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As Etapas Do Desenvolvimento Do Capitalismo PDF
As Etapas Do Desenvolvimento Do Capitalismo PDF
1 - INTRODUÇÃO:
Nada mais rico do que apresentar o ensaio Revolução Burguesa no Brasil, escrito em
1975, com uma breve citação que caracteriza uma das principais reflexões de Florestan acerca
da relação entre a economia brasileira e a economia mundial, ditada principalmente pelos
países capitalistas centrais:
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Florestan Fernandes, A revolução burguesa no Brasil: um ensaio de interpretação sociológica. 2ª ed. Rio de
Janeiro, Zahar, 1975, p. 413.
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São três questões trabalhadas neste capítulo que vão caracterizar as especificidades do
surgimento do capitalismo no Brasil. Comecemos pela primeira:
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Idem, ibidem, p. 16.
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Tal acúmulo de riqueza mencionado não era a noção de lucro empreendida pela
burguesia. Era a “parte que lhe cabia” no processo geral de mercantilização agrária. Nesse
sentido, seria um “contra-senso” comparar senhor de engenho ao burguês.
Essa idéia é central para entendermos a segunda questão apontada por Fernandes, além
de caracterizar também de forma peculiar a origem da organização e da consciência de classe
no Brasil do século XIX. A segunda questão refere-se à existência ou não de uma revolução
burguesa no Brasil. A busca do autor não é afirmar ou negar, mas sim de buscar os fatores
pelos quais a economia brasileira absorve as características econômicas dos países centrais
capitalistas. Para Fernandes, entender a revolução burguesa no Brasil é compreender as
transformações histórico-sociais que levaram a “desagregação do regime escravocrata-
senhorial e da formação da sociedade de classes no Brasil”4.
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Idem, ibidem, p. 18.
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Idem, ibidem, p. 20
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A terceira questão seria como a noção de burguês e burguesia pode ser localizada nos
fatos históricos que desencadearam o processo de construção da sociedade brasileira.
Nesta parte, Fernandes trabalha com os fatores e agentes econômicos que sob a
construção social heterônomica da Colônia constituem a formação dependente do capitalismo,
levando em conta as duas questões tratadas nos itens anteriores. Isso aponta para a formação
da mentalidade econômica entre o agente interno e o agente externo. Essa dupla articulação
marca uma etapa do capitalismo dependente através do qual o aumento da autonomia interna,
por causa do desenvolvimento embrionário do mercado interno, amplia a idéia de ruptura com
o regime escravocrata e fortifica a defesa da independência nacional, alardeado pelos setores
da congérie social.
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Esses três fatores caracterizam a indirect rule, expressando a dupla face da dominação:
na relação com os países centrais capitalistas, bem como no interior do próprio país capitalista
dependente, executando tal dominação as frações dominantes internas, que seguem
“comportamentos coletivos tão egoístas e particularistas”6.
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Idem, ibidem, p. 223.
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Idem, ibidem, p. 223.
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O surgimento da noção de mercado deve ser feito com base em três enlaces que
caracterizam o tipo de condição histórico-social que se construiu a idéia de mercado no Brasil
e quais foram os pontos que Fernandes chama de “enlaces distintos”, ou seja, os fatores
históricos que se conectam, mas que possuem características específicas. São eles: i) o enlace
da economia interna com o mercado mundial e com o mercado externo hegemônico
(Inglaterra); ii) o enlace do mercado capitalista moderno à cidade e a sua população e; iii) o
enlace do mercado capitalista moderno com o sistema de produção escravista. Este último é
uma analise em que mostra a relação estrutural entre o desenvolvimento do capitalista e
produção escravista, na primeira fase do desenvolvimento capitalista no Brasil.
Essas duas questões-chaves marcam a transição colonial para a fase em que o mercado
dinamiza-se, ou melhor, torna-se capitalista.
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Idem, ibidem, p. 224. Em outros capítulos neocolonialismo foi tratado “para esclarecer os processos histórico-
sociais e econômicos que ocorreram em conexão com a emancipação nacional e a concomitante modernização
institucional”.
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Idem, ibidem. p, 225.
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Idem, ibidem, p. 229
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Idem, ibidem, p. 229.
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“dentro de um mundo escravista”, idéia enfatizada por Fernandes.
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Essa idéia é central para entendermos de que forma a economia brasileira desenvolveu
os mecanismos internos de acumulação de riqueza, uma vez que a articulação com o externo
impulsionava novas transformações e novos dinamismos para o crescimento econômico
nacional.
Por grandes corporações Fernandes entende que são agentes econômicos que operam
“diretamente por meio de filiais, ou mediante concessionárias”14, explorando “a produção e
fornecimento de energia elétrica; operação de serviços públicos, exportação de produtos
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Idem, ibidem, p. 236.
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Idem, ibidem, p. 225.
14
Idem, ibidem, p. 225.
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Idem, ibidem, p. 225.
16
Idem, ibidem, p. 252.
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Apresentamos nesse artigo uma breve análise das fases do desenvolvimento capitalista
no Brasil, com intuito de resgatar pontos, que a nosso ver são centrais para entendermos as
articulações das frações dominantes, sua relação com os países centrais do capitalismo e a
configuração da luta de classes no Brasil.
4 - CONSIDERAÇÕES INTERMINÁVEIS:
Resgatar autores que nos ajudam a entender para transformar é tarefa de quem acredita
que esta ruptura seja possível e necessária. Florestan Fernandes acreditou no ideal concreto da
transformação e procurou compreender o real para contribuir com a superação do modo de
produção capitalista. É neste horizonte que está situada, portanto, a atualidade de sua obra
intelectual militante.
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