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Estudo do

lançamento
oblíquo assistido
por computador

Episódio 4
Matemática e o início da civilização

PROFESSORES
Anderson Pifer Física
Juliano S. Di Siervo Matemática
Sinopse do Programa
O documentário vai ao século XVIII para mostrar a
época em que a Europa se tornou o centro mundial
do pensamento matemático. Nesta época, gran-
des nomes como Descartes, Bernoulli, Newton e
Leibniz perceberam que para compreender como
o mundo funciona, era preciso trabalhar com o que
se move e encontrar meios matemáticos para ex-
plicar os fenômenos da natureza. Nesse momento
especial surgiu o Cálculo e a Matemática Moderna.
Os professores de Física e Matemática, convida-
dos para desenvolverem um projeto interdisciplinar
no programa “Sala de Professor”, apresentaram
uma proposta que utiliza desde a construção de
rampas de madeira até a utilização de avançados
softwares disponíveis na internet.

Apresentação
O documentário mostra que o desenvolvimen-
to da civilização sempre foi acompanhado do
desenvolvimento da Matemática, que, como
disciplina escolar, unirá esforços junto com a
Física para compor este trabalho de estudo do
movimento. A tecnologia será um importante
recurso para que alguns conteúdos abordados
no documentário e ministrados tradicionalmen-
te com base em “giz e lousa”, ganhem mais
significado para ambas as disciplinas e, princi-
palmente, para os nossos alunos.
Um olhar para o documentário
a partir da matemática

A partir do documentário é feita uma abordagem sobre entre o ângulo do canhão e a distância dos soldados
Função Polinomial de 1° e 2° graus e um estudo expe- inimigos. Nesse momento é afligido por um senti-
rimental sobre a curva denominada cicloide. O projeto mento de culpa, pois não queria ser responsável pela
pode ser realizado na 1ª série do Ensino Médio, intro- morte de pessoas. Seu grande medo era descobrir
duzindo funções ou com maior aprofundamento na 3ª “a verdade” sobre a balística e ser responsável por
série do Ensino Médio, trazendo a parametrização. várias mortes, pois não erraria tiro algum. Diante do
dilema, optou pelo trabalho, e, como operador de
Sugerimos que o professor de Matemática não deixe canhão, falava o ângulo de inclinação para cada dis-
de abordar biografia de Descartes, um dos persona- tância do alvo anunciado pelos generais.
gens do vídeo, resgatando seu aspecto humano para
além do grande filósofo e matemático como também Descartes nunca usou sua arma e sempre se ques-
a relação dos problemas cotidianos que enfrentou tionou sobre o motivo de matar os inimigos. Em
com seus trabalhos futuros, como o plano cartesiano. meio a este conflito pessoal e ao viver um grande
misticismo, ingressou na Sociedade Rosacruz,
onde discutiu temas relacionados à transcendên-
cia espiritual e à transmutação da prata em ouro.

Pensando na relação entre o ângulo de inclinação


do canhão e o alcance da bala, o professor poderá
iniciar o trabalho interdisciplinarmente com a Física,
apresentando o lançamento oblíquo e suas equações.

O lançamento oblíquo

O objetivo do trabalho com os alunos é o estudo do


lançamento oblíquo e, tal como Descartes, deter-
minar como o alcance da bala de canhão varia em
função do ângulo de inclinação do canhão. Este é
um estudo clássico em Física que envolve concei-
tos como movimento uniforme (MU) e movimento
uniformemente variado (MUV). A Matemática trará
como suporte a trigonometria na decomposição
de velocidades e na análise da função quadrática.
Retrato de René Descartes (1596-1650).

Como demonstraremos abaixo, a trajetória de


René Descartes, em certo período de sua vida, ente- qualquer corpo lançado com velocidade oblíqua
diado com o cotidiano, buscava aventura. Procurava em relação ao solo, desprezando a resistência
emprego querendo livrar-se da família, e em 10 de do ar, é uma curva chamada parábola, tradução
março de 1619 tornou-se soldado mercenário do geométrica de uma função do segundo grau ou
exército de Maurício de Nassau. Na função de ope- quadrática. Lembramos que Galileu foi o primeiro
rador de canhão, percebeu que existe uma relação a determinar esta curva com exatidão.

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O desenho abaixo descreve a situação.

Como não há ação de força na horizontal, a aceleração nessa direção é nula e, portanto, a velocidade ho-
rizontal vx é constante. Na direção vertical, a ação da gravidade provoca uma aceleração vertical constante
e não nula. Assim, nessa direção, a velocidade vy da bala varia de maneira uniforme.

Decomposição do vetor velocidade da bala do canhão no momento do lançamento.

Decompondo a velocidade inicial do lançamento x = x0 + vx t => x = 0 + v0 .cosα.t => t = x


em termos de vx e vy, temos: v0 .cosα

VX at2 gt2
cos(α) = => V x = V 0 .cos(α) y = y0 + vy t + => y = 0 + v0 .senα.t - =>
Vo 2 2
Vy x g x 2
sen(α) = => V y = V 0 .sen(α) y = 0 + v0 .senα. - .
Vo V0 .cosα 2 V0 .cosα

y = x .tgα - gx2
O movimento horizontal da bala em x é um MU, a
2vo2.cos2α
função horária da posição x = x0 + vxt. O movimen-
to vertical da bala, em y, é um MUV, cuja função da
posição é: Lembre-se de adotar a origem dos eixos ordena-
dos na posição do canhão, assim x0 = y0 = 0.
α.t 2
y = y0 + vyt +
2
Após a dedução da equação, leve os alunos ao
laboratório de informática e valide os resultados
Para determinarmos a curva da trajetória, isto é, utilizando o software de geometria dinâmica Geo-
uma relação de y em função x, y(x), precisamos Gebra (criado pelo austríaco Markus Hohenwarter,
retirar a dependência das funções em relação ao este é um software educativo e gratuito que busca
tempo. Para isto, isolamos a variável t na primeira integrar a geometria, com a álgebra, o cálculo, a
função horária e a substituímos na segunda. estatística, e outros).

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No campo de entrada do programa, digite os parâ-
metros da equação da trajetória, por exemplo:

α = π ; v = 30; g = 10 , supondo lançamento a 45˚, veja mais


4
com velocidade inicial de 30m/s e aceleração da
gravidade local de 10m/s2. Função quadrática. Disponível em: <portaldoprofes-
sor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.html?aula=3072>.

GeoGebra. Disponível em: <www.geogebra.org/


Ainda no campo de entrada, digite a equação cms>. Acesso em 14 de novembro de 2012.
encontrada e varie o ângulo para observar os pos-
síveis trajetos da bala de canhão.

Tela do programa GeoGebra com o gráfico da trajetória para ; vo = 30 m/s; g = 10 m/s2.

MATERIAL ETAPAS

Televisão e DVD ou Projetor Multimídia para Reflexão sobre a vida e obra de René Descartes;
transmissão do documentário;
Aplicação dos conceitos matemáticos na de-
Projetor Multimídia para explanação da História dução da equação da trajetória de uma bala de
de René Descartes; canhão em função de seu ângulo de inclinação;

Laboratório de Informática para o trabalho com Análise dos parâmetros encontrados.


as equações da trajetória.

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Um olhar para o documentário
a partir da física

A partir do documentário é feita uma abordagem a


respeito do estudo do movimento em que são tra- MATERIAL
tados conceitos de cinemática. Esse estudo será
feito por meio da análise da gravação de vídeos
Computador;
de objetos em movimento pelo software Tracker,
disponível gratuitamente na internet. Câmera de vídeo (máquina fotográfica, webcam,
celulares etc.).
A análise feita com o software permite o acom-
panhamento da evolução das grandezas físicas e
a construção de gráficos em tempo real a partir
da gravação do vídeo. Esta análise quantitativa é
fundamental para a construção do conhecimento ETAPAS
físico em atividades experimentais.
Apresentação teórica do lançamento oblíquo;
A realização de experimentos em aulas de Física
mediados por tecnologias educacionais livres apre- Gravação e análise dos vídeos de objetos em
sentam, em geral, flexibilidade de uso e baixo custo, movimento com o programa Tracker.
compatíveis com a realidade educacional brasileira.

Esta atividade experimental de análise do mo-


vimento pode ser aplicada nas três séries do
Ensino Médio, sendo limitada apenas pelo tipo de veja mais
movimento escolhido para o estudo. Recomen-
da-se o uso principalmente no 1º ano, em que,
tradicionalmente, encontram-se os conteúdos de Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.
gov.br/fichaTecnica.html?id=22741>.
cinemática e dinâmica.
Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.
Como exemplo para o trabalho interdisciplinar, gov.br/fichaTecnica.html?id=11673>.
sugerimos a análise do movimento oblíquo, sen-
Tracker Brasil. Disponível em: <http://dafis.
do pré-requisito o conhecimento do movimento ct.utfpr.edu.br/tracker/>. Acesso em 14 de
uniforme e uniformemente variado, bem como a novembro de 2012.
decomposição de vetores.

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UMA CONVERSA
ENTRE AS DISCIPLINAS

Nesta atividade propomos o estudo do lançamen- e cada grupo deverá construir o lançador de projé-
to oblíquo. Descrevemos, a seguir, a construção teis e realizar a gravação e análise do movimento.
do lançador de projéteis e a utilização do progra- Os resultados obtidos podem ser confrontados
ma Tracker para a análise desse movimento. Este para a posterior discussão e conclusões.
trabalho pode ser realizado em grupos de alunos,

Construção do lançador de projéteis

Apresentaremos apenas uma sugestão na Neste lançador utilizamos um tubo de PVC de 2” de


construção do lançador de projéteis, mas sua diâmetro e 22cm de comprimento. Nele foi feito um
confecção e os materiais utilizados dependerão rasgo longitudinal de 4mm de largura por 13cm de
da criatividade e da dedicação do professor ou comprimento. Na parte frontal do tubo e na mes-
do grupo de alunos, caso a tarefa seja solicita- ma direção longitudinal do rasgo, foram colocados
da a eles. dois parafusos diametralmente opostos (figura a).

Detalhes do tubo de PVC do e êmbolo móvel.

O êmbolo lançador foi feito com uma tampinha A base do lançador foi feita com placas de ma-
plástica (em vermelho na figura) com o mesmo deira de 1” de espessura (figura g e h), e o me-
diâmetro interno do tubo. Deverão ser prendidos canismo articulador com tubos de PVC de 5/4” é
nele dois arames encurvados para trás (figura b), constituído por três segmentos (figuras d). A par-
onde será preso o elástico ou a mola de tração. te central é preparada para receber a base que
Em seu centro foi fixada uma haste cilíndrica de fixará o lançador (figura f) com 10cm de compri-
madeira de 18cm de comprimento e 6cm de diâ- mento. Os anéis das extremidades têm 4cm de
metro (de cor preta nas figuras b e c), que servirá comprimento e um rasgo na direção longitudinal
de puxador. O tubo foi fechado na extremida- para o encaixe no mecanismo central (figura e).
de com outra tampinha plástica com um orifício Estes anéis serão fixados na base lateral de ma-
central para a haste (figura c). deira em uma abertura feita para eles (figura h).

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Detalhes da base articuladora do lançador.

Detalhes da base.

Um transferidor é fixado no eixo central de maneira para permitir a leitura do ângulo de inclinação
(figura j).

Detalhes do transferidor fixado no eixo central.

A seguir são mostradas figuras com as partes a serem montadas e a fotografia do lançador pronto.

Esquema de montagem do lançador na base articulada.

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Procedimento experimental Execução do programa
Como dissemos, o programa Tracker permite re- Na sequência, será exposto um procedimento
alizar a análise de vídeos quadro a quadro, sendo passo a passo para o uso do programa.
possível o estudo de diversos tipos de movimen-
tos a partir de filmes feitos com câmeras digitais � Na tela inicial do Tracker clique ARQUIVO,
ou telefones celulares. É um software livre ligado ABRIR e escolha o vídeo a ser carregado no
ao projeto Open Source Physics - relacionado programa;
ao desenvolvimento de programas com códigos � Na sequência, é necessário criar os eixos. Para
abertos destinados ao ensino de Física. isto, clique no ícone EIXOS (em rosa na barra
de ferramentas). É aconselhável que o ponto
Um procedimento típico para o uso do Tracker
inicial do movimento coincida com a origem
consiste na organização do experimento e na
dos eixos. Assim, após clicar no ícone, basta
filmagem do movimento de interesse. Em se-
mover os eixos até o ponto de interesse;
guida, transfere-se o arquivo de vídeo para o
programa (que deve estar previamente insta- � Ao lado direito do ícone dos EIXOS, encon-
lado no computador) e faz-se a marcação dos tra-se o ícone FITA MÉTRICA (em azul). Para
pontos quadro a quadro. Os procedimentos estabelecer o padrão de distâncias, deve-se
necessários são explicados em detalhes nos clicar na fita métrica e arrastar as duas pon-
manuais presentes no programa. tas da fita que surgirá na tela para as extre-
midades do padrão de medida utilizado na
filmagem (por exemplo, uma régua colocada
Instalação do software
no plano de fundo);
Faça o download do programa Tracker gratui- � Em seguida, deve-se ir ao ícone NOVO e
tamente a partir do endereço disponível em: criar um novo PONTO DE MASSA. Isto per-
<http://www.cabrillo.edu/~dbrown/tracker/> e mitirá marcar as posições consecutivas do
instale-o em seu computador. objeto em estudo;
� Na parte inferior da tela inicial, na extrema di-
Captura do vídeo
reita, encontra-se um ícone denominado CLIP
O local para a filmagem é muito importante, e SETTINGS, que serve para escolher o ponto
três fatores principais devem ser levados em inicial e final do vídeo a ser analisado e o “ta-
conta: iluminação, plano de fundo e a cor do manho do passo” dos frames (esta opção é
objeto a ser filmado. É importante que haja um importante caso a memória RAM do compu-
bom contraste entre o objeto móvel (que pode tador seja pequena). Note que o intervalo tem-
ser uma bolinha ou um carrinho em miniatura, poral entre dois eventos depende do número
por exemplo) e o plano de fundo. Durante a de frames por segundo da máquina utilizada
filmagem, recomenda-se que a câmera fique para as filmagens. Ao clicar em CLIP SET-
imóvel e com o campo de visão amplo, lem- TINGS, pode-se selecionar os quadros inicial
brando que é possível filmar todo o movimen- (start frame) e final (end frame) do movimento;
to do objeto em estudo ou apenas detalhes � Após demarcados o intervalo de tempo e os
das partes que interessam ao experimento. quadros a serem analisados,deve-se marcar
cada ponto do vídeo. Para isto é preciso, a
As análises realizadas com o Tracker têm como
partir do início do movimento selecionado,
base dimensões espaciais (comprimentos, altu-
segurar a tecla shift e clicar no ponto deseja-
ras, etc.) relativas e, para tal, é necessário colo-
do. Este primeiro clique irá selecionar a posi-
car um padrão de tamanho conhecido na cena
ção inicial. Será criado, assim, o primeiro par
de filmagem, uma régua, por exemplo. Ao rodar
de pontos (posição e tempo). Em seguida,
o programa, a visualização e a marcação de um
o próximo quadro será mostrado e deve-se
comprimento padrão se fazem necessárias e
clicar (mantendo a tecla shift pressionada)
este programa corresponderá a certa quantida-
no objeto, a fim de marcar o segundo pon-
de de pixels no filme; é deste modo que o pro-
to. Este procedimento deve ser repetido para
grama pode estabelecer distâncias reais.
cada frame até o fim do movimento. Cada
Antes de executar o programa, o arquivo de ví- marcação irá produzir um par de pontos (po-
deo com o experimento deverá ter sido gravado. sição e tempo). O conjunto destes pontos

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será armazenado pelo programa, o que tornará � Ao fim da marcação, o Tracker gera, à direita
possível a análise do movimento; da tela, uma tabela e um gráfico com os da-
� Caso seja necessário, o botão direito do mouse dos. Estes dados poderão ser analisados com
dá acesso a um comando de zoom que pode auxílio do próprio programa ou poderão ser
auxiliar na visualização do objeto, tornando a exportados para outros aplicativos.
marcação dos pontos mais precisa;

Resultados obtidos

A imagem a seguir mostra a análise do movimento para um lançamento a um ângulo de 45º com a
horizontal. Utilizamos uma bolinha de tênis de mesa como projétil. Embora essa bola seja bastante
leve, os resultados não foram comprometidos devido à resistência do ar, provavelmente por causa
das pequenas velocidades envolvidas.

Tela principal da análise do movimento.

Ao clicar duas vezes sobre o gráfico, uma nova tela será mostrada. Nesta tela podemos utilizar a fun-
ção FIT para que o programa faça uma curva de regressão linear, e FIT NAME para ajustar a melhor
curva a ser esboçada.

Tela de análise do gráfico.

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Análise dos resultados

A fim de estudar com mais detalhes o movi- t x y


mento gravado, analisaremos os gráficos e as 0,033 -0,002 0,002
funções criadas pelo programa para x(t), y(t) e 0,067 -0,094 0,09
y(x), em que x é a direção horizontal (note que 0,1 -0,203 0,185
a orientação padrão é positiva para a direita), e
0,133 -0,318 0,271
y é a direção vertical. A tabela e os gráficos são
0,167 -0,433 0,341
gerados diretamente pelo programa.
0,2 -0,54 0,396
0,234 -0,641 0,436
x 0,267 -0,746 0,466

-0,2 0,3 -0,85 0,483


0,334 -0,951 0,493
-0,4
0,367 -1,048 0,485
-0,6
0,4 -1,146 0,47
-0,8
0,434 -1,243 0,444
-1,0 0,467 -1,339 0,405

-1,2 0,5 -1,434 0,359

-1,4
0,534 -1,516 0,306
0,567 -1,609 0,238
-1,6
0,601 -1,689 0,168
-1,8
0,634 -1,785 0,074
0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50 0,55 0,60 0,65
0,667 -1,872 -0,027
t
Gráfico x(t).
Tabela com resultados obtidos.

y v

0,45 0,45

0,40 0,40

0,35 0,35

0,30 0,30

0,25 0,25

0,20 0,20

0,15 0,15

0,10 0,10

0,05 0,05

0 0

0,05 0,10 0,15 0,20 0,25 0,30 0,35 0,40 0,45 0,50 0,55 0,60 0,65 -1,8 -1,6 -1,4 -1,2 -1,0 -0,8 -0,6 -0,4 -0,2 x
t
Gráfico y(t). Gráfico v(x).

Análise física e matemática dos resultados

Esta etapa da atividade é uma ótima oportunidade Através do gráfico de x(t) nota-se a linearidade
para os professores de Física e Matemática mos- da função. A inclinação desta reta nos revela
trarem a relação entre estas duas disciplinas. Em seu coeficiente angular, que também pode ser
especial, optamos pela linguagem do cálculo ao obtido derivando-se a função.
nos referirmos às derivadas de uma função. Em- x(t) = -2,97t + 0,07 (em unidades do SI)
bora esta não seja uma abordagem convencional
no Ensino Médio, sua inclusão poderia despertar vx = dx = -2,97m/s
interesse e motivação nos alunos. dt

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A interpretação física é de que essa derivada A altura máxima atingida é de 0,486m e ocorre a
nos mostra a velocidade constante na direção 0,953m da origem.
horizontal. A resultante das forças nesta dire-
ção é nula, e o movimento é uniforme. O sinal A derivada segunda d 2 y/dt 2 nos mostra o co-
negativo desta velocidade se deve simples- eficiente angular desta reta, fisicamente esta é
mente ao referencial escolhido. a aceleração do projétil. Como nesta direção a
resultante das forças é o próprio peso, a ace-
O alcance horizontal pode ser obtido fazendo leração do projétil é a aceleração do campo
y(t) = 0, para encontrar o instante final do mo- gravitacional g.
vimento e substituir este valor na função x(t):
d 2y
y(t) = -5,02t2 + 3,46t - 0,11 = 0 => t = 0,671s = α = -10,04m/s 2
dt 2

x(t) = x(0,671) = -1,923m

O alcance horizontal é de 1,923m a partir Comparando esta aceleração obtida com o valor
da origem. esperado g = 9,80m/s2 temos um erro de 2,45%.

A direção vertical é representada pelo gráfico Também podemos estudar a curva obtida pelo
de y(t). Esta é uma função polinomial do 2º gráfico y(x), que nos mostra a trajetória descrita
grau que mostra como y varia em função do pelo projétil no plano vertical. A partir de sua de-
tempo t. Sua derivada primeira d y /d t nos for- rivada, também obtemos a máxima variação da
nece uma função que expressa a inclinação da curva em função de x.
reta tangente a um dado ponto nesta curva.
y(x) = -0,57x2 - 1,07x
y(t) = -5,02t2 + 3,46t - 0,11
dy = v = -10,04t + 3,46 dy = -1,14x - 1,07 = 0
y
dt dx
x = 1,065m
Na interpretação física, a derivada primeira de y
revela a velocidade do projétil na direção vertical. y(x) = y(1,065) = 0,493m
A altura máxima atingida pelo projétil pode ser
obtida quando esta derivada é nula ou quando
a velocidade nesta direção é igual a zero, assim Assim, por outra maneira, encontramos a altura
que o projétil inverte o sentido do movimento. máxima igual a 0,493m, que ocorre a 1,065m de
distância da origem. Estes valores concordam mui-
dy = v = -10,04t + 3,46 = 0 => t = 0,3446s to bem com os resultados obtidos anteriormente.
y
dt
y(t) = y(0,3446) = 0,486m Este software oferece incontáveis possibilidades
de uso para a análise não só da cinemática do
x(t) = x(0,3446) = 0,953m
movimento, mas também da dinâmica envolvida.

Demonstração da tautócrona e braquistócrona

Outro assunto abordado no documentário foi e sob a ação da gravidade gastando o menor
a curva de nome braquistócrona. A história tempo possível para atingir outro ponto mais
conta que o matemático suíço Jean Bernouilli baixo da trajetória. O problema foi espalhado
apresentou um problema que logo despertou por carta aos maiores matemáticos da época.
o interesse de seus colegas. Tratava-se de Descobrir qual é a curva que possui o tempo
achar a forma de uma rampa para que uma de descida mais curto é o mesmo que resolver
partícula deslizasse por ela a partir do repouso o problema da braquistócrona.

12 episódio 4: matemática e o início da civilização sala de professor


A solução foi rapidamente encontrada por vá- A cicloide é uma curva muito interessante, que
rios deles, como Leibniz, Isaac Newton e os é a curva traçada por um ponto qualquer da
próprios irmãos Bernouilli. Todos indicaram borda de uma roda que rola sem deslizar por
que a curva mais rápida, ou braquistócrona um plano horizontal. Um exemplo da aplica-
(brakhisto = mais ligeiro, chronos = tempo), ção deste conceito pode ser encontrado nas
deveria ser um arco de cicloide. pistas de skate.
A cicloide é também a solução de outra ques-
tão interessante, o “problema da tautócrona”
(tempo igual). Em uma curva deste tipo, se
soltarmos duas esferas simultaneamente de
Retilínea duas alturas distintas, ambas chegarão ao
ponto mais baixo da rampa ao mesmo tempo.
Para construir uma prancha com a braquistó-
Braquistócrona crona e/ou a tautócrona, basta reproduzi-las
utilizando um software matemático - como o
GeoGebra - traçá-las em material manipulável
(como o isopor) e fazer a experiência utilizan-
Rampas braquistócrona e retilínea.
do esferas pequenas, como bolinhas de gude.

Construção da cicloide utilizando o software GeoGebra. Tutorial da construção disponível em: <http://www.youtube.
com/watch?v=Ktgt5nZGOM8>.

sala de professor episódio 4: matemática e o início da civilização 13


Em uma placa de madeira são fixados dois MATERIAL
“trilhos” de isopor. Um deles na forma de Lançador de projéteis
uma reta e o outro na de uma cicloide (a
braquistócrona). As pequenas esferas são
mantidas nos pontos mais altos das curvas 30cm de tubos de PVC 2” e 5/4”;
e liberadas ao mesmo tempo. Com o plano Placa de madeira 40X40cm;
da prancha na vertical, o tempo de queda é
muito curto e fica difícil observar qual das Cola, tesoura, régua, lâmina de serra, elástico;
esferas chega primeiro. Pode-se, então, re- Computador;
petir a experiência com a prancha inclinada,
diluindo a aceleração e facilitando a obser- Câmera de vídeo (máquina fotográfica, webcam,
vação. Essa variação possibilita que o pro- celulares etc.).
fessor chame a atenção para o fato de que o
resultado independe do valor da aceleração
da gravidade. O experimento, se feito na
Lua, teria o mesmo desfecho. Analogamen-
te pode-se construir a tautócrona fazendo
sua modelagem em isopor e fixando-a em
uma tábua de madeira.
MATERIAL
Construção da braquistócrona
A avaliação pode ser feita individualmente
ou em grupo, de acordo com o número de
2 tábuas de madeira;
alunos na turma. Como esta atividade tem
caráter efetivamente interdisciplinar, sugeri- 2 placas de isopor;
mos que a avaliação seja feita contemplan-
do alguns critérios: relatório do experimento Cola, tesoura, régua, lâmina de serra;
com os resultados obtidos (textos gráficos e Computador;
tabelas), organização no processo e cumpri-
mento dos prazos. 2 bolinhas de gude.

ETAPAS veja mais

Exibição do vídeo; Lançamento oblíquo. Disponível em: <http://


portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnicaAula.
Apresentação conceitual e demonstração da html?aula=19764>;
braquistócrona;
Movimento de projétil. Disponível em: <http://
Construção do lançador de projéteis; portaldoprofessor.mec.gov.br/fichaTecnica.
html?id=11673>.
Filmagem do lançamento;

Análise do movimento no computador;

Discussão sobre os resultados.

14 episódio 4: matemática e o início da civilização sala de professor


SUGESTÕES DE LEITURA E OUTROS RECURSOS

Livros e Revistas
BEZERA JR, A. G. et al. Videoanálise com o software livre Tracker no laboratório didático de Física: movimento parabólico
e segunda lei de Newton. Caderno Brasileiro de Ensino de Física. 29 (Especial 1): p. 469-490, setembro de 2012.

CARVALHO, Anna Maria P. (org.). Ensino de Ciências: Unindo a Pesquisa e a Prática. São Paulo: Pioneira Thompson
Learning, 2003.

DESCARTES, René. Discurso do Método / Meditações. Tradução por Roberto Leal Ferreira. São Paulo: Martin Claret, 2008.

FAMAT em Revista. Modelagem Matemática das Pistas de Skate. Minas Gerais: Universidade Federal de Uberlândia,
n. 10, abril de 2008.

NÓBRIGA, J. Cassio C. Aprendendo Matemática com o GeoGebra. São Paulo: Editora Exato, 2010.

RICCIERI, Aguinaldo Prandini. Matemáticos – Vida e Obra. Vol. 1. São Paulo: Ed. Prandiano.

SENA DOS ANJOS, A. J. As Novas Tecnologias e o Uso dos Recursos Telemáticos na Educação Científica: A Simulação
Computacional na Educação em Física. Caderno Brasileiro de Ensino de Física, v. 25, n. 3, p. 569-600.

sala de professor episódio 4: matemática e o início da civilização 15


Um documentário da TV Escola. Um ponto
de partida para grandes trabalhos com os
alunos. Assim é o Sala de Pofessor. O progra-
ma incentiva os professores de Ensino Médio
a desenvolverem projetos que mudem a roti-
FOTO na em sala de aula. Em cada programa, dois
professores convidados criam um projeto a
partir de documentários exibidos na TV Es-
cola. São sempre propostas e experimentos
inovadores, que podem ser reaplicados em
qualquer escola do país.

Os trabalhos apresentados são detalhados


em dicas pedagógicas como essa e ficam
disponíveis no site da TV Escola. Os profes-
sores também podem usar as artes criadas
para o programa: são animações, tabelas,
mapas e infográficos que tornam os con-
teúdos mais visuais e interativos. As dicas
pedagógicas e as computações gráficas fo-
ram transformadas em fascículos interativos
para tablets. E o professor também pode
navegar pelo material extra do programa no
blog do Sala. Para ter acesso a esses pro-
dutos, acesse o site tvescola.mec.gov.br ou
curta a fan page da TV Escola no Facebook.

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