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Artigo Simposio 9
Artigo Simposio 9
1. Introdução
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Neste texto buscamos subsídios teóricos nas obras de Vigotski para
compreender a relação entre aprendizagem e desenvolvimento. A importância desse
estudo revela-se pelo pressuposto da teoria histórico-cultural em que o entendimento
dessa relação é essencial para conhecer como os sujeitos se desenvolvem, isto é,
formam as funções psicológicas superiores por meio da apropriação da cultura humana.
Assim, a compreensão dessa relação é fundamental para organização do processo
educativo, e, em especial, para a avaliação do processo de ensino e aprendizagem dos
escolares.
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Texto extraído da tese de doutorado intitulada Avaliação do processo de ensino e aprendizagem em
Matemática: contribuições da teoria histórico-cultural. 2008. Tese (Doutorado em Educação) –
Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.
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Na literatura, são encontradas diferentes formas de grafia para o nome de Vigotski, preferiu-se usar
Vigotski por predominar essa forma de escrita na maioria dos textos utilizados nesta pesquisa. Porém,
quando o nome aparece em citações de outros autores ou referenciados nos textos, manteve-se a grafia
original.
2. A relação entre aprendizagem e desenvolvimento
Após Vigotski fazer a análise dessas três abordagens, ele caracteriza sua
concepção sobre aprendizagem e desenvolvimento, lançando novos pressupostos para a
compreensão desta relação, bem como definindo o papel decisivo da educação e do
ensino para o desenvolvimento humano. Para nossa explicitação, seguiremos a mesma
organização feita por Vigotski.
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William James (1842-1910) é considerado precursor da corrente psicológica funcionalista nos Estados
Unidos. Enfatizou a importância do “[...] pragmatismo na psicologia, cuja doutrina baseia-se na
comprovação da validade de uma idéia ou um conceito mediante a análise das conseqüências práticas. A
conhecida expressão do ponto de vista pragmático ‘se funcionar, é verdadeiro’” (SCHULTZ; SIDNEY,
2005, p. 165).
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Edward L. Thorndike (1874-1949) foi um dos principais expoentes, junto com John B. Watson (1878-
1958), da teoria behaviorista de aprendizagem, desenvolvida, sobretudo nos Estados Unidos, a partir dos
anos 30. “O termo behaviorismo engloba todas as teorias de condicionamento S-R” (BIGGE, 1977, p. 51).
Na primeira abordagem, há uma relação entre o tempo, o desenvolvimento e a
aprendizagem, isto é, para aprender, primeiramente, é necessário desenvolver-se, o que
ocorre por meio da maturação do sistema nervoso. Na segunda abordagem, tal relação
não ocorre, uma vez que os processos são idênticos e correspondentes. De acordo com
Bernardes (2006, p. 41), “[...] os aspectos internos decorrentes da maturação do sistema
nervoso determinam as possibilidades de aprendizagem, assim como, em medida
correspondente, a aprendizagem categoriza as possibilidades do desenvolvimento das
capacidades humanas”.
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Kurt Kofka (1886-1941) foi um dos representantes da teoria de campo Gestalt, que teve sua origem na
Alemanha durante a primeira parte do século XX (BIGGE, 1977).
Kofka diverge das abordagens anteriores, porque não concebe a aprendizagem
como específica e não a reduz à formação de habilidades. Isto ocorre porque, segundo o
autor, o indivíduo não reage de forma cega e automática aos estímulos e pressões do
meio, ou seja, sua conduta depende da compreensão da situação. Desta forma, pode-se
dizer que ele amplia a função da aprendizagem.
Vigotski (2000) verificou que a terceira abordagem não rompe com o dualismo
entre o desenvolvimento e a aprendizagem. Contudo, ao distinguir aprendizagem de
maturação, essa teoria acrescenta algo novo nessa relação, que é a possibilidade da
aprendizagem produzir o desenvolvimento, apesar de considerar o desenvolvimento
sempre um conjunto maior que o aprendizado. Nesse sentido, observou que “[...] a
aprendizagem pode ir não só atrás do desenvolvimento, não só passo a passo com ele,
mas pode superá-lo, projetando-o para frente e suscitando nele novas formações”
(VIGOTSKI, 2000, p. 303). Explicar esse conteúdo novo sobre a relação entre
aprendizagem e desenvolvimento consistiu no principal trabalho de Vigotski.
É com base neste pressuposto que Vigotskii (2001) elabora sua principal tese
que considera que a boa aprendizagem é aquela que se adianta e conduz o
desenvolvimento. Desta forma, ele, além de valorizar a aprendizagem como a
promotora do desenvolvimento humano, delega à educação e ao ensino um importante
papel nesse processo. Este pressuposto é de fundamental importância para a educação
escolar por colocá-la em um grau de extrema relevância na constituição do
desenvolvimento humano.
Para tornar suas conclusões mais claras, Vigotski cita o exemplo do ensino de
aritmética, em suas pesquisas revelaram que o desenvolvimento não termina no
momento de assimilação de alguma operação ou de algum conceito científico, ao
contrário, apenas começa. Assim, o desenvolvimento não coincide com a aprendizagem
do programa escolar, ele se realiza por outros ritmos, tem sua própria lógica. Conforme
Vigotski (2000, p. 322), “[...] a criança adquire certos hábitos e habilidades numa área
específica antes de aprender a aplicá-los de modo consciente”. Isso significa que a
aprendizagem está à frente do desenvolvimento.
[...] define aquelas funções que ainda não amadureceram, mas estão
em processo de maturação, funções que amadurecerão, mas que estão
presentemente em estado embrionário. Essas funções poderiam ser
chamadas de “brotos” ou “flores” do desenvolvimento, ao invés de
“frutos” do desenvolvimento. O nível de desenvolvimento real
caracteriza o desenvolvimento mental retrospectivamente, enquanto a
zona de desenvolvimento proximal caracteriza o desenvolvimento
mental prospectivamente (VYGOTSKY 1989, p. 97).
Diante disso, Vigotski defende que analisar o que a criança é capaz de fazer com
a ajuda do outro é um importante indicativo para compreender seu desenvolvimento
mental e também é determinante para entender a relação entre a aprendizagem e o
desenvolvimento. Tal pressuposto, para a avaliação da aprendizagem escolar, é de suma
importância, visto que coloca aos profissionais da educação a possibilidade de analisar a
aprendizagem sobre aquilo que ainda não está “amadurecido”, fazendo com que se
compreenda o significado do processo de apropriação do conhecimento entre o nível de
desenvolvimento real, ou seja, aquilo que está formado, instituído, e aquilo que está por
se formar, instituinte. A zona de desenvolvimento proximal aparece como um campo de
possibilidades para a aprendizagem (ARAUJO, 2003) e para avaliação.
Isto significa que com o auxílio deste método podemos medir não só o
processo de desenvolvimento até o momento presente e os processos
de maturação que já se produziram, mas também os processos que
estão ocorrendo ainda, que só agora estão amadurecendo e
desenvolvendo-se.
As informações colhidas nas avaliações não A avaliação tem o potencial para revelar
subsidiam o ensino; informações importantes sobre as estratégias e
processos de aprendizagem, oferecendo sugestões
úteis sobre o ensino;
Valoriza os testes de QI; Valoriza a análise da atividade em sala de aula.
A criança é isolada do seu contexto.
Quadro 1 – Características da avaliação estática e dinâmica segundo Lunt
4. Referências: