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“De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer

a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega
a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto.”

― Rui Barbosa

Nota

Do Estágio Probatório e a Progressão Vertical

Por Almino Lima- Advogado

Tel: 92 99256-8595

Caros profissionais da educação,

Tenho sido questionado sobre a possibilidade jurídica do profissional da educação em


estágio probatório que possua título de especialista e mestre ter a remuneração prevista
em lei referente a sua titulação, chamada de progressão vertical, prevista no artigo 3º,
XXIII da Lei 3.951 de 2013.

Li e ouvi vários comentários no sentido de ser impossível, porque a SEDUC declara ser
impossível sobre a simples alegação de que é proibido por lei. Quando a SEDUC
fundamenta sua negativa usa o artigo 27, § único da PCCR.

Vejamos o que prevê a lei 3.951/2013 sobre o tema.

Para isso é preciso ter a visão geral da estrutura orgânica da lei!

1. No anexo I temos o

Quadro permanente de pessoal:

Grupo Cargo: Classe:1.Doutorado; Cod Referência:


ocupacional: professor- 2.mestrado;3.especialista; A, B, C, D
magistério 20hs/40hs 4.lic plena.
A classe é a definição da progressão vertical (titularidade) e a referência é a progressão
horizontal (tempo de serviço – quatro anos).

2. No Anexo VI encontramos a DESCRIÇÃO DE CARGOS. Com a seguinte


tabela.

Professor

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Classe: 1ª, 2ª, 3ª ,4ª Qualificação Natureza do Atividades típicas:
necessária: Trabalho: 1. Atuar no nível
Doutorado (1ª); trabalho profissional pré-escolar,
Mestrado (2ª); qualificado que consiste educação
Especialização (3ª), na efetiva atuação em especial,
Lic. Plena (4ª) regência de classe e na programa de
realização de um educação
conjunto de atividades básica, e na
didático- pedagógica realização de
atividades
didático-
pedagógica
nos níveis
fundamentais
e médio;
2. Realizar...
3. Etc.

ATENÇÃO!! Observa-se que classe é definida pela titularidade – licenciatura,


especialista, mestre, doutorado – contudo a natureza do trabalho e as atividades típicas
são as mesmas.

Lei 3.951/2013, em sua art. 3º , III , define classe,

Art.3º III – Classe é o conjunto de cargos de igual denominação e com iguais atribuições,
deveres e responsabilidades e padrões de vencimentos.

3. A progressão vertical na lei

A progressão vertical na Lei 3.951 é tratado no capitulo II artigo 3º, XXIII e XXIV onde
trata das definições gerais:

Art. 3º, XXIII, diz:

Progressão vertical (grupo ocupacional do Magistério): é a elevação


para a classe imediatamente superior, de acordo com a titulação
apresentada, dentro da mesma referência , VINCULADA A TABELA

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REMUNERATÓRIA CORREPONDENTE , mediante ato
administrativo especifico.

Vejamos alguns exemplos:

Exemplo 1: um professor com licenciatura plena em estágio probatório o


enquadramento seria:

 PF20 LPL-IV A: conforme quadro permanente no anexo 1 da lei CCCR

PF20: JORNADA DE TRABALHO

LPL- IV: LICENCIATURA PLENA – titulação

A- REFERÊNCIA – tempo de serviço, que seria os primeiros 4 anos de trabalho.

Exemplo 2: Um professor com especialização em estágio probatório o enquadramento


seria:

 PF20-ESP-III A

PF20: jornada de trabalho

ESP-III: especialização- titularidade

A: referência - tempo de serviço

Atenção- Isso serve para o mestrado e doutorado.

Conforme tabela e exemplos acima observamos que o SEDUC tem negado o direito ao
reconhecimento da titularidade no início da carreira do magistério, ou seja, no estágio
probatório e isso é uma ilegalidade que deve ser sanada.

Voltemos a Lei.

4. Serviço de Apoio especifico da educação - No artigo 3º, XXIV, encontramos


outra referência a promoção vertical. Diz o texto da lei:

“PROMOÇÃO VERTICAL (serviço de apoio especifico a educação):


consiste na passagem da referência final de uma classe para a
referência inicial da classe imediatamente superior, dentro da mesma
série de classe, e dependerá da existência de vaga.

A quem se aplica este artigo? De quem a lei está falando?

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Aqui temos a referência ao serviço de apoio especifico à educação que se encontra no
anexo I lei 3.951/2013, onde são identificados os profissionais de apoio à educação, quais
sejam: bibliotecário, psicólogo, assistente social, nutricionista, contador, fonoaudiólogo,
estatístico, engenheiro.

As regras aplicadas a este grupo de profissionais referente a progressão vertical são


diferenciadas. Essas regras encontram-se previstas no artigo 27, I, II, III da Lei. Não
podem ser estendidas aos professores e pedagogos.

Atenção!
A negativa da SEDUC aos professionais do magistério (professores e pedagogos) do
direito ao enquadramento certo no início da carreira –estágio probatório - referente a
sua titulação tem um fundamento equivocado. O artigo 27 da lei não se aplica aos
professores e pedagogos e sim aos serviços de apoio especifico a educação.

5. Da Progressão Funcional do Grupo Ocupacional do Magistério professores


e pedagogos.

A progressão funcional, carreira do profissional do magistério, é instituída na Lei


3.951/2013 nos artigos 24 a 26.

Essa progressão funcional se dar por três formas: horizontal (artigo 24,I), vertical (artigo
24, II) e Diagonal (artigo 24, III). Nosso interesse é a vertical.

Diz a lei artigo 24, II:

PROMOÇÃO VERTICAL - é a elevação para superior, DE ACORDO


COM A TITULAÇÃO APRESENTADA, dentro da mesma referência
(a,b,c,d = tempo de serviço), mediante ato administrativo especifico –
decreto, conforme regulamentação da SEDUC, independente de
números de vagas.

Diante do artigo de lei observa-se que progressão vertical está vinculada a apresentação
de titulação. Não existe proibição que o servidor em estágio probatório usufrua desse
direito. Importante ressaltar que a Constituição Federal em seu artigo 39, § 2º prevê
o dever dos Estados em promover o aperfeiçoamento de seus servidores sendo isso
um dos requisitos para a promoção na carreira.

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Nesta mesma esteira a LDB (lei 9.394 de 96) em seu artigo 2º, VII estabelece que um dos
princípios e fins que rege a educação nacional á a VALORIZAÇÃO DO PROFESSOR.

Esses comandos legais de valorização dos servidores públicos da educação encontram-se


previstos em todo o ordenamento jurídico referente ao tema: CF/88, Constituição do
Estado do Amazonas, Estatuto do Servidor Público Civil do Amazonas (Lei 1762/86),
Estatuto dos Profissionais do Magistério do Amazonas (lei 1178/87), LDB e por fim
PCCR.

Assim, a progressão vertical é um direito constitucionalmente garantido ao servidor,


regulado por lei estadual, não excluindo, sob pena de ferir o princípio da isonomia,
aqueles servidores que estejam em estágio probatório.

6. Da Gratificação por Curso

A gratificação de Curso encontra-se prevista no artigo 15, I da lei PCCR. Essa


gratificação é atribuída a todos os profissionais da SEDUC que sejam de nível superior,
com as seguintes porcentagens: 25% especialista, 30% mestrado, 35% doutorado.

As regras aplicadas a gratificação de curso são outras. O que vale como paradigma são os
percentuais.

Concluímos que o reconhecimento a titularidade é um direito de todos os servidores de


nível superior da secretaria de educação.

Conclusão

A pergunta que insiste em não calar é:

É possível o servidor da educação Estado do Amazonas em estágio probatório ter a


remuneração compatível com a sua titulação? Sim, é possível.

Essa possibilidade se dar pelos seguintes fundamentos:

1. O PCCR, lei estadual 3.951/2013, com sua nova redação, tem como objetivo
prover os recursos humanos no âmbito da educação estadual bem como estabelece
regras para a valorização do profissional e sua qualidade de desempenho. Essa lei
visa regular e sanar qualquer prejuízo que o profissional tenha no exercício de sua
função.

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2. Com previsão da progressão por titulação se corrige injustiça históricas com
aquele profissional que, com seu esforço e com recursos próprios busca um
aperfeiçoamento de sua atividade profissional.
3. Não existe nenhuma proibição legal, tanto no estatuto dos servidores do Estado
do Amazonas - Lei 1.762/1986, Estatuto do Magistério do Amazonas - Lei
1778/1987, bem como na Lei PCCR- lei 3.951/2013, que expresse a proibição de
que os iniciantes em carreira pública, em estágio probatório, sejam impedidos de
ter seu vencimento compatíveis com sua titulação conforme, previsto em lei.

Assim, não se observa nenhuma proibição a que o servidor público em estágio probatório
receba a remuneração compatível com sua titulação.

Por isso, sendo professor de geografia e passando em concurso de 20h e já tendo a


especialização o enquadramento inicial deve ser PF20 ESP-III-A e não PF20 LPL-IV.A,
como eles querem.

Um professor com carga de 40%, sem o reajuste alcançado, com um salário de 3.269,00
que tenha uma especialização deve receber sua remuneração acrescida 25%. O que daria
R$817,25, ao final de 36 meses deixaria de ganhar 29.421,00.

Neste entendimento, importante é iniciar a busca por efetivação desse direito!

Como proceder?

O servidor em estágio probatório deve fazer um requerimento e protocolar na SEDUC.


Se não quiserem aceitar o requerimento, levem suas testemunham (já levam as
testemunhas) que assinem na presença do servidor que rejeita com o seguinte texto:

No dia xx/xx/xx tentei exercer meu direito de petição junto a SEDUC e o servidor do
protocolo Sr xxxxx se negou a receber a petição.
Assinatura das testemunhas abaixo com número do CPF.

Qualquer Dúvida a disposição!

OBSERVAÇÃO:
É uma luta de efetivação de direitos e mudança de paradigma – necessário consciência,
determinação e perseverança.

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