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A Musicoterapia e Suas Interacoes Com Os Ritmos Biologicos PDF
A Musicoterapia e Suas Interacoes Com Os Ritmos Biologicos PDF
São Paulo
2008
VIVIANE ROSE FOWLER
Aprovada em
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Profª Dra. Ivette Catarina Jabour Kairalla
Faculdades Metropolitanas Unidas - Orientadora
_____________________________________________
Profª Ms. Maristela Smith
Faculdades Metropolitanas Unidas – Co-orientadora
______________________________________________
Profª Ms. Cléo Monteiro França Correia
Universidade Federal de São Paulo – Unifesp
_______________________________________________
Profª Ms. Cristiane Amorosino
Faculdades Metropolitanas Unidas
AGRADECIMENTOS
Gostaria de destacar a estimada colaboração da minha orientadora, Profª. Dra. Ivette Catarina
Jabour Kairalla, da minha co-orientadora Profª Maristela Smith e da Profª. Dra. Mirian David
Marques que muito me auxiliaram apontando a melhor direção no caminho em busca do
saber.
Agradeço ao Regente Supremo da Vida e a minha adorada família, a quem dedico este
trabalho.
“Comecemos a pensar em nossos ritmos cotidianos e
descobriremos que existe uma pulsação subjacente a todos,
que nos identifica e nos diferencia dos demais.”
Carlos Fregtman
RESUMO
Este trabalho busca identificar as interações entre a Musicoterapia, ciência que estuda os
fenômenos sonoro/musicais e suas aplicações terapêuticas nos indivíduos, e os ritmos
biológicos, eventos orgânicos que se repetem regularmente nos seres vivos expressando o seu
comportamento como, por exemplo, nos humanos: os batimentos cardíacos, a freqüência
respiratória, as ondas cerebrais, os ritmos de atividades motoras, entre outros.
A Cronobiologia é a disciplina científica que estuda o funcionamento dos ritmos biológicos
endógenos tanto no que diz respeito a sua auto-regulação como em suas relações com os
fatores ambientais.
Sendo assim, foi realizado um trabalho de pesquisa abrangendo as duas áreas do
conhecimento - Musicoterapia e Cronobiologia - visando identificar trabalhos que abordassem
os possíveis efeitos do som e/ou da música sobre a ritmicidade biológica dos indivíduos.
Os resultados demonstraram que os ritmos biológicos podem ter seu comportamento
influenciado por estímulos sonoro/musicais.
O fenômeno que favorece a sincronização, denominado entrainment, é amplamente estudado
na área da Cronobiologia e, na área da Musicoterapia, é utilizado como técnica nas
experiências musicais receptivas.
Pode-se observar similaridades entre as estruturas temporais presentes nos ritmos biológicos e
nos ritmos musicais. Ambos organizam o movimento em um fluxo dinâmico de contração e
dilatação, antecipação, excitação, descarga e relaxamento.
ABSTRACT
This assignment is trying to identify the interaction between musictherapy, the science that
studies the sound and musical phenomena, and their therapeutical applications in the human
beings, and the biological rhythms, organic events that repeat regularly in the beings livings
creature, expressing their behavior like, for exemplo, in menkind: the heart beating, the
respiratory frequency, the brain wave, the rhythms of motor activities, among others.
Cronobiology is the scientific area that studies the endogenous biological rhythms working,
according to their self regulation and their relation with environmental factors.
Because of that, it was made a research covering both knowledgement areas – musictherapy
and cronobiology – trying to find assignments that would include all the possible sound
and/or musical effects about biological rhythmicity from the individuals.
The results showed that the biological rhythmis can have their behavior influenced by sound
and musical stimulations.
The phenomena pro the synchronization is called entrainment and it is widely studied in the
cronobiology area, and in the musictherapy it is used as a technique in the receptive musical
experiences.
It is easy to notice the similarities between the time structures found in the biological rhythms
and in the musical rhythms both organizes the movement in a dynamic flow of contraction
and dilatation, anticipation, excitement, discharge and relaxation.
INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 8
Justificativas......................................................................................................................... 11
Objetivos............................................................................................................................... 12
Fundamentação teórica......................................................................................................... 12
Metodologia.......................................................................................................................... 15
CAPÍTULO 3 – MUSICOTERAPIA
3.1 - Breve Histórico.......................................................................................................... 39
3.2 - A Musicoterapia e o universo sonoro musical.......................................................... 40
3.3 - O olhar musicoterapêutico perante o indivíduo biopsicossocial............................... 44
3.4 - Musicoterapia e Medicina......................................................................................... 49
3.5 - Identidade Sonora – O Princípio de ISO................................................................... 54
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................. 83
GLOSSÁRIO........................................................................................................................ 86
/
LISTA DE FIGURAS
Figura 6 - Relações entre as freqüências dos ritmos cardíaco, respiratório, motor e musical...74
8
INTRODUÇÃO
O tema central deste trabalho é investigar de que forma os estímulos sonoros e/ou
musicais podem estabelecer sincronizações com os ritmos biológicos endógenos e,
paralelamente, quais as possíveis interações entre a Musicoterapia e a ritmicidade biológica
dos indivíduos.
O som é um fenômeno físico que não incide de forma periódica no ambiente gerando
oscilações rítmicas como os ciclos citados anteriormente, porém, dependendo do tipo de
ocorrência, bem como da variabilidade de suas características tais como o volume, a duração,
a intensidade, a altura, o timbre e, principalmente, devido a fatores subjetivos como a
9
O pesquisador Lee Salk defendeu a tese de que um dos primeiros ritmos a influenciar
o comportamento humano é o das batidas do coração da mãe durante o ambiente pré-natal.
Ele argumenta que “os bebês recebem o imprinting auditivo do ritmo cardíaco materno
durante a vida pré-natal, e que tal som continua a ter um papel benéfico para o
comportamento infantil durante a vida pós-natal.” (1973 apud SALK; FITZGERALD;
BUNDY, 1978, p.22)
A teoria do imprinting, descrita pela primeira vez por Lorenz (1935,1937) refere-se a
uma predisposição instintiva do recém-nascido de estabelecer um vínculo duradouro com
quem teve seu primeiro contato, pressupondo-se que os processos vinculares iniciam-se após
o nascimento.
Segundo Thayer Gaston (1968, p. 37), “o ritmo é aquele que organiza e proporciona
energia.” O autor considera o emprego do poder singular do ritmo, para energizar e ajudar a
organizar o comportamento do indivíduo, um dos princípios da musicoterapia.
Para Benenzon (2002, p. 55), “deve buscar-se a base da relação do ritmo e do ser
humano no contato sonoro intra-uterino do feto e a música é a evocação da mãe, é reeditar a
relação com ela e com a natureza.”
A comunicação entre mãe e filho apresenta implicações profundas no que tange aos
registros sonoros. Roederer (2002, p. 265) sugere que:
Para Jourdain (1997, p. 197) “a maioria desses relógios é regulada para durações que
seriam inúteis no caso da música. Mas, recentemente, os cientistas parecem ter identificado
um tipo de relógio diferente, apelidado relógio dos intervalos, que pode fabricar uma ampla
gama de pulsações e é candidato provável a fonte biológica do ritmo musical.
Justificativas
Objetivos
Fundamentação Teórica
Além desse trabalho, foi selecionado, também, o artigo escrito em 1998 pelo Prof.
Dr. Gunther Hildebrandt, fundador da Sociedade Européia de Cronobiologia, intitulado
“Ritmos Biológicos em Humanos e suas Similaridades com a Música” buscando demonstrar
como os processos rítmicos de um organismo humano saudável seguem as leis harmônicas da
natureza presentes, igualmente, na música. (vide seção 4.5, p. 72) Em sua opinião “os
resultados encontrados na Cronobiologia e cronomedicina têm mostrado que o organismo
humano não só possui um design interior complicada em termos de estrutura espacial, mas
também tem um design temporal altamente sofisticado, uma vez que é construído a partir de
inúmeras estruturas rítmicas. Existe, portanto, razão suficiente para procurar estruturas
14
biológicas temporais nos seres humanos que possam ser consideradas equivalentes ou
reagentes às experiências musicais.
Clinical Practice, Research and Training” de Tony Wigram, Inge Nygaard Pedersen & Lars
Ole Bonde (University of Aalborg, Dinamarca), “From Out of the Silence - Music Therapy
Research and Practice in Medicine” de David Aldridge (Prof. Dr. da University of Herdecke,
Alemanha), “Teoria da Musicoterapia” de Rolando Benenzon e “Cadernos de Musicoterapia
2” de Lia Rejane M. Barcellos.
Metodologia da Pesquisa
Os seres vivos são dotados de uma estrutura organizacional que mantém padrões
constantes de movimento oscilatório, ou seja, tudo o que ocorre no organismo obedece a
padrões rítmicos gerados endogenamente.
Esses ritmos, porém, podem ser alterados devido a fatores ambientais como a
presença ou não de luz (ciclo claro/escuro), ciclo das estações do ano, ciclos da lua, ciclo das
marés, e, também, pelos ritmos de outras freqüências e sem correlatos com os ciclos
geofísicos como, por exemplo, ciclos de temperatura, ciclos de alimentação e ciclos de
interação social, apesar destes serem mais difíceis de serem quantificados.
1.1– Cronobiologia
A Cronobiologia é uma ciência que estuda a organização temporal dos seres vivos.
Por organização temporal compreende-se o equilíbrio entre dois fatores: a ritmicidade
endógena (eventos biológicos que se repetem regularmente no organismo) e a reação a
estímulos ambientais (ciclos ambientais).
Outro relato semelhante a esse foi descrito muitos anos depois por Jean Jacques de
Mairan. O pesquisador estudou, em 1729, os movimentos periódicos das folhas de Mimosa
mantidas isoladas de ciclos ambientais de claro/escuro (ibid., p. 33)
Pittendrigh (1981) postulou “que esta ritmicidade seja gerada por um conjunto de
osciladores, os relógios biológicos, assim chamados por possuírem características que
permitem considerá-los análogos a relógios.” (1981 apud PITTENDRIGH; MARQUES &
MENNA-BARRETO, 2003, p. 59)
19
1.2 - Homeostase
O termo homeostasia foi cunhado pelo fisiologista americano Walter Cannon (1871-
1945) e refere-se às “reações fisiológicas coordenadas que mantêm constante a maioria dos
estados do corpo... e que são características do organismo vivo”. LENT (2005, p. 455).
Outros, por sua vez, sugerem “que princípios cronobiológicos seriam entendidos
como uma complementação à homeostasia”. (1979 apud ASCHOFF; MARQUES &
MENNA-BARRETO, 2003, p.49)
No livro Definindo Musicoterapia, Bruscia (1998, p.90) faz uma reflexão sobre os
conceitos de saúde e comenta que “ela existe ao longo de um continuum multidimensional,
em mudança constante, indo do insalubre até a saúde; ela não é um ideal, um estado
dicotômico de homeostase que diferencia o bem estar da doença”. Essa afirmação parece
indicar a necessidade de reavaliação do conceito de homeostase, assim como foi preconizado
pelos cronobiologistas.
O ciclo vigília-sono é um ritmo circadiano comum a vários seres que se repete a cada
dia, em um período que varia de 20 a 28 horas, de acordo com a espécie.
Lent (ibid., p.520) esclarece melhor a nomenclatura utilizada “nos ritmos ultradianos
o período é de horas (menor que um dia), mas a freqüência é alta (vários ciclos por dia). Daí o
prefixo ultra. Nos ritmos infradianos ocorre o contrário: o período pode ser até de meses
(maior que um dia), mas a freqüência é baixa (alguns ciclos por ano). Daí o prefixo infra.”
A sucção apresenta igualmente uma atividade rítmica. Crianças normais chupam seus
dedos numa razão de cinco a quinze sucções consecutivas. Wolff (1967) sugeriu que os ritmos
de sucção refletem a atividade de um relógio endógeno. Crianças que apresentam danos no
cérebro apresentam freqüentemente padrões anormais de sucção. (ibid., p. 24)
Os ritmos estão presentes em nosso cotidiano e, na maioria das vezes, não nos damos
conta de quanto influenciamos e somos influenciados por eles. Recentemente, estudos
científicos sobre relaxamento e meditação estão comprovando que os seres humanos podem
ser capazes de um controle voluntário muito maior do que se pensava anteriormente sobre o
funcionamento do sistema nervoso central e autônomo.
ruído necessário para acordar pessoas adormecidas em várias ocasiões durante a noite.
Descobriram que as pessoas têm maiores dificuldades em acordar durante as primeiras horas
de sono concluindo que o sono no princípio da noite era diferente do sono posterior.
(FITZGERALD & BUNDY, 1978, p.25)
Os dois estados diferentes de sono foram denominados sono de ondas lentas e sono
paradoxal ou sono REM (Rapid Eye Movements). E os vários estágios identificados na
verdade são quatro e acontecem no estado de sono de ondas lentas. Os ritmos das ondas
cerebrais são diferentes durante os estágios do sono.
-Ondas Gama: ondas de alta freqüência, acima de 30 Hz, consideradas como reflexo de
codificação e concatenação temporal entre áreas cerebrais distintas.
-Ondas Beta: entre 13 e 30 Hz no estado normal de vigília, são associadas às atividades
que requerem uma certa concentração.
-Ondas Alpha: entre 8 e 13 Hz, presentes no estado de sonho e na meditação leve,
quando os olhos estão fechados. Essas ondas pulsam através de todo o córtex cerebral.
-Ondas Theta: entre 3 e 8 Hz no estado de sono, mas também nos estados de
meditação profunda. Durante os sonhos lúcidos somos receptivos às informações além da
nossa consciência normal.
-Ondas Delta: entre 0,05 e 3 HZ, presentes durante o sono muito profundo. Foi
observado que o hormônio de crescimento (melatonina) fica estimulado durante esse
período. Esse hormônio é propício à cura e à regeneração dos tecidos.
Hoje se sabe que há sistemas neurais para manter o indivíduo alerta e ativo durante a
vigília, outros para iniciar os fenômenos do sono e controlar a transição gradual pelos estágios
do sono de ondas lentas, outros ainda que disparam os fenômenos do sono paradoxal, e ainda
outros que possibilitam o despertar. Os neurocientistas não querem só identificar os sistemas
moduladores envolvidos nessas operações de controle, mas determinar como eles interagem, e
como são todos controlados pelos sistemas temporizadores circadianos, que em última análise
fazem com que o ciclo funcional se repita a cada 24 horas. (ibid., 2005, p.543)
30
Moraes (1983, p.197) sugere que “o ritmo pressupõe relações temporais e qualidades
envolvidas ciclicamente em três fases sucessivas e recorrentes de fluxo de qualquer tipo de
energia (acumulação, descarga, relaxamento).”
Conforme afirma Menezes (2004, p.19) “sem movimento não pode haver som, e todo
movimento produz som, sejam estes percebidos ou não por nosso mecanismo auditivo.”
Teoricamente existem ondas sonoras de qualquer freqüência, entretanto o aparelho auditivo
humano é sensível somente a sons cuja área de freqüência esteja situada entre 20 Hz e 20.000
Hz. Abaixo de 20 Hz estão os infra-sons e acima de 20.000 Hz os ultra-sons. (SANTOS &
RUSSO, 1988, p.38) Freqüência é o número de vibrações por unidade de tempo ou o número
de ciclos que as partículas materiais realizam em um segundo (ciclos/segundo). Esta unidade
é medida em Hertz.
Como bem pontuou Wisnik (1989, p.21) cabe lembrar que: “em música, ritmo e
melodia, durações e alturas se apresentam ao mesmo tempo, um nível dependendo
necessariamente do outro, um funcionando como o portador do outro.”
Da mesma forma, os efeitos que os elementos sonoros musicais podem vir a exercer
sobre o indivíduo são incontáveis. Sob o ponto de vista dos efeitos psíquicos, pode-se dizer
que “a música é um recurso que faculta a expressão do “eu” mediante simbolismos
aparentemente inocentes (duração, altura, intensidade, timbre, densidade, notas, pausas,
escalas, sistemas, categorias, funções, relações).” (SEKEFF, 2007, p.18)
33
Para que o processo musicoterápico possa cumprir com êxito seu papel de agente
mobilizador e transformador de forças psíquicas e biológicas, entra em jogo:
De acordo com Barcellos (1992, p.20) existem cinco tipos de intervenções musicais
em musicoterapia:
Para concluir serão descritos brevemente conceitos mais abrangentes, portanto mais
condizentes com a visão que a musicoterapia tem da música e de seus três elementos
constitutivos, ritmo, melodia e harmonia.
Assim como o som, o ritmo também é composto por diferentes propriedades: pulso,
acento métrico, desenho rítmico e andamento.
O pulso pode ser definido como uma marcação de tempo regular que se baseia no
princípio da pulsação (movimento de contração e dilatação do coração e das artérias). A
pulsação funciona como uma base constante que sustenta as variações do movimento. Como
relata Jourdain (1998, p.172) “nosso sistema nervoso acrescenta pulsação onde não se
encontra nenhuma.”
Ao que parece, a maioria dos teóricos que estudam as origens da música concordam
com a idéia de que a expressão rítmica precedeu a expressão melódica no que tange às
primeiras manifestações musicais dos indivíduos.
Ribeiro (1965, p.5) descreve que “antes de tudo vive a música pelo ritmo, repetição
de ruídos cadenciados em intervalos iguais: danças ritmadas, poesias ritmadas, cerimônias
religiosas ao compasso dos mais variados ritmos.”
Na opinião de Andrade ( 1980, p.17) “por seu caráter dinamogênico, o ritmo agia
com grande poder sobre a parte física produzindo a absorção do indivíduo pela coletividade.
Na música primitiva havia complexidade rítmica e pobreza melódica.”
Por outro lado, o musicólogo Curt Sachs (in: Jourdain, 1998, p.386) declara que a
organização do ritmo veio muito tempo depois que os homens deram forma melódica à
alegria e ao luto. A idéia sustenta-se no fato de que os bebês aprendem primeiro a melodia
através da modulação dos sons vocálicos. A regularidade rítmica vem anos depois.
37
Zatorre et al. (2006) realizaram um estudo sobre as interações entre o córtex auditivo
e pré-motor dorsal durante a sincronização com os ritmos musicais. Os resultados
demonstraram que a habilidade em perceber o ritmo musical se deve a regularidade da
ocorrência do estímulo, pois, cria-se um padrão de expectativa, ou uma previsão da ocorrência
de um padrão rítmico, com base no anterior, mesmo quando cessa o estímulo, ocasionando
uma antecipação da batida do mesmo.
Os autores relataram que em estudos anteriores foi observado que ritmos que têm
acentuação foram reproduzidos corretamente com maior freqüência do que aqueles sem
acentuação, sugerindo que a acentuação habilita a percepção mais acurada do ritmo.
38
Com relação a esse assunto, Jourdain (1998, p.200) acredita que os modelos rítmicos
são percebidos com mais precisão ao entrarem no ouvido direito e, conseqüentemente, no
hemisfério esquerdo. Sugere ainda, que maiores provas da lateralização do ritmo na esquerda
são fornecidas pela habilidade desigual das duas mãos, ao baterem o ritmo.
Na pesquisa de Zatorre et al. (2006) foi observado que à medida que a acentuação
métrica aumentava, mudanças comportamentais podiam ser medidas pela duração das batidas,
acopladas a uma atividade neural no giro superior temporal posterior e no córtex pré-motor
dorsal vista pela modulação durante essas interações auditivo-motoras.
Foi sugerido pelos autores que o giro superior temporal posterior deve decodificar os
padrões da métrica rítmica, enquanto o córtex pré-motor dorsal deve representar a integração
desta informação auditiva com ações motoras, organizadas temporariamente. Houve também
grande envolvimento de regiões do córtex auditivo secundário bilateral. O córtex auditivo
secundário do hemisfério esquerdo visa às relações entre sucessões de sons. Preocupa-se com
hierarquias de seqüências e desempenha papel de destaque na percepção do ritmo. Lesões no
córtex auditivo secundário podem causar interferências na capacidade de reproduzir padrões
métricos.
Ratey (2002, p.114) adverte que o processo geral de percepção de sons envolve
muitos níveis de processamento e é influenciado pelas experiências do indivíduo.
39
CAPÍTULO 3 – MUSICOTERAPIA
A psiquiatria francesa do século XIX, comandada por expoentes como Philippe Pinel
(1745-1826) e Jean-Etienne Dominique Esquirol (1772-1840) dava início a um tratamento
mais humano aos doentes mentais. Pinel sistematizou o emprego da terapêutica da música nos
hospitais de alienados. (ANDRADE, 1980, P.26) Esquirol, seu discípulo, dizia “ainda que a
música não cure, ela distrai e, por conseguinte, alivia.” (LEINIG, 1977, p. 16)
produziu, por intermédio da Comissão de Prática Clínica, em 1996, uma definição global de
musicoterapia:
Musicoterapia é a utilização da música e/ou dos elementos musicais (som,
ritmo, melodia e harmonia) pelo musicoterapeuta e pelo cliente ou grupo, em
um processo estruturado para facilitar e promover a comunicação, o
relacionamento, a aprendizagem, a mobilização, a expressão e a organização
(física, emocional, mental, social e cognitiva) para desenvolver potenciais e
desenvolver ou recuperar funções do indivíduo de forma que ele possa
alcançar melhor integração intra e interpessoal e conseqüentemente uma
melhor qualidade de vida. (REVISTA BRASILEIRA DE
MUSICOTERAPIA, 1996, p.4)
Assim como Ruud, Bruscia (1998) (in: Wigram 2002, p. 41) também analisou as
práticas clínicas da musicoterapia identificando seis modelos básicos utilizados para estruturar
a experiência musical do cliente:
Na visão de Lécourt (1996 apud Sekeff, 2007, p. 123) “fazendo música, escutando,
cantando, vivenciando, o indivíduo acaba por influir no ritmo de seus pensamentos e
emoções, na harmonia de sua saúde corporal e mental. E é assim que a música pode mudar o
comportamento de uma pessoa.” Dessa forma, pressupõe-se que o trabalho desenvolvido pelo
musicoterapeuta deva seguir uma base teórica coerente com as propostas de intervenção
terapêutica, na qual os recursos sonoro-musicais utilizados contemplem os fenômenos
biológicos, fisiológicos, psicológicos e sócio-culturais da vida humana.
o ser humano não é corpo e mente ou corpo mais mente, nem psique e soma
ou psique e alma, nem matéria e espírito; é um todo; e a Musicoterapia (que,
praticamente, entre todas as especialidades médicas utiliza elementos
abstratos que não se vêem e que somente se percebem com o transcorrer do
tempo) é a técnica que mais se dirige à totalidade do indivíduo.
2. Clínico, para se ter ciência de medicamentos de que faz uso e/ou de outros fatores
relevantes que possam interferir no andamento do processo musicoterápico;
Na seção 4.4 (p. 66), que aborda as interações entre a musicoterapia e os ritmos
biológicos endógenos, serão descritas as variações dentro do método receptivo que parecem
favorecer o arrastamento (entrainment) da ritmicidade dos indivíduos, em função de
determinados estímulos sonoro-musicais.
Além dos quatro métodos descritos, existem ainda, os modelos de musicoterapia que
correspondem a uma abordagem sistemática e abrangente de avaliação diagnóstica,
tratamento e avaliação que inclui princípios teóricos, dentre os quais a visão que o modelo
tem do homem enquanto ser biopsicossocial, indicações e contra-indicações clínicas,
objetivos, orientações e especificações metodológicas e utilização de certas seqüências de
procedimentos e técnicas.
Alvin acreditava que “música é uma criação do homem, portanto, o homem pode ver
a si próprio na música que ele cria”. Na terapia de livre improvisação, clientes e terapeutas
podem improvisar sem regras musicais e a música pode ser uma expressão do caráter e
personalidade do indivíduo. Dentro desse contexto, ocorrem naturalmente descargas
terapêuticas.
Modelo Benenzon
A área da musicoterapia sempre esteve próxima à área da medicina uma vez que
ambas têm por objetivo tratar da saúde do paciente. Desde quando a musicoterapia foi
instituída como profissão, nos anos 50, a National Association for Music Therapy, Inc.
buscou consolidar o trabalho desenvolvido pelos musicoterapeutas aliado às práticas médicas.
“No início, estabeleceu-se uma forte ligação com a área da psiquiatria e, posteriormente, com
outras especialidades como a cardiologia, a ortopedia e a neurologia.” (LEINIG, 1977, p. 16)
50
Se por um lado a complexidade dos elementos musicais (altura, ritmo, timbre, etc.)
dificultava a sistematização dos resultados obtidos nas pesquisas, por outro as medidas físicas
e matemáticas precisas encontradas em sua constituição os tornavam, cada vez mais, alvo do
interesse científico.
Wigram (2002, p. 138) definiu parâmetros na utilização dos elementos musicais tanto
para a estimulação como para o relaxamento musical, dependendo das necessidades
específicas do paciente. Através de pesquisas, constatou que se os elementos musicais são
estáveis e previsíveis o sujeito tenderá a relaxar. Se, por outro lado, os elementos musicais
variarem significativamente no tempo ocorrendo mudanças súbitas e imprevisíveis, o sujeito
deverá manter um nível elevado de consciência e atenção.
De acordo com a sua teoria, os elementos potenciais para a estimulação musical são:
mudanças imprevisíveis no tempo; mudanças imprevisíveis e súbitas no volume, ritmo,
timbre, altura e harmonia; variação na textura da música; dissonâncias inesperadas; acentos
inesperados; timbres irritantes; falta de estrutura e de forma na música; súbitos accelerandos,
ritardandos, crescendos e diminuendos; paradas súbitas na música.
Segundo Maranto (in: Wigram et al , 1995, p. X), a musicoterapia é uma área que
engloba arte e ciência. Os procedimentos sistematizados na prática clínica dependem dos
objetivos terapêuticos a serem alcançados e os resultados obtidos são difíceis de serem
relatados dentro de modelos tradicionais de pesquisa quantitativa. Por essa razão, métodos de
pesquisa qualitativa assim como a combinação de métodos quantitativos e qualitativos devem
ser considerados visando uma análise consistente.
52
Aldridge acreditava que se a mobilidade intestinal é rítmica, parece ser razoável que
a musicoterapia possa restaurar ou promover a flexibilidade rítmica. Assim como o sistema
imunológico que é um ritmo ultradiano. “A música pode promover o arrastamento de vários
sub-sistemas fisiológicos.” (ALDRIDGE, 1996, p.180)
Além desse estudo, o Dr. David Aldridge, PhD., professor de pesquisa clínica da
faculdade de medicina na Universidade de Witten Herdecke, Alemanha, conduziu vários
estudos interdisciplinares nas quais profissionais de diferentes áreas contribuíram para o
levantamento de metodologias adequadas para a pesquisa em musicoterapia relatadas no livro
Musicoterapia Pesquisa e Prática em Medicina, de sua autoria. Editou ainda cerca de dez
livros relatando como a musicoterapia pode ser uma intervenção eficiente em diferentes áreas
médicas.
Wigram (2002, p. 57) relata que a maioria das pesquisas demonstra que os efeitos da
música são maiores quando a música tem mais significado para o ouvinte e que as reações
emocionais à música provocam reações fisiológicas nos indivíduos e vice-versa. O
musicoterapeuta deve observar e considerar essas reações como parte do processo de
investigação sobre o paciente.
54
O princípio de ISO foi desenvolvido pelo psiquiatra americano Dr. Ira Altshuler
(1943) durante suas experiências clínicas, com música, realizadas no Eloise Hospital, EUA,
Hoje, entretanto, essas considerações são bastante contestadas. Não se pode afirmar
que o caráter e o modo (maior ou menor) da obra musical estejam relacionados com estados
de ânimo. Pode-se citar como exemplo a música Tristesse, de Frédéric Chopin, que apesar de
ter sido composta na tonalidade maior, possui um caráter melancólico.
55
Para Benenzon (1987, p.183), “ISO é um fenômeno de som e movimento interno que
resume nossos arquétipos sonoros, nossas vivências sonoras gestacionais intra-uterinas e
nossas vivências sonoras de nascimento e infantis até nossos dias.”
Baseado na teoria de Altshuler (1943), o autor preconiza que para produzir um canal
de comunicação entre terapeuta e paciente o tempo mental do paciente deve coincidir com o
tempo sonoro-musical executado pelo terapeuta.
Para que a interpretação cognitiva e emocional dos dados possa ser processada e
compreendida ocorre o que vários teóricos têm chamado de ligação pelo tempo (time binding)
desses conjuntos de atividade neural localizados em regiões cerebrais distintas. (ibid., p.122)
Conforme foi descrito no primeiro capítulo deste trabalho, os ritmos biológicos são
eventos inerentes a todos os organismos vivos que se repetem regularmente, interagindo entre
si e com o meio ambiente.
Os ritmos sonoros, por sua vez, são elementos inerentes à música que se repetem na
forma de sucessão temporal organizando os valores de duração do som.
Há relações entre música e ritmo humano, pulso e tempo musical pois certos
aspectos da chamada vida interior e da vida física e mental apresentam
propriedades formais similares às da música: esquemas de movimento e
repouso, de tensão e distensão, de preparação, satisfação, excitação e
relaxamento.
Sendo assim, os ritmos biológicos endógenos podem ser alterados pelo ambiente de
duas maneiras distintas. A primeira, através do fenômeno de arrastamento “que envolve
controle de fase e período da oscilação arrastada e, em geral, pode somente ser efetuado
59
dentro de uma faixa de períodos, próximos ao período natural do sistema arrastado.” (1959
apud PITTENDRIGH & BRUCE; MARQUES & MENNA-BARRETO, 2003, p.84)
Segundo Goldman (in: Spintge; Droh, 1992, p. 196): “ressonância pode ser definida
como a freqüência na qual, mais naturalmente, um objeto deseja vibrar. É um fenômeno
cooperativo entre dois objetos diferentes dividindo a mesma freqüência.”
Cabe salientar que neste trabalho não serão abordados assuntos referentes a
ressonância, uma vez que esse fenômeno não é enfocado nas pesquisas realizadas na
cronobiologia . O conceito foi descrito somente no intuito de esclarecer o quanto possível
eventuais dúvidas sobre o tema.
Como foi exposto na seção 1.3 (p. 21), os ritmos biológicos são classificados de
acordo com a sua periodicidade.
Na década de 90, Aldridge (1993, p.19) considerava que “se a música pode
influenciar condições fisiológicas como batimentos cardíacos ou pressão sangüinea, talvez
possa ser usada terapeuticamente para ajudar pacientes com disfunções cardíacas ou
hipertensão.”
62
Mais recentemente, Saperston (in: Wigram et al., 1995 , p. 65) sugere que:
certamente deva ser mais do que pura coincidência o fato de que a extensão
das freqüências instaladas no metrônomo que é utilizado no treino prático da
música, corresponde exatamente a extensão da freqüência das batidas do
coração que ocorrem entre o repouso e a intensa atividade física.
Com relação aos mecanismos de interação é preciso considerar mais uma questão.
Pode ocorrer uma resistência voluntária, por parte do indivíduo ao fenômeno da
sincronização.
Vigotski (1896-1934) sugeria que existem princípios psicofísicos que servem de base
à arte. Em sua opinião, “todo o nosso comportamento não passa de um processo de equilíbrio
do organismo com o meio e, pelo visto, a arte resolve e elabora aspirações extremamente
complexas do organismo.” (VIGOTSKI, 1998, p. 309)
63
O neurologista Oliver Sacks (1986) opina que “por maior que seja o problema
orgânico isso não diminui a possibilidade de reintegração pela arte, pela comunhão, abrindo o
espírito humano e isso pode ser constatado mesmo em estados neurológicos devastados que
aparentam não ter esperança.” (ALDRIDGE, 1996, p.44)
A ciência, por sua vez, busca comprovar hipóteses dentro dos mais rígidos padrões
metodológicos visando garantir a confiabilidade dos resultados tanto nas pesquisas teóricas
quanto experimentais.
podem conduzir a informações mais precisas sobre música estimulante ou relaxante e pode
auxiliar o desenvolvimento de novos modelos de investigação. (ibid., p.62)
A pesquisa de Bason e Celler (1972) demonstrou que quando o pulso audível ocorria
dentro dos limites de variação do ciclo cardíaco, os batimentos poderiam aumentar ou
diminuir em 12% dentro de um período de 3 minutos ou menos. Flutuações nos batimentos
causadas pela respiração permaneceram. Porém, tendiam a ser menores quando o ritmo do
coração estava arrastado pelo estímulo auditivo. Quando o pulso não estava dentro do limite
de variação do ciclo cardíaco nenhuma alteração ocorria. (ALDRIDGE, 1993, p. 19)
Outro estudo realizado por Safranek et. al (1982) sugeriu que atividades musculares
diminuem quando o sujeito realiza tarefas motoras acompanhadas por ritmos musicais
similares aos padrões rítmicos de batimento cardíaco dos mesmos. (ibid., p.20)
Mark Rider realiza pesquisas desde a década de 80, tendo publicado diversos artigos
abordando a técnica do entrainment. Em 1985, realizou uma investigação para verificar se a
aplicação do princípio de ISO na seleção das músicas tocadas durante o relaxamento muscular
progressivo associado a imagens poderiam acarretar mudanças fisiológicas nos sujeitos. Os
resultados demonstraram que músicas selecionadas pelo princípio de ISO foram mais efetivas
na redução da tensão muscular. Nesse mesmo ano, outra pesquisa conduzida por Rider e
colegas demonstrou que música associada a imagem e relaxamento muscular progressivo
resultaram no re-entrainment dos corticosteróides (hormônios do estresse) e temperatura
corporal. (WIGRAM et al., 1995, p.65) Essa pesquisa será descrita resumidamente na seção
4.6 deste capítulo.
(T.E.N.S.) visando promover no indivíduo uma “resposta induzida por freqüência”: fenômeno
que evidencia a modificação das ondas cerebrais, frente a estímulos exteriores, dentre eles o
som, ao qual certas áreas do nosso cérebro tende a adotar o mesmo padrão de freqüência do
estímulo sonoro, após 12 minutos de estimulação em média, bem como, a seguir as variações
do estímulo, se essas forem lentas e progressivas. REVISTA BRASILEIRA DE
MUSICOTERAPIA, 1996, p. 25)
A primeira refere-se a uma pesquisa apresentada, em 2006, pelo Prof. Dr. Hans-
Ullrich Balzer, na conferência internacional intitulada O Impacto da Música – Um Diálogo
das Ciências e das Artes Sobre os Efeitos da Música em Arte, Educação e Medicina, realizada
em Viena. O objetivo do evento era estabelecer um diálogo interdisciplinar entre vários
campos da ciência envolvidos em pesquisas sobre os efeitos da música dentro de seus
específicos contextos. (www.mozart-science.at)
O Prof. Dr. Balzer atua como cronobiologista e diretor científico da Science Network
Man and Music e o seu campo de pesquisa engloba cronobiologia, distúrbios de estresse,
distúrbios do sono e medicina espacial. O trabalho que apresentou na conferência intitulava-se
“Aspectos Cronobiológicos do Impacto da Música” hipotetizando que as respostas dos
indivíduos ao impacto da música podem ser analisadas utilizando-se informações relativas às
mudanças de estados biológicos corporais.
Devido aos recursos terapêuticos e educacionais da música, ele considera ser de vital
importância conhecer de que forma suas funções temporais interagem no organismo.
Hildebrandt afirma que no conjunto, uma investigação mais detalhada das funções
rítmicas corporais mostra que os elementos básicos da música podem ser encontrados em
humanos. Assim como, apresentam os mesmos princípios de organização funcional das
estruturas temporais.
Fig. 06 – Relações entre as freqüências dos ritmos cardíaco, respiratório, motores e musicais.
Fonte: Hildebrandt 2002
Ao final do artigo, Hildebrant conclui que não é possível provar em detalhes de que
forma a organização temporal dos humanos pode reagir a que tipo de música ou estímulo
musical. As experiências realizadas no campo da fisiologia musical e musicoterapia estão, em
parte, limitadas à dimensão das funções vegetativas, ativação motora, sono e alívio da dor. A
investigação da organização temporal em humanos, entretanto, torna claro que, para todos os
elementos básicos da música, aspectos funcionais fisiológicos adequados podem ser
encontrados. Esta consideração expande os pontos de vista e questionamentos da fisiologia
musical e musicoterapia, uma vez que são áreas que estudam os ritmos. As pré-condições
metodológicas relativas a isso já foram investigadas amplamente pela moderna cronobiologia.
Rider (1997) acredita que no mecanismo mente/corpo não somente o corpo afeta a
mente mas a mente pode também controlar o corpo. Com base nos resultados de seus estudos
desenvolveu a teoria homeodinâmica. “Homo” refere-se às similaridades entre corpo e mente,
incluindo canais de comunicação química idênticos, comunicações elétricas idênticas e
organização harmônica idêntica. O cérebro-mente, sistema imunológico e sistema da dor
(corpo) são inter-relacionados uma vez que utilizam as mesmas conexões neurais e se
comunicam através de mensageiros químicos como os neurotransmissores e endorfinas.
Uma vez que a musicoterapia estimula esses mensageiros químicos, pode ser um
recurso efetivo para alterar o humor e a dor.
Em sua opinião, toda atividade elétrica e química no corpo e mente oscila em ritmos.
As ondas cerebrais, os hormônios, os neurotransmissores e o sistema imunológico tem ritmos
circadianos, assim como ritmos mais rápidos e mais lentos, criando uma organização
harmônica. O fato de todos os sistemas em nosso corpo atuarem ritmicamente sugere que os
indivíduos são facilmente arrastados ou alterados através do processo do Princípio de ISO.
O outro artigo que será descrito neste trabalho intitula-se: “Ritmos musicais no ciclo
dinâmico do coração: uma abordagem interdisciplinar e inter-cultural dos ritmos cardíacos.”,
publicado em 1999, por Bettermann e colegas. Essa pesquisa foi selecionada porque, de
acordo com os autores, o método apresentado pode ter um amplo potencial de utilização nas
pesquisas em musicoterapia.
No início do artigo afirma-se que até agora nenhum estudo revelou a ligação entre a
complexa fisiologia e os ritmos musicais. Somente o fenômeno do arrastamento ou a resposta
fisiológica a estímulos auditivos tem sido relatado. A pergunta continua sem resposta: os
complexos ritmos musicais podem ser representados fisiologicamente? A pesquisa procura
elucidar essa questão por meio da aplicação de princípios rítmicos composicionais da música
africana para analisar a sucessão de tempo nos batimentos cardíacos porque, segundo os
autores, a música africana é como a batida do coração: pulsátil e caracterizada por complexos
padrões rítmicos de repetição cíclica.
Os autores sugerem que no futuro, a busca por ligações fundamentais entre ritmos
musicais e fisiológicos pode promover pesquisas interdisciplinares visando esclarecer
aspectos referentes a ritmo, percepção do tempo e estruturas de tempo da vida humana. Uma
estratégia possível seria criar ritmos fisiológicos audíveis através da adequada transformação
dos dados em arquivos de áudio do computador para depois, analisar as respostas fisiológicas
à percepção dos ritmos fisiológicos pessoais. Esse retorno psicoacústico ou ressonância
79
CAPÍTULO 5 – DISCUSSÃO
Além das disciplinas que fazem parte da grade curricular da graduação como:
anatomia, neurofisiologia, neurologia, reabilitação, psicomotricidade, entre outras, faz-se
necessário pesquisar novas áreas do conhecimento como a cronobiologia, neurociência
cognitiva, neuropsicologia e biomusicologia visando aumentar a capacidade de compreender
os aspectos psicofisiológicos inerentes ao cliente/paciente para que ele possa ser atendido em
suas necessidades.
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Está cientificamente comprovado que pacientes com disfunção motora podem ser
beneficiados por meio de técnicas musicoterápicas como, por exemplo, a técnica de
entrainment, na organização dos movimentos.
Aldridge (1993) acredita que “se a música pode influenciar condições fisiológicas
como batimentos cardíacos ou pressão sangüinea, talvez possa ser usada terapeuticamente
para ajudar pacientes com disfunções cardíacas ou hipertensão.”
Com relação à influência dos estímulos sonoro-musicais no ritmo das ondas cerebrais
é necessário considerar que mudanças de freqüências podem promover estados alterados de
consciência, sendo, portanto, de extrema importância, nesses casos, a intervenção de um
musicoterapeuta visando restabelecer o equilíbrio do estado de vigília.
O som e a música são constituídos por vibrações que pulsam em oscilações rítmicas.
O cliente/paciente, por sua vez, é constituído por estruturas físicas e não físicas que vibram,
igualmente em freqüências rítmicas oscilatórias.
Na realidade, não poderia ser diferente porque o tempo é quem fornece a estrutura
para a construção sonoro-musical e, através dessa percepção, o paciente tem a chance de
perceber a si mesmo, ao outro, ao mundo e sentir-se integrado dentro dessa organização.
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GLOSSÁRIO
agente arrastador – ciclo que promove alterações de período em outro ciclo, tipicamente ação
de ciclo ambiental sobre relógios biológicos.
ciclos geofísicos – período gerado por fenômenos geofísicos, como o ciclo noite/dia gerado
pela rotação da Terra em torno de seu eixo.
hemiparético – paciente com fraqueza muscular que incide apenas em uma das metades do
corpo.
sincronização – manutenção de relação de fase estável entre ciclos, podendo ocorrer através
de arrastamento ou mascaramento.