposentado por invalidez, quando
condenado por sentença passada em julgado, ressalvado o disposto no inciso II deste artigo.
59
O segurado recluso tem sua subsistência garantida pelo Estado, que deve
responsabilizar-se também pela integridade física. Entretanto, a família do preso,
de um momento a outro, com a prisão do segurado, tem sua fonte de subsistência
comprometida, o que, nos dizeres de Victor Russomano67, justifica a prestação,
sendo plausível, “(...) no esquema dos benefícios da Previdência Social, que a
instituição dê medidas de proteção aos dependentes do segurado”.
67
RUSSOMANO, Mozart Victor. Curso de Previdência Social, p. 258.
68
Nas palavras de Yolanda Catão e Elisabete Sussekind: “A desestruturação familiar que decorre
da prisão de um de seus membros, o desamparo econômico que conduz, freqüentemente, a
esposa (ou companheira) e filhos a iniciarem uma vida criminosa, as inúmeras e dispensáveis
humilhações por que passam as visitas, constituem situações dolorosas para a família. Cf.
Direito dos Presos, p. 87.
62
Sérgio Pinto Martins69 faz duras críticas ao benefício e prega em sua obra,
Direito da Seguridade Social, a extinção dessa prestação. Transcrevo a seguir o
entendimento do autor, in verbis:
69
MARTINS, Sérgio Pinto; Direito da seguridade social, p. 414.
63
Consoante visto no Capítulo II, a noção de risco social foi superada com a
evolução dos sistemas de seguro sociais, passando a ser adotada a proteção à
necessidade social.
70
PASTOR, Almansa Manuel. Derecho de la seguridad social, p. 221.
64
Segundo a Teoria Geral do Direito, o ato ilícito só surge como ilícito penal
quando o ato violador da lei for de tal gravidade que atente contra bens jurídicos
fundamentais de existência ou desenvolvimento da sociedade.
72
RUSSOMANO, Mozart Victor. Curso de previdência social, p. 258.
66
73
Número mínimo de contribuições mensais indispensáveis para que os beneficiários façam jus
aos benefícios (art. 24, Lei n. 8213/91).
74
Conclusão que se extrai diante da não menção da prestação nas obras de Mattia Persiani,
Diritto della previdenza e Ilídio das Neves in Direito da segurança social – princípios
fundamentais numa análise prospectiva, p. 455.
75
CARONE, Marly. Previdência, assistência, saúde – o não trabalho na Constituição de 1988, p.
64.
76
BALERA, Wagner. Introdução à seguridade social in Introdução ao direito previdenciário, p. 39.
67
77
Ao lado dessas, há as prestações previdenciárias que se revestem da natureza de obrigação de
fazer, que são os serviços sociais e reabilitação profissional.
69
Art. 13. Até que lei discipline o acesso ao salário família e auxílio-
reclusão para os servidores, segurados e seus dependentes,
esses benefícios serão concedidos apenas àqueles que
tenham renda bruta mensal igual ou inferior a R$ 360,00
(trezentos e sessenta reais), que, até a publicação da lei, serão
corrigidos pelos mesmos índices aplicados aos benefícios do
regime geral de previdência social (nossos os destaques).
3.4.1.Carência
matéria de seguridade social, uma vez que exclui do âmbito de proteção pessoas
vinculadas ao sistema previdenciário e que possam estar em comprovada
situação de necessidade gerada pela contingência descrita em lei, pelo simples
fato de não contarem com um número de contribuições mínimas.
Nesse sentido, Daniel Machado Rocha entende que “neste comando legal
jaz uma norma protetiva do sistema impondo um período mínimo durante o qual o
obreiro, cuja qualidade de segurado foi adquirida, não poderá usufruir de
determinados benefícios, a fim de se preservar o sistema de previdência social,
essencialmente contributivo, daqueles que só acorrem a ele quando atingidos
pelo risco social”78.
78
THIESEN, Ana Maria Wicket et al; Vladimir Passos de Freitas (coord.) Direito previdenciário:
aspectos materiais, processuais e penais, p. 64.
73
79
COIMBRA, Feijó, Direito previdenciário brasileiro, p. 108.
75
isto é, com o exercício da atividade abrangida pelo regime geral, bem como
durante o transcurso do período de graça (art. 15 da Lei n. 8.213/91).
Como visto no item 2.3. do Capítulo II, a prisão pode decorrer de sentença
condenatória passada em julgado, que impôs ao réu a pena privativa de
liberdade, ou da decretação de prisão cautelar, expressão tomada em sentido
amplo, imposta no curso do processo, enquanto não transitada em julgado a
condenação, ou, ainda, quando em curso investigação policial, com a finalidade
de assegurar a eficácia de futuro provimento jurisdicional.
80
MIRABETE, Julio Fabrini. Código penal interpretado. p. 266-267.
77
81
BALERA, Wagner. A proteção social à família, p. 238.
78
82
Segundo ensinamentos de Miguel Reale Junior, colacionado por Sidnei Agostinho Beneti, “à
obrigatoriedade do trabalho, liga-se, no entanto, um estatuto novo no direito brasileiro, a
remição, segundo a qual o condenado pode remir pelo trabalho parte do tempo de execução da
pena, na proporção de um dia de pena por três de trabalho”. Cf. BENETI, Sidnei Agostinho.
Execução Penal, p. 137.
83
MORAES, Alexandre de, Constituição do Brasil interpretada e legislação constitucional, p. 331.
80
87
Disponível em :< www.funap.sp.gov.br/perguntas freqüentes>. Acesso em 25/7/06.
88
No Estado de São Paulo, a remuneração dos presos segue as disposições do artigo 7o da
Resolução n. 53/2001, que dispõe:
“Art. 7º. As unidades prisionais que cederem mão-de-obra de presidiários deverão cumprir as
seguintes normas contábeis:
II – o valor do depósito referente à remuneração do preso será distribuído, até o 8º dia útil do
mês, da seguinte forma:
- 90 % (noventa por cento), para assistência à família e pequenas despesas pessoais; (redação
dada pela Resolução SAP n. 092/2003)
- 10% para ressarcimento ao Estado das despesas realizadas com a sua manutenção;
(revogado pela Resolução SAP n. 092/2003)
- 10% (dez por cento) para pecúlio, facultando-se a liberação de metade desse montante, por
decisão motivada do Diretor da unidade prisional. (redação dada pela Resolução SAP n.
092/2003)
III – A conta da unidade prisional será movimentada exclusivamente por cheque nominativo,
firmado por dois funcionários, especialmente designados, em favor do preso ou de quem for por
ele indicado (esposa, marido, companheiro, filho, pai, mãe ou irmão) devidamente identificados
e registrados na Diretoria Administrativa;
IV – Inexistindo qualquer dos indicados do inciso III, a movimentação poderá ser feita por uma
única pessoa para cada preso, autorizada e devidamente identificados e registrados na unidade
prisional;
V – os valores inferiores a R$ 100,00 poderão ser pagos, em espécie, para os familiares e
pessoas autorizadas”.
Diante dessas considerações, constata-se que no sistema carcerário do Estado de São Paulo
há presos que se encontram em duas situações: aqueles que percebem remuneração
equivalente a três quartos de salário mínimo, e os presos que se dedicam às atividades de
manutenção do estabelecimento prisional, que certamente recebem valores inferiores ao
previsto pela legislação, já que a remuneração destes é resultado do rateio da soma do
montante de um quarto dos salários que os demais presos percebem. De outra parte, em São
82
Paulo, o valor equivalente a três quartos de salário mínimo é integralmente destinado ao preso,
já que a norma que previa a indenização do Estado no percentual de 10% do valor percebido
pelo preso foi revogada pela Resolução SAP n. 092/2003, atualmente vigente.
83
89
RUSSOMANO, Mozart Victor. Curso de previdência social, p. 260.
90
Nas palavras de René Ariel Dotti “Não obstante os grandes avanços determinados pela Lei n.
6416/77 que revelou grandes preocupações com a individualização executiva da pena e a
dignidade pessoal do condenado, esta não foi cumprida pelos sistemas penitenciários
brasileiros de modo geral.” In A reforma do sistema de penas – antigos e novos desafios 20
anos depois. Boletim IBCCrim – ano 12- n.º 140 – julho 2004p. 7
84
91
Ob. Cit., pág. 6-8.
92
FRAGOSO, Heleno [et al]. Direito dos presos, p. 106-107.
85
a) No Regime Aberto
O trabalho, no regime aberto, não deve ser proporcionado pelo Estado, tal
como se verifica nos demais regimes prisionais, em que o preso não tem a
liberdade para sair e firmar contrato de trabalho. Aqui, o segurado firma contrato
de trabalho diretamente com o empregador, contrato que se revestirá de todas as
formalidades previstas na Consolidação das Leis do Trabalho.
93
CORREIA, Marcus Orione Gonçalves; Correia, Érica Paula Barcha. Curso de direito da
seguridade social, p. 282.
94
MIRABETE, Julio Fabbrini. Execução Penal, p. 467.
87
Veja-se que a prisão domiciliar não configura espécie de prisão diversa das
demais, mas, nos termos do artigo 117 da Lei de Execução Penal, é somente
admitida para cumprimento de pena para os beneficiários de regime aberto, isto é,
aqueles que já têm o direito de trabalhar normalmente durante o dia e que devem
recolher-se durante a noite a estabelecimentos penais adequados, quais sejam,
as casas de albergado96.
95
STF (RT 674/354, 657/377); HC n. 67.767-3-SP, 2a T., Rel. Min. Célio Norja, em 3/4/90, DJU
4/5/90, p. 3.695.
96
A jurisprudência vem admitindo de forma excepcionalíssima, na salvaguarda da integridade
física do detento, o cumprimento de prisão cautelar em regime de prisão domiciliar (HC 39782/
Processo: 200401666533/SP, 5ª Turma, STJ, rel. Min. Jose Arnaldo Fonseca, j 3/5/2005, in
<www.cjf.gov.br>), situação que não se confunde com aquela ora retratada, pois, em se
tratando de prisão cautelar, devem estar presentes os requisitos que impõem a segregação do
preso, nada obstante não condenado definitivamente, hipótese em que deverá o mesmo
manter-se recolhido em sua residência, não tendo condições de exercer a atividade
remunerada, justificando-se assim, a concessão do benefício.
97
IBAIXE JUNIOR, João. Auxílio-reclusão na Lei n. 10.666/03, p 488.
88
Aduzem ainda os defensores dessa tese que, nada obstante haja previsão
legal do direito ao trabalho no regime semi-aberto, a realidade do sistema
carcerário brasileiro é muito distante do ideário legal, não sendo proporcionado à
grande maioria da população carcerária.
98
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social. p. 415.
89
99
MARTINS, Sergio Pinto. Direito da seguridade social, p. 415.
90
c) Considerações Conclusivas
100
HORVATH, Miriam Vasconcelos Fiaux. O auxílio-reclusão no direito brasileiro, p. 114 -116.
91
significa dizer que não se poderá fixar pagamento em valor superior. Reconhece-
se que, dificilmente, tal patamar será suplantado; entretanto, para fins de análise
teórica, impõe-se tal raciocínio. De outra parte, a exemplo do que ocorre no
Estado de São Paulo, a indenização prevista no artigo 29 da Lei de Execuções
Penais pode não ser exigida pelo Estado, destinando-se ao preso a totalidade da
remuneração paga pelo trabalho por ele realizado. Esse valor deverá ser revertido
em favor da família do recluso.
Art. 13. Até que lei discipline o acesso ao salário família e auxílio-
reclusão para os servidores, segurados e seus dependentes,
esses benefícios serão concedidos apenas àqueles que
tenham renda bruta mensal igual ou inferior a R$ 360,00
(trezentos e sessenta reais), que, até a publicação da lei, serão
101
Anote-se, neste ponto, a existência de discussão quanto à aplicabilidade do critério limitativo
aos segurados ou aos dependentes, questão que será analisada adiante.
93
102
MARTINEZ, Wladimir Novaes. Reforma da previdência social: comentários à emenda
constitucional n. 20/98, p. 117.
94
isonomia, isso porque, como veremos adiante, tais princípios são corolários do
princípio da isonomia na seara da seguridade social.
aqueles que dispõem de menor renda, por serem eles os sujeitos que mais
necessitam do apoio da previdência social. Com base na premissa de que é
preciso dar maior proteção àqueles que mais necessitam da proteção do Estado,
resta justificado o tratamento diferenciado que o Estado dará aos cidadãos na
implantação das medidas de seguridade social104.
104
Ob. Cit., p. 40.
105
BALERA, Wagner; Noções Preliminares de direito previdenciário, p.86.
96
106
SANTOS, Marisa Ferreira de. O Princípio da seletividade das prestações de seguridade social,
p. 202.
107
MELLO, Celso Antonio Bandeira, Conteúdo jurídico do princípio da igualdade, p. 21.
97
Por tais razões, entendo que a norma matriz da regra (art. 13,
EC 20/98) não é compatível com nosso regime
constitucional, fundado que é na dignidade da pessoa
humana.
Da irreversibilidade do provimento
108
Abordaremos a questão da presunção da dependência em item subseqüente.
103
109
HORVATH, Miriam Vasconcelos Fiaux. O auxílio-reclusão no direito brasileiro, p. 122.
110
BALERA, Wagner. Noções preliminares de direito previdenciário, p. 177.
111
ARAÚJO, Luiz Alberto David e NUNES JUNIOR, Vidal Serrano. Curso de direito constitucional,
p. 65
104
112
CANOTILHO, JJ Gomes. Direito constitucional e teoria da constituição, p. 446
105
113
Apelação Cível n. 825251, Relator Juiz Federal Maurício Kato, 18/2/2003, Tribunal Regional
Federal da 3ª Região.
114
SÚMULA N. 05 "Para fins de concessão do auxílio-reclusão, o conceito de renda bruta mensal
se refere à renda auferida pelos dependentes e não a do segurado recluso".
106
115
Recurso sentença n. 2004.51.54.000845-2-1. 1ª TR/RJ, Rel. Juiz Federal Marcelo Leonardo
Tavares. Votaram as juízas federais Geraldine Pinto Vital de Castro e Andréa Cunha
Esmeraldo, Boletim das Turmas Recursais da Justiça Federal do Rio de Janeiro, Ano II, n. 11,
dez./2005 a fev./2005, p. 05.
116
BARROSO, Luís Roberto e BARCELLOS, Ana Paula. A nova interpretação constitucional –
ponderação, direitos fundamentais e relações privadas, in O Começo da História. A
interpretação constitucional e o papel dos princípios no direito brasileiro, p. 361.
107
aos limites legais, ante a atualização do limite constitucional imposto, não será
cabível conceder o benefício, visto que a aferição da subsunção do fato à norma
hipotética do benefício deverá ser feita no momento da ocorrência do fato
imponível e não posteriormente.
117
COIMBRA, Feijó. Direito previdenciário brasileiro, p. 108.
110
118
HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito previdenciário, p. 114.
113
Com efeito, não se questionaria eventual lei que viesse a reduzir a idade
para fins de perda da condição de dependente, acompanhando-se a maioridade
civil, visto ser esse o marco considerado pelo ordenamento jurídico: de que o
jovem estaria apto a conduzir sua própria vida e prover sua própria subsistência.
Entretanto, para isso, seria necessária uma lei que alterasse aquele
dispositivo legal. Por ora, deve ser aplicada previsão legal de 21 anos, garantido
aos dependentes do segurado recluso o direito ao auxílio-reclusão até o
implemento dessa idade, se outra causa de emancipação não se verificar antes.
Com efeito, a redação do artigo 16, inciso I, trata do filho não emancipado,
de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido.
119
Considerações aplicáveis também aos irmãos, dependentes da classe II.
116
120
DERZI, Heloísa Hernandez. Os beneficiários da pensão por morte, p. 228
117
122
De outra parte, vale registrar crítica formulada por Heloísa Derzi à
presunção de dependência econômica dos cônjuges, com a qual manifestamos
expressa concordância:
121
DERZI, Heloísa Hernandez. Os beneficiários da pensão por morte, p. 207.
122
Ob. Cit., p. 228.
118
De qualquer sorte – ainda que se possa criticar tal fato –, hoje, para os
segurados de primeira classe, isto é, aqueles elencados no artigo 16, inciso I, da
Lei n. 8.213/91, não se exige prova da efetiva necessidade, bastando comprovar
a condição de dependente, não havendo qualquer previsão de que comprovação
em sentido contrário excluiria o direito dos dependentes.
123
Internet: <www.cjf.gov.br/jurisprudencia>
124
ACP n. 1999.38.00.004900-0/MG, TRF, 1a Região; ACP n. 97.0057902-6/SP, Autos n.
98.0000595-1, 1a vara de Sergipe, autos n. 1999.43.00.000326-2, TRF da 2a Região.
125
DERZI, Heloísa Hernandes. Os beneficiários da pensão por morte, p. 284.
120
Fixam-se, portanto, dois marcos a partir dos quais será devida a prestação
do auxílio-reclusão: a) a data do evento prisão, desde que o requerimento
administrativo seja formalizado no prazo de trinta dias da ocorrência do evento; b)
a partir do requerimento administrativo.
126
HORVATH JÚNIOR, Miguel. Direito Previdenciário. 4. ed. São Paulo: Quartier Latin, 2004, p.17.
122
127
RUSSOMANO, Mozart Victor. Curso de previdência social, p. 260.
123
128
COIMBRA, Feijó, Direito previdenciário brasileiro, 151.
124
129
A exclusão da exigência contida na lei teria, sem dúvida, a vantagem de tornar mais humana a
disposição legal voltada para o amparo dos dependentes daqueles que, por algum motivo,
sejam objeto da ação da Justiça Penal, mas cujos atos, por mais deploráveis e condenáveis que
possam ter sido, não devem ter sua penalização ultrapassante da pessoa do delinqüente, nem
põem contribuir para ditar o desinteresse social pelos que deles deveriam receber sustento.
COIMBRA, Feijó, Direito previdenciário Brasileiro, 6.ed.,Rio de Janeiro:Edições Trabalhistas,
1996, 151
130
IBAIXE JUNIOR, João. Auxílio-reclusão na Lei 10.666/03. Revista de Previdência Social, São
Paulo, n. 271, p. 486-489.
125
a) Soltura do segurado
131
CASTRO, Carlos Alberto Pereira; LAZZARI, João Batista, Manual de Direito Previdenciário, p.
502.
126
Dessa forma, o benefício será pago até o momento em que não houver
dependentes em condições legais ao recebimento, com o que se extingue a
relação previdenciária do benefício do auxílio-reclusão.
f) Morte do segurado
com a morte, altera-se a situação fática, fazendo com que os fatos da realidade
não subsumam mais a hipótese normativa do auxílio-reclusão.
132
Art. 118. Falecendo o segurado detido ou recluso, o auxílio-reclusão que estiver sendo pago
será automaticamente convertido em pensão por morte.
129
133
ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária, p. 54.
134
VILANOVA, Lourival. Causalidade e Relação no Direito, p.75.
135
Ob. Cit. p. 84.
131
136
Segundo as palavras do autor: “a hipótese, como proposição descritiva de situação objetiva
real, na lição rigorosamente correta de Lourival Vilanova, é construída pela vontade do
legislador, que recolhe os dados de fato da realidade que deseja disciplinar (realidade social),
qualificando-os normativamente, como fatos jurídicos. Mas esse descritor, que é o antecedente
ou suposto da norma, está imerso na linguagem prescritiva do direito positivo, porque, mesmo
formulado por um conceito de teor descritivo, vem atrelado à conseqüência da regra, onde
reside a estipulação da conduta (prescritor), meta finalística e razão da própria existência do
direito” (Cf Carvalho, Paulo de Barros, Curso de Direito Tributário, p. 166/167).
137
ATALIBA, Geraldo. Hipótese de Incidência Tributária, p. 70.
132
Não há que se falar em existência de uma lei ou norma que trate do critério
material e de outra acerca do espacial, pois são realidades da mesma norma, a
qual é subdividida apenas para fins didáticos e para facilitar a compreensão da
matéria.
4.2. Carência
139
Adota-se nessa descrição a redação empregada pelo legislador constituinte, remetendo-se o
leitor ao Capitulo III, item 3.4.5, no qual foram abordadas todas as questões decorrentes da
alteração trazida pela Emenda Constitucional n. 20/98, relativa à expressão “baixa renda” .
Observa-se, no entanto, que, caso se entenda que a baixa renda refere-se aos dependentes,
estes passarão a ser critério limitador do sujeito ativo da relação jurídico-previdenciária.
135
Necessário ainda que o segurado esteja recolhido à prisão, razão pela qual
não se concederá o benefício caso tenha sido ele beneficiado com o instituto do
sursis ou do livramento condicional, visto que estaria o condenado, ainda que em
cumprimento de pena, em liberdade, podendo firmar contrato de trabalho ou
exercer atividade remunerada que garanta a subsistência de sua família. Da
mesma forma, não será devido o benefício quando o cumprimento de pena
privativa de liberdade seja em regime aberto.
Assim, ainda que o segurado venha a ser detido em outro país, desde que
o segurado esteja filiado ao sistema previdenciário, não há razões para que o
direito dos dependentes seja tolhido ou limitado.
140
PULINO, Daniel. A Aposentadoria por invalidez no direito positivo brasileiro,p. 80.
136
Art. 80. O valor mensal da pensão por morte será de cem por
cento do valor da aposentadoria que o segurado recebia ou
daquela a que teria direito se estivesse aposentado por invalidez
na data de seu falecimento, observado o disposto no art. 33
desta Lei” (grifo nosso).
4.4.2.2. Alíquota
141
BONAVIDES, Paulo. Curso de direito constitucional., p. 338.
142
142
ACP n. 2004.61.83.0005626-4 que tramitou perante a 2a Vara Previdenciária de São Paulo .
143
143
Cintra, Antônio Carlos de Araújo, et al. Teoria geral do processo, p.. 34.
145
Entretanto, foi com a lei da ação civil pública, Lei n. 7.347, de 24 de julho
de 1985, que tratou da ação de responsabilidade por danos praticados ao meio
ambiente, ao consumidor a bens e direitos de valor artístico, histórico, turístico e
paisagístico, que se instituíram mecanismos mais efetivos de tutela de bens
metaindividuais.
Não obstante a lei trate da ação civil pública, o que à primeira vista poderia
ser entendido como uma espécie de ação específica, em realidade, instituíram-se
“mecanismos procedimentais adequados para a defesa dos interesses
144
metaindividuais” e não apenas um tipo determinado de instrumento processual,
trazendo novas regras acerca da legitimidade ativa, que se apresenta como
sendo concorrente e disjuntiva dentre todos os sujeitos enumerados pelo artigo 5o
da Lei da Ação Civil Pública e 81 do Código de Defesa do Consumidor e,
também, quanto às regras da coisa julgada, com efeitos amplos erga omnes ou
ultra partes, dependendo do tipo de direito envolvido na demanda.
144
Souza, Montauri Ciocchetti de. Ação civil pública e inquérito civil, p. 24.
145
Art. 110. Acrescente-se o seguinte inciso IV ao art. 1º da Lei nº 7.347, de 24 de julho de 1985:
“IV - a qualquer outro interesse difuso ou coletivo”.
146
Art. 90. Aplicam-se às ações previstas neste Título as normas do Código de Processo Civil e da
Lei nº 7347, de 24 de julho de 1985, inclusive no que respeita ao inquérito civil, naquilo que não
contrariar suas disposições.
147
Art. 21. Aplicam-se à defesa dos direitos e interesses difusos, coletivos e individuais, no que for
cabível, os dispositivos do Título III da Lei que instituiu o Código de Defesa do Consumidor.
147
148
MAZZILI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos, p. 52.
149
VIGLIAR, José Marcelo Menezes. Ação civil pública ou ação coletiva? in Ação civil pública –
Lei 7.347/4985 – 15 anos, (Coord.) Edis Milaré, p. 444.
148
Hugo Nigro Mazzili150 pugna pela utilização da rubrica ação pública para
designar a ação proposta pelo Ministério Público na defesa de direitos
metaindividuais, sejam eles difusos, coletivos ou individuais homogêneos, e
reserva a expressão ação coletiva às ações propostas pelos demais co-
legitimados mencionados no art. 5º da Lei da Ação Civil Pública. De outro lado, há
entendimentos que sustentam a equivalência das expressões.
150
MAZZILI, Hugo Nigro. A Defesa dos Interesses Difusos, p. 52-53.
151
SHIMURA, Sergio. Tutela coletiva e sua efetividade, p. 43.
149
152
MENDES, Gilmar Ferreira. Direitos fundamentais e o controle de constitucionalidade: estudos
de direito constitucional. p. 379-381.
153
MORAES, Alexandre de. Direito constitucional, p. 646,
152
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo através de ação civil pública, seja por
meio de pedido principal ou incidental, ante a impossibilidade de restringirem-se
os efeitos da declaração às partes envolvidas no processo.
Consigna José dos Santos Carvalho Filho que essa matéria nunca suscitou
controvérsia de grande vulto, embora a lei da ação popular – Lei n. 4.717/65 – já
previsse decisão com efeitos erga omnes. Indaga então o autor: por que a
matéria suscita tanta discussão em sede de ação civil pública? Atribui o referido
autor essa distinção de tratamento ao fato de que, na ação popular, o provimento
jurisdicional terá sempre natureza desconstitutiva do ato administrativo lesivo a
determinados bens, sendo de “extrema simplicidade constatar que efeito derivado
de sentença anulatória de ato lesivo a certos bens é uma coisa, enquanto efeito
153
de decisão que julga inconstitucional certa lei ou ato normativo, como questão
principal, é coisa inteiramente diversa”154.
De fato, a Lei da ação civil pública (Lei n. 7.347/85) em seu art. 3o dispõe
que ”a ação civil poderá ter por objeto a condenação em dinheiro ou o
cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer” (nossos os destaques).
154
CARVALHO FILHO, José Santos. Ação civil pública e inconstitucionalidade incidental de lei ou
ato normativo, p. 106.
155
Meirelles, Hely Lopes. Mandado de segurança, ação popular, p. 157.
154
156
MAZZILLI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo: meio ambiente, consumidor e
outros interesses difusos e coletivos, p. 93.
158
157
SOUZA, Lílian Castro de. As normas sobre seguridade social na constituição de 1988 como
evolução dos direitos fundamentais da pessoa humana, in Introdução ao direito previdenciário,
p. 94.
160
Entretanto, ainda que não se trate de direito difuso, coletivo stricto sensu,
entendemos que a tutela coletiva, ainda assim, consiste em uma das armas mais
eficientes e que melhor garantem as finalidades dos fins da seguridade social,
mormente em vista da busca da garantia do direito à igualdade.
161
Sérgio Shimura leciona que “um mesmo fato pode ensejar diferentes tipos
de tutela, por ofender diversos tipos de interesses, como previsto pelo próprio art.
99, CDC, ao conceber a possibilidade de várias espécies de indenizações
‘resultantes de um mesmo evento danoso’”158.
158
SHIMURA, Sérgio. Tutela coletiva e sua efetividade, p. 46.
162
A espécie de bem jurídico tutelado por meio das ações civis públicas será
fixada pelo autor da ação, ao formular o pedido da causa de pedir. Assim, se se
pleiteia por meio da ação uma solução geral, que beneficie de modo uniforme
todas as pessoas que se encontrem na mesma situação, a ação destina-se à
tutela de direito coletivo160. Em se tratando de direito coletivo ou difuso, dúvidas
não restam quanto à legitimação do Ministério Público para propor ação civil
pública já que tal atribuição encontra-se expressamente prevista no inciso III do
artigo 129 da Carta Constitucional.
159
Watanabe, Kazuo, in Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, comentado pelos autores do
anteprojeto, p. 729.
160
Kazuo Watanabe traz como exemplo eventual ação para desbloqueio dos cruzados, aduzindo
que se na ação coletiva busca-se a desconstituição do ato geral de bloqueio, a ação será
verdadeiramente uma demanda coletiva, cf. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor,
comentado pelos autores do anteprojeto, p. 727/728.
164
161
Watanabe, Kazuo, in Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, comentado pelos autores do
anteprojeto, p. 732.
165
162
SHIMURA. Sergio. Tutela Coletiva e sua Efetividade. p. 80.
163
Watanabe, Kazuo, in Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, comentado pelos autores do
anteprojeto, p. 736/737.
166
164
MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Ação civil pública em defesa do meio ambiente, do
patrimônio cultural e dos consumidores, p. 126.
165
Watanabe, Kazuo, in Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, comentado pelos autores do
anteprojeto, Código Brasileiro do Consumidor p. 735.
168
166
Contra-razões ao recurso de apelação apresentada pelo Ministério Público Federal em autos
do processo n. 2004.61.83.005626-4, que tramitou perante a 2ª Vara Federal Previdenciária da
Subseção Judiciária de São Paulo.
169
167
Watanabe, Kazuo, in Código Brasileiro de Defesa do Consumidor, comentado pelos autores do
anteprojeto, Código Brasileiro do Consumidor, p. 725.
170
Tal multiplicidade pode ser atribuída à regra trazida pela Lei n. 9.494/97
(antes Medida Provisória n. 1.570/97), que deu nova redação ao artigo 16 da Lei
n. 7.347/85, limitando os efeitos da coisa julgada aos limites da competência
territorial do órgão prolator.
168
NERY, Rosa Maria de Andrade, NERY JUNIOR, Nelson. Código de processo civil comentado e
legislação processual extravagante em vigor, p. 1366/1367.
171
169
STJ, Resp 293.407, rel. Min. Barros Monteiro, j. 22/10/2002.
170
STF, Pleno, ADin, 1.576-1, rel. Min. Marco Aurélio, j. 16/4/1997, m.v., DJU 24/4/1997, p.
14.914.
172
CONCLUSÕES
Diante da distinção entre pedido e causa de pedir das ações civis públicas
e ação direta de inconstitucionalidade não se verifica usurpação da competência
do Supremo Tribunal Federal, quando haja reconhecimento incidental de
inconstitucionalidade da lei ou ato normativo.
A extensão erga omnes ou ultra partes nas ações civis públicas refere-se
aos limites subjetivos da coisa julgada, não fazendo a declaração incidental de
inconstitucionalidade eventualmente proferida em ação civil pública coisa julgada.
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