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Considerações Iniciais
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do latim, o que lhe rendeu destaque como um dos melhores alunos em Coimbra e a
facilidade de aprender outros idiomas, como o português (CAXA, 1988).
Foi em Coimbra que José de Anchieta teve conhecimento dos ideais
missionários da Companhia de Jesus. Assim, aos 17 anos ingressou na Ordem
(PINTINHA, 2004).
A Companhia de Jesus foi uma das Ordens com maior representatividade do
século XVI, fundada por Inácio de Loyola (1491-1556), teve seu reconhecimento no
ano de 1540, por meio da Bula Regimini militantis Ecllesiae, exarada do Papa Paulo III
(O’MALLEY, 2004).
Fundada em um momento de transição do período medieval para o moderno, a
nova Ordem trazia em sua estrutura uma prática moderna. Seu objetivo inicial era o
estabelecimento de uma ajuda espiritual, ou seja, da restauração do homem cristão por
meio da prática dos Exercícios Espirituais, o que consistia em uma nova linguagem e
uma nova forma de se aproximar de Deus (BARTHES, 2005).
Em pouco tempo a Companhia de Jesus atingiu um considerável número de
membros. Esses novos membros recebiam uma boa formação baseada na dedicação e na
disciplina dos estudos. “A educação ou ato educacional da e na Companhia de Jesus
surgiu devido à necessidade de formar homens aptos e com formação intelectual
adequada para atuarem como membro da Companhia de Jesus” (FURLAN, 2013, p.
57).
A Companhia de Jesus não foi fundada com objetivos educacionais, mas foi por
meio da ação educacional que seus membros vislumbraram uma forma de desenvolver
um trabalho de formação social.
Pela ação catequética com meninos perceberam que era possível ampliar as
bases de formação cristã na sociedade, pois, ao catequizar os meninos, formavam
cristãos que atuariam nessa nova sociedade e, além disso, os mesmo contribuiriam para
a formação cristã de seus pais e demais membros da sociedade. Desta forma, ocorreu a
fundação dos primeiros colégios da Companhia de Jesus.
Em um primeiro momento, os colégios dirigidos pela Companhia de Jesus eram
destinados aos futuros membros. Apenas no ano de 1548, na cidade de Messina, ocorreu
a fundação de um colégio destinado a alunos externos. O Colégio Romano, fundado no
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ano de 1551, foi um dos mais importantes da Ordem e o preferido de Inácio de Loyola
(O’NEILL; DOMÍNGUEZ II, 2001).
Devido à sua representatividade e ao seu modo de atuar, a Companhia de Jesus
foi solicitada por D.João III (1521-1557) para atuar em terras portuguesas. E foi a partir
dessa solicitação que se iniciou a atuação dos jesuítas no reino português e o
desenvolvimento de um projeto missionário na América Portuguesa.
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Gil Vicente atuou por cerca de trinta e cinco anos como organizador de
espetáculos na corte portuguesa. Em seu estilo produziu um teatro que criticava a
condição social da época e diversos setores da sociedade, com destaque para a nobreza e
o clero (SARAIVA, 1988). É considerado como o inaugurador do teatro moderno em
Portugal. Seu estilo não era o único apresentado na época, havia representações
religiosas e profanas que não seguiam o mesmo estilo dos autos vicentinos.
Seu estilo foi formado a partir da mescla do estilo teatral religioso com o
profano, com destaque para os seguintes estilos: o auto pastoril, a moralidade religiosa,
as narrações bíblicas, a fantasia alegórica, a farsa episódica e o auto narrativo. Mesmo
com essa variedade de estilos podemos resumir sua obra em alegoria, quadro e
narrativa. Alegoria e narrativa fazem parte da estrutura teatral, o estilo narrativa é o que
mais se aproxima do teatro atualmente.
Com um teatro crítico, Gil Vicente utilizava, em suas obras, tipos da sociedade
portuguesa para compor suas personagens, pois, por meio de seu teatro fazia uma crítica
e um combate ideológico à sociedade feudal, com uma expressividade moralista, que
condenava as ações como a soberba, a cobiça, a atuação das classes dominantes e,
demonstrava afeição pelos camponeses, ou seja, retratava as desigualdades sociais da
época com uma linguagem que ia do arcaico ao moderno, e se fazia entender pela
camada popular e pelos membros da corte.
Gil Vicente foi responsável pela produção de um teatro inovador durante o
século XVI na sociedade portuguesa; fazia críticas àquela sociedade em transição. Com
uma produção expressiva, que envolvia diversas personagens. A peça Florestas de
Enganos foi sua última produção, no ano de 1536, e mesmo com sua morte, seus autos
continuaram a ser representados na corte portuguesa devido à condição de destaque que
obteve (PEIXOTO, 2006).
Durante o século XVI, ocorreram grandes transformações. Foi um século
marcado por expansões e o descobrimento de novas terras. Além disso, a cultura
portuguesa sofreu influências do Humanismo e do Renascimento. Portugal tornou-se
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um importante centro comercial, com destaque para Lisboa, que também era o ponto de
chegada de pessoas dos mais diversos lugares de mundo e de outras cidades
portuguesas, e foi neste contexto de transformação que houve um desenvolvimento
cultural e educacional influenciados pelo Renascimento e o Humanismo.
O desenvolvimento cultural e educacional de Portugal foi influenciado com a
chegada de intelectuais em Coimbra como “[...] André de Gouveia, Diogo de Teive,
Buchanan, Vinet e outros, que contribuíram fortemente para um novo desenvolvimento
literário e mesmo teatral” (PEIXOTO, 2006, p. 94).
Nesse cenário de transformação, houve a retomada dos textos de escritores da
Antiguidade Clássica para estudos da arte e da retórica, no meio acadêmico as tragédias
latinas passaram a ser fontes de estudos, para leitura, comentários, traduções de autores
gregos e representações de autores latinos.
Todo esse processo de transformação, com influências humanistas, atingiu os
estilos teatrais da tragédia e da comédia. A tragédia passou a retratar assuntos mais
sérios da sociedade, enquanto a comédia retratava assuntos do cotidiano. Desta forma,
podemos afirmar que “O teatro em Portugal no século XVI, foi marcado pela influência
do renascimento e utilizou, em suas tragédias e comédias, aquilo que representava o
espírito humanista” (FURLAN, 2013, p. 75).
E foi durante esse período de transformação que o teatro começou a ser utilizado
pelos jesuítas. No ano de 1566, passaram a dirigir o Colégio das Artes de Coimbra e,
após assumirem a direção, desenvolveram um teatro com temas de cunho religioso, em
latim e sem a presença feminina, ou seja, realizaram uma descaracterização do teatro
humanista, para um teatro religioso (PEIXOTO, 2006).
Como para toda estruturação da Companhia de Jesus, existiam também regras
para a ação educacional. As ações educacionais da Companhia de Jesus eram
encaminhadas pela IV parte das Constituições. Essas regras foram complementadas pelo
Ratio Studiorum, o código pedagógico dos jesuítas. No Ratio Studiorum havia regras e
determinações para as ações, atividades, funções, bem como a metodologia dos colégios
administrados pela Companhia de Jesus (ARNAUT DE TOLEDO, 2000). Entre essas
metodologias, o teatro foi utilizado pelos jesuítas como um importante recurso
pedagógico de catequização, pois por meio deste recurso, que se assemelhava a um
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objetivos missionários. Em suas peças teatrais e autos utilizava mais de uma língua,
desta forma, se fazia entender por um público diversificado. A estrutura de suas peças
era simples, e não havia muita variação.
A influência do estilo vicentino era clara na composição dos personagens, nas
rimas simples e naturais. Outra característica assimilada foi o estilo mais cultivado para
a apresentação em auditórios. Para essas apresentações utilizava personagens simbólicas
como o Temor e o Amor de Deus, um recurso muito utilizado por Gil Vicente. A
diferença que havia entre o auto anchietano e o vicentino era a estrutura das partes. O
auto colonial, criado por José de Anchieta, era de acordo com seu ambiente e costumes
locais, havia as encenações acompanhadas de danças, desfiles, cantos, músicas, o que
fazia o espetáculo durar várias horas. Já o espetáculo vicentino era marcado por um
diálogo, com uma introdução e um espetáculo final de dança, canto e música
(CARDOSO, 1977).
As produções teatrais eram encenadas em dias festivos, na visitação de pessoas
ilustres e para o recebimento de imagens ou relíquias de santos(as). Para essas
apresentações José de Anchieta utilizou de características dos rituais e cerimônias
indígenas para estruturar suas peças.
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Mesmo com uma estrutura que não se modificava muito, é possível perceber na
linguagem que José de Anchieta utilizava a valorização dos preceitos cristãos por meio
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[...]
Aim: Olha lá esse sujeito
que me está ameaçando!
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Como podemos notar, o Anjo é representado como uma bela ave. José de
Anchieta aproveitou ainda a cena para demonstrar o medo que os Diabos têm do Anjo, o
que demonstrava sua superioridade em relação aos Diabos, e que deixava claro q
superioridade da crença cristã sobre a cultura indígena.
Em relação ao tema do pecado, a abordagem nas peças mantinha uma estrutura
sem grandes modificações. No contexto da peça teatral um ou mais diabos incitavam os
indígenas a cometer o pecado, ou valorizam as ações que eram condenadas pelos
jesuítas. Essa ação não ocorria somente com os indígenas, por vezes, as personagens
que apareciam em pecado eram os colonos, já adaptados aos costumes indígenas. Nesse
contexto em que o Diabo incentivava a condição de pecado, aparecia um Anjo ou
Santo(a) para salvar o indígena ou colono da condição pecaminosa e exterminava o
Diabo, o que fazia prevalecer os preceitos cristãos.
Ligado ao tema pecado, aparecia o tema do arrependimento e da conversão. O
objetivo nesse caso era claro, o enredo da peça mostrava uma vida em condição de
pecado, o processo de arrependimento e a condição de vida após a conversão, tudo
baseado na visão dos jesuítas e da religião cristã.
O arrependimento e a conversão aconteciam por meio da confissão. No contexto
de representação temos mais temas que foram abordados por José de Anchieta em suas
peças teatrais. Na peça Na festa de São Lourenço, o arrependimento e a conversão são
aliados ao ato de confissão, como podemos notar em uma fala da personagem São
Lourenço (Lou):
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Crismados receberemos
a graça, com fortaleza,
para cobrar a limpeza
que, pela culpa, perdemos. (JOSÉ DE ANCHIETA, 1977, p. 261).
Temas como adoração e devoção eram abordados na maioria das peças de José
de Anchieta, pois a partir do momento em que ocorria a conversão e os indígenas
passassem a ter devoção a adorar os preceitos cristãos ficaria mais fácil o
desenvolvimento do projeto missionário e colonizador. Por outro lado, a relação entre
jesuítas e indígenas era mais fácil a partir do momento em que o indígena passava a ser
um devoto seguidor dos preceitos cristãos.
José de Anchieta utilizava ainda em sua produção personagens simbólicas, como
no caso da peça teatral Na Vila Vitória ou de São Maurício. No enredo, o medo foi
relacionado à condição de temor a Deus, representado por uma personagem simbólica,
por meio de um discurso que retratava uma vida pecaminosa e com sofrimentos.
A sentença derradeira
se chama morte sem morte.
Será morte de maneira
que te deixe vida inteira,
se te couber esta sorte.
Porque sempre hás de viver,
fogo eterno padecendo,
e ao eterno Deus não vendo,
hás, por força, de morrer,
e viver sempre morrendo!
Mais uma vez, com o discurso da personagem, José de Anchieta quis demonstrar
que somente a conversão para os preceitos cristãos poderia salvar, e que para a salvação
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deveria haver a aceitação de Deus, o Deus imposto pelos jesuítas, que concederia uma
vida sem sofrimento, e a salvação após a morte, a vida eterna.
Na última peça escrita por José de Anchieta, Na Visitação de Santa Isabel, o
tema central aborda a proteção e a salvação. O enredo da peça teatral se desenvolveu em
torno da visita que Maria fez a sua prima Isabel após a anunciação.
A peça é composta por três atos. No II ato Maria se apresenta como a Visitadora
dos males do mundo, àquela que traz proteção e salvação.
Em sua fala, Maria deixa claro que tem condições para interceder junto a Deus e
Jesus Cristo, por aqueles que se arrependem de seus pecados e pedem o perdão. Além
disso, tem condições de pedir a proteção para as aldeias e seus habitantes.
A produção teatral de José de Anchieta mantinha uma estrutura objetiva de
acordo com os objetivos propostos em seu trabalho missionário.
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José de Anchieta desenvolveu uma produção teatral com temas relacionados aos
objetivos propostos em seu trabalho missionário de catequização e conversão dos
indígenas. Além da ação juntos aos indígenas que sua produção abordasse temas para a
manutenção da fé dos colonos, pois para um bom desenvolvimento de seu trabalho
missionário ligado ao projeto colonizador o colono não poderia agir de forma contrária
aos objetivos traçadas pelos missionários e pela Coroa Portuguesa.
Desta forma, ao eleger os temas José de Anchieta tinha um objetivo específico, o
de conversão dos indígenas e de manutenção da fé dos colonos.
Considerações Finais
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REFERÊNCIAS
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SARAIVA, A.J. Prefácio. IN: SARAIVA, A.J. (Apresentação e leitura). Teatro de Gil
Vicente. Imperial, 1988. p. 9-31.
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