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DOCENTE
Uma coisa é certa, a noção de professor investigador é precisamente aquilo a que as políticas
educativas em vigor torcem o pescoço, assoberbando os professores em trabalho não próprio da
profissão e relegando qualquer veleidade formativa séria para os momentos roubados ao sono e
ao descanso. Finalmente, o que é que nos garante que actualização investigativa implique um
bom ‘uso do conhecimento da profissão’? Em última acepção, porque o conhecimento de ponta
repetidamente contesta o conhecimento anterior, um investigador de ponta poderá simplesmente
levar os seus alunos a um chumbo certo nos exames nacionais.
Se o indicador simplesmente pretende averiguar se ‘eu faço umas coisinhas com conhecimento
de causa’ pode ser avaliável por um simples relatório de auto-avaliação como anteriormente.
Exactamente como acontece com a Reflexão crítica sobre as suas práticas profissionais, o
indicador número dois.
Os descritores não vêm ajudar. Se repararmos com atenção a diferença entre o descritor A
(excelente) e B (Muito Bom) é: 1. entre CONSTRUIR conhecimento profissional e
ACTUALIZAR-SE, mais precisamente entre a CONSTRUÇÃO CONSISTENTE e a
ACTUALIZAÇÃO ACTIVA, isto é, ficamos sem o recurso a ‘objectos impossíveis ou
enlouquecidos’, mas podemos deliciar-nos a tentar averiguar o que seria uma ‘actualização
passiva’. Mas o que se deve, realmente, entender por construir conhecimento profissional? E
voltamos ao mesmo sarilho de que ainda agora pretendíamos sair.
A última pergunta é como é que tudo isto irá encontrar evidências na planificação anual, de
unidade e de aula, nos testes de avaliação e outros instrumentos de avaliação e no relatório de
auto-avaliação?
Ora, isto é somente a análise do primeiro Domínio da primeira Dimensão da ADD e já temos
suficientes razões para pôr em causa a sua precisão, credibilidade e, inclusive,
constitucionalidade.
Ponto dois: o facto de a designação do relator não ser norteada por quaisquer princípios
de mérito e competência, a não ser pelo critério de ‘pertencer ao mesmo grupo de
recrutamento do avaliado e ter posicionamento na carreira e grau académico iguais ou
superiores ao deste, sempre que possível’ (3 do art.13º, DR 2/2010) não confere
legitimidade aos avaliadores.
A circular B10015847T, da DGHRE, vai mais longe e estabelece inúmeras situações de excepção
às condições previstas na lei para o exercício das funções de Relator que, por um lado, põem
em causa o único (questionável) critério da senioridade defendido no Decreto nº2/2010
(possibilitando que praticamente qualquer professor mesmo de grupo diferente possa assistir
a aulas de outro desde que este concorde) e, por outro, provam que a aplicação deste modelo
não é possível.
Em segundo lugar, porque na ausência de uma carreira hierárquica séria e fundamentada mesmo
o ‘ter posicionamento na carreira e grau académico igual ou superior’ não certifica ninguém
para avaliador. Numa carreira hierárquica séria ninguém poderia ser avaliado por alguém com
‘o mesmo posicionamento na carreira e grau académico igual’.
Seguidamente, porque sem qualquer hierarquização assente num trabalho sério de estudo da
realidade da função docente – que é antes de tudo uma função educadora –, se tenta deste modo
reintroduzir a hierarquização fictícia entre professores titulares e demais professores, agora entre
avaliadores e o remanescente, com a agravante de a actual divisão conseguir ser ainda mais
artificial e arbitrária que a anterior. Mais artificial, porque os relatores e os avaliados, pertencem
à mesma carreira única e desempenham a mesma função de ensinar, não fazendo qualquer
sentido a separação das suas competências em matéria de avaliação. Mais arbitrária, porque se o
concurso dos titulares foi feito em obediência a regras que apresentavam ainda assim alguma
objectividade e universalidade – por mais discutíveis que fossem (e eram) –, na selecção dos
relatores prevalece a ambiguidade e a falta de transparência, propiciando-se situações de
extrema perversidade.
Em virtude da ausência de critérios objectivos de selecção e atendendo ao facto do coordenador,
e em última acepção o Director, não apenas ter a faculdade de os escolher, mas também de os
classificar, propiciam-se situações de subordinação perversa. Ou seja, confia-se na qualidade
das pessoas em causa para a qualidade da avaliação, quando a lei deve partir do princípio oposto
e evitar antecipadamente e de uma forma clara a perversidade das suas determinações.
Ponto Quatro: Como se acabou de se ver, o actual modelo de ADD, para além de não ser
preciso e credível, não premeia o mérito e a excelência e também não garante a
imparcialidade, uma vez que avaliados, relatores e coordenadores são concorrentes numa
mesma carreira profissional, sem que estejam garantidos os princípios da isenção e de
ausência de conflito de interesses.
A ocorrência ou não destas situações não pode, mais uma vez e como é óbvio, assentar na
presunção de bondade dos intervenientes, mas tem que ser prevista na lei.
Ponto cinco: o artigo 21º do DR 2/2010, no seu ponto 4, estipula que ‘a diferenciação dos
desempenhos é garantida pela fixação das percentagens de 5 e 20 para a atribuição das
menções qualitativas de, respectivamente, Excelente e Muito Bom, em cada agrupamento
de escolas ou escola não agrupada’, só em Janeiro os professores ficaram a saber a que
universos é que estas percentagens se referem. Estamos em Fevereiro e ainda se
desconhecem muitos dos aspectos que regem esta avaliação, nomeadamente as vagas de que
depende a progressão ao 5º e 7º escalões.
Solicitam, ainda, ao Director da Escola que se digne dar conhecimento do presente documento
às seguintes entidades: