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1 – INTRODUÇÃO

Análise Orgânica Experimental

A disciplina de Análise Orgânica Experimental consiste, resumidamente, na


realização de uma série de procedimentos experimentais visando à identificação dos
compostos químicos existentes em uma amostra desconhecida.
Substâncias orgânicas são usualmente identificadas conjugando suas
propriedades físicas e químicas. Os dados físicos e químicos obtidos na análise de
compostos levam geralmente a uma ou mais estruturas prováveis. Todavia,
informações adicionais são freqüentemente necessárias para identificação definitiva
da substância. Este trabalho adicional inclui a obtenção de um ou mais derivados
adequados ou de produto de degradação cujas propriedades confirmem a substância
original 1.
A metodologia clássica usada na identificação de amostras orgânicas foi
desenvolvida anos depois da sistemática analítica inorgânica. O primeiro e bem
sucedido programa de análise orgânica qualitativa foi apresentado pelo professor
Oliver Kamm, em seu livro texto de 1922 2.

Amostras

Etilbenzeno 3 (1)
O etilbenzeno (1) é um intermediário químico de alto valor comercial, utilizado
extensivamente nas indústrias química, petroquímica e farmacêutica, em diferentes
aplicações, tais como solvente na fabricação de tintas e vernizes e como precursor de
diversos outros produtos. O seu maior emprego, entretanto, é na manufatura do
monômero estireno, um outro importante intermediário químico usado na produção de
polímeros, resinas e borrachas sintéticas. A produção mundial de etilbenzeno (1) é
estimada como 23 milhões de t/ano, com cerca de 90% sendo empregada diretamente
na síntese do estireno.
As rotas sintéticas mais comuns na produção de etilbenzeno (1) são a
alquilação do benzeno com polipropileno ou etileno, a alquilação do tolueno com
metanol, a transalquilação de dietilbenzeno com benzeno, o desproporcionamento e
transalquilação do tolueno, e a transalquilação de trietilbenzeno com benzeno. Entre
esses, os processos de alquilação são os mais utilizados industrialmente. Cerca de
40% das plantas industriais de etilbenzeno (1), em nível mundial, emprega o processo

1
de alquilação de Friedel-Crafts, baseado em catalisadores à base de cloreto de
alumínio, implementado comercialmente na década de 50.

L-Ácido Tartárico (2)

É um composto orgânico de função mista que apresenta os grupos funcionais


ácido carboxílico e álcool. Este possui isomeria óptica e suas fórmulas estruturais
correspondentes são4:

OH
OH

COOH
COOH
HOOC
HOOC

OH
OH

L(+) Ácido Tartárico, 2 D(-) Ácido Tartárico, 3

OH

COOH
HOOC

OH

meso- Ácido Tartárico,4

O l-ácido tartárico (2) é amplamente distribuído na natureza, estando presente


em várias frutas tanto livre ou combinado com potássio, cálcio ou magnésio4. É o
principal dos ácidos formados na fermentação da uva e do vinho. É o mais forte, define
o pH e dá maior resistência ao ataque bacteriano. Sua dosagem é elevada no início do
processo e deve ser encontrada em quantidades menores quando a bebida for para a
etapa de engarrafamento5.
Este ácido (2) também é um acidulante orgânico natural utilizado na indústria
de alimentos (produtos de pastelaria) e bebidas (fabricação de sucos e
refrescos)Encontram-se aplicações específicas do ácido tartárico também na indústria
química (tinturarias), farmacêutica e de cosméticos (shampoos e loções capilares)6.

2
1.1 – OBJETIVO E METODOLOGIA DA ANÁLISE ORGÃNICA
A disciplina de Análise Orgânica Experimental tem como objetivo a
identificação das substâncias presentes em uma amostra desconhecida. Para tal fim,
uma série de procedimentos é realizada, como os listados abaixo:

1) Exame preliminar: observação do estado físico, cor, odor, volatilidade, simples


queima; teste de solubilidade em HCl 10 %, NaHCO3 5% e NaOH 5%;
2) Cromatografia em camada fina (CCF): utilizada para avaliar a polaridade das
amostras e propriedades como revelação no ultravioleta, no iodo, entre outros
tipos de reveladores específicos para determinadas funções;
3) Separação dos constituintes: o método de separação varia de acordo com as
características da amostra. Pode ser realizada por diferença de solubilidade,
destilação, extração ácido-base, entre outros;
4) Purificação: irá depender do estado físico da amostra; podendo ser por
recristalização, destilação, sublimação;
5) Determinação do Ponto de Fusão ou Ebulição;
6) Ensaios Preliminares: caráter ácido ou básico, oxidante ou redutor, aromático,
etc;
7) Análise Elementar: permite avaliar a presença de oxigênio, nitrogênio, fósforo,
enxofre e/ou halogênios na substância analisada;
8) Solubilidade: de acordo com o resultado deste teste é possível identificar
possíveis grupos funcionais do componente;
9) Teste para grupos funcionais: permite a caracterização do(s) grupo(s) funcional
(s) presente(s) no analito;
10) Síntese de derivados: consiste na obtenção de um produto através de uma
reação química envolvendo o seu analito. E, seguida, correlaciona-se as
características físico-químicas dos derivados com as do componente original;
11) Espectroscopia na região do infravermelho (IV);
12) Comparação dos dados experimentais com os da literatura.

1.2 – APRESENTAÇÃO DA AMOSTRA

A amostra M 05 é constituída por dois componentes já separados e


puros, o primeiro (M 05 – 1) apresenta-se na forma de um líquido incolor e o
segundo (M 05 – 2) na forma de um sólido cristalino branco, ambos possuem um
odor bem marcante.

3
2 – RESULTADOS DE DISCUSSÃO

2.1 – APRESENTÇÃO

A amostra M 05 - 1 foi identifica como sendo o Etilbenzeno (1) e a amostra M


05 - 2 como sendo o L - Ácido Tartárico (2). A Figura 1 mostra as fórmulas
estruturais das duas substâncias.

OH

COOH
HOOC

OH

Etilbenzeno, (1) L - Ácido Tartárico, (2)

Figura 1: Fórmula estrutural da amostra M 05 -1 e M 05 - 2

4
Os dados físicos e químicos pesquisados na literatura das substâncias 1 e 2
encontram-se na Tabela 1.

Tabela 1: Propriedades físicas e químicas dos compostos 1 e 2


Etilbenzeno, (1) L – Ácido Tartárico, (2)
Fórmula Molecular C8H10 C4H6O6
Peso Molecular 106.16 g/mol 150.09 g/mol
Ponto de Fusão - 168 – 170 0C
Ponto de Ebulição 136.25 0C -
Densidade 0.866 g/cm3 1.7598 g/cm3
Odor Forte Forte
Aparência Líquido incolor Cristais brancos
Solubilidade em água Praticamente insolúvel 1g/0.75ml (25 0C)
Observações Solúvel em Hexano -

4
2.2 – ANÁLISE PRELIMINAR

O exame preliminar consiste em observar o estado físico da sua amostra, a


cor, o odor, a volatilidade, simples queima, solubilidade da amostra em HCl,
NaHCO3 e NaOH, ponto de fusão ou ebulição. Essas informações serão úteis para
iniciação da identificação da amostra, pois:
Cor - se uma amostra pura apresenta cor, é provável que ela contenha um ou
mais grupos cromóforos, tais como nitro, nitroso ou azo, grupos quinoidais ou
ainda que apresente um sistema conjugado de quadro ou mais ligações duplas1.
Odor – muitos compostos orgânicos têm cheiro característico. Os álcoois têm
cheiros diferentes dos ésteres; os fenóis das aminas; os aldeídos das cetonas7.
Simples Queima - através da simples queima é possível ter uma noção se a
substância tem um núcleo aromático, se possui oxigênio.
Estado Físico – o conhecimento do estado físico irá indicar o método de
purificação a ser realizado, além de refinar as opções de busca em algumas
literaturas.
Solubilidade – o teste de solubilidade em HCl, NaOH, NaHCO3 irá fornecer
informações sobre a acidez e basicidade da amostra.
Contudo, através do exame preliminar é possível fazer um refino inicial na
identificação da amostra.

2.2.1 – CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DA AMOSTRA

Os dados físicos das amostras M 05 – 1 e M 05 – 2 obtidos após o exame


preliminar encontram-se na Tabela 2.

Tabela 2: Dados físicos das amostras M 05 – 1 e M 05 – 2.


Características Amostra M 05 - 1 Amostra M 05 - 2
Volatilidade Não volátil Não volátil
Estado Físico Líquido Sólido
Cor Incolor Branco
Odor Forte Forte
Simples Queima Inflamável,chama Não inflamável, não
fuliginosa fuliginosa, funde e se
decompõe.
Solubilidade em HCl 10 % Insolúvel Solúvel

5
Solubilidade em NaOH 5 % Insolúvel Solúvel
Solubilidade em NaHCO3 5 % Insolúvel Solúvel: reagiu fortemente e
houve liberação de gás
Ponto de fusão - 165 0C
Ponto de ebulição 1350C -

No procedimento de simples queima da amostra M 05 – 1 observou-se um


chama amarelada e fuliginosa o que pode ser indicativo da presença de anel
aromático. A presença de insaturações nas cadeias carbônicas faz com que a
queima seja incompleta, gerando carbono elementar, por isso a chama fica
fuliginosa.
Na Tabela 3 é possível observar que alguns resultados experimentais estão
coerentes com os da literatura4.

Tabela 3: Dados experimentais e dados da literatura


Propriedades M 05 - 1 Literatura M 05 - 2 Literatura
4 (L-Ácido
(Etilbenzeno, 1)
4
Tartárico,2)

Volatilidade Não volátil Não volátil Não volátil Não volátil


Estado Físico Líquido Líquido Sólido Sólido
Cor Incolor Incolor Branco Branco
Ponto de fusão _ -95 0C 165-169 0C 168-169 0C
Ponto de ebulição 135 - 1370C 136.250C - -

Como é possível observar na Tabela 3, tanto o ponto de fusão da amostra M


05-2, quanto o ponto de ebulição da amostra M 05-1 são bastante similares com
os pontos de fusão e ebulição do ácido tartárico (2) e do etilbenzeno (1),
respectivamente, encontrados na literatura4. O que confere uma possibilidade das
as amostras se tratem dos mesmos, mas mais testes serão preciso para
confirmação.

2.2.2 – APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS ESPECTROS DE


INFRAVERMELHO DAS AMOSTRAS

A espectroscopia de infravermelho (IV) é um tipo de espectroscopia ótica que


mede a absorção de radiação infravermelha. Ela proporciona um método valioso

6
para se conhecer informações estruturais sobre os grupos funcionais presentes em
um composto.
Nesta técnica, um feixe de radiação IV passa pela amostra, fazendo com que
os átomos ou grupos funcionais dos compostos orgânicos vibrem com maior
rapidez e com maior amplitude em torno das ligações covalentes que os unem.
Estas vibrações são quantizadas e, quando ocorrem, os compostos absorvem
energia IV em certas regiões determinadas do infravermelho. O espectrômetro
plota os dados de absorção na forma de um gráfico que mostra a absorção em
função da freqüência ou do comprimento de onda (espectro de IV).
Logo, as amostra M 05-1 e M 05- 2 foram analisadas, também, por
espectroscopia na região do infravermelho, e seus espectros podem ser
visualizados na Figura 2 e 4, respectivamente.

7
Figura 2: Espectro de infravermelho da amostra M 05-2

Analisando a espectro da amostra M 05-1, Figura 2, podem-se observar


algumas bandas, as quais estão listadas na Tabela 4. O espectro da amostra M
05-1 também pode ser visto no Anexo 1.

Tabela 4: Resumo das bandas características no infravermelho obtidas


experimentalmente para a amostra M 05 - 1
Número de onda
Grupo funcional e faixa característica
experimental (cm-1)
3070 – 2873 Deformação axial de C-H de aromáticos, deformação axial de
alifáticos.

1494 C=C, vibrações de núcleos aromáticos.

697 Deformação de 5 hidrogênios adjacentes no anel aromático .

E comparando o espectro de IV obtido experimentalmente (Figura 2) com o da


literatura8 (Figura 3), observa-se uma grande similaridade.

8
Figura 3: Espectro de infravermelho do etilbenzeno (1) da literatura 8.

Analisando o espectro de IV da amostra M 05-2, Figura 4, também é possível


destacar algumas bandas características, as quais estão na Tabela 5. O espectro
da amostra M 05-2 também pode ser visto no Anexo 2.

9
Figura 4: Espectro de infravermelho da amostra M 05-2.

Tabela 5: Resumo das bandas características no infravermelho obtidas


experimentalmente para a amostra M 05 – 2.

Número de onda
Grupo funcional e faixa característica
experimental (cm-1)
3500-2300 (banda larga) Deformação axial de OH de ácido carboxílico e álcool.

3406 (banda fina) Deformação axial de OH (associado) – banda fina resultante


de ligações diméricas.
1740.21 Deformação axial de C=O de ácidos carboxílicos.

1085.78 Deformação axial de C-O de álcoois secundário

A figura 5 a seguir mostra o espectro de IV da amostra M 05 – 2


encontrado na literatura8, nota-se certa semelhança ao compará-lo com o espectro
obtido da amostra M 05- 2. Neste espectro (Figura 5) também são observadas as
mesmas bandas características demonstradas na Tabela 5.

10
Figura 5: Espectro de infravermelho do L-ácido tartárico (2) da literatura8.

2.3 – CROTAMOGRAFIA EM CAMADA FINA (CCF)

A cromatografia em camada fina (ccf) é talvez o método prático mais


rápido, mais fácil e mais usado para julgar a pureza (a complexidade e muitas
vezes a natureza) dos compostos orgânicos. A cromatografia pode ser definida
como uma separação mediante a diferença de repartição dos componentes
químicos entre duas fases7. Uma delas é uma fase estacionária ( por exemplo,
sílica) e a outra o meio transporte (o solvente ou eluente).
Os resultados da análise por ccf da amostra M 05-1 e M 05-1 estão
ilustrados na Figura 6.

Eluente: 9/1 (hexano : acetato de etila) Eluente: 7/3 (acetato de etila: etanol)
Revelador: UV Revelador: Vanilina Sulfúrica
Rf: 0.81 Rf: 0.26

M 05-2
M 05-1

Figura 6: Resultados das ccf das amostras M 05-1 e M 05-2.

11
Logo, através das ccfs pode-se notar que a amostra M 05-1 trata-se de
uma substância muito apolar, uma vez que como fase estacionária é
constituída de sílica (substância polar) e o eluente utilizado possui
característica predominante apolar, a alta eluição da amostra revela que a
mesma tem mais afinidade com a fase móvel, ou seja, tem característica
predominante apolar, possivelmente estas duas interagem através interações
intermolecular dipolo instantâneo, as quais são interações típicas entre
substâncias apolares . Também se pode concluir que a amostra M 05-1 possui
ligações duplas conjugadas, pois esta revela no ultravioleta.
E a substância M 05-2 é muito polar, visto que sua maior afinidade foi
com a fase estacionária, não possui ligações duplas conjugadas e pode possuir
a função álcool, pois o revelador vanilina sulfúrica é específica para revelação
de álcoois.

2.4 - CARACTERIZAÇÃO QUÍMICA E GRUPO SOLUBILIDADE

2.4.1 – ÁNALISE ELEMENTAR

A determinação da presença de outros elementos, além de carbono e


hidrogênio, em uma amostra orgânica desconhecida é de enorme significado
no processo de identificação. Heteoátomos como nitrogênio, enxofre e/ou
halogênio podem ser detectado pelo teste de Lassaigne.
O teste consiste na fusão da amostra desconhecida com excesso de
sódio metálico, onde átomos de nitrogênio, enxofre ou halogênios presentes na
amostra são convertidos em cianeto, sulfeto ou halogeneto de sódio,
respectivamente, os quais são detectados mediante ensaios específicos.

Substância Orgânica Na / Calor NaCN


contendo nitrogênio, NaX
halogênios e enxofre Na2S

X = Cl, Br, I

Figura 7: Teste Lassaige.

12
2.4.1.1 – DETECÇÃO DE NITROGÊNIO

Neste teste, ao filtrado da fusão com sódio é adicionado FeSO4 e NaOH


até ocorrer a precipitação de Fe(OH)2. Após ferver por alguns minutos e
acidificar com H2SO4, a presença de nitrogênio no composto orgânico é
indicada por um precipitado ou coloração que varia entre o azul carregado ou
verde.
Através das reações abaixo é possível entender melhor o que ocorre
neste teste.

FeSO4 + 2 NaOH Fe(OH)2 + Na2SO4


precipitado denso

Fe(OH)2 + 6 NaCN  Na4[Fe(CN)6] + 2 NaOH

3 Na4[Fe(CN)6] + 2 Fe2(SO4)3  Fe4[Fe(CN)6]3 + 6 Na2SO4


precipitado colorido

Este teste foi negativo para ambas as amostras.

2.4.1.2 – DETECÇÃO DE HALOGÊNIOS

Acidificando o filtrado da fusão com sódio com ácido nítrico diluído e,


posteriormente, fervendo suavemente durante alguns minutos (para expelir
qualquer traço de cianeto de hidrogênio ou de sulfeto de hidrogênio que esteja
presente) e adicionando então gotas de uma solução de nitrato de prata, a
formação de um precipitado pesado indica a presença de cloro, ou de bromo
ou de iodo. O cloreto de prata é branco, o brometo de prata é amarelo pálido e
o iodeto de prata, amarelo.
Contudo, a presença de halogênios é determinada pela formação de
halogenetos de prata, como é mostra na reação abaixo.

AgNO3 + NaX  AgX + NaNO3


Se o teste descrito for positivo, a identidade do halogênio poderá ser
constatada adicionando hidróxido de amônia concentrado ao precipitado até a

13
solução fortemente básica. O AgCl se dissolve rapidamente. O AgBr se
dissolve com dificuldade e o AgI é insolúvel.
Nas amostras M 05-1 e M 05- 2 o teste para halogênios foi negativo.

2.4.2 – CARÁTER AROMÁTICO

A presença de um núcleo aromático é determinada através da reação


denominada de Le Rosen, na qual em uma pequena quantidade de amostra
são adicionadas gotas de ácido sulfúrico e formaldeído. Se a amostra possuir
um núcleo aromático ocorrerá o aparecimento de uma coloração, que irá
depender da estrutura do aromático. A reação abaixo ilustra melhor o que
ocorre neste teste.

2 + CH2O + H2O

+ H2SO4 + 3 H2O + 2 SO2


O

A estrutura do produto colorido não é muito conhecida. Acredita-se,


entretanto, que o ácido sulfúrico provoque a condensação do anel aromático
com o formaldeído e posteriormente oxidação do diarilmetileno resultando em
um produto p-quinoidal colorido.
Para a amostra M 05-1 o teste foi positivo, comprovando a presença de
um núcleo aromático na estrutura da substância contida na amostra M 05-1. Já
para amostro M 05-2 o teste foi negativo.

2.4.3 – CARÁTER ÁCIDO

O caráter ácido é determinado através de um simples teste, no qual em


uma pequena quantidade da amostra a ser analisada é adicionado KI e KIO3.
Se a substância possuir caráter ácido, houvera a formação de iodo, o
que é observado pelo aparecimento de uma coloração castanha, característica
do iodo. E para melhor visualização adiciona uma gota de amido, o que irá
formar um produto de coloração azul.

IO3- + 5 I- + 6 H+  3 I2 + 3 H2O

14
I2 + amido  coloração azul

O teste de caráter ácido foi negativo para amostra M 05-1, mas foi
positivo para a amostra M 05-2.

2.4.4 – CARÁTER BÁSICO

O teste para identificação se a amostra possui caráter básico é


realizado através de uma reação entre a amostra e níquel-dimetilglioxima.
O resultado positivo é indicado pela formação de um precipitado
vermelho, como é mostrado na reação a seguir.

Se a substância for básica, esta irá consumir o H+ , deslocando o


equilíbrio para a formação do precipitado vermelho.
O teste foi negativo para ambas as amostras.

2.4.5 – CARÁTER OXIDANTE

O teste de caráter oxidante é usado na identificação da presença de


substâncias nitradas. Ele é feito através de um reação entre a amostra, FeSO4
e KOH. Se a amostra possuir um caráter oxidante, o Fe2+ irá se oxidar a Fe3+ e
a precipitação de hidróxido férrico irá ocorrer, conforme é mostrado na reação
abaixo.

RNO2 + 6 Fe(OH)2 + H2O  RNH2 + 6 Fe(OH)3


Precipitado castanho

15
Tanto na amostra M 05-1, quanto na amostra M 05-2 o teste foi negativo,
descartando a possibilidade de as amostras possuírem grupamento nitro em suas
estruturas.

2.4.6 – CARÁTER REDUTOR


O caráter redutor é testado através do Teste de Jones. Este teste é usado na
identificação de álcoois primários, secundários, aldeídos e, consiste, basicamente, em
reagir amostra com ácido crômico, ácido sulfúrico e acetona, como é mostrado nas
reações abaixo.

RCH2OH + CrO3 + H2SO4  RCOH  RCOOH + Cr2(SO4)3


(verde)

R2CHOH + CrO3 + H2SO4  R2CO + Cr2(SO4)3


(verde)

R3COH + CrO3 + H2SO4  não reage

RCHO + CrO3 + H2SO4  RCOOH + Cr2(SO4)3


(verde)

Nestas reações os álcoois primários sofrem oxidação e vai a ácido


carboxílico e o cromo é reduzido do estado de oxidação de +6 (H2CrO4) ao estado de
oxidação +3 (Cr3+). Já os álcoois secundários são oxidados a cetona, pois a oxidação
adicional a ácido carboxílico necessita do rompimento da ligação carbono-carbono.
Álcoois terciários não reagem. E aldeídos também são oxidados a ácido carboxílicos9
Logo, se o teste for positivo irá ocorre a formação de um precipitado verde,
que é o sulfato crômico.
Para a amostra M 05-1 o teste foi negativo, mostrando que a amostro não
se trata nem de álcoois e aldeídos. Já para a amostra M 05-2 o teste foi positivo,
indicando a possibilidade de a amostra M 05-2 se tratar de um álcool primário, ou
secundário ou de um aldeído

2.4.7 – GRUPO DE SOLUBILIDADE


A solubilidade dos compostos orgânicos pode ser dividida em duas
categorias principais: a solubilidade na qual uma reação química é a força motriz, por
exemplo, uma reação ácido-base e a solubilidade na qual está envolvida a simples
miscibilidade. Embora as duas possam interrelaciona-se, a primeira é usada
principalmente para identificar os grupos funcionais e a segunda para determinar os

16
solventes apropriados nas recristalizações, nas análises espectrais e nas reações
químicas7.

Solubilidade em água, em ácidos e bases em solução aquosa e em éter7.

Três espécies de informações podem ser obtidas, a respeito de uma


substância desconhecida, por intermédio da investigação do seu comportamento
quanto à solubilidade em água, em solução de hidróxido de sódio 5%, em solução de
bicarbonato de sódio 5%, em solução de ácido clorídrico 5% e em ácido sulfúrico
concentrado a frio. Em primeiro lugar, encontram-se bastantes vezes indicações sobre
o grupo funcional. Por exemplo, uma vez que os hidrocarbonetos são insolúveis em
água. Em segundo lugar, a solubilidade em certos solventes leva, com freqüência, a
informações mais específicas a propósito do grupo funcional. Por exemplo, o ácido
benzóico é insolúvel num solvente polar, como a água, mas a hidróxido de sódio
diluído o converte a um sal, o benzoato de sódio, que é facilmente solúvel em
água.Neste caso, então, a solubilidade de um composto insolúvel em água, numa
solução de hidróxido de sódio é um forte indicação sobre o grupo funcional ácido.
Finalmente, é possível, em certos casos, efetuar algumas deduções a
propósito da massa molecular.
Com o intuito de enquadrar as amostras M 05-1 e M 05-2 dentro de grupos
funcionais específicos, o fluxograma mostrado na Figura 8 foi seguido por ambas as
amostras.

Figura 8: Fluxograma grupo de solubilidade1.

17
Após realização dos testes de solubilidade, a amostra M 05-1 foi enquadra
na classe I (Tabela 6). A partir do teste de solubilidade foi possível observar que a
amostra M 05-1 pode se tratar de um composto apolar, uma vez que não é solúvel em
água, que não possui caráter ácido, pois não reagiu com hidróxido de sódio e que não
possui caráter básico, pois não reagiu com ácido sulfúrico; fatos que já foram
verificados nos testes de caráter ácido, básico e ccf. Desse modo, a amostra M 05-1
poder um alcano, ou cicloalcano, ou aquil benzeno, ou aquil naftaleno ou derivados
halogenados.

Tabela 6: Classe de solubilidade I1.


Classe de
Grupos funcionais
Solubilidade
C,N C, S, (H, C, Hal. Org.
C, H C, O(H)
(H,O) O, N) (H)
Alcanos
Cicloalcanos
I Derivados
Alquil Benzenos
halogenados
Alquil naftaleno

A amostra M 05-2, por sua vez, foi enquadra na classe S2 (Tabela 7).
Desse modo sua solubilidade em água evidencia que se trata de uma
substância polar que provavelmente faz ligações de hidrogênio com as moléculas da
água e que, podendo ser um dos grupos funcionais listados na Tabela 7.

Tabela 7: Classe de solubilidade S21.


Classe de
Grupos funcionais
Solubilidade
C, S, (H, O, C, Hal.
C, H C, O(H) C,N (H,O)
N) Org. (H)
Ácidos Policarboxílicos Ácidos
Sais de Amônio
Hidroxi ácidos Ácido Sulfônicos Halogenados
Aminoácidos
Polifenóis Mercaptanas
Aminas
S2 Poliálcoois Xantatos Álcoois
Nitro fenóis
Açucares Ditiacarbonatos Halogenados
Nitro ácidos
Sais de ácidos carboxílicos Amino fenóis
Aldeídos
Uréiia
Halogenados

2.4.8 – RESULTADOS PARCIAIS

Os resultados parciais até o momento estão ilustrados nas Tabelas 8, 9 e


10.

18
Tabela 8: Resultados Parciais – Testes Preliminares.
Observações
Testes Preliminares
M 05- 1 M 05 - 2
Ponto de Fusão - 165-169 0C

Ponto de Ebulição 137-137 0C -


Bandas características:
-1
Bandas características:
3200 – 2800 cm - Deformação axial
-1
de C-H de aromáticos; 1740.21 cm - Deformação axial de
IV C=O de ácidos carboxílicos;
-1
700 cm - Deformação de 5
-1
hidrogênios adjacentes no anel 1085.78 cm - Deformação axial de
aromático. C-O de álcoois secundário.

Substância muito polar. Não


CCF Substância pouco polar ou
revela no UV. Revela na
apolar. Revela no UV
Vanilina Sulfúrica.
Detecção de Nitrogênio negativo negativo

Detecção de Halogênios negativo negativo

Caráter Aromático positivo negativo

Caráter Ácido negativo positivo

Caráter Básico negativo negativo

Caráter Oxidante negativo negativo

Caráter Redutor negativo positivo

Tabela 9: Resultados Parciais – Classe de Solubilidade (M 05-1).


Grupos Funcionais Observações
Possíveis P/ M 05-1
(Classe I) Pertence ao grupo: Justificativa (s):
▪Teste Le Rosen positivo;
Alcanos
Não ▪ IV (presença da banda 3200 – 2800
-1
cm - Deformação axial de C-H de
aromáticos).
▪Teste Le Rosen positivo;
Cicloalcanos
Não ▪ IV (presença da banda 3200 – 2800
-1
cm - Deformação axial de C-H de
aromáticos).

▪Teste Le Rosen positivo;


Alquil Benzenos Possível
▪ IV (presença da banda 3200 – 2800
-1
cm - Deformação axial de C-H de
aromáticos).

19
▪Teste Le Rosen positivo;
Alquil naftaleno
Possível ▪ IV (presença da banda 3200 – 2800
-1
cm - Deformação axial de C-H de
aromáticos).
Derivados
Detecção de Nitrogênio e Halogênios
Não negativa
halogenados

Tabela 10: Resultados Parciais – Classe de Solubilidade (M 05-2).


Grupos Funcionais Observações
Possíveis P/ M 05-2
(Classe S2) Pertence ao grupo: Justificativa (s):
▪Caráter ácido positivo;

Ácidos ▪ Solúvel em NaHCO3 (reage


fortemente e há liberação de gás)
Policarboxílicos Não
-
▪ IV (presença da banda 1740.21 cm
1
- Deformação axial de C=O de
ácidos carboxílicos)
▪ Caráter ácido positivo;

▪ Solúvel em NaHCO3 (reage


fortemente e há liberação de gás);

Hidroxi ácidos ▪ IV (presença das bandas 1740.21


-1
Possível cm - Deformação axial de C=O de
-1
ácidos carboxílicos e 1085.78 cm -
Deformação axial de C-O de álcoois
secundário);

▪ Caráter redutor positivo.

Polifenóis ▪ IV (presença da banda 1740.21 cm


-

Poliálcoois Não 1
- Deformação axial de C=O de
ácidos carboxílicos)

Açucares ▪ IV (presença da banda 1740.21


-1
Não cm - Deformação axial de C=O de
ácidos carboxílicos)
▪Caráter ácido positivo;

Sais de ácidos ▪ Solúvel em NaHCO3 (reage


carboxílico. fortemente e há liberação de gás)
Possível
-
▪ IV (presença da banda 1740.21 cm
1
- Deformação axial de C=O de
ácidos carboxílicos)
Sais de Amônio
Aminoácidos
Aminas
Nitro fenóis Não Detecção de Nitrogênio negativa
Nitro ácidos
Amino fenóis
Uréiia
Ácidos Sulfônicos
Mercaptanas
Não foram distribuídas amostras com
Xantatos Não enxofre
Ditiacarbonatos

20
Ácidos Halogenados
Álcoois
Halogenados Não Detecção de Halogênio negativa
Aldeídos
Halogenados

A partir dos resultados parciais pode-se observar que a amostra M 05-1 pode
ser um aquil benzeno ou naftaleno e a amostra M 05-2 pode ser um ácido
policarboxilíco, um hidroxi ácido ou sais de ácidos carboxílicos.

2.5 – ENSAIOS DE CLASSE

Após a realização dos testes preliminares, da análise espectroscópica, e da


identificação do grupo de solubilidade das amostras, testes químicos para grupos
funcionais são feitos para esclarecer definitivamente o(s) grupo(s) funcional(is)
presente(s) na amostra.

Amostra M0 05-1

O teste químico para grupos funcionais realizado na amostra M 05-1foi o Le


Rosen, pois a amostra que foi enquadrada na classe de solubilidade I e tinha a
possibilidade de ser um aquil benzeno ou aquil naftaleno. E estava indicado na
literatura que o teste químico para confirmação de aromáticos era o Le Rosen.
O resultado do teste, que já tinha sido realizado anteriormente, foi positivo,
confirmando que a amostra M 05-1 possui um núcleo aromático em sua estrutura.
Abaixo se pode visualizar o mecanismo deste teste.

21
2 + CH2O + H2O

Etilbenzeno (1)

+ H2SO4 + 3 H2O + 2 SO2


O

Mecanismo:

Etapa 1:

OH H OH H OH H

O H O H H 2C H 2C H2C
+ + HSO4
H H H H

H H2 H2 OH H O
H O C HO C H2C OH S O
H +
O

- H2O

H2C

H2C

Carbocátion benzílico

22
H H H
H2C
+

O
H
OH S O
+ O

Etapa 2:

+ H2SO4
O

Precipitado Colorido

Para a etapa 2 não existe nenhum mecanismo esclarecido, só se pode afirmar


que ocorre uma reação de oxidação.
Não foi preciso a realização de mais nenhum teste químico para grupos
funcionais, uma vez que com as informações adquiras até o momento a estrutura da
substância presente na amostra M 05-1 já esclarecida.

Amostra M 05-2:

Para amostra M 05-2 foram realizados testes para esclarecer a existência ou


não de hidroxila(s), da função aldeído na estrutura da substância, pois para esta
amostra o teste de caráter redutor foi positivo.

Teste para Aldeídos: O teste realizado para a identificação da função aldeído


na amostra consistiu na reação da amostra com 2,4-dinitrofenilidrazina. Teste positivo
é indicado pela formação de um precipitado amarelo ou vermelho. A reação abaixo
mostra o que aconteceria se a amostra possuísse a função aldeído.

23
NH2
R
NH CH
N
NO2 O
NH
+ C
R H NO2

Aldeído
NO2
2,4-dinitrofenilidrazina NO2

2,4 -dinitrofenilidrazona correspondente ao


aldeído, Precipitado Amarelo ou Laranja.

Para a amostra M 05-2 o teste foi negativo, tirando a possibilidade de a


amostra possuir em sua estrutura a função aldeído.

Teste para Álcool: O teste para identificação de álcoois foi o Teste de Lucas.
Neste teste adiciona-se HCl em uma pequena quantidade de amostra e observa-se
por alguns minutos. Se o álcool é terciário, benzílico e alílico reagem
instantaneamente. Se for um álcool secundário irá reagir em um intervalo de cinco
minutos e após dez minutos ocorrerá o aparecimento de uma camada distinta na
solução. Álcoois primários não reagem.
Para a amostra M 05-2 o teste foi positivo, e identificou que além de a amostra
possuir a função álcool, este é secundário. O mecanismo descrito adiante explica
melhor o que ocorre9.

OH Cl
COOH COOH
HOOC HOOC
+ HCl + H2O
OH Cl
L- Ácido Tartárico

Mecanismo para álcoois secundários:


R = COOH
R1 = CHOHCOOH

Etapa 1

R rápida R H
H O H H C O H + O H
H C O H +
H R1 H
R1

24
Etapa 2

R H lenta R
H C + O H
H C O H
R1 H
R1

Etapa 3

R
R rápida
H C Cl H C Cl
+
R1 R1

Na primeira etapa o álcool aceita um próton e depois o álcool protonado se


dissocia para formar um carbocátion e água. Na etapa o carbocátion reage com um
nucleófilo (um íon haleto) em uma reação SN1. O mesmo mecanismo irá ocorrer na
outra hidroxila. No caso de álcoois sencudários os haletos de alquila formados são
insolúveis em água, formando assim uma camada distinta da camada aquosa9.

Teste para Ácido Carboxílico: Não foi realizado nenhum teste específico para
ácido carboxílico, mas quando a amostra M 05-2 foi mistura com NaHCO3 durante as
análises preliminares, houve uma reação instantânea e a liberação de gás. Este fato
indica que a amostra é um ácido carboxílico, como é mostrado na reação a seguir.

OH
OH
H2O COO Na
COOH + NaHCO3 Na OOC CO2
HOOC + H2 O
+
Base mais forte OH
OH
H2CO3
Ácido mais forte Base mais fraca Ácido mais fraco

25
2.6 – PREPARO DE DERIVADOS

A última etapa realizada na identificação de uma amostra desconhecida é a


preparação de dois derivados da amostra. Esta é a última etapa, porque após todos os
procedimentos realizados anteriormente a função química que a amostra possui e sua
estrutura molecular já estão praticamente desvendadas e isso facilita a escolha dos
derivados a serem feito. Além disso, propriedades como o ponto de fusão dos
derivados são as ferramentas chaves para a conclusão da identificação.

2.6.1 – DERIVADOS DA AMOSTRA M 05-1

A partir dos resultados descritos anteriormente foi possível chegar à conclusão


que a amostra M 05-1 trata se de um aquil benzeno ou um aquil naftaleno líquido, o
qual não possui nitrogênio, halogênios em sua estrutura molecular; não tem caráter
ácido, básico, redutor e oxidante e tem faixa de ponto de ebulição 135-137 0C. Desse
modo, através de dados da literatura7 foi possível chegar ao um determinado grupo de
composto que possui as características descritas anteriormente. Este composto, seus
pontos de ebulição e derivados podem ser vistos na Tabela 11. Para facilitar a busca
consideraram-se os compostos com ponto de ebulição que se encontra em uma faixa
50C acima ou baixo do ponto de ebulição da amostra M 05-1.

Tabela 11: Possíveis hidrocarbonetos – aromáticos (líquidos)7.


Derivados
0 Produto Nitração Ácido
Nome P. eb. C Posição
0
P.f. C aroilbenzóico
Picrato

Etilbenzeno 135 2,4,6 37 122 96

p-Xileno 137 2,3,5 137 132 90

m-Xileno 139 2,4 83 126 91

o-xileno 142 4,5 71 178 88

Optou-se pela preparação dos derivados através da nitração aromática e


oxidação de uma cadeia lateral de um composto aromático.

26
2.6.1.1 – PREPARO DO DERIVADO ATRAVÉS DA NITRAÇÃO AROMÁTICA

Para a preparação do derivado foram adicionados 1 g da amostra, 4 ml de


ácido sulfúrico concentrado e 4 ml de ácido nítrico concentrado (gota a gota) em um
balão de 25mL. A mistura reacional foi mantida por cinco minutos em refluxo em um
banho de água a 450C. Após esse período, a mistura reacional foi vertida em gelo
picado. Como não ocorreu precipitação imediata, foi adicionado a mistura éter etílico, o
qual provocou a precipitação do derivado. Após filtração e lavagem do precipitado, o
ponto de fusão do precipitado foi aferido, 40-430C. Devido a grande proximidade do
ponto de fusão obtido experimentalmente e o encontrado na literatura7 (Tabela 11),
pode-se concluir que a amostra M05-2 é o etilbenzeno.

Mecanismo envolvido na preparação do derivado9:

45 0C O2N NO2
+ HNO3 + H2SO4 + H3O + HSO4

Etilbenzeno NO2

2,4,6 - trinitroetilbenzeno

Etapa 1 O H O

HO3SO H + H O N H O N + HSO4
(H2SO4)
O O

Etapa 2

H O
O

H O N H2O + N

O
O

Íon nitrônio

27
Etapa 3

O
H H H
N lenta

O NO2 NO2 NO2


Etilbenzeno

Íon arênio

Etapa 4

H O H
+ H NO2 + H O H
NO2
H

Devido às condições reacionais empregadas, temperatura alta e ácido sulfúrico


concentrado, a nitração do etilbenzeno irá ocorrer nas posições 2,4,6 do anel
aromático. O grupamento etil é orientador orto-para, mas como as posições orto estão
mais impedidas, devido a proximidade do grupamento etil, a posição para é a primeira
nitrada e depois as posições orto. O mecanismo demonstrado acima também é
seguido na nitração das posições orto.
Na primeira etapa do mecanismo, o ácido nítrico aceita um próton do ácido
mais forte, o ácido sulfúrico. Já na segunda etapa, o ácido nítrico agora que está
protonado pode se dissociar para formar um íon nitrônio. O íon nitrônio, na etapa 3, é
o eletrófilo real na nitração: ele reage com o etilbenzeno para formar um íon arênio
estabilizado por ressonância. Na última etapa o íon arênio então perde um próton para
uma base de Lewis e torna-se p-nitroetilbenzeno.

2.6.1.2 – PREPARO DO DERIVADO ATRAVÉS DA OXIDAÇÃO DA CADEIA


LATERAL

Este derivado foi preparado através de um reação entre 1 g do composto, 80


ml de água, 4 g de permanganato e 1 ml de solução de hidróxido de sódio a 10%. A
mistura reacional foi mantida sob refluxo por duas horas, até o desaparecimento da
coloração púrpura do permanganato. Ao cabo deste intervalo de tempo a mistura foi
resfriada e acidificada com ácido sulfúrico. Aqueceu-se então durante meia hora e

28
resfriou-se. Removeu-se qualquer excesso de dióxido de manganês pela adição de
um pouco de solução de bissulfito de sódio. Filtrou-se e o ácido benzóico formado foi
extraído por meio de clorofórmio. Evaporou-se o solvente, obtendo-se um sólido
cristalino com ponto de fusão de 115-118 0C, o qual é bem próximo ao encontrado na
literatura7 (Tabela 11).
Esse derivado serviu para enfatizar a conclusão sobre a identificação da
amostra M05-1.

Mecanismo envolvido na preparação do derivado9:

O
(1) KMnO4, OH-, calor OH

(2) H3O+
Etilbenzeno Ácido Benzóico

O mecanismo não é bem elucidado, o que se sabe é que na primeira etapa o


agente oxidante (KMnO4) extrai um hidrogênio benzílico. Uma vez que a oxidação
tenha começado no carbono benzílico, ela continua nesse sítio. Por fim, o agente
oxidante oxida o carbono benzílico a um grupo carboxila e, nesse processo, elimina os
átomos de carbono remanescentes da cadeia lateral 9.

2.6.2 - DERIVADOS DA AMOSTRA M 05-2

A partir dos testes preliminares, determinação do grupo de solubilidade, ensaio


de classe, análise espectroscópica foi possível chegar à conclusão que a amostra M
05-2 trata se de um ácido policarboxílico, ou um hidroxi ácido ou sais de ácido
carboxílico sólido, o qual não possui nitrogênio, halogênios em sua estrutura
molecular; tem caráter ácido e redutor, não caráter básico, oxidante, aromático e tem
faixa de ponto de fusão 165-169 0C. Desse modo, através de dados da literatura7 foi
possível chegar ao um determinado grupo de composto que possui as características
descritas anteriormente. Este composto, seus pontos de ebulição e derivados podem

29
ser vistos na Tabela 12. Para facilitar a busca consideraram-se os compostos com
ponto de ebulição que se encontra s em uma faixa 50C acima ou baixo do ponto de
ebulição da amostra M 05-2.

Tabela 12: Possíveis ácidos carboxílicos (sólidos)7.


Derivados

Fenil-
Anilida Amida Èster p-nitro- Èster p-bromo-
Nome P.f ºC hidrazida
(ºC) (ºC) benzílico (ºC) fenancílico (ºC)
(ºC)

Itacônico 165d 190 192(di) 91 117 -

Mesitilênico 166 - 133 - - -

Tricarbalílico 166 252 207d - 138 -

dl-Fenilsuccínico 167 222(di) 211(di) - - -

d- ou l- Tartárico 169 180 195 163 216 240

Optou-se pela preparação dos derivados através da formação de amidas e


anilidas.

2.6.2.1 – PREPARO DO DERIVADO ATRAVÉS DA FORMAÇÃO DE AMIDA

Este derivado foi preparado através de uma reação com 1 g da amostra M 05-
2, 5 ml de cloreto de tionila. A reação foi mantida sob refluxo durante 15 minutos. Após
esse tempo, a mistura foi lançada em 15 ml de solução aquosa de amônia
concentrada e resfriada a 0 0C. A amida precipitada foi recolhida num papel de filtro e
apresentou faixa de fusão, 202-205 0C, a qual é bastante próxima da encontrada na
literatura7, confirmando assim que a amostra M05-2 trata se do ácido tartárico.

Mecanismo envolvido na preparação do derivado10:

30
OH OH
OH

COCl NH3 CONH2


COOH
+ SOCl2 ClOC H2NOC
HOOC

OH OH
OH

L-Ácido Tatárico

Mecanismo:

Etapa 1

OH O OH O Cl
Cl
C H C S O
HOOC O S O HOOC O
+ Cl
OH Cl OH H

OH O OH O Cl
Cl

C O S C S
HOOC HOOC O
O O
Cl H
OH OH H

Cl
Clorossulfito de acila
protonado

OH O
Cl

C + O S
HOOC Cl
H O

OH

HCl + SO2

31
Etapa 2
OH O O O
H
C R C Cl C
HOOC Cl R N H Cl
H N H
OH H NH3
NH3 H

OH
R= O

HOOC C
OH R N H + NH4 + Cl

Na primeira etapa do mecanismo ocorre uma adição nucleofílica-eliminação de


um íon cloreto em um intermediário altamente reativo: um clorossulfito de acila
protonado. E na segunda ocorre uma reação de adição nucleofílica a carbonila do
cloreto de acila, seguido a eliminação do íon cloreto. A amônia é coloca em excesso
para neutralizar o ácido clorídrico formado na etapa anterior 10.
O mecanismo descrito irá ocorrer também na outra carbonila

2.6.2.2 – PREPARO DO DERIVADO ATRAVÉS DA FORMAÇÃO DE ANILIDA

O segundo derivado foi preparado utilizando 1 g da amostra M 05-2 e 2 ml de


cloreto de tionila. A mistura reacional foi mantida sob refluxo durante 30 minutos. A
mistura é então resfriada, e adicionou-se 2 g de anilina e 30 ml de tolueno; a mistura
foi aquecida em banho de vapor, durante 2 minutos. Decantou-se então a solução,
num funil de separação, e lavou-se sucessivamente com 2 ml de água, 5 ml de ácido
clorídrico a 5%, 5 ml de solução de hidróxido de sódio a 5 % e 2 ml de água. O tolueno
foi evaporado e não ocorreu a formação de nenhum precipitado.
Logo, o derivado da amostra M 05-2 através da formação de anilina não deu
certo, o que não prejudicou a identificação da amostra.

32
2.7 – DISCUSSÃO FINAL E CONCLUSÃO

Na Tabela 13 é possível observar alguns dos resultados finais da identificação


das amostras M 05-1 e M 05-2.

Tabela 13: Resultados Finais


Características Amostra Literatura Amostra Literatura
M 05-1 (Etilbenzeno, 1)4,7.8 M 05-2 (L-Ácido
Tartárico, 2)4,7,8
Ponto de fusão - - 95 165-169 169
(0C)
Ponto de ebulição 135-137 135 - -
Volatilidade Não é volátil Não é volátil Não é volátil Não é volátil
Cor Líquido incolor Líquido incolor Sólido Branco Sólido Branco
-1
IV(Bandas ■ 3070-2870 cm – -1
■ 3200-2800 cm - -1
■ 3500-2300 cm - ■ 3500-2300 cm-1

características) deformação axial de C- deformação axial de C- deformação axial de - deformação


H de aromáticos e H de aromáticos e OH de ác axial de OH de ác
alifáticos. alifáticos carboxílicos e carboxílicos e
álcooois. álcooois.
-1 -
■ 697 cm --1
■ 1740 cm ■ 1750 cm-1 -
■ 700 cm-1 -
Deformação de 5 Deformação axial de Deformação axial
Deformação de 5
hidrogênios adjacentes C=O de ácidos de C=O de ácidos
hidrogênios adjacentes
no anel aromático carboxílicos. carboxílicos.
no anel aromático
Derivado: nitração 40-43 37 - -
aromática (P.f. 0C)
Derivado: oxida 115-118 122 - -
da cadeia lateral
(P.f. 0C)
Derivado: - - 202-205 199
formação de
amida (P.f. 0C)

33
A partir de todos os procedimentos experimentais desenvolvidos durante a
disciplina de Análise Orgânica Experimental, os quais foram descritos no relatório, foi
possível concluir a identificação das amostras.
A amostra M 05-1 é a substância denominada Etilbenzeno (1), pois os ensaios
preliminares, grupo de solubilidade e análise espectroscópica deixam evidente que a
amostra é um aromático, que não possui em sua composição nitrogênio nem
halogênios, não tem caráter ácido, básico, redutor e oxidante. E os resultados dos
pontos de fusão dos derivados confirmam que a substância é realmente o Etilbenzeno
(1).
A amostra M 05-2 foi identificada, e chegou-se a conclusão que é o L-Ácido
Tartárico (2). Os resultados dos ensaios preliminares, grupo de solubilidade e análise
espectroscópica mostram que a amostra é um ácido carboxílico, que não possui
nitrogênio nem halogênio e tem caráter redutor. A partir dos testes químicos foi
possível identificar a presença da função álcool em sua estrutura. Os resultados de
ponto de fusão da própria amostra e do derivado levam a possibilidade de ser tanto l –
ácido tartárico (2) quanto o d – ácido tartárico (3), sendo o [α]20D o único dado
experimental que os difere, para o l – ácido tartárico (2) o [α]20D é + 12.0o e para o d –
ácido tartárico (3) é - 12.0o . Contudo, dados da literatura4 relatam que o d – ácido
tartárico (3) não é comercializado e é difícil de ser encontrado na natureza, e que o l
– ácido tartárico (2) é o comercializado. A partir desse fato pode-se concluir que a
amostra M 05-2 é o l – ácido tartárico (2).

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3-REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

[1] CUNHA, M.F.V., et al. Apostila de Análise Orgânica I Experimental. 4, 14,31,32p;

[2]http://www.unb.br/iq/litmo/disciplinas/LQO20061/Roteiros/Experimentos%207_8_9df
(Acessado em 26/05/09);

[3] OLIVEIRA, A.C., et al. Quim. Nova. 2005, 28(1), 37-41p;

[4] THE MERCK INDEX – An encyclopedia of Chemicals, Drugs and Biologicals. 11ª
ed., USA, 1989; 496,1174,1175p;

[5]http://sbrtv1.ibict.br/upload/sbrt4985.html?PHPSESSID=a7c7ea2053c411d900126fb
a1ece1337 (Acesso em 10/06/09);

[6] http://www.viafarmanet.com.br/conteudo/pdf/fol_gomas_nutricionais.pdf (Acessado


em 10/06/09);

[7] SHRINER, R. L., et al - The Systematic Identification of Organic Compounds, A


Laboratory Manual, 3a.ed; 1948, 26,75,440 e 488p;

[8] AIST – NATIONAL INSTITUTE OF ADVANCED INDUSTRIAL SCIENCE AND


TECNOLOGY. Spetral Database for Organic Compounds, SDBS. Disponível em:
http://riodb01.ibase.aist.go.jp/sdbs/cgi-bin/cre_index.cgi?lang=eng ( Acessado em
04/06/09)

[9] SOLOMONS, T. W.G., FRYHLE, C.B. Quimica Orgânica . Volume 1. 7a. ed. Rio de
Janeiro: Livro Técnicos e Científicos Editora; 1982, 423,424,460,569,595p;
[10] SOLOMONS, T. W.G., FRYHLE, C.B. Quimica Orgânica 2 . Volume 2. 8a. ed. Rio
de Janeiro: Livro Técnicos e Científicos Editora; 1982, 112p;

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