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Isa Silva_Lic.

Bioquímica_23-24

Métodos adotados em Biologia Celular

1. Medição de células e organelos


A dimensão (2D) dos objetos microscópicos é medida com a ocular micrométrica (micrómetro ocular) e com o
micrómetro objetivo.

Coeficiente micrométrico é o valor, em micrómetros, de cada divisão da ocular micrométrica (micrómetro


ocular) para um determinado sistema ocular-objetiva.
𝑛º 𝑑𝑒 𝑒𝑠𝑝𝑎ç𝑜𝑠 𝑜𝑏𝑗𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎
Q= 𝑛º 𝑒𝑠𝑝𝑎ç𝑜𝑠 𝑜𝑐𝑢𝑙𝑎𝑟
× 𝑑𝑖𝑚𝑒𝑛𝑠ã𝑜 𝑚𝑒𝑛𝑜𝑟 𝑑𝑖𝑣𝑖𝑠ã𝑜 𝑜𝑏𝑗𝑒𝑡𝑖𝑣𝑎 (𝜇𝑚)

2. Contagem de células/núcleos
Citometria de fluxo – metodologia, tecnologia e/ou ferramenta direcionada ao estudo de células, e utilizada
na identificação, avaliação e diferenciação de diversas características celulares (como conteúdo de DNA e
RNA, atividade enzimática…).
Princípio básico – utilização de uma radiação de laser direcionada, que excita substâncias fluorescentes
(fluorocromos) presentes nas células, através das quais podemos interpolar informações biológicas,
moleculares e/ou químicas das células em suspensão. Estas células marcadas são então transportadas e
protegidas por um fluxo hidrodinâmico contínuo (solução salina), de forma que individualmente sejam
intercetadas pelo laser. Ao ser excitado pela radiação laser, o fluorocromo emite luz, que dependendo do
comprimento de onda, possui uma cor característica. Os parâmetros de dispersão de luz e fluorescência
emitidas são registados.
Os fluorocromos têm diferentes comprimentos de onda que os excitam (ex: fluorocromo – iodeto de
propídio: laser de excitação 488 nm).

3. A) Observação da parede celular e protoplasto


Protoplasto – toda a região interna da célula vegetal, constituída pelo citoplasma e pelo núcleo
Microscopia de luz (LM)
Microscopia de digitalização de eletrões (SEM)
- Fixação: etanol 50% ou tetróxido de ósmio aquoso (2%) ou tetróxido de ósmio aquoso (2%) +
dicloreto de mercúrio
- Filtração: filtro de policarbonato (malha 5 µm)
- Desidratação: séries de álcoois seguida de
- Secagem: por método do ponto crítico
Aparelho de Ponto Crítico – preserva a estrutura superficial da amostra que poderia, de outra forma,
ser danificada devido à tensão superficial durante a mudança de estado líquido para gasoso.
A secagem final da amostra no aparelho de ponto crítico, para observação em SEM, é efetuada em
condições de total preservação da estrutura superficial da amostra, evitando a tensão superficial durante a
mudança de estado líquido para gasoso, utilizando o dióxido de carbono como agente de troca pela acetona.
Para cada fluido, existe uma condição de temperatura e pressão característica, em que as fases
líquida e gasosa do fluido não podem coexistir. Esta combinação corresponde ao ponto crítico do fluido.

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3. B) Observação da parede celular


Tiloses – formações em vasos de xilema de muitas plantas sob variadas condições de stress durante a
invasão de patógenos (qualquer organismo que pode produzir doença).
- Atravessam as perfurações do xilema, têm paredes celulósicas e podem obstruir completamente o
vaso xilémico.
- Em algumas plantas, as tiloses formam-se abundantemente e rapidamente, enquanto o patógeno
ainda está nas raízes jovens, bloqueando o avanço do mesmo. As plantas destas variedades permanecem
livres e, portanto, resistentes a este patógeno. Variedades nas quais poucas ou nenhumas tiloses se formam
antes do patógeno, são suscetíveis a doenças.

Microscopia de transmissão eletrónica (TEM)


- Fixação: glutaraldeído (em tampão fosfato) e glutaraldeído + tetróxido de ósmio
- Inclusão: blocos de agar pós-fixados com teróxido de ósmio
- Desidratação: séries de álcoois e óxido de propileno
- Infiltração e incorporação: resina de baixa viscosidade
- Corte: em secções ultrafinas (nm) em ultramicrótomo (faca de vidro/diamante)
- Coloração (cortes): citrato de uranilo e citrato de chumbo
Para observações em TEM usa-se EM UC6 ultramicrótomo (Leica Microsistemas) e JEM 1010 microscopia
eletrónica (JEOL, Tóqui, Japão).

4. Observação de cloroplastos (LM, TEM)


Para observação em TEM, a preparação do material é idêntica ao referido para organismos unicelulares.
A observação e contagem de cloroplastos (isolados) é feita em câmara de Neubauer (hematocitómetro).

Técnica de espetrofotometria – permite medir o quanto uma substância química absorve de luz, medindo a
intensidade dessa luz quando um feixe passa pela solução da amostra. Esta medição pode também ser usada
para medir a quantidade de uma substância química conhecida.
- Princípio básico ⟶ cada composto absorve ou transmite luz num determinado intervalo de
comprimento de onda

Objetivo central da Biologia Celular – obter uma compreensão completa do que acontece dentro de uma célula, à
medida que ela responde ao seu ambiente e interage com as células vizinhas.

Limitações da BC – pequena dimensão dos objetos de estudo e a ausência de cor/baixo contraste das estruturas

A fundação da Biologia Celular e os seus avanços dependem da inovação tecnológica.

Para compreender o funcionamento dos organelos é Organelo/Função Marcador (ex: enzima)


necessário fazer uma análise bioquímica. Podem ser avaliados Núcleo DNA
marcadores bioquímicos (ex: enzimas), conhecidos por serem Mitocôndrias Citocromo oxidase
exclusivamente associados a compartimentos sub-celulares Lisossomas Hidrólases
específicos. Peroxissomas Catalase
Aparelho Golgi α-manosidase
REL Citocromos P450
Membrana celular Adenilciclase
Citosol Lactato desidrogenase
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A maioria dos procedimentos bioquímicos neste contexto exige que as células sejam fisicamente rompidas para se
ter acesso aos seus componentes.

Fracionamento celular
1. Rotura das células e obtenção de homogeneizado/lizado
Usa uma quantidade conhecida de tecido (10 mg – 1g) e um volume conhecido de solução de diluição
adequada
Ações mecânicas: - trituração/maceração
- tecido pressionado através de um pequeno orifício

Ações não mecânicas: - sonificação (aplicação de energia ultrassónica – alta frequência – que rompe as
membranas celulares e lisa as células. Adequado para pequenas porções de tecidos moles, como cérebro,
sangue, fígado.)
- choque osmótico (geralmente usado para culturas celulares)
- congelamento/descongelamento (geralmente usado para bactérias)
Ações químicas: ex: uso de detergentes
Ações enzimáticas: ex: uso de enzimas capazes de hidrolisar paredes celulares de células microbianas e
membranas de alguns tipos de células animais

2. Estabilização da amostra (homogeneizado/lizado)


Especial atenção à prevenção de ação de fatores como: temperatura, pH, protéases, oxidação lipídica,
choque osmótico
Efeito da elevação da temperatura – pode ser travado trabalhando rapidamente e no gelo, e conservando
as amostras a -80ºC até análise
Efeito do congelamento – pode ser travado utilizando crioprotetores (como glicerol, dimetilsulfóxido), que
impedem a formação de cristais de gelo intracelulares, que causam danos irreversíveis nas estruturas
celulares durante o congelamento
Variações de pH – uso de tampões com pH adequado
Degradação proteolítica – pode ser travada utilizando inibidores de protéases (ex: EDTA) e/ou trabalhando
rapidamente e no gelo
Oxidação lipídica – pode ser travada com adição do antioxidante BHT (butil hidroxitolueno)
Choque osmótico e aglutinação dos organelos – pode ser travado com adição de sacarose

3. Centrifugação
A força centrífuga acelera a sedimentação.
Devido ao movimento de rotação, os componentes de maior coeficiente de sedimentação migram mais
rapidamente para longe do eixo de rotação e depositam-se no fundo do tubo.
Tipos de equipamento: determinam a velocidade máxima, o controlo de temperatura, a capacidade de
tubos e o volume máximo por tubo
- Microcentrífuga (pequeno volume, microtubos 0,5 – 2 mL)
- Centrífuga de bancada (volumes até 200 mL)
- Ultracentrífuga (altas velocidades, até 500.000 g, volumes variáveis)

Tipos de rotores: determinam o tipo de formação do sedimento/pellet e a sua disposição no tubo


- Ângulo fixo – elementos sedimentam rapidamente e pellet com inclinação

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- Ângulo variável – elementos sedimentam suavemente (processo mais demorado), formando


camadas mais definidas e pellet sem inclinação

A ultracentrifugação decorre em vácuo. O vácuo reduz o atrito, evitando o aquecimento do rotor e


permitindo que o sistema de refrigeração mantenha a amostra a 4ºC.

Velocidade de centrifugação: quando uma partícula é submetida a um movimento circular, gera uma força
centrífuga relativa (FCR ou RCF em inglês)
Unidade RCF – g (equivale à aceleração da gravidade na superfície da Terra)
Unidade velocidade de centrifugação – g ou RCF (unidade de força) ou em rotações por minuto (rpm)
O valor em rpm pode ser convertido em g (dependendo do raio do rotor da centrífuga) pela fórmula:
RCF = 1,118×105 × raio × rpm2 O raio é o raio do motor em cm (representa a distância das
partículas ao centro de rotação)

Centrifugação diferencial (ou fracionada): série de centrifugações com velocidades crescentes. Organelos
ou inclusões maiores e mais densos sedimentam primeiro, o sobrenadante de cada centrifugação é
centrifugado de novo a uma velocidade superior.

Centrifugação contra gradiente (ou por gradiente de densidade): permite separar organelos como
mitocôndrias, lisossomas e peroxissomas ou subunidades ribossomais. O tempo é um parâmetro crítico – a
centrifugação deve ser interrompida assim que as partículas estejam separadas.

Estes procedimentos: - preservam, estruturalmente e funcionalmente, organelos como núcleo,


mitocôndrias, aparelho de Golgi, lisossomas e peroxissomas

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- quebram muitas das membranas da célula, incluindo a membrana plasmática e o


retículo endoplasmático (RE), sendo que os fragmentos deste selam imediatamente para formas pequenas
vesículas (microssomas).

Microssomas – vesículas formadas por membranas do RE. Não são encontrados como elementos normais
das células vivas, sendo considerados artefactos. Estruturalmente, são idênticos à membrana do RE, retendo
a maior parte de suas propriedades bioquímicas originais.

Como isolar células mononucleares (PBMCs)?


A solução pode passar por tirar partido das diferenças entre as células em termos de coeficiente de
sedimentação.
Centrifugação por gradiente de densidade com Ficoll-Paque ⟶ O Ficoll-Paque produz a agregação dos
eritrócitos, o que garante a sua completa sedimentação, e cria uma pressão osmótica que aumenta
ligeiramente a densidade dos granulócitos, fazendo-os migrar através da camada de Ficoll-Paque.

Como obter um isolado puro de linfócitos?ldhne


Partindo de um isolado de PBMCs obtido por centrifugação por gradiente de densidade, só é necessário
selecionar positivamente os linfócitos ou negativamente (descartar) os monócitos.
Separação imunomagnética de células – usa complexos de anticorpos monoclonais direcionados a
antigénios específicos da superfície celular e microesferas metálicas. Os complexos de anticorpo-esfera
ligam-se às células alvo. A suspensão celular é sujeita a um campo magnético, sendo as células marcadas
retidas na parede do tubo quando se decanta o conteúdo com células não marcadas.
Podem ser marcadas as células a selecionar ou as células a eliminar (ou a reduzir a sua abundância)
Seleção positiva – as células-alvo são marcadas e retidas
Seleção negativa – as células indesejadas são marcadas e retidas
É mais comum serem selecionados negativamente os monócitos, o que permite isolar os linfócitos.

Como saber se as células de um dado epitélio estão a sintetizar DNA?


Autoradiografia – aplicada principalmente no estudo da síntese e da localização dos ácidos nucleicos e de
proteínas.
Envolve a marcação radioativa de moléculas precursoras de um determinado processo de
metabolismo celular (não existem moléculas radioativas nas células).
Quando um material radioativo é colocado em contacto com uma emulsão fotográfica, as radiações
ionizantes sensibilizam a emulsão nos pontos irradiados.

Como se pode determinar se as células estão vivas ou mortas?


Detetar marcadores de funções vitais de uma célula saudável, como:
- permeabilidade seletiva da membrana
- atividade enzimática
- produção de ATP
Teste de exclusão do azul de tripano ⟶ teste de viabilidade baseado na deteção da integridade da
membrana.
As células vivas possuem membranas celulares intactas, o que impede a entrada e ação do azul de
tripano.
As células mortas (não possuem integridade na sua membrana) são invadidas pela substância, que se
liga às proteínas intracelulares, deixando-as com uma coloração azulada.
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A suspensão de células é misturada com o corante e depois examinada visualmente para se


determinar se as células absorvem ou excluem o corante: uma célula viável apresenta citoplasma claro e
uma célula inviável apresenta citoplasma azul.

Ensaio de atividade de LDH extracelular ⟶ teste de viabilidade baseado na deteção da integridade da


membrana.
A perda de lactato desidrogenase (LDH) intracelular e sua liberação no meio extracelular é um
indicador de morte celular irreversível, devido a danos na membrana celular.
Em condições normais, a LDH é encontrada apenas no ambiente intracelular.
A atividade da LDH é medida (espectrofotometricamente) por um ensaio de cinética enzimática.

Ensaio de MTT ⟶ teste de viabilidade baseado na deteção de atividade mitocondrial.


Método baseado na redução do MTT, um sal amarelo solúvel em água, pelo efeito da atividade de
desidrogenases mitocondriais (ligada ao NADH e NADPH), formando cristais insolúveis de formazano, de
coloração azul-roxa.
A coloração azul-roxa, determinada colorimetricamente, é, portanto, um quantificador da viabilidade
das células.
80-95% de viabilidade celular indica uma cultura saudável.

Compartimentação e comunicação celulares


Todos os processos celulares envolvem energia, estando dependentes, direta ou indiretamente, de barreiras
biológicas: as membranas e as paredes.

Membranas: 1) são essenciais à vida: qualquer célula usa uma membrana para a separar e proteger os seus
componentes químicos do meio ambiente circundante (sem membranas não haveria células, isto é, não haveria
vida);

2) as membranas internas criam compartimentos intracelulares com diferentes funções


(cloroplastos, mitocôndrias, vacúolos…).

1. Membrana celular (ou plasmalema ou membrana citoplasmática ou membrana plasmática)


- funciona como barreira seletiva;
- em muitos casos separa a célula do exterior;
- em algumas células bacterianas é a única barreira que delimita a célula;
- permite que haja diferenças entre a composição molecular: de célula para célula; outras
membranas permitem diferenças entre compartimentos da mesma célula (organelos ou organitos).

As membranas (simples ou duplas) delimitam os inúmeros compartimentos nas células eucarióticas.


Pequenas diferenças nas proteínas residentes da membrana conferem a cada organelo características próprias.

O plasmalema está envolvido:

- na comunicação celular (1)

- importação e exportação de moléculas (2)

- crescimento e mobilidade celulares (3)

(1) ⟶ possui proteínas recetoras que permitem que a célula receba sinais provenientes do meio ambiente;

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(2) ⟶ possui proteínas transportadoras que permitem a importação e exportação de pequenas moléculas
(canais seletivos e bombas de transporte: entrada de nutrientes, saída de produtos de excreção);

(3) ⟶ a flexibilidade da membrana plasmática e a sua capacidade para a expansão, permite o crescimento,
mudança de forma e movimento celulares sem fragmentar (sem perda de continuidade por junção de novas porções
de membrana; facilmente regenera porções lesionadas).

2. Membranas: estrutura e propriedades


Bicamada de moléculas lipídicas atravessada por proteínas, muito fina e transparente, não visível em MO.
A disposição das moléculas lipídicas serve como barreira de permeabilidade para muitas moléculas
hidrossolúveis.
Nota: Limite de resolução do MO – 0,2 µm
Como as células são preenchidas – e cercadas por – água, a estrutura das membranas celulares é
determinada pela forma como os lípidos da membrana se comportam num ambiente aquoso.
Os lípidos mais abundantes das membranas são fosfolípidos (a cabeça hidrofílica está ligada às caudas
hidrocarbonadas – hidrofóbicas – por um grupo fosfato) sendo a fosfatidilcolina o fosfolípido mais
abundante em animais e plantas.
Os fosfolípidos não são os únicos lípidos de membrana com comportamento anfipático (hidrofílico e
hidrofóbico): colesterol, de membranas de células animais; os glicolípidos, que têm açúcares como parte de
sua cabeça hidrofílica, também são moléculas anfipáticas.

Substâncias anfipáticas (com comportamento simultaneamente hidrofílico e hidrófobo), tal como os


fosfolípidos, inserem-se em bicamada fechada (tal como nas células), sendo esta a solução estrutural com
menor consumo de energia.
Nota: Substâncias exclusivamente hidrófobas, tal como as gorduras das células adiposas dos animais ou os
lípidos das sementes vegetais, ligam-se numa grande gota lipídica quando misturados com água.

O ambiente aquoso dentro e fora de uma célula impede que os lípidos da membrana de escapar da
bicamada, mas nada impede as suas moléculas de se movimentarem e trocar de lugar umas com as outras
dentro da membrana. A bicamada lipídica, comporta-se como uma camada bidimensional fluida, crucial para
a função da membrana e sua integridade.

Assim como a fluidez, a flexibilidade é importante para a função da membrana e estabelece um limite
inferior de cerca de 25 nm para o diâmetro das vesículas que as membranas celulares podem formar.
A fluidez das bicamadas lipídicas pode ser estudada usando bicamadas lipídicas sintéticas, que são
facilmente produzidos pela agregação espontânea de moléculas lipídicas na água. Os fosfolípidos puros, por
exemplo, formam vesículas esféricas fechadas quando adicionadas à água, chamadas lipossomas. Essas
vesículas variam em tamanho de cerca de 25 nm a 1 mm de diâmetro.

Bicamadas sintéticas (fosfolípidos puros):


É possível medir alguns tipos de movimento:
❖ Flip-flop ⟶ muito raramente se deslocam de uma monocamada para
outra, sem proteínas para facilitar o processo;
❖ Difusão literal ⟶ como resultado de movimentos térmicos aleatórios,
as moléculas lipídicas trocam de lugar com as suas vizinhas dentro da
mesma monocamada;
❖ Movimentos de flexão das caudas de hidrocarbonetos
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❖ Movimentos de rotação em torno do seu eixo maior (alguns atingindo velocidades de 500 rotações por
segundo)

A fluidez de uma membrana celular – a facilidade com que as suas moléculas lipídicas se movem – a uma dada
temperatura depende da sua composição fosfolipídica, em particular da natureza das caudas de hidrocarbonetos:
quanto mais próximas e mais regular o acondicionamento das caudas, mais viscosa e menos fluida será a bicamada.

O comprimento e o nº de ligações duplas influenciam a fluidez da membrana: uma cadeia curta reduz a tendência
das caudas hidrocarbonadas de interagirem entre si e por isso aumenta a fluidez da bicamada.

As bicamadas de lípidos que contêm uma grande proporção de caudas hidrocarbonadas insaturadas são mais fluidas,
consequência de uma pequena dobra na cauda dificultando o seu encaixe. A manutenção de um determinado grau
de fluidez como adaptação às variações de temperatura implicará um ajuste constante do grau de saturação e
comprimento das caudas hidrocarbonadas (bactérias e leveduras).

Nas células animais, a fluidez das membranas é condicionada pela inclusão de moléculas de colesterol. No
plasmalema, o colesterol atinge 20% do peso dos lípidos. Com o seu pequeno anel esteroide (planar e rígido)
consegue preencher os espaços entre fosfolípidos vizinhos (espaços-resultado das caudas insaturadas).

A fluidez é fundamental na sobrevivência e reprodução celulares pois permite:

1) Difusão rápida das proteínas na bicamada;


2) Interação entre proteínas na bicamada (ex: sinalização celular);
3) Difusão de lípidos e proteínas de locais onde estavam inseridas na bicamada, após a sua síntese, para outras
regiões da célula;
4) A distribuição uniforme das moléculas da membrana, pelas células filhas na divisão celular;
5) Em determinadas condições, a fusão de membranas e mistura das suas moléculas.

Assimetria da membrana
Fosfolípidos e glicolípidos estão distribuídos assimetricamente na bicamada do plasmalema de uma célula
eucariótica (mesmo durante o crescimento); as duas faces da bicamada, citosólica e extracelular, contêm
combinações diferentes de:

▪ Fosfolípidos: fosfatidilcolina (vermelho) e esfingomielina


(castanho) estão concentrados na monocamada não
citosólica, enquanto a fosfatidilserina (verde claro) e
fosfatidiletanolamina (amarelo) são encontrados
principalmente na camada citosólica. Além desses
fosfolípidos, fosfatidilinositóis (verde escuro), um
constituinte menor do plasmalema, são encontrados na
monocamada citosólica, onde participam na sinalização celular;
▪ Glicolípidos (confinados à camada externa, localizados essencialmente no plasmalema, adquirem os seus
açúcares no complexo de Golgi);
▪ Colesterol (distribuição mais ou menos semelhante em ambas as camadas);
▪ Proteínas com diferentes posicionamentos na membrana (o seu posicionamento é crucial para a sua função
membranar específica), as proteínas podem também estar ligadas a açúcares.

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Participação da membrana plasmática (plasmalema) em fenómenos de reconhecimento celular – aplicação ao caso


dos eritrócitos no quadro do sistema ABO (grupos sanguíneos)

Os eritrócitos possuem, por herança genética, estruturas macromoleculares localizadas na superfície extracelular da
membrana plasmática – antigénios (glúcidos complexos) – que permitem distinguir as células de um indivíduo das
de outro indivíduo.

Antigénio ⟶ qualquer substância solúvel, celular ou particulada que induz a formação de anticorpos, por ser
reconhecida pelo sistema imunitário.

Na maior parte dos casos, o plasma apresenta anticorpos específicos para cada antigénio (anti-A e anti-B).

Os anticorpos anti-A e anti-B dos indivíduos de grupo sanguíneo B e A, respetivamente, são maioritariamente
imunoglobulinas da classe M (lgM), enquanto em indivíduos do grupo O são da classe G (lgG).

Os anticorpos começam a ser produzidos 3-6 meses após o nascimento, atingindo níveis máximos aos 5-10 anos.

Quando os anticorpos se ligam aos antigénios, formam pontes moleculares que ligam os eritrócitos resultando
numa aglutinação.

Por esta razão, os antigénios são também chamados de aglutinogénios e os anticorpos de aglutininas.

A reação entre antigénios e anticorpos resulta em:

- Aglutinação – in vitro;

- Aglutinação seguida de diferentes processos imunológicos que resultam em hemólise – in vivo (dentro do
corpo).

Sistema sanguíneo ABO


Os antigénios presentes nos eritrócitos constituem a base de classificação do sistema ABO, configurando em 4
grupos principais: A, B, AB e O.

O sistema ABO, em paralelo com o sistema Rh, são os sistemas de grupos sanguíneos mais conhecidos,
fundamentalmente, pela sua importância nas transfusões – Sistemas Maiores.

Existem cerca de 35 sistemas de grupos sanguíneos – Sistemas Menores.

No sistema ABO, o sangue é classificado segundo a presença ou ausência de antigénios.

▪ Grupo A – eritrócitos têm antigénios


A
▪ Grupo B – eritrócitos têm antigénios
B
▪ Grupo AB – eritrócitos têm
antigénios A e B
▪ Grupo O – eritrócitos não têm
antigénios A nem B

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Oligossacarídeos (cerca de 4-15 monossacarídeos


unidos por ligações covalentes) envolvidos nos
tipos de sangue A, B e O

Os antigénios A, B e O não são produtos primários


dos genes que controlam a sua expressão, estes
genes produzem enzimas glicosil-transferases
específicas, que transportam açúcares,
adicionando estes últimos a uma substância
percursora básica na membrana dos eritrócitos dando origem à substância H (nota: o antigénio O é na realidade uma
ausência de antigénio A ou B por inativação da respetiva enzima)

Substância H ⟶ a especificidade antigénica H foi descoberta quando se percebeu que soros de alguns animais e
extratos de algumas plantas produziam aglutinação de eritrócitos humanos do grupo O.

⟶ inicialmente pensou-se que esta especificidade era determinada pela atividade do gene O. Esta
ideia foi abandonada quando se verificou que poderia ocorrer aglutinação igualmente de eritrócitos A, B e AB com
soros anti-H.

⟶ sabe-se atualmente que a substância H é precursora das especificidades antigénicas A e B

- O alelo H determina a síntese da fucosil-transferase, que catalisa a adição da fucose ao percursor básico.

- Os alelos A e B determinam a síntese de glicosil-transferases que catalisam a adição dos açúcares específicos à
porção terminal da substância H.

Nota: O alelo O produz uma enzima não funcional que não coloca nenhum açúcar na substância H.

Fenótipo de “Bombay”
A ausência da especificidade H foi explicada pela homozigotia
(recessiva) do alelo H, num locus independente do sistema ABO,
que se designou por locus H, e que resulta na incapacidade de
produzir fucosil-transferase.

Indivíduos com esta particularidade diz-se possuírem “fenótipo de


Bombay”.

O sistema ABO é então determinado por 2 loci: locus H


(cromossoma 19) e locus ABO (cromossoma 9).

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Subdivisão de A
O antigénio A é heterogéneo e subdivide-se em A1 e A2. Resulta numa diferente sequência de aminoácidos na
enzima transferase, que pode afetar a sua atividade.

Passa-se a considerar 4 alelos com a seguinte relação de dominância: [(A1>A2) = B] > O

Este facto aumenta o nº de grupos sanguíneos de 4 para 6:

Secretores e não secretores


As substâncias antigénicas A e B não estão confinadas às membranas dos eritrócitos, podendo ser encontradas
noutras células.

Ocorrem também em fluidos orgânicos e secreções: saliva (maior concentração de antigénios), suco gástrico, bílis e
leite. Nestes casos são glicoproteínas (hidrossolúveis) e não glicolípidos como nos eritrócitos.

Nem todos os indivíduos têm a capacidade de passar as substâncias A e B para os fluidos orgânicos – não
secretores (20 a 25% da população europeia) – enquanto os que são capazes se designam secretores.

Tipagem de grupos sanguíneos:


- Acrescentar soros anti-A e anti-B aos eritrócitos a tipar;

- Acrescentar células (eritrócitos) A e B conhecidas aos plasmas dos indivíduos a tipar.

Sistema ABO e transfusões sanguíneas

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Tendo em conta a composição eritrocitária do dador e os anticorpos do recetor é


possível a transfusão de sangue entre indivíduos de grupos diferentes.

Os indivíduos do fenótipo de Bombay só podem mesmo receber de si próprios, pois


estes possuem anticorpos anti-H.

Atualmente, em termos clínicos, é entendido como preferível proceder a transfusões


isogrupo (entre indivíduos do mesmo grupo sanguíneo)

Possível vantagem evolutiva para uma população ter mais de um tipo sanguíneo: um indivíduo de uma população
que sofra infeção por patógenos, com oligossacarídeos na sua superfície membranar semelhantes aos do grupo
sanguíneo do indivíduo infetado, provavelmente causaria uma resposta imunológica menos vigorosa do que em
indivíduos da mesma população de outro tipo sanguíneo.

Certos fosfolipídios estão confinados a um lado da membrana


A maioria das membranas celulares são assimétricas: as duas metades da bicamada frequentemente incluem
conjuntos notavelmente diferentes de fosfolipídios.
Mas se as membranas surgem a partir do Retículo Endoplasmático (ER) com um conjunto uniformemente misturado
de fosfolipídios, por ação de scramblases, como ocorre essa assimetria?
Tudo começa no aparelho de Golgi em que a sua membrana contém outra família de enzimas de manipulação de
fosfolipídios, as flippases. Essas enzimas removem fosfolipídios específicos do lado da bicamada voltado para o
espaço exterior e posiciona-os na monocamada que fica de frente para o citosol.
ER MEMBRANE:1) novos fosfolípidos são produzidos, a partir de ácidos gordos, e incluídos na camada citosólica do
Retículo Endoplasmático;
2) as enzimas scramblases transferem (flip-flop) aleatoriamente as moléculas dos fosfolípidos
permitindo um crescimento simétrico da bicamada (parte fica no ER, o restante será utilizado para fornecer
porções de membrana a outros organelos, incluindo Aparelho de Golgi);

GOLGI MEMBRANE: As enzimas flippases transferem (flip-flop) seletivamente as moléculas de fosfolípidos


(fosfatidilcolina e esfingomielina concentradas na camada não citosólica); a curvatura resultante favorece a
formação de vesículas.

A assimetria é preservada durante o transporte membranar


As enzimas que adicionam os açúcares estão confinadas ao interior do Complexo de Golgi: os açúcares são
adicionados somente às moléculas lipídicas da camada não citosólica (não há flipases para a transferência).
Aquando da transferência membranar (formação de vesículas), a orientação de lípidos e proteínas é preservada, a
monocamada citosólica no aparelho de Golgi continua como camada citosólica nas vesículas e no plasmalema. Todas
as membranas celulares têm um distinto interior e exterior, aplicando-se aos fosfolípidos, mas também às proteínas
(o posicionamento destas últimas é muito importante, pois a orientação de uma proteína dentro da bicamada
lipídica é crucial para sua função). Entre os lipídios, aqueles que apresentam a distribuição mais desigual nas
membranas celulares são os glicolípidos, localizados principalmente na membrana plasmática, e apenas na
metade não citosólica da bicamada.

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3. Membranas: proteínas membranares


As proteínas membranares são responsáveis por grande parte das funções das membranas (50% da massa
do plasmalema das células animais). Cada tipo particular de membrana celular tem o seu conjunto de
proteínas conferindo-lhe funções muito específicas:
• Transportadora ⟶ nutrientes, metabolitos, iões
(ex: bombas de Na+);
• Ancoradoras ⟶ ligam a membrana a
macromoléculas e ligam filamentos intracelulares
de actina a matrizes proteicas extracelulares (ex:
integrinas ⟶ em virtude do seu papel na adesão,
constituem componentes chave no extravasamento de leucócitos, na agregação plaquetária, nos processos de
desenvolvimento e na cicatrização de feridas; algumas células exigem adesão para sua proliferação e a falta de
fixação a uma matriz extracelular, através de integrinas, induz a apoptose) ;
• Recetoras ⟶ ligam recetores extracelulares gerando sinais intracelulares que levam a célula a
crescer e dividir-se (ex: recetores PDGF das plaquetas);
• Enzimas ⟶ catalisam a produção da molécula intracelular de sinalização AMPC (ex: adenosil ciclase).

Proteínas membranares – estrutura


Proteínas integrais ⟶ ligadas diretamente à bicamada lipídica, estão embebidas na membrana ou atravessam a
membrana

(A) Transmembranares: apresentam região


hidrofóbica e hidrofílica (a região hidrofóbica
está no interior da bicamada, em frente às
caudas hidrofóbicas dos lípidos; a região
hidrofílica está exposta ao ambiente aquoso
dos dois lados da membrana) e apresentam
ainda uma ou mais hélice α ou um barril β
anfipático;
(B) Associadas à camada lipídica interna por uma hélice α anfipática e localizadas inteiramente no interior
do citosol;
(C) Associadas à camada lipídica interna ou externa por uma ligação covalente a um ou mais grupos
lipídicos.

Proteínas periféricas ⟶ não atravessam a bicamada lipídica, podem estar associadas a proteínas integrais ou lípidos
da membrana
(D) Associadas a proteínas membranares de um lado ou outro da bicamada.

Nota: (A), (B) e (C) apenas podem ser removidas pela rutura da bicamada (com detergentes); (D) são removidas através de
processos extrativos mais simples, com concentrações crescentes de sal ou alterações de pH, sem rutura da bicamada.

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Proteínas transmembranares

➢ Hélice α: segmentos simples ⟶ muitas são recetores para sinais extracelulares

➢ Hélice α: segmentos múltiplos ⟶ funcionam como “poros


aquosos” para a entrada de pequenas moléculas solúveis em
água, especialmente iões inorgânicos

➢ Barril β ⟶ embora a hélice α seja de longe a forma mais comum em que uma cadeia polipeptídica
cruza uma bicamada lipídica, as cadeias polipeptídicas de algumas proteínas transmembranares
cruzam a bicamada lipídica como uma folha β que é
enrolada em um cilindro, formando uma estrutura
semelhante a um barril chamada de barril β.

⟶ Exemplo estrutura barril β: nas proteínas porinas, formam


poros grandes e cheios de água nas membranas externas
mitocondriais e bacterianas.
⟶ permitem a passagem de nutrientes e pequenos iões, mas não antibióticos e toxinas.
⟶ formam canais mais largos que as hélices α (segmentos múltiplos).

➢ Bacteriorrodopsinas ⟶ Hélice α: segmentos múltiplos


⟶ funcionam como proteínas transportadoras que bombeiam H+ (protões)
para fora da bactéria, indo buscar essa energia diretamente à luz do sol e convertendo-a em ATP.

Plasmalema é reforçado pelo córtex celular (citoesqueleto)


O córtex celular reforça o plasmalema: a forma da célula e as propriedades mecânicas do plasmalema são
determinadas por uma rede de proteínas fibrosas ligadas à superfície citosólica da membrana (glóbulos vermelhos
apresentam um córtex celular simples: células achatadas devido à ação da espectrina). A rede de espectrina é
conectada à membrana por meio de proteínas de fixação intracelular que ligam a espectrina a proteínas
transmembranares específicas.

Mobilidade das proteínas membranares


As proteínas, tal como os lipídios, podem mover-se livremente
dentro do plano da bicamada. Esta difusão lateral foi
inicialmente demonstrada pela fusão experimental de uma
célula de rato com uma célula humana para formar uma célula
híbrida de tamanho duplo e, em seguida, monitorizar a
distribuição de certas proteínas de ambas as células. No início,
as proteínas de ambos estão confinadas às suas próprias
metades da célula híbrida recém-formada, mas após cerca de

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meia hora os dois conjuntos de proteínas misturam-se uniformemente em toda a superfície da célula. Contudo, a
noção de que na membrana celular as proteínas deslocam-se livremente é bastante redutora: as células possuem
mecanismos de confinamento de determinadas proteínas a locais precisos na bicamada criando assim regiões
funcionais especializadas (Domínios de Membrana).

Domínio das proteínas membranares ⟶ regiões membranares às quais as proteínas estão confinadas
(A) Ligadas ao citoesqueleto
(B) Ligadas à matriz extracelular de moléculas
(C) Ligadas a proteínas da superfície de outra célula
(D) Barreiras de difusão (ex: células do epitélio intestinal – barras negras)

As células podem criar barreiras que restringem componentes particulares da


membrana a um Domínio de Membrana. Nas células epiteliais do intestino, é importante que as proteínas
transportadoras envolvidas na absorção de nutrientes estejam confinadas à superfície apical das células (que
contactam com o conteúdo intestinal).

Barreiras de difusão ⟶ dado que estão barradas por proteínas que formam uma barreira contínua à volta da
célula (“tight junction”) (ex: células do epitélio intestinal)

Tight junction: neste local, proteínas especializadas na junção formam um


cinto contínuo ao redor da célula, onde contacta com as células vizinhas,
criando uma vedação entre as membranas plasmáticas adjacentes. As
proteínas da membrana não se podem difundir para além da junção.

Hidratos de carbono* (monocamada não citosólica) (células eucarióticas)


A – Composição:
1) Glicoproteínas: proteínas membranares estão ligadas a
curtas cadeias de açúcares (oligossacarídeos);
2) Proteoglicanos: proteínas membranares estão ligadas a um
ou mais polissacarídeos de cadeia longa;
3) Glicolípidos

B – Funções:
1) Proteção: protege de danos mecânicos e químicos; Slimy
surface*: superfície escorregadia (oligossacarídeos e polissacarídeos absorvem água), permite que células
móveis (células sanguíneas) não se colem umas às outras ou mesmo que passem através dos vasos
sanguíneos;
2) Reconhecimento: de célula-célula e adesão a outras células (ex: reconhecimento de um óvulo pelo
espermatozoide);
3) Resposta à infeção: por bactérias.
*Formam o glicocálix – camada protetora de hidratos de carbono na superfície não citosólica do plasmalema

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Resposta à infeção bacteriana


O reconhecimento da camada de hidratos de carbono
nos neutrófilos é o primeiro passo para a sua migração
para fora do vaso sanguíneo até aos locais de infeção.
Lectinas (proteínas transmembranares) são
produzidas pelas células endoteliais dos vasos
sanguíneos, em resposta ao sinal químico que vem do
local da infeção; as lectinas reconhecem determinados
açúcares carregados por glicolípidos e glicoproteínas
da membrana dos neutrófilos, aos quais se ligam, despoletando uma interação forte proteína-proteína (não referida
na figura) que leva à saída dos neutrófilos dos vasos sanguíneos.

4. Plasmodesmos (células vegetais)


Ligações entre células animais tais como as “tight junction” são impossíveis em células vegetais devido à
estrutura rígida da parede celular. Desta forma, os plasmodesmos permitem ligações intercelulares nos
vegetais.
Plasmodesmos são ligações citoplasmáticas entre células vegetais contíguas, através de canais abertos na
parede celular (40-50 nm de Ø):
• permite a passagem de pequenas e grandes moléculas (incluindo proteínas e RNA reguladores: o
controlo do fluxo de reguladores transcritómicos e RNA reguladores de uma célula para outra é
importante no desenvolvimento das plantas);
• permitem a difusão passiva de moléculas pequenas (condução da seiva elaborada através das placas
crivosas dos elementos dos tubos crivosos);
• controlam ativamente o transporte de proteínas e ácidos nucleicos;
• não são canais passivos, são regulados, podem alargar permitindo a passagem de macromoléculas e
de vírus.

Transporte simplástico: a continuidade do citoplasma entre células (simplasto) é feita através dos
plasmodesmos:
• asseguram a distribuição de nutrientes;
• resposta sincronizada das células de um tecido a um determinado sinal (ex: hormona vegetal
indispensável nas plantas pois não possuem sistema nervoso);
• a sua densidade pode variar entre 0.1 e 10 plasmodesmos/μm2 de parede celular (as células
meristemáticas mais pequenas possuem milhares de interconexões com as células vizinhas); nas células que
desenvolvem parede secundária, os plasmodesmos estão concentrados em zonas de pontuações (interrupções
na parede secundária).

O retículo endoplasmático liso atravessa os plasmodemos


formando uma estrutura tubular, o desmotúbulo (ocupa
grande parte do volume do plasmodesmo, apenas deixa
espaço para o movimento de pequenos metabolitos e
iões).
Cada plasmodesmo é revestido por membrana plasmática
comum às duas células ligadas.
Todos os processos celulares envolvem energia, estando dependentes, direta ou indiretamente, de barreiras
biológicas: as membranas e as paredes.

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Parede Celular: - Camada de espessura variável nos diferentes tipos de células;


- Situa-se na face exoplasmática da membrana plasmática (plasmalema);
- Presente nos vegetais, bactérias e fungos.

Célula vegetal: - grande diversidade de tamanho, forma, conteúdo e função (ex: algumas exercem a sua função só
depois de mortas – ex: vasos xilémicos);
- grande capacidade de adaptação às condições ambientais (ex: em condições de xerofitismo, as
epidermes (tecido epidérmico) apresentam-se mais espessas, deposição de substâncias adicionais);
- totipotencialidade (diferenciação, multiplicação, re-diferenciação, praticamente todas as células
mantêm a capacidade de originar um organismo completo).

Parede Celular – Funções ⟶ estrutura dinâmica, complexa, sofre grandes alterações ao longo da vida, variedade
de funções cruciais:
• determina o tamanho e forma das células (implicações na textura do tecido e forma final dos órgãos);
• suporte e rigidez mecânica para que as plantas possam atingir estaturas elevadas e folhas finas e expandidas mais
rentáveis na fotossíntese;
• comunicação intercelular (plasmodesmos);
• proteção e defesa contra agentes patogénicos;
• desenvolvimento da pressão hidrostática interna (pressão de turgescência* - principal força
impulsionadora da expansão celular);
• impede a célula de rebentar quando sujeita a um meio hipotónico;
• reserva de hidratos de carbono que podem ser metabolizados.

*Responsável pelo suporte e rigidez mecânica nas folhas e plantas herbáceas não lenhosas (é a força que provoca a entrada de
água na célula por osmose, e permite o equilíbrio com a pressão hidrostática que se exerce sobre a parede celular do próprio
protoplasto).
A turgescência permite a manutenção da forma das células. Uma diminuição da turgescência manifesta-se quando a planta
murcha.

Parede celular – estrutura ⟶ esqueleto microfibrilhas de celulose, embebido numa matriz de polissacarídeos,
juntamente com proteínas estruturais, proteínas enzimáticas, iões, compostos fenólicos, que se associam em rede,
através de ligações covalentes e não covalentes, às microfibrilhas de celulose (a estrutura em rede confere grande
capacidade de resistir a forças de tensão e compressão).

Modelo de uma porção de parede celular primária (planta). As


microfibrilas de celulose (verde) fornecem resistência à tração
(força tensil). Outros polissacarídeos tais como as hemiceluloses
(filamentos vermelhos) e pectina (polissacarídeo, azul) formam um
reticulado com a celulose, preenchendo os espaços entre as
microfibrilas, proporcionando resistência à compressão. A lamela
média (amarela) é rica em pectina e é a camada que cimenta a
parede celular de duas células contíguas.

Parede Celular (constituída por 2-3 camadas):


a) Lamela média: camada mais externa, comum a duas células contíguas (rica em polissacarídeos pécticos);
b) Parede primária: camada mais interna (quando não existe parede secundária);
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c) Parede secundária: quando existe é a camada mais interna, pode atingir grande espessura, funções
sobretudo de suporte; geralmente com 3 subcamadas distintas que diferem em espessura, orientação de
microfibrilhas e composição (camada interior e exterior – microfibrilhas orientadas transversalmente;
camada mediana – microfibrilhas orientadas longitudinalmente).
Nota: distingue-se da parede primária por apresentar baixa concentração de pectinas e diferenças a nível das hemiceluloses.

Observação em TEM (Microscopia de transmissão eletrónica)


É possível distinguir diversas camadas com diferentes densidades (representam a deposição de diversos
componentes durante o crescimento da célula).

Parede Celular – Composição química:


Nota: a quantidade relativa de celulose, hemicelulose, pectinas, proteínas e lenhina depende: 1) da espécie; 2) tipo
de célula; 3) tipo de tecido; 4) fase do ciclo de vida; 5) condições ambientais.

❖ Celulose: principal esqueleto da parede;


❖ Hemiceluloses: as microfibrilhas de celulose sofrem ligações cruzadas estabelecidas por hemiceluloses;
❖ Pectinas: formam um gel hidratado onde a rede celulose-hemicelulose está embebida;
❖ Proteínas: funções estrutural, de reconhecimento (sinalização) e catalíticas
função estrutural: expansina (até 15% da constituição da parede), estudos sugerem ser necessária para
formar um esqueleto que serve de molde para a deposição de pectinas, após a divisão celular;
função de sinalização: proteínas arabinogalactânicas (AGPs), são proteoglicanos, parecem ser específicas
para determinados tecidos, podem ser também estruturais;
❖ Lenhina: compõe polímeros altamente ramificados, funciona como cola entre as microfibrilhas de celulose;
juntamente com a celulose é um dos componentes principais da parede secundária; previne os vasos de
xilema de colapsarem (é hidrófoba, importante para a eficiência do transporte de água)
❖ Cutina e suberina: células especializadas produzem estes polímeros de ácidos gordos que se depositam na
parede celular como componentes adicionais (conferem impermeabilidade e resistência a infeções).

Os tecidos vegetais são fortalecidos pelas paredes celulares

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Parede celular – biossíntese:


(A) A citocinese (início da telófase) resulta da formação de
uma estrutura especializada, o fragmoplasto;
(B) O fragmoplasto forma-se a partir do conjunto de
microtúbulos, actina, miosina e vesículas do retículo
endoplasmático (fragmossomas). Estas vesículas contêm
compostos sintetizados no complexo de Golgi (componentes da
parede celular), que migram através do citoesqueleto e se fundem
posteriormente levando à formação da nova parede celular (PLACA CELULAR); A nova parede celular progride do
centro para a periferia até atingir as membranas plasmáticas e paredes celulares da célula-mãe;
(C) A membrana plasmática e a membrana que rodeia a nova parede celular fundem-se, separando
completamente as duas células-filhas.

Inicialmente as vesículas contêm essencialmente polissacarídeos pécticos e expansina (que formam a lamela
média), à medida que a parede vai crescendo
outros polissacarídeos não celulósicos vão sendo
depositados (produzidos e modificados no retículo
endoplasmático e complexo de Golgi,
respetivamente).
A formação da celulose é catalisada pela celulose-
sintetase na superfície da célula (complexo
enzimático, de proteínas integrais da membrana
plasmática, com seis subunidades formando uma
roseta localizada na membrana plasmática, que se
agrupam em unidades de 6).

As rosetas de celulose-sintetase movem-se na membrana plasmática à medida que as fibrilas de celulose são
sintetizadas, sendo a sua orientação determinada por microtúbulos ligados à membrana plasmática: o citoesqueleto
controla a forma da célula vegetal e modela os tecidos das plantas.
A formação da parede implica uma coordenação entre:
1) a síntese de microfibrilas de celulose (na superfície do plasmalema);
2) a síntese e glicosilação de proteínas e de enzimas de modificação da parede (no retículo endoplasmático
rugoso);
3) a síntese de todos os polissacarídeos não celulósicos (no complexo de Golgi).

A orientação das microfibrilhas de celulose depositadas é determinada pela orientação dos microtúbulos
intracelulares (as celuloses sintetase são proteínas integrais que sintetizam continuamente microfibrilhas de celulose
na face externa da membrana plasmática; os microtúbulos estão fixos ao plasmalema por proteínas
transmembranares).

As microfibrilhas de celulose resultam de um feixe de moléculas de celulose (celulose: cadeias não ramificadas de
dissacarídeos de glicose invertidas entre si).

Parede celular – expansão:


▪ As células vegetais resultam de células estaminais (meristemas apicais e intercalares) que se mantêm
sempre ativas durante toda a vida da planta;

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▪ Cada célula resultante de uma célula meristemática pode crescer 10 a 1000 x mais (até 10.000 x mais nos
vasos condutores de xilema).
▪ No processo de crescimento, a parede mantém a espessura e integridade estrutural (cria-se uma força
mecânica- pressão de turgescência- que enfraquece determinados pontos (quebra de ligações por
endoglucosidases, endotransglucosidases) para que outros polímeros sejam introduzidos (processo ainda
pouco conhecido).

Parede celular – forma da célula:

A celulose tem elevada força tênsil (medida da tensão máxima que um


material pode suportar sem quebrar), a forma final da célula é ditada pelo padrão de
orientação das microfibrilhas de celulose, por sua vez determinado pelo conjunto de
microtúbulos que direcionam a atividade da celulose-sintetase.
• Células arredondadas: microfibrilhas de celulose dispersas e não alinhadas;
• Células alongadas: microfibrilhas de celulose alinhadas em orientação
perpendicular relativamente ao eixo de alongamento (ao retirar a parede, por ação
de celulases e pectinases, a célula adquire o formato redondo)

A parede celular da planta é uma interface para as interações planta-micróbio. Os micróbios são importantes na
absorção de nutrientes e outras substâncias através das raízes. Por outro lado, a capacidade dos micróbios em
decompor os polissacarídeos da parede celular contribuem para a patogenicidade microbiana exercida sobre as
plantas. As plantas desenvolveram mecanismos para impedir a degradação das suas paredes, nomeadamente a
acumulação de substâncias antimicrobianas.

Estrutura e função do citoesqueleto


O que é o citoesqueleto?
Rede intricada de filamentos proteicos que se estende por todo o citoplasma e periferia do núcleo. Ao contrário do
nosso esqueleto, o citoesqueleto é uma estrutura altamente dinâmica que está constantemente a reorganizar-se:
constitui o esqueleto, mas também os músculos da célula.

O citoesqueleto é responsável pela forma da célula


e permite que ela própria organize os seus
componentes internos.
Permite às células eucarióticas (ainda que alguns
componentes do citoesqueleto estejam presentes nas
bactérias, este é mais desenvolvido nas células eucariótica):
1) Adaptar-se a uma variedade de formas;
2) Organizar os seus componentes
(organelos) no seu interior;
3) Interagir mecanicamente com o meio ambiente;
4) Levar a cabo movimentos coordenados;
5) Manutenção da forma das células animais (não têm parede celular).

Para que serve o citoesqueleto?


• Confere à célula animal a sua forma;
• Ajuda a suportar o grande volume do citoplasma;

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• Permite mudanças na forma da célula durante o desenvolvimento embrionário;


• Permite organizar os componentes internos das células;
• Produz amplos movimentos (i.e. contração muscular, movimento celular do tipo ameboide, movimento das
células através de cílios e flagelos);
• Responsável pela segregação de cromossomas para as células –filhas na mitose e meiose;
• Citocinese de células após divisão.

O citoesqueleto é composto por redes de 3 tipos de filamentos proteicos (cada tipo de filamento tem
propriedades mecânicas distintas e é formado por subunidades proteicas distintas)

Propriedades físicas dos filamentos do citoesqueleto:

▪ Microtúbulos (cerca de 25 nm de diâmetro) ⟶ facilmente deformáveis


seguidos de quebra por ação de uma força de pequena intensidade;
▪ Filamentos intermédios (10-13 nm de diâmetro) ⟶ facilmente deformáveis
e não quebram (preservam integridade celular);
▪ Filamentos de actina/ microfilamentos (7-8 nm de diâmetro) ⟶ pequena
capacidade de deformação, quebram por ação de uma força de intensidade
intermédia.

Funções dos filamentos do citoesqueleto:


▪ Microtúbulos ⟶ posicionamento/organização dos organelos intracelulares; transporte intracelular,
propulsão de células através de cílios e flagelos;
▪ Filamentos intermédios ⟶ força mecânica e resistência;
▪ Filamentos de actina/ microfilamentos ⟶ definição da forma da superfície celular; movimento da célula
como um todo.

A dinâmica do citoesqueleto

• Todos os filamentos do citoesqueleto são provenientes da polimerização de subunidades de proteínas de


dimensões inferiores aos filamentos.
• Microtúbulos e Filamentos de actina – subunidades compactas e globulares.
• Filamentos Intermédios – subunidades mais pequenas e fibrosas.
• Todos os filamentos formam agregados helicoidais das subunidades.
• Rápida polimerização e despolimerização devido a interações não covalentes entre subunidades.

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1. Microtúbulos
Os microtúbulos desenvolvem-se a partir de um centro organizador, tal
como:
(a) Centrossoma;
(b) Polo do fuso acromático;
(c) Corpo basal de um cílio.

❖ Aspetos gerais
Encontrados em todas as células eucarióticas.
Em células vegetais os microtúbulos são produzidos em muitos sítios espalhados pela célula.
Em células animais o microtúbulo tem origem em centros organizadores de microtúbulos (por ex.: no
centrossoma).
Um microtúbulo é um cilindro, oco e linear, constituído por um anel de 13 protofilamentos.
Tem um diâmetro de cerca de 25 nm.
De comprimento variável pode crescer em comprimento até 1000 vezes o seu diâmetro.
Resultam da polimerização de dímeros proteicos de α-tubulina e β-tubulina.

❖ Estrutura
Os microtúbulos são cilindros ocos de subunidades microtubulares: moléculas de tubulina, isto é, dímero de
proteínas globulares muito semelhantes: α tubulina + β tubulina (ligação não covalente).

(A) molécula de tubulina (heterodímero αβ) protofilamento na


parede do microtúbulo (nota: as moléculas de tubulina estão
arranjadas no protofilamento alternando α e β, por ligações não
covalentes, com a mesma orientação (polaridade estrutural do
microtúbulo (importante na direção do transporte celular): α
tubulina (minus end) numa extremidade e β tubulina (plus end)
noutra extremidade, mantendo-se em todos os
protofilamentos).

(B) microtúbulo: arranjo das moléculas de tubulina em 13


protofilamentos lineares e paralelos.

(D, E) fotos de TEM correspondentes a B e C, respetivamente.

❖ Dinâmica
Os microtúbulos podem aumentar de comprimento por polimerização de dímeros de tubulina, com
hidrólise de GTP (guanosina trifosfato).
Os microtúbulos podem diminuir de comprimento por despolimerização, de dímeros de tubulina.
Ambos os processos (polimerização e despolimerização) são mais rápidos na extremidade positiva (plus
end).
A extremidade negativa (minus end) é menos ativa.
Se não apresentassem polaridade não seria possível desempenharem as suas funções.

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❖ Polimerização
• Dímeros de tubulina com GTP (vermelho) ligam-se mais fortemente entre si
do que os dímeros de tubulina com GDP (verde-escuro).
• Quando a adição de tubulina +GTP acontece mais rapidamente que a
hidrólise da GTP dá-se o crescimento do microtúbulo.
• Microtúbulos em crescimento apresentam uma coroa de GTP na sua
extremidade positiva (+).

❖ Despolimerização
• Quando o crescimento do microtúbulo é lento as subunidades de tubulina+GTP
hidrolisam o GTP a GDP antes da adição de novos dímeros energéticos, ou seja, a
«coroa» de GTP perde-se.
• As subunidades com GDP estão menos ligadas no polímero e são rapidamente
libertadas para o citosol da sua extremidade livre provocando uma redução do tamanho
do microtúbulo.
A hidrólise da GTP controla o crescimento de microtúbulos.

❖ Centros organizadores
• Os microtúbulos formam-se a partir de zonas especializadas nas células, genericamente designadas por
Centros Organizadores de Microtúbulos (COM).
• Os COM controlam (1) o número de microtúbulos formados, (2) a sua localização e (3) orientação no
citoplasma.
• O centrossoma é um COM nas células animais.
• O corpo basal (raiz flagelar) é o COM para células ciliadas/flageladas.
• Quando a célula não está em divisão, o centrossoma-localizado próximo do núcleo- organiza o conjunto
de microtúbulos que radiam a partir dele através do citoplasma.
• Os centrossomas contêm centenas de estruturas em forma de anel de gamatubulina (γ tubulin ring
complexes)
• Cada anel de γ tubulina serve de ponto de partida ou sítio de nucleação para o crescimento de um
microtúbulo
• Os dímeros αβ-tubulina ligam-se ao anel de γ tubulina de tal modo que a extremidade negativa do
microtúbulo fica mergulhado no centrossoma e o crescimento apenas tem lugar na extremidade positiva
virada para fora.

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❖ Instabilidade dinâmica
A massa total de tubulina polimerizada permanece constante dentro da célula, no entanto, cada
microtúbulo é dinâmico.
➢ Um microtúbulo polimeriza por adição de dímeros de tubulina à extremidade + do microtúbulo
➢ Pode verificar-se uma transição súbita e o microtúbulo pára a polimerização e começa a
despolimerizar perdendo subunidades de tubulina
➢ Este processo pode reverter novamente reiniciando a polimerização do microtúbulo ou este pode
desaparecer completamente por despolimerização completa
Este processo de instabilidade dinâmica deve-se à possibilidade de as moléculas de tubulina
hidrolisarem GTP (cada dímero livre de tubulina contem uma ligação forte a uma molécula de GTP,
que hidrolisa em GDP logo após se associar a um microtúbulo).
• Cada microtúbulo cresce e diminui de tamanho
independentemente dos seus vizinhos.
• O conjunto de microtúbulos ancorados no centrossoma
está em constante mudança à medida que novos
microtúbulos são produzidos (setas vermelhas) e outros
microtúbulos são despolimerizados (setas azuis).

❖ Estabilização seletiva e polarização da célula


• Um microtúbulo acabado de formar manter-se-à estável apenas se ambas as extremidades estiverem
impedidas de despolimerizar
• As extremidades negativas dos microtúbulos estão geralmente protegidas pelos centros organizadores de
microtúbulos (COM) a partir dos quais os filamentos crescem
• As extremidades positivas, inicialmente livres, podem ser estabilizadas por outras proteínas
• A simples estratégia de exploração ao acaso e estabilização seletiva de microtúbulos permite que os
COM estabeleçam um sistema altamente organizado de ligações seletivas dos microtúbulos a porções
específicas da célula.

❖ Funções
• Os microtúbulos têm numerosas funções estando a maioria relacionada com o MOVIMENTO (transporte
intracelular, movimento da célula através de cílios/flagelos) quando associados a proteínas motoras que
usam energia para se moverem ao longo do microtúbulo.
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• Os microtúbulos são responsáveis pelo posicionamento/ancoragem de organelos na célula.


• Estabelecem uma polaridade interna aos movimentos e estruturas na célula em interfase.

Ex: uma molécula proteica levaria anos a viajar num


longo axónio por difusão livre. Através dos
microtúbulos o processo é muitíssimo mais rápido.

Ex: nas células nervosas, todos os microtúbulos apontam


na mesma direção, com o “plus end” na terminação do
axónio. Os microtúbulos polarizados servem de faixas
para o transporte direcionado de materiais sintetizados
no corpo da célula nervosa.

• Participam na segregação dos cromossomas durante a divisão celular.

❖ Proteínas motoras
• Os microtúbulos estão envolvidos nos movimentos intracelulares em células eucarióticas
• Nos microtúbulos, os movimentos são gerados por proteínas motoras, às custas da hidrólise de ATP
(transportam organelos, vesículas e outros materiais ao longo dos microtúbulos).
• Foram identificadas dezenas de proteínas motoras.
• Estas proteínas diferem (1) no tipo de filamento ao qual se ligam, (2) no sentido em que se movem ao
longo do filamento e (3) na carga que transportam.
• Estas proteínas são da família das cinesinas e das dineínas (dímeros com 2 cabeças globulares ligadas a
ATP e uma cauda).

As cabeças globulares das dineínas e cinesinas são


enzimas com atividade hidrolisante do ATP: esta reação
fornece energia para um ciclo de mudanças na
conformação das cabeças globulares, permitindo o seu
movimento ao longo do microtúbulo através de um ciclo
de “ligar-desligar-religar” (ver vídeo).

• (A) as dineínas (-) e as cinesinas (+) movem-se em


sentidos opostos;
• (B) «deslocamento» dependente de ATP/ADP ligado a proteínas motoras.

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Isa Silva_Lic. Bioquímica_23-24

• Dineínas e cinesinas são dímeros com duas cabeças com capacidade de se ligarem a microtúbulos e uma
única cauda que se liga a organelos
• Existem dois tipos de dineínas:
✓ Dineína citoplasmática – transporta carga no citoplasma; envolvida na dinâmica do fuso
acromático durante a mitose;
✓ Dineína dos axonemas dos flagelos/cílios – encontrada exclusivamente em flagelos/cílios;
proteínas motoras que fazem os flagelos/cílios moverem-se.

❖ Proteínas motoras: carga (por vezes transportam diferentes cargas utilizando proteínas adaptadoras)
Diferentes proteínas transportam diferentes componentes celulares ao longo de microtúbulos; o tipo de
cauda da proteína motora determina o tipo de carga a transportar.

❖ Posicionamento de organelos
Os microtúbulos são responsáveis pelo posicionamento/ancoragem de organelos na célula.
O retículo endoplasmático (RE) e o Complexo de Golgi (CG) dependem dos microtúbulos para o seu
alinhamento e posicionamento. As membranas do RE estendem-se desde os seus pontos de ligação com o
invólucro nuclear alinhando-se com os microtúbulos que se estendem desde o centrossoma até à
membrana plasmática.
À medida que a célula e o RE se desenvolvem, as cinesinas ligadas externamente ao RE (através de
recetores de proteínas) puxam-no para fora ao longo dos microtúbulos, esticando-o como uma rede.
As dineínas, ligadas de igual modo às membranas do CG, puxam-no do outro lado dos microtúbulos para o
centro da célula. Desta forma, as diferenças entre regiões da célula nas membranas internas, das quais o
sucesso funcional da célula depende, são criadas e mantidas.

• Arranjo típico dos microtúbulos (verde-escuro), retículo endoplasmático


(azul) e complexo de Golgi (amarelo)
• Núcleo – castanho
• Centrossoma – verde-claro

❖ Uma das funções dos microtúbulos é ainda produzir movimento extracelular por batimento de cílios/flagelos.
Microtúbulos estabilizados (por associação a proteínas) são empregues pelas células como suportes rígidos e
polarizados, nomeadamente sob a forma de cílios e flagelos, permitindo à célula eucariótica movimentar um fluído
sobre a sua superfície.
Os cílios movem-se com um ciclo repetitivo de movimentos: “batida forte” seguida de “batida de recuperação”.

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Cílios/flagelos ⟶ Estruturas celulares, especializadas no movimento, formadas por microtúbulos a partir do corpo
basal que serve de COM; flagelos são geralmente mais compridos, provocam o movimento de toda a célula em vez
de gerarem correntes como os cílios.

• Os microtúbulos em cílios e flagelos são ligeiramente diferentes dos citoplasmáticos.


• O arranjo interno dos microtúbulos em cílios e flagelos foi uma das revelações científicas mais
surpreendentes em TEM.
• Em corte transversal mostram nove pares de microtúbulos com um par de microtúbulos central num
arranjo designado «9+2».
• Este arranjo é característico de praticamente todas as formas de cílios e flagelos das células eucarióticas.
• Os cílios/flagelos movem um fluido sobre a superfície de uma célula ou impulsionam células isoladas
através de um fluido (alguns protozoários, por exemplo, usam cílios para recolher partículas de alimentos e outros usam-nos
para locomoção).

⟶ Ultraestrutura do axonema (estrutura contrátil de flagelos e cílios)


Diferentes arranjos de protofilamentos:
• Singleto – microtúbulo típico formado por 13 protofilamentos
• Dupleto – um anel incompleto de protofilamentos formam um 2º
túbulo por fusão à parede de um microtúbulo simples
• Tripleto – junção de 2 túbulos de 10 protofilamentos a um túbulo
de 13 protofilamentos.

Nexina: proteína que dá estabilidade aos dupletos de microtúbulos;


Braços de dineína: as suas cabeças contactam periodicamente com os microtúbulos adjacentes e deslocam-
se ao longo destes últimos

❖ Dineína ciliar: a proteína motora de cílios/flagelos


• O movimento de um cílio/flagelo resulta da dobra do seu axonema à medida que os microtúbulos deslizam uns
pelos outros.
• Os microtúbulos estão associados a numerosas proteínas projetadas a intervalos
regulares ao longo do feixe de microtúbulos.
• Algumas proteínas servem de ligações cruzadas para manter o feixe de
microtúbulos coeso – Nexina.
• Outras proteínas geram a força que permite ao cílio/flagelo dobrar – Dineína.

• A dineína ciliar é muito semelhante à dineína citoplasmática, em estrutura e


função: adere pela sua cauda a um microtúbulo e as suas cabeças a outro
microtúbulo para gerar forças de deslizamento entre os dois microtúbulos.
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Isa Silva_Lic. Bioquímica_23-24

• Na presença de ATP, os pares de microtúbulos deslizam um pelo outro devido ao movimento da dineína em
direção à extremidade negativa do microtúbulo.

• Num flagelo íntegro os pares de microtúbulos estão fixados entre si por ligações
flexíveis de proteína nexina (a azul) proporcionando a dobragem do flagelo e não o
deslizamento dos pares de microtúbulos.
• Devido às múltiplas ligações que mantém coesos os pares de microtúbulos vizinhos,
o que seria um simples deslizamento entre microtúbulos livres é convertido num
movimento de dobragem do cílio/flagelo.

❖ Cílios/flagelos
• No tubo respiratório as células do tecido epitelial são revestidas de cílios que « varrem » a matéria particulada
para o exterior.
• O oviduto é também revestido por cílios que empurram o óvulo.
• Os flagelos permitem aos espermatozoides nadarem.
• Cílios não móveis tem função de deteção de sinais.
• Os flagelos são os órgãos de locomoção de numerosos protistas.

Nota: defeitos hereditários na dineína ciliar causam a Síndrome de Kartagener, doença autossómica recessiva rara (homens
inférteis com espermatozoides sem mobilidade e maior suscetibilidade a infeções brônquicas porque os cílios que revestem
o trato respiratório estão paralisados).

❖ Acrossoma (encontra-se na cabeça do espermatozoide à volta do núcleo) ⟶ vesícula secretora com enzimas
digestivas importantes no processo de fertilização; fibras responsáveis pela integridade estrutural e modelam o
batimento do flagelo.

❖ Alteração do funcionamento dos microtúbulos por ação de substâncias tóxicas

Substâncias químicas que inibem a polimerização de microtúbulos são usadas na investigação do citoesqueleto e
no tratamento do cancro.
• Vincristina e vimblastina (extraída de Vinca, Apocynaceae, dicotiledónea) – quimioterapia do cancro: liga-se a
sub-unidades de tubulina impedindo a polimerização de microtúbulos; inibem seletivamente células com grande
capacidade de divisão.
• Colchicina (extraída de Colchicum, Liliaceae, monocotiledónea) - liga-se a subunidades de tubulina impedindo
a polimerização de microtúbulos (por ex: não ocorre segregação dos cromossomas durante a mitose porque o
fuso acromático acaba por desaparecer quando administrada colchicina; fragmentação do Complexo de Golgi
em pequenas vesículas; retículo endoplasmático entra em colapso em direção ao centro da célula); quando a
droga é removida, os organelos voltam às suas posições originais arrastados por proteínas motoras que se deslocam ao
longo dos microtúbulos novamente formados.
• Taxol (extraído do teixo- Taxus brevifolia, Taxaceae, gimnospérmica), estabiliza os microtúbulos impedindo-os
de despolimerizarem, também bloqueia divisão celular como a colchicina.

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❖ Mutações em cílios e flagelos


Alterações ao nível dos cílios e/ou flagelos podem ser responsáveis por variadas doenças:
• Síndrome de Kartagener – defeitos hereditários na dineína flagelar provoca: infertilidade masculina devido à
falta de mobilidade dos espermatozoides; elevada suscetibilidade de infeções brônquicas – cílios de trato
respiratório paralisados.

2. Filamentos intermédios

❖ Aspetos gerais
São designados de "intermédios" porque, no tecido muscular liso onde foram descobertos, o seu diâmetro
(cerca de 10 nm) situa-se entre o dos filamentos finos de actina e os filamentos de miosina mais espessos.
São os filamentos mais resistentes e duráveis do citoesqueleto: resistem a soluções concentradas de sal e
detergentes não iónicos.
Existem apenas nas células de alguns animais.
Formam uma rede, geralmente em todo o citoplasma, circundando o núcleo e estendendo-se para a periferia
celular, participando nas junções das células (desmossomas).
Formam a lâmina nuclear (rede de filamentos), que sustenta e reforça o envelope nuclear em todas as células
eucarióticas.

❖ Estrutura
• Os 2 dímeros apontam em posições opostas, por isso, as 2
extremidades do tetrâmero são iguais tal como as 2 extremidades de
filamentos intermédios polimerizados (não existe polaridade como
nos microtúbulos e filamentos de actina);
• A força combinada das interações laterais ao longo dos filamentos
proteicos confere aos filamentos intermédios a sua grande força de
tensão.

Enrolamento helicoidal de 8 tetrâmeros resultando um


filamento intermédio que se assemelha a uma corda.

• A porção central filamentosa de diferentes filamentos


intermédios são todos semelhantes em tamanho e
sequência de aminoácidos (a.a);
• Assim, o empacotamento resulta sempre em filamentos de diâmetro e estrutura interna semelhante,
• Em contraste, as extremidades filamentosas variam muito em tamanho e sequência de a.a de um tipo de
filamento intermédio para outro (estas extremidades não estruturadas são expostas na superfície do filamento
interatuando com componentes específicos no citoplasma.

❖ Tipos

Existem vários tipos de filamentos intermédios, cada um sintetizado a partir de uma ou mais proteínas
características do tipo. As queratinas são as mais diversas.

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Classificação das proteínas constituintes dos filamentos intermédios

❖ Filamentos intermédios de queratinas

• Os filamentos de queratina são o grupo mais diversificado dos filamentos intermédios.


• Diferentes tipos de epitélios usam diferentes queratinas nos seus filamentos intermédios.
• Existem mais de 20 tipos diferentes de queratinas embora, cada tipo de célula epitelial use no máximo duas
delas.
• Até 85% de peso seco de células epiteliais escamosas pode consistir de queratinas.
• Os filamentos de queratina (resultado de várias subunidades de queratina) vão de uma extremidade à outra
da célula.

❖ Funções

▪ Resistência de células animais

Muito importante nos longos e finos axónios das células nervosas, nas células musculares e nas células
epiteliais da pele.
A mutação nos genes
responsáveis pela formação da
queratina provoca uma doença
genética rara nos seres
humanos designados por
epidermolysis bullosa simplex
em que a pele se torna
altamente vulnerável a lesões
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mecânicas. Qualquer pressão, mesmo que pequena, conduz normalmente à rutura das células provocando
danos na pele (ex. bolhas). A doença pode ser reproduzida em ratinhos transgénicos que expressam na sua
pele um gene mutante para a queratina.

▪ Ligação entre células

• Ligação entre células adjacentes mediante filamentos intermédios através de desmossomas (epitélio com
células coesas entre si formando uma camada contínua de células revestindo um tecido, etc);
• Distribuição do stresse quando as células esticam impedindo-as de rutura.

Nota: As caderinas compreendem uma classe de


moléculas de adesão celular expressa na superfície de
todas as camadas epidérmicas.
A E-caderina é a principal caderina envolvida na adesão
celular epitelial. A redução da sua expressão está
envolvida na progressão de alguns tipos de cancro.

Desmossomas ligam os filamentos de queratina de uma célula aos de outra


(A) micrografia eletrónica (TEM) de um desmossoma unindo duas células na epiderme de um tritão,
mostrando a fixação de filamentos de queratina.
(B) Desenho esquemático de um desmossoma: na superfície citoplasmática de cada membrana plasmática
existe uma densa placa intracelular composta por uma mistura de proteínas ancoradoras. Umas faixas de
filamentos de queratina estão ligadas à superfície de cada placa. A adesão celular é conseguida com bandas
de proteínas caderinas de ambos os lados da membrana citoplasmática.

▪ Suporte e resistência da membrana nuclear (não formam estruturas tipo corda, como as do citoplasma,
mas sim uma rede)
Lâmina nuclear: estrutura que pode ser observada
em TEM, forma uma malha bidimensional entre o
envelope nuclear e as massas de cromatina
condensada em muitas células eucarióticas. Está
associada à membrana nuclear interna e ao lado
interno dos complexos dos poros nucleares, sendo
um componente importante do nucleosqueleto:
1) Fornece suporte mecânico para o núcleo e
envelope nuclear;
2) Promove a associação entre citoesqueleto e nucleosqueleto (facilitando o movimento-migração
nucleares)
3) Envolvida na organização da cromatina, processos de regulação e sinalização.

• Os filamentos intermédios do núcleo despolimerizam* e voltam a formar-se a cada divisão celular (a


membrana nuclear é destruída durante a mitose e volta a formar-se em cada célula-filha).

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• Defeitos num tipo particular de lâmina nuclear estão associados a certos tipos da doença rara - progeria
(envelhecimento precoce: pele enrugada, perda de dentes e cabelo, problemas cardiovasculares graves na
adolescência). Pensa-se que a instabilidade nuclear (por falta da protena lamina) leva a uma diminuição da
capacidade de reparação dos tecidos.
*Fosforilação de laminas por proteínas quinases enfraquece as interações entre os tetrâmeros de laminas e faz com
que os filamentos se desintegrem. Desfosforilação por proteínas fosfatases, no final da mitose, permite que as laminas
sejam remontadas.

❖ Neurofilamentos
Os neurofilamentos são filamentos intermédios que são encontrados ao longo dos axónios dos neurónios dos
vertebrados, onde fornecem força e estabilidade aos longos axónios que as células nervosas usam para
transmitir informações.
A doença neurodegenerativa esclerose lateral amiotrófica (ELA, também conhecida como doença de Lou
Gehrig) está associada a uma acumulação anormal de neurofilamentos no corpo celular e axónios de neurónios
motores. Este acréscimo pode precipitar a degeneração do axónio e a fraqueza muscular observadas nesses
pacientes.

❖ Plectinas
• Os filamentos intermédios são adicionalmente estabilizados e reforçados por proteínas acessórias tais como as
plectinas que interligam os feixes filamentosos em matrizes fortes;
• Estas plectinas ligam ainda os filamentos intermédios a microtúbulos, filamentos de actina e a estruturas
aderentes nos desmossomas.

Complexos proteicos ligam o citoplasma ao núcleo através do envelope nuclear: citoesqueleto liga-se ao
nucleosqueleto ou à cromatina através de proteínas ancoradoras SUN e KASH (responsáveis pelo movimento e
posicionamento do núcleo, dentro do interior da célula, e pela organização geral do citoesqueleto)

Importância das Plectinas ⟶ Mutações genéticas que impedem a produção de plectinas causam uma doença
humana devastadora que combina características:
• epidermolysis bullosa simplex (anomalias na queratina)
• distrofia muscular (anomalias nos filamentos intermédios dos músculos)
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• neurodegeneração (anomalias nos neurofilamentos)


⟶ Ratos sem plectinas morrem alguns dias após o nascimento com a pele coberta de bolhas e deformações nos
músculos esquelético e cardíaco.

3. Filamentos de actina (microfilamentos)


Existem em todas as células eucarióticas e são essenciais para muitos dos seus movimentos, especialmente os
que envolvem a superfície celular.
• Cerca de 5% da proteína total numa célula animal é actina.
• Cerca de metade desta actina está polimerizada em filamentos.
• A outra metade da actina permanece como monómeros no citosol.
• Monómeros da proteína actina polimeriza formando fibras.
• Ao contrário dos microtúbulos e filamentos intermédios, raramente ocorrem isolados, ocorrendo em feixes,
redes, etc. O que os torna mais resistentes que os filamentos individuais.
• São mais finos, mais flexíveis e geralmente mais curtos do que os microtúbulos, mas em maior número na
célula.
• Com cerca de 8 nm de diâmetro constituem os filamentos do citoesqueleto mais finos, pelo que também
podem ser designados por microfilamentos.

❖ Estrutura

(A) filamentos de actina em TEM;


(B) organização dos monómeros de actina num filamento; cada filamento
resulta do arranjo helicoidal de 2 fiadas de moléculas de actina (proteínas
globulares) que a cada 37 nm se repete (interações fortes entre as duas fiadas
previne que se separem);
(C) subunidades idênticas de actina representadas com a mesma cor para
observação da estreita relação entre os monómeros de actina.

• Cada filamento é uma cadeia de monómeros idênticos de actina, que apontam todos na mesma direção ao
longo do eixo;
• Assim, um filamento de actina apresenta uma polaridade estrutural com uma extremidade + e outra – (tal
como os microtúbulos).

❖ (Des)polimerização

• A actina e a tubulina polimerizam por mecanismos semelhantes.


• No citosol, os monómeros de actina estão ligados a
ATP que rapidamente é hidrolisada a ADP após ligação
ao filamento em crescimento.
• A hidrólise do ATP diminui a estabilidade do polímero
de actina.
• As moléculas de ADP permanecem aprisionadas no
filamento de actina e só voltam a transformar-se em ATP
depois do monómero de actina que a transporta se
dissociar do filamento.
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• A polimerização/despolimerização dos filamentos de actina, tal como nos microtúbulos, é essencial para as
suas funções (ex: locomoção).
• Tal como nos microtúbulos, existe um equilíbrio dinâmico entre monómeros e filamentos de actina.

• Os filamentos de actina aumentam de tamanho por adição de monómeros em ambas as extremidades quando
a concentração de actina livre é grande na célula, no entanto, a taxa de crescimento é maior na extremidade
positiva.
• Se a concentração interna de actina livre (no citosol) diminui os monómeros adicionam-se pela extremidade
positiva mais depressa do que a hidrólise de ATP (esta extremidade cresce), enquanto na extremidade negativa
o ATP é hidrolisado mais rapidamente do que a adição de monómeros, levando à perda de monómeros.
• Um filamento de actina por si só é instável e pode despolimerizar de ambos os lados.

❖ Proteínas intervenientes na (des)polimerização

• Existem diversos tipos de proteínas acessórias nas células que se ligam a filamentos/monómeros de actina
condicionando o comportamento destes filamentos
• A presença de pequenas proteínas (i.e. timosina e profilina) que se ligam aos monómeros de actina no
citosol, impedem que estes se liguem às extremidades dos filamentos de actina
• Quando são necessários filamentos de actina, outras proteínas (i.e. forminas, ARPs – nucleating proteins)
promovem a polimerização dos monómeros de actina (ex. formação de lamelipodia)
• Estas proteínas desempenham um papel muito importante na regulação da polimerização/despolimerização
de actina nas células

Nota: toxinas produzidas por fungos ou esponjas marinhas (citocalasina e latrunculina, previnem a polimerização da actina;
faloidina estabiliza os filamentos de actina contra a despolimerização; mesmo em baixas concentrações, “congelam”
instantaneamente os movimentos celulares, como a locomoção celular).

❖ Actin binding proteins (ABP)

Motor proteins - formam feixes contráteis, tal como nas células


musculares; transporte de organelos, especialmente em células
vegetais
Actin binding proteins (ABP) controlam o comportamento dos
filamentos de actina.

❖ Funções

• Formam uma banda concentrada imediatamente por baixo da membrana plasmática (córtex celular)
conferindo resistência mecânica e forma à célula.
• Constrição/separação de 2 células durante o processo de citocinese (divisão citoplasmática).

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• Geram correntes citoplasmáticas em algumas células quando associadas a proteínas motoras que
transportam organelos dentro das células.
• Geram movimento em células como os glóbulos brancos (neutrófilos), amibas, por deslizamento sobre
superfícies.
• Interagem com filamentos de miosina (espessos) nas fibras do músculo esquelético conferindo contração
muscular.
• Intervêm na fagocitose.

❖ Localização e função

(A) Microvilosidades em células do lúmen intestinal – filamentos de actina em associação com proteínas
formando feixes;
(B) feixes contráteis no citoplasma – «músculos» da célula;
(C) saliências do tipo lamelar (lamelipodia) e do tipo filiforme (filipodia) – fagocitose e movimentação;
(D) anel contrátil na zona de separação de 2 células-filha (citocinese) nas células animais

Nota: os movimentos dependentes de actina geralmente requerem a associação da actina com a proteína motora chamada
miosina.

❖ Movimento/deslizamento celular
• Os mecanismos moleculares subjacentes ao deslizamento de células englobam alterações coordenadas de
numerosas moléculas em diferentes regiões da célula e não um simples órgão locomotor (ex. flagelo, cílio).
• O processo de locomoção pode ser dividido em 3 etapas:
- A célula cria protuberâncias do lado para o qual se está a movimentar;
- Estas protuberâncias aderem à superfície sobre a qual a célula se desloca;
- O resto da célula arrasta-se para a frente por tração nos pontos de ancoragem.
Estas 3 etapas envolvem filamentos de actina embora de modo diferente.

• O crescimento do longo axónio dos neurónios baseia-se na emissão de filipódios (50 μm) permitindo
estabelecer o caminho correto até ao alvo.

(A) esquema de um fibroblasto mostrando


protuberâncias achatadas (lamelipódia) e finos
prolongamentos (filipódia) na frente da célula.
(B) Observação em SEM de um fibroblasto humano
em cultura; à medida que a célula avança, os
lamelipódia que não conseguem se fixar ao
substrato são arrastados para trás, sobre a
superfície superior da célula.

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Isa Silva_Lic. Bioquímica_23-24

Nota: filipódia e lamelipódia são estruturas exploratórias que se formam e retraem com grande velocidade, (movem-se à
velocidade de 1 μm/s).

Forças geradas no cortex celular (rico em actina), movem a célula para


a frente: novos pontos de ancoragem são estabelecidos na frente da
célula e os antigos são libertados atrás, à medida que a célula avança. O
mesmo ciclo é repetido uma e outra vez, movendo a célula para frente
de forma gradual.

Uma proteína integrina muda para uma conformação ativa quando se liga a moléculas em ambos os lados da
membrana plasmática.

❖ Actin biding proteins determinam o tipo de prolongamento (lamelipodium ou filipodium)

(A) Queratinócito de célula de rã com lamelipódia; (B) esquema da formação de lamelipódia


• Nucleação de novos filamentos de actina (vermelho) mediada por complexos de ARP (verde);
• Os ARP ligam-se a filamentos de actina pre-existentes;
• A estrutura ramificada resultante empurra a membrana plasmática para a frente;
• As extremidades + dos filamentos de actina são protegidas por proteínas de cobertura (azul).

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• As extremidades – mais próximas do centro da célula despolimerizam continuamente por ação de


proteínas despolamirizadoras (não representadas).
• Algumas bactérias patogénicas polimerizam filamentos de actina para se moverem dentro das células que
elas invadem.
Nota: No caso dos filipodia, a proteína envolvida é a formina que se liga à extremidade do filamento
promovendo a formação de feixes não ramificados de actina (a formina também atua na formação dos
feixes não ramificados no anel contráctil (citocinese de células animais).

❖ Actin biding protein – miosina (proteína motora)

(A) Miosina-I tem uma cabeça globular que liga a um filamento


de actina e uma cauda que liga a outra molécula ou organelo.

(B) Este arranjo permite que a cabeça da miosina mova uma


vesícula relativamente a um filamento de actina (que neste caso
está ancorado à membrana plasmática).

(C) Miosina-I pode também ligar-se a um filamento do córtex


celular, levando a membrana plasmática a uma nova forma (nota: a
cabeça da miosina desloca-se em direção à extremidade + do
filamento de actina).

Estrutura e função dos principais organelos

Os principais organelos da célula

Nota: os pequenos grânulos negros são agregados de glicogénio e as enzimas que controlam a sua síntese e
degradação

Células do intestino contém os organelos básicos

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▪ Núcleo:
(a) Rodeado por uma dupla membrana-envelope nuclear.
(b) Comunica com o citosol através de poros nucleares no invólucro nuclear.
(c) A membrana externa do invólucro nuclear é contínua com a membrana do retículo endoplasmático.
(d) Maior organelo celular nas células eucarióticas.

▪ Retículo endoplasmático (RE) rugoso:


(a) Sistema membranar de sacos e tubos interligados que geralmente se estende por quase toda a célula.
(b) Principal local de síntese de novas porções membranares na célula.
(c) Extensas zonas de RE têm ribossomas ligados ao lado citosólico da membrana – RE rugoso.
(d) RE rugoso – sintetizam ativamente proteínas que são inseridos na membrana do RE ou lançados no
lúmen do RE.

▪ Retículo endoplasmático (RE) liso:


(a) Não tem ribossomas associados.
(b) Existe em pouca quantidade em muitas células, mas rapidamente se desenvolve em outras para
desempenhar determinadas funções (ex: 1 – local de síntese de hormonas esteroides em algumas
células endócrinas das glândulas supra-renais; 2 – nas células do fígado, é onde uma variedade de
moléculas orgânicas tóxicas, incluindo o álcool, são convertidas em substâncias não tóxicas).
(c) Em muitas células eucarióticas, também sequestra Ca2+ a partir do citosol; a libertação e reabsorção do
Ca2+ a partir do RE está envolvido na contração muscular e outras respostas a sinais extracelulares.

▪ Aparelho de Golgi:
Geralmente situado próximo do núcleo, recebe proteínas e lípidos do RE, modifica-as e envia-as para outras
partes da célula.

▪ Lisossomas:
Pequenos sacos de enzimas digestivas que degradam organelos já “em fim de linha” bem como
macromoléculas e outras partículas adquiridas pela célula por endocitose.

▪ Endossomas:
A caminho dos lisossomas, os materiais resultantes da endocitose têm que passar por uma série de
compartimentos, os endossomas. Estes últimos rastreiam as moléculas ingeridas e reciclam algumas delas
enviando-as de novo para a membrana plasmática.

▪ Peroxissomas:
São pequenos organelos que contêm enzimas (oxidases) que degradam os lípidos e destroem as moléculas
tóxicas produzindo peróxido de hidrogénio (água oxigenada). Este último composto, tóxico para a célula, é
por sua vez decomposto pela catálase.

▪ Mitocôndrias e cloroplastos:
(a) Mitocôndrias e cloroplastos (apenas células vegetais) estão rodeados por uma membrana dupla.
(b) São locais para a fosforilação oxidativa e fotossíntese, respetivamente.
(c) Ambos contêm membranas internas que são altamente especializadas na produção de ATP.

Nota:
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1 – Muitos dos organelos, incluindo RE, aparelho de Golgi, mitocôndrias e cloroplastos estão ligados ao
citoesqueleto, especialmente a microtúbulos.
2 – Os filamentos do citoesqueleto fornecem trilhos que permitem o movimento dos organelos próximos
deles direcionando a circulação de vesículas entre organelos, com a ajuda de proteínas motoras.

Nº de organelos e volume ocupado/célula

(a) Em média, todos os organelos de uma célula


eucariótica ocupam cerca de metade do volume
da célula;

(b) Numa célula típica de mamífero, a área do


RE é 20-30 × maior do que a membrana
plasmática;

(c) A membrana plasmática é apenas a mais


pequena membrana na maioria das células
eucarióticas.

Isolamento de organelos

(a) Centrifugação diferencial permite


separar os organelos;
(b) Após obtenção de uma amostra
purificada de um organelo as suas
proteínas podem ser identificadas;
(c) Em muitos casos, o próprio organelo
pode ser incubado em tubo de ensaio sob
condições que permitam estudar as suas
funções;
(d) Mitocôndrias isoladas podem
produzir ATP, da oxidação do piruvato em
CO2 e H2O, desde que sejam
adequadamente fornecidos ADP, fosfato
inorgânico e O2.

Evolução dos organelos

Membranas nucleares e as membranas do RE, aparelho de Golgi,


endossomas e lisossomas provavelmente tiveram origem na
invaginação da membrana plasmática.
RE, aparelho de Golgi, peroxissomas, endossomas e lisossomas
fazem parte do que é chamado de SISTEMA ENDOMEMBRANAR.
Os interiores desses organelos comunicam extensivamente entre
si e com o exterior da célula por meio de pequenas vesículas que
se formam num dos organelos e se fundem com outro.

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Nota: O desenho hipotético explica por que razão o núcleo é rodeado por uma membrana dupla.

Mitocôndrias e cloroplastos provavelmente originaram-se de maneira diferente

Diferem de todas os outros organelos porque possuem os seus próprios pequenos genomas e podem produzir
algumas das suas próprias proteínas.
A semelhança dos seus genomas com os das bactérias, e a grande semelhança de algumas de suas proteínas
com proteínas bacterianas, sugere fortemente que ambos os organelos evoluíram a partir de bactérias que
foram englobadas por células eucarióticas primitivas com
as quais viveram inicialmente em simbiose.
Como seria de esperar, de acordo com as suas origens, as
mitocôndrias e os cloroplastos permanecem isolados do
extenso tráfego vesicular que liga o interior da maioria dos
outros organelos.

Nota: Cloroplastos originaram-se de forma semelhante, após as


mitocôndrias, a partir de uma bactéria fotossintética.

Antes de uma célula eucariótica se dividir, tem de duplicar os seus organelos

(a) À medida que as células crescem, os organelos crescem pela incorporação de novas moléculas;
(b) Após divisão dos organelos, estes são distribuídos entre as duas células filhas, durante a divisão celular;
(c) O crescimento dos organelos requer um suprimento de novos lípidos para produzir mais membrana e um
suprimento de proteínas apropriadas – tanto proteínas membranares quanto proteínas solúveis que
ocuparão o interior do organelo;
(d) Nas células que não estão em divisão, também as proteínas são produzidas continuamente;
(e) Direcionar as proteínas recém-fabricadas para o seu organelo de destino, é necessário para que a célula se
divida, cresça ou apenas se mantenha em funcionamento.

Incorporação de proteínas pelos organelos (via citosol e/ou via RE)

(a) Nas mitocôndrias, cloroplastos e no interior do núcleo, as proteínas são entregues diretamente do citosol;
noutros organelos, incluindo o aparelho de Golgi, os lisossomas, os endossomas e a membrana nuclear
interna, as proteínas e os lípidos são entregues indiretamente através do RE, que é em si um importante
local de síntese de lípidos e proteínas.
(b) As proteínas entram no RE diretamente do citosol: algumas são lá retidas, mas a maioria é transportada
por vesículas para o aparelho de Golgi e depois para a membrana plasmática ou para outros organelos.
(c) Os peroxissomas fazem uso de ambas as vias, embora adquiram algumas de suas proteínas de membrana
no RE, a maior parte das suas enzimas digestivas resulta diretamente do citosol.

As proteínas são transportadas para os organelos por três mecanismos


Quando um organelo envolvido por membrana importa uma proteína solúvel em água para o seu interior –
seja do citosol ou de outro organelo – enfrenta um problema: a proteína deve ser transportada através de sua
membrana (ou membranas), que normalmente é impermeável a macromoléculas hidrofílicas. A forma como
esta tarefa é realizada depende do organelo.

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1. As proteínas que se movem do citosol para o núcleo são transportadas através dos poros nucleares, que
penetram nas membranas nucleares interna e externa. Os poros funcionam como portas seletivas que
transportam ativamente macromoléculas específicas, mas também permitem a difusão livre de moléculas
menores (mecanismo 1 na figura abaixo).

2. As proteínas que se movem do citosol para o RE, mitocôndrias ou cloroplastos são transportadas através
da membrana do organelo por translocadores de proteínas localizados na membrana. Ao contrário do
transporte através dos poros nucleares, a proteína transportada geralmente deve se desdobrar para que o
translocador a guie através do interior hidrofóbico da membrana (mecanismo 2 na figura abaixo). As
bactérias possuem translocadores de proteínas semelhantes na sua membrana plasmática, que usam para
exportar proteínas do citosol para o exterior da célula.

3. As proteínas que se deslocam do RE – e de um compartimento do sistema endomembranar para outro –


são transportadas por um mecanismo que é bastante diferente. Essas proteínas são transportadas por
vesículas de transporte, que se separam da membrana de um compartimento e depois se fundem com a
membrana de um segundo compartimento (mecanismo 3 na figura abaixo). Nesse processo, as vesículas
de transporte entregam proteínas de carga solúveis, bem como as proteínas e lípidos que fazem parte da
membrana da vesícula.

Signal sequence direcionam proteínas para o destino certo


Signal sequence: 15 a 60 aminoácidos, ligadas no “terminal N”

Nota: (a) as sequências de sinal são necessárias e suficientes para


direcionar uma proteína para um destino específico;
(b) as sequências de sinal que especificam o mesmo destino podem
variar muito, embora tenham a mesma função: propriedades físicas
como a hidrofobicidade ou a colocação de aminoácidos com carga
muitas vezes parecem ser mais importantes para a função destes sinais
do que a sequência exata de aminoácidos.

Técnicas de DNA recombinante podem ser usadas para alterar o destino de duas proteínas: se a signal
sequence for removida de uma proteína ER e ligada a uma proteína citosólica, ambas as proteínas serão
reatribuídas ao local esperado e inadequado.

Cloroplastos e mitocôndrias colaboram para fornecer metabolitos e ATP


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(a) Nas plantas, os cloroplastos e as mitocôndrias colaboram


para fornecer às células metabolitos e ATP.
(b) A membrana interna do cloroplasto é impermeável ao
ATP e ao NADPH que são produzidos no estroma durante as
reações luminosas da fotossíntese. Essas moléculas são
canalizadas para o ciclo de fixação de carbono (Ciclo de
Calvin), onde são usadas para produzir açúcares.
(c) Os açúcares resultantes e os seus metabolitos são
armazenados no cloroplasto – na forma de amido ou gordura – ou exportados para o resto da célula vegetal.
(d) Nas mitocôndrias os açúcares entram na cadeia de produção de energia que termina na síntese de ATP.
(e) Ao contrário dos cloroplastos, as membranas mitocondriais são permeáveis ao ATP.
(f) Parte do O2 libertado para a atmosfera pela fotossíntese nos cloroplastos é usado para a fosforilação
oxidativa nas mitocôndrias; da mesma forma, parte do CO2 libertado pelo ciclo do ácido cítrico nas
mitocôndrias é usado para fixação de carbono nos cloroplastos.

(g) Ambos os organelos contêm o seu próprio genoma (DNA e o


necessário para replicar esse DNA, produzir RNA e proteínas).
(h) A matriz mitocondrial e o estroma cloroplastidial – contém
DNA e um conjunto especial de ribossomas.
(i) A membrana interna mitocondrial e a membrana interna
tilacoidal contém os complexos proteicos envolvidos na produção
de ATP.

Cloroplastos dos Briófitos e Plantas Vasculares são numerosos por célula, de formato discoidal;
Cloroplastos das algas são em nº reduzido ou em número elevado, formato variado (característica com valor
taxonómico). Não apresentam a ultraestrutura encontrada nas plantas terrestres, poderão apresentar tilacoides
não agrupados em grana.
Tal como as mitocôndrias, os cloroplastos contêm o seu próprio ADN, reproduzem-se dividindo-se em dois.

Ambas as fases da fotossíntese dependem dos cloroplastos.


O ciclo de fixação do carbono (Ciclo de Calvin) consome ATP e
NADPH para formar gliceraldeído 3-fosfato a partir do CO2 e
da H20.

Cloroplastos podem conter grandes quantidades de carboidratos e ácidos gordos

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Açúcares gerados pela fixação de carbono podem ser


armazenados como amido ou consumidos para produzir
ATP.
O gliceraldeído 3-fosfato gerado pela fixação de carbono
no estroma do cloroplasto pode ser utilizado de diversas
maneiras, dependendo das necessidades da planta.
Durante períodos de atividade fotossintética excessiva,
grande parte do açúcar é armazenado no estroma do
cloroplasto e convertido em grãos de amido ou gotas de gordura.
À noite, esse amido e gordura armazenados podem ser decompostos em açúcares e ácidos gordos, que são
exportados para o citosol de acordo as necessidades metabólicas da planta.
O gliceraldeído 3-fosfato exportado dos cloroplastos para o citosol também pode ser convertido em muitos
outros metabolitos, incluindo o dissacarídeo sacarose. A sacarose é a principal forma pela qual o açúcar é
transportado entre as células de uma planta: assim como a glicose é transportada no sangue dos animais, a
sacarose é exportada das folhas através do sistema vascular para fornecer carboidratos ao resto da planta.

Tipos e interconversão de plastídios


▪ Cromoplastos: cenoura (caroteno), tomate (licopeno), acumulação de
pigmentos carotenoides;
▪ Amiloplastos: especializados em acumulação de amido, abundantes nos
órgãos de reserva (batata), mas também em frutos (grãos de trigo e milho);
▪ Etioplastos: desenvolvem-se a partir de proplastídios. São céls
desenvolvidas na obscuridade: plantas estioladas ou por regressão do sistema
membranar mantido na obscuridade por longos períodos de tempo); possuem
um corpo lamelar, não produzem clorofila, mas sim grande quantidade de um
precursor da clorofila-protoclorofilídido;
▪ Gerontoplastos: resultam da senescência dos cloroplastos, apenas
desenvolvem processos catabólicos.

▪ Nota: leucoplastos têm estroma denso, poderão evoluir em amiloplastos,


oleoplastos ou proteinoplastos (ex: junto ao núcleo das células companheiras dos estomas).

► A formação dos amiloplastos obedece a uma deposição concêntrica. As camadas consistem em complexos
cristalinos de amilose e amilopectina arranjados radialmente (anéis de crescimento) a partir de um ponto inicial de
deposição - hilo, que pode ser central ou acêntrico (ex. tubérculo da batateira).

► A zona externa de cada camada consiste principalmente de amilose e amilopectina de elevado peso molecular,
enquanto a região interna consiste principalmente em amilose de baixo peso molecular.

► Deteção do amido (a frio): Na presença de soluto de lugol (solução de iodo e iodeto de potássio), o amido forma
um complexo amido-iodo de cor azul-arroxeada. Esta cor é resultante do tipo de enrolamento da amilose (mantêm
os átomos de iodo no interior das suas hélices).
Ao aquecer o complexo amido-iodo, a cor azul desaparece e reaparece após arrefecimento.

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▪ Os estomas são capazes de detetar uma infinidade de sinais ambientais para ajustar adequadamente o poro
estomático, a fim de regular as trocas gasosas dentro e fora dos órgãos da planta, isto é, funcionam como “
válvulas de turgescência”. Estão equipados com uma estrutura de parede e fisiologia únicas, propriedades
que se tornam funcionalmente coordenadas no movimento estomático Mudanças na
turgescência do estoma induzem alterações na sua forma e provocam abertura e fecho
do poro estomático.

▪ Os estomas apresentam 2 tipos: células em forma de rim (presente na maioria das


famílias) e em forma de haltere (apenas nas Poaceae e Cyperaceae) (Fig. 1b,c).

▪ Células estomáticas em forma de rim


São caracterizados pela presença de maiores espessamentos nas paredes ventrais (VW)
bem como de arranjos de microfibrilhas de celulose (CM) altamente ordenados nas suas
paredes. As paredes periclinais (EPW; IPW contêm arranjos radiais de CM (Fig. 1b),
convergindo nas bordas do poro estomático. As CM nas paredes ventral e dorsal (DW e
VW) são orientados anticlinalmente. As CMs radiais são de fundamental importância,
não apenas para a modelagem do estoma, mas também para a movimentação
estomática.

▪ Células estomáticas em forma de haltere


São caracterizados pela presença de maiores espessamentos nas paredes dorsais e
ventrais (DW e VW) bem como de arranjos de microfibrilhas de celulose (CM) altamente ordenadas nas suas
paredes. Possuem um ostíolo estreito com paredes periclinais intensamente espessadas e duas
extremidades bolbosas de paredes finas (Fig. 1c). Nessas células, as CM divergem das bordas do ostíolo em
direção às extremidades bolbosas, enquanto os das paredes periclinais do ostíolo tendem a ser longitudinais.

Nota: Periclinal ⟶ paralelo à superfície do órgão


Anticlinal ⟶ perpendicular à superfície do órgão

O citoesqueleto controla todos os principais fenómenos morfogenéticos dos complexos estomáticos


• Filamentos de Actina (AF)

Os estomas alteram a organização do seu citoesqueleto cortical em resposta a fatores ambientais externos,
induzindo o movimento estomático.
Nos estomas abertos, os filamentos de actina (AF) corticais abaixo das paredes periclinais estão dispostos
radialmente ao redor do ostíolo (Fig. 14), um arranjo semelhante ao dos microtúbulos.
Nos estomas fechados, os AFs radiais são desintegrados. Longos feixes de AF corticais e subcorticais
exibindo várias orientações substituem as matrizes de AF radiais.

O ião Ca2+ inicia mudanças na abertura estomática e regula a atividade


de muitas proteínas de ligação à actina.
Os níveis citosólicos de Ca2+, as atividades da proteína quinase (PK) e da
proteína fosfatase (PP) medeiam a reorganização de AF induzida por ABA
(ácido abcísico) em estomas de Commelina communis (Fig. 14 ).

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Investigadores sugerem que a ruptura radial da FA envolve a ativação de quinase (s) sensível (s) à
estaurosporina, enquanto a formação do arranjo radial de FA envolve a atividade da (s) fosfatase (s)
sensível (s) à caliculina A.
Além disso, o tratamento com ácido abscísico (ABA) de Commelina communis e Arabidopsis thaliana, que
induz o fecho estomático, interrompe rapidamente as matrizes radiais de FA.

• Microtúbulos (MT)
Durante o dia, estomas abertos retêm MTs radiais bem organizados por baixo das
paredes periclinais, concentrados nas bordas do poro estomático; à tarde e à noite, são
decompostos quando os estomas se fecham.
Este ciclo de MT foi confirmado em estomas vivos de Vicia faba:
(a) microinjetados por tubulina fluorescente;
(b) descritas alterações nos conteúdos de α-tubulina e β-tubulina durante o ciclo
diurno dos estomas;
(c) movimento estomático é regulados pela síntese e decomposição de novo de
moléculas de tubulina nos estomas;
(d) O ABA, que induz o fecho estomático, perturba os MTs nos estomas de Vicia faba, mas não nas células
epidérmicas.

Movimento de cloroplastos: envolvimento de fotorrecetores e filamentos de actina

Os cloroplastos movem-se em direção a uma área irradiada com luz fraca (resposta de acumulação) de uma
maneira que absorve mais luz, permitindo uma fotossíntese eficiente,
mas afastam-se da luz forte quando irradiados diretamente (resposta de
evitação), evitando os danos causados pela absorção do excesso de luz.
A luz fraca, que induz a resposta de acumulação, é percebida pelos
receptores de luz azul fototropina 1 (phot1) e fototropina 2 (phot2) na
membrana plasmática, enquanto a phot2 que medeia a resposta de
evitação induzida por luz forte está provavelmente localizada na
membrana do cloroplasto.

▪ Modelo de movimento do cloroplasto em Arabidopsis thaliana

Tanto phot1 quanto phot2, que medeiam a resposta de acumulação,


estão localizados na membrana plasmática (PM). Phot2 na membrana
externa do cloroplasto provavelmente medeia a resposta de evitação,
porque a quantidade de phot2 no envelope do cloroplasto é muito alta
comparando com o da phot1. Além disso, a resposta de evitação foi
induzida apenas quando cloroplastos foram iluminados com luz forte.
CHUP1 liga-se ao envelope do cloroplasto através do seu terminal N e
também pode ser ancorado à membrana plasmática através de uma
proteína desconhecida (X) ligada à membrana. CHUP1 recruta profilactina (complexo de profilina/actina) e
polimeriza a F-actina inserindo a G-actina entre ela e um filamento de F-actina existente. THRUMIN1 na
membrana plasmática agrupa os F-actina resultantes e fixa-os à membrana plasmática como uma âncora.
Consequentemente, o CHUP1 e o cloroplasto são empurrados pela G-actina inserida, gerando a força motriz
para o movimento de fotorrealocação do cloroplasto. Os filamentos de Cp-actina são despolimerizados na

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extremidade pontiaguda dos filamentos de actina. A seta verde mostra direção do movimento do
cloroplasto.

Organelos de membrana simples

A maioria está envolvido na capacidade da célula de importar matérias-primas e exportar substâncias úteis e
produtos residuais produzidos pela célula. O retículo endoplasmático (RE) é o local onde são produzidos a
maioria dos componentes da membrana celular, bem como os materiais destinados à exportação da célula.
Estes organelos são bastante desenvolvidos em células especializadas na secreção de proteínas.
Pilhas de sacos achatados e revestidos por membrana constituem o Aparelho de Golgi.

Organelos de membrana dupla

As mitocôndrias contêm o seu próprio DNA e reproduzem-se dividindo-se. A membrana interna é largamente
invaginada contendo a maioria das proteínas responsáveis pela produção de energia nas células eucarióticas.

Mecanismo 2 – Transporte através de membranas

• Proteínas desdobram para entrar nas mitocôndrias e cloroplastos


Embora mitocrôdrias e cloroplastos contenham seus próprios genomas e produzem algumas das suas
próprias proteínas, a maioria das proteínas mitocondriais e cloroplastidais são codificados por genes no
núcleo e são importantes do citosol. Essas proteínas geralmente têm uma sequência de sinal que lhes
permite entrar num organelo específico. As proteínas destinadas a qualquer um dos organelos são
translocadas simultaneamente através das membranas interna e externa em locais especializados onde as
duas membranas estão estreitamente opostas. Cada proteína é desdobrada à medida que é transportada, e
a sua sequência de sinal é removida após a conclusão da translocação (figura abaixo).

As proteínas “chaperone” (não


representadas na figura abaixo) dentro dos
organelos ajudam a puxar a proteína através
das duas membranas.

• Proteínas peroxissomais: proveniência do citosol e RE


Os peroxissomas estão repletos de enzimas que digerem toxinas e sintetizam certos fosfolipídios, incluindo
aqueles presentes na bainha de mielina que envolve os axónios das células nervosas.
Esses organelos adquirem a maior parte de suas proteínas por meio de transporte seletivo do citosol. Uma
sequência curta de apenas três aminoácidos serve como signal sequence para muitas proteínas
peroxissomais.
Essa sequência é reconhecida por proteínas recetoras no citosol, e pelo menos uma delas acompanha sua
proteína de carga até o peroxissoma antes de regressar ao citosol. Tal como as membranas das mitocôndrias
e dos cloroplastos, a membrana peroxissomal contém um translocador que auxilia no transporte de
proteínas. Ao contrário do mecanismo que opera nas mitocôndrias e nos cloroplastos, as proteínas não
precisam de se desdobrar para entrar no peroxissoma – o próprio mecanismo de transporte ainda é pouco
conhecido.

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Embora a maioria das proteínas peroxissomais venha do citosol, algumas das proteínas incorporadas na
membrana peroxissomal chegam através de vesículas que se formam no RE.
Síndrome de Zellweger
Mutações que bloqueiam a importação de proteínas peroxissomais podem causar doenças graves.
Indivíduos com síndrome de Zellweger, por exemplo, nascem com anomalias graves no cérebro, fígado e
rins. A maioria não sobrevive além dos primeiros seis meses de vida – reforça a importância crucial dos
peroxissomas e do transporte de proteínas peroxissomais para o funcionamento adequado das células e
para a saúde do organismo.

• As proteínas entram no RE enquanto são sintetizadas


Ao contrário de outros organelos, o RE serve como porta de entrada para proteínas destinadas a outros
organelos, bem como para o próprio RE. Proteínas destinadas ao aparelho de Golgi, endossomas e
lisossomas, bem como proteínas destinadas à superfície celular, entram primeiro no RE a partir do citosol.
Uma vez dentro do lúmen do RE, ou incorporadas na membrana do RE, as proteínas individuais não entrarão
novamente no citosol durante a sua jornada. Em vez disso, eles serão transportados por vesículas de
transporte de organelo para organelo dentro do sistema endomembranar ou para a membrana plasmática.
Dois tipos de proteínas são transferidos do citosol para o RE:
(1) proteínas solúveis em água são completamente translocadas através da membrana do RE e libertadas no
lúmen do RE: são destinadas à secreção (por libertação na superfície celular) ou ao lúmen de um organelo do
sistema endomembranar;
(2) proteínas transmembranares são apenas parcialmente translocadas através da membrana do RE e ficam
incorporadas nela: estão destinadas a residir na membrana de um desses organelos ou na membrana
plasmática.

Ao contrário das proteínas que entram no núcleo, nas mitocôndrias, nos cloroplastos ou nos peroxissomas, a
maioria das proteínas que entram no RE começa a fazê-lo através da membrana do RE antes que a cadeia
polipeptídica tenha sido completamente sintetizada. Isto requer que o ribossoma que sintetiza a proteína
esteja ligado à membrana do RE.
Esses ribossomas ligados à membrana revestem a superfície do RE, criando regiões denominadas retículo
endoplasmático rugoso devido à sua aparência característica de contas quando observadas em microscópio
eletrónico.
Existem, portanto, duas “populações” distintas de ribossomas no citosol:
(1) Os ribossomas ligados à membrana estão ligados ao lado citosólico da membrana do RE (e à membrana
nuclear externa) e produzem proteínas que são translocadas para o RE.
(2) Os ribossomas livres não estão ligados a nenhuma membrana e produzem todas as outras proteínas
codificadas pelo DNA nuclear.

Nota: Os ribossomas ligados à membrana e os ribossomas livres são estrutural e funcionalmente idênticos; eles diferem
apenas nas proteínas que produzem em um determinado momento. Quando um ribossoma está produzindo uma
proteína com uma sequência de sinal RE, a sequência de sinal direciona o ribossoma para a membrana do RE. Como as
proteínas com uma sequência de sinal RE são translocadas à medida que são produzidas, nenhuma energia adicional é
necessária para o seu transporte; o alongamento de cada polipeptídeo fornece o impulso necessário para empurrar a
cadeia em crescimento através da membrana do RE. À medida que uma molécula de mRNA é traduzida, muitos
ribossomas se ligam a ela, formando um polirribossoma. No caso de uma molécula de mRNA direcionando a síntese de
uma proteína com uma sequência sinal do RE, o polirribossoma fica preso à membrana do RE pelas crescentes cadeias
polipeptídicas, que foram inseridas na membrana do RE.

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Ribossomas que traduzem proteínas sem signal sequence ER permanecem livres


no citosol.
Ribossomas que estão traduzindo proteínas contendo uma sequência de sinal ER
(vermelho na figura) na crescente cadeia polipeptídica são direcionados para a
membrana do RE. Muitos ribossomas ligam-se a cada molécula de mRNA,
formando um polirribossoma. No final de cada ronda de síntese de proteínas, as
subunidades ribossómicas são libertadas e voltam ao citosol.

• Uma sequência de sinal ER e um SRP direciona um ribossoma para a membrana do RE

O SRP (signal-recognition particle) liga-se à sequência de


sinal ER exposta e ao ribossoma, retardando assim a síntese
de proteínas pelo ribossoma. O complexo ribossoma-SRP
então liga-se a um recetor SRP na membrana do RE. O SRP é
libertado, e o ribossoma passa do recetor SRP para um
translocador de proteína na membrana do RE. A síntese
proteica recomeça e o translocador começa a transferir o
polipeptídeo em crescimento através da bicamada lipídica.

Mecanismo 3 – Transporte através de vesículas membranares

• Vesículas revestidas de clatrina transportam moléculas-carga selecionadas


A: Formação de vesículas por
endocitose (revestidas por
clatrina); no final o
revestimento da proteína
clatrina desintegra-se e a
vesícula pode fundir-se com
a sua membrana alvo;
B: Formação de vesículas na
membrana plasmática de
uma terminação nervosa; a
dinamina é mutante, logo as
vesiculas revestidas com
clatrina não conseguem separar-se; as moscas com esta mutação ficam paralisadas pois não conseguem
libertar vesículas com neurotransmissores.

Núcleo e informação genética

Núcleo ⟶ identificado pela primeira vez, possivelmente, em 1710, em eritrócitos de anfíbios e aves.
⟶ é limitado por um invólucro, sendo o maior e mais complexo organelo presente, mas células eucarióticas.

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⟶ Funções básicas:
- armazenar, proteger e propagar as informações genéticas (DNA genómico) da célula;
- regular as reações que ocorrem na célula (metabolismo)

➢ Caracterização estrutural do núcleo – Número

Todas as células eucarióticas têm, regra geral, núcleo em dada altura do


seu ciclo de vida.
A maioria das células são uninucleadas.
Alguns tipos de células, em condições normais, possuem mais do que um
núcleo – poliploidia natural: células multinucleadas (ou polinucleadas).

A poliploidia natural atribui-se à elevada taxa metabólica permanente das células em questão.

Células multinucleadas podem representar uma condição desviantes (não permanente)

Exemplos: - Células gigantes multinucleadas ⟶ derivam da fusão de


histiócitos (macrófagos fixos do tecido conjuntivo) que, por vezes,
acompanha reações de inflamação ou a formação de lesões neoplásicas –
poliploidia casual
- Núcleos supranumerários ⟶ em células que sofrem ação
de agentes genotóxicos, resultando em divisões celulares mal sucedidas.

➢ Formação de micronúcleos

Micronúcleo (MN) – pequena massa nuclear (núcleo supranumerário) delimitada por um invólucro nuclear e
separada do núcleo principal
Resulta de um erro de segregação dos cromossomas durante a anafase (da mitose ou meiose), e consuma-se
quando o invólucro nuclear é reconstituído em torno dos cromossomas das células-filhas em telofase.

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A presença de micronúcleos traduz um dano cromossómico estrutural (ação clastogénica) ou disjunção no


aparelho mitótico (ação aneugénica).

A combinação entre o estudo de MN e Fluorescent in situ Hybridization (FISH), recorrendo a sondas específicas
para a região peri-centromérica permite distinguir:
A) MN centrómero +, que contêm o cromossoma inteiro;

B) MN centrómero -, que contém fragmento cromossómico acêntrico .


O MN pode incluir uma mistura de formas transcricionalmente ativas e inativas, mas, na maioria dos casos,
apresenta níveis de atividade transcricional indetetáveis.
Tem sido demonstrada a correlação com a ocorrência de neoplasias.

➢ Caracterização estrutural do núcleo – Número

▪ Células anucleadas também podem ser normais.


O exemplo mais conhecido é o eritrócito dos mamíferos.
A perda do núcleo implica limitações metabólicas e de processos regenerativos, e impede a divisão celular,
reduzindo a sobrevivência da célula (ex. eritrócito anucleado 100-120 dias e nucleado até 600 dias), mas…

Permite que os eritrócitos possam:


- Conter mais Hb e maximizar a capacidade de transportar oxigénio;
- Diminuir o tamanho, o que facilita a circulação;
- Assumir forma bicôncava, o que aumenta a distensibilidade da célula e a superfície de membrana para trocas.

Permite aumentar o metabolismo do


organismo

Como células anucleadas, os eritrócitos dos mamíferos podem ser (e são) substancialmente mais pequenos
que os de outros vertebrados, permitindo:
- Maior velocidade de circulação;
- Maior nº de eritrócitos (e maior quantidade de Hb) por unidade de volume de sangue;
- Maior flexibilidade.
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Exemplo de células vegetais: células


crivosas ou elementos de tubo crivoso
do floema

▪ Células anucleadas anormais


Podem resultar de divisões celulares mal processadas, em que uma das células-filhas não possui núcleo (a
outra fica binucleada).

➢ Caracterização estrutural do núcleo – Morfologia

Frequentemente, acompanha a forma da célula.


Geralmente esférico ou elipsoidal, podendo ser lenticular.

▪ Em condições normais, a forma pode diferir dos padrões.


Exemplo:

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▪ Em condições anormais, a forma pode diferir dos padrões.


Exemplos: Protusões nucleares ⟶ o núcleo deteta o excesso de DNA (na sequência de uma fase S da interfase
anómala) e, através de um processo ativo, concentra-o num ponto da sua periferia

Núcleo picnótico (apresenta a condição de picnose)


- Cromatina extremamente condensada devido a um processo, normalmente, patológico, que reduz o seu
tamanho (pequena massa basofílica)
- Alteração do limite nuclear, com enrugamento

Picnose (= Cariopicnose) ⟶ condensação da cromatina, num processo que pode indicar necrose (morte
celular acidental) ou apoptose (morte celular programada)

Cariorrexe ⟶ Cromatina distribuída de forma irregular (fragmentação), ocorrendo, por vezes, uma acumulação de
grânulos junto ao invólucro nuclear, que leva à degradação do núcleo. Pode ser precedida por picnose (núcleo
picnótico fragmentado), sendo uma expressão típica de apoptose.

Cariólise ⟶ Descondensação da cromatina e dissolução do DNA devido a um aumento de atividade DNase, em que
o núcleo apresenta uma cor desvanecida e uniforme. Pode ocorrer na sequência da cariorrexe e como expressão
mais típica de necrose celular.

➢ Caracterização estrutural do núcleo – Posição


Mantida por sistemas mecânicos citoplasmáticos regulados, que exercem forças sobre o núcleo por meio de
conexões do citoesqueleto com complexos proteicos do invólucro nuclear.
Posiciona-se, tipicamente, ao centro, mas pode posicionar-se excentricamente, dependendo do tipo de célula,
da condição, fase do ciclo celular, estádio migratório e de diferenciação.

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O posicionamento excêntrico deriva de uma alteração da organização citoplasmática, nomeadamente da


acumulação de materiais que se relaciona especificamente com a função da célula.

O núcleo posiciona-se de acordo com a função especializada da célula.


Um posicionamento anormal pode levar a (ou ser um sinal de) alterações na sua função, e disfunção na
polaridade e mobilidade.
Posicionamento excêntrico – variação em função da fase do ciclo celular

➢ Caracterização estrutural do núcleo – Tamanho


- Depende de: espécie, tipo de célula, estado de maturação e fase do ciclo celular;
- Geralmente entre 2 - 10 μm (visível em microscopia ótica), proporcional ao tamanho global da célula;
- Em alguns fungos, tem 0,5 μm (visível somente em microscopia eletrónica);
- Grandes dimensões p. ex. em oócitos de anfíbios (0,4 mm) ou células de coníferas do género Cycas (0,6 mm;
visível a olho nu)

Tamanho do núcleo e ploidia (ploidia = número n de conjuntos de cromossomas de uma célula)


- Haploide ou gamético ⟶ n
- Diploide ou somático ⟶ 2n

➢ Caracterização estrutural do núcleo – Tamanho/Morfologia

Variações em função da maturação celular


A maturação celular é, tipicamente, acompanhada de uma condensação nuclear.
Núcleos maiores (cromatina menos condensada) favorecem a transcrição em células mais jovens.

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Índice de maturidade (IM)


A – eixo menor do núcleo
B – eixo maior da célula
O valor IM decresce quando a célula matura.

Uma avaliação microscópica simples do núcleo (tamanho, forma, estrutura) fornece informações relevantes
sobre a condição das células, e em particular no diagnóstico de neoplasias (ex: cancro do colo do útero).
Imagens citopatológicas de esfregaços de Papanicolau

Citogenética ⟶ Estuda a constituição genética da célula, recorrendo a tecnologias apropriadas, por norma,
centradas no estudo dos cromossomas metafásicos.
⟶ A abordagem mais clássica define cariótipos e avalia alterações numéricas e estruturais nos
cromossomas.

Cariótipo ⟶ Conjunto cromossómico (ou a constante cromossómica) característico de uma dada espécie.
⟶ Representa o número total de cromossomas de uma célula somática.
⟶ O cariótipo humano tem 22 pares de autossomas e 1 par de cromossomas sexuais – 2 cromossomas X
(fêmea) ou 1 cromossoma X e 1 Y (macho).
⟶ Pode ser descrito como 46, XX ou 46, XY ou simplesmente 2n=46.

Representações do cariótipo
▪ Cariograma (= Cariomorfo)

Representado visual dos cromossomas metafásicos com


microfotografia, após coloração.
Os cromossomas são agrupados em pares de homólogos,
numerados e ordenados segundo critérios definidos.
(Cariótipo canino pode ser descrito como 78, XY ou 2n=78.)
Tamanho dos cromossomas ⟶ tamanho médio dos cromossomas
metafásicos na maioria das espécies varia de 5 a 6 µm

▪ Idiograma (idio = próprio)


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Esquema (desenho interpretativo) dos cromossomas (conjunto haplóide) de um


organismo ou espécie.
Pode fornecer informações simples, como o tipo de cromossoma (localização do
centrómero), tamanho dos braços e realçar bandeamentos.
Quer o cariograma, quer o idiograma, fornecem informações substanciais para o
estabelecimento do cariótipo e relativamente à organização dos cromossomas.

Bandeamento de cromossomas:
• Bandas Q ⟶ os cromossomas são submetidos a um tratamento com quinacrina mostarda (substância
fluorescente) e passam a apresentar faixas com diferentes intensidades de fluorescência;
• Bandas G ⟶ os cromossomas são desproteinizados por ação da tripsina e, posteriormente, corados com
Giemsa (de onde deriva o “G”);
• Bandas R ⟶ os cromossomas são tratados com solução alcalina e calor para uma desnaturação controlada
e depois são corados com Giemsa;
• Bandas T ⟶ marcam as regiões teloméricas dos cromossomas.

Deteção de troca de Cromatídeos-Irmãs (Técnica de Arlequim)


⟶ É um evento similar ao crossing-over (típico de meiose), que ocorre entre cromatídeos-irmãs na mitose.
⟶ São visualizadas após exposição das células a 5-bromodesoxiuridina (5-BrdU), um análogo da timidina
(nucleosídeo), por dois ciclos celulares, permitindo a subsequente diferenciação da coloração das cromatídeos-
irmãs.

Deteção de Aberrações Cromossómicas (ACs)


Desvios (estruturais ou numéricos) da norma que afetam os cromossomas
- Aberrações numéricas incluem os casos em que há aumento ou diminuição do número do cariótipo normal
da espécie:
Aneuploidias - aumento ou diminuição de um ou mais pares de cromossomas, mas não de todos
Euploidias - a alteração é múltipla exato do número haploide (n) – afeta todos os pares

- Aberrações estruturais incluem os casos em que um ou mais cromossomas apresentam alterações da sua
estrutura.
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Núcleo – principais componentes

▪ Limite – Invólucro nuclear


▪ Interior: - Cromatina
- Matriz nuclear
- Nucleoplasma
- Nucléolo
- Domínios, corpos nucleares, sub-organelos (organização funcional vs. Estrutural)

Invólucro nuclear

▪ Funções gerais

i) Barreira física entre o citoplasma e o material nuclear – confere individualidade ao núcleo como
organelo:
- Isola espacial e temporalmente fenómenos de replicação, transcrição e processamento de RNA’s
(nucleares) da síntese proteica (citoplasmática)
- Cria um ambiente molecular adequado às atividades tipicamente nucleares

ii) Determina o transporte núcleo-citoplasmático;


iii) Participa na organização espacial da cromatina, na replicação do DNA e na expressão genética.

▪ Estrutura

Inclui 3 elementos estruturais, com um grau de continuidade:


i) Membrana(s) nuclear(es) ⟶ composta por 2 unidades – interna e externa – de natureza
fosfolipídica, que delimitam a cisterna ou espaço perinuclear (em continuidade com o lúmen do Rer)
- Membrana nuclear interna – composição específica de proteínas integrais
- Membrana nuclear externa – tem continuidade com o retículo endoplasmático rugoso (Rer), com o
qual se assemelha bioquímica e funcionalmente
- Alguns autores consideram uma 3ª membrana na zona dos poros (composição proteíca específica)

(Relação com o Rer) A continuidade entre espaço perinuclear e lúmen do Rer facilita a chegada ao
invólucro, por difusão lateral, por exemplo de nucleoporinas e de proteínas integrais da membrana
nuclear interna.

ii) Lâmina nuclear;

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- Composta por polipeptídeos (lamínas A, B, C, D e E), com grande


homologia com os filamentos intermédios do citoesqueleto
- Regula a estrutura do invólucro - auxilia na desorganização e
reorganização do invólucro ao longo do ciclo celular
- Promove a ancoragem dos poros à membrana, e dos cromossomas
à periferia nuclear
- Interface funcional e estrutural entre membrana nuclear interna e
cromatina (interrompida nos poros nucleares) – papel na regulação
da atividade transcricional (repressão) e replicação do DNA (e até na
apoptose).

Elemento de continuidade entre o


citoesqueleto e o cariesqueleto.
Conexões proteicas entre citoesqueleto e a
lâmina nuclear ou cromossomas, que
atravessam o invólucro nuclear.
Laminopatias – causadas por mutações que
afetam as lamínas A e C, criando defeitos
mecânicos na lâmina nuclear, com implicações
funcionais, que originam distrofias musculares,
lipodistrofias, neuropatias, etc.

iii) Poros nucleares

- Pontos de continuidade entre as duas unidades da membrana – “terceira componente da


membrana”.
- Também designados de complexos de poro (NPCs - Nuclear Pore Complexes) - grandes complexos
proteicos (estrutura supra-molecular ~ 400 polipéptidos) de nucleoporinas sintetizadas pelo Rer.
- Facilitam e regulam o transporte nucleo-citoplasmático (bidireccional) – troca de material (ex.
proteínas, complexos ribonucleoproteicos e RNA’s) entre núcleo e citoplasma.

A manutenção do ambiente nuclear adequado depende:


- do transporte núcleo-citoplasmático efetuado exclusivamente através destas estruturas
- da impermeabilidade do restante invólucro nuclear, impedindo a retrodifusão (nos dois sentidos)

Pequenas moléculas (ex. água, iões, açúcares) são transportadas por


difusão (processo passivo)
Macromoléculas (ex. proteínas, RNAs, unidades ribossomais) são
transportadas por um mecanismo seletivo (envolvendo
recetores/mediadores de transporte - carioferinas) e dependente de
energia - transporte ativo.
Quando as macromoléculas interagem com as nucleoporinas, o diâmetro
do poro pode aumentar
de 8-10 para 40 nm.

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Estutura supra-molecular (5 anéis coaxiais + filamentos + nucleoporinas FG)

NPCs – complexo do poro nuclear (macromolecular) envolve 30 a 50 tipos de proteínas


(nucleoporinas).
Os anéis delimitam um canal central cilíndrico ou corpo do NPC (8 - 40 nm de diâmetro) através do
qual ocorre o transporte.
Os anéis são formados por subestruturas (8 subunidades), e são unidos por 8 espiculas, o que
confere ao poro uma simetria octogonal.

Número – proporcional à necessidade de trânsito entre citoplasma e núcleo; varia com a atividade
da célula e durante o seu ciclo de vida
Tamanho – não varia com o tamanho do núcleo (ou da célula)

▪ Adaptações estruturais

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Divisão e ciclos celulares – Etapas e regulação


• Processos críticos dependentes da divisão celular
➢ Crescimento ⟶ o aumento do nº de células permite que um organismo multicelular cresça
➢ Reparação e manutenção ⟶ células danificadas ou velhas podem ser substituídas por meio da divisão
celular, garantindo o bom funcionamento de tecidos e órgãos
➢ Regeneração ⟶ alguns organismos têm a capacidade de regenerar partes do corpo perdidas ou
danificadas
➢ Desenvolvimento ⟶ a divisão celular precisa e controlada é necessária para formar as várias estruturas
do organismo durante o desenvolvimento embrionário e ontogénese
➢ Perpetuação da vida e continuidade genética ⟶ quando as células se dividem, replicam o seu DNA e
distribuem-no uniformemente entre as células-filhas, preservando o código genético e transmitindo-o às
gerações subsequentes de células e organismos. Organismos unicelulares reproduzem-se
assexuadamente por divisão em duas células-filhas.

A capacidade de reprodução ou proliferação é uma característica fundamental das células indiferenciadas.

Quando as células se diferenciam e se especializam em funções específicas, normalmente, perdem a capacidade


de se dividir.

Em alguns tecidos e contextos muitos específicos, células com algum grau de diferenciação podem reentrar no
ciclo celular, e sofre divisão limitada para contribuir para a reparação tecidual.

A maioria dos tecidos possui populações de células menos diferenciadas (células precursoras e progenitoras),
que retêm a capacidade de se dividir e diferenciar.

• Cinética celular ⟶ estudo da proliferação, diferenciação, migração e substituição das células


Modelo cinético das criptas intestinais

População celular distribuída por compartimentos funcionais e uma coluna de


35 células:

1) Todas as células do terço inferior (excluindo a zona de células de


Paneth) proliferam – zona de proliferação;
2) Células nas posições 10-18 podem ou não se dividir – zona
intermédia (“cut-off”);
3) Acima da posição 18 nenhuma célula se divide – zona de maturação.

A proliferação celular é regulada de forma que compense exatamente a perda


de células no tecido.

• Ciclo celular ⟶ tempo compreendido entre a mitose de uma célula e a mitose seguinte de uma ou das duas
células-filhas
⟶ Sequência ordenada de eventos em que a célula duplica o seu conteúdo e depois se divide em duas –
ciclo de duplicação e divisão
⟶ Para além da duplicação do DNA, a célula duplica outras macromoléculas e organelos e,
subsequentemente, duplica em tamanho.

• Fases do ciclo celular ⟶ consideram-se dois grandes períodos (que incluem diferentes eventos/fases):
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Fase M = Mitose (divisão do núcleo) + Citocinese (divisão do citoplasma)

Interfase = fases G1 (gap) + S (síntese) + G2 (gap)

Podem considerar-se 4 fases: M, G1, S e G2

• Controlo do ciclo celular ⟶ as células eucarióticas possuem uma rede complexa de proteínas reguladoras
conhecidas como Sistema de Controlo do Ciclo Celular (SCCC).

⟶ Garante que os eventos ocorrem numa sequência definida e que cada processo é corretamente
concluído antes do início do seguinte – recorre a checkpoints e freios moleculares.

• Componentes do sistema de controlo do ciclo celular


Considera-se dois tipos de maquinaria envolvidos na divisão celular:
i) Produtores de novos componentes da célula em crescimento;
ii) Transportadores desses componentes para os lugares corretos e a sua apropriada distribuição
quando a célula se divide em duas.

O SCCC liga e desliga esses mecanismos nos momentos apropriados, coordenando assim as várias etapas do ciclo
– interruptores moleculares.

Um 1º tipo de interruptores moleculares que regula o “motor do ciclo celular” corresponde a um grupo de
complexos de proteínas cinases e ciclinas.

As proteínas cinases estão sempre presentes nas células em proliferação ao longo do ciclo celular, mas só são
ativadas em momentos específicos, por associação a ciclinas, sendo, por isso, designadas de cinases dependendo
de ciclina (Cdk).

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A posterior inativação das Cdk decorre da degradação das ciclinas do complexo.

• Fosforilação-desfosforilação como mecanismos de regulação da atividade enzimática


A fosforilação (ligação covalente de um ou mais grupos fosfato), catalisada por
cinases, seguida de desfosforilação, catalisada por fosfatases, é um dos mecanismos
mais comuns de regulação da atividade de proteínas, e o SCCC usa esse mecanismo
extensiva e repetidamente.

A fosforilação pode aumentar ou diminuir a atividade da proteína, dependendo do local


da inserção do(s) grupo(s) fosfato e da estrutura da proteína.

• Progressão do ciclo celular dependente de complexos ciclina-Cdk


Cdk distintas associam-se a diferentes ciclinas para desencadear os diferentes eventos do ciclo celular.
Uma vez ativado, o complexo ciclina-Cdk fosforila proteínas-chave na célula, necessárias para iniciar
determinados passos do ciclo celular.

Ao longo do ciclo celular, a concentração de cada tipo de ciclina:


i) Aumenta gradualmente (por transcrição de genes de ciclina e síntese das respetivas proteínas)
ii) Decai abruptamente (por destruição direcionada).

Ao ativar diferentes conjuntos de proteínas-alvo, cada tipo de complexo desencadeia uma etapa de transição
diferente no ciclo celular:

❖ G1-Cdk (complexo com ciclinas G1)


Atua em G1, ajudando a conduzir a célula em direção à fase S (a sua
formação em células animais depende de moléculas sinalizadoras
extracelulares que estimulam a divisão celular).
❖ G1/S-Cdk e S-Cdk (complexos com ciclinas G1/S e S, respetivamente)
Atuam no final de G1, ajudando no lançamento da fase S, e na fase S,
participando na síntese de DNA (fosforilam proteínas reguladoras, o que
permite ativar a transcrição de genes necessários para a replicação do
DNA).

❖ M-Cdk (complexo com ciclinas M)


Inicia a sua ação no final de G2, para desencadear a entrada na fase M, e o fim da sua ação permite a
entrada em anafase.

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A inativação (abrupta) das Cdk decorre da degradação das ciclinas.

A degradação das ciclinas M (durante a fase M) e S depende da enzima complexo promotor da anafase ou
ciclossoma (APC/C), que marca essas proteínas com uma cadeia de ubiquitina, direcionando-as para proteossomas
(complexos de diversas protéases), que rapidamente as degradam.

A ubiquitinação e degradação da ciclina leva a Cdk associada rapidamente a um estado inativo.

A inativação da M-Cdk conduz a eventos moleculares que permitem a conclusão do processo da mitose.

• Regulação da atividade dos complexos ciclina-Cdk


O surgimento e desaparecimento das ciclinas desempenha um
papel importante na regulação da atividade das Cdk.
Embora a concentração de ciclinas aumente gradualmente, os
complexos ciclina-Cdk tendem a ativar-se abruptamente no
momento apropriado.
Assim que os complexos cilcina-Cdk são formados, sofrem uma
modificação que os mantém num estado inativo até que esse
bloqueio seja removido.
A regulação da atividade dos complexos ciclina-Cdk envolve um 2º tipo de interruptor molecular:
fosforilações/desfosforilações e remoção de proteínas inibidoras.

O complexo ciclina-Cdk pode conter fosfatos


inibidores e, para se tornar ativo, a cinase
deve ser desfosforilada por uma fosfatase
específica.
Cinases e fosfatases atuam conjuntamente
para regular a atividade de complexos
específicos de ciclina-Cdk, regulando a
progressão do ciclo celular.

A atividade das Cdks no complexo (ou a sua montagem)


também pode ser bloqueada por proteínas inibidoras de
Cdk.

• SCCC pode colocar em pausa o ciclo celular


Na sequência do feedback obtido nos checkpoints, a pausa permite que a célula “tome decisões” sobre progredir
no ciclo celular ou interromper na fase atual, e aguardar condições mais favoráveis.

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• A transição de G1 para S representa uma encruzilihada para a célula


A célula pode completar outro ciclo celular, fazer uma pausa temporária até que as condições sejam adequadas,
ou sair do ciclo celular, mantendo-se temporariamente ou permanentemente (células definitivamente
diferenciadas) no estado G0.

• A entrada da célula em G0
A saída do ciclo celular pode ser determinada por fatores intrínsecos (programas genéticos) ou
extrínsecos (disponibilidade de nutrientes) à célula.

• Caracterização da célula em G0
Variabilidade: algumas células podem permanecer temporariamente em G0 e reentrar no ciclo celular (ex. a
maioria dos hepatócitos, que podem ser estimulados a proliferar se o fígado for lesado), enquanto outras podem
permanecer em G0 indefinidamente após diferenciação definitiva (ex. neurónios maduros; estado irreversível).

Atividade metabólica: o estado de repouso é apenas em relação ao processo de divisão celular, pois podem
estar metabolicamente ativas, desempenhando funções específicas do seu tipo celular (ex: neurónios ou células
musculares podem permanecer em G0 por longos períodos).

Manutenção celular: células em G0, geralmente, concentram-se na manutenção, reparação e nas funções
especializadas, em vez de se dividirem ativamente.

Responsividade a sinais: células em quiescência temporária (descanso temporário) podem responder a


estímulos ou mudanças no ambiente celular e reentrar no ciclo celular, e retomar a divisão, permitindo o
crescimento, reparação ou regeneração dos tecidos.

• Mitógenos estimulam a divisão celular


Como regra geral, as células de mamíferos só se multiplicam se forem estimuladas por sinais extracelulares
(produzidos por outras células), chamados mitógenos ou fatores de crescimento.

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• Duração do ciclo celular (tempo de geração)


Varia muito entre diferentes tipos de células.
Em áreas proliferativas do organismo humano, o tempo de geração (duração do ciclo celular numa dada
população de células) é de cerca de 24h.
Em células de mamífero, tipicamente, a fase M dura cerca de 1h, o que é apenas uma pequena fração do tempo
total do ciclo celular.

Para se determinar o tempo de geração e a duração das suas quatro fases, podemos usar a autoradiografia, com
precursores de DNA com marcação radioativa, como a timidina tritiada.

• Fase M (mitose + citocinese)


Fase mais visível do ciclo celular, em que os cromossomas estão condensados.
Durante este breve período, a célula reorganiza praticamente todos os seus componentes e distribui-os
igualmente pelas duas células-filhas.
O problema central para uma célula na fase M é segregar com precisão os cromossomas duplicados, de modo
que cada célula-filha receba uma cópia idêntica do genoma.
Com pequenas variações, todos os organismos eucarióticos resolvem esse problema de maneira semelhantes,
organizando dois mecanismos especializados do citoesqueleto:
1 – separação dos cromossomas duplicados (mitose)
2 – divisão do citoplasma em duas metades (citocinese)

O M-Cdk impulsiona a entrada em mitose – único complexo responsável por todos os diversos e intrincados
rearranjos que ocorrem nos estágios inicias:
i) Ajuda a preparar os cromossomas duplicados para segregação
ii) Induz a formação do fuso mitótico (fuso acromático).

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• Qual o risco de feedback positivo associado à ativação de M-Cdk e como é resolvido?


Risco de perda de controlo do processo
Os mesmos complexos M-Cdk que impulsionam a entrada em mitose, ajudam a preparar o terreno para a sua
saída.
O M-Cdk ativado, após um período de atraso, ativa o APC/C, que induz a destruição da ciclina M e,
subsequentemente, a inativação do M-Cdk.

Divisão e ciclos celulares – Morte celular

Morte celular ⟶ ocorre quando a célula deixa de ser capaz de manter as funções essenciais (vitais).

Os processos de morte celular podem ser classificados, de acordo com as suas características morfológicas e
bioquímicas, em: mitose catastrófica, necrose, apoptose, autofagia, entose e senescência.

❖ Mitose catastrófica
Processo oncossupressor – impede a proliferação/sobrevivência de células incapazes de completar
adequadamente o ciclo celular (devido a danos extensos no DNA, problemas com a maquinaria mitótica)
e/ou falha nos checkpoints e interruptores moleculares.
As alterações morfológicas incluem multinucleação, macronucleação e micronucleação (possíveis
consequências de segregação cromossómica errônea).
As alterações primárias podem ocorrer na interfase, incluindo a fase S.
Por vezes, não é considerada uma forma de morta, mas sim uma sinalização irreversível para a morte.

O deficiente desenvolvimento do ciclo celular pode derivar de:


(1) Fontes exógenas, incluindo um grande leque de xenobióticos que alteram a replicação do DNA,
checkpoints, segregação cromossómica e/ou dinâmica microtubular.
(2) Fontes endógenas, como altos níveis de stress de replicação de DNA causados por uma ploidia aberrante
ou por expressão/atividade desregulada de fatores envolvidos na replicação de DNA ou segregação
cromossómica.

Os mecanismos moleculares precisos de deteção das alterações mitóticas não são claros, mas,
presumivelmente, envolvem o p53 (gene supressor tumoral) e caspases (cascata de transdução de sinal que depende da
ativação de CASP2).

A ação da proteína p53 no bloqueio do ciclo celular

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❖ Necrose
Tipo de morte no qual as células sofrem um insulto por fatores exógenos fora do seu controlo (ex: força
mecânica/trauma físico, hipoxia, temperaturas extremas, tóxicos e infeção por vírus líticos).

A libertação passiva do conteúdo celular pode causar dano nas células vizinhas e uma reação inflamatória
local.
Resposta passiva e patológica à injúria celular.
Alterações morfológicas:
- aumento do volume celular;
- agregação da cromatina, picnose, cariorrexe e cariólise;
- desorganização do citoplasma;
- perda da integridade da membrana plasmática e consequente rutura, com vazamento dos componentes
celulares.

❖ Apoptose
Processo essencial para a manutenção e desenvolvimento de organismos multicelulares, sendo importante
para eliminar células supérfluas ou defeituosas (mutações potencialmente perigosas).

Ocorre em situações:
i) Fisiológicas
- Destruição programada de células durante a embriogénese
- Involução de tecidos hormono-dependente
- Manutenção do número de células nos tecidos
ii) Patológicas
- Lesão do DNA (ex: células pré-cancerosas)
- Acumulação de proteínas anormais
- Lesão celular resultante de certas infeções
- Atrofia patológica do parênquima de órgãos após obstrução de ductos

Controlo do número de células

O tamanho do corpo (e dos órgãos) é determinado por três processos fundamentais: crescimento
celular; divisão celular; morte celular.

Cada um dos processos, por sua vez, depende de programas intrínsecos de cada célula, regulados
por sinais das outras células do corpo.

Quando as células deixam de ser necessárias, são eliminadas por apoptose (um dos tipos de morte
programada).

Alterações morfológicas:

- Retração da célula, perda de aderência com a matriz extracelular e células vizinhas, condensação da
cromatina, fragmentação do DNA (cariorrexe), degradação de proteínas nucleares e citoplasmáticas e formação de
projeções em forma de bolha;

- Formação de protusões membranares apoptóticas;

- Fragmentação celular, com formação de corpos apoptóticos (aptossomas).

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Os mecanismos moleculares envolvem uma família de protéases – caspases – produzidas como precursores inativos
– procaspases – ativados em resposta a sinais que induzem a apoptose.

Dois tipos de caspases atuam em conjunto – iniciadores e efetoras – algumas caspases efetoras ativam outras
efetoras, iniciando uma cascata de amplificação proteolítica.

A ativação do programa apoptóticos ocorre do modo “tudo ou nada” e é irreversível.

❖ Autofagia (macro-autofagia)
Processo adaptativo e controlado geneticamente (não serve apenas a morte celular).
Via de morte celular quando a eliminação celular em grande escala é necessária para a homeostasia e os
fagócitos “profissionais” não respondem às necessidades.
Pode servir como mecanismo antienvelhecimento, ao limitar o dano oxidativo. Resposta a stress, resultando
na degradação de componentes celulares danificados ou obsoletos (organelos e proteínas citosólicas), e
constituiu uma via para fornecer materiais aos lisossomas.

Eventos da macro-autofagia:
- Porções do citoplasma são encapsuladas por uma dupla membrana, originando autofagossomas, que
depois se fundem com lisossomas;
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- O conteúdo dos autofagossomas é degradado pelas hidrolases lisossomais.

Autofagia vs Apoptose
A autofagia é considerada por alguns autores como tipo II PCD (apoptose é tipo I PCD).
Em autofagia, os organelos (exceto núcleo) são degradados, enquanto o citoesqueleto é frequente
preservado.
Os estímulos que ativam os dois processos podem ser comuns – atuação em cooperação e estreita
proximidade temporal:
- a autofagia pode preceder a apoptose na histólise tecidual em larga escala (desconstrói as células
internamente, reduz o volume e facilita a quebra de corpos apoptólicos e células mortas pelo fagocitante);
- a apoptose pode preceder a autofagia, dependendo da intensidade do sinal de stress não
fisiológico;
- a autofagia pode ser um mecanismo de back-up durante o desenvolvimento embrionário e quando
a apoptose for deficiente.

Antagonismo – o aporte de nutrientes e sequestração seletiva/reciclagem de organelos danificados por


autofagia, após stress leve, pode suprimir a apoptose.

Sob stress leve, as células do fígado ativam o mecanismo de autofagia para proteger as células do dano
induzido, ao mesmo tempo em que suprimem a apoptose. Quando os níveis de stress aumentam, a via de
apoptose é ativada. Sob condições de stress severo, a necrose ocorre, levando à destruição dos tecidos.

❖ Entose
Descoberta apenas em 2007, é uma forma de “canibalismo” celular descrita em tecidos malignos (diversos
tipos de cancro em mamíferos), envolvendo a ingestão de células viáveis por células não fagocíticas vizinhas
do mesmo (homotípico) ou de outro tipo (heterotípico).
Células vencedoras ingerem e matam as células perdedoras – uma internalização é seguida pela morte das
células internalizadas (chamadas de “células entópticas”).

Desencadeada por:
- Desprendimento das células epiteliais da matriz extracelular;
- Expressão desregulada de miosinas durante a formação de contactos célula-a-célula;
- Diferenças nas propriedades mecânicas;
- Stress metabólico.

Foi proposto recentemente um papel no desenvolvimento e homeostasia tecidual.

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❖ Senescência
Processo multifacetado, não regulado, que envolve a perda irreversível do potencial proliferativo da célula,
após um determinado número de divisões celulares e quando a célula corre o risco de se tornar neoplásica.
Pode ter um papel na embriogénese e na regeneração tecidual.

Triggers (exemplos): - deterioração dos telómeros;


- ativação dos oncogenes (ou inativação de genes oncossupressores);
- danos no DNA (não telomérico);
- perturbações na organização da cromatina;
- fortes sinais mitogénicos.
Alguns autores consideram-na não uma forma de morte celular (pois a célula pode manter-se viável e
metabolicamente ativa), mas um processo que a antecede.

Telómeros ⟶ estrutura que se forma na zona terminal do cromossoma, constituída por proteínas e DNA
não codificante. Sequências pequenas, mas repetitivas de DNA de dupla cadeia com uma porção de cadeia
única. São estruturas protetoras que previnem a degradação e fusões terminais dos cromossomas e que a
porção terminal do DNA seja identificada como danificada, assegurando uma correta replicação.

⟶ Ficam progressivamente mais curtos em cada ronda de replicação


⟶ Funcionam como relógio molecular para as células, que se dividem um nº limitado de vezes
⟶ O encurtamento pode ser contrariado pela telomerase, mas esta enzima não se encontra na
maioria das células somáticas

Características morfológicas: achatamento celular, vacuolização intracelular, aumento celular/nuclear e


alteração da estrutura da cromatina.
Associação ao envelhecimento natural: as células senescentes acumulam-se devido ao aumento da sua
produção, que se combina com a sua ineficiente eliminação.

❖ Apoptose de corpo inteiro


⟶ A morte do Salmão-do-Pacífico e da Cigarra anual, após reprodução, acontece
independentemente da disponibilidade de alimento ou de qualquer outra causa óbvia.
⟶ A razão biológica é que eles cumpriram os seus papéis biológicos e, assim, passaram a
responsabilidade pela sobrevivência da espécie para a próxima geração.
⟶ Como o Salmão e a Cigarra são semelparos (reproduzem-se apenas uma vez), a sua morte é o
destino geneticamente programado.
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