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Todos temos a capacidade de manter internamente um ou mais paradigmas ou modelos mentais. Estes
definem qual será a nossa visão do mundo, o que percebemos, boa parte dos nossos objetivos e muitas
das nossas possibilidades de ação. Paradigmas filtram a percepção e podem ser tão poderosos que até
determinam o que é real para a pessoa. Por exemplo, há pessoas que não acreditam que o homem foi à
Lua. Muitas vezes, negamos fatos que presenciamos devido a paradigmas enraizados em nosso cérebro.
Imagine um pesquisador que, por acaso, provoca o deslocamento de um objeto sólido no espaço. Como
ele acha que isso é impossível, pode concluir que seus instrumentos estão descalibrados e nem perceber
a descoberta. Na psicologia, uma pessoa que segue uma crença do tipo "sou tímido" pode acreditar que
não é criativo, que não pode ou não é certo intervir nos próprios comportamentos e gerar novas
possibilidades de ação.
Os paradigmas não são eternos. Eles mudam e devem mudar, já que o conhecimento científico é
passível de erros, busca sempre a verdade e procura desfazer mitos. Porém, a mudança é muito difícil
porque, em geral, o paradigma está enraizado nas profundezas do inconsciente. Mesmo no meio
científico isto ocorre: quando Darwin concluiu sua teoria sobre a evolução das espécies, quebrando
todos os paradigmas sobre o surgimento do homem no planeta, ele relutou em apresentá-la à
comunidade científica, já que sua esposa era extremamente religiosa e ele, com medo da polêmica que
sua descoberta poderia causar, omitiu-a por mais de três anos. Quando um novo paradigma vem a
substituir o antigo, ocorre aquilo que Kuhn (2009) chama de revolução científica. A mudança de
paradigmas é tão dificil que Albert Einstein afirmou: "Tristes tempos estes: é mais fácil quebrar um
átomo do que um paradigma”. Um outro cientista chamado Max Planck1 disse que "uma nova verdade
científica triunfa não porque convença seus oponentes fazendo-os ver a luz, mas porque eles
eventualmente morrem, e uma nova geração cresce familiarizando-se com ela"2.
Chama-se HIPÓTESE ao conjunto de argumentos e explicações a serem usados na pesquisa, mas que
ainda não foram confirmados por observação ou experimentação.
Assim, podemos afirmar que as hipóteses são as “previsões de resposta” que os pesquisadores fazem
para sua pesquisa. Exemplo: Se esta espécie de planta for plantada dentro de casa, ela
1
Max Planck (1858-1947) um físico alemão, considerado um dos mais importantes do século XX é chamado de o
“pai da física quântica” (parte da mecânica que estuda partículas minúsculas, subatômicas). Recebeu o Prêmio
Nobel de Física 1918.
2
Assista ao vídeo clássico sobre paradigmas, com 1:50 min.
<http://www.youtube.com/watch?v=RT9AyU1VZaU>
(hipótese...crescerá, morrerá ou sobreviverá se adubada com tais produto, etc). Um conjunto de
hipóteses, confirmadas nas experimentações, forma o que chamamos de TEORIA CIENTÍFICA que
tem validade até que algum descobrimento novo comprovado se oponha a ela. A partir de então, os
cientistas começam a elaborar outra teoria que possa explicar esses novos descobrimentos.
Como você já sabe, uma pesquisa é um procedimento racional e sistemático, cujo objetivo é
proporcionar respostas aos problemas propostos pelo pesquisador. As pesquisas científicas, como já
vimos, podem ser BIBLIOGRÁFICAS, DE CAMPO OU EXPERIMENTAIS. Ao desenvolver
qualquer um dos tipos de pesquisa, é necessário escolher o melhor MÉTODO a ser aplicado.
Proposto por Descartes (lê-se Dêcarte no século XVII) é aquele em que se utiliza o raciocínio lógico e
que, por meio de uma cadeia de deduções em ordem decrescente, da análise do geral para o particular,
do macro para o micro chega-se a uma conclusão. A partir de duas premissas (afirmações), utilizando
a lógica, chega-se a uma conclusão. Assim, o método dedutivo propõe resolver problemas através da
razão. Ao ser identificado o problema, o pesquisador começa a DEDUZIR possíveis soluções (a partir
do que ele já conhece) que poderiam explicá-lo. Exemplo:
Exemplo da utilização prática: Já está comprovado que crianças com dislexia têm dificuldade em
compreender o que leram. Numa das salas de aula de uma escola um garoto apresenta enorme
dificuldade de aprender a ler, levando o professor a “checar” suas atitudes e suas dificuldades com tudo
o que ele conhece sobre dislexia, fazendo deduções, do tipo “tais e tais e tais fatos mostram que o aluno
pode ser classificado como portador de dislexia”.
É um método que foi proposto por Galileu Galilei e Francis Bacon (também no século XVII). Ao
contrário do anterior, parte de princípios particulares (micro) para chegar a conhecimentos gerais,
ou seja, do micro para o macro. Eles não viam os “sintomas” e tentavam “encaixá-los” em algo
previamente estabelecido, mas o contrário. Analisavam, a partir dos casos semelhantes e formavam uma
nova teoria.
a) Antônio é mortal. João é mortal. Paulo é mortal. Carlos é mortal. – (particular - micro)
b) Ora, Antônio, João, Paulo... e Carlos são homens. – geral (macro)
c) Logo, todos os homens são mortais. - Conclusão
Exemplo prático de utilização do método indutivo: há um caso de morte de um bebê em uma unidade
neonatal onde se utilizou o medicamento “Y”; alguns dias depois, outra morte seguida de mais duas nos
dias subsequentes. O pesquisador poderá concluir que todos os bebês que utilizarem o mesmo
medicamento poderão morrer. Esse exemplo mostra o pensamento indutivo.
Proposto por Popper, no século XX. Como o próprio nome sugere, tem por princípio levantar novas
hipóteses para deduções já existentes, para fazer surgir novos conhecimentos. Embora parecido com o
método dedutivo, o hipotético-dedutivo prevê a realização de testes, tentando deduzir as conseqüências
de determinado problema e novos testes, num processo circular, até se chegar a uma conclusão. Esse
método pode ser chamado de “método de tentativas e eliminação de erros”. É o método ideal para
pesquisas experimentais, motivo pelo qual é bastante usado no campo das pesquisas das ciências
naturais.
É um método de interpretação da realidade, segundo o qual os fatos não podem ser tomados fora de um
contexto social, político, econômico, já que esses aspectos “dialogam” ou “debatem” com a realidade.
Os elementos do método dialético são a tese, a antítese e a sintese, sendo que a tese é uma afirmação
inicialmente dada; a antítese é uma oposição à tese. Do conflito entre tese e antítese surge a síntese, que
é uma situação nova que carrega dentro de si elementos resultantes desse embate. A síntese, então,
torna-se uma nova tese, que contrasta com uma nova antítese gerando uma nova síntese, em um
processo em cadeia.
Exemplo prático de utilização do método dialético: Ao se pesquisar uma empresa, uma escola, um
hospital, o pesquisador parte do princípio que essas instituições são parte da realidade social, que sofreu
com as lutas de classes, com a opressão em determinado período histórico, que tem um lado social, um
lado econômico, político e que sua pesquisa vai ser influenciada por esses contextos.
Os modelos qualitativos são aqueles formulados a partir de descrições intuitivas do pesquisador que
considera que seu tema não pode ser traduzido apenas em números. Nas pesquisas qualitativas, o
pesquisador descreve, conta, narra, interfere, sendo possível perceber seus juízos de valores. A
interpretação dos fenômenos e a atribuição de significados são básicas no processo de pesquisa
qualitativa. Geralmente apresentada sob a forma de um texto dissertativo reflexivo, não exige a rigidez
da pesquisa quantitativa. São as mais apropriadas às ciências factuais (biológicas ou humanas) e, de
acordo com Figueiredo (1999, p. 35)
A diferença principal entre a abordagem quantitativa e qualitativa é que a
primeira busca uma explicação objetiva baseada em descrição e manipulação
estatística, enquanto a qualitativa procura entender um acontecimento ou
comportamento da perspectiva do ator. Ou ainda, a abordagem qualitativa
tenta registrar dados detalhados que apresentam uma descrição correta da
percepção da realidade de um grupo, como representada por membros desse
grupo. (FIGUEIREDO, 1999, p. 35).
Embora as pesquisas qualitativas sejam mais próximas das pesquisas factuais e as pesquisas
quantitativas se aproximem das factuais, nada impede que, em qualquer pesquisa, o investigador opte
por mesclar essas duas modalidades, sendo que um sempre prevalecerá.
Você já ouviu falar num detetive chamado Sherlock Holmes? Na realidade, tal pessoa nunca existiu,
sendo apenas uma personagem de ficção criada no final do século XIX por um escritor inglês chamado
Sir Arthur Conan Doyle. Ainda hoje, Sherlock encanta os leitores pela forma com que soluciona
aparentes mistérios, empregando deduções até chegar às conclusões. Leia atentamente o texto abaixo,
em que o narrador é o Dr. Watson e no qual o famoso detetive o deixa perplexo ao “adivinhar” seus
pensamentos.
Fazia algum tempo que Holmes estava sentado, em silêncio, debruçado sobre um tubo de ensaio, onde
lidava com um produto malcheiroso. Assim, com a cabeça caída sobre o peito, ele lembrava um pássaro
estranho, magro, de apagada plumagem cinza e penacho negro.
– Então Watson, não vai mesmo investir na mina de ouro sul-africana? – perguntou ele.
Tive um sobressalto. Por mais habituado que estivesse com as estranhas faculdades de Holmes, aquela
súbita intrusão nos meus íntimos pensamentos era inexplicável.
– Como é que sabe disto? – perguntei.
Ele deu uma reviravolta na banqueta, com um tubo de ensaio na mão e um brilho divertido no olhar.
– Confesse Watson, que está admirado! – disse ele.
– Estou mesmo!
– Eu devia fazer você assinar uma declaração a esse respeito.
– Por quê?
– Porque daqui a cinco minutos vai dizer que é absurdamente simples.
– Tenho certeza que não direi nada nesse estilo.
Largando o tudo de ensaio e com um ar de professor que se dirige à classe, ele começou.
– Elementar, meu caro Watson. Não é difícil fazer uma série de deduções, cada qual dependendo de sua
antecedente e cada qual simples em si mesma. Feito isso, se a gente omitir as deduções centrais e
apresentar à audiência o ponto de partida e a conclusão, pode-se produzir um efeito assustador, embora
possivelmente falso. Agora, não foi difícil, olhando entre seu polegar e seu indicador da mão esquerda,
perceber que você não pretende empregar seu pequeno capital em ações da mina de ouro.
– Não vejo relação – Respondi.
– Provavelmente não vê mesmo, mas posso mostrar-lhe uma íntima ligação. Aqui estão os elos que
faltam à corrente e que me fizeram chegar à conclusão:
1º Você tinha giz entre o indicador e o polegar da mão esquerda, a noite passada, quando voltou do
clube.
2º Você costuma vir com giz no dedo quando joga bilhar, para firmar o taco.
3º Você nunca joga bilhar, a não ser com aquele seu amigo, o Thurston.
4º Você me contou, há quatro semanas, que Thurston tinha recebido a proposta de comprar ações de
uma mina de ouro na África do Sul e que só queria comprá-las se fosse em sociedade com você.
5º Seu talão de cheques está fechado na minha gaveta e você não me pediu a chave.
6º Logo, você não tem intenção de aplicar nesse negócio o seu dinheiro.
– Absurdamente simples! – Exclamei.
– De fato! – disse Holmes. Todos os problemas se tornam infantis depois de explicados...
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Thomas Henry Huxley (1825-1895) foi um biológo britânico, considerado um dos grandes cientistas do século
XX, conhecido como "O Buldogue de Darwin” por ser o principal defensor público da Teoria da Evolução. Como
Darwin nunca foi um grande orador, preferiu morar no interior da Inglaterra e deixar a Thomas Huxley (um orador
perspicaz, feroz e cínico) o papel de divulgador de sua teoria. O mais importante debate sobre a Teoria da
Evolução ocorreu em junho de 1860, na Universidade de Oxford entre Thomas Huxley e o seu principal opositor,
o Bispo Wilberforce. Com o tema "Darwinismo e Sociedade", é considerado ainda hoje um dos grandes debates
científicos da História. Na presença de mais de 1000 participantes, o momento mais conhecido da palestra ocorreu
quando o Bispo Wilberforce teria perguntado se foi "através da sua avó ou do seu avô" que ele "alegava a
descendência de um macaco". A resposta de Huxley foi no mesmo tom irônico: "Se a questão é se eu preferiria ter
um macaco miserável como avô ou um homem altamente favorecido pela natureza, que possui grande capacidade
de influência – como o senhor – mas mesmo assim emprega essa capacidade e influência para o mero propósito de
introduzir o ridículo em uma discussão científica séria, eu não hesitaria afirmar a preferência pelo macaco". Na
verdade, o que se viu ali foi um acirrado debate e um confronto direto entre a Ciência e a Religião.
Produzia pouco leite porque o gado não estava bem alimentado
Tinha pouco dinheiro e pouco trabalho.
Aí os fazendeiros mandavam embora os empregados.
E os homens iam procurar trabalho na cidade.
Acabavam casando por lá e não voltavam pro seu lugar.
E nesse lugar, o que acontecia?
Os rapazes iam embora e as moças ficavam sem ter com quem namorar.
Naquele tempo ainda era muito atrasado: moça tinha só que se casar,
não podia estudar nem sair para trabalhar e de sua vida cuidar.
Sem ter a quem querer bem, queriam tratar de alguém.
E arranjavam um gato para fazer companhia.
A aldeia ficava com uma gataria...
Mas o gato é bicho caçador. E de noite eles saíam para caçar.
Caçaram ratos do campo.
Quando tinha muito gato, sobrava muito pouco rato.
Só que esse tipo de rato só ficava feliz comendo uma planta com deliciosa raiz.
Com mais gato tinha menos ratos e sobrava mais dessa planta pelo mato
Essa planta, por sua vez, tinha uma folha bem tenra,
um verdadeiro tesouro para certo tipo de besouro.
Besouro de brilho lustroso, que logo saía guloso para comer de sobremesa
uma flor que era uma beleza. Flor de trevo açucarada.
Voando de flor em flor, o pólen ele ia levando
Esse pólen, que levava, em outra flor se misturava.
Dessa forma, uma semente se formava. Uma nova planta nascia.
O campo todo de trevos se cobria. E era o melhor pasto que havia.
Depois disso que é que vinha? Será que você adivinha?
O gado ficava lindo. De outros lugares, muitos homens vinham vindo.
Tinha muito que trabalhar. E começavam a namorar.
Aí, casavam, as famílias criavam e as moças, nos gatos nem pensavam.
Começava tudo ao contrário. Menos gatos, mais ratos.
Mais ratos, menos raízes. Menos raízes, menos folhas.
Menos folhas, menos besouros. Menos besouros, menos trevos.
Com as coisas indo assim, o pasto ficava ruim. O gado emagrecia.
E tudo de novo acontecia.
Mas o cientista era bem esperto. E logo deu um conselho que fez tudo dar bem certo.
– Vida de planta, gente, animal tem que ser entrelaçada para não acabar mal.
Para a situação melhorar, é bom cada família aqui ter um gato pra criar.
Assim fez o pessoal, E tinha razão o professor Tomás:
a região não ficou pobre nunca mais.
1. Partindo de uma série de fatos conhecidos, Sherlock Holmes se utiliza de um método para
descobrir um fato novo. Que método é esse?
2. O que, exatamente, o detetive descobriu?
3. Por que ele afirma que, ao saber seu modo de pensar, Watson acharia “absurdamente simples”
sua reflexão? Qual a frase do texto que mostra que isso realmente ocorreu?
d. A empresa “A” usa um software pirata e por isso pode ser multada; A empresa “B” usa um software
pirata e também pode ser multada; A empresa “C” usa um software pirata e também pode ser multada.
Logo, ________________________________________________ Método: _______________
g. Joguei uma pedra no lago, e ela afundou; Joguei outra pedra no lago e ela também afundou;
Joguei mais uma pedra no lago, e também esta afundou;
Logo, ______________________________________________ Método: _________________
12. O método que contrapõe uma tese a uma antítese em busca de uma síntese é o ________
13. Suponha que um estudante com alguns conhecimentos sobre mecânica sai da faculdade para ir
para casa. No meio do caminho, o carro para. Imediatamente, o rapaz se lembra que o sistema elétrico
do carro não estava muito bom e também se lembra de que o marcador de gasolina não estava
funcionando. Sejam bem criativos e respondam às seguintes perguntas:
BIBLIOGRAFIA
CHIZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 2000.
DOYLE, A.C. A volta de Sherlock Holmes – 1ª Ed. São Paulo: Melhoramentos, 2001, 136p.
KUHN, Thomas. A estrutura das Revoluções Científicas. 9 ed. São Paulo: Editora Perspectiva,. 2009,
264p.
MACHADO, Ana Maria e ONO, Walter. De: Gente, bicho, planta: O mundo me encanta. 6 ed. Rio
de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1984