Você está na página 1de 12

Comunicado 136

ISSN 9192-0099

Técnico Brasília, DF
Outubro, 2005

ELETROFORESE
BIDIMENSIONAL E ANÁLISE DE
PROTEOMAS

Thales Lima Rocha 1


Paulo Henrique Alves da Costa 2
José Cesamildo Cruz Magalhães 3
Raphael Garcia Souza Evaristo 4
Érico Augusto Rosas de Vasconcelos 5
Marise Ventura Coutinho 6
Norma Santos Paes 7
Maria Cristina Mattar da Silva 8
Maria de Fátima Grossi-de-Sá 9

1- PROTEOMA uma célula é bastante dinâmica,


dependendo do estado de
O proteoma reflete o estado atual desenvolvimento, da presença de
de funcionamento do sistema em ativadores ou inibidores e também das
condições fisiológicas específicas, ou condições do meio ambiente. Apesar
seja, a expressão funcional do genoma. disso, a proteômica é a ferramenta mais
Esta característica faz com que o apropriada para se entender o
estudo do proteoma se torne um grande funcionamento dos genes, porque
desafio, pois a expressão gênica de

1
Pesquisador, Ph.D., Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
2
Bolsista-FACUAL, MSc., Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
3
Técnico de Laboratório, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
4
Estudante/Graduação, Biologia, Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
5
Bolsista DTI/CNPq, MSc., Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
6
Pesquisadora, MSc., Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
7
Técnico de Nível Superior, MSc., Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
8
Pesquisadora, Ph.D., Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia
9
Pesquisadora, Ph.D., Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia

1
analisa o produto final do genoma possa realizar essa técnica sem
(PANDEY e MANN, 2000). maiores dificuldades.
Embora a identificação de todas
as proteínas codificadas no genoma de 2- ELETROFORESE
um organismo pareça uma tarefa
bastante difícil de realizar, mesmo em A eletroforese é uma técnica de
organismos mais simples, são cada vez separação baseada na migração das
mais completas as informações obtidas moléculas carregadas, numa solução,
através de estudos proteômicos em função da aplicação de um campo
(SURESH et al., 2005). Esses novos elétrico. A eletroforese de proteínas foi
conhecimentos estão relacionados às realizada pela primeira vez em 1937 por
vias de sinalização celular, conjuntos de Arne Tiselius, que idealizou um método
proteínas reguladoras, modificações denominado eletroforese livre, o qual
pós-traducionais, bem como outras consistia na decomposição do soro
informações cruciais sobre os estados sangüíneo em cinco frações protéicas
fisiológicos e fisiopatológicos de células principais, trabalho que lhe rendeu um
e organismos. prêmio Nobel. Nas últimas décadas,
O estudo da proteômica em essa técnica tem sofrido
questão pode levar a três vertentes aperfeiçoamentos constantes,
básicas, com implicações diretas em possibilitando análises mais precisas. O
vários campos da biologia e da método mais utilizado hoje se denomina
biotecnologia: (1) permite a descoberta eletroforese zonal, que utiliza uma
de vias metabólicas nas diversas etapas matriz sólida, um gel de poliacrilamida.
celulares, gerando um conhecimento A velocidade da migração das proteínas
sem precedentes na biologia celular e neste suporte depende da força do
na bioquímica; (2) permite viabilizar a campo aplicado, da carga, do tamanho
identificação de novas moléculas e da forma das moléculas, da força
bioativas em extratos biológicos iônica, da viscosidade e temperatura do
naturais, levando ao desenvolvimento meio.
de novos medicamentos; e (3) permite
também a identificação e caracterização 2.1- Eletroforese Desnaturante em
de marcadores biológicos, ou seja, Gel de Poliacrilamida (SDS-PAGE)
moléculas endógenas ou exógenas
específicas de um determinado estado A eletroforese em gel de
patológico. A capacidade de identificar poliacrilamida na presença de
essas moléculas é extremamente útil no dodecilssulfato de sódio (SDS) é um
diagnóstico precoce de doenças e no método muito utilizado para a análise de
acompanhamento da evolução do massas moleculares de proteínas
tratamento. oligoméricas. O gel é uma matriz
Atualmente, as principais constituída de um polímero de
técnicas usadas na proteômica são a acrilamida com ligações cruzadas de N,
eletroforese bidimensional (2D) e a N-metil-bis-acrilamida, cuja porosidade
espectrometria de massa. Este da malha pode ser escolhida. Quanto
comunicado técnico tem como objetivo maior a concentração de acrilamida,
principal tornar mais acessíveis os menores serão os poros da malha
procedimentos envolvidos na técnica de formada. A solução de acrilamida é
2D. Para tanto, uma descrição estável por até um mês. Quando
detalhada dos protocolos é estocada por períodos prolongados,
apresentada, a fim de que o usuário, transforma-se em ácido acrílico, que
independentemente de sua experiência, pode causar distorções no gel. É
importante frisar que a acrilamida é

2
fotosensível e neurotóxica, devendo, utilizada como padrão para o cálculo do
portanto, ser estocada em frasco escuro peso molecular das subunidades da
e manuseada com o maior cuidado proteína de interesse.
possível.
Antes de iniciar a eletroforese, as 2.2- Eletroforese Bidimensional
variáveis forma e carga nativa das
proteínas devem ser eliminadas para A eletroforese bidimensional (2D)
que a separação dependa apenas de foi inicialmente desenvolvida por
sua massa molecular. Para isso, as O'Farrel e Klose em 1975. A
proteínas são misturadas com SDS, um metodologia original consistia na
detergente anfipático cuja função é preparação de géis cilíndricos de
desnaturá-las, ou seja, convertê-las poliacrilamida, em que um gradiente de
numa estrutura linear – a forma nativa é pH era estabelecido por meio de uma
geralmente globular – e conferir-lhes pré-corrida com anfóteros específicos
densidade de carga uniforme. O SDS (também chamados de anfólitos), que
tem alta carga negativa e uma cauda apresentam alta capacidade
hidrofóbica que interage com as cadeias tamponante em pHs próximos aos seus
polipeptídicas numa proporção pontos isoelétricos (pIs). As proteínas
aproximada de 1,4 g de SDS para cada eram, então, submetidas a uma
grama de proteína, tornando-as focalização isoelétrica (IEF - Isoelectric
negativamente carregadas. Na ausência Focusing) e, posteriormente, a uma
do SDS, as proteínas com massas eletroforese na presença de SDS, por
iguais podem migrar diferentemente na meio de um sistema convencional
malha do gel devido ao diferencial de descrito por Laemmli (1970). Dessa
cargas de suas estruturas forma, as proteínas eram separadas na
tridimensionais. Além da adição do primeira dimensão de acordo com seus
SDS, as proteínas podem ser pIs (IEF) e na segunda dimensão em
opcionalmente fervidas na presença de função de sua massa molecular (SDS-
um agente redutor, como ditiotreitol PAGE).
(DTT) ou 2-mercaptoetanol, que Apesar de engenhosa, a
desfazem as pontes dissulfetos, metodologia era muito trabalhosa,
ajudando a eliminar a estrutura demorada, difícil de ser reproduzida em
tridimensional dos polipeptídeos. diferentes laboratórios e dependia da
Após esse tratamento, as habilidade do pesquisador para
proteínas são aplicadas no topo de um obtenção de resultados consistentes
gel de poliacrilamida e submetidas a (PANDEY e MANN, 2000). Atualmente,
uma corrente elétrica, fazendo com que muitos desses problemas foram
elas migrem através da malha de resolvidos com o desenvolvimento de
acrilamida em direção ao pólo positivo. novas tecnologias. Um avanço
Dependendo do seu tamanho, cada importante que contribuiu para o
proteína se moverá diferentemente: as aumento da reprodutibilidade da
proteínas menores migrarão mais eletroforese 2D foi o desenvolvimento
rapidamente, enquanto que as maiores dos géis em forma de tiras com
terão mais dificuldade em atravessar a gradiente de pH imobilizado (IPG -
malha do gel e, assim, se moverão mais immobilized pH gel) (GÖRG et al.,
lentamente. Quando se representa a 1985). As tiras são feitas pela co-
mobilidade eletroforética frente ao polimerização da acrilamida com o
logaritmo dos pesos moleculares reagente Immobiline™ (Amershan
conhecidos de diversas cadeias Biosciences/GE Heathcare), que
polipeptídicas (proteínas marcadoras), contém grupos tamponantes ácidos e
obtém-se uma reta que pode ser básicos. Outro avanço importante foi o

3
aperfeiçoamento dos métodos de único gel, de todas as protéinas
preparação de amostras protéicas, os expressas num tecido complexo como o
quais consistem das seguintes etapas: de organismos pluricelulares
(1) a extração, usando-se diferentes (HERBERT et al., 2001). Proteínas com
tampões para amostras específicas; (2) pesos moleculares muito altos ou muito
a precipitação, para concentrar as baixos não são bem separadas nas
proteínas e eliminar as substâncias eletroforeses 2D. Proteínas altamente
interferentes, e (3) a solubilização hidrofóbicas e alcalinas também
destas proteínas. No que se refere às necessitam de métodos específicos de
duas últimas etapas, a precipitação das preparação das amostras. Além disso,
proteínas a -20°C com ácido proteínas com um pequeno número de
tricloroacético (TCA) a 10% em acetona cópias dentro da célula, como as
(DAMERVAL et al., 1986), seguida pela proteínas sinalizadoras, não são
solubilização das proteínas em um meio reveladas pelos métodos convencionais
com altas concentrações de uréia (8,0 - de coloração, tais como nitrato de prata
9,5M) ou uma combinação de uréia 5- e azul brilhante de coomassie. Com
7M com tiouréia 2M (RABILLOUD et al., base nestas dificuldades, algumas
1997), tem sido amplamente utilizada estratégias para se indentificar um
para obtenção de extratos protéicos maior número de proteínas foram
totais, principalmente em tecidos propostas: o pré-fracionamento das
vegetais e microorganismos. Na amostras por meio de extrações
presença de altas concentrações de seqüenciais, o estudo do proteoma
uréia, a tiouréia adquire uma eficiente organelar em frações subcelulares, a
ação caotrópica, aumentando, portanto, utilização de tiras com faixas estreitas
a solubilidade das proteínas de de pH e a sobreposição destes, além de
membranas. Além disso, a descoberta técnicas de colorações específicas
de novos detergentes não iônicos, tais utilizando reagentes fluorescentes,
como os surfatantes CHAPS e SB 3-10, radioativos ou imunoquímicos (GÖRG
usados juntamente com agentes et al., 2000; HERBERT et al., 2001).
redutores adequados para a IEF, como Embora seja conhecida desde os
ditiotreitol (DTT) e tributilfosfina (TBP) anos 70, a eletroforese 2D só passou a
têm fortemente contribuido para a ter grande notoriedade na década de
solubilização de um maior número de 1990, após uma revolução silenciosa da
proteínas a serem separadas na química de proteínas, com o surgimento
eletroforese 2D (HERBERT, 1999). A da proteômica (WILKINS et al., 1997). O
partir daí, a eletroforese 2D passou a termo proteoma foi proposto apenas em
ser a principal técnica de separação de 1995 por Wilkins como sendo todo o
proteínas utilizada antes da aplicação conteúdo de proteínas expressas por
da amostra no espectrômetro de massa. um genoma. Após a euforia provocada
Sua vantagem em relação a outras pelo seqüenciamento dos genomas de
tecnologias é a capacidade de separar vários organismos, a comunidade
com alta resolução um grande número científica percebeu que, para se
de proteínas de uma amostra complexa compreender a função gênica em toda a
e a possibilidade de se fazer análises sua plenitude, era necessário o estudo
de expressão gênica por meio da em larga escala das proteínas
comparação dos padrões protéicos. expressas. Constatou-se que, embora
Pelo exposto acima, conclui-se que a importante, a análise das seqüências de
eletroforese 2D é uma técnica nucleotídeos nem sempre reflete uma
quantitativa e qualitativa. relação direta com os níveis de
Entretanto, há um consenso de proteínas expressas e,
que não é possível a visualização, num conseqüentemente, de atividade

4
biológica (GYGI et al., 1999). A razão solvente e exerce profundos efeitos
disso é que o controle da expressão sobre todos os tipos de interações não
gênica ocorre desde a transcrição do covalentes. A tiouréia é um agente
mRNA até as modificações pós- caotrópico mais eficiente do que a uréia,
traducionais como glicosilação, mas pouco solúvel em água. A mistura
fosforilação, acilação, hidroxilação, uréia-tiouréia tem sido muito utilizada,
carboxilação, ubiquitinação, entre pois é mais eficiente do que a uréia
outras, as quais alteram a atividade sozinha (RABILLOUD et al., 1997).
protéica. Pelos motivos expostos, a O β-mercaptoetanol foi o agente
análise proteômica é hoje um dos meios redutor mais usado no princípio da
mais eficientes para o estudo funcional técnica de 2D. Sua ação tamponante,
dos genes e genomas de organismos contudo, destrói o gradiente de pH na
complexos. região básica das tiras de gel (strips).
Posteriormente, o DTT passou a ser
3- PROTOCOLO EXPERIMENTAL utilizado por ser mais eficiente e
apresentar melhores resultados –
A eletroforese bidimensional consiste embora haja proteínas com muita
em cinco etapas principais: cisteína que não são totalmente
reduzidas com DTT. A tributilfosfina
1) Preparação da amostra (TBP) é o mais potente agente redutor
2) Primeira dimensão: focalização disponível no mercado atualmente. É
isoelétrica volátil, tóxica e requer solvente orgânico
3) Segunda dimensão: eletroforese para dissolver em água. Para romper as
desnaturante em gel de poliacrilamida interações hidrofóbicas, são usados
4) Detecção das proteínas detergentes não-iônicos ou
5) Digitalização e análise de imagem zwitteriônicos (com carga líquida
neutra), como o Triton X-100 e, mais
3.1- Preparação da Amostra recentemente, o CHAPS.
Nosso laboratório vem obtendo
O melhor método de extração, excelentes resultados na preparação de
precipitação e solubilização das amostras de raízes de algodoeiro, uma
proteínas varia de uma amostra para planta bastante recalcitrante, usando o
outra e deve ser estabelecido para cada seguinte protocolo: (1) extração com
caso em particular (HERBERT, 1999). tampão Tris-HCl 40mM, pH 7,0,
Apesar disso, alguns passos essenciais sacarose 250mM, Triton X-100 1%,
devem ser seguidos: as proteínas EDTA 10mM, DTT 1mM e PMSF 1mM;
devem ser parcialmente purificadas, (2) precipitação das proteínas a -20°C
completamente solubilizadas, com ácido tricloroacético 10% em
desagregadas, desnaturadas e acetona; (3) ressolubilização em
reduzidas. solução de uréia 7M, tiouréia 2M,
O processo de solubilização tem CHAPS 4%, IPG Buffer 2% e DTT
como objetivos quebrar as interações 65mM (Figura 1).
macromoleculares (incluindo todas as
interações não covalentes e as pontes
dissulfeto), prevenir modificações nas
proteínas e mantê-las em solução
durante a eletroforese da segunda
dimensão. Para o rompimento de
interações não covalentes, são
utilizados agentes caotrópicos, como a
uréia, que altera os parâmetros do

5
forma desidratada com diversas faixas
de pH e tamanhos e devem ser
rehidratadas antes da focalização
isoelétrica. As amostras podem ser
misturadas à solução de rehidratação
ou aplicadas sobre a tira usando o
acessório denominado copo de
carregamento (sample cups). O primeiro
procedimento permite a aplicação de
uma maior quantidade de proteínas
(~1mg), minimiza a precipitação durante
a entrada no gel, principalmente para
proteínas de membrana, e evita a
manipulação exigida durante a
aplicação usando o segundo
procedimento.
Quando o sistema Multiphor II é
Figura 1. Eletroforese bidimensional utilizado para a IEF, as tiras de IPG
das proteínas de raízes de algodoeiro devem ser rehidratadas na bandeja de
resistente a Meloidogyne incognita. rehidratação (DryStrip Reswelling Tray).
Nessa etapa, aplica-se a solução de
3.2- Primeira Dimensão: Focalização rehidratação diretamente nas fendas da
Isoelétrica (IEF): bandeja, e então se coloca as tiras com
a superfície do gel virada para baixo.
O ponto isoelétrico (pI) de uma Em seguida, aplica-se 2mL de óleo
proteína corresponde ao valor de pH no mineral (DryStrip Cover Fluid) em cada
qual o somatório de todas as suas fenda, para evitar a cristalização da
cargas parciais é igual a zero. Esta uréia. Usando-se o novo equipamento
propriedade depende da força iônica, da da GE Healthcare, denominado
natureza do tampão usado e qualquer IPGphor II, é possível fazer a
outro soluto presente no meio, mas não rehidratação e, imediatamente, a
depende da concentração da proteína. focalização isoelétrica, evitando perda
O ponto isoelétrico de uma proteína é de tempo e manipulações
determinado por uma técnica conhecida desnecessárias das tiras. O período
como focalização isoelétrica necessário para a rehidratação das tiras
(eletrofocalização). Esta técnica é de, no mínimo, 10 horas e deve ser
consiste em uma separação realizada a temperatura ambiente.
eletroforética, na qual as proteínas são
separadas de acordo com as diferenças Solução de rehidratação (BERKELMAN
de seus pontos isoelétricos. Uma vez e STENSTED, 1998):
submetidas a um campo elétrico, as
proteínas migrarão até encontrar uma
faixa de pH referente ao seu pI e neste
ponto ficarão com carga total neutra,
interrompendo a migração no gel
(BERKELMAN e STENSTED, 1998).

3.2.1- Rehidratação das tiras de gel


(strips):

As tiras de IPG (immobilized pH


gel) são obtidas comercialmente na
6
Reagentes Concentração final
Uréia* 8M
CHAPS 2%
Pharmalyte 3-10 ou IPG Buffer 3- 2%
10
Azul de bromofenol 0,002%
Dissolver em H2O milli-Q

Estocar a -20°C em alíquotas de 0,5mL. A focalização isoelétrica é feita


Obs.: o DTT (7mg para cada 2.5mL) em temperatura constante de 20°C no
deve ser adicionados no momento do sistema de eletroforese Multiphor II,
uso. usando o Immobiline DryStrip Kit da
Amersham Bioscience/GE Healthcare.
3.2.2- Focalização Isoelétrica (IEF): A corrida é realizada com a fonte de
eletroforese EPS 3501 XL, em três
etapas:

Programa para o Multiphor II (tira de 18 cm; pH 3-10 linear)

Fase Voltagem Amperagem Potência Tempo


1 300V 2mA 5W 0:01h
2 3500V 2mA 5W 1:30h
3 3500V 2mA 5W 5:00h

Programa para o IPGphor II (tira de 18 cm; pH 3-10 linear)

Fase Voltagem Volt/horas Tempo


Rehidratação - - 12h
1 500V 500 1:00h
2 1000V 1000 1:00h
3 8000V 16000 4:00h

A utilização do sistema IPGphor II para 3.3- Segunda Dimensão: Eletroforese


a IEF apresenta algumas vantagens: (1) Desnaturante em Gel de
bandeja de rehidratação, fonte de Poliacrilamida
eletroforese e regulador de temperatura
integrados em um só sistema; (2) Como as bandas protéicas
redução do tempo de focalização; (3) tendem a se sobrepor, os métodos
menor manipulação das tiras. unidimensionais de separação, como a
eletroforese em gel de poliacrilamida
Obs.: O programa para IEF varia de (SDS-PAGE), podem separar um
acordo com o tamanho da tira e a faixa número relativamente pequeno de
de variação de pH. Após a focalização, proteínas (geralmente menos de 50). A
as tiras podem ser congeladas a -80°C eletroforese bidimensional, ao combinar
para posteriormente realizar a segunda dois processos distintos de separação,
dimensão. pode ser usada para separar mais de
1000 proteínas em um único gel. Na
primeira dimensão (IEF), as proteínas

7
são separadas em função das suas b) Tampão Tris-HCl 1,5M pH 8,8
cargas nativas (pI). Posteriormente, a (gel de separação): 18,167g de
tira de gel é mergulhada em uma Tris + 48mL de HCl 1M, ajustar o
solução de equilíbrio contendo SDS e pH se necessário, completar com
depois colocada no topo de um gel de água para 100mL. Filtrar em
poliacrilamida – cuja espessura é papel de filtro Whatman n° 1
geralmente de 1mm – para a realização (0,45 m). Estocar a 4°C por até
da eletroforese de segunda dimensão, três meses.
através da qual cada cadeia c) SDS 10% (p/v): 10g de SDS em
polipeptídica migra em função de sua 100mL de água. Estocar a
massa molecular. O resultado final temperatura ambiente por até
consiste em um gel com diversos discos seis meses.
(spots) dispersos, cada um d) TEMED 10%: 1mL de TEMED
correspondendo a uma proteína em 10mL de H2O milli-Q; estável
particular. O poder de separação é tão a 4°C em frasco escuro.
grande que duas proteínas que diferem e) Persulfato de Amônia 10% (p/v):
em apenas um aminoácido carregado 0,5g para 10mL de solução
podem ser prontamente distinguidas. aquosa. Melhor usar solução
fresca.
3.3.1- Reagentes e soluções f) Tampão de corrida Tris 0,025M,
estoques glicina 0,192M, SDS 0,1% (pH
8,3): Para uma solução
a) Acrilamida-bisacrilamida (30:0,8): concentrada (10X) - 30,3g de
29,2g de acrilamida e 0,8g de Tris, 144,13g de glicina e 10g de
bisacrilamida para 100mL de SDS em 1000mL de solução
solução aquosa (H2O Milli-Q). aquosa. Diluir 10 vezes na hora
Filtrar em papel de filtro de usar. Estocar a temperatura
Whatman n°1 (0,45 m) e estocar ambiente por até um mês.
a 4°C em frasco escuro por até
um mês.

3.3.2- Preparação do gel 12,5% (SDS-PAGE):

Reagentes Volume
pipetado
Acrilamida-Bisacrilamida (30:0,8) 188mL
Tampão Tris-HCl pH 8,8 113mL
H2O milli-Q 117,5mL
Glicerol 22,5mL
SDS 10% 4,5mL
Persulfato de Amônio 10% 4,5mL
TEMED 10% 0,62mL

3.3.3- Equilíbrio da tira (strip): segunda dimensão (SDS-PAGE). O


primeiro equilíbrio é feito com DTT a 1%
Após a primeira dimensão (IEF) a e o segundo com iodoacetamida a
tira deve ser equilibrada por duas vezes 2,5%.
de 15 minutos antes de correr a

8
Solução de equilíbrio:

Reagentes Concentração final


Tris-HCl 1,5M pH 8,8 50mM
Uréia 6M
Glicerol (87%) 30%
SDS 2%
Azul de bromofenol 0,002%
Dissolver em H2O milli-Q

Estocar a -20°C em alíquotas de 5mL. pode ser feita no sistema eletroforético


Adicionar o DTT e a iodoacetamida Ettan Daltsix (Amersham
apenas no momento de usar. Biosciences/GE Healthcare) com
amperagem ou potência constante em
3.3.4- Corrida SDS-PAGE: baixa temperatura (10°C) para evitar o
aquecimento. A corrida deve ser
A tira de IPG deve ser colocada interrompida quando o azul de
no topo do gel e selada com agarose a bromofenol atingir o final do gel.
0,5%. A corrida da segunda dimensão

Programa:

Fase Voltagem máxima Amperagem Potência/gel* Tempo


máxima
1 600V 400mA 5W 0:30h
2 600V 400mA 17W 4:00h

*Para mais de um gel multiplique a potencia pelo número de géis a serem corridos.

Solução de agarose:

Reagentes Concentração final


Agarose 0,5%
Azul de bromofenol 1% 0,002%
Dissolver em tampão de corrida

Aquecer a mistura até dissolver fluorescência ou autoradiografia, ou por


completamente a agarose. Estocar a métodos específicos como a coloração
4ºC em alíquotas de 5mL. de glicoproteínas ou detecção com
imunoquímicos.
3.4 - Detecção das Proteínas
Alguns fatores são importantes na
Um grande passo no uso da escolha do método de coloração:
eletroforese 2D ocorreu com o
progresso nas técnicas analíticas de a) Faixa dinâmica de detecção;
detecção e identificação. As proteínas b) Linearidade;
separadas eletroforeticamente podem c) Reprodutibilidade entre
ser visualizadas por métodos gerais de experimentos;
coloração, tais como azul brilhante de d) Variabilidade inter proteína;
coomassie, nitrato de prata,

9
e) Compatibilidade com métodos de ferramenta eficiente que pode substituir
identificação; o seqüenciamento clássico.

Após a detecção das proteínas, o 3.5 - Digitalização e Análise de


procedimento subseqüente consiste em Imagem
identificar as macromoleculas de
interesse. Nas últimas décadas grandes Com a sofisticação da
avanços foram obtidos na identificação eletroforese 2D e o aumento da
das proteínas por meio do uso da sensibilidade dos médotos de detecção
espectrometria de massa. As duas e identificação das proteínas, tornou-se
principais técnicas espectrométricas uma tarefa muito laboriosa e pouco
para análise de moléculas biológicas confiável a análise dos géis 2D apenas
grandes são: (1) a espectrometria de por inspeção visual. Atualmente, estão
massa com base na dessorção e disponíveis no mercado diversos
ionização das proteínas com laser, softwares que podem oferecer aos
auxiliado por uma matriz (MALDI - pesquisadores um método automático,
Matrix-Assisted Laser Disorption prático e estatisticamente seguro para
Ionization), que analisa a massa através análise comparativa dos géis 2D.
do tempo de vôo dos íons no tubo de Os géis de eletroforese
análise (ToF - Time of Flying); (2) e a bidimensionais corados com azul
espectrometria de massa baseada na brilhante de comassie ou nitrato de
ionização por pulsos elétricos em meio prata são digitalizados com o auxílio de
líquido (ESI - ElectroSpray Ionization). um scanner específico, como por
A primeira técnica analisa a exemplo, o ImageScanner™ II, e
massa de fragmentos peptídicos obtidos analisados com o ImageMaster™ 2D
da digestão das proteínas com uma Platinum v6.0 software da Amersham
enzima proteolítica, como a tripsina. O Bioscence/GE Healthcare. Este sistema
padrão de massas obtido (peptides permite a contagem do número de
mass fingerprint) é comparado em spots, a caracterização automática dos
bancos de dados para a identificação valores de pI e massa molecular, a
das proteínas. Apesar de rápido e análise dos níveis de expressão, assim
prático, este método dá apenas o grau como diversos outros recursos para o
de similaridade dos padrões de massas melhoramento da qualidade da imagem.
de peptídeos entre proteínas anotadas.
Portanto, fazem-se necessários 5- Referências:
métodos complementares, a exemplo
do seqüenciamento completo por meios BERKELMAN, T.; STENSTED, T. 2-D
bioquímicos clássicos, tais como a electrophoresis using immobilized pH
degradação de Edman, para uma gradients: principles and methods.
certificação mais acurada sobre a Edition AC (80-6429-60). Uppsala,
identidade da proteína. Por outro lado, a Sweden: Amersham Biosciences Inc.,
espectrometria ESI analisa a massa dos 1998. Manual do fabricante. 100 p.
diversos fragmentos obtidos da colisão DAMERVAL, C.; VIENNE, D. de; ZIVY,
dos polipeptídeos contra um gás inerte M.; THIELLEMENT, H. Technical
como o argônio. A massa de todos os improvements in two-dimensional
fragmentos e a massa teórica dos electrophoresis increase the level of
resíduos de aminoácidos é, então, genetic variation detected in wheat-
utilizada num algoritmo computacional seedling proteins. Electrophoresis,
para determinar a seqüência dos Weinheim, Germany, v. 7, p. 52-54,
resíduos de aminoácidos. Neste 1986.
aspecto a espectrometria ESI é uma

10
GÖRG, A. Two-dimensional Bethesda, USA, v. 250, p. 4007-4021,
electrophoresis with immobilized pH 1975.
gradients for proteome analysis: A PANDEY, A.; MANN, M. Proteomics to
laboratory manual. Germany: Technical study genes and genomes. Nature, v.
University of Munich, 2003. Disponível 405, p. 837-846, 2000.
em: <www.weihenstephan.de/blm/deg> RABILLOUD, T.; ADESSI, C.;
GÖRG, A.; OBERMAIER, C.; BOGUTH, GIRAUDEL, A.; LUNARDI, J.
G.; HARDER, A.; WILDGRUBER, R.; Improvement of the solublization of
WEISS, W. The current state of two- proteins in two-dimensional
dimensional electrophoresis with electrophoresis with immobilized pH
immobilized pH gradients. gradients. Electrophoresis, Weinheim,
Electrophoresis, Weinheim, Germany, Germany, v. 18, p. 307-316, 1997.
v. 21, p. 1037-1053, 2000. SURESH, S.; MOHAN, S. S.; MISHRA,
GÖRG, A.; POSTEL, W.; GÜNTHER, S.; G.; HANUMANTHU, G. R.; SURESH,
WESER, J. Improved horizontal two- M.; REDDY, R.; PANDEY, A. Proteomic
dimensional electrophoresis with hybrid resources: Integrating biomedical
isoelectric focusing in immobilized pH information in humans. Gene,
gradients in the first dimension and Amsterdam, v. 364, p. 13-18, 2005.
laying-on transfer to the second WILKINS, M. R.; WILLIAMS, K. L.;
dimension. Electrophoresis, Weinheim, APPEL, R. D.; HOCHSTRASSER, D. F.
Germany, v. 6, p. 599-604, 1985. (Ed.) Proteome Research: New
GYGI, S. P.; RIST, B.; GERBER, S. A.; Frontiers in Functional Genomics.
TURECEK, F.; GELB, M. H.; Berlin: Springer-Verlag, 1997. 243 p.
AEBERSOLD, R. Quantitative analysis
of complex protein mixtures using
isotope-coded affinity tags. Nature, v.
17, p. 994-999, 1999.
HERBERT, B. R. Advances in protein
solubilisation for two-dimensional
electrophoresis. Electrophoresis,
Weinheim, Germany, v. 20, p. 660-663,
1999.
HERBERT, B. R.; HARRY, J. L.;
PACKER, N. H.; GOOLEY, A. A.;
PENDERSEN, S. K.; WILLIAMS, K. L.
What place for polyacrylamide in
proteomics? Trends in Biotechnology,
Oxford, v. 19 (Supplement), p. 3-9, 2001.
KLOSE, J. Protein mapping by combined
isoeletric focusing and electrophoresis of
mouse tissues. A novel approach to
testing for induced point mutations in
mammals. Humagenetik, v. 26, p. 231-
243, 1975.
LAEMMLI, U. K. Cleavage of strutural
proteins during the assembly of the head
of bacteriophage T4. Nature, v. 227, p.
680-685, 1970.
O'FARREL, P. H. High resolution two-
dimensional electrophoresis of proteins.
Journal of Biological Chemistry,

11
Comunicado Exemplares desta edição podem ser Comitê de Presidente: Maria Isabel de Oliveira
Técnico, 136 adquiridos na Publicações Penteado
Embrapa Recursos Genéticos e Secretário-Executivo: Maria da Graça
Biotecnologia Simões Pires Negrão
Serviço de Atendimento ao Cidadão Membros: Arthur da Silva Mariante
Parque Estação Biológica, Av. W/5 Maria Alice Bianchi
Norte (Final) – Maria da Graça S. P.
Brasília, DF CEP 70770-900 – Caixa Negrão
Ministério da Postal 02372 PABX: (61) 448-4600 Expediente Maria de Fátima Batista
Agricultura, Fax: (61) 340-3624 Maria Isabel de O.
Pecuária e http://www.cenargen.embrapa.br Penteado
Abastecimento e.mail:sac@cenargen.embrapa.br Maurício Machain Franco
Regina Maria Dechechi
1ª edição Carneiro
1ª impressão (2005): Sueli Correa Marques de
Mello
Vera Tavares de Campos
Carneiro
Supervisor editorial: Maria da Graça
S. P. Negrão
Normalização Bibliográfica: Maria Iara
Pereira Machado
Editoração eletrônica: Maria da Graça
Simões Pires Negrão

12

Você também pode gostar