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1ª Fase | 39° Exame da OAB

Direito Previdenciário

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

Olá! Boas-Vindas!
Cada material foi preparado com muito carinho para que você
possa absorver da melhor forma possível, conteúdos de qua-
lidade!

Lembre-se de que o seu sonho também é o nosso!

Bons estudos! Estamos com você até a sua aprovação!

Com carinho,

Equipe Ceisc ♥

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Direito Previdenciário

1ª FASE OAB | 39° EXAME

Direito Previdenciário
Prof. Guilherme Volpato de Souza

Sumário

1. Seguridade Social .................................................................................................................... 4


2. Previdência Social ................................................................................................................. 10
3. Benefícios em Espécie........................................................................................................... 40
4. Assistência Social .................................................................................................................. 67
5. Prescrição e Decadência ....................................................................................................... 71

Olá, aluno(a). Este material de apoio foi organizado com base nas aulas do curso preparatório para
a 1ª Fase OAB e deve ser utilizado como um roteiro para as respectivas aulas. Além disso, reco-
menda-se que o aluno assista as aulas acompanhado da legislação pertinente.

Bons estudos, Equipe Ceisc.


Atualizado em julho de 2023.

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

1. Seguridade Social

Prof. Guilherme Volpato


@guilhermevsouza

1.1 Conceito Constitucional


No decorrer das aulas você verá que o direito previdenciário é parte de uma grande en-
grenagem chamada seguridade social. A seguridade social é composta por previdência social,
assistência social e saúde. Cada uma destas partes tem suas particularidades na Constituição
Federal a partir do artigo 194:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações de iniciativa


dos Poderes Públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os direitos relativos à sa-
úde, à previdência e à assistência social.

A seguridade social na forma como está disposta na CF/1988 é uma adaptação a reali-
dade brasileira do modelo de seguridade social proposto por William Beveridge, na Inglaterra,
em 1942. Foi construída em um contexto entre as duas grandes guerras mundiais, de uma soci-
edade industrial e com uma série de problemas, entre eles os sociais, inerentes àquele momento
histórico.
Este modelo de seguridade social protege tanto os trabalhadores que contribuem para o
sistema previdenciário, quanto às pessoas que pelas mais variadas razões não contribuem, mas
preenchem outros requisitos legais, para obtenção de um benefício. Por esta razão, é reconhe-
cido como um “sistema” de repartição/universalização de proteção social.
Surgiu em contraposição ao “sistema” de capitalização proposto pelo Chanceler alemão
Otto Von Bismarck, na Alemanha, no ano de 1883. Neste modelo, a proteção era exclusiva ao
trabalhador, proporcionalmente contribuição do trabalhador para o sistema previdenciário. Em
síntese, quem contribuía tinha proteção e quem não contribuía ficava sem qualquer proteção
Estatal em matéria de seguridade social. Foi uma forma que o Chanceler Alemão encontrou para
responder aos anseios da classe trabalhadora na fase final da revolução industrial e no começo
da transição do Estado Liberal para o Estado Social.
Importante aqui referir que não se trata de modelos necessariamente excludentes, mas
que surgem em momentos distintos, tendo, então, respostas distintas, em razão das contingên-
cias das respectivas épocas.

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Logo, afirmar que a seguridade social brasileira tem como modelo o sistema de re-
partição/universalização não significa excluir o sistema de capitalização, afinal, como será
visto a seguir, a seguridade social brasileira divide-se em um tripé composto por: previ-
dência social, assistência social, e, saúde. A primeira exige contribuição, e as duas últimas
não.

*Para todos verem: esquema

Seguridade
Social

Previdência Assistência
Saúde
Social Social

1.2 Previdência Social e Assistência Social


Tendo em vista uma possível sobreposição de disciplinas (previdenciário e constitucional),
nesta disciplina o enfoque será sobre a previdência social (de caráter contributivo) e a assistência
social (de caráter não contributivo)
Comecemos pela previdência social, disposta no artigo 201 da CF/1988:

Art. 201. A previdência social será organizada sob a forma do Regime Geral de Previdên-
cia Social, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que pre-
servem o equilíbrio financeiro e atuarial, e atenderá, na forma da lei.

O caput do artigo 201 possui muitas informações importantes para a disciplina. A primeira,
que a previdência social será organizada em forma de Regime Geral de Previdência Social,
o que é representado pela sigla (RGPS). Esta menção é feita, pois os servidores públicos, em
sua maioria, terão um Regime Próprio de Previdência Social (RPPS). E, quando não houver
regime próprio para garantia do servidor público, este será protegido pelo regime geral, o que se
aplica aos cargos de confiança, de livre nomeação e exoneração, por exemplo. O grande obje-
tivo da Seguridade Social é não deixar o trabalhador desprotegido.
A segunda informação importante trazida pelo caput do artigo 201 é que o Regime Geral
de Previdência Social será de caráter contributivo. Isso significa dizer que quem contribui
financeiramente para o sistema previdenciário estará protegido, e, quem não contribui não terá

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proteção previdenciária, com exceção aos que se encontram no período de graça, que será visto
adiante.
A terceira informação colhida do caput é que a previdência social é de filiação obrigató-
ria. Isto quer dizer que qualquer pessoa que tenha uma fonte de renda decorrente de atividade
laborativa, seja ela qual for, deverá obrigatoriamente contribuir para a previdência social. Não é
uma faculdade/escolha. É uma obrigação, nos termos do artigo 5º, inciso II da CF/1988, que, ao
prescrever o princípio da legalidade para particular, determina que “ninguém será obrigado a
fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.

*Para todos verem: esquema

Regime Geral
(RGPS)

Previdência Caráter
Social Contributivo

Filiação
Obrigatória

Por fim, quando a CF/1988 menciona o equilíbrio financeiro e atuarial, isso significa que
um dos objetivos da seguridade social brasileira é ser autossustentável, quando comparados as
contribuições e os benefícios pagos pelo sistema. Nesse sentido, as reformas, como a realizada
no ano de 2019, justificam-se na medida em que neste momento histórico se vivencia uma redu-
ção de natalidade, que é somada ao aumento da expectativa de sobrevida (período computado
entre a aposentadoria e a data do óbito) em razão, entre outros, dos avanços tecnológicos vi-
venciados, como na saúde, por exemplo.
Os incisos I à V do artigo 201 da CF/1988 trazem o que chamamos em direito previdenci-
ário de riscos sociais protegidos pela previdência social, tanto aos segurados quanto aos seus
dependentes. Aos segurados, os riscos sociais protegidos são: a incapacidade temporária ou
permanente para o trabalho, a idade avançada, à maternidade e a adoção, e, o desemprego
involuntário. Aos dependentes, a morte do segurado, e, aos segurados que se enquadram como
sendo de baixa renda, que terão acesso a benefícios específicos nesta condição.

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Art. 201.
I - cobertura dos eventos de incapacidade temporária ou permanente para o trabalho e
idade avançada;
II - proteção à maternidade, especialmente à gestante;
III - proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;
IV - salário-família e auxílio-reclusão para os dependentes dos segurados de baixa
renda;
V - pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou companheiro e de-
pendentes, observado o disposto no § 2º.

Far-se-á um parágrafo para falar sobre a previdência privada, a qual, ao contrário da


previdência social, será de filiação facultativa (ou seja, é uma escolha da pessoa), terá um caráter
contributivo complementar à previdência social, e será organizado de forma autônoma ao Re-
gime Geral de Previdência Social, sendo regulado por lei complementar, tal qual previsto no
artigo 202 da CF/1988:

Art. 202. O regime de previdência privada, de caráter complementar e organizado de


forma autônoma em relação ao regime geral de previdência social, será facultativo, base-
ado na constituição de reservas que garantam o benefício contratado, e regulado por lei
complementar.

Por seu turno, a assistência social tem previsão constitucional no artigo 203 da CF/1988:

Art. 203. A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente
de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:

Na assistência social, é importante perceber que não se faz menção a qualquer regime.
A garantia constitucional é que será prestada a quem dela necessitar, sem qualquer contribuição
à seguridade social. Como anteriormente referido, protege, quando implementados os demais
requisitos previstos em lei, as pessoas que, por quaisquer razões, não contribuem para a segu-
ridade social.
Para o objeto de estudo de seguridade social, o único inciso a ser estudado na disciplina
será o inciso V, o qual estabelece:

Art. 203. (...)


V - a garantia de um salário-mínimo de benefício mensal à pessoa portadora de deficiência
e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-
la provida por sua família, conforme dispuser a lei.

Isto significa que o benefício da assistência social, que será chamado de Benefício de
Prestação Continuada (BPC), será devido a quem dele necessitar, independentemente de con-
tribuição, será no valor de um salário mínimo mensal, e será pago em duas hipóteses: quando

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se tratar de pessoa com deficiência, nos termos do artigo 2º da Lei nº 13.146/2015, e, ao idoso
com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais, desde que, em ambas as condições, a pessoa com
deficiência e o idoso não tenham condições de prover a própria manutenção, ou de tê-la provida
por sua família. Mais adiante haverá um tópico específico sobre o benefício de prestação conti-
nuada (benefício da assistência social), no qual será detalhada do que se trata essa condição de
impossibilidade de sustento próprio.

*Para todos verem: esquema

Não contributivo

Assistência A quem dela


Social necessitar Idoso
(65 anos ou
1 Salário mais)
Mínimo (BPC)
Pessoa com
Deficiência

1.3 Princípios Constitucionais Previdenciários


Vistos os conceitos constitucionais de seguridade social, previdência social, previdência
complementar e assistência social, passa-se ao estudo dos princípios constitucionais previden-
ciários, previstos nos incisos I à VII do parágrafo único do artigo 194 da CF/1988:

Art. 194. (...)


Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade
social, com base nos seguintes objetivos:
I - universalidade da cobertura e do atendimento.

Por universalidade da cobertura e do atendimento deve ser compreendida a cobertura


de contingência sociais, em modalidades distintas, para os casos nos quais existe, ou não, con-
tribuição para a seguridade social. Lembrem-se de que a seguridade social é formada pelo tripé
previdência social, assistência social e saúde.

Art. 194. (...)


Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade
social, com base nos seguintes objetivos:

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II - uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas e ru-


rais.

Por uniformidade e equivalência dos benefícios e serviços às populações urbanas


e rurais, entenda-se aplicação por analogia ao que dispõe o artigo 7º da CF/1988 que confere
tratamento uniforme a trabalhadores urbanos e rurais. Importante referir que tratamento uniforme
não significa que os benefícios previdenciários serão necessariamente no mesmo valor para a
população urbana e rural. Para os benefícios previdenciários, os valores terão como base de
cálculo os valores efetivamente contribuídos. Logo, o valor do benefício dependerá de cada caso
especificadamente.

Art. 194. (...)


Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade
social, com base nos seguintes objetivos:
III - seletividade e distributividade na prestação dos benefícios e serviços.

A seletividade e distributividade na prestação de benefícios e serviços são em al-


guma medida expressão do modelo democrático em que vivemos, por meio do qual o legislador,
representante do povo, regulamentará quem terá direito a algum benefício ou serviço, quando
isso ocorrerá, por quanto tempo isso ocorrerá e qual valor será pago. Para além disso, a distri-
butividade diz respeito também como garantia ao bem-estar e justiça social.

Art. 194. (...)


Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade
social, com base nos seguintes objetivos:
IV - irredutibilidade do valor dos benefícios.

A irredutibilidade do valor dos benefícios significa que os benefícios previdenciários e


assistencial não podem ter seu valor nominal reduzido. Na prática, o que ocorre é que os bene-
fícios são corrigidos por índices que via de regra são inferiores a inflação. Isso faticamente acar-
reta uma perda de valor real do benefício (poder de compra), mas não significa redução do valor
nominal.
Art. 194. (...)
Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade
social, com base nos seguintes objetivos:
V - equidade na forma de participação no custeio.

A equidade na forma de participação do custeio deve ser entendida como contribuição


conforme a capacidade contributiva. Como será visto adiante, o pequeno produtor rural contribui

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com um percentual muito inferior ao empresário, por exemplo. Entretanto, a seguridade social
protegerá a ambos, na proporção da contribuição de cada um deles.

Art. 194. (...)


Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade
social, com base nos seguintes objetivos:
VI – diversidade da base de financiamento, identificando-se, em rubricas contábeis espe-
cíficas para cada área, as receitas e as despesas vinculadas a ações de saúde, previdên-
cia e assistência social, preservado o caráter contributivo da previdência social.

Como anteriormente exposto, a seguridade social brasileira adota o modelo de reparti-


ção/universalização, alcançando proteção social à contribuintes e não contribuintes. Entretanto,
para que isto seja possível, existem várias fontes pagadoras. Tanto é assim que o caput do artigo
194 da CF/1988 aponta a seguridade social como resultado de um conjunto integrado de ações,
de iniciativa pública e privada. Logo, há contribuição da iniciativa pública e privada para a segu-
ridade social. Isso faz com que a diversidade da base de financiamento seja um princípio
constitucional da seguridade social.

Art. 194. (...)


Parágrafo único. Compete ao Poder Público, nos termos da lei, organizar a seguridade
social, com base nos seguintes objetivos:
VII – caráter democrático e descentralizado da administração, mediante gestão quadripar-
tite, com participação dos trabalhadores, dos empregadores, dos aposentados e do Go-
verno nos órgãos colegiados.

O caráter democrático e descentralizado da administração guarda relação a existên-


cia de intermediação e discussão de toda a sociedade quando se trata de gestão de recursos,
programas, planos, serviços e ações em matéria de previdência social, assistência social, e,
saúde. Em outras palavras, os conselhos possuem composição paritária e são integrados por
representantes do Governo, dos trabalhadores, dos empregadores, e, dos aposentados.

2. Previdência Social

2.1 Conceito
A previdência social antes de qualquer outra coisa é um direito fundamental. Essa afirma-
ção decorre da positivação constitucional no caput do artigo 6º da CF/1988. Trata-se de um di-
reito fundamental em sentido tanto formal, por constar expressamente no texto constitucional,

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quanto material, na medida em que contribui decisivamente para a concretização da dignidade


da pessoa humana. Em verdade, a previdência social se revela fundamental em especial nos
momentos nos quais o cidadão tem, de forma temporária ou permanente, sua força laboral afe-
tada, por quaisquer razões que se possa cogitar.
Entretanto, a proteção do cidadão pela previdência social dependerá da observância do
caráter contributivo que ela possui. Essa obrigatoriedade no recolhimento de contribuições im-
plica restrição no acesso à cobertura previdenciária. Dessa realidade se percebe a intenção do
legislador em estabelecer uma relação de direitos e deveres do cidadão e da Administração Pú-
blica. É em razão desse vínculo estabelecido entre capacidade contributiva do cidadão e as
prestações previdenciárias ofertadas que se materializa a expectativa jurídica legítima de prote-
ção social em momentos previstos na legislação.
Distingue-se fundamentalmente da proteção social oferecida pela Assistência Social e da
Saúde, as quais são caracterizadas pelas prestações não contributivas, que asseguram, com
fundamento no princípio da universalidade da cobertura e do atendimento, direitos a quem delas
necessitar, observados os requisitos legais de cada uma das espécies.
Importante ainda mencionar que a previdência social é moldada na solidariedade, na
medida em que é organizada de forma coletiva compulsória, com o objetivo de proteger os tra-
balhadores e seus dependentes, no período de tempo e no valor determinado em lei, contra
ameaça ou efeitos decorrentes dos riscos sociais estabelecidos nos incisos I à V do artigo 201
da CF/1988.
Em termos conceituais, a previdência social pode ser classificada como um direito pres-
tacional, na medida em que gera o dever de atuação protetiva da Administração Pública, e é
distribuída em benefícios e serviços, como aposentadorias, pensão por morte, salário-materni-
dade, salário-família, auxílio-reclusão, reabilitação profissional, entre outros.
Isso posto, a previdência social pode ser entendida como técnica proteção que objetiva
reduzir o máximo possível os efeitos nocivos dos riscos sociais previstos em lei e na CF/1988,
estruturada a partir da forma econômica de um seguro obrigatório, financiado por toda a socie-
dade (trabalhadores, empresas e o Estado).

2.2 Aplicação da Lei Previdenciária no Tempo


A discussão sobre a aplicação da lei previdenciária no tempo surge em razão da sucessão
de leis destinadas a disciplinar fenômenos sociais idênticos em momentos distintos. Alguns dou-
trinadores utilizam a expressão direito intertemporal, no qual deve ser definida, em razão da

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alteração legislativa e do conflito de leis no tempo, qual é a norma aplicável a determinado fato
ou relação jurídica.
Pode-se afirmar que a questão da aplicação da lei previdenciária no tempo guarda estrita
relação com o princípio constitucional da segurança jurídica, previsto no artigo 5º, inciso XXXVI
da CF/1988, condicionando a solução do conflito de leis de modo que “a lei não prejudicará o
direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”.
Em matéria previdenciária, a existência do direito e as condições para sua concessão
deverão ser determinadas conforme a lei vigente quando da reunião dos requisitos para
sua concessão, e, não necessariamente, quanto da formalização do requerimento. Isto porque,
a lei em vigor quando do requerimento pode ser menos favorável ao segurado, seja por alterar
os pressupostos legais, ou ainda, que empregue metodologia de cálculo que implique em bene-
fício de menor valor se comparado com a lei anterior.
Neste sentido já se manifestou reiteradas vezes o Supremo Tribunal Federal (STF):

Em matéria previdenciária, a lei de regência é a vigente ao tempo em que reunidos os re-


quisitos para a concessão do benefício (princípio tempus regit actum). Precedentes.
(STF, RE 577827 AgR/RJ, 2ª TURMA, Rel. Min. ELLEN GRACIE, DJe-112 DIVULG 10-
06-2011 PUBLIC 13-06-2011)
O Supremo Tribunal Federal tem orientação firmada no sentido de que, em matéria previ-
denciária, se aplica a lei vigente ao tempo da reunião dos requisitos para a conces-
são do benefício. Aplicação da máxima tempus regit actum. (STF, ARE 1172975 AgR/RJ,
2ª TURMA, Rel. Min. EDSON FACHIN, DJe-191 DIVULG 02-09-2019 PUBLIC 03-09-
2019)

Em outras palavras, a lei que disciplinará a relação jurídica é a lei vigente ao tempo em
que foram preenchidos os requisitos legais para a concessão do benefício previdenciário, ou
seja, a lei vigente no tempo em que o direito foi adquirido, pois, o tempus regit actum impede a
retroação da lei nova mais restritiva de direito à proteção social.
*Para todos verem: quadro

Aplicação da Lei Previdenciária no Tempo


TEMPUS REGIT ACTUM

2.3 Regime Geral de Previdência Social


Regime geral de previdência social é o meio pelo qual se concretiza o direito fundamental
à previdência social. Pode ser entendido como o conjunto de normas que disciplinam as relações

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jurídicas entre a instituição responsável pela concessão e manutenção das prestações previden-
ciárias e o grupo de pessoas protegidas, os beneficiários.
Deve levar em consideração as condições particulares decorrentes de fatores econômi-
cos, sociais, políticos e ideológicos, os quais contribuem de forma decisiva na implementação e
efetivação do regime geral de previdência social. Por exemplo, em países que adotam o sistema
de repartição/universalização, a projeção populacional é fator determinante nas decisões a se-
rem tomadas, levando-se em consideração o número de contribuintes, o número de beneficiá-
rios, a expectativa de sobrevida, e, os índices de natalidade.
A justificativa para que sejam levados em consideração tantos fatores decorre do compro-
misso estatal de estimar, avaliar e quantificar o montante de recursos financeiros frente a prote-
ção previdenciária devida. Tem-se então que em um regime geral de previdência social são re-
alizadas economias forçadas ao trabalhador, para além das outras fontes de receitas, de modo
que a instituição responsável possa efetivar a redistribuição no tempo das rendas arrecadadas,
de modo a permitir uma vida digna aos trabalhadores nos momentos de necessidade social.
No Brasil, o regime geral de previdência social é regulamentado pela Lei 8.213/91, a lei
de benefícios da previdência social (LBPS), sendo a responsável por sua gestão o Instituto Na-
cional do Seguro Social (INSS). Importante também mencionar o Decreto 3.048/99, o regula-
mento da previdência social, sendo esta a legislação que atualmente está em conformidade com
a última grande reforma previdenciária, decorrente da Emenda Constitucional 103/19.
Merece destaque aqui o campo de aplicação do regime geral de previdência social. Ele
abrange não somente as pessoas que exercem atividade remunerada, mas pode abranger pes-
soas que não tem atividade remunerada que escolhem contribuir e ter proteção previdenciária.
São os segurados facultativos, que serão estudados em um tópico específico adiante.
Além destes o regime geral de previdência social abrange “ao agente público ocupante,
exclusivamente, de cargo em comissão declarado em lei de livre nomeação e exoneração, de
outro cargo temporário, inclusive mandato eletivo, ou de emprego público”, nos termos do artigo
40, parágrafo 13º da CF/1988.
O regime geral de previdência social destina-se ainda ao servidor público civil ocupante
de cargo efetivo ou militar que não dispuser de Regime Próprio de Previdência Social (RPPS),
afinal, um dos objetivos da previdência social é proteger o trabalhador, mediante contribuição
compulsória, quando acometido por algum dos riscos sociais previstos em lei. Por exemplo, o
município de Canela, na região da Serra Gaúcha, não possui regime próprio de previdência.

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Neste caso, os servidores públicos efetivos contribuem compulsoriamente e são protegidos pelo
regime geral de previdência social.
Por fim, o regime geral de previdência social é destinado ao servidor ou o militar que “ve-
nham a exercer, concomitantemente, uma ou mais atividades abrangidas pelo Regime Geral de
Previdência Social”. Por exemplo, um médico que é servidor público em um hospital, e, conco-
mitantemente possui uma clínica particular. Da remuneração na clínica particular será devida
contribuição previdenciária obrigatória ao regime geral de previdência social, havendo como con-
trapartida a proteção caso o médico seja acometido por algum risco social previsto em lei.
Com isto, pode-se concluir que é inverídica a afirmação de que o regime geral de pre-
vidência social é destinado exclusivamente aos trabalhadores da iniciativa privada. Como
visto nos parágrafos anteriores, em algumas hipóteses haverá proteção ao servidor público
ou militar, a depender do caso.
*Para todos verem: esquema

Com Atividade
Remunerada

Iniciativa Privada

Sem Atividade
Remunerada

Alcance do RGPS Agente Público Cargo de Confiança

Sem Regime
Próprio de
Previdência Social
(RPPS)
Servidor Público
Efetivo ou Militar
Que exerça
atividade
concomitante do
RGPS

2.4 Segurados do Regime Geral de Previdência Social


Tratar de segurados do regime geral de previdência social significa falar sobre as
pessoas que são protegidas pelo seguro social. Entre eles, sua grande maioria estará

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protegido em razão da contribuição obrigatória a que são submetidos, seja da iniciativa privada,
ou ainda, nos casos específicos, da iniciativa pública. Além dos que contribuem de forma obri-
gatória, o legislador autorizou que pessoas que não têm fonte de renda decorrente de atividade
laborativa que queiram participar do regime geral de previdência social o façam, por meio de
contribuição, que será facultativa.
Por uma questão metodológica, os segurados serão apresentados a partir do Decreto
3048/99, o Regulamento da Previdência Social, uma vez que esta legislação, em matéria previ-
denciária, é a que está atualizada com a última grande reforma da previdência, a Emenda Cons-
titucional 103/19.
O artigo 9º do Decreto 3048 traz em seus incisos os segurados obrigatórios (empregado,
empregado doméstico, contribuinte individual, trabalhador avulso, e, segurado especial), e, o
segurado facultativo. Comecemos pelo segurado empregado:

Art. 9º São segurados obrigatórios da previdência social as seguintes pessoas físicas:


I - como empregado:
a) aquele que presta serviço de natureza urbana ou rural a empresa, em caráter não even-
tual, sob sua subordinação e mediante remuneração, inclusive como diretor empregado;
b) aquele que, contratado por empresa de trabalho temporário, na forma prevista em le-
gislação específica, por prazo não superior a cento e oitenta dias, consecutivos ou não,
prorrogável por até noventa dias, presta serviço para atender a necessidade transitória de
substituição de pessoal regular e permanente ou a acréscimo extraordinário de serviço de
outras empresas;
c) o brasileiro ou o estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar como em-
pregado no exterior, em sucursal ou agência de empresa constituída sob as leis brasileiras
e que tenha sede e administração no País;
d) o brasileiro ou o estrangeiro domiciliado e contratado no Brasil para trabalhar como
empregado em empresa domiciliada no exterior com maioria do capital votante perten-
cente a empresa constituída sob as leis brasileiras, que tenha sede e administração no
País e cujo controle efetivo esteja em caráter permanente sob a titularidade direta ou indi-
reta de pessoas físicas domiciliadas e residentes no País ou de entidade de direito público
interno;
e) aquele que presta serviço no Brasil a missão diplomática ou a repartição consular de
carreira estrangeira e a órgãos a elas subordinados, ou a membros dessas missões e
repartições, excluídos o não-brasileiro sem residência permanente no Brasil e o brasileiro
amparado pela legislação previdenciária do país da respectiva missão diplomática ou re-
partição consular;
f) o brasileiro civil que trabalha para a União no exterior, em organismos oficiais internaci-
onais dos quais o Brasil seja membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo
se amparado por regime próprio de previdência social;
g) o brasileiro civil que presta serviços à União no exterior, em repartições governamentais
brasileiras, lá domiciliado e contratado, inclusive o auxiliar local de que tratam os arts. 56
e 57 da Lei no 11.440, de 29 de dezembro de 2006, este desde que, em razão de proibição
legal, não possa filiar-se ao sistema previdenciário local;
h) o bolsista e o estagiário que prestam serviços a empresa, em desacordo com a Lei
no 11.788, de 25 de setembro de 2008;
i) o servidor da União, Estado, Distrito Federal ou Município, incluídas suas autarquias e
fundações, ocupante, exclusivamente, de cargo em comissão declarado em lei de livre
nomeação e exoneração;

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j) o servidor do Estado, Distrito Federal ou Município, bem como o das respectivas autar-
quias e fundações, ocupante de cargo efetivo, desde que, nessa qualidade, não esteja
amparado por regime próprio de previdência social;
l) o servidor contratado pela União, Estado, Distrito Federal ou Município, bem como pelas
respectivas autarquias e fundações, por tempo determinado, para atender a necessidade
temporária de excepcional interesse público, nos termos do inciso IX do art. 37 da Consti-
tuição Federal;
m) o servidor da União, Estado, Distrito Federal ou Município, incluídas suas autarquias e
fundações, ocupante de emprego público;
n) (Revogada pelo Decreto nº 3.265, de 1999)
o) o escrevente e o auxiliar contratados por titular de serviços notariais e de registro a
partir de 21 de novembro de 1994, bem como aquele que optou pelo Regime Geral de
Previdência Social, em conformidade com a Lei nº 8.935, de 18 de novembro de 1994; e
p) aquele em exercício de mandato eletivo federal, estadual, distrital ou municipal, desde
que não seja vinculado a regime próprio de previdência social;
q) o empregado de organismo oficial internacional ou estrangeiro em funcionamento no
Brasil, salvo quando coberto por regime próprio de previdência social;
r) o trabalhador rural contratado por produtor rural pessoa física, na forma do art. 14-A da
Lei no 5.889, de 8 de junho de 1973, para o exercício de atividades de natureza temporária
por prazo não superior a dois meses dentro do período de um ano;
s) aquele contratado como trabalhador intermitente para a prestação de serviços, com
subordinação, de forma não contínua, com alternância de períodos de prestação de servi-
ços e de inatividade, em conformidade com o disposto no § 3º do art. 443 da Consolidação
das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452, de 1º de maio de 1943.

Em que pese existirem muitas variações dentro da classificação do segurado empregado,


o importante é que você guarde bem os quatro requisitos caracterizadores da relação de
emprego: pessoalidade, habitualidade/não eventualidade, subordinação, e, remuneração.
Além destas características, é importante que você lembre, em especial das alíneas “b” e
“s”, ambas acrescidas pelo Decreto 10.410/2020, que tratam do contrato de trabalho temporário,
e do trabalhador intermitente. Por serem novidades, têm probabilidade de serem cobrados em
prova.
Por fim, vale reforçar o cuidado com as alíneas "i, j, l, m" que tratam de servidores ligados
à União, Estados, Distrito Federal e Municípios que possuem vínculo com o RGPS.
Veja esquema na página a seguir...

16
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

*Para todos verem: esquema

Pessoalidade

Habitualidade/
Não
Eventualidade
Empregado

Subordinação

Remuneração

A segunda categoria de segurado trazida pela legislação é o empregado doméstico.

Art. 9º São segurados obrigatórios da previdência social as seguintes pessoas físicas:


(...)
II - como empregado doméstico - aquele que presta serviço de forma contínua, subordi-
nada, onerosa e pessoal a pessoa ou família, no âmbito residencial desta, em atividade
sem fins lucrativos, por mais de dois dias por semana.

Faz-se esta ressalva, pois na hora da prova você precisará fazer esta distinção entre as
duas categorias a partir do que o enunciado da questão trouxer. Por exemplo: um cozinheiro, a
depender do caso, poderá ser empregado ou empregado doméstico. O cozinheiro que trabalha
em um restaurante terá finalidade lucrativa. Logo, será empregado. Agora, se o cozinheiro tra-
balhar para uma família, sem que exista finalidade lucrativa com o trabalho do cozinheiro, ele
será empregado doméstico, obviamente, se a prestação de serviço ocorrer por mais de dois dias
na semana.

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

*Para todos verem: esquema

Pessoalidade
Âmbito
Residencial
Habitualidade/
Não eventualidade
Empregado Empregado Sem Finalidade
Doméstico Doméstico Lucrativa
Subordinação
Mais de 2 dias
na semana
Remuneração

A terceira categoria de segurado trazida pela legislação é o contribuinte individual. Nesta


modalidade, estão os que têm atividade remunerada sem a existência da relação de emprego.
Entre eles estão os profissionais liberais (advogados, engenheiros, médicos, contadores, etc),
os empresários, em suas diversas modalidades, entre outros elencados no inciso “V” do artigo
9º do Decreto 3048/99, a saber:

Art. 9º São segurados obrigatórios da previdência social as seguintes pessoas físicas:


(...)
V - como contribuinte individual:
a) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade agropecuária, a qualquer
título, em caráter permanente ou temporário, em área, contínua ou descontínua, superior
a quatro módulos fiscais; ou, quando em área igual ou inferior a quatro módulos fiscais ou
atividade pesqueira ou extrativista, com auxílio de empregados ou por intermédio de pre-
postos; ou ainda nas hipóteses dos §§ 8o e 23 deste artigo;
b) a pessoa física, proprietária ou não, que explora atividade de extração mineral - garimpo
-, em caráter permanente ou temporário, diretamente ou por intermédio de prepostos, com
ou sem o auxílio de empregados, utilizados a qualquer título, ainda que de forma não
contínua;
c) o ministro de confissão religiosa e o membro de instituto de vida consagrada, de con-
gregação ou de ordem religiosa;
d) o brasileiro civil que trabalha no exterior para organismo oficial internacional do qual o
Brasil é membro efetivo, ainda que lá domiciliado e contratado, salvo quando coberto por
regime próprio de previdência social;
e) desde que receba remuneração decorrente de trabalho na empresa:
1. o empresário individual e o titular de empresa individual de responsabilidade limitada,
urbana ou rural;
2. o diretor não empregado e o membro de conselho de administração de sociedade anô-
nima;
3. o sócio de sociedade em nome coletivo; e
4. o sócio solidário, o sócio gerente, o sócio cotista e o administrador, quanto a este último,
quando não for empregado em sociedade limitada, urbana ou rural;
f) (Revogado pelo Decreto nº 10.410, de 2020).
g) (Revogado pelo Decreto nº 10.410, de 2020).

18
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

h) (Revogado pelo Decreto nº 10.410, de 2020).


i) o associado eleito para cargo de direção em cooperativa, associação ou entidade de
qualquer natureza ou finalidade, bem como o síndico ou administrador eleito para exercer
atividade de direção condominial, desde que recebam remuneração;
j) quem presta serviço de natureza urbana ou rural, em caráter eventual, a uma ou mais
empresas, sem relação de emprego;
l) a pessoa física que exerce, por conta própria, atividade econômica de natureza urbana,
com fins lucrativos ou não;
m) o aposentado de qualquer regime previdenciário nomeado magistrado classista tem-
porário da Justiça do Trabalho, na forma dos incisos II do § 1º do art. 111 ou III do art.
115 ou do parágrafo único do art. 116 da Constituição Federal, ou nomeado magistrado
da Justiça Eleitoral, na forma dos incisos II do art. 119 ou III do § 1º do art. 120 da Consti-
tuição Federal;
n) o cooperado de cooperativa de produção que, nesta condição, presta serviço à socie-
dade cooperativa mediante remuneração ajustada ao trabalho executado;
o) (Revogado pelo Decreto nº 7.054, de 2009)
p) o Microempreendedor Individual - MEI de que tratam os arts. 18-A e 18-C da Lei Com-
plementar no 123, de 14 de dezembro de 2006, que opte pelo recolhimento dos impostos
e contribuições abrangidos pelo Simples Nacional em valores fixos mensais;
q) o médico participante do Projeto Mais Médicos para o Brasil, instituído pela Lei nº
12.871, de 22 de outubro de 2013, exceto na hipótese de cobertura securitária específica
estabelecida por organismo internacional ou filiação a regime de seguridade social em seu
país de origem, com o qual a República Federativa do Brasil mantenha acordo de
seguridade social;
r) o médico em curso de formação no âmbito do Programa Médicos pelo Brasil, instituído
pela Lei nº 13.958, de 18 de dezembro de 2019.

Em relação ao contribuinte individual, é preciso ter o cuidado de não confundir a alínea


“b”, que tratará do garimpeiro, com o seringueiro. O seringueiro, como será visto adiante, se
enquadra como segurado especial.
Outro ponto de atenção está na alínea “c”, que trata do ministro de confissão religiosa.
Nesta categoria entram o padre, o pastor, rabinos, pai de santo, entre outros.
A quarta categoria de segurado trazida pela legislação é o trabalhador avulso. Estes tam-
bém podem prestar serviços a uma ou mais empresas, sem relação de emprego, com uma ob-
servação importantíssima: a atividade será intermediada obrigatoriamente por um órgão gestor
de mão de obra ou sindicato de categoria.
São trabalhadores avulsos:

Art. 9º São segurados obrigatórios da previdência social as seguintes pessoas físicas:


(...)
VI - como trabalhador avulso - aquele que:
a) sindicalizado ou não, preste serviço de natureza urbana ou rural a diversas empresas,
ou equiparados, sem vínculo empregatício, com intermediação obrigatória do órgão gestor
de mão de obra, nos termos do disposto na Lei nº 12.815, de 5 de junho de 2013, ou do
sindicato da categoria, assim considerados:
1. o trabalhador que exerça atividade portuária de capatazia, estiva, conferência e con-
serto de carga e vigilância de embarcação e bloco;
2. o trabalhador de estiva de mercadorias de qualquer natureza, inclusive carvão e miné-
rio;

19
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

3. o trabalhador em alvarenga (embarcação para carga e descarga de navios);


4. o amarrador de embarcação;
5. o ensacador de café, cacau, sal e similares;
6. o trabalhador na indústria de extração de sal;
7. o carregador de bagagem em porto;
8. o prático de barra em porto;
9. o guindasteiro; e
10. o classificador, o movimentador e o empacotador de mercadorias em portos; e
b) exerça atividade de movimentação de mercadorias em geral, nos termos do disposto
na Lei nº 12.023, de 27 de agosto de 2009, em áreas urbanas ou rurais, sem vínculo em-
pregatício, com intermediação obrigatória do sindicato da categoria, por meio de acordo
ou convenção coletiva de trabalho, nas atividades de:
1. cargas e descargas de mercadorias a granel e ensacados, costura, pesagem, embala-
gem, enlonamento, ensaque, arrasto, posicionamento, acomodação, reordenamento, re-
paração de carga, amostragem, arrumação, remoção, classificação, empilhamento, trans-
porte com empilhadeiras, paletização, ova e desova de vagões, carga e descarga em fei-
ras livres e abastecimento de lenha em secadores e caldeiras;
2. operação de equipamentos de carga e descarga; e
3. pré-limpeza e limpeza em locais necessários às operações ou à sua continuidade.

Observação: Quando a questão tratar do trabalhador avulso, aparecerá, inevitavelmente,


a INTERMEDIAÇÃO POR ÓRGÃO GESTOR DE MÃO DE OBRA OU SINDICATO DE CATE-
GORIA!
A quinta categoria de segurado trazida pela legislação é o segurado especial.

Art. 9º São segurados obrigatórios da previdência social as seguintes pessoas físicas:


(...)
VII - como segurado especial: a pessoa física residente no imóvel rural ou em aglomerado
urbano ou rural próximo que, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda
que com o auxílio eventual de terceiros, na condição de:
a) produtor, seja ele proprietário, usufrutuário, possuidor, assentado, parceiro ou meeiro
outorgados, comodatário ou arrendatário rurais, que explore atividade:
1. agropecuária em área contínua ou não de até quatro módulos fiscais; ou
2. de seringueiro ou extrativista vegetal na coleta e extração, de modo sustentável, de
recursos naturais renováveis, e faça dessas atividades o principal meio de vida;
b) pescador artesanal ou a este assemelhado, que faça da pesca profissão habitual ou
principal meio de vida; e
c) cônjuge ou companheiro, bem como filho maior de dezesseis anos de idade ou a este
equiparado, do segurado de que tratam as alíneas “a” e “b” deste inciso, que, comprova-
damente, tenham participação ativa nas atividades rurais ou pesqueiras artesanais, res-
pectivamente, do grupo familiar.

Nunca é demais lembrar: os segurados do RGPS serão sempre pessoa física. Logo,
o segurado especial não será diferente. A primeira informação que o inciso VII nos traz é que o
segurado deve ser residente em imóvel rural ou em aglomerado urbano ou rural. A segunda
informação é que a atividade pode ser desenvolvida de forma individual ou em regime de eco-
nomia familiar. O parágrafo quinto explicita o que se trata este instituto:

20
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

Art. 9º São segurados obrigatórios da previdência social as seguintes pessoas físicas:


(...)
VII – (...)
§ 5o Entende-se como regime de economia familiar a atividade em que o trabalho dos
membros da família é indispensável à própria subsistência e ao desenvolvimento socioe-
conômico do núcleo familiar e é exercido em condições de mútua dependência e colabo-
ração, sem a utilização de empregados permanentes.

Assim, no regime de economia familiar, todos os membros do grupo trabalham em condi-


ção de mútua dependência e colaboração. Não há empregados permanentes. A existência de
empregado permanente retira a condição de segurado especial. O que a legislação autoriza é o
auxílio eventual de terceiros, previsto no parágrafo 6º:

Art. 9º São segurados obrigatórios da previdência social as seguintes pessoas físicas:


(...)
VII – (...)
§ 6º Entende-se como auxílio eventual de terceiros o que é exercido ocasionalmente, em
condições de mútua colaboração, não existindo subordinação nem remuneração.

O parágrafo 21 trará ainda a possibilidade do que vamos denominar de “safrista”, que é


aquele que trabalha na proporção de 1x120 dias no ano civil. Trata-se de uma fórmula matemá-
tica. Um safrista por cento e vinte dias, dois safristas por sessenta dias, podendo chegar a 120
safristas em um dia no ano. Neste sentido:

Art. 9º São segurados obrigatórios da previdência social as seguintes pessoas físicas:


(...)
VII – (...)
§ 21. O grupo familiar poderá utilizar-se de empregado contratado por prazo determinado,
inclusive daquele referido na alínea “r” do inciso I do caput, ou de trabalhador de que trata
a alínea “j” do inciso V do caput, à razão de, no máximo, cento e vinte pessoas por dia no
mesmo ano civil, em períodos corridos ou intercalados, ou, ainda, por tempo equivalente
em horas de trabalho, à razão de oito horas por dia e quarenta e quatro horas por semana,
hipóteses em que períodos de afastamento em decorrência de percepção de auxílio por
incapacidade temporária não serão computados.

A atividade do segurado especial admite várias formas de formalização. Poderá ser reali-
zada em área própria, em área de usufruto, em área onde se tenha a posse, onde seja assen-
tado, com contrato de parceria, contrato de comodato, ou ainda, com arrendamento rural. Pode
ser atividade relacionada a agricultura, pecuária, extrativismo vegetal (seringueiro) ou pescador
artesanal.
Em se tratando de atividade agropecuária, a legislação limita o segurado especial em área
de até quatro módulos fiscais. Não confundir módulo fiscal com hectare.

21
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

Atenção: módulo fiscal é uma unidade de medida do INCRA que leva em consideração
fatores como localização da área, população economicamente ativa, produtividade do solo, dis-
tância de grandes centros e portos etc. Por exemplo: em Santa Cruz do Sul (RS), um módulo
fiscal corresponde a 20 hectares. Já em São Paulo (SP), um módulo fiscal corresponde a 5 hec-
tares. Pode acontecer de um módulo fiscal ser em algum caso igual a um hectare, mas esta não
é uma regra.
Por sua vez, o seringueiro ou extrativista vegetal não tem limites quanto a área explorada.
Entretanto, a legislação determina que essas atividades sejam o principal meio de vida.
O pescador artesanal ou assemelhado também encontra na legislação requisitos especí-
ficos para enquadramento nesta condição. Precisa ser profissão habitual ou principal meio de
vida, e, além disso, o parágrafo 14 do inciso VII estabelece que o pescador artesanal é aquele
que não utiliza embarcação, ou, que utilize embarcação de pequeno porte, que são as que pos-
suem arqueação bruta igual ou menor que 20. Neste sentido:

Art. 9º São segurados obrigatórios da previdência social as seguintes pessoas físicas:


(...)
VII – (...)
§ 14. Considera-se pescador artesanal aquele que, individualmente ou em regime de eco-
nomia familiar, faz da pesca sua profissão habitual ou meio principal de vida, desde que:
I - não utilize embarcação; ou
II - utilize embarcação de pequeno porte, nos termos da Lei nº 11.959, de 29 de junho de
2009.

Importante frisar que o assemelhado ao pescador artesanal está previsto no parágrafo 14-
A do inciso VII, sendo aquele que “realiza atividade de apoio à pesca artesanal, exercendo tra-
balhos de confecção e de reparos de artes e petrechos de pesca e de reparos em embarcações
de pequeno porte ou atuando no processamento do produto da pesca artesanal.”
Ainda em relação ao segurado especial, a alínea “c” do inciso VII enquadra como segu-
rado especial o cônjuge ou companheiro(a) e o filho maior de dezesseis anos ou equiparado que
comprovem participação ativa na atividade agropecuária, de seringa, de extrativismo vegetal ou
de pesca artesanal.

22
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

*Para todos verem: esquemas

Agricultura

Pecuária
Regime de Economia
Familiar
Segurado
Seringueiro
Especial
Sem Empregados
Extrativista Permanentes
Vegetal

Pescador
Artesanal

Finalizando o tema dos segurados, é preciso estudar o segurado facultativo. O segurado


facultativo é a pessoa física, maior de 16 anos, que não tem fonte de renda de atividade labora-
tiva, ou seja, não trabalha na iniciativa pública ou privada. Se trabalhasse na iniciativa privada
seria segurado obrigatório do RGPS, e, se trabalhasse no serviço público seria segurado obriga-
tório do RPPS. Mesmo que não tenha fonte de renda de atividade laborativa, faz a opção em
contribuir para a previdência social para fins de proteção em caso de risco social protegido por
lei.
O segurado facultativo está no artigo 11 do Decreto 3048/99:

Art. 11. É segurado facultativo o maior de dezesseis anos de idade que se filiar ao Re-
gime Geral de Previdência Social, mediante contribuição, na forma do art. 199, desde que
não esteja exercendo atividade remunerada que o enquadre como segurado obrigatório
da previdência social.

Vale o destaque que, como regra geral, quem é servidor público (segurado obrigatório do
RPPS) não pode ser segurado facultativo do RGPS. Neste sentido é o parágrafo 2º do artigo 11,
prescrevendo que “É vedada a filiação ao Regime Geral de Previdência Social, na qualidade de
segurado facultativo, de pessoa participante de regime próprio de previdência social, salvo na
hipótese de afastamento sem vencimento e desde que não permitida, nesta condição, contribui-
ção ao respectivo regime próprio.”
Por sua vez, o parágrafo 1º do artigo 11 traz uma relação exemplificativa de quem pode
ser segurado facultativo, do qual destacaremos a pessoa que se dedique exclusivamente ao

23
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

trabalho doméstico no âmbito de sua residência, o síndico de condomínio não remunerado, o


estudante, e o presidiário que não exerça atividade remunerada nem esteja vinculado a qualquer
regime de previdência social. Neste sentido:

§ 1º Podem filiar-se facultativamente, entre outros:


I - aquele que se dedique exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua resi-
dência;
II - o síndico de condomínio, quando não remunerado;
III - o estudante;
IV - o brasileiro que acompanha cônjuge que presta serviço no exterior;
V - aquele que deixou de ser segurado obrigatório da previdência social;
VI - o membro de conselho tutelar de que trata o art. 132 da Lei nº 8.069, de 13 de julho
de 1990, quando não esteja vinculado a qualquer regime de previdência social;
VII - o estagiário que preste serviços a empresa nos termos do disposto na Lei nº 11.788,
de 2008;
VIII - o bolsista que se dedique em tempo integral a pesquisa, curso de especialização,
pós-graduação, mestrado ou doutorado, no Brasil ou no exterior, desde que não esteja
vinculado a qualquer regime de previdência social;
IX - o presidiário que não exerce atividade remunerada nem esteja vinculado a qualquer
regime de previdência social;
X - o brasileiro residente ou domiciliado no exterior
XI - o segurado recolhido à prisão sob regime fechado ou semi-aberto, que, nesta condi-
ção, preste serviço, dentro ou fora da unidade penal, a uma ou mais empresas, com ou
sem intermediação da organização carcerária ou entidade afim, ou que exerce atividade
artesanal por conta própria.
XII - o atleta beneficiário da Bolsa-Atleta não filiado a regime próprio de previdência social
ou não enquadrado em uma das hipóteses previstas no art. 9º.

Ainda em relação ao segurado facultativo, o parágrafo 5º autoriza que o segurado obriga-


tório que estiver afastado de sua atividade laborativa que o enquadra como segurado obrigatório,
poderá contribuir na modalidade facultativa, condicionando esta possibilidade ao não recebi-
mento de remuneração ou exercício de outra atividade que o vincule ao regime geral ou próprio
de previdência social.
Veja o esquema na página a seguir...

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

Revisando: SEGURADOS DO RGPS


*Para todos verem: esquema

Contribuinte
Individual

Trabalhador Avulso

Empregado
CADESF
Doméstico

Empregado

Segurado Especial

Facultativo

2.5 Manutenção e Perda da Qualidade de Segurado


Como visto anteriormente a previdência social é de caráter contributivo. Logo, é segu-
rado e mantém esta condição quem contribui para a previdência social.
Entretanto, o fato de deixar de contribuir para a previdência social não necessariamente
implica perda da qualidade de segurado. O legislador previu o que se chama em direito previ-
denciário de período de graça. Neste período, cujos prazos estão determinados em lei, o segu-
rado mantém a condição de segurado independentemente de contribuir para a previdência so-
cial.
Isso significa que neste período o segurado mantém a qualidade mesmo sem contribuir
(período de graça). Em outras palavras, ele está protegido pela previdência social caso seja
acometido por algum dos riscos sociais previstos em lei. Neste sentido é o disposto no parágrafo
terceiro do artigo 13: “Durante os prazos deste artigo, o segurado conserva todos os seus
direitos perante a previdência social.”
O período de graça está previsto no artigo 13 do Decreto 3048/99:

Art. 13. Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições:


I - sem limite de prazo, o segurado que estiver em gozo de benefício, exceto na hipótese
de auxílio-acidente;

25
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

II - até doze meses após a cessação de benefício por incapacidade ou das contribuições,
observado o disposto nos § 7º e § 8º e no art. 19-E
III - até doze meses após cessar a segregação, o segurado acometido de doença de se-
gregação compulsória;
IV - até doze meses após o livramento, o segurado detido ou recluso;
V - até três meses após o licenciamento, o segurado incorporado às Forças Armadas para
prestar serviço militar; e
VI - até seis meses após a cessação das contribuições, o segurado facultativo.

O inciso primeiro estabelece que mantém a qualidade de segurado quem está recebendo
benefício previdenciário. Só não manterá a qualidade de segurado, independentemente de con-
tribuições quem estiver recebendo o auxílio acidente. E, isto tem sua razão de ser: o auxílio-
acidente, como será abordado adiante, é um benefício previdenciário que possui caráter indeni-
zatório e é recebido de forma cumulativa ao salário. A pessoa retorna ao trabalho com perda ou
redução da capacidade laborativa e recebe uma indenização em razão desta condição, que será
o auxílio-acidente.
Os incisos II, III e IV estabelecem a manutenção da condição de segurado, até doze me-
ses para o segurado que tiver cessado o benefício por incapacidade (temporária ou permanente),
para o segurado que por quaisquer razões deixar de contribuir para a previdência social, para o
segurado que tiver a segregação compulsória em razão de doença cessada, e, para o segurado
detido ou recluso, após o livramento.
Para o segurado que preste serviço militar, o período de graça será de até três meses
após o licenciamento, e, para o segurado facultativo, seis meses após a cessação das contribui-
ções.
Os parágrafos do artigo 13 possuem algumas informações importantes e que podem ser
cobradas em prova.
O parágrafo primeiro prevê um adicional de 24 meses de manutenção da qualidade de
segurado (período de graça) para o segurado que tiver cessado o benefício por incapacidade ou
que deixe de contribuir para a previdência social, desde que ele possua mais de 120 contribui-
ções sem perder a qualidade de segurado. Não precisa que as 120 contribuições sejam ininter-
ruptas. Elas precisam tão somente que sejam realizadas sem interrupção que acarrete a perda
da qualidade de segurado. Neste sentido:

Art. 13. Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições:


II - até doze meses após a cessação de benefício por incapacidade ou das contribuições,
observado o disposto nos § 7º e § 8º e no art. 19-E.
§ 1º O prazo do inciso II será prorrogado para até vinte e quatro meses, se o segurado já
tiver pago mais de cento e vinte contribuições mensais sem interrupção que acarrete a
perda da qualidade de segurado.

26
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

O parágrafo segundo também prevê um adicional de 24 meses de manutenção da quali-


dade de segurado (período de graça) para o segurado que tiver cessado o benefício por incapa-
cidade ou que deixe de contribuir para a previdência social, mas com outra condição. O prazo
de até 12 meses passará para 24 meses se o segurado comprovar a condição de desemprego
involuntário. A legislação prevê que essa comprovação se fará por registro em órgão próprio do
Ministério do Trabalho e Emprego. Neste sentido:

Art. 13. Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições:


II - até doze meses após a cessação de benefício por incapacidade ou das contribuições,
observado o disposto nos § 7º e § 8º e no art. 19-E.
§ 2º O prazo do inciso II ou do § 1º será acrescido de doze meses para o segurado de-
sempregado, desde que comprovada essa situação por registro no órgão próprio do Mi-
nistério do Trabalho e Emprego.

A jurisprudência entende que esta comprovação pode ser feita com outros meios de prova,
como cadastro no SINE (Sistema Nacional de Emprego), cadastros em agencias de recruta-
mento e seleção de pessoas, entre outros.
Ainda da leitura do parágrafo segundo extrai-se que o segurado que possui mais de cento
e vinte contribuições sem a perda da qualidade de segurado (período de graça de 24 meses)
pode ter o acréscimo de mais 12 meses, caso comprove o desemprego involuntário por meio de
registro no órgão próprio do Ministério do Trabalho e Emprego. Neste caso, o período de graça
pode chegar a 36 meses.
Por fim, o parágrafo oitavo faz menção ao segurado que teve a contribuição abaixo do
limite mínimo legal. Nestes casos, como a contribuição abaixo do limite mínimo não conta como
tempo de contribuição, deverá o segurado realizar a complementação, o agrupamento, ou ainda,
os valores maiores ao limite mínimo dentro do mesmo ano para que mantenha a qualidade de
segurado.
Art. 13. Mantém a qualidade de segurado, independentemente de contribuições:
§ 8º O segurado que receber remuneração inferior ao limite mínimo mensal do salário de
contribuição somente manterá a qualidade de segurado se efetuar os ajustes de comple-
mentação, utilização e agrupamento a que se referem o § 1º do art. 19-E e o § 27-A do
art. 216.

Relembrando: período de graça. Manutenção da qualidade de segurado mesmo sem


contribuição.

27
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

*Para todos verem: tabela

Regra geral Exceção 1 Exceção 2 Exceção 3


24 meses 24 meses 36 meses
12 meses (+ de 120 contribuições (- de 120 contribuições + (+ de 120 contribuições +
sem a perda da qualidade prova desemprego invo- prova desemprego invo-
de segurado) luntário) luntário)

2.6 Dependentes do Segurado


Os benefícios previdenciários têm a função de substituir a renda do trabalhador no mo-
mento em que ele estiver acometido por um risco social. Entretanto, em alguns riscos sociais,
os protegidos são os dependentes do segurado, mais especificadamente quando houver morte
ou reclusão do segurado.
Os dependentes estão elencados no artigo 16 do Decreto 3048/99, sendo divididos em
três classes. Neste sentido:

Art. 16. São beneficiários do Regime Geral de Previdência Social, na condição de de-
pendentes do segurado:
I - o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não emancipado, de qualquer con-
dição, menor de vinte e um anos de idade ou inválido ou que tenha deficiência intelec-
tual, mental ou grave;
II - os pais; ou
III - o irmão não emancipado, de qualquer condição, menor de vinte e um anos de idade
ou inválido ou que tenha deficiência intelectual, mental ou grave.

A primeira classe é composta por cônjuge, companheiro(a), filho não emancipado, de


qualquer condição, menor de vinte e um anos, ou filho inválido, ou com deficiência intelectual,
mental ou grave, enquanto permanecer nesta condição. Cuidado para não confundir a relação
de dependência com a praxe no direito de família, que em muitos casos reconhece um filho como
dependente até os 24 anos, ou, enquanto cursa o ensino superior. Para o direito previdenciá-
rio, filho é dependente tão somente até completar 21 anos.
O parágrafo sétimo garante ao dependente de primeira classe a permanência nesta con-
dição sem a necessidade de comprovar dependência econômica. Em outras palavras, para o
dependente de primeira classe a dependência econômica é presumida. A primeira exceção
fica por conta do enteado e do menor tutelado, que são equiparados a filho, mas precisam com-
provar dependência econômica, conforme previsão do parágrafo terceiro do artigo 16. A segunda
exceção fica por conta do(a) ex-cônjuge/companheiro(a), que serão considerados dependentes

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

desde que exista dependência econômica, o que será provado por meio do pagamento de pen-
são alimentícia, conforme previsto nos incisos I e II do artigo 17 do Decreto 3048/99.
Antes de tratar da segunda e terceira classe, algumas observações são importantes. O
parágrafo primeiro garante que os dependentes “de uma mesma classe concorrem em igualdade
de condições.” Isso significa, por exemplo, que havendo cônjuge e três filhos, o benefício será
dividido em quatro partes iguais.
Outra observação importante está no parágrafo segundo do artigo 16, ao afirmar que a
“existência de dependente de qualquer das classes deste artigo exclui do direito às prestações
os das classes seguintes.” Isto significa que havendo dependente de primeira classe, os depen-
dentes de segunda e terceira classe, se existirem, não terão direito ao benefício.
Com relação a união estável, a comprovação está condicionada ao disposto no parágrafo
6-A do artigo 16, ao prescrever que “As provas de união estável e de dependência econômica
exigem início de prova material contemporânea dos fatos, produzido em período não superior
aos vinte e quatro meses anteriores à data do óbito ou do recolhimento à prisão do segurado,
não admitida a prova exclusivamente testemunhal, exceto na ocorrência de motivo de força maior
ou caso fortuito, observado o disposto no § 2º do art. 143.”
Importante também referir que o parágrafo nono do artigo 16 prevê a possibilidade de
exclusão da condição de dependente para os casos em que o dependente “tiver sido condenado
criminalmente por sentença transitada em julgado, como autor, coautor ou partícipe de homicídio
doloso, ou de tentativa desse crime, cometido contra a pessoa do segurado, ressalvados os
absolutamente incapazes e os inimputáveis.”
Isto posto, os dependentes de segunda classe são os pais. A partir do que foi visto, os
pais, para terem reconhecida a condição de dependente previdenciário, dependerá da inexistên-
cia de dependente de primeira classe. Além disso, os pais precisam provar a dependência eco-
nômica em relação ao filho. Em relação a dependência econômica, a prova deve observar o
previsto no parágrafo 6-A, no sentido de ser necessário “início de prova material contemporânea
dos fatos, produzido em período não superior aos vinte e quatro meses anteriores à data do óbito
ou do recolhimento à prisão do segurado, não admitida a prova exclusivamente testemunhal,
exceto na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito, observado o disposto no § 2º do
art. 143.”
Ao seu turno, o dependente de terceira classe é o irmão não emancipado, de qualquer
condição, menor de vinte um anos de idade ou inválido ou que tenha deficiência intelectual,

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

mental ou grave. Para que o irmão ostente a condição de dependente, dependerá da inexistência
de dependente de primeira e segunda classe. Assim como os dependentes de segunda classe,
precisam provar a dependência econômica em relação ao irmão. Deverá também observar o
previsto no parágrafo 6-A, no sentido de ser necessário “início de prova material contemporânea
dos fatos, produzido em período não superior aos vinte e quatro meses anteriores à data do óbito
ou do recolhimento à prisão do segurado, não admitida a prova exclusivamente testemunhal,
exceto na ocorrência de motivo de força maior ou caso fortuito, observado o disposto no § 2º do
art. 143.”
*Para todos verem: esquema

Dependentes do Segurado

Dependente de uma classe


Dependentes concorrem em
anterior exclui o direito das
igualdade de condições
classes seguintes

1ª Classe 2ª Classe 3ª Classe

Cônjuge/Companheiro(a), Irmão menor 21 anos, ou


Filho menor 21 anos, ou
inválido, ou com deficiência
Pais inválido, ou com deficiência
intelectual, mental ou grave. intelectual, mental ou grave.

Dependencia econômica Prova Dependencia Prova Dependencia


presumida Econômica Econômica

2.7. Salário de Contribuição e Salário de Benefício


Sendo a previdência social de caráter contributivo e integrante de um sistema de seguri-
dade social pautado na solidariedade, com equidade na participação do custeio, é um impera-
tivo que o segurado, para ter direito a proteção social, contribua para o sistema. Por essa

30
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

razão, neste ponto, serão estudadas as alíquotas e formas de contribuição dos segurados do
regime geral de previdência social.
Antes de abordar as contribuições, é importante mencionar que os segurados do Regime
de Previdência Social têm a contribuição, e, consequentemente, os benefícios, limitados
a um teto máximo, que será indicado por portaria do Ministério do Trabalho e Previdência
nos primeiros dias de cada ano. Em 2023, o teto de contribuição e de benefícios foi fixado em
R$ 7.507,49 (sete quinhentos e sete reais e quarenta e nove centavos). Assim, se uma pessoa
recebe, a título exemplificativo, R$ 20.000,00 (vinte mil reais), a contribuição dela para o Regime
Geral de Previdência Social incidirá somente sobre R$ 7.507,49 (sete quinhentos e sete reais e
quarenta e nove centavos). R$ 7.507,50 (sete quinhentos e sete reais e cinquenta centavos) e
R$ 20.000,00 (vinte mil reais) não haverá contribuição previdenciária do trabalhador para o Re-
gime Geral de Previdência Social.
Em relação a valor mínimo de contribuição, a Emenda Constitucional 103/19 fez uma
adaptação das contribuições previdenciárias, muito em razão do que se chama no direito de
trabalho de “uberização” das relações de trabalho, bem como da regulamentação de novas for-
mas de trabalho pela Reforma Trabalhista de 2017, que criou, entre outros, o trabalho intermi-
tente, modelo no qual o trabalhador pode, a depender do caso concreto, receber valores inferio-
res ao salário-mínimo. Assim, o artigo 145, § 14º da Constituição Federal estabeleceu que, para
fins previdenciários, só será computado como tempo de contribuição que for igual ou superior à
contribuição mínima mensal exigida para a categoria, que, com exceção do segurado especial,
será de um salário-mínimo mensal. Neste sentido:

Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indi-
reta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais:
(...)
§ 14. O segurado somente terá reconhecida como tempo de contribuição ao Regime Geral
de Previdência Social a competência cuja contribuição seja igual ou superior à contribuição
mínima mensal exigida para sua categoria, assegurado o agrupamento de contribuições.

A parte final do § 14º contempla a solução para quem, porventura, contribua com valor
abaixo do salário-mínimo. É possível que o segurado opte pela complementação, pelo agrupa-
mento, ou ainda, pela utilização de valores superiores ao mínimo exigido em outras competên-
cias do mesmo ano, o que foi regulamentado de forma infraconstitucional no § 27-A do artigo
216, do Decreto 3048/99:

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

Art. 216. A arrecadação e o recolhimento das contribuições e de outras importâncias de-


vidas à seguridade social, observado o que a respeito dispuserem o Instituto Nacional do
Seguro Social e a Secretaria da Receita Federal, obedecem às seguintes normas gerais:
(...)
§ 27-A. O segurado que, no somatório de remunerações auferidas no período de um mês,
receber remuneração inferior ao limite mínimo mensal do salário de contribuição poderá
solicitar o ajuste das competências pertencentes ao mesmo ano civil, na forma por ele
indicada, ou autorizar que os ajustes sejam feitos automaticamente, para que o limite mí-
nimo mensal do salário de contribuição seja alcançado, por meio da opção por:

O inciso I do § 27-A trata da possibilidade de complementação da contribuição. Isso sig-


nifica que o segurado, por iniciativa própria, contribui para a Previdência Social com o valor que
falta entre o que foi recebido no mês e valor da contribuição mínima.
Por exemplo, um empregado intermitente teve seu salário de contribuição de R$ 800,00
(oitocentos reais). Sobre este valor, já houve contribuição. Entretanto, como o salário-mínimo a
partir de maio de 2023 é de R$ 1.320,00 (mil trezentos e vinte reais), o trabalhador deverá com-
plementar a contribuição sobre o valor de R$ 520,00 (quinhentos e vinte reais), que é a diferença
entre o que ele recebeu, e, a contribuição mínima exigida. Neste sentido:

Art. 216.
(...)
§ 27-A.
I - complementar a sua contribuição, observado que:
a) o recolhimento da complementação deverá ser efetuado pelo próprio segurado até o
dia quinze do mês seguinte ao da competência de referência e, após essa data, com inci-
dência dos acréscimos legais de que tratam os art. 238 e art. 239;
b) para o empregado, o empregado doméstico e o trabalhador avulso, a complementação
será efetuada por meio da aplicação da alíquota de sete inteiros e cinco décimos por cento,
inclusive para o mês em que exista contribuição concomitante na condição de contribuinte
individual; e
c) para o contribuinte individual que preste serviço a empresa, de que trata o § 26, e que
contribua exclusivamente nessa condição, a complementação será efetuada por meio da
aplicação da alíquota de vinte por cento.

O inciso II do § 27-A trata da possibilidade de utilização de valor excedente ao limite mí-


nimo de outra competência. Em outras palavras o segurado utiliza o valor da contribuição acima
do limite mínimo em um mês para aproveitamento em um mês onde a contribuição seja inferior
ao limite mínimo legal, realizando uma espécie de compensação.
Sigamos com o exemplo do empregado intermitente. No mês “x/2023”, o salário de con-
tribuição foi R$ 1.820,00 (mil oitocentos e vinte reais). No mês “y/2023”, o salário de contribuição
foi R$ 820,00 (oitocentos e vinte reais). Para que a contribuição no mês “y/2023” seja conside-
rada como tempo de contribuição, ele utiliza o valor superior ao mínimo legal do mês “x/2023”,
ficando as contribuições da seguinte forma: “x/2023” R$ 1.320,00, e, “y/2023” R$ 1.320,00. Em

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Direito Previdenciário

outras palavras, ele desloca os R$ 500,00 que excederam o limite mínimo no mês “x/2023” para
o mês “y/2023”. Neste sentido:

Art. 216.
§ 27-A.
II - utilizar o valor da contribuição que exceder o limite mínimo de uma competência em
outra, observado que:
a) para efeito de utilização da contribuição, serão considerados os salários de contribuição
apurados por categoria, consolidados na competência de origem;
b) o salário de contribuição poderá ser utilizado para complementar uma ou mais compe-
tências com valor inferior ao limite mínimo, mesmo que em categoria distinta; (Incluída
pelo Decreto nº 10.410, de 2020)
c) poderão ser utilizados valores excedentes ao limite mínimo do salário de contribuição
de mais de uma competência para compor o salário de contribuição de apenas uma com-
petência; e
d) utilizado o valor excedente, caso o salário de contribuição da competência favorecida
ainda permaneça inferior ao limite mínimo, esse valor poderá ser complementado nos ter-
mos do disposto no inciso I; ou

Por fim, o inciso III do § 27-A trata da possibilidade de agrupar valores inferiores ao limite
mínimo legal. Isto significa que o segurado somará uma ou mais contribuições inferiores ao limite
mínimo legal, de forma a conseguir que ao menos em uma competência/mês tenha considerada
a contribuição como tempo de contribuição.
Sigamos com o exemplo do empregado intermitente. No mês “x/2023” o salário de contri-
buição foi R$ 620,00 (seiscentos e vinte reais). No mês “y/2023”, o salário de contribuição foi R$
700,00 (setecentos reais). Tanto no mês “x/2023” quanto no mês “y/2023”, as contribuições não
são contadas como tempo de contribuição, conforme previsão do art. 195, § 14º da CF/1988. A
partir disso, o segurado faz o agrupamento, deixando as contribuições da seguinte forma: no
mês “x/2023” R$ 1.320,00, e, mês “y/2023” R$ 00,00. No mês “x/2023”, ele tem o cômputo do
tempo de contribuição, e, no mês “y/2023” ele permanece sem o computo do tempo de contri-
buição, o que poderá ser posteriormente regularizado, caso o trabalhador assim deseje. Neste
sentido:
Art. 216.
§ 27-A.
III - agrupar contribuições inferiores ao limite mínimo de diferentes competências, para
aproveitamento em contribuições mínimas mensais, observado que:
a) as competências que não atingirem o valor mínimo do salário de contribuição poderão
ser agrupadas desde que o resultado do agrupamento não ultrapasse o valor mínimo do
salário de contribuição;
b) na hipótese de o resultado do agrupamento ser inferior ao limite mínimo do salário de
contribuição, o segurado poderá complementar na forma prevista no inciso I ou utilizar
valores excedentes na forma prevista no inciso II; e
c) as competências em que tenha havido exercício de atividade e tenham sido zeradas em
decorrência do agrupamento poderão ser objeto de recolhimento pelo segurado, respei-
tado o limite mínimo.

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

Feitas estas considerações preliminares, passemos para as contribuições dos segurados.


Os segurados empregado, empregado doméstico e trabalhador avulso contribuem da mesma
forma, conforme disposto no artigo 198 do Decreto 3048/99. A contribuição ocorre de forma
progressiva. Quanto maior o valor, maior o percentual de contribuição. Para isto, foram criadas
pelo legislador faixas incidentes sobre o salário de contribuição. As faixas são alteradas anual-
mente, juntamente com o salário-mínimo, por meio de portaria do Ministério do Trabalho e Pre-
vidência. Depois será feito um exemplo, mas é importante que fique claro desde já que o per-
centual incidirá sobre a faixa de salário de contribuição, sendo os percentuais de 7,5%, 9,0%,
12,0% e 14%. Neste sentido:

Art. 198. A contribuição do segurado empregado, inclusive o doméstico, e do trabalhador


avulso é calculada por meio da aplicação da alíquota correspondente, de forma progres-
siva, sobre o seu salário de contribuição mensal, observado o disposto no art. 214, de
acordo com a seguinte tabela, com vigência a partir de 1º de março de 2020.

*Para todos verem: quadro

Salário de Contribuição (R$) Alíquota para Fins de Recolhimento ao INSS

Até R$ 1.320,00 7,5%


de 1.320,01 até 2.571,29 9%
de 2.571,30 até 3.856,94 12%
de 3.856,95 até 7.507,49 14%

Por exemplo: uma pessoa é contratada por uma empresa e recebe salário de contribuição
fixo de R$ 3.000,00 (três mil reais) por mês. Neste caso, tendo em visto o valor do salário de
contribuição, o cálculo da contribuição incidirá nas faixas de 7,5%, 9,0%, e, 12%. Esta conclusão
se chega a partir da tabela que faz parte do artigo 198 do Decreto 3048/99.
A contribuição da pessoa do exemplo, na faixa de 7,5%, será até um salário-mínimo (em
2023 = R$ 1.320,00). Logo, 7,5% de R$ 1.320,00 totaliza R$ 99,00.
*Para todos verem: esquema

Até R$ R$
7,5%
1.320,00 99,00

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

Na faixa de 9,0%, a contribuição será calculada sobre o salário de contribuição entre R$


1.320,01 à 2.571,29. Diminuindo esses valores, tem-se R$ 1.251,28. Este valor deverá ser mul-
tiplicado por 9,0%. Assim, a contribuição nesta faixa de salário de contribuição será de R$112,61.
*Para todos verem: esquema

R$ R$ R$
2.571,29 1320,01 1.251,28

R$ R$
9,0%
1.251,28 112,61

Na faixa de 12%, a contribuição será calculada sobre o salário de contribuição entre R$


2.571,30 à R$ 3.000,00, que é o salário de contribuição da pessoa do exemplo. Diminuindo esses
valores, tem-se R$ 428,70, que será o valor a ser multiplicado por 12,0%. Assim, a contribuição
nesta faixa de salário de contribuição será de R$ 51,44.
*Para todos verem: esquema

R$ R$ R$
3.000,00 2.571,30 428,70

R$
12,0% R$ 51,44
428,70

Assim, a contribuição será o resultado da soma dos valores apurados em cada uma das
faixas de percentuais sobre o salário de contribuição, totalizando, neste exemplo, em R$ 263,05.

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

*Para todos verem: esquema

R$ R$ R$
R$99,00
112,61 51,44 263,05

Os segurados contribuinte individual e segurado facultativo, como regra geral, contribuem


com 20% do salário de contribuição, que deverá ser no mínimo de um salário-mínimo, e, no
máximo, no teto de contribuição do INSS para o ano. Este percentual está previsto no artigo 199
do Decreto 3048/99:

Art. 199. A alíquota de contribuição dos segurados contribuinte individual e facultativo é


de vinte por cento aplicada sobre o respectivo salário-de-contribuição, observado os limi-
tes a que se referem os §§ 3º e 5º do art. 214.

*Para todos verem: esquema

Regra Geral
Contribuinte
Individual e
Facultativo
20% Limite 20% Limite
Mínimo Máximo
(R$ 1.320,00) (R$ 7.507,49)
= R$ 264,00 = R$ 1.501,49

Entretanto, caso os segurados contribuinte individual e segurado facultativo façam a es-


colha de não ter direito à aposentadoria por tempo de contribuição, e da emissão de certidão de
tempo de contribuição, podem contribuir 20% do salário do limite mínimo de contribuição. Esta
possibilidade está prevista no artigo 199-A do Decreto 3048/99:

Art. 199-A. A partir da competência em que o segurado fizer a opção pela exclusão do
direito ao benefício de aposentadoria por tempo de contribuição, é de onze por cento,
sobre o valor correspondente ao limite mínimo mensal do salário-de-contribuição, a
alíquota de contribuição:

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Direito Previdenciário

*Para todos verem: esquema

Contribuinte Individual e Facultativo

Sem aposentadoria por Tempo de Contribuição

Sem Certidão de Tempo de Contribuição

11% Sobre o Limite Mínimo

O contribuinte individual que foi microempreendedor individual (MEI) poderá contribuir


com a alíquota de 5% do limite mínimo mensal (salário-mínimo). Nesta modalidade, também não
há direito à aposentadoria por tempo de contribuição e certidão de tempo de contribuição. A
previsão está no § 1º, inciso I, do artigo 199-A do Decreto 3048/99:

Art. 199-A. A partir da competência em que o segurado fizer a opção pela exclusão do
direito ao benefício de aposentadoria por tempo de contribuição, é de onze por cento,
sobre o valor correspondente ao limite mínimo mensal do salário-de-contribuição, a
alíquota de contribuição:
§ 1º A alíquota de contribuição de que trata o caput é de cinco por cento:
I - a partir da competência maio de 2011, para o MEI, de que trata o § 26 do art. 9º, cuja
contribuição deverá ser recolhida na forma regulamentada em ato do Comitê Gestor do
Simples Nacional;

*Para todos verem: esquema

MEI 5% Limite Mínimo

O segurado facultativo que se dedique exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito


de sua residência, se pertencente à família de baixa renda, poderá contribuir com a alíquota de
5% do limite mínimo mensal (salário-mínimo). Nesta modalidade, também não há direito à apo-
sentadoria por tempo de contribuição e certidão de tempo de contribuição. O enquadramento
como família de baixa renda se dá por meio do cadastro no CADÚNICO (Cadastro Único para
Programas Sociais do Governo Federal), cuja renda mensal seja de até dois salários-mínimos
mensais. A previsão está no § 1º, inciso II, do artigo 199-A do Decreto 3048/99:

Art. 199-A. A partir da competência em que o segurado fizer a opção pela exclusão do
direito ao benefício de aposentadoria por tempo de contribuição, é de onze por cento,
sobre o valor correspondente ao limite mínimo mensal do salário-de-contribuição, a
alíquota de contribuição:
§ 1º A alíquota de contribuição de que trata o caput é de cinco por cento:

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Direito Previdenciário

II - a partir da competência setembro de 2011, para o segurado facultativo sem renda


própria que se dedique exclusivamente ao trabalho doméstico no âmbito de sua residên-
cia, desde que pertencente a família de baixa renda, observado o disposto no § 5º.

*Para todos verem: esquema

Dono(a) de casa Baixa Renda 5% Limite Mínimo

Por fim, o segurado especial não tem limite mínimo de contribuição. A contribuição deste
segurado não está condicionada ao salário de contribuição, mas sim a receita bruta da comerci-
alização da produção rural. A contribuição do segurado especial será de 1,3%, sendo 1,2% para
a Seguridade Social, e, 0,1% para o RAT (riscos ambientais do trabalho). A previsão legal está
no artigo 200 do Decreto 3048/99:

Art. 200. A contribuição do empregador rural pessoa física, em substituição à contribuição


de que tratam o inciso I do art. 201 e o art.202, e a do segurado especial, incidente sobre
a receita bruta da comercialização da produção rural, é de:
I - um inteiro e dois décimos por cento; e
II - zero vírgula um por cento para o financiamento dos benefícios concedidos em razão
do grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do tra-
balho.

Finaliza-se este ponto, destacando a importância de se observar percentuais diferentes


para diferentes categorias de trabalhador. Em verdade, estes percentuais refletem o princípio da
equidade na participação do custeio, bem como comprovam o caráter de solidariedade previsto
na Seguridade Social.

2.7.1 Salário de Contribuição


Ao estudarmos as contribuições dos segurados em muitas oportunidades foi mencionado
o salário de contribuição. Entretanto, não se tinha, até o momento, falado especificadamente
sobre o salário de contribuição.
O salário de contribuição nada mais é que a base de cálculo das contribuições previden-
ciárias. E, como será visto a seguir, algumas verbas que o trabalhador recebe podem não ser
consideradas salário de contribuição. Esta é a razão pela qual nos exemplos dados até aqui
utiliza-se a expressão salário de contribuição, e não simplesmente a palavra salário.
O artigo 214 do Decreto 3048/99 estabelece o que é o salário de contribuição para cada
uma das categorias de segurados do Regime Geral de Previdência Social, com exceção do

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Direito Previdenciário

segurado especial, que tem a contribuição a partir da receita bruta da comercialização da produ-
ção rural, sendo:
Art. 214. Entende-se por salário-de-contribuição:
I - para o empregado e o trabalhador avulso: a remuneração auferida em uma ou mais
empresas, assim entendida a totalidade dos rendimentos pagos, devidos ou creditados a
qualquer título, durante o mês, destinados a retribuir o trabalho, qualquer que seja a sua
forma, inclusive as gorjetas, os ganhos habituais sob a forma de utilidades e os adianta-
mentos decorrentes de reajuste salarial, quer pelos serviços efetivamente prestados, quer
pelo tempo à disposição do empregador ou tomador de serviços, nos termos da lei ou do
contrato ou, ainda, de convenção ou acordo coletivo de trabalho ou sentença normativa;
II - para o empregado doméstico: a remuneração registrada na Carteira Profissional e/ou
na Carteira de Trabalho e Previdência Social, observados os limites mínimo e máximo
previstos nos §§ 3º e 5º;
III - para o contribuinte individual: a remuneração auferida em uma ou mais empresas ou
pelo exercício de sua atividade por conta própria, durante o mês, observados os limites a
que se referem os §§ 3º e 5º;
VI - para o segurado facultativo: o valor por ele declarado, observados os limites a que se
referem os §§ 3º e 5º.

Ainda sobre o salário de contribuição, uma importante consideração precisa ser feita sobre
o § 9º do artigo 214, o qual apresenta rubricas que não integram o salário de contribuição. Trata-
se de verbas que são, em sua maior parte, de caráter indenizatório, não representando remune-
ração por tempo do trabalhador à disposição do empregador ou tomador do serviço.

2.7.2 Salário de Benefício


O salário de benefício é outro conceito importante no direito previdenciário. Importante
desde já destacar o salário de benefício não é o valor que a pessoa receberá. O salário de be-
nefício é o resultado de uma fórmula matemática que servirá como base de cálculo para os be-
nefícios previdenciários.
Sua previsão está no artigo 32 do Decreto 3048/99:

Art. 32. O salário de benefício a ser utilizado para o cálculo dos benefícios de que trata
este Regulamento, inclusive aqueles previstos em acordo internacional, consiste no resul-
tado da média aritmética simples dos salários de contribuição e das remunerações adota-
das como base para contribuições a regime próprio de previdência social ou como base
para contribuições decorrentes das atividades militares de que tratam os art. 42 e art. 142
da Constituição, considerados para a concessão do benefício, atualizados monetaria-
mente, correspondentes a cem por cento do período contributivo desde a competência
julho de 1994 ou desde o início da contribuição, se posterior a essa competência.

A partir da leitura do artigo é possível afirmar que o salário de benefício será o resultado
de uma média de todas as contribuições do segurado, desde a competência de julho de 1994,
ou, desde o início da contribuição, se posterior a julho de 1994.

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Direito Previdenciário

*Para todos verem: esquema

Salário de Benefício 100% do Período Contributivo

3. Benefícios em Espécie

3.1 Auxílio por Incapacidade Temporária


O auxílio por incapacidade temporária, antigo auxílio-doença, é o benefício previdenciário
pago ao segurado que fique incapacitado para seu trabalho ou atividade habitual por mais de 15
(quinze) dias, conforme disposto no caput do artigo 71 do Decreto 3048/99:

Art. 71. O auxílio por incapacidade temporária será devido ao segurado que, uma vez
cumprido, quando for o caso, o período de carência exigido, ficar incapacitado para o seu
trabalho ou para a sua atividade habitual por mais de quinze dias consecutivos, conforme
definido em avaliação médico-pericial.

Quem definirá qual o prazo da incapacidade será a avaliação médico-pericial. Mesmo que
porventura o atestado médico do segurado indique um prazo superior ao estipulado pela perícia
médica realizada no INSS, prevalecerá o prazo estipulado pela perícia médica do INSS.
O caput artigo menciona o cumprimento, quando for o caso do cumprimento de carência.
Carência é o número mínimo de contribuições que o segurado precisa ter direito ao benefício.
Neste sentido dispõe o artigo 26 do Decreto 3048/99:

Art. 26. Período de carência é o tempo correspondente ao número mínimo de contribui-


ções mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício, consideradas
as competências cujo salário de contribuição seja igual ou superior ao seu limite mínimo
mensal.

Como regra geral, o auxílio por incapacidade temporária exige o cumprimento de 12 con-
tribuições mensais, conforme artigo 29, inciso I, do Decreto 3048/99:

Art. 29. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social,
ressalvado o disposto no art. 30, depende dos seguintes períodos de carência:
I - doze contribuições mensais, nos casos de auxílio por incapacidade temporária e apo-
sentadoria por incapacidade permanente; e

40
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

Entretanto, o legislador entendeu que em alguns casos o período de carência fica dispen-
sado, conforme artigo 30, inciso III, do Decreto 3048/99:

Art. 30. Independe de carência a concessão das seguintes prestações:


III - auxílio por incapacidade temporária e aposentadoria por incapacidade permanente
nos casos de acidente de qualquer natureza ou causa e de doença profissional ou do
trabalho e nos casos de segurado que, após filiar-se ao RGPS, seja acometido de alguma
das doenças ou afecções especificadas em lista elaborada pelos Ministérios da Saúde e
da Economia, atualizada a cada três anos, de acordo com os critérios de estigma, defor-
mação, mutilação, deficiência ou outro fator que lhe confira especificidade e gravidade que
mereçam tratamento particularizado;

A partir do disposto no inciso III percebe-se que a incapacidade decorrente de acidente


de qualquer natureza, decorrente de doença profissional ou doença do trabalho, ou ainda, de
lista elaborada pelos Ministérios da Saúde e da Economia, dispensam o cumprimento das 12
contribuições mensais.
Como até o momento não foi elaborada a lista das doenças pelos Ministérios da Saúde e
da Economia, as doenças que dispensam carência foram elencadas no § 2º do artigo 30 do
Decreto 3048/99:

§ 2º Até que seja elaborada a lista de doenças ou afecções a que se refere o inciso III
do caput, independerá de carência a concessão de auxílio por incapacidade temporária e
de aposentadoria por incapacidade permanente ao segurado que, após filiar-se ao RGPS,
seja acometido por alguma das seguintes doenças:
I - tuberculose ativa;
II - hanseníase;
III - alienação mental;
IV - esclerose múltipla;
V - hepatopatia grave;
VI - neoplasia maligna;
VII - cegueira;
VIII - paralisia irreversível e incapacitante;
IX - cardiopatia grave;
X - doença de Parkinson;
XI - espondiloartrose anquilosante;
XII - nefropatia grave;
XIII - estado avançado da doença de Paget (osteíte deformante);
XIV - síndrome da imunodeficiência adquirida (aids); ou
XV - contaminação por radiação, com base em conclusão da medicina especializada.

O § 1º do artigo 71 possui uma informação bem importante nos benefícios por incapaci-
dade temporária: doença pré-existente a filiação do segurado no Regime Geral de Previdência
Social não tem cobertura, salvo se a incapacidade decorrer de progressão ou o agravamento da
doença. Neste sentido:

41
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

Art. 71. (...)


§ 1º Não será devido auxílio por incapacidade temporária ao segurado que se filiar ao
RGPS já portador de doença ou lesão invocada como causa para a concessão do benefí-
cio, exceto quando a incapacidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento
dessa doença ou lesão.

Para compreender o que é a doença pré-existente, basta fazer uma analogia com um
seguro veicular. Não adianta querer fazer o seguro do carro após o acidente de trânsito. A mesma
lógica vale para o direito previdenciário. Não terá proteção o trabalhador que ingressa com a
doença no sistema previdenciário. Ele somente terá proteção se ficar comprovado na perícia
médica que a incapacidade tem relação com a progressão ou agravamento da doença.
Nos casos em que o segurado exercer mais de uma atividade laborativa, a perícia médica
federal deverá indicar se a incapacidade é para uma ou para todas as atividades do segurado,
conforme previsão do artigo 73 do Decreto 3048/99:

Art. 73. O auxílio por incapacidade temporária do segurado que exercer mais de uma
atividade abrangida pela previdência social será devido mesmo no caso de incapacidade
apenas para o exercício de uma delas, hipótese em que o segurado deverá informar a
Perícia Médica Federal a respeito de todas as atividades que estiver exercendo.

O auxílio por incapacidade temporária durará o tempo entendido pela perícia médica para
recuperação da capacidade laborativa. Caso não ocorra a recuperação da capacidade laborativa,
durará até a conversão em aposentadoria por incapacidade permanente, ou, se ocorrer a recu-
peração para a atividade laborativa, mas sobrevenha perda ou redução da capacidade para o
trabalho em razão de acidente do trabalho ou acidente de qualquer natureza, o auxílio por inca-
pacidade temporária durará até a conversão em auxílio acidente, conforme disposto no art. 78
do Decreto 3048/99:

Art. 78. O auxílio por incapacidade temporária cessa pela recuperação da capacidade
para o trabalho, pela concessão de aposentadoria por incapacidade permanente ou, na
hipótese de o evento causador da redução da capacidade laborativa ser o mesmo que
gerou o auxílio por incapacidade temporária, pela concessão do auxílio acidente.

O benefício por incapacidade temporária terá uma renda mensal inicial de 91% do salá-
rio de benefício (que é o resultado da média aritmética de todo o período contributivo do segu-
rado).
*Para todos verem: esquema

Auxílio por Incapacidade Temporária 91% do Salário de Benefício

42
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

Observação: Nos termos do artigo 75 do Decreto 3048/99: “Durante os primeiros quinze


dias consecutivos de afastamento da atividade por motivo de incapacidade temporária, compete
à empresa pagar o salário ao segurado empregado.” ESTA REGRA SE APLICA SOMENTE AO
SEGURADO EMPREGADO.

3.2 Aposentadoria por Incapacidade Permanente


A aposentadoria por incapacidade permanente, antiga aposentadoria por invalidez, possui
muitas semelhanças com o auxílio por incapacidade temporária, visto no tópico anterior. Sua
concessão está condicionada a incapacidade para o trabalho/atividade habitual, e, impossibili-
dade de reabilitação para outra atividade que possa lhe garantir a subsistência. Está prevista no
artigo 43 do Decreto 3048/99:

Art. 43. A aposentadoria por incapacidade permanente, uma vez cumprido o período de
carência exigido, quando for o caso, será devida ao segurado que, em gozo ou não de
auxílio por incapacidade temporária, for considerado incapaz para o trabalho e insuscetível
de reabilitação para o exercício de atividade que lhe garanta a subsistência, que lhe será
paga enquanto permanecer nessa condição.

O caput artigo menciona o cumprimento, quando for o caso do cumprimento de carência.


Carência é o número mínimo de contribuições que o segurado precisa ter direito ao benefício.
Neste sentido dispõe o artigo 26 do Decreto 3048/99:

Art. 26. Período de carência é o tempo correspondente ao número mínimo de contribui-


ções mensais indispensáveis para que o beneficiário faça jus ao benefício, consideradas
as competências cujo salário de contribuição seja igual ou superior ao seu limite mínimo
mensal.

Como regra geral, a aposentadoria por incapacidade permanente exige o cumprimento de


12 contribuições mensais, conforme artigo 29, inciso I, do Decreto 3048/99:

Art. 29. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social,
ressalvado o disposto no art. 30, depende dos seguintes períodos de carência:
I - doze contribuições mensais, nos casos de auxílio por incapacidade temporária e apo-
sentadoria por incapacidade permanente;

Entretanto, o legislador entendeu que em alguns casos o período de carência fica dispen-
sado, conforme artigo 30, inciso III, do Decreto 3048/99:

Art. 30. Independe de carência a concessão das seguintes prestações:


III - auxílio por incapacidade temporária e aposentadoria por incapacidade permanente
nos casos de acidente de qualquer natureza ou causa e de doença profissional ou do
trabalho e nos casos de segurado que, após filiar-se ao RGPS, seja acometido de alguma

43
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

das doenças ou afecções especificadas em lista elaborada pelos Ministérios da Saúde e


da Economia, atualizada a cada três anos, de acordo com os critérios de estigma, defor-
mação, mutilação, deficiência ou outro fator que lhe confira especificidade e gravidade que
mereçam tratamento particularizado;

A partir do disposto no inciso III percebe-se que a incapacidade permanente decorrente


de acidente de qualquer natureza, decorrente de doença profissional ou doença do trabalho, ou
ainda, de lista elaborada pelos Ministérios da Saúde e da Economia, dispensam o cumprimento
das 12 contribuições mensais.
Como até o momento não foi elaborada a lista das doenças pelos Ministérios da Saúde e
da Economia, as doenças que dispensam carência foram elencadas no § 2º do artigo 30 do
Decreto 3048/99:
§ 2º Até que seja elaborada a lista de doenças ou afecções a que se refere o inciso III
do caput, independerá de carência a concessão de auxílio por incapacidade temporária e
de aposentadoria por incapacidade permanente ao segurado que, após filiar-se ao RGPS,
seja acometido por alguma das seguintes doenças:
I - tuberculose ativa;
II - hanseníase;
III - alienação mental;
IV - esclerose múltipla;
V - hepatopatia grave;
VI - neoplasia maligna;
VII - cegueira;
VIII - paralisia irreversível e incapacitante;
IX - cardiopatia grave;
X - doença de Parkinson;
XI - espondiloartrose anquilosante;
XII - nefropatia grave;
XIII - estado avançado da doença de Paget (osteíte deformante);
XIV - síndrome da imunodeficiência adquirida (aids); ou
XV - contaminação por radiação, com base em conclusão da medicina especializada.

O § 2º do artigo 43 possui uma informação bem importante para a aposentadoria por in-
capacidade permanente: doença pré-existente a filiação do segurado no Regime Geral de Pre-
vidência Social não tem cobertura, salvo se a incapacidade decorrer de progressão ou o agrava-
mento da doença. Neste sentido:

Art. 43. (...)


§ 2º A doença ou lesão de que o segurado já era portador ao filiar-se ao RGPS não lhe
conferirá direito à aposentadoria por incapacidade permanente, exceto quando a incapa-
cidade sobrevier por motivo de progressão ou agravamento dessa doença ou lesão.

Outra informação relevante está no começo do § 1º do artigo 44 do Decreto 3048/99, ao


afirmar que a aposentadoria por incapacidade permanente dependerá da conclusão, por parte
da perícia médica, de “existência de incapacidade total e definitiva para o trabalho”.

44
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

Mais do que a constatação de incapacidade total e definitiva para o trabalho na perícia


médica, o segurado aposentado por incapacidade permanente, nos termos do artigo 46 do De-
creto 3048/99 “poderá ser convocado a qualquer momento para avaliação das condições que
ensejaram o afastamento ou a aposentadoria, concedida judicial ou administrativamente, sem
prejuízo do disposto no § 1º e sob pena de suspensão do benefício.”.
O aposentado por incapacidade permanente ficará dispensado das convocações somente
após “completar cinquenta e cinco anos de idade e quando decorridos quinze anos da data de
concessão da aposentadoria por incapacidade permanente ou do auxílio por incapacidade tem-
porária que a tenha precedido”, ou, “após completar sessenta anos de idade”
Sendo constatada em perícia médica a recuperação da capacidade laborativa, ou, retor-
nando o aposentado por incapacidade permanente para o mercado de trabalho, a aposentadoria
por incapacidade permanente será cessada, conforme disposto nos artigos 48 e 49 do Decreto
3048/99.
Por outro lado, caso o aposentado por incapacidade permanente necessite de auxílio
constante de terceira pessoa, o benefício terá um acréscimo de 25% (vinte e cinco por cento),
podendo inclusive, somado o valor da aposentadoria e do acréscimo, superar o teto de benefícios
do Regime Geral de Previdência Social. Neste sentido:

Art. 45. O valor da aposentadoria por incapacidade permanente do segurado que neces-
sitar da assistência permanente de outra pessoa será acrescido de vinte e cinco por cento,
observada a relação constante do Anexo I, e:
I - devido ainda que o valor da aposentadoria atinja o limite máximo legal; e
II - recalculado quando o benefício que lhe deu origem for reajustado.

Em relação a renda mensal inicial da aposentadoria por incapacidade permanente, ela


possui uma regra geral, e, uma exceção, ambas previstas no artigo 44 do Decreto 3048/99:

Art. 44. A aposentadoria por incapacidade permanente será devida a partir do dia imedi-
ato ao da cessação do auxílio por incapacidade temporária, ressalvado o disposto no § 1º,
e consistirá em renda mensal decorrente da aplicação dos seguintes percentuais inciden-
tes sobre o salário de benefício, definido na forma do disposto no art. 32:
I - sessenta por cento, com acréscimo de dois pontos percentuais para cada ano de con-
tribuição que exceder o tempo de vinte anos de contribuição, para os homens, ou quinze
anos de contribuição, para as mulheres; ou
II - cem por cento, quando a aposentadoria decorrer de:
a) acidente de trabalho;
b) doença profissional; ou
c) doença do trabalho.

45
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

A regra do inciso I estabelece que a aposentadoria por incapacidade permanente terá uma
renda mensal que terá um valor base de 60% do salário de benefício. O aumento deste percen-
tual dependerá para os homens, que tenham mais que vinte anos de tempo de contribuição, e,
para as mulheres, que tenham mais de quinze anos de tempo de contribuição. Caso o homem
não tenha atingido os 20 anos de tempo de contribuição ou a mulher não tenha atingido os 15
anos de tempo de contribuição, receberão tão somente 60% do salário de benefício.
Observação: Nos termos do artigo 201, § 2º da Constituição Federal “Nenhum benefício
que substitua o salário de contribuição ou o rendimento do trabalho do segurado terá
valor mensal inferior ao salário-mínimo.”
Agora, tomemos como exemplo um homem que é aposentado por incapacidade perma-
nente com 25 de tempo de contribuição. A legislação estabelece um acréscimo de 2% (dois por
cento) a cada ano que ultrapasse os 20 anos de tempo de contribuição para os homens. Neste
caso, o homem receberá 60% do salário de benefício, acrescido de mais 10%, que é o resultado
dos 5 anos que passam dos 20 anos de tempo de contribuição, multiplicados por 2%. Logo, a
renda mensal inicial, neste caso, será de 70% do salário de benefício.
*Para todos verem: esquema

60% (20 anos) + 10%


2% x 5 anos
Homem =
=
25 anos TC 70% Salário de
10%
Benefício

Utilizemos os mesmos 25 anos de tempo de contribuição, mas com uma mulher que será
aposentada por incapacidade permanente. A mulher receberá 60% do salário de benefício, que
será acrescido de mais 20%, que é o resultado dos 10 anos a mais que os 15 anos de tempo de
contribuição determinado para as mulheres. Logo, a renda mensal inicial, neste caso, será de
80% do salário de benefício.
*Para todos verem: esquema

60% (20 anos) +


2% x 10 anos 20%
Mulher
= =
25 anos TC
20% 80% Salário de
Benefício

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

O que se percebe a partir dos exemplos acima é que com os mesmos tempos de contri-
buição, homens e mulheres, na regra geral, terão rendas mensais iniciais com valores diferentes,
a partir dos critérios definidos na legislação.
Entretanto, o inciso II cria uma exceção, não fazendo distinção entre homens e mulheres.
Todavia, determina que a aposentadoria por incapacidade permanente seja precedida de aci-
dente do trabalho, doença profissional ou doença do trabalho. Quando se tratar de aposentadoria
por incapacidade permanente com alguma destas três causas, o salário de benefício será de
100% do salário de benefício.
*Para todos verem: esquema

Acidente do
Trabalho

Aposentadoria
100 % do Salário Doença
por Incapacidade
de Benefício Profissional
Permanente

Doença do
Trabalho

Observação: Os conceitos previdenciários de acidente do trabalho, doença profissional e


doença do trabalho estão entre os artigos 19 e 21 da Lei 8.213/91.

3.3 Auxílio-Acidente
O auxílio-acidente é o único benefício previdenciário que possui natureza indeniza-
tória. Será pago após o retorno ao trabalho para o segurado que tiver a consolidação de lesão
que resulte em perda ou redução da capacidade para a atividade habitual. Esta perda ou redução
da capacidade para a atividade habitual poderá ter como origem um acidente do trabalho ou um
acidente de qualquer natureza. Está previsto no artigo 104 do Decreto 3048/99:

Art. 104. O auxílio-acidente será concedido, como indenização, ao segurado empregado,


inclusive o doméstico, ao trabalhador avulso e ao segurado especial quando, após a con-
solidação das lesões decorrentes de acidente de qualquer natureza, resultar sequela de-
finitiva que, a exemplo das situações discriminadas no Anexo III, implique redução da ca-
pacidade para o trabalho que habitualmente exercia.

47
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

Perceba que o artigo 104 não aborda, como no auxílio por incapacidade temporária e na
aposentadoria por invalidez, a questão da carência. Isto porque, nos termos do artigo 30, inciso
I, do Decreto 3048/99, o auxílio acidente independe de carência. Neste sentido:

Art. 30. Independe de carência a concessão das seguintes prestações:


I - pensão por morte, salário-família e auxílio-acidente de qualquer natureza, observado,
quanto à pensão por morte, o disposto no inciso V do caput e nos § 3º e § 4º do art. 114;

Uma observação fundamental de ser feita é que o auxílio-acidente não é pago a todos
os segurados. Conforme princípio da seletividade e distributividade anteriormente visto neste
material, o legislador entendeu que este benefício é concedido tão somente aos segurados em-
pregado, empregado doméstico, trabalhador avulso, e, segurado especial. O contribuinte indivi-
dual e o segurado facultativo foram excluídos dos beneficiários.

*Para todos verem: esquema

Empregado

Empregado Doméstico

Auxílio-Acidente

Trabalhador Avulso

Segurado Especial

Além disso, a concessão do auxílio-acidente depende da consolidação das lesões que


impliquem perda ou redução da capacidade laborativa. Se a consolidação da lesão não implicar
perda ou redução da capacidade laborativa não será devido o auxílio acidente, conforme art.
104, § 4º, inciso I, do Decreto 3048/99.
Enquanto as lesões não estiverem consolidadas, o segurado receberá o auxílio por inca-
pacidade temporária. Tanto é assim que o § 2º do artigo 104 estabelece que “O auxílio-acidente
será devido a partir do dia seguinte ao da cessação do auxílio por incapacidade temporária (...)”.

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

Quanto a renda mensal inicial, a mesma será de 50% do salário de benefício que deu
origem ao auxílio-doença do segurado. Neste sentido:

Art. 104. (...)


§ 1º O auxílio-acidente mensal corresponderá a cinquenta por cento do salário-de-benefí-
cio que deu origem ao auxílio-doença do segurado, corrigido até o mês anterior ao do
início do auxílio-acidente e será devido até a véspera de início de qualquer aposentadoria
ou até a data do óbito do segurado.

Da leitura do § 1º depreende-se ainda que o auxílio acidente será devido até a véspera
de início de qualquer aposentadoria ou até a data do óbito do segurado. Isto porque, em se
tratando de um benefício que possui caráter indenizatório pelo fato de o segurado retornar ao
trabalho com perda ou redução da capacidade laborativa, o afastamento pela aposentadoria, ou
pelo óbito, retiram do benefício a função de existir.

3.4 Aposentadoria por Idade do Trabalhador Rural


Com a reforma da previdência da Emenda Constitucional 103/19, o trabalhador rural foi o
único que teve o requisito idade mantido para fins de aposentadoria por idade, até mesmo pelo
fato de que, conforme será visto adiante, a aposentadoria por idade foi substituída pela aposen-
tadoria programada, que agora exige idade mínima e tempo de contribuição mínimo.
A aposentadoria por idade do trabalhador rural está prevista no artigo 56 do Decreto
3048/99, exigindo cumprimento de carência e idade mínima de 55 anos para as mulheres, e, 60
anos para os homens. Neste sentido:

Art. 56. A aposentadoria por idade do trabalhador rural, uma vez cumprido o período de
carência exigido, será devida aos segurados a que se referem a alínea “a” do inciso I, a
alínea “j” do inciso V e os incisos VI e VII do caput do art. 9º e aos segurados garimpeiros
que trabalhem, comprovadamente, em regime de economia familiar, conforme definido no
§ 5º do art. 9º, quando completarem cinquenta e cinco anos de idade, se mulher, e ses-
senta anos de idade, se homem.

Os segurados que fazem jus a aposentadoria por idade do trabalhador rural foram delimi-
tados no caput do artigo, sendo eles: o empregado rural; o contribuinte individual que presta
serviço de natureza rural, em caráter eventual, a uma ou mais empresas, sem relação de em-
prego; o trabalhador avulso que presta serviço de natureza rural, com intermediação obrigatória
do órgão gestor de mão de obra; o segurado especial (atividade agropecuária, pescador artesa-
nal, seringueiro, extrativista vegetal), e, o garimpeiro que trabalhe em regime de economia fami-
liar.

49
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

Observação: O garimpeiro não é segurado especial. Se aposentará com idade diferenci-


ada se trabalhar em regime de economia familiar.
No que diz respeito a carência, o artigo 29, inciso II do Decreto 3048/99 estabelece a
carência da aposentadoria por idade do trabalhador rural em 180 contribuições mensais:

Art. 29. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social,
ressalvado o disposto no art. 30, depende dos seguintes períodos de carência:
(...)
II - cento e oitenta contribuições mensais, nos casos de aposentadoria programada, por
idade do trabalhador rural e especial;

O § 1º do artigo 56 do Decreto 3048/99 determina ainda que para ter direito à aposenta-
doria por idade, o trabalhador rural precisa comprovar esta na atividade no período imediata-
mente anterior ao requerimento do benefício. Neste sentido:

Art. 56. (...)


§ 1º Para fins do disposto no caput, o segurado a que se refere o inciso VII do caput do
art. 9º comprovará o efetivo exercício de atividade rural, ainda que de forma descontínua,
no período imediatamente anterior ao requerimento do benefício ou, conforme o caso, ao
mês em que tiver cumprido o requisito etário, por tempo igual ao número de meses de
contribuição correspondente à carência do benefício pretendido, computados os períodos
pelos quais o segurado especial tenha recebido os rendimentos a que se referem os inci-
sos III ao VIII do § 8º do art. 9º.

Em relação ao valor da renda mensal inicial, o segurado especial receberá um salário-


mínimo, afinal, sua contribuição é a mais baixa dentre todos os segurados. Neste sentido:

Art. 56. (...)


§ 3º O valor da renda mensal do benefício de que trata este artigo para os trabalhadores
rurais a que se refere o inciso VII do caput do art. 9º será de um salário-mínimo.

Os demais segurados que tem direito a aposentadoria por idade do trabalhador rural re-
ceberão uma renda mensal de 70% do salário de benefício, com acréscimo de 1% (um por cento)
para cada ano de contribuição. Neste sentido:

Art. 56. (...)


§ 2º O valor da renda mensal da aposentadoria de que trata este artigo para os trabalha-
dores rurais a que se referem a alínea “a” do inciso I, a alínea “j” do inciso V e o inciso VI
do caput do art. 9º, para o garimpeiro e para o segurado especial que contribua facultati-
vamente corresponderá a setenta por cento do salário de benefício definido na forma pre-
vista no art. 32, com acréscimo de um ponto percentual para cada ano de contribuição.

Há ainda que se falar na possibilidade de aposentadoria por idade do trabalhador rural na


modalidade hibrida. Embora a legislação não traga esta expressão, é a modalidade na qual o

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

trabalhador utiliza tempo rural e tempo urbano para se aposentar. Entretanto, como nem todo o
período é rural, a legislação muda o critério de idade para conseguir o benefício. Neste sentido:

Art. 57. Os trabalhadores rurais que não atendam ao disposto no art. 56 mas que satis-
façam essa condição, se considerados períodos de contribuição sob outras categorias de
segurado, farão jus ao benefício ao atenderem os requisitos definidos nos incisos I e
II do caput do art. 51.

Os incisos I e II do artigo 51 do Decreto 3048/99 estabelecem o tempo mínimo de contri-


buição de 20 anos para os homens e de 15 anos para as mulheres, e, as idades mínimas de 65
anos para os homens, e, 62 anos para as mulheres.
Na modalidade híbrida, a renda mensal também é diferente. Será pago 60% do salário de
benefício, acrescido de dois pontos percentuais para cada ano que ultrapassar os quinze anos
de tempo de contribuição para as mulheres e os 20 anos de tempo de contribuição para os
homens.
Por fim, nos termos do § 2º do artigo 57 do Decreto 3048/99, não se exige que ao momento
da aposentadoria “o segurado não se enquadre como trabalhador rural.”.

3.5 Aposentadoria Programada


A aposentadoria programada foi uma das grandes mudanças trazidas pela Emenda Cons-
titucional 103/19. Veio para substituir as aposentadorias por idade, e, aposentadoria por tempo
de contribuição. Neste contexto, a legislação passa a exigir que o segurado cumpra de forma
cumulativa os requisitos etário e de tempo de contribuição mínimo para aposentadoria. Sua pre-
visão está no artigo 51 do Decreto 3048/99:

Art. 51. A aposentadoria programada, uma vez cumprido o período de carência exigido,
será devida ao segurado que cumprir, cumulativamente, os seguintes requisitos:
I - sessenta e dois anos de idade, se mulher, e sessenta e cinco anos de idade, se homem;
e
II - quinze anos de tempo de contribuição, se mulher, e vinte anos de tempo de contribui-
ção, se homem.

Quanto ao requisito carência, o artigo 29, inciso II estabelece a exigência de 180 contri-
buições mensais:

Art. 29. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social,
ressalvado o disposto no art. 30, depende dos seguintes períodos de carência:
(...)
II - cento e oitenta contribuições mensais, nos casos de aposentadoria programada, por
idade do trabalhador rural e especial;

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

Exige-se ainda a idade mínima de 62 anos, cumulado com 15 anos de tempo mínimo de
contribuição para as mulheres, e, 65 anos, cumulado com 20 anos de tempo mínimo de contri-
buição para os homens. A renda mensal inicial será de 60% do salário de benefício, acrescido
de dois pontos percentuais para cada ano que ultrapassar os quinze anos de tempo de contri-
buição para as mulheres e os 20 anos de tempo de contribuição para os homens. Logo, tal qual
no exemplo da regra geral da aposentadoria por incapacidade permanente, homens e mulheres
terão rendas mensais diferentes, mesmo que tenham os mesmos períodos de tempo de contri-
buição.
*Para todos verem: esquema

65 anos
Idade
Homem
20 anos
Tempo de Contribuição
Aposentadoria
Programada
62 anos
Idade
Mulher
15 anos
Tempo de Contribuição

Em se tratando de professor(a) da educação infantil, ensino fundamental ou ensino médio,


cumprida a carência exigida (180 contribuições mensais), tem-se requisitos idade e tempo de
contribuição diversos, conforme artigo 54 do Decreto 3048/99:

Art. 54. Para o professor que comprove, exclusivamente, tempo de efetivo exercício em
função de magistério na educação infantil, no ensino fundamental ou no ensino médio,
desde que cumprido o período de carência exigido, será concedida a aposentadoria de
que trata esta Subseção quando cumprir, cumulativamente, os seguintes requisitos:
I - cinquenta e sete anos de idade, se mulher, e sessenta anos de idade, se homem; e
II - vinte e cinco anos de contribuição, para ambos os sexos, em efetivo exercício na função
a que se refere o caput.

52
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

*Para todos verem: esquema

60 anos
Idade
Homem
25 anos
Tempo de Contribuição -
Aposentadoria Professor
Programada
PROFESSOR(A) 57 anos
Idade
Mulher
25 anos
Tempo de Contribuição -
Professora
Quanto a renda mensal inicial, será de 60% do salário de benefício, acrescido de dois
pontos percentuais para cada ano que ultrapassar os quinze anos de tempo de contribuição para
as mulheres e os 20 anos de tempo de contribuição para os homens.

3.6 Aposentadoria Especial


A aposentadoria especial, é importante que se diga desde já, não é a aposentadoria do
segurado especial. É a aposentadoria devida ao trabalhador exposto a agente físico, químico,
biológico, ou ainda, associação destes agentes, que colocam em risco a saúde e a integridade
física do trabalhador.
Também não é devida a todo trabalhador que recebe insalubridade ou periculosidade,
pois, para ter direito à aposentadoria especial é necessário que o trabalhador seja exposto de
forma permanente ao agente prejudicial, que precisará ser comprovado mediante um documento
específico, o PPP (perfil profissiográfico previdenciário).
A reforma da previdência da Emenda Constitucional 103/19 trouxe significativa mudança
para a aposentadoria especial. Antes da Emenda, era necessário tão somente o tempo mínimo
de atividade especial. Após a Emenda, é necessário tempo mínimo de atividade especial, bem
como idade mínima para acesso ao benefício. Estas considerações são feitas a partir da leitura
do artigo 64 do Decreto 3048/99:

Art. 64. A aposentadoria especial, uma vez cumprido o período de carência exigido, será
devida ao segurado empregado, trabalhador avulso e contribuinte individual, este último
somente quando cooperado filiado a cooperativa de trabalho ou de produção, que com-
prove o exercício de atividades com efetiva exposição a agentes químicos, físicos e bioló-
gicos prejudiciais à saúde, ou a associação desses agentes, de forma permanente, não
ocasional nem intermitente, vedada a caracterização por categoria profissional ou ocupa-
ção, durante, no mínimo, quinze, vinte ou vinte e cinco anos, e que cumprir os seguintes
requisitos:

53
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

I - cinquenta e cinco anos de idade, quando se tratar de atividade especial de quinze anos
de contribuição;
II - cinquenta e oito anos de idade, quando se tratar de atividade especial de vinte anos de
contribuição; ou
III - sessenta anos de idade, quando se tratar de atividade especial de vinte e cinco anos
de contribuição.

A primeira observação a ser feita é que a aposentadoria especial não é devida a todos os
segurados. Conforme se verifica no caput do artigo 64, somente o segurado empregado, o tra-
balhador avulso, e, o contribuinte individual (desde que filiado à cooperativa de trabalho ou de
produção) terão direito à aposentadoria especial.
Quanto ao requisito carência, o artigo 29, inciso II estabelece a exigência de 180 contri-
buições mensais:

Art. 29. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social,
ressalvado o disposto no art. 30, depende dos seguintes períodos de carência:
(...)
II - cento e oitenta contribuições mensais, nos casos de aposentadoria programada, por
idade do trabalhador rural e especial;

A exposição ao agente físico, químico, biológico, ou, associação destes agentes, nos ter-
mos do § 2º do artigo 64 do Decreto 3048/99 “deverá superar os limites de tolerância estabele-
cidos segundo critérios quantitativos ou estar caracterizada de acordo com os critérios da avali-
ação qualitativa de que trata o § 2º do art. 68.”
A exposição permanente aos agentes de risco é especificada no caput do artigo 65 do
Decreto 3048/99, indicando que o “tempo de trabalho permanente aquele que é exercido de
forma não ocasional nem intermitente, no qual a exposição do empregado, do trabalhador avulso
ou do cooperado ao agente nocivo seja indissociável da produção do bem ou da prestação do
serviço.”
Como anteriormente referido, o documento que comprova o exercício da atividade espe-
cial é o Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), descrito no artigo 68, § 8º e 9º do Decreto
3048/99:
Art. 68. A relação dos agentes nocivos químicos, físicos, biológicos ou associação de
agentes prejudiciais à saúde ou à integridade física, considerados para fins de concessão
de aposentadoria especial, consta do Anexo IV.
§ 8º A empresa deverá elaborar e manter atualizado o perfil profissiográfico previdenciário,
ou o documento eletrônico que venha a substituí-lo, no qual deverão ser contempladas as
atividades desenvolvidas durante o período laboral, garantido ao trabalhador o acesso às
informações nele contidas, sob pena de sujeição às sanções previstas na alínea “h” do
inciso I do caput do art. 283.

54
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

§ 9º Para fins do disposto no § 8º, considera-se perfil profissiográfico previdenciário o do-


cumento que contenha o histórico laboral do trabalhador, elaborado de acordo com o mo-
delo instituído pelo INSS.

O valor da renda mensal inicial do benefício seguirá a regra da aposentadoria programada,


sendo de “sessenta por cento do salário de benefício definido na forma prevista no art. 32, com
acréscimo de dois pontos percentuais para cada ano de contribuição que exceder o tempo de
vinte anos de contribuição exceto no caso da aposentadoria a que se refere o inciso I do caput do
art. 64 e das mulheres, cujo acréscimo será aplicado para cada ano de contribuição que exceder
quinze anos de contribuição.”
*Para todos verem: esquema

Exposição 15 anos 55 Anos de Idade

Aposentadoria Especial Exposição 20 Anos 58 Anos de Idade

Exposição 25 Anos 60 Anos de Idade

3.7 Aposentadoria da Pessoa com Deficiência


A aposentadoria da pessoa com deficiência pode ser de duas formas: por idade ou por
tempo de contribuição.
A aposentadoria por idade da pessoa com deficiência está prevista no artigo 70-C do De-
creto 3048/99:
Art. 70-C. A aposentadoria por idade da pessoa com deficiência, cumprida a carência, é
devida ao segurado aos sessenta anos de idade, se homem, e cinquenta e cinco anos de
idade, se mulher.

Em relação a carência, na aposentadoria por idade da pessoa com deficiência a legislação


exige que a carência seja cumprida na condição de pessoa com deficiência, conforme se
verifica no § 1º do artigo 70-C do Decreto 3048/99:

Art. 70-C. (...)


§ 1o Para efeitos de concessão da aposentadoria de que trata o caput, o segurado deve
contar com no mínimo quinze anos de tempo de contribuição, cumpridos na condição de
pessoa com deficiência, independentemente do grau, observado o disposto no art. 70-D.

55
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

A condição de pessoa com deficiência será avaliada por meio de avaliação biopsicos-
social, a qual, nos termos do caput do artigo 70-A do Decreto 3048/99 será “realizada por equipe
multiprofissional e interdisciplinar”, que indicará “grau de deficiência leve, moderada ou grave”.

*Para todos verem: esquema.

Homem 60 Anos de Idade


Aposentadoria por Idade
da Pessoa com Deficiência
Mulher 55 Anos de Idade

A renda mensal inicial da aposentadoria por idade da pessoa com deficiência está prevista
no artigo 70-J, inciso II do Decreto 3048/99:

Art. 70-J. A renda mensal da aposentadoria devida ao segurado com deficiência será
calculada a partir da aplicação dos seguintes percentuais sobre o salário de benefício de-
finido na forma prevista no art. 32:
(...)
II - setenta por cento, acrescido de um ponto percentual do salário de benefício por grupo
de doze contribuições mensais até o máximo de trinta por cento, na hipótese de aposen-
tadoria por idade de que trata o art. 70-C.

Por seu turno, a aposentadoria por tempo de contribuição da pessoa com deficiência terá
como principal condicionante o grau da deficiência, apurado na perícia biopsicossocial, conforme
artigo 70-B do Decreto 3048/99:

Art. 70-B. A aposentadoria por tempo de contribuição do segurado com deficiência, cum-
prida a carência, é devida ao segurado empregado, inclusive o doméstico, trabalhador
avulso, contribuinte individual e facultativo, observado o disposto no art. 199-A e os se-
guintes requisitos:
I - aos vinte e cinco anos de tempo de contribuição na condição de pessoa com deficiência,
se homem, e vinte anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência grave;
II - aos vinte e nove anos de tempo de contribuição na condição de pessoa com deficiência,
se homem, e vinte e quatro anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência mode-
rada; e
III - aos trinta e três anos de tempo de contribuição na condição de pessoa com deficiência,
se homem, e vinte e oito anos, se mulher, no caso de segurado com deficiência leve.

Em relação a carência, na aposentadoria por tempo de contribuição da pessoa com defi-


ciência a legislação também exige que a carência seja cumprida na condição de pessoa com
deficiência, conforme se verifica no § 1º do artigo 70-C do Decreto 3048/99:

56
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

Art. 70-C. (...)


§ 1o Para efeitos de concessão da aposentadoria de que trata o caput, o segurado deve
contar com no mínimo quinze anos de tempo de contribuição, cumpridos na condição de
pessoa com deficiência, independentemente do grau, observado o disposto no art. 70-D.

A renda mensal inicial da aposentadoria por tempo de contribuição da pessoa com defici-
ência está prevista no artigo 70-J, inciso I do Decreto 3048/99:

Art. 70-J. A renda mensal da aposentadoria devida ao segurado com deficiência será
calculada a partir da aplicação dos seguintes percentuais sobre o salário de benefício de-
finido na forma prevista no art. 32:
I - cem por cento, na hipótese de aposentadoria por tempo de contribuição de que trata o
art. 70-B.
*Para todos verem: esquema

33 Anos
Homem
Tempo de Contribuição
Leve
28 Anos
Mulher
Tempo de Contribuição

29 Anos
Homem
Aposentadoria por Tempo Tempo de Contribuição
de Contribuição da Moderada
Pessoa com Deficiência 24 Anos
Mulher
Tempo de Contribuição

25 Anos
Homem
Tempo de Contribuição
Grave
20 Anos
Mulher
Tempo de Contribuição

3.8 Pensão por Morte


A pensão por morte é um benefício pago aos dependentes do segurado, aposentado ou
não, em caso de óbito ou de morte presumida. Nos termos do artigo 30, inciso I, a pensão por
morte independe de carência:
Art. 30. Independe de carência a concessão das seguintes prestações:
I - pensão por morte, salário-família e auxílio-acidente de qualquer natureza, observado,
quanto à pensão por morte, o disposto no inciso V do caput e nos § 3º e § 4º do art.
114;

57
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

O benefício será dividido em partes iguais entre todos os dependentes da mesma classe,
conforme determinação do artigo 113 do Decreto 3048/99, no sentido de que “A pensão por
morte, havendo mais de um pensionista, será rateada entre todos, em partes iguais.”
Em alguns casos, os dependentes podem perder o direito a pensão por morte, a saber:

Art. 105. (...)


§ 4º Perde o direito à pensão por morte o condenado criminalmente por sentença transi-
tada em julgado, como autor, coautor ou partícipe de homicídio doloso, ou de tentativa
desse crime, cometido contra a pessoa do segurado, ressalvados os absolutamente inca-
pazes e os inimputáveis.
§ 5º Perde o direito à pensão por morte o cônjuge ou o companheiro ou a companheira se
comprovada, a qualquer tempo, simulação ou fraude no casamento ou na união estável,
ou a formalização desses com o fim exclusivo de constituir benefício previdenciário, apu-
rada em processo judicial, assegurados os direitos ao contraditório e à ampla defesa.

Uma inovação trazida pela Emenda Constitucional 103/19 foi a de que, cessada a cota de
um dependente, ela não é repassada aos demais, como acontecia anteriormente. Por exemplo,
são 3 dependentes e o benefício é de R$ 3.000,00 (três mil reais). Neste caso, cada dependente
terá uma cota de R$ 1.000,00 (mil reais). Quando um dos dependentes completar 21 anos, per-
derá a condição de dependente, e, com a perda da condição de dependente, a cota que tinha
direito não é repassada aos demais. Assim, ao invés dos outros dois dependentes passarem a
receber R$ 1.500,00 (mil e quinhentos reais cada), continuarão recebendo a cota de R$ 1.000,00
(mil reais) cada. Isto é o que se extrai da primeira parte do § 3º do artigo 113 do Decreto 3048/99:
“As cotas por dependente cessarão com a perda dessa qualidade e não serão reversíveis aos
demais dependentes”.
Merece destaque o fato de que para o cônjuge, companheiro(a), a pensão por morte será
vitalícia somente se o viúvo(a) tiver quarenta e quatro anos ou mais. Até completar esta idade, a
pensão por morte durará por um tempo proporcional a data do viúvo(a) na data do óbito. Neste
sentido:
Art. 114. O pagamento da cota individual da pensão por morte cessa:
(...)
V - para o cônjuge ou o companheiro ou a companheira:
a) se inválido ou com deficiência, pela cessação da invalidez ou pelo afastamento da de-
ficiência, respeitados os períodos mínimos decorrentes da aplicação do disposto nas alí-
neas “b” e “c”;
b) em quatro meses, se o óbito ocorrer sem que o segurado tenha vertido dezoito contri-
buições mensais ou se o casamento ou a união estável tiver sido iniciado a menos de dois
anos antes do óbito do segurado; ou
c) transcorridos os seguintes períodos, estabelecidos de acordo com a idade do benefici-
ário na data de óbito do segurado, se o óbito ocorrer depois de vertidas dezoito contribui-
ções mensais e de, no mínimo, dois anos de casamento ou união estável:
1. três anos, com menos de vinte e um anos de idade;
2. seis anos, entre vinte e um e vinte e seis anos de idade;

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

3. dez anos, entre vinte e sete e vinte e nove anos de idade;


4. quinze anos, entre trinta e quarenta anos de idade;
5. vinte anos, entre quarenta e um e quarenta e três anos de idade; ou
6. vitalícia, com quarenta e quatro ou mais anos de idade;

Quanto a renda mensal inicial, a regra geral é de que será paga uma cota familiar de 50%
do salário de benefício, que será acrescida de 10% para cada dependente, limitado a 100% do
salário de benefício. Neste sentido:

Art. 106. A pensão por morte consiste em renda mensal equivalente a uma cota familiar
de cinquenta por cento do valor da aposentadoria recebida pelo segurado ou daquela a
que teria direito se fosse aposentado por incapacidade permanente na data do óbito,
acrescida de cotas de dez pontos percentuais por dependente, até o máximo de cem por
cento.

Por exemplo: uma família com pai, mãe e dois filhos, de 6 e 8 anos. Com o falecimento
do pai, restam a mãe e os dois filhos. Neste caso, a pensão por morte será composta pela cota
familiar de 50% do salário de benefício, acrescida de 3 cotas de 10%, uma para cada depen-
dente, totalizando 80% do salário de benefício.
Se a esposa tiver 44 anos ou mais, a pensão para ela será vitalícia, do contrário, durará
conforme disposto no artigo 114, inciso V, do Decreto 3048/99. Para os filhos, salvo condição de
inválido, de deficiência intelectual, mental ou grave, durará até os 21 anos. Deixando os depen-
dentes de possuírem esta condição, a pensão por morte será recalculada, até o momento em
que deixe de existir, por falta de dependentes.
Entretanto, o parágrafo 2º do artigo 106 do Decreto 3048/99 apresenta uma possibilidade
de pensão por morte com renda mensal inicial de 100% do salário de benefício:

§ 2º Na hipótese de haver dependente inválido ou com deficiência intelectual, mental ou


grave, o valor da pensão por morte será equivalente a cem por cento do valor da aposen-
tadoria recebida pelo segurado ou daquela a que teria direito se fosse aposentado por
incapacidade permanente na data do óbito, até o limite máximo do salário de benefício do
RGPS, observado o disposto no § 1º do art. 113.

*Para todos verem: esquema

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

Dependente Inválido

Dependente com Deficiência Intelectual


Pensão por Morte 100%
Dependente com Deficiência Mental

Dependente com Deficiência Grave

3.9 Auxílio-Reclusão
O auxílio-reclusão é outro benefício pago aos dependentes do segurado, que precisará se
enquadrar no conceito de baixa renda, e, que esteja recolhido à prisão em regime fechado. Ao
contrário da pensão por morte, o auxílio-reclusão depende de um número mínimo de contribui-
ções do segurado para que os dependentes possam ter direito. Neste sentido:

Art. 29. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social,
ressalvado o disposto no art. 30, depende dos seguintes períodos de carência:
IV - vinte e quatro contribuições mensais, no caso de auxílio-reclusão.

Logo, para que os dependentes do segurado tenham direito ao auxílio reclusão, é neces-
sário que ele tenha cumprido a carência de 24 contribuições mensais. Para além da carência, os
demais requisitos são dispostos no artigo 116 do Decreto 3048/99:

Art. 116. O auxílio-reclusão, cumprida a carência prevista no inciso IV do caput do art.


29, será devido, nas condições da pensão por morte, aos dependentes do segurado de
baixa renda recolhido à prisão em regime fechado que não receber remuneração da em-
presa nem estiver em gozo de auxílio por incapacidade temporária, de pensão por morte,
de salário-maternidade, de aposentadoria ou de abono de permanência em serviço.

Quanto ao enquadramento como segurado de baixa renda, o limite máximo do salário de


contribuição é fixado pela mesma portaria que é editada todos os inícios de ano pelo Ministério
do Trabalho e Previdência que estabelece os valores mínimo e máximo de contribuição do Re-
gime Geral de Previdência Social.
Para o ano de 2023, por exemplo, a renda precisa ser igual ou inferior a R$ 1.754,19 (mil
setecentos e cinquenta e quatro reais e dezenove centavos). Entretanto, para a prova basta
que você saiba que o auxílio reclusão é pago aos dependentes do segurado de baixa
renda.

60
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

Outro requisito é que o segurado esteja recolhido à prisão em regime fechado, de modo
que o § 2º do artigo 116 determina que “O requerimento do auxílio-reclusão será instruído com
certidão judicial que ateste o recolhimento efetivo à prisão e será obrigatória a apresentação de
prova de permanência na condição de presidiário para a manutenção do benefício.” No mesmo
sentido, o § 1º do artigo 117 estabelece que “Até que o acesso à base de dados a que se refere
o § 2º-B do art. 116 seja disponibilizado pelo Conselho Nacional de Justiça, o beneficiário apre-
sentará trimestralmente atestado de que o segurado continua em regime fechado, que deverá
ser firmado pela autoridade competente”.
Em caso de fuga, o auxílio-reclusão será suspenso, conforme previsão do § 2º do artigo
117 do Decreto 3048/99: “No caso de fuga, o benefício será suspenso e, se houver recaptura do
segurado, será restabelecido a contar da data em que esta ocorrer, desde que esteja ainda man-
tida a qualidade de segurado.”
A renda mensal inicial será calculada da mesma forma que a pensão por morte, seja na
possibilidade de pagamento da cota familiar de 50% do salário de benefício, acrescido de cotas
de 10% por cento por dependente, ou ainda, de 100% do salário de benefício em caso de de-
pendente na condição de dependente inválido, com deficiência intelectual, mental ou grave. En-
tretanto, o auxílio reclusão não poderá exceder o valor de um salário-mínimo mensal.
Neste sentido:
Art. 117. O valor do auxílio-reclusão será apurado na forma estabelecida para o cálculo
da pensão por morte, não poderá exceder o valor de um salário-mínimo e será mantido
enquanto o segurado permanecer em regime fechado.

Com o cumprimento da pena ou com a mudança de regime, o benefício é cessado. No


caso de óbito do segurado, o auxílio-reclusão será convertido em pensão por morte aos depen-
dentes do segurado.
*Para todos verem: esquema

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Direito Previdenciário

Segurado Baixa Renda

Recluso em Regime
Fechado

Carência de 24
Auxílio-Reclusão
contribuições mensais

Pago aos Dependentes

Valor máximo de um
salário-mínimo

3.10 Salário-Família
O salário-família é outro benefício pago aos segurados que se enquadrarem no conceito
de baixa renda. Entretanto, não é devido a todos os segurados, conforme dispõe o artigo 81 do
Decreto 3048/99. É devido ao segurado empregado, empregado doméstico e ao trabalhador
avulso. São excluídos o segurado especial, o contribuinte individual e o segurado facultativo.
Neste sentido:

Art. 81. O salário-família é devido, mensalmente, ao segurado empregado, inclusive o


doméstico, e ao trabalhador avulso com salário de contribuição inferior ou igual a R$
1.425,56 (mil quatrocentos e vinte e cinco reais e cinquenta e seis centavos), na proporção
do respectivo número de filhos ou de enteados e de menores tutelados, desde que com-
provada a dependência econômica dos dois últimos nos termos do disposto no art. 16,
observado o disposto no art. 83.

Como referido no parágrafo anterior, o salário-família é devido ao segurado considerado


como baixa renda, com valor atualizado anualmente. O valor indicado no caput do artigo se refere
ao limite máximo do salário de contribuição para o ano de 2020. Assim, como para o auxílio-
reclusão, a informação que você precisa levar para a prova, é que o salário família é pago ao
segurado considerado de baixa renda, que, no ano de 2023, foi fixado em R$ 1.754,18 (mil se-
tecentos e cinquenta e quatro reais e dezoito centavos).
O salário-família diferentemente dos outros benefícios previdenciários não possui uma
forma de cálculo de renda mensal inicial. O valor do salário família é fixo, pago conforme o nú-
mero de filhos ou de enteados e menores tutelados. No caso dos dois últimos, é necessário
comprovar a dependência econômica em relação ao segurado de baixa renda.

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

Interessante observar que, se o pai e a mãe trabalham, e, enquadram-se no conceito de


segurado de baixa renda, ambos terão direito a receber o salário-família em razão dos filhos, nos
termos do artigo 82, § 3º, do Decreto 3048/99:

Art. 82. O salário-família será pago mensalmente:


(...)
§ 3º Quando o pai e a mãe são segurados empregados, inclusive domésticos, ou traba-
lhadores avulsos, ambos têm direito ao salário-família.

Por exemplo: pai e mãe trabalham na iniciativa privada e recebem um salário-mínimo por
mês. Ambos são considerados segurados de baixa renda. Possuem 2 filhos, com 4 e 2 anos de
idade. Neste caso, o pai receberá duas cotas de salário-família, um para cada filho, e a mãe,
também receberá duas cotas de salário família, um para cada filho.
O valor da cota do salário-família é atualizado anualmente por meio de Portaria do Minis-
tério de Trabalho e Previdência. Para o ano de 2023, o valor da cota foi fixado em R$ 59,82
(cinquenta e nove reais e oitenta e dois centavos). Não é demais lembrar que para a prova você
não precisa saber o valor exato, mas sim que o salário família é pago por meio de cota fixa
por filho, enteado ou menor tutelado (nos dois últimos, quando comprovada a dependência eco-
nômica) até os 14 anos de idade, ou inválido, nos termos do artigo 83 do Decreto 3048/99:

Art. 83. O valor da cota do salário-família por filho ou por enteado e por menor tutelado,
desde que comprovada a dependência econômica dos dois últimos, até quatorze anos de
idade ou inválido, é de R$ 48,62 (quarenta e oito reais e sessenta e dois centavos).

Observação: O valor da cota do salário-família indicado no artigo 83 refere-se ao ano de


2020.
Para ter direito ao benefício, o artigo 84 do Decreto 3048/99 condiciona a apresentação
“da certidão de nascimento do filho ou da documentação relativa ao enteado e ao menor tutelado,
desde que comprovada a dependência econômica dos dois últimos , e fica condicionado à apre-
sentação anual de atestado de vacinação obrigatória dos referidos dependentes, de até seis
anos de idade, e de comprovação semestral de frequência à escola dos referidos dependentes,
a partir de quatro anos de idade, observado, para o empregado doméstico, o disposto no § 5º.”
Para além da documentação exigida no artigo 84, o segurado firmará termo de responsa-
bilidade “no qual se comprometerá a comunicar à empresa, ao empregador doméstico ou ao
INSS, conforme o caso, qualquer fato ou circunstância que determine a perda do direito ao

63
1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

benefício e ficará sujeito, em caso de descumprimento, às sanções penais e trabalhistas.”, con-


forme disposto no artigo 89 do Decreto 3048/99.
O benefício é cessado quando o filho, o enteado ou menor tutelado completam 14 anos
de idade, quando há a cessação da condição de inválido, se maior de 14 anos de idade, ou,
quando o segurado fica desempregado.

*Para todos verem: esquema

Segurado Baixa Renda

Filho até 14 anos ou


inválido
Salário-Família
Enteado ou menor tutelado
até 14 anos comprovada
dependencia economica

Cota fixa

3.11 Salário-Maternidade
O salário-maternidade é o benefício pago em razão do nascimento, adoção ou guarda
judicial de criança com até 12 anos de idade, com duração, como regra geral, de 120 dias, con-
forme disposto no artigo 93 do Decreto 3048/99:

Art. 93. O salário-maternidade é devido à segurada da previdência social, durante cento


e vinte dias, com início vinte e oito dias antes e término noventa e um dias depois do parto,
podendo ser prorrogado na forma prevista no § 3o.

Excepcionalmente, poderá ser prorrogado em até 28 dias, sendo 14 dias antes, e, 14 dias
depois do parto, conforme atestado médico que será submetido a avaliação médico pericial a
cargo do INSS, conforme previsão do § 3º do artigo 93 do Decreto 3048/99.
Para as seguradas empregada, empregada doméstica e trabalhadora avulsa, não há exi-
gência do cumprimento de carência. Neste sentido:

Art. 30. Independe de carência a concessão das seguintes prestações:


(...)
II - salário-maternidade, para as seguradas empregada, empregada doméstica e

64
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Direito Previdenciário

trabalhadora avulsa;

Entretanto, para as seguradas especial, contribuinte individual e facultativa a legislação


prevê a exigência de 10 contribuições mensais para acesso ao benefício. Neste sentido:

Art. 29. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social,
ressalvado o disposto no art. 30, depende dos seguintes períodos de carência:
(...)
III - dez contribuições mensais, no caso de salário-maternidade, para as seguradas con-
tribuinte individual, especial e facultativa, respeitado o disposto no § 2º do art. 93 e no
inciso II do art. 101.

A legislação prevê ainda uma flexibilização na carência para casos de parto antecipado,
sendo a carência proporcional ao número de meses em que o parto foi antecipado. Como regra
geral, uma gestação dura 9 meses, logo, a carência é de 10 contribuições mensais. Se, o parto
ocorre, por exemplo, no sétimo mês, a carência será de 8 contribuições mensais. Assim:

Art. 29. A concessão das prestações pecuniárias do Regime Geral de Previdência Social,
ressalvado o disposto no art. 30, depende dos seguintes períodos de carência:
(...)
Parágrafo único. Em caso de parto antecipado, o período de carência a que se refere o
inciso III será reduzido em número de contribuições equivalente ao número de meses em
que o parto foi antecipado.

Em casos de aborto não criminoso, a legislação prevê salário-maternidade por duas se-
manas. Neste sentido:

Art. 93. O salário-maternidade é devido à segurada da previdência social, durante cento


e vinte dias, com início vinte e oito dias antes e término noventa e um dias depois do parto,
podendo ser prorrogado na forma prevista no § 3o.
(...)
§ 5º Em caso de aborto não criminoso, comprovado mediante atestado médico, a segu-
rada terá direito ao salário-maternidade correspondente a duas semanas.

A renda mensal inicial terá uma forma de cálculo conforme a qualidade de segurado. Em
relação a segurada empregada, o salário maternidade pode ser superior ao teto do valor
dos benefícios previdenciários, quando sua remuneração mensal for superior ao teto do INSS.
Neste sentido:
Art. 94. O salário-maternidade para a segurada empregada consiste numa renda mensal
igual à sua remuneração integral e será pago pela empresa, efetivando-se a compensa-
ção, observado o disposto no art. 248 da Constituição, quando do recolhimento das con-
tribuições incidentes sobre a folha de salários e demais rendimentos pagos ou creditados,
a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, devendo aplicar-se à renda men-
sal do benefício o disposto no art. 198.

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

A trabalhadora avulsa tem o benefício calculado conforme previsto no artigo 100 do De-
creto 3048/99:

Art. 100. O salário-maternidade da segurada trabalhadora avulsa, pago diretamente pela


previdência social, consiste em renda mensal igual à sua remuneração integral, observado
o disposto no art. 19-E, hipótese em que se aplica à renda mensal do benefício o disposto
no art. 198.

Por seu turno, os valores do salário-maternidade das empregadas doméstica, contribuinte


individual, segurada facultativa e segurada especial estão previstos no artigo 101 do Decreto
3048/99:
Art. 101. O salário-maternidade, observado o disposto nos art. 35, art. 198, art. 199, art.
199-A ou art. 200, pago diretamente pela previdência social, consistirá:
I - no valor correspondente ao do último salário de contribuição, para a segurada empre-
gada doméstica, observado o disposto no art. 19-E;
II - em um salário-mínimo, para a segurada especial;
III - em um doze avos da soma dos doze últimos salários de contribuição, observado o
disposto no art. 19-E, apurados em período não superior a quinze meses, para as segura-
das contribuinte individual e facultativa e para a desempregada que mantenha a qualidade
de segurada na forma prevista no art. 13.

Perceba que o inciso III tem consigo a previsão do salário-maternidade para a segurada
desempregada que mantenha a qualidade de segurada, isto é, no período de graça, já estudado
neste material.
Outra observação importante em relação ao salário-maternidade é que ele não pode ser
recebido concomitantemente com o benefício por incapacidade. Neste sentido, o § único do ar-
tigo 102 do Decreto 3048/99 determina que “Quando ocorrer incapacidade em concomitância
com o período de pagamento do salário-maternidade, o benefício por incapacidade, conforme o
caso, deverá ser suspenso enquanto perdurar o referido pagamento, ou terá sua data de início
adiada para o primeiro dia seguinte ao término do período de cento e vinte dias.”
Um caso como este pode aparecer em uma questão da prova, afinal, é bem comum que
em casos de gravidez de risco permaneça afastada do trabalho até a data do parto, recebendo
benefício por incapacidade, que será convertido em salário-maternidade posteriormente, afinal,
são inacumuláveis.

3.12 Reabilitação Profissional


A reabilitação profissional, nos termos do artigo 136 do Decreto 3048/99 tem como função
“proporcionar aos beneficiários, incapacitados parcial ou totalmente para o trabalho, em caráter

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

obrigatório, independentemente de carência, e às pessoas portadoras de deficiência, os meios


indicados para proporcionar o reingresso no mercado de trabalho e no contexto em que vivem.”
É destinada, de forma obrigatória, ao trabalhador que se encontra incapacitado para a
atividade habitual, de modo que, ao invés de passar a receber benefício por incapacidade per-
manente, possa, a depender do caso, aprender um novo ofício, retornando ao mercado de tra-
balho, e assim, tornando-se novamente segurado obrigatório do Regime Geral de Previdência
Social.
Para isto, a legislação prevê funções básicas no processo de reabilitação profissional,
expressas no artigo 137 do Decreto 3048/99:

Art. 137. O processo de habilitação e de reabilitação profissional do beneficiário será de-


senvolvido por meio das funções básicas de:
I - avaliação do potencial laborativo;
II - orientação e acompanhamento da programação profissional;
III - articulação com a comunidade, inclusive mediante a celebração de convênio para re-
abilitação física restrita a segurados que cumpriram os pressupostos de elegibilidade ao
programa de reabilitação profissional, com vistas ao reingresso no mercado de trabalho;
e
IV - acompanhamento e pesquisa da fixação no mercado de trabalho.

Importante mencionar que a reabilitação profissional, embora seja obrigatória “Não cons-
titui obrigação da previdência social a manutenção do segurado no mesmo emprego ou a sua
colocação em outro para o qual foi reabilitado”.
Por fim, o artigo 141 do Decreto 3048/99 faz a previsão de que empresas com mais
de cem funcionários deve preencher um percentual de seus cargos com beneficiários re-
abilitados ou na condição de pessoas com deficiência. Neste sentido:

Art. 141. A empresa com cem ou mais empregados está obrigada a preencher de dois por
cento a cinco por cento de seus cargos com beneficiários reabilitados ou pessoas porta-
doras de deficiência, habilitadas, na seguinte proporção:
I - até duzentos empregados, dois por cento;
II - de duzentos e um a quinhentos empregados, três por cento;
III - de quinhentos e um a mil empregados, quatro por cento; ou
IV - mais de mil empregados, cinco por cento.

Feitas estas observações, encerra-se o tópico dos benefícios previdenciários, sendo es-
tudado, a seguir, o benefício de prestação continuada a da assistência social.

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Direito Previdenciário

4. Assistência Social

A assistência social, conforme disposto no artigo 203 da CF/1988 será prestada a quem
dela necessitar, conquanto se enquadre na condição de pessoa com 65 anos ou mais, ou, pes-
soa com deficiência, sendo que, em ambos os casos, o postulante ao benefício deverá compro-
var não possuir meios de prover à própria manutenção ou de tê-la provida por sua família.
Em âmbito infraconstitucional, o benefício de prestação continuada é regulamentado pela
Lei 8742/93, mais especificadamente no artigo 20, a saber:

Art. 20. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal


à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que com-
provem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua
família.

O conceito de pessoa com deficiência se extrai da leitura do artigo § 2º do artigo 20 da Lei


8742/93:
§ 2o Para efeito de concessão do benefício de prestação continuada, considera-se pessoa
com deficiência aquela que tem impedimento de longo prazo de natureza física, mental,
intelectual ou sensorial, o qual, em interação com uma ou mais barreiras, pode obstruir
sua participação plena e efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais
pessoas.

O impedimento de longo prazo é fixado pelo § 10º do artigo 20 da Lei 8742/93:

§ 10. Considera-se impedimento de longo prazo, para os fins do § 2 o deste artigo, aquele
que produza efeitos pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos.

A fixação deste lapso temporal mínimo permite afirmar que uma doença ou incapacidade
pode ser considerada deficiência, desde que produza efeito pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos.
De todo modo, quando não produzir efeito pelo prazo mínimo de 2 (dois) anos, não se terá o
reconhecimento da condição da pessoa com deficiência.
Observação: Caso o conceito de pessoa com deficiência seja cobrado na prova, o enun-
ciado obrigatoriamente deverá trazer subsídios para isto. Não há como criar uma regra geral e
abstrata. A condição de pessoa com deficiência será aferida no caso concreto.
O conceito de família também é apresentado na Lei 8742/93:

Art. 20. (...)


§ 1o Para os efeitos do disposto no caput, a família é composta pelo requerente, o cônjuge
ou companheiro, os pais e, na ausência de um deles, a madrasta ou o padrasto, os irmãos

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Direito Previdenciário

solteiros, os filhos e enteados solteiros e os menores tutelados, desde que vivam sob o
mesmo teto.

A legislação ainda exige que a família esteja cadastrada no CADÚNICO (Cadastro Único
para Programas do Governo Federal):

Art. 20. (...)


§ 12. São requisitos para a concessão, a manutenção e a revisão do benefício as inscri-
ções no Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) e no Cadastro Único para Programas Sociais
do Governo Federal - Cadastro Único, conforme previsto em regulamento.

Além disto, a renda per capita familiar não pode ser superior à ¼ do salário-mínimo, con-
forme disposto no § 3º do artigo 20. Neste sentido:

Art. 20. (...)


§ 3 Observados os demais critérios de elegibilidade definidos nesta Lei, terão direito ao
benefício financeiro de que trata o caput deste artigo a pessoa com deficiência ou a pes-
soa idosa com renda familiar mensal per capita igual ou inferior a 1/4 (um quarto) do salá-
rio-mínimo.

Na prática, isto é aferido caso a caso. Por exemplo: em 2022 o salário-mínimo é de R$


1.212,00 (mil duzentos e doze reais). ¼ do salário-mínimo representa R$ 303,00. Logo, para
calcular a renda per capita familiar é feito o somatório das rendas dos integrantes do grupo fami-
liar, que será dividida pelo número de integrantes. O resultado precisa ser inferior a R$ 303,00,
em 2022, para que o seja preenchido o requisito de renda per capita inferior a ¼ do salário-
mínimo.
Outra observação importante a ser feita é que se alguém do grupo familiar receber bene-
fício de prestação continuada ou benefício previdenciário com valor de um salário-mínimo, o valor
deste benefício não entrará no computo da renda familiar caso exista mais uma pessoa com 65
anos ou uma pessoa com deficiência naquele grupo familiar postulando o benefício de prestação
continuada. Neste sentido:

Art. 20. (...)


§ 14. O benefício de prestação continuada ou o benefício previdenciário no valor de até 1
(um) salário-mínimo concedido a idoso acima de 65 (sessenta e cinco) anos de idade ou
pessoa com deficiência não será computado, para fins de concessão do benefício de pres-
tação continuada a outro idoso ou pessoa com deficiência da mesma família, no cálculo
da renda a que se refere o § 3º deste artigo.

O benefício será mantido até o óbito do beneficiário, ou, enquanto permanecerem as con-
dições que lhe deram origem, sendo, nos termos do artigo 21 da Lei 8742/93 “revisto a cada 2
(dois) anos para avaliação da continuidade das condições que lhe deram origem.”.

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

*Para todos verem: esquema

Não
contributivo

Assistência A quem dela


Social necessitar Idoso
(65 anos ou
1 Salário mais)
Mínimo (BPC)
Pessoa com
Deficiência

Além do benefício de prestação continuada, a Lei 8742/93 prevê a possibilidade do bene-


fício denominado auxílio-inclusão, que é destinado à pessoa com deficiência moderada ou
grave que receba benefício de prestação continuada e passe a exercer atividade remunerada,
com limites previstos no artigo 26-A da Lei 8742/93, a saber:

Art. 26-A. Terá direito à concessão do auxílio-inclusão de que trata o art. 94 da Lei nº
13.146, de 6 de julho de 2015 (Estatuto da Pessoa com Deficiência), a pessoa com defici-
ência moderada ou grave que, cumulativamente:
I – receba o benefício de prestação continuada, de que trata o art. 20 desta Lei, e passe a
exercer atividade:
a) que tenha remuneração limitada a 2 (dois) salários-mínimos; e
b) que enquadre o beneficiário como segurado obrigatório do Regime Geral de Previdência
Social ou como filiado a regime próprio de previdência social da União, dos Estados, do
Distrito Federal ou dos Municípios;
II – tenha inscrição atualizada no CadÚnico no momento do requerimento do auxílio-inclu-
são;
III – tenha inscrição regular no CPF; e
IV – atenda aos critérios de manutenção do benefício de prestação continuada, incluídos
os critérios relativos à renda familiar mensal per capita exigida para o acesso ao benefício,
observado o disposto no § 4º deste artigo.

Tem-se então alguns requisitos a serem preenchidos para acesso ao benefício. Além da
deficiência moderada ou grave, precisa estar recebendo o benefício de prestação continuada,
passar a exercer atividade remunerada, limitada a 2 (dois) salários-mínimos mensais, ser segu-
rado obrigatório do Regime Geral de Previdência Social ou Regime Próprio de Previdência So-
cial, ter cadastro atualizado no CADÚNICO (Cadastro Único para Programas do Governo Fede-
ral), e, atender aos critérios de manutenção do benefício de prestação continuada, em especial,
a renda per capita familiar de até ¼ do salário-mínimo.

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

De modo a não constituir um ônus à pessoa com deficiência moderada ou grave, o artigo
§ 4º, inciso I do artigo 26-A da Lei 8742/93 determina que será desconsiderada do cálculo da
renda familiar “as remunerações obtidas pelo requerente em decorrência de exercício de ativi-
dade laboral, desde que o total recebido no mês seja igual ou inferior a 2 (dois) salários-mínimos”.
O valor do auxílio-inclusão será de 50% do valor do benefício de prestação continuada.
Neste sentido é a disposição do artigo 26-B da Lei 8742/93:

Art. 26-B. O auxílio-inclusão será devido a partir da data do requerimento, e o seu valor
corresponderá a 50% (cinquenta por cento) do valor do benefício de prestação continuada
em vigor.

Em outras palavras, o auxílio-inclusão é no valor de meio salário-mínimo mensal, sendo


devido enquanto permanecerem preenchidos os critérios para o recebimento do benefício de
prestação continuada, bem como os requisitos do próprio benefício.

5. Prescrição e Decadência

Prescrição e decadência são temas que se aplicam aos mais variados ramos do direito.
No direito previdenciário não seria diferente, razão pela qual o tema será visto, sob a ótica da
disciplina, neste tópico específico.
A questão da decadência no direito previdenciário encontra-se regulamentada no artigo
347 e 347-A do Decreto 3048/99, os quais determinam:

Art. 347. É de dez anos o prazo de decadência de todo e qualquer direito ou ação do
segurado ou beneficiário para a revisão dos atos de concessão, indeferimento, cancela-
mento ou cessação de benefício e dos atos de deferimento, indeferimento ou não conces-
são de revisão de benefício, contado:
I - do primeiro dia do mês subsequente ao do recebimento da primeira prestação ou da
data em que a prestação deveria ter sido paga com o valor revisto; ou
II - do dia em que o segurado tiver ciência da decisão de indeferimento, cancelamento ou
cessação do seu pedido de benefício ou da decisão de deferimento ou indeferimento de
revisão de benefício no âmbito administrativo.
Art. 347-A. O direito da Previdência Social de anular os atos administrativos de que de-
corram efeitos favoráveis para os seus beneficiários decai em dez anos, contados da data
em que foram praticados, salvo comprovada má-fé.

Isto significa, que tanto o segurado, quanto à Administração Pública, tem o prazo de 10
(dez) anos para pedir a revisão de atos de concessão, deferimento, indeferimento, cancelamento
ou cessação de benefício. Para a Administração Pública, havendo prova de má-fé do segurado,
não se aplica o prazo decadencial de 10 (dez) anos.

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
Direito Previdenciário

Ao seu modo, a prescrição está regulamentada no § 1º do artigo 347 do Decreto 3048/99,


indicando que os efeitos financeiros, salvo direito dos menores, incapazes e ausentes, limitam-
se aos últimos cinco anos. Neste sentido:

rt. 347. (...)


§ 1º Prescreve em cinco anos, a contar da data em que deveriam ter sido pagas, toda e
qualquer ação para haver prestações vencidas ou quaisquer restituições ou diferenças
devidas pela previdência social, salvo o direito dos menores, incapazes e ausentes, na
forma do Código Civil.

Isto posto, é necessário lembrar que o prazo de decadência no direito previdenciário é de


10 (dez) anos, e, o prazo prescricional é de 5 (cinco) anos.

*Para todos verem: esquema

Decadência Prescrição

Efeito Financeiro da
Direito de Revisar Ato
Revisão do Ato
Administrativo
Administrativo

10 anos 5 anos

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1ª Fase | 39° Exame da OAB
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