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Profilaxia pré-exposição

sexual ao HIV

ORIENTAÇÕES PARA
PROFISSIONAIS DE SAÚDE
GUIA DE CONSULTA RÁPIDA

Brasília – DF
2017
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Definição Mudança nas práticas sexuais
A Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP) consiste no uso oral e diário de dois Não há evidências consistentes de que o uso da PrEP tenha estimulado a adoção
medicamentos antirretrovirais – tenofovir (TDF) e entricitabina (FTC) – em um de práticas que levem a um aumento da exposição sexual ao HIV, tais como
único comprimido, para prevenir a infecção por HIV. aumento do número de parceiros sexuais e/ou diminuição do uso de preservativo.

Eficácia IST
A PrEP é eficaz e oferece um grau de proteção contra a infecção pelo HIV A PrEP não protege das outras IST ou das hepatites virais. Recomenda-se
superior a 90%, quando tomada regularmente. orientar os usuários sobre as estratégias de redução de risco, sendo o uso do
preservativo a melhor proteção para as IST. Porém, aqueles que não querem ou
não conseguem usar o preservativo devem ser orientados a procurar o serviço
de saúde quando houver sinais ou sintomas de alguma IST.
Segurança e resistência viral
A PrEP é segura. A maioria dos usuários não apresenta reações adversas e,
quando apresentam, estas tendem a desaparecer com o tempo. Os casos de
seleção de cepas resistentes ocorreram em pessoas que utilizaram a PrEP A PrEP é indicada somente para pessoas com maior chance
quando já infectadas. Por isso a importância do usuário realizar o teste anti-HIV de se infectar por HIV
em todas as consultas. As pessoas que mais se beneficiarão do uso da PrEP são aquelas que estão
entre os grupos com maior prevalência para o HIV, têm relações anais e
vaginais desprotegidas com frequência, apresentam IST repetidas vezes
Tempo necessário para fazer efeito no organismo e/ou fazem uso repetido de PEP.
A proteção depende da concentração do medicamento em determinada região
do corpo. Para relações anais, são necessários sete dias de uso de PrEP para
alcançar a proteção. Para relações vaginais, são necessários 20 dias.
IMPORTANTE!

Adesão
Em estudos demonstrativos, quando as pessoas conheciam a PrEP e escolheram O melhor método é aquele que o indivíduo escolhe
tomá-la, a adesão foi alta. Contudo, algumas pessoas terão dificuldades e e que atende suas necessidades sexuais e de
necessitarão de acompanhamento mais frequente, especialmente no início. proteção. Portanto, escolher a PrEP envolve:
• Avaliar com o usuário os benefícios e riscos do
uso da PrEP
PrEP e uso de outras substâncias • Discutir as condições de utilizar a PrEP
O medicamento pode ser tomado quando se ingere álcool ou se consomem diariamente
drogas. • Apoiar a decisão do indivíduo

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COMO OFERTAR A PrEP? CRITÉRIOS PARA INDICAÇÃO DE PrEP
ÀS PESSOAS EM RISCO SUBSTANCIAL DE SE INFECTAR POR HIV
Haverá indivíduos que chegarão ao serviço com bastante
conhecimento e motivação para usar a PrEP. O melhor benefício da PrEP é alcançado quando ela é usada por pessoas com maior chance
Para essas pessoas, ofertar a PrEP é praticamente atender a uma de exposição ao HIV. Assim, as avaliações devem ser individualizadas e considerar os grupos
demanda de prevenção. de maior prevalência para o HIV, as práticas sexuais que envolvem maior risco de infecção
e os contextos de maior vulnerabilidade.
Por outro lado, muitas pessoas apresentarão conhecimento parcial
ou nenhum conhecimento a respeito da PrEP, assim como variadas
motivações de uso. Especialmente nesses casos, o modo como o
profissional de saúde ‘apresenta’ a PrEP pode ser decisivo para a
escolha e o uso do método. GRUPOS DE MAIOR PREVALÊNCIA CONTEXTOS DE MAIOR
PARA O HIV E PRÁTICAS SEXUAIS VULNERABILIDADE

PARA MELHOR
OFERTAR PrEP,
• Anais e vaginais (receptivas ou insertivas) • Contextos de práticas sexuais que
É NECESSÁRIO sem uso de preservativo e um dos reduzam a autonomia do indivíduo
INTEGRAR: seguintes critérios: para se proteger:
Informações precisas › Pertencer a algum grupo social com › Locais de troca ou comércio
sobre PrEP: maior prevalência de HIV: sexual
Transmitir de forma segura › Relações em espaços públicos
» Gays e outros homens que fazem
como funciona; qual a sua (banheiros, saunas etc.)
sexo com homens;
eficácia; eventos adversos › Uso de álcool e outras drogas
» Pessoas trans;
Confiança e necessidade de adesão › Locais com relatos rotineiros de
» Trabalhadores(as) do sexo; ou
no método: violência (situação de rua etc.)
› Ter parceria com pessoa infectada
Ter confiança e • Recorrência de IST
por HIV.
motivação para • Uso repetido de profilaxia pós-
oferecer a PrEP exposição (PEP) sexual
ao indivíduo
Reconhecimento da
autonomia do indivíduo:
Escuta ativa das
necessidades do indivíduo Lembrete: para pessoas com situações esporádicas de substancial exposição ao HIV,
e ajuda qualificada para a deve ser avaliada a indicação de outros métodos, como por exemplo PEP
escolha consciente
da PrEP

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COMO IDENTIFICAR INDIVÍDUOS ELEGÍVEIS
AO USO DE PrEP NA ROTINA DE TESTAGEM
OUTROS MÉTODOS DE PREVENÇÃO

• Uso de preservativos (masculino/


HIV HIV AVALIAÇÃO MENOR RISCO feminino) e gel lubrificante
E GERENCIAMENTO Ofereça outros • Adoção de práticas sexuais de menor risco
DE RISCO métodos de
Converse com o prevenção que • Conhecimento do status sorológico do
usuário e pergunte possam interessar HIV em acordos sexuais
sobre suas práticas
ao usuário • Diagnóstico e tratamento de IST
sexuais e contextos
de vulnerabilidade • Testagem frequente para HIV
Vinculação do
usuário • Profilaxia Pós-Exposição (PEP)
ao serviço para
início da terapia
antirretroviral
(TARV) e
acompanhamento RISCO SUBSTANCIAL Se o usuário não
TESTE DE

HIV
de saúde Converse sobre quiser usar PrEP,
as práticas converse com ele(a) AVALIAÇÃO CLÍNICA
sexuais do usuário, e ofereça outros
apresente a PrEP e métodos • Testagem para HIV
outros métodos de de prevenção
prevenção • Testagem e tratamento de IST
• Testagem para hepatites virais e
vacinação para hepatite B
• Avaliação da indicação de uso imediato
de profilaxia pós-exposição (PEP)
PRÁTICAS DE RISCO SUBSTANCIAL CONTEXTOS DE VULNERABILIDADE
• Avaliação do entendimento e motivação
Se o usuário estiver
para o início da PrEP
• Relação sexual • Qualquer • Locais de troca ou comércio interessado na PrEP,
anal e/ou vaginal compartilhamento sexual peça os exames • Discussão sobre gerenciamento de
(receptiva ou de seringas, necessários e realize risco e vulnerabilidades
• Prática sexual em espaços a avaliação clínica
insertiva) sem uso agulhas ou Se a avaliação
públicos • Avaliação das funções renal e hepática
de preservativo equipamento para clínica indicar
entre parcerias preparo de injeção • Uso de drogas e álcool que não se deve
eventuais prescrever PrEP,
• Locais com relatos rotineiros
• Qualquer injeção de violência (situação de rua converse com o PrEP - Todos os profissionais
de drogas não etc.) usuário e ofereça de saúde que trabalham
prescritas por outros métodos de com testagem de HIV podem
• Recorrência de IST Se a avaliação
profissional de prevenção orientar o uso de PrEP
clínica estiver
saúde nos últimos • Uso repetido de profilaxia satisfatória,
seis meses; e pós-exposição (PEP) sexual PRESCREVA PrEP

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A AVALIAÇÃO CLÍNICA tem por objetivo assegurar que os candidatos ao uso da COMO APOIAR A ADESÃO AO USO DIÁRIO DA PrEP?
PrEP não estejam infectados por HIV, manejar a eventual ocorrência de eventos adversos,
diagnosticar e tratar IST e estabelecer a conduta para a prescrição da PrEP em indivíduos
A maioria dos usuários apresenta boa adesão à PrEP.
portadores de hepatite B.
Contudo, alguns necessitarão de acompanhamento mais frequente,
especialmente nos primeiros meses e sobretudo entre os usuários
mais jovens, a fim de incorporarem a tomada da medicação à rotina
Condutas clínicas, exames laboratoriais e seguimento em PrEP e/ou gerirem seu risco sexual.
Lembramos que a postura e escuta receptiva e livre de julgamento
• Anti-HIV (todas as consultas) • Monitoramento da função renal do profissional para as necessidades do usuário têm papel decisivo.
• Investigação de infecção aguda de HIV (trimestral): dosagem de ureia e
(todas as consultas) creatinia sérica; clearance de creatinina
• Sorologia para sífilis (trimestral) / avaliar e avaliação de proteinúria
possibilidade de fazer TR (trimestral) Orientações que podem auxiliar Ações que podem
• Investigação e tratamento de outras Cálculo da depuração da creatinina a adesão do usuário: ajudar na adesão:
IST (clamídia e gonorreia), quando
disponível (semestral) • Tomar o comprimido associado a alguma • Na consulta inicial, avaliar a motivação,
• Sorologia positiva para hepatite B, Homem:
atividade cotidiana, para ajudar a lembrar intenção de uso e estilo de vida do
encaminhar para avaliação clínica do DEPURAÇÃO DA (140-idade) X peso(Kg) (ao escovar os dentes, almoçar etc) usuário
responsável pelo tratamento. Sorologia =
CREATININA creatinina sérica X 72 • Usar lembretes (p. ex., alarmes, • Montar um plano de adesão com ao
negativa, encaminhar para vacinação aplicativo de celular ou similares) usuário, de acordo com as possiblidades
(triagem) Mulher: • Usar porta-comprimidos dele(a)
• Sorologia para hepatite C (trimestral, se • Levar comprimidos se for viajar ou • Realizar aconselhamento individual
negativo no anterior) DEPURAÇÃO DA (140-idade) X peso(Kg) dormir fora • Aumentar a frequência de retornos
= X 0,85
• Monitoramento da função hepática CREATININA creatinina sérica X 72
• Se esquecer de tomar um comprimido, (intervalos menos espaçados), para
(AST/ALT) – trimestral tomá-lo quando lembrar, obedecendo ao os usuários com maior dificuldade de
• Avaliação e manejo de eventos adversos limite de apenas um comprimido ao dia. adesão
* Sugestão: utilizar calculadora de creatinina disponível
• Avaliação das condições de adesão à no aplicativo do PCDT PrEP ou outra calculadora virtual • Apoio dos pares e/ou parceiros
gestão de risco sexual de CICr disponível on-line. • Redes sociais (p. ex., grupos de apoio
ao uso de PrEP)

Excluir da oferta da PrEP indivíduos com:


• Infecção por HIV
• Sinais e sintomas sugestivos de infecção aguda (investigar)
• Histórico de fraturas ósseas patológicas não relacionadas a trauma
• Depuração da creatinina ≤ 60 mL/min

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Vamos pensar como você fez

RA ABORDAR
para tomar medicações em
A A outras situações na sua vida:
SP • Quando você teve que
A

AD
tomar remédio, como
DIC

E SÃ
você fez para lembrar de
tomá-lo?
Seguimento

O
• Por favor, me diga quais
dificuldades você teve
para tomar esse remédio. • As consultas de seguimento têm por
• Qual foi a coisa mais finalidade certificar que o uso da PrEP
importante que fez você permanece necessário, monitorar
lembrar de tomá-lo? eventos adversos e IST, verificar a
adesão e descartar uma eventual
infecção pelo HIV
• Para muitos usuários, a etapa de
seguimento não implicará demandas
expressivas aos serviços, sendo a maior
parte dos procedimentos voltada à
dispensação do medicamento, após a
verificação do status sorológico e das
funções renais
• O estabelecimento de um fluxo de
atendimento ágil poderá ser um
MONTAR UM PLANO DE ADESÃO motivador para a maior adesão ao
COM O USUÁRIO No caso da PrEP, você pode seguimento clínico e redução do
Você terá que tomar um comprimido tomar o comprimido: trabalho desnecessário do serviço
por dia, todos os dias. • Com ou sem alimento. • Uma parcela reduzida de usuários
• Não tem problema se poderá apresentar maior número de
Apesar de parecer fácil, nós sabemos demandas, ligadas, por exemplo, ao
que as pessoas se esquecem, beber álcool.
• Caso esqueça, tome diagnóstico, tratamento de IST ou baixa
principalmente quando não estão adesão ao medicamento. Para essas
doentes. assim que lembrar.
Se tiver passado um situações, é necessário organizar um
Será mais fácil tomar seu comprimido dia, tome apenas um processo de atendimento específico,
se pensarmos agora sobre como você comprimido ao dia. o qual se torna mais fácil quando o
fará no seu dia-a-dia. seguimento é atribuído a um mesmo
conjunto de profissionais

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FLUXO DE ATENDIMENTO PARA
PRESCRIÇÃO E SEGUIMENTO DE PrEP

EM TODAS AS CONSULTAS
• Teste rápido anti-HIV
30 DIAS 90 DIAS
• Orientações sobre sexo
seguro e redução de risco
• Oferta de preservativos
PRIMEIRO masculino/feminino e gel
PRIMEIRO RETORNO SEGUIMENTO
ATENDIMENTO lubrificante

Avaliação
Avaliação
do risco e Avaliação Consultas
clínica para EXAMES
critérios de inicial do uso trimestrais
prescrição
elegibilidade • Teste rápido de HIV
• Teste de triagem de sífilis
• Exame para identificação de IST
• Contextos e práticas • Anti-HIV (TR) • Anti-HIV (TR) • Anti-HIV (TR) (clamídia e gonococo), quando
sexuais disponível
• Sinais e sintomas de • Investigação de infecção • Investigação de infecção
• Pertencimento a grupos de infecção aguda (carga viral, aguda de HIV aguda • Teste para hepatite B (HBsAg e
alta prevalência de HIV se necessário) Anti-HBs)
• Avaliação de adesão e • Avaliação de adesão e
• Histórico de IST e PEP • Investigação e tratamento eventos adversos eventos adversos • Teste para hepatite C (Anti-HCV)
• Risco/benefício de PrEP de IST • Avaliação dos exames • Avaliação dos exames • Avaliação de proteinúria
• Indicar PEP para exposições • Solicitação de exames de triagem trimestrais • Enzimas hepáticas (AST/ALT)
nas últimas 72 horas • Vacina hepatite B/avalição • Cálculo da creatinina • Investigação e tratamento • Creatinina sérica
clínica para portadores do • Investigação e tratamento de IST • Carga viral do HIV (em caso de
HBV de IST • Aconselhamento para suspeição de janela imunológica)
• 1ª dispensação para 30 dias • Solicitação de exames redução de risco
para retorno trimestral • Solicitação de exames
• Dispensação para 90 dias para retorno trimestral Descontinuar/suspender: mudança
• Dispensação para 90 dias no contexto de risco; HIV+; baixa
adesão; depuração da creatinina
≤ 60 mL/min; ou persistência de
eventos adversos relevantes.
Reintrodução: sete dias ou mais sem
uso de PrEP (avaliar indicação PEP)
Fichas 1 e 2 do Siclom: Ficha 3 do Siclom: Ficha 4 do Siclom:
Cadastro e Primeiro atendimento Retorno 30 dias Acompanhamento trimestral Fonte: PCDT - PrEP

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DESCONTINUANDO A PrEP

MANEJO DE EVENTOS ADVERSOS • Além de situações de infecção por HIV, a interrupção do uso da
PrEP deve ser discutida quando:
• A PrEP não está associada a aumento • O exame para o monitoramento das › Não houver condições/recursos possíveis para uma boa
significativo de eventos adversos ou funções hepáticas é recomendado adesão
resistência aos medicamentos trimestralmente › Os efeitos adversos forem incompatíveis com o uso do
medicamento
• Quando ocorrem, os eventos mais • O tenofovir, de forma geral, é associado › Houver diminuição substancial das situações de potencial
observados são: cefaleia, náuseas, a uma diminuição de densidade óssea. exposição ao HIV ao longo do tempo
flatulência, vômitos, tonturas, fadiga, Entretanto, nos estudos de PrEP, essa • É fundamental problematizar com o indivíduo as condições
dor nas costas e aumento leve de alteração não foi significativa. Sendo objetivas para a adoção de outros métodos e estratégias
transaminases. Esses eventos tendem assim, a PrEP apresenta uma relação preventivas
a desaparecer após os primeiros meses risco-benefício favorável, uma vez
de uso que, em pessoas infectadas, o HIV
apresenta toxicidade óssea direta. Essa
• Estudos reportaram redução leve e toxicidade, combinada com o uso da
subclínica de função renal. Nos estudos terapia antirretroviral ao longo da vida,
de PrEP, a função retornou ao normal está associada a uma perda 3 a 4 vezes
após a interrupção da profilaxia maior de densidade óssea mineral em
comparação ao uso de PrEP PROTEÇÃO APÓS INTERROMPER A PrEP
• Para monitorar a função renal, deve-se
realizar exame de creatinina na triagem • A redução dos níveis ideais de proteção ocorre entre 3
e a cada três meses. e 7 dias sem o uso do medicamento
• Por isso, após esse período, a reintrodução da PrEP
deve ser feita seguindo os mesmos procedimentos de
início de profilaxia, com a realização de teste anti-HIV
e a investigação da presença de sinais e sintomas de
infecção aguda por HIV
• Para indivíduos que interromperam o uso da PrEP e
relatarem relações sexuais penetrativas com risco
de exposição ao HIV nas últimas 72 horas, deve-se
considerar a possibilidade de PEP

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Informações mais detalhadas sobre o conteúdo deste
material estão disponíveis nas seguintes publicações:

• Diretrizes para a Organização dos Serviços de


Saúde que ofertam a Profilaxia Pré-Exposição
Sexual ao HIV (PrEP) no Sistema Único de Saúde;
• Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas
para a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP)
de Risco à Infecção pelo HIV.

Disponíveis em: www.aids.gov.br/pcdt

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