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Teorias da mais-valia
História Crítica do Pensamento
Econômico
~··-··---~----
(Livro 4 de O CAPITAL)
---~·······-- ·····-·-······-------
Volume 1
...
Tradução de
R.EGINALDO SANT'ANNA
civili.Zação
brasileira
Do original em alemão:
THEORIEN üBER DEN l-.ffiHRWERT
(VIERTER BAND DES "KAPITALS")
ERSTER TEIL
.MEW, 26.1
Diet:i: Verlag, Berlim, 1974
Capa:
.EDUARDO
Diagramação;
LÊA CAULLIRAUX
Revisão:
X~~~~ ~~!n1: ~r~8 3 5503
DA:MIÃO NASC'IMENTQ
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Sumário
Nota do tradutor
TEORIAS DA MAIS-VALIA
HISTÓRIA CRfTICA DO PENSAMENTO ECONOMICO
Volume l
OBSERVAÇÃO GERAL
II. Os F1s1ocRATAS
V NECKER
VII. LINGUET
ADITAMENTOS
ADENDOS
9
O Capital. como é o caso, por exemplo, do trabalho produtivo e
iJJlprodutivo, das crises do sístema capitalista, da .renda fundiária
absoluta e da nacionalização do solo.
Em Marx, as relações econômicas fazem parte da estrutura e do
desenvolvimento social, de acordo com sua concepção da história,
teoria 11brangente que procura desvendar a interação dos diversos fato-
res sociais em sua evolução e transmutações. Para chegar a esses re-
sultados, l\.1arx aplica seu método dialético, que transparece nas suas
pesquisas sobre os problemas econômicos e sociais.
O método e as concepções de 11ai:.x: repercutem de vários modos
no mundo atual. Por exemplo, servem de orientação fundamental
para o planejamento das sociedades socialistas contribuem para que
a teoria econômica acadêmica, nos chamados países ocidentais, reforft
mule problemas ou considere novos pl'oblemas; motivam novas teo-
rizações e pesquisas referentes às estruturas sociais do capitalismo
periférico. Desse modo, abre-se para essas estruturas, ou seja, para
os países latino-americanos, africanos e asiáticos, a perspectiva de novas
estratégias que enfrentem o problema global do desenvolvimento de-
sigual e dependente.
Além disso, a ampla visão teórica de Ma:tx se revela, cada vez
mais, polltO de partida adequado para as pesquisas relacionadas com
a crfse global do capitalismo hodierno, crise qu~ envolve todos os
aspectos sociais.
O Manuscrito
10
Os cadernos I a V e XIX a XXIII contêm, a primeira redação
dci livto 1. Os cadernos XXI a XXII! tratam de diversos pontos
estudados em O Capital, e entte eles certos ternas ampliados depois
no livro 2. Nos cadernos XVI e XVII encontram-se esboços depois
desenvolvidos e transformados em capítulos do livro 3.
Embora Marx, no manuscrito de 1861-1863, desse a Teorias da
Mais-Vritía forma mais completa e mais abrangente que a das demais
partes de O Capital, destinou-a, depois, a ser o livra 4 dessa obra,
devendo ela, portanto, ser a última na ordem de publicação.
Kautsky
A Tradução
11
.ção, ·..que se beneficiou de melhoramentos feitos depois de um con~
fronta do t-exto editado em 19.56 a 1962, com os originais de Matt.
Na edição que traduzi, a paginação do m!lllµscrito corre paralela
.com a da obra impressa, e de permeio se apresentam todas as inser.;
ções e notas de variada natureza, diretamente ligadas à reprodução
.do texto do manuscrito. Essa edição exigiu, por isso, um trabalho
.gráfico bastante complexo. Ademais, agrega à obra comentários e
explicações, na maior parte, de interesse imediato para a melhor com·
preensão do texto, colocados em apêndice na pa1te final de cada
volume.
Nesta tradução aproveitei o material desse agregado e lhe fiz
certos acréscimos, para redigir as notas de pé de página que aparecem
assinaladas por algarismos arábicos, Nelas procurei adutir esclareci-
mentos úteis a certas passagens ou elucidar problemas tenninol6gícos.
Apresento, em cinco volumes, a tradução integral da. obra, e,
para não agravar a complexidade da realização gráfica, elaborei um
suplemento, impresso em separado, com todos os assuntos, notils e
inserções, relacionados com a reprodução do texto do manuscrito.
Incorporei aos cinco volumes as inserções referidas, quando necessá·
rias à melhor compreensão do texto, mas sem destacá-las. Todas elas
estão assinaladas no suplemento.
Este abrange, entre outras,. as seguintes matérias: lapsos de re·
dação do manuscrito; acréscimos feitos de uma ou mais palavras
~xplicativas; as divisões ou subdivisões introdt12idas nos capítulos,
com os respectivos dtuios, para facilitar a leitura do texto do ma-
nuscrito; algumas passagens que Marx riscou, mas que, em virtude
de sua importância, foram incorporadas ao texto; conversão· da pagi-
nação e do índice do manuscrito na paginação e no índicé desta tra-
dução. No Suplemento, todos os assuntos se agrupam em seções, de
acordo com sua natureza, e estão sujeitos a um sistema de remissões
que os relaciona com o volume, página e linha correspondentes desta
tradução.
No final de cada um dos cinco volumes figuram uma tabela de
pesos, moedas e medidas, um fndice onomástico e um índice analítico.
12
Observação .geral
1J
CAPITULO l
---·--·------- ---··---~-~-
15
das, oscilação na balança da rique7Al, mas não implica adiçfü)
alguma ao fundo geral. . . O composto é fácil de entender; é
llquela espécie de lucro •.. , parte relativo, parte positivo ... os
dois podem subsistir foseparávcis no mesmo negócio." (_Princi·
ples of Pol. Economy, v. I, Tbe Works of Sii- James Steuari etc.
ed. pelo General Sir James Steuart, seu filho etc., em 6 vols.,
pp. 275-276.)
'
O lucro positivo provém de "acréscimo de trabalho, indústria e
engenhosídade". Como provém daí é o que Steuart não procura ex-
plicar. Ao acrescentar que o efeito desse lucro é o de aumentar e
engrandecer a riqueza social, Steuart parece reduzi-la apenas a maior
volume de valores de uso, obtido em virtude do desenvolvimento das
forças produtivas do trabalho, e conceber esse lucro positivo de todo
separado do lucro do ~pitalista, lucro este que pressupõe sempre
acréscimo do valor de troca. Essa concepção confirma-se plenamente
ao continuar ele sua exposição.
Diz ele:
16
do ttabalhadot, tanto para satisfa:rer suas necessidades pessoais.
quanto. para obter os instrumentos próprios de sua pro-
fissão, o que se deve considerar em média, como acima ... "
T.erceiro: "pelo valor dos materiais" (pp. 244-245). Conheci-
dos esses três elementos, fica determinado o preço do produto.
O valor real não pode ser mais baixo que o montante dos três;
o que o ultrapassa constitui o lucro do manufator. Esse lucro
será proporcional à procura e por isso variará segundo as cir-
cunstâncias" ( 1. c., p. 24 5). Daí a necessidade de haver grande
procura para o florescimento das manufaturas. . . os empre·
sáríos manufatureiros regulam seu modo de viver e sua..-1 despe-
sas de acordo com o lucro de que têm certeza.. ( 1. e., p'. 246) .
17
Ocupa-se muito com esse processo gerador do capital - sem contudo
conçebê-lo diretamente nessa qualidade, embora o considere condição
da grande indústria. Observa o processo sobretudo na agricultura. E
com acerto acha que só por meio desse processo de dissociação> na
agricultura, se gera a indústria manufatureira propriamente dita. A.
Smith já supõe condurdo esse processo de dissociação.
(Livro de Steuart, 1767, Londres; de Turgot, 1766, e de A. Smith,
1775.)"
18
CAPITULO li
Os fisiocratas
19
Além dessa análise dos elementos materiais em que consiste o
capital no processo de trabalho, os fisiocratas determinam as formas
que o capital assume na circulação (capital füw, capital circulante,
embora lhes dêem ainda outras denominações), e em geral a conexão
entte o· processo de circulação e o processo de reprodução do capital.
Voltar ao assunto no capítulo sobre circulação.5
A. Smith recolheu o legado dos físiocratas relativo a esses dois
pontos principais. Aí seu mérito limita-se a fixar categorias abstratas,
a dar nomes precisos às distinções analisadas pelos fisiocratas.
Conforme vi.mos,6 a base do desenvolvimento da produção ca-
pitalista é, de modo geral, a circunstância de a força de trabalho, a
mercadoria dos trabalha.dores, confronrar-se com as condições de tra-
balho, na qualidade de mercadorias mantidas na forma de capital e
com existência independente deles. ~ essencial detemiinar o valor da
força de trabalho na qualidade de mercadoria. Esse valor é igual ao
tempo de trabalho requerido para produzir os meios de subsístênciu
necessários para reproduzir a força de trabalho, ou igual ao preço
dos meios de subsistência necessários à existência do trabalhador como
trabalhador. S6 nessa base verifica-se diferença entre o valor da força
de trabalho e o valor que ela cria, diferença que não existe nas de-
mais mercadorias, pois não há butra mercadoria cujo valor de uso,
cuja utilização portanto, possa aumentar seu valor de troca ou os va-
lores de troca dela resultantes. Assim constitui fundamento da eco-
nomia moderna, envolvida com a análise da produção ~pitalista, con-
siderar o valor da força de trabalho algo fixo, magnitude· dada, ·a que
ele é na prática em cada caso particular. Por isso, o mínfmo de sa-
lário representa, apropriadamente, o eixo da·· teoria físiocrática. Pude-
ram chegar a essa formulação sem ter descoberto a' natureza do pró-
prio valor, porque o valor da força de trabalho se configura no preço
dos meios de subsistência necessários, ou seja, numa soma de determi-
nados valores de uso. Por isso, sem penetrar na natureza do valor.
puderam considerar o valor da força de trabalho grandeza dada, na
medida das necessidades das pesquisas. Erraram depois, ao considerar
esse mínimo magnítude invari.áve], totalmente determinada í'ela natu-
reza e não pelo estádio hist6tico de desenvolvimento, magnitude essa
20
sujei.ta a vatraçoes. Esse erro, entretanto, em nada altera o acerto
abstrato de suas conclusões, pois a diferença entte o valor da força
de trabalho e o valor que ela cria de modo algum depende do nível
suposto para aquele valor.
Os fisiocratas deslocaram a pesquisa sobre a origem da mais-velia,
da esfera da circulação para a da produção imediata, e assim lança-
ram o fundamento da análise da produção capitalista.
Com toda razão estabeleceram o princípio fundamental: só é
produtivo o trabalho que gera mais-valia e em cujo produto portanto
se contém valor maior que o atingido -pela soma dos valores consumi-
dos na sua elaboração. Dado o valor das matérias-primas e materiais
e sendo o valor da força de trabalho igual ao mínimo de salário, é evi-
dente que essa mais-valia s6 pode cons~stir na q~_antidade de trabalho
que o trabalhador deixa para o capitalista e que excede a quantidade
de trabalho recebida no salário. Mas os fisíoctatas não a vêem nessa
forma, pois ainda não reduziram o valor a sua substância simples,
quantidade ou tempo de trabalho.
É natural que seu método de expor necessariamente se subordine
à sua concepção geral da natureza do valor, que para eles não é de·
terminado modo de existência social da atividade humana (trabalho),
mas consiste em terra, natureza, em matéria e nas diferentes modifi-
cações desta.
, De todos os ramos de produção é a agrkultura - a produção
primária - aquele onde se manifesta de maneira mais tangível e
mais incontestável a diferença entre o valor da força de trabalho e o
valor que esta gera, isto é, a mais-valia que a compra da força de tra-
balho proporciona a quem emprega essa força. A soma dos meios de
subsistência que o trabalhador consome t~o ano, ou a massa de ma-
téria que absorve, é menor do que a soma dos meios de subsistência
que produz. Na manufatura em geral não se vê o trabalhador pro-
duzir seus meios de subsistência nem o excedente sobre eles. O pro-
cesso tem a intervenção da compra e venda, dos diversos atos de cit·
culação, e requer, para ser compreendido, a análise do valor em geral.
Na agricultura revela-se, de imediato, no excesso dos valores de uso
produzidos sob.re os valores de uso consumidos pelo trabalhador, e
pode-se apreendê-lo sem a análise do valor em geral, sem a clara com-
preensão da natureza do valor. Por isso, o mesmo se dá quando se
reduz o valor a valor de uso e este a matéria em geral. Para os fisio-
cratas, o trabalho agrícola é o único traba/,ho produtivo, porque o
consideram o único trabalho que gera mais-valia, e a renda fundiária
é a única forma de mais•valía que conhecem. O trabalhador da ma-
nufatura não multiplica a matéria; limita-se a transformá-la. A agri-
cultura lhe dá o material - a massa de matéria. O trabalhador acres-
21
centa decertb valor à matéria, não com o trabalho, mas com os custos
de produção do trabalho: com a soma dos meios de subsístência que
consome durante o trabalho, e essa soma é igual ao mínimo de salário
que recebe da agricultura. Sendo o trabalho agrícola qualificado de
único trabalho produtivo, considera-se forma única do valor exce-
denêe7 a forma. de mais-valia que distingue o trabalho agrícola do
industrial, a renda funJ iária. 8
Para os fisiocratas, portanto, não existe o lucro propriamente
dito do capital, o lucro donde a renda fundiária apenas se destaca. O
lucro afigura-se-lhes uma espécie de salário superior pago pelos pro-
prietários de terras, consumido pelos capitalistas como renda9 (por
isso integra os custos de produção dos proprietários, da mesma ma·
neira que o mínimo de salário dos trabalhadores comuns) e que acres-
ce o valor da matéria-prima, pois entra nos custos de const4mo .que o
capitalista, o industrial, despende enquanto fabrica o produto, trans-
forma a matéria-prima em novo produto.
Pane dos fisiocratas, como Mirabeau, o velho, taxa de usura
contrária à natureza a mais-valia na forma de juro do dinheiro, outra
ramificação do lucro. Turgot, ao contrário, justifica o juro argumen-
tando que o capitalista financeítçi poderia comprar terra, ou seja, renda
fundiária, e por isso seu capital-dinheiro gera necessariamente a mes-
ma quantidade de mais-valia que receberia se ele o trans_formasse em
propriedade fundiária. Com isso não se quer dizer que o juro do di-
nheiro também seja novo valor gerado, mas explica-se por que parte
da mais-valia obtida pelos donos das terras flui pnra a· ~pitalista fi.
nanceiro na forma de juros, do mesmo modo que por outos motivos
22
se explica o fluxo de parte dessa mais-valia na forma de lucro, para
o capitalista industrial. O trabalho agrícola é o único produtivo, o
único trabalho que gera mais-valia, e por isso a forma de mais-valia
que distingue o trabalho agrícola de todos os outros ramos de tra-
ba1'1o, a renda fundiária, é a forma geral da mais-valia. Lucro indus-
ttial e juro de dinheiro são apenas rubricas em que a renda fundíár.is
se reparte e passa em porções determinadas das .mãos dos donos das
terras para as de outras classes. Os economistas posteríores, a começar
por A. Smith, sustentam concepção oposta~ considerando com acerto o
lucro industrial a forma em que o capital se apropria originalmente
da mais-valia, por conseguinte, a forma original, geral, da mais-valia.,
e vêem no juro e na renda fondiál'ia meras :tamificações do lucro in·
dustrial, que o capitalista industrial distribui pelas diversas classes,
co-proprietárías da mais-valia.
Aléni da razão já apontada de ser o trabalho agrícola aquele em
que a geração de mais-valia aparece materialmente tangível e pres-
cinde do processo de circulação, tinham os fisiocratas vários outros
argumentos para explicar sua concepção.
Primeiro: na agricultura, a renda fundiária patenteia-se um ter·
ceíro elemento, uma forma de mais-valia que não se acha ou que se
desvanece na indústria. Era a mais-valia acima da mais-valia (lucro),
portanto, a forma mais palpável e contundente da mais-valia, a mais.
valia elevada à segunda potência.
"É óbvio que tem de ser medido apenas pelas forças produtivas
dos agricultores, o número rdativo de pessoas que se pode man-
ter sem executar trabalho agrícola" (R, Jones, On the Dist. o!
Wealth, Londres, 1831, pp. 159-160).
2)
O trabalho agrícola, por ser assim a base natural (ver. sobre o
:assunto caderno anterior)w do trabalho excedente em seu próprio
.domínio e ainda da existência autônoma de todos os 012ttos ramos de
trabalho, e por isso também da mais-valia neles criada, tinha eviden-
temente de ser considerado o gerador da mai'>-valía, desde que se con-
·cebia como .substância do valor do trabalho determinado, conc:teto e
.não o trabalho abstrato e sua medida, o tempo de trabalho.
Terceiro: toda mais-valia. relativa ou absoluta, baseia-.se em dada
produtividade do trabalho. Se a produtividade do trabalho atingisse
apenas o nível onde o tempo de ttabalho de um homem só desse
para ele sobreviver, para produzir e reproduzir os pr6p.rios meios de
subsistência,· não haveria trabalho excedente nem valor excedente*,
não. ocorreria diferença alguma entte o valor da força de trabalho e
o valor criado por essa força. Por isso, a possibilidade do trabalho-
-excedente e do valor excedente decotte de dada produtividade do
trabalho, de produtividade que permita à força de trabalho repro..
<iuzir mais que o próprio valor, produzir além das necessidades dita·
das por seu processo vital. E essa produtividade, esse nível de pro-
dutividade donde se parte como condição prévia, tem de existir, antes
de tudo, no trabalho' agrícola, conforme vimos no item segundo, e
assim aparece como dom, como força produtiva da natureza. Na agri-
cultura conta-se em geral, de saída, com a cooperação ampla e global
.das forças naturais, com o aumento da força· de trabalho humana pelo
emprego e exploração das forças naturais, de atuação automltica.
Essa ampla utilização _das forças naturais só apare<.."e na manufatura
-com o desenvolvimento da indústria em grande escala. Determinado
estáclio de desenvolvimento da agricultu.ra, no próprio país ou em
países estrangeitos, constitui a base do desenvolvimento do capital.
Nesse ponto e até aí, a mais-valia absoluta coincide com a relativa.
(Buchanan, grande adversário dos fisiocratas, sustenta essa argumen-
tação contra o próprio A. Smith, procurando demonstrar que o de-
senvolvimento agrk-ola precedeu a emergência da moderna indústria
urbana.)
Quarto: a fisiocrada, cuja contribuição importante e especifica
·é a de ter .derivado o valor e a mais-valia não da circulação e sim da
produção, começa necessariamente, ao contrário do sistema monetá-
rio e do mercantilista, com o ramo de produção que se pode (.'Onsi-
derar isolado e independente da circulação, da troca, e pressupõe não
o interclrnbio entre o homem e o homem, mas apenas entre o homem
e a natureza.
24
2 . CONTRADIÇÕES DO SJS'I'EMA FISJ-OC1tÁTICO: A MÁSCARA
FEUDAL E A ESstNClA BURGUESA; J)UPLICIDADE NA
JNTERPRETAÇÂ-0 DA MAlS·VALIA
25
tura. Idéias semelhantes às dos fisiocratas, em estado ·fragmentário,
encontram-se em antigos escritores que os antecederam, parte deles
na pr6pria França, como Boisguillebert. S6 com os fisiocratas tor-
nam-se um sistema que marca uma época.
O trabalhador agrícola, dependente do mínimo do salário, o es-
tritamente necessário, reproduz mais que esse estritamente necessá-
rio, e esse excedente é a renda fundiária, a mais-valia de que se apro-
priam os donos da condição fundamental do trabalho, a natureza.
Assim, não se diz: o trabalhador trabalha por tempo maior que o
necessário para reprod112ir sua força de trabalho; o valor que gera é
portanto raaior que o valor da força de trabalho; ou o trabalho que
dá em troca é maiot que a quantidade de trabalho que recebe na for-
ma de salátío. O que se diz é: a soma dos valores de uso que con-
some durante a produção é menor que a soma dos valores de uso que
gert11, e assim sobra um excedente de valores de uso. Se trabalhasse
apenas o tempo necessário para reprodu:i:ir a própria força de trabalho,
nada sobraria. Mas os fisiocratas atêm-se apenas à ídéia de que a
produtividade da tetta permite ao trabalhador, na jornada que se supõe
dada, produzir mais do que precisa consumir para continuar a viver.
Esse valor excedente aparece portanto como dom da natureza; graças
à cooperação desta, determinada quantidade de matéria orgânica --
sementes, JUlimais - capacita o trabalho a converter maior quantida.
de de matéria ínorgânica em orgânica.
Ademais supõe-se natural que o proprietário da terra se contra·
ponha ao trabalhador como capitalista. Paga a força de trabálho, mer-
cadoria que o trabalhador lhe oferece, e, em troca, além de receber
um equivalente, apropria-se do acréscimo de valor· gerado por essa
força. Nessa troca pressupõe-se a condição material do trabalho es-
tranha à própria força de trabalho. Embora se considere o senhor de
terras feudal como o protagonista, faz ele o papel de capitalista, de
mero possuidor de mercadorias, que acresce o valor das mercadorias
que troca por trabalho, recebe de volta, além do equivalente, um ex-
cedente sohre esse equivalente, pois paga a força de trabalho apenas
como mercadoria. Na qualidade de possuidor de mercadorias con-
trapõe-se ao trabalhador livre. Noutras palavras, esse proprietário de
terras é na essência capitalista. Ainda a esse respeito acerta o sistema
fisiocrático, pois liberar-se o trabalhador da terra e da propriedade
fundiária é condição fundamental da produção capitalista e da. J?roduçifo
do capital.
Daí as co11ttadíções do sistema: embora fosse o primeiro a e:it-
plica,r a mais-valia pelo ato de apropriar-se do trabalho alheio e ex-
plicar esse ato 11a base da troca de mercadorias, não vê no valor em
geral forma de trabalho social, e no valor excedente*, trabalho exce·
dente; ao invés disso, considera o valor mero valor de uso, mera
substância material, e a mais-valia, simples dom d11 natureza, que dá
aq trabalho quwtidade maíor em troca de dada quantidade de ma-
téria orgânica. De um lado, a renda fundiária - isto é, a forma eco·
nômica real da propríedade da terra - despojada do invólucro feu-
dal, é reduzida apenas a mais-valia, o excedente do salário. Do outro,
numa recidiva feudal, a maís-valia é derivada da natureza e não da
sociedade; da relação com a terra e não das relações socíais. O pró-
prio valor se reduz a mero valor de uso, a matéria, portanto. Demais,
nessa matéria só interessa a quantidade, o excesso dos valores de uso
produzidos sobre os consumidos, ou seja, a simples relação quantita-
tiva entre valores de uso, o mero valor de troca recíproco, que em
última análise se reduz a tempo de trabalho.
Tudo isso são contradições da produção capitalista que luta por
emergir da sociedade feudal e apenas lhe confere um sentido burguês,
sem ter encontrado ainda sua forma peculiar; algo como a filosofia
que primeiro désabrocha na forma religíosa da consciência e assim
destrói a religião como tal, enquanto seu conteúdo afirmativo se move
confinado nessa esfera religiosa idealizada, decomposta em conceitos
e idéias.
Daí ser uma das conseqüências do pensamento fisíocrático trans-
mutar-se seu próprio panegírico ostensivo da propriedade fundiáría
na negação econômica dela e na afirmação da produção capitalista.
Uma de suas teses é a de que todos os impostos incidam sobre a renda
fundiária, isto é, que a propriedade da terra seja parcialmente con-
fiscada, o que a legislação da Revolução Francesa procurou levar a
cabo e constitui conseqüência de desdobramentos da moderna eco·
nomía ricardiana. 11 Por ser a renda fundiária o único valor excedente
- todos os impostos acàbam incidindo sobre ela, e assim toda tributa-
ção de outras formas de renda apenas sobrecarrega a propriedade fun-
diária por processo indireto, economicamente prejudicial, portanto,
freando a produção - isenta-se dos tributos e por isso de toda inter-
venção esta.tal a própria indústria, que desse modo fica livre de toda
interferência governamental. Supõe-se que isso corresponde ao proveito
da propriedade fundiária, a seu interesse e não ao da indústria. De par
27
com isso o lema; laissez faire, laissez aller;1'2 a concorrência livre,
sem freios, eliminação de toda intervenção estatal, de monop6lio etc.
nas atividades da indústria. Uma vez que a indústria nada gera, ape·
nas põe noutra forma os valores que a agricultura lhe dá, sem lhes
adicionar valor novo, mas só restitui noutra forma o equivalente dos
valores que lhe foram fornecidos, é naturalmente desejável que ess~
processo de transformação se efetue sem perturbações e da maneira
roais barata, o que só se consegue por meío da livre concorrência,
deixando-se a produção capitalista entregue a si mesma. Da monar-
quia absoluta erigida sobre as ruínas da sociedade feudal emancipa·se
portanto a. sociedade burguesa no interesse exclusivo do senhor feudal,
transformado em capitalista preocupado apenas em enriquecer-se. Os
capitalistas só são capitalistas no interesse dos donos das terras, do
mesmo modo que a economia política, no desenvolvimento posterior.
só lhes permite serem capitalistas no interesse da classe traba1hadora.
Vê-se portanto como os economistas modernos - e entre eles
figuta Eugene Daire, editor dos fisíoc:ratas e autor de obra premiada
sobre eles - pouco entenderam a fisiocracia, ao acharem que as
teses específicas dessa escola sobre a produtividade exclusiva do tra··
balho agrícola, sobre a renda fundiária como a única mais-vali.a e
sobre a posição proeminente do proprietário da terra no modo de
produção não têm conexão, a não ser fortuita, coro a proclamação
da livre concorrência, com o princípio da indústria em -grande escala,
da produção capitalista. Compreende-se ao mesmo tempo, como a
envoltura feudal desse sistema, do mesmo modo que o tom aristocrá-
tico da explicação iluminista, tinha de tornar uma porção de senhores
feudais, entusíastas e propagadores de Ulr! sistema que na essência
proclamava o sistema de produção burguês sobre as,ruínas do feudalis-
mo.
28
Segundo o pr6p.rio Quesnay, na Andyse du Tableau Economique.
a nação consiste em três classes de cidadãos:
"o r
trabalho» (do agricultor "'conservai na ordem dos trabalhos
repartidos entre os diferentes membros da sociedade, a mesma
primazia , .. , que o trabalho destinado à própria alimentação
ocupava entre os diversos trabalhos que o agricultor no estado
solítário tinha· de consagrar às necessidades de tçida espécie. Não
se trata aqui de uma pti.m.azia de hon:ra ou de dignidade, mas
de necessidade física. . . O que o trabalho do agrkultor con·
segue obter da terra, acima das necessidades pessoais, constitui
o úníco fundo dos salários que todos os demais membros da
sociedade recebem em troca de trabalho. Estes, ao utilizarem
o preço recebido nessa troca pata comprar, por sua vez, os pro-
dutos do agricultor, restítuem-lhe" (em matéria) "exatamente
o que receberam. Temos aí uma diferença essencial entre esses
dois gêneros de trabalho" (Réflexions su1· la Formation et la
Distribution des Richesses, 1766~ Turgot, Oeuvtes, ed. Daire,
t. I, Paris, 1844, pp. 9-10).
29
Corno se oragma então a mais-valia? Não é oriunda da circula-
ção, mas nela se realiza. O produto é vendido pelo valor e não acima
do valor. O preço não excede o valor. Mas, por ser o produto ven-
dido pelo valor, o vendedor r~liza mais-valia. Isto só é possível por·
que ele mesmo não pagou o valor todo que vende ou porque o pro.
duto contém urna porção de valor não paga pelo vendedor, não
substituída por equivalente. É o que sucede com o trabalho ag.dcola.
O proprietário da terra vende o que não comprou. Turgot, de início,
considera esse elemento. não comprado puro dom da natureza. Vere-
mos, entretanto, qi.1e esse puro dom da natureza (essa roera dádiva
da natureza)., em seus estudos, se transforma furtivamente no tra-
balho excedente dos trabalhadores, o qual o proprietário da terra não
compra, mas vende nos produtos agrícolas.
"Uma vez que seu trabalho produz além das suas necessidades,
pode o agricultor, com esse excedente que a natureza lhe con·
cede como simples dádiva afora o sttliírio de seu labor, comprar
o trabalho dos outros membros da socíedade. Estes só ganham
a subsistência vendendo-lhe o trabalho; ele, ao contrário, obtém,
junto com a subsistência., uma riqueza independente e disponível,
que não comprou, mas vende. É portanto a única fonte das ri-
quezas que, circulando, animam todos os trabalhos da socie-'
dade, pois ele é a única pessoa cujo trabalho produz mais que o
salário do trabalho" ( 1. e., p. 11 ) •
;ll
Quando se estabelece O- trabalho assahi_riado,
"o produto do solo se divide em duas partes_; uma abrange a·
subsistência e os ganhos do lavrador, que recompensam o tra·
balho e constituem a condição para que .ele se encarregue de
cultivar a terra do proprietário; o resto é a parte independente
e disponível, mero presente que a terra dá a quem a cultiva e
que ultrapassa os adiantamentos e o salário do próprio esforço;
essa dádiva constitui a participação do proprietário ou a renda
com que este pode viver sem trabalho e que emprega como
quer" (p. 14} .
J2
trabalho do assalariado, embora concebam esse mesmo trabalho na
forma concreta que assume nos valores de uso.
A exploração capitalista da agricu1tura - "arrendamento ou alu-
guel da tetta" ~é qualifica.da por Turgot, diga-se de passagem1 como
"o método mais vantajoso de todos, mas pressupõe um país que já é
ricq" (1. e., p. 21).
(No estudo da mais-valia ir da esfera da circulação para a da
produção; isto é, inferi-la não só da troca da mercadoria por merca-
doria mas também da troca, no interior da produção, entre os donos
das condições de trabalho e os próprios trabalhadores. Eles se con-
trapõem como possuidores de mercadorias, e por isso de maneira ne-
nhuma se supõe produção independente de troca.)
(No sistema fisiocriítico, os proprietários assalariam; os traba-
lhadores e manufatores em todos os ramos industriais são os assala.-
l'iados ou estipendiários. Daí haver também governantes e governa-
dos.)
Turgot analisa BS condições de trabalho:
Por fim:
J4
pelo solo, a qual o proprietário da renda ou aqueles que dela
participam podem poupar todo ano, sem utilizá-la para suas
necessidades" ( 1. e., p. 66).
JJ
cara os fisiocratas). (Paoletti de Toscana, op cít., t. XX, Custodi,
Parte Moderna.)
J.6
No 'livro II, cap. 5 de sua obra An In:quiry into the natme and
causes of the wealth of nalions, diz A. Smith no tocante -à renda
fundiária:
• Ve.r nota 8, na p. 22
J7
falar assim, porque para eles só a renda fundiária é a .fonte econômica
genuína, legítima, pol' assim dizér, da acumulação.
38
((Os fisiocratas portanto viam na produção da mais-valia a essên-
cia da produção capitalista. Cabia-lhes explicar esse fenômeno. E este
era o problema depois de terem rejeitado o lucro de expropriação
do sistema mercantil.
39
".O uabalho dos artesãos e manufatores, embora s6 possa :ictes·
centar .à massa geral de riqueza da sociedade as economias feitas
pelos assalariados .e capitalistas, podem oonttibuir por esse meio
para enriquecer a sociedade" (1. c., p. 266). ·
Em pormenores:
40
Diz Gatnier:
41
"Atrendamento ou aluguel de terra ..... esse método" (da agri-
cultura em grande escala, ba.'>eada no moderno sistema de arren-
damento) "é o mais vantajoso de todos, mas supõe um país
que já é rico•) (ver Turgot, 1. c., pp. 16 a 21).
42
7 CONTRADIÇÕES DAS IDÉIAS POLÍTICAS DOS FISIOCRATAS.
OS FISIOCRATAS E A REVOLUÇÃO FRA.i~CESA
Mercícr de la Rivlere:
43
gado três meses depois da publicação) . Extinguiu ainda a corvéia dos
camponeses para construção de estradas. Tentou introduzir o imposto
único sobre a renda fundiária.
Mais tarde reexaminaremos os grandes serviços prestados pclos
fisiocratas no tocante à análise do capital1 ª.
Por ora, mais uma observação: segundo os fisiocratas, deve-se a
mais-valia à produtividade de um tipo especial de trabalho, o agrí-
cola. E essa produtividade especial deriva, em suma, da própria na-
tureza.
No sistema mercantil, a mais-valia é apenas relativa: um ganha
o que o outro perde. Lucro de alienação ou a riqueza que oscila entre
as partes interessadas. Assim não ocorre de fato formação de mais.
valia dentro de um pafs, considerando-se o capital todo. Só pode
ocorrer nas relações de uma nação com as outras. E o excedente que
uma nação realiza às custas de outra configura-se em dinheiro (ba-
lanÇQ comercial), justamente por ser o dinheiro a forma imediata e
independente do valor de troca. Enquanto o mercantilismo nega de
fato que se gere ma.is-valia absoluta, a fisiocracia, pelo contrário,
procura explícá~la~ o -produto líquido. E para ela, por se aferrar ao
valor de uso, só a agricultura cria o produto líquido.
44.
"A renda fundiária é o únko elemento da renda nacional: tanto
os juros das aplicações de capital quanto o salário de todas as
espécies de trabalho fozem apenas o produto da renda fundiária
.passar de mão em mão" (Schmalz, 1. e., p. l, pp. 309-310).
"A utilização do solo, sua capacidade de reproduzir anualmente
a renda fundiária é tudo o que constitui a riquez'<l. n'<l.Cional "-
( L e., p. 310), "Remontando-se aos fundamentos, aos primeiros
elementos do valor de todos os objetos, sejam quais forem,
impõe-se reconhecer gue esse valor é apen'<l.s aquele dos meros
produtos da natureza; isto é, embora o trabalho tenha dado
novo valor a esses objetos e elevado o preço, esse novo valor,
ou esse preço, s6 se compõe do conjunto dos valores reunidos
de todos os produtos naturais que, em razão da nova .forma
dada pelo trabalho, foram destruídos, consumidos ou empre-
gados pelo operário, de uma maneira qualquer" (1. c., p. 313).
"Esse gênero de trabalho" (a verdadeira ~gricul tura ) , "sendo o
único que contribui para produzir novos ·corpos, é também o
único que pode até certo ,ponto ser considerado produtivo.
Quanto aos trabalhos de transformação ou industriais ... , dão
símplesmente forma nova aos corpos que a natureza produziu"
(Schmalz, L e., pp. 15-16).
45
maís os alimentos que esses trabalhadores consomem durante o
tempo em que as fabricam" ( 1. e. p. 25).
A. Smith
l'tl Ver, neste volume, pp. 20, 22, 31, 32, 44, 204 e, no vol. 2, cap
X, B., Seção 2. O salário médio dos fisiocratas equivale a.os meias neees<iá-
rios à subsístêncía da força de trabalho, e não mais que os neceS$ários; é o
mínimo de salário, e os salál'ioo reais: podem situar-se acima ou abaixo desse
mínimo. Marx trata desse assunto no caderno I do manuscrito, pp. 21-25.
47
A. Smith constata expressamente que o desen..:roivimento das
forcas produtivas do trabalho não beneficia o próprio trabalhador. Diz
ele ( 1. I, cap. VIII, Ed. MacCulloch, Londres, 1828):
48
pertencentes aos físíocratas e que de todo contrariam as teses por ele
pessoalmente formuladas. É o que se dá, por exemplo, com a teoria
da renda fundiária etc. Para nosso propósito deixemos por ora intei-
ramente de lado os elementos de sua obra que não o caracterizam e
em que ele não passa de fisiocrata 20 •
Na primeira parte deste trabalho, ao analisar a mercadoria, já
mostrávamos 21 como A. Smith hesita no tocante à definição do valor
de troca. Particularizanclo: ora confunde a determinação do valor das
mercadorias pela quantidade de trabalho requerida para produzi-las,
com a determinação pela quantidade de trabalho vivo mediante a
qual se pode comprar a mercadoria ou, o que dá no mesmo, com a
determinação pela quantidade de mercadoria mediante a qual se pode
comprar quantidade certa de trabalho vivo; ora substitui aquela por
esta determinação. Faz então do valor de troca do trabalho a medida
do valor das mercado1ias. Na realidade faz do salário essa medida, pois
o saláti.o é igual à quantidade de mercadorias que pode ser comprada
com determinada quantidade de trabalho vivo, ou igual à quantidade
de trabalho que pode ser comprada com determinada quantidade de
mercadorias. O valor do trabalho, ou antes, da força de trabalho, varia
como o de qualquer outra mercadoria e em nada se distingue espe-
cificamente do valor das outras mercadorias. Faz-se aí o valor medida
do valor e fundamento para explicá-lo: um círculo vicioso portanto.
A seguir mostrar-se-á que essa insegurança e confusão de defi-
nições de todo heterogêneas não estorvam as pesquisas de Smith sobre
a natureza e a origem da mais-valia, pois, na realidade, ao desenvolver
suas idéias sempre se apega, sem ter clara consciência disso, à deter-
minação correta do valor de troca das mercadorias, isto é, à determi-
nação pela quantidade de trabalho nelas despendida, o tempo de
trabalho.
((Pode-se evidenciar por numerosos exemplos a freqüência com
que Smith, através de sua obra, ao esclarecer realmente fatos, consi-
dera a quantidade de trabalho contida no produto como valor e
elemento que determina o valor. Ricardo cita parte deles22 • Repousa
naquela concepção toda a sua teoria da influência da divisão do tra··
balho e do aperfeiçoamento das máquinas sobre o preço da merca-
doria. Aqui basta uma passagem. No capítulo XI, 1. I fala A. Smith
49
do barateamento de muitas mercadorias da manufatura de sua época,
em relaçOO aos séculos anteriores e conclui:
'º
trabalho representa sempre a mesma quantidade de trabalho materia-
lizado, o que o trabalhador exige para prodw:ir essa mercadoria, ou
determinada quantidade do tempo de trabalho vivo disporia sempre
de uma quantidade de mercadoria que representasse quantidade igual
de tempo de trabalho materializado. Ora, o contrário sucede em todos
os modos de produção e especialmente no modo de produção capÍ·
talista onde as condições objetivas do trabalho pertencem a uma ou
a várias classes, enquanto a mera força de trabalho se vincula no1.ltrtt
classe, a classe trabalhadora. O produto ou o valor do produto do
trabalho não pertence ao trabalhador. Determinada quantidade de
trabalho vivo não dispõe da mesma. quantidade de trabalho materia·
lizado, ou determinada quantidade de trabalho corporificado em mer-
cadoria comanda quantidade de trabalho vivo maior que a encerrada
na pr6p.ria mercadoria.
Com inteiro acerto parte A. Smith da mercadoria e da troca
de mercadorias, e em conseqüência os produtores na origem apenas se
confrontam como possuidores, vende.dotes e compradores de merca-
doria; assim descobre ele (parece-lhe) que na troca entre capital e
trabalho assalariado, entre trabalho materializado e trabalho vivo, de
imediato se ah-roga a lei geral, e as mercadorias (pois trabalho tam·
bém é mercadoria ao ser comprado e vendido) não se trocam na pro-
porção das quantidades de trabalho que representam. Daí conclui
que o tempo de trabalho não é mais a medida imanente que regula
o valor de troca das mercadorias, logo que as condições de trabalho
na forma de propriedade fundiária e de capital se opõem ao traba-
lhador assalariado. Devia antes, conforme adverte Ricardo, concluir
ao revés que não são mais idênticas as expressões "quantidade de
trabalho" e "valor de trabalho", que o valor relativo das mercadotfas
portanto, embora regulado pelo tempo de trabalho nelas contido, não
é pelo valor do trabalho, uma Ve2 que a segunda expressão só se justi-
ficava quando permanecia idêntica à primeira. Mais adiante podere-
mos, ao tratar de ]\.!althus~3 , mostrar que em si seria falso e absurdo
- mesmo que o trabalhador se apropriasse do próprio produto, isto é,
do valor de seu produto - fazer desse valor ou do valor do trabalho
a medida dos valores no mesmo sentido em que o tempo de trabalho,
ou o próprio trabalho, é medida dos valores e elemento que gera
valor. Mesmo então o trabalho que se pode comprar com uma mer-
cadoria não deveria servir de medida no mesmo sentido que o tra-
balho nela contido. Um seria apenas índice do outro.
Em todo caso sente A. Smith a dificuldade de inferir da 1ei que
determina a troca das mercadorias, a troca entre capital e trabalho, a
a.i Ver- vo!. 4 desta tradução, cap. XIX, oride Marx Irata exaustivamente
tios pontos de vista de Malthus sobre valor e mais-valia.
51
qual parece repousar sobre princípios de todo opostos e contraditórios.
Demais, não era possível elucidar a contradição, contrapondo-se o
capital diretamente ao trabalho e não à força de trabalho. Bem sabia
A. Smith que o tempo de trabalho que a força de trabalho despende,
para reproduzir-se e manter-se difere muito do trabalho que ela mes-
mo pode realizar. Assim, o próprio Smith menciona idéias de Can-
tillon em Essai sur la nature du commerce:
J2
Mas A. Smith tem razão para confundir-se, pois a própria "dis-
tribuição" do valor do produto entre capitalista e trabalhador ba-
seia-se em troca de mercadorias - mercadorias e força de trabalho.
A circunstância de ter ele feito do valor do trabalho ou da magnitude
do poder que tem uma mercadoria de comprar trabalho, medida dos
valores, prejudica sua exposição ao formular a teoria dos preços, ao
tratar do efeito da concorrência sobre a taxa de lucro etc.; em geral
despoja-lhe a obra de roda unidade e exclui mesmo de sua pesquisa
inúmeras questões essenciais. Não influencia sua exposição da mais..
valia em geral, conforme logo veremos, pois ele af se atém sempre à
determinação correta do valor pelo tempo de trabalho despendido em
mercadorias diversas.
Passemos agora a sua exposição.
Antes, porém, outro ponto a mencionar. A. Smith mistura coi-
sas diferentes. Primeiro, diz ele no l. I, cap. V, trad. de Garnier:
Finalmente:
53
seja civil ou militar. . . O poder que· esses haveres lhe propor·
donam imediata e diretamente é o poder de comprar; a facul-
dade de comandar todo trabalho ou todo produto do. trabalho·
disponível no mercado" (1. c., p. 61).
.54
comprar, ou seja, a determinação pelo valor do trabalho. Quando
A. Smith diz:
55
ttábalho nelas encerrado e sim que o enriquecimento, o acréscimo do
valor contido na mercadoria e a taxa desse acréscitno dependem da
maior ou menor quantidade de trabalho vivo que o trabalho mate-
rializado põe em movimento. O que, assim posto, está certo. Smith.
porém, mantém-se obscuro.
56
Ma.~, continua Adam Smith:
58
. Troque o capitalista a mercadoria por dinheiro ou por merca·
doria, seu lucro provém de vender ma.is trabalho do que pagou, de
não trocar quantidade de trabalho materializado por igual quantida-
de de trabalho vivo. A. Smith não devia igualar a tl'oca por dinheiro
ou por outras mercadorias, com a troca do pmduto acabado do tra·
balho por trabalho. É que na primeira troca a mais-valia decorre de
as mercadorias serem permutadas pelo valor, pelo tempo de trabalho
nelas contida e em parte não pago. Subentende-se aí que o capitalista
não troca a quantidade de trabalho pretérito por igual quantidade de
trabalho vivo; que a quantidade de trabalho vivo de que se apropria
é maior que a quantidade de trabalho vivo que ele paga. Do contrário,
o salário do trabalhador seria igual ao valor de seu produto. O lucro
pela troca de produto acabado do trabalho por dinheiro ou mercadoria,
ao serem trocados pelo valor, origina-se portanto de a troca entre pro-
duto acabado do trabalho e trabalho vivo· seguir outras leis, não ha·
vendo aí troca de equivalentes. Não se deve, por isso, misturar as
duas coisas.
Assim, o lucro não passa de uma dedução do valor que os tra-
balhadores adicionaram ao material de trabalho. Nada adicionam ao
material além da nova quantidade de trabalho. O tempo de trabalho
do trabalhador se reduz portanto a duas partes: uma pela qual recebeu
um valor igual do capitalista, o salário, e outra que dá grátís ao capi-
talista e constit:ui o lucro. Com acerto A. Smith realça que só a parte
do trabalho (valor), a qual o trabalhador de novo acrescenta ao
material, se reduz a salário e a lucro, e por isso, em si, a nova maís-
valia criada nada tem a ver com a parte que o capital adiantou (cor-
porificada em ma te riais e instrumentos) .
A. Smith, depois de ter assim reduzido o lucro a apropriação
de trabalho alheio não pago, logo prossegue:
60
\f·~~-~~~::~~';; ___ ,; ~-~'
. f3 s §-· e. .A.. t_,.
A renda fundiária, como o próprio lucro industrial, é apenas:
parte do trabalho que o trabalhador acrescenta aos materiais, cede,
transfere sem pagamento ao proprietário, ao dono da terra, e portanto
não passa de parte do trabalho excedente que o trabalhador exeruta
além da parte do tempo de trabalho destina& a pagar seu salário ou
a proporcionar um equivalente ao tempo de trabalho contido no sa-
lário.
A. Smith, por conseguinte, concebe a mais-valia ~ isto é, o tra·
balho excedente, o que no trabalho executado e realizado na merca-
doria u/.trapassa o trabalho pago, o trabalho que recebeu o equivalente
no salário - como a categoria geral de que o lucro propriamente e
a renda fundiária são meros ramos. Contudo, Smith não dissociou a
mais-valia como tal, como categoria independente, das formas espe-
ciais que assume no lucro e na renda fundiária. Está aí a otigem de
muitos erros e carêndas nas suas pesquísas e mais aínda nas de Ri-
cardo.
Outra forma em que se apresenta a mais-valia é o juro do capital,
o juro do dinheiro. Mas, o
(isto é, pela renda fundiária ou pelo salário. Neste último caso, to-
mando-se a média do salário, o juro não procede da mais-valia e é
deduzido do próprio salário, ou é apenas outra forma de lucro, forma
em que ocorre, como veremos depois, na produção capitalista pouco
desenvolvida 26 ,
"a não ser que o prestatátio seja um esbanjador que contrai se-
gunda dívida pata pagar os juros da primeira" (1. e., pp. 105-
106). .
61
caso se aplica a mesma observação. Ou é pago do capital próprio ou
alheio, pelo prestatário. Então, não constituí absolutamente mais-vali.~
e sim mera repartição diversa de riqueza ·existente, oscilação, para
as partes interessadas, na balança da riqueza, como no lucro de alie-
nação. Excetuado esse caso em que o hlro não é de maneira alguma
forma de mais-valia (e o caso em que é dedução do salário ou mes-
mo forma de lucro, do que não fala Smith), o ju1"o não passa por-
tanto de forma secundária, de mera porção do lucro ou da renda fun-
diária (concerne apenas a sua repartição), nada ma.is representa que
porção do trabalho excedente não pago.
62
Assim, juro do dinheiro, como impostos ou proventos derivados
de impostos, quando não são deduções do próprio salário, constituem:
meras participações no lucro e na renda fundíária, os quais por sua
vez se reduzem a mais-valia, isto é, a tempo de trabalho não pago.
Esta é a teoria geral smithiana da mais-valia.
A. Smith em outro trecho resume por inteiro sua concepção, e
então se evidencia que está longe de tentar sequer alegai- que o valor
que o trabalhador acrescenta ao produto (após deduzidos os custos
de produção, o valor dos materiais e dos instrumentos de trabalho)
não é maís determinado pelo tempo de trabalho inser.ido no produto
porque o traoalhador não mais se apropria totalmente desse valor,
mas tem de repartír - o valor ou o produto - com o capitalista e
o proprietário da terra. A maneira como o valor de uma mercado-
ria se reparte entre seus produtores em nada altera a fültureza desse
valor ou a relação de valor entre as mercadorias.
63
!µndiária 9u capital e propriedade da terra nunca podem ser fonte de
11alor.)
64
- ....... 1ilo'""""""" .1
6.5
trl!hiüho encerrada no dinheiro que desembolsou. E exatamente essa
qµanticlacle adicional de trabalho constitui· a mais-valia criada pelo ca·
pital.
Mas, uma vez que o dinheiro com que o capitalista compra tra.
balho (esse é o resultado real, obtido mediante a troca direta não
com o trabalho e sim com a força de trabalho} é apenas a figura ttans-
mutada de todas as demais mercadorias, a existência autônoma do va-
lor de troca, impõe-se então dizer que todas as mercadorias, na troca
por trabalho vivo, também compram mais trabalho do que nelas se
contém. :&se mais constitui precisamente a m•valia.
O grande mérito de A. Smith é ter percebido, e precisamente
nos rnpítulos do livro primeiro (cap. VI, VII, VIII), a ocorrência
de uma ruptura, ao passar ele da .simples troca de mercadorias e da
oorrespondente lei do valor para a troca entre trabalho materializado
e trabalho vivo, entre capital e trabalho assalariado, para o estudo do
l).lcro e de renda fuudiá.tia em geral, em suma, para a gênese da mais-
valía; ter notado que. ao haver essa ruptura, a lei de fato se revoga
no tocante ao resultado - não importa qual seja a razão mediata, e
essa mediação lhe escapa - , troca-se mais trabalho por menos tta·
balho (do ponto de vista do trabalhador), menos trabalho pot mais
trabalho (do ponto de vista do capitalista); e ter além disso acentua-
do - e este achádo na verdade o perturba - que oom a acumulação
do. capital e com a propriedade da terra., isto é, ao se tomarem as
condiç~ de trabalho independentes em relação ao próprio trabalho,
algo muda na aparência (e de fato no resultado) : a lei do valor se
transmuta no seu oposto. No plano teórico sua força ~tá em sentir
e acentuar essa contnldição, e a fraqueza está em ser por ela indu-
zi® a enganar-se quanto à lei geral mesmo 110 toc$llte à simples troca
de mercadorias; em não compreender como se introduz essa contra·
dição com a circunstância de se tornar mercadoria a própria força
de trabalho e de ser o valor de uso dessa mercadoria específica, o
qual nada tem a ver portanto com seu valor de -troca, a própria ener-
gia que gera o valor de troca. Ricatdo supera A. Smith, por não se
c:ieixar confundir por essas contradições aparentes~ de resultados ope-
n..ntes. Fica-lhe atrás quando nem mesmo suspeita existir aí um pro-
blema e por isso em. nenhum momento estranha nem o preocupa o
desenvolvimento específico que a lei do valor assume com a formação
do capital. O que é genial em A. Smith ~ veremos mais adiante -
Malthus transmuta em reacionário, em elemento de ataque à itosíção
tleátdiana.
Mas, ao mesmo tempo, é naturalmente por causa de sua visão
penetrante que A. Smith se torna perplexo, inseguro, sente faltar-lhe
o chão e não pode, ao contrário de Ricardo, chegar à visão te6rica,
66
global e coerente dos fundamentos gel'ais abstratos do sistema bur-
guês.
A afirmação smithiana acíma de que a mercadoria comprn mais
trabalho que o nela contido, ou de que o trabalho paga pela merca-
doria valor maior que o nela encerrado, é assim expressa por Hodgskin:
67
de e coerência mais sistemáticas, e daí também resulta destaque maior
para as inconseqüências e contradições) uma série de incongruências,
contradições não resolvidas e disparates que os ricardianos (como v~
remos adiante no capítulo sobre lucro) procuram resolver com wn
jogo escolástico de palavras. O empirismo grosse.iro transmuta-se em
falsa metafísica, em escolástica que se martiriza para derivar de ime-
diato da lei geral, mediante a simples abstração formal, fenômenos
empíricos evidentes, ou para ajustá-los a ·essa lei por meio de raciocí-
nios artificiosos. Veremos agora passagens exemplificativas de A. SiDith:
nele a confusão logo se insinua, não quando trata expressamente do
lucro ou da renda fundiária, essas formas particulares da mais-valia,
mas quando as considera apenas formas da mais-vfilia em geral, de·
d14ções do trabalho adicionado pelos trabalhadores às matérias-primas.
A. Smith, 1. l, pp. 96-97, depois de dizer:
"Por isso, o valor que os trabalhadores adicionam às ma·
térias-prímas se reduz aí a duas partes: uma lhes paga o salário,
e a outra, o lucro do empregador sobre o inteiro montante que
adiantou e.tn matérias-primas e salários,"
prossegue;
69
lário anual de 15 libras pam cada um, der.;pendendo assim cada
manufatura, por ano, JOO libras em salários. Admitamos ainda
que numa se opera com materiais grosseiros no ·valor apenas de·
700 libras anuais, e noutra, com materiais mais finos, no valor
de 7 000 libras anuais. O capital aplicado por ano, na primeira
Importará portanto em 1 000 libras apenas, e na segunda, em
7 .300. De acordo com a taxa de dez por cento, o empresário
da primeira espera um lucro anual de cerca de 100 somente, e
o da segunda, de cerca de 730. Apesar dessa enorme diferença
nos lucros, o trabalho de inspeção e direção que exercem pode
ser o mesmo ou quase" ( 1. c., pp. 97-98).
70
BSFEÀC
OOl!Wfl: de 1)1,lRS" fornias
part;kulares •. Em SmithJ como em to os os
.~i;lnqznist,as burguese~ posteriores, a regra é a carência de discerni-
Q:iroto teórico para conceber· as diferenças de forma das relações eco-
.ri~~~as .{llll) suas tentativas grosseiras e no seu interesse de apreen-
q~r ÇI ~ter~al eznpfrico ~xistente. Decorre dai também sua incapaci-
9~e de chegar a uma concepção correta do dinheiro quando estão
eiµ. jagQ apenas diferentes mudanças na forma do valor de troca, sem
alt\'!l~·se a magni?tde do valor.
71
i~;:i~$ !la~ais gratuitas, opeta produtivamente no processo
,·y·:~ p~ução de valores de us.01 mas nunca se torna fonte
Nã9 c;l:ia valor novo algum e só adiciona ao produto em
·Qt de tt"Qca~ na medida em que o possui, isto é, em que
·· .:1&'tempo de ·trabalho materializado, de modo que o trabalho
n~;. de seu valor.
,.í.Aiideidale acerta ao afirmar que A. Smith, depois àe explicar a
:" ~ da mais-valia e do valor, fica sem razão para considerar ca-
i, ati~'teriá. cÔmo ·f0nteS autônomas do valor de troca. Constituem
:''.f®i~( .4~ renda ~ os respectivos proprietãrios ao representarem
:,~d.tíiitô a,' c~t,a quantidade de trabaJho excedente, a qual o trabalha-
;ifut 't~ de eyec::utar acima do tempo de trabalho necessário para re-
pÔt Ô, siMrio, Ass_im diz A. Smith por exemplo:
72
qual ele mesmo se apropria, mas essa apropriação não cria valor. Seu
salário, por isso, pode subir ou cair sem alterar o valor da mercado·
ria por ele produzida.
( (Citação a adicionar à idéia acima de A. Smith, de fazer dos
títulos sob os quais se efetiva a apropriação do valor da mercadoria,
fontes desse valor: depois de refuter o ponto de vista de ser o lucro
outro nome para o salário do capitalista ou para o salário do trabalho
de superintendência, conclui ele:
---------
28 Aí, para Marx, preço médio = preço de produção = custo de pro-
dução (e + v) acrescido do lucro médio. Nos capítulos VIII e X do vo-
lume 2 desta tradução, estuda Marx a relação entre o preço da mercadori1t
e seu preço médio. Por preço médio entende Marx "o preço médio de mer·
CjiOO durante um período longo ou, . . o centro em tomo do qual gravitlil
o preço de mercado". Ver a propósito vol. 3 desta tradução, c.ap. XIII, seção l.
74
da mercadoria não está acima nem abaixo do valor em virtude das.
variações da oferta e da procura; em outras palavras, quando o preço
de custo211 da mercadoria (ou o valor da mercadoria fornecida pelo
vendedor) é ao mesmo tempo o preço que a procura paga.
Na pesquisa sobre o preço natural do salário, A. Smith, como
dissemos, recorre efetivamente, pelo menos em certas passagens, à
definição correta do valor. Em contrapartida, no capitulo em que
trata da taxa natural ou do preço natural do lucro, desvia-se de sua
:verdadeira tarefa para cair em lugares-comuns e.-vãs tautologias. N0>
inicio achava de fato que o valor da mercadoria regulava salário, lu·
cro e renda fundiária. Mas, em seguida, põe--se a trabalhár e.tn sentido
contrário (mais próximo da aparência empírica e das idéias correntes).
propõe que se calcule e se descubra o preço natural das mercadorias.
por adição dos preços naturais do salário, lucro e renda fundiária.
É mérito relevante de Ricardo, ter posto fim a essa .confusão. Volta-
remos brevemente ao assunto no estudo sobre Ricardoªº.
Aí mais uma observação: a magnitude: dada do valor da merca·
doria, o fundo que serve para pagar salário e lucro, se apresenta em-
75
piticamente ao industrial na forma de determinado preço de mercado
da mercadoria, válido por tempo mais ou menos longo, apesar de
todas as variações do salário.
Por isso. importa diligír a atenção para este estranho curso das·
idéias no livro de Smith: começa ele pesquisando o valor da merca-
doria e o define com acerto· em certas passagens, e com tanto acerto
que descobre, em geral, a origem da. mais-valia e de suas formas par-
ticulares, e deriva daquele valor salário e lucro. Mas depois toma
o caminho oposto e procura, ao contrário, deduzir o valor das merca-
dorias (do qual derivou salário e lucro) da adição dos preços naturais
do salário, lucro e renda fundiária. Por isso jamais chega a esclare-
cer corretamente .a influência- das oscilações do salário, preço etc. sobre
os preços das mercadorias, faltando-lhe base para isso.
77
~~te, cqm referência ao arrendatário, que no preço 'do trigo entra
.....:... alé.ID.
do salái:io, lucro e renda fundiária pagos por ele a si e a
011trQS ··_,_ um qi1arto componente diverso dos mencionados, o valor do
capital constante por ele consumido, como cavalos, instrumentos agrí-
col~ etc., Q mesmo é váljdo também para o criador de cavalos e para
0,. ~fàbriçante de arados, e de nada adianta. que Smith nos mande de
Herodes para Pilatos. Aliás, o exemplo do arrendatário foi uma es-
colha inadequada para esse deslocamento da questão, pois entre os
componentes do ca.pital constante encontra-se ai um que não precisa
ser comprado de alguém, a. saber, as sementes; e no caso redu1,..se
esse componente do valor, para alguém, a salário, lucro ou renda?
Agora importa prosseguir e ver se Smith consegue sustentar o
ponto de vista de que o valor de toda mercadoria é redutfvel a uma
<las fontes de renda ou a todas elas - salário, lucro, renda fundiária
---. e assim, destinado ·ao consumo, pode ser gasto ou em todo caso em-
pregado, seja. como for, em uso pessoal (exclui-se o consumo indus-
trial). Antes de mais nada, uma observação preliminar. Por exemplo,
na colheita de amoras etc. pode-se admitir que o valor delas se re-
duza a salário apena!>, embora também nesse caso alguns apetrechos
<:amo cestas e coisas· desse gênero sejam em regra meios de trabalho
necessái:ios. Mas exemplos dessa ordem não têm agora a menor im·
portânda, por se tratar da produção capitalista. Para começar, vere·
mos que ele repete o ponto de vista já expresso no livro 1, cap. VI.
Diz o livro II, cap. II ( t. II, Garníer, p. 212}:
"Mostrou-se. . . que o preço da maior parte tf,as mercado-
rias Se divide em três componentes, dos quais um paga O Sa·
ltir~o. outro, o lucro do capital, e o terceiro, a, rerufa fundiária"
78
àqueles três componentes e repartir-se entre os diferentes ha-
bitantes do país, como salário do trabalho ou como lucro do
capital ou como renda da terra" (l. e., p. 213 ).
79
nente do valor. Admite-o aí Smith. como o devia ter feito no caso do
arrendatário produtor de trigo, o que para ele não teria impedido
·que o trigo (isto é. o preço ou o valor de troca desse trigo) se con·
vertesse apenas em renda. Segundo, uma observação incidental. A
riqueza real de que pode dispor o empresário. agrícola individual.
considerado como arrendatário, depende do lucro. Mas, além disso,
como dono de ma.'cadorias pode vender toda a propriedade agríepla
ou, se a terra não lhe pertence, todo o capital constante nela exis-
tente como animais de carga, instrumentos agrícolas etc. O valor que
assim pode realizar, a riqueza portanto de que pode dispor, depende
elo valor, isto é, da magnitude do capital constante que lhe pertence.
Entretanto, só pode efetuar essa venda a outro arrendatário, em cujas
mãos tudo isso não é riqueza disponível, mas capital constante. Con-
tinuamos onde estávamos.) )
(antes dizia Smith que esse total, isto é, seu valor, se reduz a salá-
rios, lucros e renda fundiária, meras formas da renda líquida);
80
de trabalho, tanto o preço quanto o produto vão para esse fundo;
o preço, para o fundo dos trabalhadores, e o produto, para o
de outras pessoas cujos sustento, confort.o e satisfações são acres-
cidos pelo trabalho desses trabalhadores" (l. e.• pp. 214-215).
81
9. SAY, VULGARIZADOR DA TEORIA SMITHIANA: IDE'N"TIFICA
ó PRODUTO SOCl:AL DRUTO COM A RENDA SOCIAL. STORCH
E RAMSAY PROCURAM DISTINGUI-LOS
82
tar-se com as sementes e as forragens, obter suas roupas dos
animais de trabalho e· divertir-se com os instrumentos agríco.
las? De acordo com a doutrina de Say todas essas perguntas
têm necessariamente resposta afirmativa" (1. e., pp. 1.35-136).
"Para Say, o produto bruto é a renda :.fa sociedade; conclui dai
que a sociedade pode consumir valor igual a esse produto" (1. e.,
p. 145). "A 1·enda (líquida) de uma nação não é o excesso dos
vnlores produzidos sobre a totalidade dos valores consumidos,
como Say imagina, mas sobre os valores consumidos para pro-
dw:.ir." Assim, "uma nação, se consome no ano esse excesso todo,
consome a renda (líquida) toda" (1. e., p. 146). "Se se admite
que a renda de uma nação iguala o produto bruto, isto é, sem
haver capital para dele deduzir, não se pode deixar de admitir
também que essa nação pode consumir improdutivamente o
valor todo do produto anual, sem causar o menor prejuf2o à
renda futura" (1. e., p. 147). "Não são comumíveis os produ-
tos que constituem o capital" (constante) "de uma nação" (1.
e., p. 150).
A respeito do mesmo tema - o quarto elemento constitutivo
do preço total de S.míth ou o que chamo de capital constante para
diferençar do capital desembolsado em salário - observa Rarusay
(George) em An Essa,, on tbe Distribution of Wealth (Edimburgo,
1836):
"Ricardo esquece que o produto global não se divide npe-
nas em salário e lucro, e que há ainda a parte necessária para
substituir o capital fixo" (p. 174, nota).
83
poderia continuar como dantes. As matérias-primas das manu·
faturas, os instrumentos aplicados nelas e na agricultura, a
vasta maquinaria industrial, os edifícios necessários para fa-
bricar e para armazenar os produtos têm todos de ser partes
do produto global de um país e da totalidade dos adiantamen-
tos d.os empresários capitalistas. Por isso, a quantidade dos ar-
tigos de um ramo pode ser comparada com a dos artigos de
outro, como se cada artigo se confrontasse com um similar"
(Ramsay, 1. e., pp. 137 a 139). Uma vez que não "repõe em
produtos" as despesas ''e tem de obter por roeío da troca a
maior parte, de longe, da receita, sendo necessária certa porção
do produto para esse objetivo, todo capitalista individual aten·
ta mais para o valor de troca do produto que para a quantida-
de" (1. e., pp. 145-146). "Quanto mais o valor do produto
exceda o valor do capital adiantado, tanto maior será o lucro.
Por isso o capitalista o calculará comparando valores e não
quantidades. . . O lucro tem de subir ou descer na proporção
exata em que desce ou sobe a porção do produto b1uto ou de
seu valor, requerida para substituir os adiantamentos necessá-
rios. A taxa de lucro depende assim de duas circunstâncias: 1)
d.a proporção do produto global, destinada aos trabalhadores;
2) da parte que deve ser ,reservada para substituir o capital fixo
diretamente por produto ou por meio de troca" (1. c., pp. 146
a 148, passim).
( {O que Ramsay diz a{ sobre a taxa de lucro setá elêaminado no
cap. III concernente ao lucto*. É importante o de.staqué acertado
que dá a esse elemento. Ricardo, por sua vez, está certo ao dizer que
o barateamento das mercadorias que formam o capital constante (que
Ramsay chama de capital fixo) deprecia sempre parte do capital exis-
tente. Isso é verdadeiro sobretudo para o capital fixo propriamente,
maquinaria etc. Pata o capitalista individual** não é vantagem que a
mais-valia acresça em relação ao capital todo, se o acréscimo dessa
taxa .se produz por ter caído o valor global do capital constante (que
ele já possuía antes da depredação). Isso, contµdo, só tem validade
muito reduzida para a parte do capital composta de matérias-primas
ou mercadorias acabadas (que não entram no capital fixo). Dessa
parte, o montante existente que assim pode ser depreciado nunca.
passa de magnitude insignificante comparada com a produção global.
Para çada capitalista só tem validade reduzida a depreciação da parte
do capital empregada em capital circulante. Mas, ao revés, uma Ve?:
que o lucro é igual à relação entre a mais-valia e a totalidade do
* V~r n,ota 1, na p. 13.
*·* Ver nota 2, na p. 15.
84
. ....m.._.,,,:,.,. ~
FEACt
,;;:..·~-l~.ICló• .. t;:;.• ... .r.C<.!:'3!!1.~
85
1:1ª- :i;enda. em capital, em meios de trabalho e em materiais de trs-
bilho, · esses meios e materiais são pagos pela parte do trabalho exe-
cutada grátis pelo trabalhador para o capitalista. Há af nova quanti.-
dade de trabalho que equivale a nova quantidade ele mercadorias
consistentes, segundo o valor de uso, em meios de trabalho e materiais
de trabalho. Isto não acarreta dificuldade alguma e abrange a acumu-
lação de capital, ou seja, o crescimento do capital constante além dos
limites antei.iores ou a formação de novo capítal constante acima do
montante que existe e tem de ser substitukl.o. A dificuldade é a
reprodução do capital constante existente, não a formação de novo
capital constante, que ultrapassa o que tem de ser reproduzido. O
novo tew origem evidente no lucro e existência transitória na forma
de re.ndaJ que depois se transforma em capital. Essa parte do lucro
se reduz ao tempo de trabalho excedente que de contínuo a sociedade
teria de efetivar, mesmo que não existisse o capital, a fim de ter à
disposição um fundo de desenvolvimento, por assim dizer, fWldo que
o crescimento da população já toma necessádo.
((Uma boa explicação do capital constante no tocante apenas ao
valor de uso encontra-se em Ramsay, L c., p. 160, onde se lê:
çadQria.s que entram. na totalidade d-0 consum-0 d-0.11 que recebem essas ren-
das, qµ,ando essas mercadorias encerram, além dessas três partes do va101-,
uma· parte adicional. o capital constante? Como é possível comprar um valor
de quat!-'.o com um valor de três?" E logo adiante (1. e., p. 968) diz ele:
"O ~unto foi estuctado no livro segundo, parte terceira." Nessa parte trata
Uarx da i:eproduç.ão e circulação do capital social em sua totalidade (ver
J,ivro 2 da ob. çit., vol. 3, pp. 375 a 556).
86
ro), "o juro, e ao proprietário da terra, a renda fundiária'"
(Ramsay, pp. 218-219).
87
à ter:ra. O valor dessa parte constante pode na verdade cair ou subir,
confotm.e as mercadorias em que efa consiste tenham de ser repro-
duzidas a custo menor ou maior. Todavia, essa variação de. valor
nunca impede que essa parte, no processo de proàução onde entra
como condição de produção, seja valor pressuposto que tem de rea-
parecer no valor do produto. Por isso pode ser ignorada aqui essa
variação do valor do capital constante. Seja como for, há aí dada
quantidade de trabalho pretérito, materializado que determina o valor
do produto na medida em que para ele se transfere. Por isso, admitamos
para melhor caracter:i2ar o problema, que os custos de produçãoªª e
também o valor da pane constante do capital não se alterem, perma·
neçam invariáveis. O problema em nada se modifica se, por exemplo,
a transferência completa do valor do capital constante, ao invés de_
se efetuar para os produtos de um ano, só se verificar para a massa
de produtos de um período de vários anos, como ocorre com o capital
lixo. :S que se trata aqui apenas da parte do capital constante .real-
mente consumida durante o ano e que por isso tem de ser também.
substituída dentro do ano.
É claro que o problema da reprodução do capital constante se
enquadra no estudo do processo de reprodução ou de circulação do
capital, mas isso não impede de se tratar aqui do que lhe é essencial.
Consideremos, de início, o salário do trabalhador. Receba este
certa soma de dinheiro em que se materializam, digamos, 10 horas
de trabalho, ao trabalhar 12 para o capitalista·, Esse salário se reduz
a meios de subsistência. Todos esses meios ele subsistência são mer-
cadorias. Suponha-se o preço dessas mercadorias igual ao valor. No
valor dessas mercadorias encontra-se, potétn;, um· componente que
cobre o valor das matérias-primas nelas contidas e dos meios de pro·
dução nelas gastos. Tomados conjuntamente, todos os componentes
dessas mercadorias, desses meios de subsistência, s6 contêm, como
salário gasto pelo trabalhador, 10 horas de trabalho. Admitamos que
2/3 do valor dessas mercadorias consistam no valor do capital cons-
tante nelas contido, 1/3 no trabalho que por fim elaborou o produto
acabado para consumo. Por conseguinte, o trabalhador, com suas 10
horas de trabalho vivo substitui 2/3 de capital constante e 1/3 de
trabalho vivo (adicionado a esse produto durante o ano) . Se os meios
de subsistência, as mercadorias que compra não encerrassem capital
constante, se não tivesse havido custo de matérias-primas nem neces-
sidade de instrumentos de trabalho para produzir essas mercadorias,
surgiriam então duas possibilidades: ou as mercadorias conteriam, como
88
dantes, 10 horas de trabalho, e então o trabalhador substituiria fO
horas de trabalho vivo por 10 horas de trabalho vivo, ou a mesma.
massa de valores de uso a que se reduz seu salário e de que precisa
para reproduzir a força de trabalho, só teria custado 3 1/3 horas de
trabalho (não haveria instrumentos nem matérias-primas que já são
por sua vez produto do trabalho). Nesse caso, o trabalhador s6 preci-
saria trabalhar .3 1/3 horas de trabalho necessário, e o salário cairia
efetivamente para 3 1/3 horas de tempo de trabalho materializado.
Seja a mercadoria linho: 12 jardas (não importa aqui o preço
efetivo) = 36 xelins ou 1 libra e 16 xelins. Deste montante represente
1/3 trabalho adicionado, e 2/3, matéria-prima (fio) e desgaste de
maquinaria. Seja o tempo de trabalho necessário = 10 horas; em con-
seqüência, o trabalho excedente = 2. Expressa em dinheiro, seja
urna hora de trabalho = 12 xelins, salário = 10 xelins, lucro
= 2 xelins. Admitamos que trabalhador e capitalista gastem por
completo salário e lucro, os 12 :itelins (o valor global adicionado às
matérias-primas e à maquinaria, a quantidade global de novo tempo
de trabalho materíalizado na transformação de fio em tecido de
linho), no próprio tecido de linho, artigo de consumo. (E é possív~l
que na compra do próprio produto se despenda depois mais de uma
jornada de mtba1ho). A jarda de tecido de línbo custa .3 xelins. Com
os 12 xelins, trabalhador e capitalista juntos só podem comprar,
somando salário e lucro, 4 jardas apenas de linho. Ness1:1s 4 jardas
de linho se encerram 12 horas de trabalho, das quais s6 4 cons-
tituem novo trabalho adicionado e 8, trabalho materializado em capítal
constante. Com as 12 horas de trabalho, salário e lucro juntos com-
p~m apenas 1/3 de seu produto inteiro, pois 2/3 dele consistem
em capital constante. As 12 horas de trab:dho repartem-se em 4 + 8,
das quais 4 substituem .a si mesmas, mas 8, independentes do trabalho
adicionado no processo de tecelagem, substituem aquele trabalho que
já em forma materializada~ de fio e máquina, entrou nesse processo.
Quanto a esse segmento do produto, da mercadoria, segmento
que se troca ou compra por salário e lucro -para consumo (ou para
qualquer outro fim, mesmo para reprodução, pois o objetivo com
que se compra a mercadoria em nada altera o problema), é claro que
a correspondente fração do valor constituída pelo capital constante é
paga às custas do fundo do novo trabalho adicionado, o qual se de-
compõe em salário e lucro. Quanto salário e lucro juntos compram
de capital constante e de tra.balho adicionado no último processo de
produção, e em que proporções se paga trabalho adicionado por último
e trabalho realizado em capital constante, são coisas que dependem
da proporção original em que eles entraram na mercadoria acabada
89
para formar o valor dela. Para simplificar admita.mos a razão: 2/3
-de trabalho realizado em capital constante para 1/3 de novo traba-
.lho adkionado.
Agora dois pontos estão claros:
Primeb'o: A proporção que admitimos para o tecido de linho,
isto é, para o caso em que trabalhador e capitalista realizam salário
-e lucro nas mercadorias por eles mesmos produzidas, comprando de
volta parte do próprio produto - essa proporção não muda se eles
.aplicarem a mesma soma noutros produtos. Conforme o que admiti-
.mos - em toda mercadora se contêm 2/3 de capital constante e
1/.3 de novo trabalho adicionado - salário e lucro nunca poderão
.comprar mais do que 1/3 do produto. As 12 horas de tempo de
trabalho= 4 jardas de linho. Essas 4 jardas de linho, se se conver-
.terem em dinheiro, passarão a existir na forma de 12 xelins. E esses
12 xelins, se se reconverterem em outra mercadoria diferente do
:linho, terão comprado mercadoria no valor de 12 horas de trabalho,
.das q~ai~ 4, de 11ovo trabalho adicionado, e 8, de trabalho realizado
..em capital constante. A proporção, portanto, tem validade geral, se
admitirmos que em todas' as mercadorias seja a mesma a proporção
original entre trabalho adicionado por último e trabalho realizado
.em capital constante,
Segundo: Quando o novo trabalho adicionado por dia fot igual
.a 12 horas, dessas 12 horas só 4 repõem a si mesmas, isto é, tra-
·f>a~ho vívo, novo. trabalho adicionado, enquanto 8 pagam trabalho
realizado em capital constante. Mas quem paga as 8 horas de tra-
balho vivo que não repõem a si mesmas? Justamente· as S horas de
.trabalho realizado, encerradas no capital constante t: que se trocam
:pelas 8 horas de trabalho vivo.
Não há portanto a menor dúvida que, da mercadoria acabada, a
parte comprada pela totalídad.e dos saládos e lucros - que juntos
representam apenas o total de novo trabalho adicionado ao capital
<onstante - é substituída em todos os seus elementos: o novo tra-
:balho adicionado nela contido e a quantidade de trabalho encerraàa
.no capital constante. Demais, não paira dúvida alguma que aí o tra-
.balho contido em capital constante recebeu - do fundo de trabalho
vivo, de trabalho novo que lhe foi adicionado - seu equiva:lente.
Mas, ~crora, surge a dificuldade. O produto global d.as 12 horas
.de trabalho de tecelagem - e esse produto global difere por com-
pleto do que esse próprio trabalho de tecelagem produziu - é de
12 jardas de linho, no valor de 36 horas de trabalho ou .36 xelins.
Mas salário e lucro juntos, ou o tempo de trabalho de 12 horas em
sua totalidade, s6 podem comprar de volta 12 dessas .36 horas de
90
trabalho ou apenas· 4 !ardas do produto global, nada mais. Que se
dá com as outras 8 jardas? (Forcade, Proudhon 34 .)
De saída vemos que as 8 ja1·das representam apenas o capital
constante despendido. Mudou porém a forma de valor de uso desse
capital constante. Existe ele agora como produto novo, não mais fio
nem tear etc., mas tecido de linho. Essas 8 jardas de linho tão boas
como as outras 4 que foram compr2das por salário e lucro, encerram,
no tocante ao valor, 113 de trabalho adicionado no processo de tece-
lagem e 2/3 de trabalho preexistente, materializado em capi,tal cons·
tante. Mas, antes, nas 4 jardas, 1/3 do novo trabalho adicionado ro.
bria o trabalho de tecelagem nelas contido, isto é, a si mesmo, e 2/3
do trabalho de tecelagem, o capital constante nelas inserido; agora,
ao conu-átio, nas 8 jardas de linho, 2/3 do capital constante cobrem
o capital constante nelas en~rrado, e 1/3 do capital constante, o
novo trabalho adicionado nelas contido.
Que sucede então a essas 8 jardas de linho que absorveram o
valor do capital constante todo - valor que as 12 horas de trabalho
de tecelagem preservaram ou que entrou na produção - e agora se
apresentam na forma de um produto destinado ao consumo imediato,
individual ( não industrial)? ·
As 8 jardas pertencem ao capitalista: se ele mesmo quisesse con-
sumi-las além dos 2/3 de jatd.a que representam seu lucro, não po-
deria reproduzir o capital constante contido no processo de tecela-
gem de 12 horas; em suma, não poderia mais funcionar como capi-
talista no tocante ao capital contido nesse processo de 12 horas. Ven-
de portanto as 8 jardas de linho, transforma-as em dinheiro na magni-
tude de 24 xelins ou 24 horas de trabalho. Mas ai esbarramos na
dificuldade. A quem as vende? Transforma-as 210 dinheiro de quem?
Logo voltaremos a ·es.se ponto. Vejamos por ora a continuidade do
processo.
Depois de transformar em dinheiro as 8 jardas de linho, isto é,
a parte do valor a qual corresponde ao capital constante que adian-
tou, depois de vendê-las e convertê-las à forma de valor de troca,
volta ele a comprar, com o dinheiro obtido, mercadorias da mesma
espécie (segundo os valores de uso) daquelas que na origem compu-
nham seu capital co11stante. Compra fio e teares etc. Reparte os 24
91
xelins ein matérias-primas e meios de produção, nas proporções exi·
gidas para produzir novo tecido de linho.
· O capital constante é, portanto, segundo o valor de uso, repas.to
por novos produtos do mesmo trab11lho que, na origem, efaborava
os produtos em que ele consistia. O cat>italista reproduziu esse ca-
pital. Mas o novo fio, teares etc. (de acordo com o pressuposto}
consistem, por igual, em 2/3 de capital constante e 1/3 de novo
trabalho adicionado. Se portanto as 4 primeiras jardas de linho ( tra-
balho de _novo adicionado e capital constante) foram pagas exclusi-
vamente por trabalho de novo adicionado, as 8 jardas de linho são
substituídas por seus pr6prios elementos de produção de novo pro·
duzidos e consistentes em duas frações: trabalho de novo aclicionado
e capital constante. Parece portanto que parte, pelo menos, do ca-
pital constante, se troca por capital constante noutra forma. A substi-
tuição dos produtos é real, porque, enquanto o fio se transformq. em
tecido de linho, a fibra se transforma em fio e as sementes da planta
se convertem em fibra; do mesmo modo, enquanto o tear sé des-
gasta, novo tear se fabrica e, enquanto este se fabrica, produ~-se nova
quantidade de madeira e de ferro. Os elementos são produzidos numa
esfera de produção, ao mesmo tempo que estão sendo transformados
noutra. Mas em todos esses processos de produção simultâneos, em-
bora cada um deles represente fase transitória do produto, consome-se
ao mesmo tempo capital constante em proporções diversas.
O tJalor do produto acabado, do tecúlo de li1iho, reduz.se por-
tanto a duas partes: uma readquire os elementos dó capital constante
simultaneamente produzidos, e a outra é gasta em artigos de consu·
mo. Para simplificar, abstraímos aqui totalmente da "conversão de
parte do lucro em capital; assim, para toda a nossa pesquisa adm.iti-
mos que salário + lucro, isto é, o total do trabalho adicionado ao
capital constante é consumido como renda*.
Fica apenas a pergunta: Quem compra do produto total a· parte
çujo valor serve para readquirir os novos elementos do capital cons-
tante entte.tnentes produzidos? Quem compra ·as 8 jardas de linho?'
Admitamos, para eliminar todos os subterfúgios, que se trata de uma
espécie de tecido de linho, destinada especialmente ao conSUlno indi-
vidual, excluído o consumo industrial como seri.a o caso do linho
pal"a as velas de navio. Serão postas de lado as meras operações inte1·-
mediárias do comércio, enquanto fiquem na pura esfera da mediação.
Por exemplo, a.s 8 jardas de linho 1 se foram vendidas a um <.:omercian-
te e chegaram a passar pelas mãos não de um, mas de 20 comercian-
tes, se foram 20 vezes compradas e revendidas, na 20.l>< operação
92
têm por fün de ser vendidas ao verdadeiro consumidor, que portanto
paga de fato ao produtor ou ao último, ao 20.º comerciante, que para.
o consumidor representa o primeiro comerciante, isto é, o verdadeiro
produtor. Essas operações intermediárias protelam ou, se se quer~ le-
vam à tra11sação definitiva, mas não a e:x:plicam. A pergunta continua
a mesma: Quem compra as 8 jardas de linho do fabricante ou quem
as compra do 20.0 comerciante a cujas mãos chegou através de uma
série de operações?
As 8 jardas de linho, do mesmo modo que as 4 primeiras, têm
de entrar no fundo de consumo. Isto é, só podem ser pagas por salário
e lucro, pois são estes as únícas fontes de renda dos produtores, que
figuram aqui apenas como consumidores. Oito jardas de Unho contêm
24 horas de trabalho. Admitamos (considerando-se 12 horas a jor-
nada normal, com vigência geral) que trabalhador e capitalista d~
dois outros ramos gastem por completo em linho, salário e lucro.
coi:no o fizeram o trabalhador e o capitalista da tecelagem de linho,
<:om a jornada ínteira (o trabalhador, com suas 10 horas, e o capita-
lista com as 2 horas de mais-valia, obtidas às custas do trabalhador,
isto é, acima das 10 horas). Então, o empresário da tecelagem teria
v_endido as 8 jardas, seria reposto o valor de seu capital constante
para 12 jardas, e esse valor poderia ser novamente despendido nas
mercadorias determinadas que formam o capital constante, uma vez
que essas mercadorias, fio, tear etc., disponíveis no mercado, foram
produzidas enquanto fio e tear eram transformados em linho. A prr>-
dução simultânea de fio e tear, produtos contíguos ao processo de
produção donde não saem mas onde entram como produtos, explica
que a parte do valor do linho, a qual é igual ao valor dos materfais,
do tear etc,, consumidos para produzi-la, pode ser reconvertida em
fio, tear etc. Se essa produção dos elementos do tecido niio avança
simultaneamente com a produção do próprio tecido, as 8 jardas de
linho, mesmo vendidas, transformadas em dinheiro, não poderiam
reconverter-se, de dinheiro, nos elementos do capital constante do
tecido. Como, por exemplo, sucede agora com o fio ou pano dos
fabricantes da indústria têxtil algodoeira, em virtude da guerra civil
americana. A simples venda de seu produto não lhes assegura a recon-
versão, enquanto não houvc;r algodão no mercado.
Em contrapartida: embora novo fio, novo tear etc. apareçam no
mercado e tenham sido portanto produzidos novo fio, novo tear,
enquanto fio e tear prontos e acabados se converteram. em linho -·
apesar dessa produção simultll.nea de fio e tear, paralela à produção
clo linho - as 8 jardas de linho podem não se reconverter nesses
elementos materiais do ce.pital constante da tecelagem, antes de serem
vendidas, de se transformarem em dinheiro. A produção real ince~
sante dos elementos do tecído, correndo lado a lado com a produção
4o -próprio t~do, ainda não exptíca portanto a reprodução do capital
cQnstante, antes de sabermos donde veio o fundo para comprar as
8 jardas de linho, devolve1·-lhes a forma de dinheiro, de valor· de
troca autônomo.
Para résolver esta última dificuldade, supusemos que B e C,
digamos um sapateiro e um açougueiro, gastassem totalmente em linho
a soma de s~u salário e lucro, isto é, as 24 horas de tempo de traba-
lho das quais dispõem. Assim, livramo-nos da di.fku.ldade com A,
o empresário da tecelagem. Seu produto todo, as 12 jardas de linho
em que se materializam as 36 horas de trabalho, foi substituído por
salário ·e lucro apenas, isto é, pelo t.otal do tempo de trabalho de
novo adicionado ao capital constante nas esferas de produção A, l3
e e. o tempo de trabalho todo contido no linho, tanto o preexistente
no capital constante quanto o de novo adicionado no processo de
tecelagem, trocou-se por tempo de trabalho que nií.o existia antes como
capital constante em nenhuma esfera de produção ·e que foi simulta-
neamente adicionado em última instl.ncia ao capital constante das
três esferas de produção A, B e C. Continua portanto sendo errado
dizer que o valor original do linho se deco1npõe em salário e lurso
apenas, pois, mais precisamente, se reduz a valo1· igual à soma de
salário e lucro, isto é, às 12 horas de tecelagem e às 24 horas de
trabalho que independentemente do processo de tecelagem se conti-
nham em fio, tear, no capital constante, em suma, Entretanto, seria
certo dizer que o equivalente das 12 jardas de linho, os .36 xelins,
por que foram vendidas, se reduz a salário e lucro somente. Assim,
o trabalho de tecelagem e ainda o trabalho oontidÓ em fio e tear
são substituídos por mero trabalho novo adicionado, a saber, 12 horas
de trabalho em A, 12 em B e 12 em C.
O valor da própria mercadoria vendida decompõe.se em. novo
trabalho ildicionado (salário e lucro) e trabalho preexistente (valor do
capital constante): isto é, o valor do vendedor (de fato, o valor da
mercadoria). Ao revés, o valor de compra, o equivalente que o com-
prador dá ao vendedor, reduziu-se meramente a trabalho de novo
adicionado, a salário e lucro. Mas, uma vez que toda mercadoria,
antes de ser vendida, é mercadoria à venda e se torna dinheiro por
mudança apenas de forma, então toda mercadoria, na qualidade de
mercadoria vendida, consistiria em componentes de valor diferentes
dos que teria no papel de compradora (como dínheiro), o que é
absurdo. E mais: o trabalho executado pela sociedade num ano, por
exemplo, ressarciria a si mesmo - de modo que) dividindo-se o total
das mercadorias em duas partes iguais, metade do trabalho anual cons·
tltuíria equivalente da outra metade - e além disso a terça parte do
trabalho> a qual constitui o trabalho anual corrente incluído no tra-
balho global contido no produto anual, ressarciria 3/3 do trabalho,
94
igualaria magnitude três vezes superior a ela mesma. O que é ainda
mais absurdo.
No exemplo acima a dificuldade se dt:>slocou de A para B e C.
Mas complicou-se com isso, ao invés de simplificar-se. Primeiro, em
A recorríamos a esta circunstância: as 4 jardas, que contêm tanto
tempo de trabalho quanto o adicionado ao fio, isto é, a soma de
salário e lucro de A, são consumidas no próprio tecido de linho, no
produto do próprio trabalho. Este não é o caso de B nem de C, pois
ambos consomem a soma do tempo de trabalho por eles adicionado,
a soma de salário e lucro, no produto de A, em linho e não no
produto de B ou C. Têm assim pare vender, do respectivo produto,
a parte que representa as 24 horas de trabalho do capital constante e
ainda a que corresponde às 12 horas de tempo de trabalho novo adi-
cionado ao capital constante. B tem de vender .36 horas de trabalho
e não somente 24 como A. E o mesmo se dá com C. Segundo, para
vender o capital constante de A, transferi-lo para o comprador, con-
vertê-ola em dinheiro, precisamos de todo o novo trabalho adicionado
por B e por C. Terceiro, B e C não podem vender parte de seu pro
duto a A> pois, deste, a parte toda que se reduz a renda, já foi gasta em
A mesm9, pelos produtores de A. Também não podem substituir a
parte constante de A por parte alguma do próprio produto, umg
vez que, segu11do o pressuposto, os produtos de B e C não são ele-
men.tos de produ~'"ão de A, mas mercadorias que entram no consumo
individual. A dificuldade torna-se maior a cada passo.
Para trocar as .36 horas encerradas no produto de A (a saber,
2/.3 ou 24 horas em capital constante, 1/.3 ou 12 horas em trabalho
de novo adicionado} por mero trabalho adicionado ao capital cons-
tante, o salário e lucro de A, as 12 horas de trabalho adicionado em
A, têm de consumir lf.3 do produto do pr6piío A. Os restantes 2/3
do produto global = ·2~ horas i..::presentam o valor encerrado no
capítal constante. Esse valor se troca pelo total de salário e lucro
ou pelo trabalho de novo adicionado em B e C. Mas B e C~ pani
poderem comprar linho com as 24 horas de seus produtos, as quais
se reduzem a salário e lucro, têm de vender essas 24 horas na fotm<1
dos próprios produtos e, além disso, 48 horas dos próprios produtos,
para repor o capital constante. B e C têm portanto de vender seus
produtos no montante de 72 horas, pelo total dos lucros e salários
dos outros ramos D, E etc.; quer dizer (com a jornada normal de
12 horas), 12 X 6 horas ( = 72 ) , ou o trabalho adicionado de 6
outros ramos de produção têm de realizar-se nos produtos de B e C;
têm de realizar-se nesses produtos lucro e salário ou a soma do ttti-
balho adicionado ao capital constante de D, E, F, G, H, I.
Nessas condições, o valor do produto total B + C seria pago
meramente por novo trabalho adicionado, isto é1 pela soma de salário
9.5
ç lP.:cro .àas esferas de produção D, E, F, G, H, 1. Mas, nessas 6
esféras seria en.tão mister vender a totalídadt de St'Us produtos (uma
v~ que parte alguma deles seria consumida pelos próprios produtores,
PQi$ já ~pregaram sua renda nos produtos de B e C) e nenhuma
i>a.rte deles poderia destínár-se à venda dentro dessas esferas. Pro-
:dutq, portanto, de 6 X .36 horas de trabalho = 216, das quaís 144
.COrr~pondem a capital constante e 72 ( 6 X 12) a novo trabalho
adicionado. Do mesmo modo, para transformar, por sua vez, os pro-
dutos de D em salário e lucro, em novo trabalho adicionado, seria
mister gastar inteiramente todo o novo trabalho adicionado das
esferas K 1 -K18, isto é, o total de salário e lucro dessas 18 esferas,
.nos produtos das esfei-as, D, E, F, G, H, I. Essas 18 esferas K 1 -Kl.S
·teriam de vender - uma vez que não consomem parte alguma de seu
produto, _mas já gastaram sua renda toda nas esferas D-I - 18 X 36
honis de trabalho ou 648 horas de trabalho, das quais 18 X 12 ou
216 horas de J)Ovo trabalho adicionado e 4.32 de tl'ahalho encerrndo
no 'capital constante. Assim, para converter esse produto global de
K 1 - K 18 no trabalho adicionado ou .na soma de salários e lucros
de 9utras e.;feras:, seria necessário o trabalho adicionado das esferas
V-:L"', isto é, 12 X 54 ·:::::: 648 horas de trabalho. As esferas
L1 '-'L84 , para trocar seu produto global X 1 944 (das quais
648 = 12 X 54 = novo ·trabalho adicionado, e 1296 horas de
=
trab~lho trabalho contido no capital constante) po~ novo -trabalho
adicionado, teriam de absorver o novo u·abalho adicionado das esferas
M 1 -M162, pois 162 X 12 = 1 944; estas, por 'sua vez, o novo
trabalho adicionado das esferas N 1 -N4811 e assim por dian~e.
Est.a é a bela progressão ao infinito a que chegamos, se todos
cs produtos se converterem em salário -e lucro) em novo trabalho
:adicionado, e o trabalho adicionado a uma mercádoria e ainda seu
,.çapíta1 constante tiverem de ser pagos pelo novo trabalho adicionado
.de·'outra esfera de produção.
Para converter o tempo de trabalho contido no produto de A,
36 horas ( 1/3 novo trabalho adicionado, 2/3 capital constante) em
·novo trabalho adicionado, isto é, para ser ele pago por salário e
1ucro, admitimos de início que os próprios produtores de A consomem
·ou compram, o que dá no mes.mo, 1/3 d_o produto (cujo vafor = sa-
:l.ário. + lucro). Tivemos o seguinte desenvolvimento 811 :
l . Esfera de produção A. Produto = .36 horas de trabalho.
24 horas de trabalho 1 capital constante. 12 horns de trabalho adido-
ai> Marx continua a operar com os mesmos números, mas altera a notação
com letras. B e C passam a ser B1-B2; D, E, F, Q, H, I passam a ser Cl..C6;
Kl-J{.18, n1.01& (ou 01-1&); V-VIII, El-E51 (ou EM4); Ml-M162, F1-Fl6:4
( 9 u lF.1,-1&2); Nl·N"'so, CP-G4S8 (ou 01-~SO).
nado. 1/3 do produto consumido pelos co-participantes das 12 horas
- salário e lucro - , trabalhador e capitalista. Ficam para vender
2/3 do produto de A, ou seja, 24 horas de trabalho, contidas no
capital constante.
2. Esferas de produção B1-B2 • Produto = 72 horas de traba-
lho, das quais 24 de trabalho adicionado, e 48, capital constante.
Com o trabalho adicionado compram elas os 2/3 do produto de A
que substituem o valor do capital constante de A. Mas então têm de
vender as 72 horas de trabalho que constituem o valor de seu pm-
duto global.
3. Esferas de produção C1-C6 • Produto = 216 horas de tra-
balho, das quais 72 de trabalho adicionado (salário e lucro). Com
estas compram totalmente B 1-B2 , mas têm então de vender 216, das
quais 144 são capital constante.
4. Esferas de produção Di~D 18 • Produto = 648 horas de tra-
balho, 216 de trabalho adicionado e 432 de capital constante. -Com-
pram com o trabalho adicionado o produto global C1-C 6 = 216. Mas
têm .de vender 648.
5. Esferas de produção E 1-EH, Produto = 1 944 horas. de
trabalho; 648 de trabalho adicionado e 1 296, de capital constante.
Compr~m o produto total da esfera de p.i;odu.ção n 1- 18 • Mas têm de
vendet 1 944.
6. Esferas de produção P-F1 6 1l. Produto .= 5 8.32, das .quais
1 944 de trabalho adicionado e 3 888 de capital constante. Com as
1 944 compram o produto de E1-E"•. Têm de vender 5 832.
7. Esferas de produção G1 -G~ 86 •
Para simplificar admite-se para todos os casos uma única jorna-
~a de 12 horas, que se divide entre capitalista e trabalhador. Aumen-
tar o . número de j9rnadas não ajuda a ..resolver o problema, antes o
complica inutilmente.
:"Procuremos dar maior evidência à lei dessa série:
1. A. Produto = 36 horas. Capital constante = 24 horas.
Somtt de. salário e lucro ou novo trabalho adicionado = 12 horas.
Estas consumidas por capital e trabalho no próprio produto de A.
Produto vendável de A = capital constante de A = 24 horas.
2. B1-B 2 Precisamos agora de 2 jornadas de trabalho, isto é,
de 2 esferas de produção, para pagar as 24 horas de A.
Produto = 2 X 36 ou 72 ho1·as, das quais 24 horas de traba-
lho e 48, de capital constante.
Produto vendável de B1 e B2 = 72 horas de trabalho; nenhuma
parte deles se destina a consumo próprio.
6. C1-C'. Precisamos aí de 6 jornadas, pois 72 = 12 X 6, e
o produtó todo de B1 -B.!! tem de ser consumido pelo trabalho adido-
nado em C1 -Cº. Produto = 6 X 36 = 216 horai; de trabalho, das
.qwtls 72 de novo trabalho adicionado, 144, de capital constante.
18. D 1-D18 • Precisamos aí de 18 jornadas de trabalho, pois
216 = 12 X 18; assim, urna vez que os 2/3 em capital constante
correspondem a uma jornada de trabalho, 18 X 36 (o produto glo·
bal) = 648 (432 capital constante).
E assim por diante.
Os números 1, 2 etc. antepostos a parágrafos indiCàJD as jorna-
das ou os diferentes trabalhos nas diversas esferas de produção, uma
vez que supusemos apenas 1 jornada de trabalho em c~da esfera ~e
produção.
Assim:
1. A. Produto 36 horas. Trabalho adicionado 12 horas. ho·
duto vendável (capital constante) = 24 horas .
.Ou:
1. A. Produto vendável ou capital constante = 24 horas. Pro·
duto total, .36 horas. Trabalho adicionado de 12 horas; consumido em
A inesmo.
2. B 1-Bª. Compra com trabalho adicionado = 24 horas de A.
Capital constante, 4-8 horas. Produto global, 72 horas.
. _ 6. ci.ca. . Compram com trabalho adicionado 72_ horas de
B1-B2 ( = 12 X 6} ;·Capital constante 144, produto global = 216 etc.
Por conseguinte:
1. A. Produto = 3 jornadas ( 36 horas}. 12 noras· de traba-
lho adicionado. 24 horas de capital constante.
2. BN Produto ;;::: 2 X 3 = 6 jornadas (72)ioras)-. Traba-
lho adicionado = =
12 X 2 = 24 horas. Capital constante :;='48 2 X
24 horas.
6. c 1 - 6 • Produto = .3 X 6 jomadâs = .3 .-X 72 = 216 horas
de trabalho. Tl'aba/.bo .adicionado = 6 X 12 = 72 horas de trabalho.
Capital constante = 2 X 72 = 144•.
18. D 1- 18 • Produto = .3 X .3 X 6 jornadas de trabalho =
3 _X J.8 jornadas de trabalho = 54 jornadas de trabalho = 648 horas
de trabalho. Trabalho adicionado = 12 X 18 ::: 216. Capital cons-
tante = 432 horas de trabalho.
54. EN 4 • Produto = 3 X 54 jornadas de trabalho = 1 944
horas de trabalho. Trabalho adicionado = 54 jornadas = 648 horas
de trabalho; capital constante = 1 296.
162. p-161 • Produto = 3 X 162 jornadas ( = 486) = 5 8.32
horas de trabalho, das quais 162 jornadas ou 1 944 horas de trabalho
adicionado e 3 888 horas de capital constante.
486. G1"H 6 • ProdtJto = 3 X 486 ;ornadas, das quaís 486 jor-
nadas ou 5 832 horas de trabalho adicionado e 11 664 horas de ca·
pital constante. Etc.
98
Já teríamos aí a bela soma de 1 + + +
2 6 18 + 54 + 162
+ 486 diferentes jornadas em diferentes esferas. de produção ;:::: 729
diferentes esferas de produção, o que indica um estádio significativo
de ramificação da sociedade.
Para vender o produto global de A {onde apenas 12 horas de
trabalho = 1 jornada de trabalho se adicionam ao capital constante
de 2 jornadas de trabalho, e salário e lucro consomem o próprio pro.-
duto), isto é, s6 o capital constante de 24 horas - ou seja, para
convertê-lo, por sua vez, exclusivamente em novo trabalho adiciona·
do, em salário e lucro - , precisamos 2 jornadas em B1 e B2 , que
exigem capital constante de 4 jornadas, de modo que o produto globat
de B 1- 2 = 6 jornadas. Devem estas ser todas vendidas, pois dai em
diante supõe-se que toda esfera subseqüente nada consome do p_ró·
prio produto, e só despende lucro e salário para adquirir o produto
da esfera precedente. Para substituir essas 6 jornadas de ·produto
B1~ são necessárias 6 jornadas que supõem um capital constante de
12 jornadas. Por isso, o produto global de C1 -G = 18 jornadas. Para
substituí-las por trabalho são necessárias 18 jornadas de D 1-is, as quais
requerem capital constante de .36 jornadas; assim, o produto = 54
jornadas. Para repor estas, são necessárias 54· jornadas, E 1- 5\ que su·
põem capital constante de 108. Produto = 162 jornadas. Finalmente,
para repô-las, são necessárias 162 jornadas que requerem capital
constante de 324 jornadas; o produto global, portanto, é de 486
jornadas. Temos aí F1-F1' 2 • Por fim, para substituir esse produto de
Fl-F1'° 2 são necessárias 48 6 jornadas ( G1 - 48ª) , que supõem capital
constante de 972 jornadas. Assim, produto global de Gl-486 = 972 +
486 = 1 458 jornadas.
Admitamos agora que tenhamos chegado à batreira final dos des-
locamentos na esfera_ G; e com nossa progressão chegaremos facil-
mente a essa barreira -em qualquer sociedade. Que sucede então? Te-
mos um produto que encl.'!tta 1458 jornadas, das quais 486 de novo
ttabalho adicionado e 972 de trabalho realizado em capital constante.
As 486 jornadas podem então ser despendidas na esfera precedente
F1-F162 • Mas, com que comprar as 972 jornadas contidas no capital
constante? Além de G 486 não há nenhuma esfera nova de produção
e, portanto, de troca. Com as esferas antecedentes, excetuada F1-F1 62,
nada há para trocar. Demais, G 1-~so despendeu o total de salário e
lucro nele contido, até o último centavo, em pi-li62 • Permanecem por-
tanto invendáveis as 972 jornadas realizadas no produto global de
G 1 "'486 , equivalentes ao capital constante nele encerrado. De nada
adiantou portanto t.ermos deslocado a dificuldade - as 8 jardas de
linho de A ou as 24 horas de trabalho, as 2 jornadas que repi:esen·
tavam no produto o valor do capital constante - , uti.lfaando quase
800 ramos de produção.
:..· D.e nada adianta imaginar que o cálculo daria outro resultado se
.,A, J•o invés de gastar o total de lucro e salário em linho, despendesse
parte desse. total .no produto de B e C. Há os limites das despes~s:
as horas de trabalho adicionado comidas em A, B e C só podem
çomandar um tempo de trabalho igual a si mesmas. Se compram mais
de ~ produto, compram menos de outro. Assim, o cálculo apenas
se complicaria, sem alterar-se o resultado. Que fazer então? No cál-
culo acima achamos:
Prodtito - 3 2
(consumo próprio de l/3 do pro-
duto de A)
B 6. 2 '!· Se neste cálculo as áltimas 324
ia.rdas (o capital constante de F) se
(: 18= 6 12 igualassem ao capital con.~tante que
o agricullor por si mesmo repõe.
D 54 18 36 deduz de seu produto e restitui à
~ == 162 54 108 terra, e as.o;ím seu capítal constante
não tem de ser pago por novo tra-
F' 486= 162 324 balho, a conta estaria equilibrada.
Mas, o problema só ficaria ·resolvido
- - . , - - - - - - - - - - - - - - porque parte do .capital constante se
i'otaJ _129 243 486 reporia a si mesma.
100
em A, .B e CM. Do mesmo modo, para a venda ~o-;rÕ~u~ tod~dé
B + C, é necessário todo o novo trabalho adicionado em D 1-D18 37 •
Também para se comprar o produto todo de D 1 -n:i.s, é· mister !ócio o
trabalho adicionado em E1- 1H. Para a compra do produto todo de E 1-ã4 ,.
requer-se todo o trabalho adicionado em p;i.·W:. E, por fim, para ~t
do produto total de pi-i<G2 , todo o tempo de· trabalho adicionado em.
G 1 -4.a 6 , Nessas 486 esferas de produção, represéntadas por G1- 486 , é'.
por fim o total de trabalho adicionado igual ao produto todo das 162
esferas de F, e esse produto todo, substituído por -trabalho, iguala-se
ao capital constante de A, B1-11, CM, n1- 18 , E1 -~•.F1- 162 • Mas 6 ca-
pital constante da esfera G, 2 vezes maior que o capital constante em·
pregado em A-F1n2., não é reposto, nem pode ser reposto.
Na base de nossa hipótese de ser de 1 para 2 a razão ehtre o
novo trabalho adicionado e o trabalho preexistente, em toda esfera de
produção, verificamos que novas esferas em número 2 vezes maior
que. o de todas as esferas precedentes e.m conjunto têm de juntar todo
o trabalho novo, para comprar o produto das anteriores - o trabalho
adicionado de A e Bl-2, para comprar o produto total de A; o tra-
balho adicionado de 18 D ou D 1- 18 (2 X 9) 38, para comprar o pro-
duto de Cl·G e assim por diante - , em resumo, que é sempre ne-
cessário novo trabalho adicionado duas vezes maior que o contido
no próprio produto, e desse modo", na última esfera de produÇao.. G,
o trabalho de novo adicionado teria de ser duas vezes maior do que
é para comprar o produto inteiro. Em suma, no resultado de G
achamos o que já ~avia no ponto de partida A, a saber, que o· novo·
trabalho adicionado do próprio produto não pode comprar quantida-
de que supere a dele mesmo, e que não pode comprar o trabalho:
preexistente no capital constante.
É impossível, portanto, que o valor da ren~a cubra o valor do
produto total. Mas,. uma vez que, excluída a renda, não existe fundo
f61:
com ·que esse produto vendldo pelo produtor ao consumidor (indi·
vidual) possa se.r pago, é impossível que o valor do produto totai
o
ntenos · valor da renda chegue a ser vendido, pago ou consumido
(in,clividualmente). Entretanto, todo produto tem de ser vendido· e
pago pelo preço (aqui supõe-se preço = valor) .
· Aliás, era de se .prever, desde o início, que interpor os atos de
troca, as vendas e compras em que se confrontam diferentes merca-
dorias ou produtos de diferentes esferas de produção não nos levaria
a nenhum pa.sso à frente. Para A, a primeira mercadoria, o tecido de
linho, tínhamos 1/3 ou 12 horas de novo trabalho adícíonado e
2 X 12 ou 24 horas de trabalho preexistente no capítal qmstante.
Salário e lucro só podiam recuperar da mercadoria A e portanto de
qualquer equivalente da mercadoria A em qualquer outro produto, a
parte que fosse igual a 12 horas de trabalho. Não podiam recomprar
o próprio capital eonstante de 24 horas, nem portanto equivalente
desse capital constante em qualquer outra mercadoria. É possível que
na mercadoria B seja diferente a relação entre trabalho adicionado
e. capital constante. Mas, por mais que a relação entre capi~al cons~
tante e novo trabalho adicionado divirja nas diferentes esferas de
produção, podemos calcular a média e dizer portanto que no produto
da sociedade .toda ou qe toda a classe capitalista, no produto global
do capital, o novo trabalho ad~cionado = a. e o trabalho preexistente
=
na forma de capital constante · b. Em outras palavtas, a razão 1 :2,
que supomos em A, o linho, é mera expressão simbólica e correspon-
de a a:b, e deve significar apenas que uma relação qualquer de qual-
quer modo determinada e determinável existe entre esses dois ele-
mentos, o trabalho vivo adicionado no corrente ano ou em qualquer
período escolhido e o trabalho pretérito, preexistente ria qualidade
de capital constante. Se as 12 horas adicionadas ao fio não compram
apenas linho, mas deste só adquirem o equívalenfé a 4 horas, pode-
rão comprar qualquer outro produto no montante de 8 horas, mas
ao todo nunca montante superior a 12 horas; e, se adquirirem outro
produto no valor de 8 horas, terá A de vender linho até o valor de
32 horas. Assim, o exemplo de A aplica-se ao capital global da so-
ciedade toda. e o problema pode enreda~·se, mas não alterar-se, se
for intercalada a troca de diferentes mercadorias.
Admitamos seja A o produto global da sociedade: então 1/3
desse produto global poderá ser comprado pelos produtores para o
próprio consumo, comprado e pago com a soma dos respectivos sa-
lários e lucros = soma do novo trabalho adicionado = soma da ren·
da global. Falta-lhes o fundo para pagar, comprai· e consumir os
outros 2/3. O novo trabalho adicionado, o terço conversível em lu-
cro e salário, coincide com o respectivo produto ou s6 retira do valor
do produto a parte onde se contém 1/3 do trabalho total, o novo
102
trabalho adicionado ou seu equivalente; do mesmo modo, os 2/J de
trabalho preexistente têm de ser cobertos por seu próprio produto.
Isso significa que o capital constante permanece igual a si mesmo e
se r~õe a si mesmo com a parte do valor a qual o representa no
produto total. A troca entre as diferentes mercadorias, a série de
compras e vendas em que se confrontam as diferentes esferas de pro-
dução só acarretam diferença na forma, ao suceder a reposição recí-
proca do capital constante das diversas esferas de produção na pro-
porção em que elas originalmente o contêm.
Passemos ao exame pormenorizado do assunto.
311 Ver observações críticas de :Marx a essa idéia de Smith e Tooke, ne.rie
volume, pp. 122, 123, 231 e 232, e em O Capital, ed. Civilização Brasileira,
livro 2, pp. 505 a 501, e Uvro 3, voL 6, pp. 966, 967.
10.3
~o, ths quais 12 de novo trabalho adicionado, conversível em sa
lário e lucro, e 24 horas ou 2 dias = valor do capital constante, que
cl.eiiou nmtiga forma de fio e tear, e existe agora na de linho, em
qµa.ntidade de linho = 24 horas = 24 xelins; nessa quantidade de
linho se encerra tanta quantidade de trabalho quanto no fio e tear, e
ela os repõe; com ela_ portanto pode-se comprar de novo a mesma
quantidade de fio e tear (desde que permaneça o mesmo valor do
fio e do tear, não se tenha alterado a produtividade do trabalho nesses.
ramos industriais). O fabricante de fio e o consttutor de tear têm
de vender o produto todo, anual ou diário (para nosso propósito
tanto faz), ao empresário da tecelagem, pois este é a única pessoa
para quem a mercadoria deles tem valor de uso, E o consumidor único
de fio e tear.
- Mas, se 6 capital constante do empresário da tecelagem = 2
jornadas de trabalho (o capital constante consumido por dia), 1 jor-
nada des.se empresário corresponde 2 jornadas - do fabricante de
fio e do construtor de máquinas - , 2 jornadas que em proporções
diferentes por sua vez podem repartir.se em trabalho adicionado e
capital constante. Todavia, o produto global diário do fabricante de
fio e do construtor de máquinas em conjunto (supomos que o cons-
trutor de máquinas só faça teares), considerando-se tanto o capital
constante quanto o trabalho adicionado, não pode atingir mais que
2 jornadas, enquanto o produto do empresário da tecelagem, em vir-
tude do trabalho de 12 horas por ele de novo adicionado, importa
em .3 jornadas de trabalho. É possível que o fabricante de fio e ci
consu:utox de máquinas consumam tanto tempo de trabalho vivo-
quanto o empresário da tecelagem. Então, o tempo de trabalho con·
tido no capital constante daqueles tem de ser menor. Uma coisa ex-
clui a outra. Feitas todas as contas, de modo nenhum podem em-
pregar a mesma quantidade de trabalho materializado e vivo apH-
cada pelo empresário da tecelagem. É possível que o empresário da
tecelagem empregue proporcionalmente menos trabalho vivo que o fa-
bricante de fio (este por certo menos que o agricultor que fornece
a fibra de linho) ; tanto maior deve ser então o e..xcesso de seu capital
constante sobre a parte variável do capital.
Assim, o capítal constante do empresário da tecelagem repõe o
capital todo do fabricante de fio e do construtor de tear, tanto o
capital constante quanto o novo trabalho adícionado no processo de
ffação e na construção de máquinas. Aí o novo capital constante substi-
tui por completo outros capitais constantes e, além disso, a totali-
dade do trabalho que lhes é de novo adicionado. Com a ve11da de
suas mercadorias ao empresário da tecelagem, o fabricante de fio e
o construtor de tear repuseram seu capítal constante e ainda se pa·
gatam de seu novo trabalho adicionado. O capital constante daquele:
104
repõe-lhes o capital próprio e realiza a renda que lhes pertence ( sa·
Jário e lucro. juntos). Até o ponto em que o capital constante do em·
presári.o da tecelagem só lhes repõe o próprio capital constante - o
que eles transferiram a esse empresário nas formas de fio e tear - t
trocoµ-se apenas capital constante numa forma por capital constante
noutta. Na renlidade, não ocorreu alteração alguma de valor no ca-
pitaJ constante.
Examinemos agora a retaguarda. O produto do fabricante de fio
decompõe-se em duas partes, a consistente em fibra de linho, fusos,
carvão etc., em suma, o capital constante, e o novo trabalho adiciona-
do; isso se estende ao produto total do construtor de máquinas. O
fabricante de fio, quando repõe seu capital constante, paga não só o
capital todo do fabricante de fusos etc., mas também o do agricultor
que lhe fornece a fibra de linho. Seu capital constante paga parte do
capital constante -deles mais o trabalho adicionado. Quanto ao plan-
tador de linho, seu capital constante, após deduzirem-se instrumen.
tos de lavoura etc., consiste em sementes, adubos etc. Admitiremos
- e isto tem sempre de ocorrer na agricultura mais ou menos di-
retamente - que essa parte do capítal constante do agricultor cons-
titui uma dedução anual do próprio produto, representa a parte do
produto .wdo ano restituída à terra, isto é, à própria produção. Aí
encontramos uma parte do capital constante a qual se repõe a si mes-
·ma e nunca se vende; assim, nunca é paga e nunca é conswnída, está
fora do consumo individual. Sementes etc. = certa quantidade de
tempo de trabalho. O valor das sementes etc. entra no valor do pro-
duto global; mas o mesmo valor, porque a mesma quantidade de pro.
duto (suposta L11varíável a produtividade do trabalho), também de
novo se tira do produto global e se devolve à produção, e não entra
na circulação. ((Assim, a parte do produto que vai para a circulação
e a que vai para ô consumo representam apenas trabalho adicionado
(ao desgaste ou déchet dos instrumentos agrícolas etc.) e se reduzem
aos itens mencionados aci.tna, a salário, lucro e renda fundiária.) )
Do capital constante temos aí pelo menos parte que se pode
considerar matéria·prima da agricultura e se repõe a si mesma. Eis
aí importante ramo da produção anual, o mais importante pela magni-
tude e pela quantidade de capital nele inserida, e onde parte consi-
derável do capital constante, constituída por matérias-primas ( exce-
tuando-se fertilizantes artificiais etc.), repõe-se a si mesma, não entra
em circulação e por conseguinte não é substituída por nenhuma for·
ma de renda. O fabricante de fio, portanto, não tem de reembolsar
o plantador de linho por essa parte do capital constante (parte do
capital constante substituída e paga pelo próprio plantador de linho),
nem o empresário da teçelagem tem de pagá-la ao fabricante de fio,
nem o comprador de tecido de linho ao empresário da tecelagem.
lOJ
·Assim~ ·o capital constante do empresarto da tecelagem se redu2: ao
trabalho adicionado do fabricante de fio e do construtor de tear,
como a trabalho adicionado do plantador de linho e do construtor de
máquina de fiar e ainda do produtor de ferro e de madeira. -
Admitamos que todos os ·que direta ou indiretamente participam
na produção das 12 jardas de linho = 36 xelins = 3 jornadas Oll .36
horas de trabalho fossem pagos em linho mesmo. Antes de mais nada
é claro que os produtores dos elementos do linho, do capital cons-
tante desse tecido, não podem consumir o pr6prio produto, uma va
. que aqueles elementos são produzidos para a produção e não entram
no consumo imediato. Têm aqueles produtores de gastar seu salário
e lucro em linho - o produto que entra por fim no consumo indi-
vidual. O que não consomem nesse tecido, têm de gastar em outro
produto consumível, trocado por linho. Por isso, o que outros con-
somem de linho é o mesmo (pelo valor) que eles, ao invés de despen-
derem em linho, gastam em outros produtos consumíveis. E o mesmo
.que tivessem eles mesmos efetuado o consumo em linho, pois con-
somem de outro produto tanto quanto os produtores de outro:J pro·
dutos consomem de linho. Ternos, por conseguinte, de resolver todo
.o enigma sem· recorrer à troca, observando como as 12 jardas de
linho se repartem entre todos os produtores que tomaram parte na
sua produção ou na produção ,cJe seus elementos.
O fabricante de fio e o construtor de tear que se supõe ser ao
mesmo tempo o construtor da máquina de fiar, adicionanun 1/3
em trabalho; seu capital constante == 2/.3 de fio e ·tear. Assim, das
8 jardas de linho (ou 24· horas) ou 24 xelins que repõem seu pro-
8 2 ,
duto total, podem consumir - - jardas = 2 - - jardas de linho
.3 )
ou 8 horas de trabalho ou 8 xelins. Falta portanto prestar contas de
1
5 - - jardas ou 16 horas de trabalho.
3
Admitamos se reduza o capital constante do fabricante de fio a
·fibra de linho e a maquinaria de fiação (nada, acresceriam de signifi-
cativo ao exemplo, carvão e outros itens semelhantes): 1/ 3 em ma-
16 1
téria-prima (fibra de linho) = -- horas de trabalho = 5 -·-
3 .3
17/3 17 8
horas de trabalho ou--, - - jardas =
1 - - jardas. Pode com.
3 9 9
prá-las totalmente o plantador de linho, pois seu capital constante -
{pelo menos as sementes; omitimos, por ora, o desgaste ele seu <:a-
%06
pital fixo, dos instrumentos de trabalho) se repõe por si mesmo; ele
2 8
o deduz diretamente do produto. Sobram, portanto, 5 --- - 1 - -
3 9
1 2 17
jardas (ou 16 - 5 - - horas de trabalho). 5 - - jardas == - - =
3 3 3
.51 51 17 34 7
·--. Assim, - - - - - - - - jardas = j - - jardas (ou
9 9 9 9 9
1
10 - - horas de trabalho).
3
1
5 - - jardas ou 16 horas de trabalho representam o capital
3 .
constante do fabricante de fio e do construtor de tear. Decompo-
nha-se esse capital constante em máquina de fiar e em fibra de linbo.
Admitamos que no capital constante do fabricante de fio a matéria-
prima importe em 2/'!>, aplicando-se fibra de linho; o plantador de
linho pode então consumir totalmente esses 2/3 em tecido de linho,
pois de modo algqm lança em circulação seu capital constante (aí fa..
.zemos o desgaste de seus instrumentos de trabalho etc. =
O), já o
tendo dedu.zido e reservado para a reprodução. Pode assim comprar
1
2/3 das 5 - - jardas de tecido de linho*º ou das 16 horas de tra-
3
5 2
bailio, o que é igual a 3 - - jardas ou 1O ---- horas de trabalho.
9 3
1 5
Assim, em conseqüência, sobram apenas 5 - - - 3 - - jardas ou
3 9
1
40 5 - - jardas de linho, como se vê no início do parágrafo, represen·
3
tam o capital constante do fabricante de fio e do construtor do tear. Para
o cálculo de 2/3 do capital constante do fabricante de fio não se pode,
1
portanto, tomar por base 5 ---. O próprio autor corrige essa falha malc;
3
adillllte e admíle que 4 jardas de linho representam todo o capital constant~
do fabricante de fio.
107
2 7 1
J6 .- 10 · - - horas de trabalho, isto é 1 jardas ou 5 - -
~ 9 3
7 1
11oras de trabalho. Essas 1 - - íardi1s ou 5 - - horas de trabalho
9 3
·se ;reduzem ao capital constante do construtor de tear e ao produto
total do construtor de máquina de fiar. Supomos sejam ambos uma
:SÓ pessoa.
2 1
Sobram portanto 8 - 2 -----jardas = 5 - - jardas ( = 16 xe-
.3 )
1
lins =: 16 horas de trabalho). As restantes 5 - - jardas ( = 16
3
xelins ::;;: 16 horas de trabalho) decompõem-se como segue: admiti-
mos que nas 4 jardas que representam o capital constante do fabti-
<:ante de fio, isto é, os elementos do fio, 3/4 correspondem a fibra
4
de linho e 1/4 a máquina de fiar, e que, em contrapartida, nos - -
.3
jardas do construtor de máquinas, quantidade qÚe representa ma-
deira, ferro, carvão etc., em suma, os elementos de sua maquinaria,
2/3 correspondem a matétias-primas da maquinaria e 1/3 a trabalho
:adicionado. Os elementos da máquina de firu: serão calculados adiante
em conjunto com o capital constante do construtor do tear. Supo·
mos que ambos sejam a mesma pessoa.
Recapitulemos:
108
Bmprefário de Produto total Capital constante Trabalho adicionado Consumo
1ecelagem
12 jardas de linho 8 jardas 12 horas 12 horas=
(36 x~íns) (24 hora.q) 12 xelins= 4
(36 horas de tra- (24 xelins) jardas
balho)
1
--···· ··-·-----·---········-·-----------------
Do cp.pital constante do empresário da tecelagem
sejam 3/4 =
fio e 1/4 =
tear (meios de produção
em geral). Es.o,e empresário paga portanto 6 jardas
ou 18 horas ao fabricante de fio e 2 jardas ou
. 6 horas ao construt.or de máquinas etc.
-------------.......:.~!___. ·······--···-··· · -· -· ··-------
Fabricante de fio Construtor ri.e máquinps
-----·
Produto Capital Trabalho Consumo j Produto Capital Trabalho Consumo
total con,stante de fiação total constante adicionado
adicionado
-· ·- -·••• ------AA·•••••••••-~
-----------------------··· ·----·-·· ------·-····
6 Jardas
18 xelins
4 jardas 2jardas 2 jarda!!
6 xelins
= 126 xelins
jardas 4/3 jardas 2í3 de jarda 2/3 de jarda
12 xelins 6 xelins
!$ hçirq 12 hor!UI 6 horas i 6 horas
·.. :··:
Por conseguinte:
no
Produto oóuto
Maquinaria total constante nsumivel
agrléOla na construçiio
de máguina.r
1 jarda 2/3 de jarda 1/3 de jarda 1/3 de jarda
3 xelins 2 xelini~ 1 xelim 1 xelim
3 ·horas de l hora de 1 hora de 1 hora de
trabalho trabalho trabalho trabaJho
·~,
Se juntarmos, do produto global, as partes que representam ma-
quinaria. teretnos 2 jardas pata o tear, 1 jarda para a máquina de
fiar, 1 jarda para a maquinaria agrícola, ao todo 4 jardas ( 12 xelins,
J.2 horas de trabalho ou 1/3 do produto global, das 12 jardas de
Unho). Daquelas 4 jardas, o construtor de máquinas pode consumir
2i3 de jarda, pelo tear; 1/3, pela máquina de fiar; 1/3, pela maqui·
1 2
naria agrícola; ao todo, 1 - · - jardas. Restam 2 - - jardas rela-
3 3
tivas ao capital constante, a saber, 4i3 para o tear, 2/J para a má~
2
quina de fiar e 2/J para a maquinaria agrícola, somando 8/3 = 2 - -
3
jardas ( = 8 xelins =
8 horas de trabalho). Esta soma constituí por-
tanto o capital constante a repor, do construtor de máquinas. A que
se reduz então esse capital constante? ~arte, a matérias-primas, a
ferro, madeira, co11'eías etc., e parte, a fração da maquinaria com
que opeta (que ele mesmo pode ter construído), de que precisa para
consnuil· máquinas e que se desgasta. Suponhamos que a matéria-pri~
ma importe em 2/3 desse capital constante, e a maquinaria para cons·
truir máquinas, liJ. Este 1/3 será considerado mais tarde. Os 2/3
2 2
para madeira e ferro representam 2/3 de 2 -··- jardas; 2 - - jar-
.3 3
8 24 1 8
das - - - jardas - ja.tdas. Destas, - - - . Assim,
3 9 3 9
2 16
··---~ ..
.3 9
Admitamos que na produção de madeira e ferro a maquinaria
seja. 1/3 e o trabalho atiicionado 2/3 (pois nada há para matéria-pri·
ma 41 ); então, 2/3 das 16/9 jardas repõem trabalho adicionado, e
111
]!/),, maquiniiria. Assim, restam ainda para maquinaria 16/27 de jar.
4g.>O capital CO.ll$tante dos produtores de ferro e madeira, em suma,
•da ind~trfa extrativa, não consiste em matérias-primas e sim ·em
liisp:qmentos de produção apenas, aqui chamados geralmente de ma-
quinaria.
8/9 de jarda, portanto, para a máquina de con'struir máquinas.
16/27 de jarda para a maquinaria que os produtores de ferro- e ma-
13
<leira consomem. Assim, temos 24/27 + 16/27 = 40/27 = 1 --
27
jardas, que por sua vez teriam de ser levadas à conta do construtor de
máquinas.
Maquinaria. 24/27 de jarda constituem a reposição da máquína.
de construir máquinas. Esta porém se reduz, por sua vez, a matéria-
prima (ferro, madeira etc.), ao segmento da maquinaria o qual se
desgastou na feitura da máquina de construir máquinas, e a trabalho
adicionado. Assim, se cada um desses elementos for igual a 1/3, des-
tinar,se.ão 8/27 de jarda a traba1ho adicionado, ficando 16/27 para
o capital constante a repor, contido na máquina de construir máqui-
nas, isto é, 8/27 pata matéria-prima e 8/27 para substituir a parte
do valor relativa à rooquinaría desgastada para transformar essa ma-
téria-prima (ao todo, 16/27 de jarda).
Além disso, os 16/27 de· jarda que repõem a maquinaria dos
produtores de ferro e madeira se reduzem, do mesmo, modo, a ma·
téria-príma, maquinaria e trabalho adicionado. Este, se corresponde
a 1/3, é ígual a 16/27 X 3 = 16/81 de jarda, e o capital constante
nessa parte da maquinaria consiste em 32/81 de jarda, e d~ssa fração
16/81 se destínam a matéria-prima e 16/81 repõem o ·desgaste da
maquinaria.
Ficaram portanto nas mãos do construtor de máquinas, para re·
por o desgaste de sua maquinaria, 8/27 de jarda, com que substitui
o desgaste de sua máquina de construir máquinas, e 16/81 de jarda
para o desgaste da maquinaria a repor dos produtores de ferro e ma-
d~ .
E mais. A fim de repor seu capital constante, tinha ele S/27 de
jarda para a matéria-prima (inserida na máquina de construir ~á
quínas) e 16/81 para a matéria-prima contída em máquínas dos pro·
dutores de ferro e madeira, Dessas quantidades terírunos também
2/3 reduzidos a trabàlho adicionado e 1/3 a maquínaría .desgastada.
Assim, dos 24/81 + 16/81 = a
40i81, pagam-se 2/3 trabalho, i~to
2 1
'26 - 13
3 3
é,~-- Dessas matérias-primas, ficam por sua vez -·- - - pat;:t
81 81
Ü.2
1
13
.3
repor maquinaria. Esses de jarda voltam portanto para e>
81
construtor de .máquinas.
Agora, de novo nas mãos do construtor de máquinas: 8/27 de
jarda para repor o desgaste da máquina de construir máquinas, 16/81
para o desgaste a repor da maquinaria do produtor de ferro etc., e
1
13-
3
para a parte do valor destinada a repor a maquinaria na
81
produção de matéria-pr~ma, ferro etc.
Nossos cálculos poderão continuar aré o infinito, com frações cada
vez menores, sem que jamais deixe de haver resto das 12 jardas d~
linho.
Resumamos o caminho até agora percorrido em nossa pesquisa.
Primeiro ,dissemos que nas diversas esferas de produção difere
a relâção entre o novo trabalho adicionado (parte dele substitui o
capital yaríáv(!l despendido em salário, e parte forma o lucro, o tra·
· balho excedente não pago) e o capital constante a que se acrescenta
esse trabalho. Podemos, porém, admitir uma relação média, repre~
sentada pela proporção entre a, trabalho adicionado, e h, capital cons-
tante; ou supor que o segundo esteja em média para o primeiro
assim como 2: 1 = 2/.3 1/3. Se assim ocone em toda esfera de pro-
dução, prosseguimos, o trabalho adicionado (a soma de salário e lu-
cro) em determinada esfera só pode comprar 1/.3 do próprio produ-
to, poís salárío e· lucro juntos constítuem apenas 1/3 do total do
tempo de trabalho te8Iizado no produto. Sem dúvida pertencem tam-
bém ao capitalista 2/3 do produto, os quais substituem o capítal cons-
tante. Mas, pata continuar a produção, tem ele de repor o capital
constante, de reconverter, portanto, 2/3 do produto em capital cons-.
tante. Para isso, tem de vender esses 2/.3.
Vender a quem? Do produto já deduzimos 1/3 que se pode
comprar com a soma do Incro e salário. Se essa soma representa uma
jornada de trabalho ou 12 horas, a fração contida no produto e coru
valor igual ao capital constante configurará duas jornadas de tra-
balho ou 24 horas. Admitamos pois que 1/3 (o segundo) do pro-
duto se compra com lucro e salário de outro ramo de produção e 1/.3,
o último, com lucro e salário de um terceiro ramo. Mas, nesse caso,
trocamos o capital constante do produto I apenas por salário e lucro
isto é, por novo trabalho adicionado, fazendo que todo o trabalho
111
Adicf,:m.adQ dos produtos II e III se consumissem em I. Das 6 jorna·
das de trabalho contidas nos produtos II e UI, em trabalho novo
l:ldidonado e em trabalho preexistente, nenhuma foi substituída, com·
.Pra.da por trabalho contido no produto I nem por trabalho encerrado
nos produtos II e III. Teríamos então de fazer os produtores de OU·
ttos produ.tos despenderem seu trabalho adicionado todo em II e
III, e assim por diante. Finalmente terfamos de parar num produto
x em que o trabalho adicionado seria de magnitude igual à do ca-
l
pital constante de todos os produtos anteriores; mas, 2 X -
3
maior"2 , seu capital constante seria invendável. Não se teria portanto
dado nenhum passo para resolver o problema. Tanto para o produto
1C quanto pata l subsistiria a questão: a quem vénder a parte· que
repõe o capital constante? Ou 1/3 correspondente a novo trabalho
adicionado do produto destínat-se-ia a substituir 1/3 .referente a novo
trabalho contido no produto + 2/3 relativos a trabalho preexistente?
Pode 1/3 ser igual a 3Í3?
Ficou portamo evidente que de nada adíanta deslocar a dificul-
dade de 'I para II etc., em suma, a intervenção da ·mera troca de
mercadorias.
Tínhamos de proPor o problema de outra maneira.
Supusemos que 12 jardas de linho = 36 xelins = 36 horas de
trabalho constituíam um produto onde se continham 12 horas de
trabalho. ou uma jornada de trabalho do empresário de' tecelagem ( tra-
balho necessário e trabalho excedente juntos, isto é, a soma; dó lucro
e salário), e onde 2/3 representavam o valor do capital' constante
encer.rado no tecido de linho e consistente em fio, maquinària etc. Para
evitar o expediente das evasivas e das transações iriterm.ed.iárias, su-
pusemos ainda que o tecido era de uma espécie destinada apenas
ao ·consumo individual, e por isso não servia de matéria-prima para
novo produto. Assim admitimos tratar-se de um produto que tinha de
ser pago por salário e por lucro, de trocar-se por renda. Finalmente,
para siinplíficar, supusemos que nenhuma parte do lucro se recon-
vertia em capital, mas que o lucro todo era gasto na qualidade de
renda. ·
No tocante às primefras 4 jardas, o primeiro 1/3 do produto =
12 horas de trabalho adidonado, a solução foi rápida. Reduzem-se
115
t:adi: ser çonsumidos na qualidade de capital, só podem entrar no
~gpsumo 'industrial.
O capital constante, representado por 8 jardas ( = 24 horas :::::
24 :xelins), consiste em fio (matéria-prima) e maquinaria. Digamos
.3/4 em matéria-prima e 1/4 em maqui.i1aria (a matéria-prima aí
pode incluir todas as matérias auxiliares como 6leo, carvão etc.; mas,
para simplificar, ~ melhor excluí-las). O fio custaria 18 xelins ou 18
horas de trabalho == 6 jardas; a maquinaria, 6 xelins :::: 6 horas de
trabalho = 2 jardas.
Se o empresário da tecelagem, portanto, com suas 8 jardas, uti-
lizar 6 para comprar fio e 2 para comprar maquinaria, té.rá ele, con1
seu capítal constante de 8 jardas, coberto o capital constante do fa-
bricante de fio e do construtor de tear e ainda o novo trabalho por
eles adicionado. Parte do que aparece como capital constante do
empresário da tecelagem configura portanto novo trabalho adiciona-
do para o fabricante de fio e pata o construtor de máquinas, e por isso
não· é, para estes, -capital e sim renda. ·
... Das 6 jardas, o próprio fabricante de fio pode consumir 1/3 = 2
jardas ( = novo ttahalho adicionado, lucto e saláric~ )~. ·},Jas, 4 j~das
l~ setvem apenas para repor a fibra de linho e maqµinaria; digamos,
.3 jardas para fibra, 1 jarda para maquinaria. Tem de p~g6~làs a outros.
Das 2 jardas, o próprio construtor de máquinas pode !=Onsumir 2/3
d~ j~rda, e 4/3 lhe servem para repor ferro e madeira, e.m suma, ma-
~é~ia-prima, e maqúinaría empregada para constru_ir, te.!.J.r. Digamos,
dessas 4/3 jardas) 1 jarda para ma~ria.-prima e 1/3 dç jarda par~
maquinaria. .-
Das 12 ja,rdas foram oonsumidas até agora: 1 ) · 4 · pélo fabricante
de tecido; 2) 2 pelo fabricante de fio, e 3) 2/3 _pelo. construt;or de
2 1
m.áq1,1.in.a~, ao todo 6 -·-. Faltam computar portanto 5 - - . E
3 J.
1
esses 5 - - se decompõem como segue:
3
O fabricante de fio, do valor de 4 jardas retira '3 para a repo
sição da fibra e 1 para a da maqdnaria.
O construtor· de máquinas retira do valor de 4/3 jardas, 1 para
substituir ferro etc., e 1/3 para repor m)lquinaria (por ele mesmo
empregada na construção de miÍquinas).
Com 3 jardas; o fabricante de fio paga a fibra ao plantador de
linho~ Mas, com este ocorre a particularidade .de não entrar absoluta-
mente em Circulação part-e de seu capital constante (isto é, sementes,
esterco etc., em suma, todos os produtos da terra os quais o lavrador
116
a ela restitui), não sendo necessário deduzi-Ia do produto que vende;
esse produto configura antes mero trabalho adicionado e por isso
reduz.se apenas a salário e lucro (excetuada a parte que repõe ma-
quinaria, adubos artificiais etc.) . Admitamos portanto, como até agora,
que 1/3 do produto total é trabalho adicionado; viria então para
essa categoria 1 das 3 jardas. Das outras duas tornemos, como dantes,
1/4 para maquinaria, o que dá 2/4 de jarda. Fiotm 6/4 jardas que
representariam também trabalho adicionado, pois nessa parte do pro-
duto do plantador de linho não se contém capital constante, que ele
2
já deduziu antes. Foram então 2 - - jardas para salário e lucro do
4
1
lavrador. Fictmun 2/4 de jarda para rep.or maquinaria. ((Das 5 -·············
.3
2 4
jatdas que tínhamos de consumir, tiramos portanto 2 - - (5 - -
. 4 12
6 10 5
-2 2 - - - 2 - - jardas.)) Assim, o lavrador utHi-
12 12 6
zaria esses 2/4 para comprar rn.aquínatia.
Situação agora da conta do construtor de máquinas: do capital
constante para o tear gastou 1 jarda para ferro etc.; 1/3 de jarda
pelo desgaste da máquina de constmir máquinas na produção do teat.
Mas, além disso, o fabricante de fio compra ao construtor de
máqu_inas, máquina de fütt por 1 ;~da, e o plantador de linho1 instru-
mentos agrícolas por 2/4 de jarda. Desses 6/4 jardas, o constutor
de máquinas tem de consumir 1/3 pelo trabalho adicionado e des-
pender 2/.3_,para o capital constante empregado na máquina de fiar e
nos ínstrumentos agrícolas. Com 6/4 =
18/12, o construtor de má-
quinas terá de consumir por sua vez 6/12 de jarda, e converter 12/12
5
ou 1 jarda em capítal constante. (Das 2 ··········- jardas ainda não con·
6
sumidas deduz-se portanto 1 /2 de jarda. Sobram 14/6 jardas ou
2 1
2 - - ou 2 .-.-.)
6 3
Daquela jarda, o construtor de máquinas terá de despender 3/4
em matéria-prima, ferro, madeira etc., e pagar a si mesmo 1/4 pela
reposição da ·maquina de construir máquinas.
117
-~ffi~ a. conta toda assim se apresenta:
m4quin!J! 1 3
Em conseqüência, 1 - jardas para matéria-
4
prima; 1/3 + 1/4 para desgaste da própria
maquinaria.
3
Aquelas 1 - jardas ou 7 /4 compram então por esse valor fer-
4
to e madeira ao produtor de ferro e madeira. 7/4 =
21/12. Mas aí
surge novo problema. Para o plantador de linho, a matéria-prima, parte
do capital constante, não entrou no produto vendido, pois já fora
deduzida. No presente caso, porém, temos de redu:âr o produto todo
a trabalho adicionado e maquinada. Mesmo supondo-se agora o tra-
balho adicionado = 2/3 do produto e a maquinaria :::::::. 1/3, seriam
consumíveis 14/12. E ficariam como capital constante 7 /i2 pa.ra
maquinaJ;ia, Esses 7/12 retornariam ao construtor de ·máquinas.
Assim, das 12 jardas restam 1/3 +
1/4 de jarda que o cons-
trutor de máquinas telia de pagar a si mesmo por desgaste' da pitópria
máquina, e 7 /12 de jarda que o produtor de ferro e de madeira lhe
restituí por maquinaria. Temos, portanto, 1/3 · +, 1/4 =
4./12 +
+ 3/12 = 7/12J e mais os 7/12 restituídos pelo produtor de ferro e
l!ládeira (ao todo, 14/12 = 1 2/12 = 1 1/6).
Ao construtor de máquinas têm de ser comprados a .maquinaria
·e os instrumentos de trabalho do produtor de ferro e madeira, do
mesmo modo que os dos fabricantes de tecido e de fio e os do plan-
tador de linho. Assí.m dos 7/12 de jarda admitamos seja 1/3 2/12 =
correspondentes a trabalho adicionado. Esses 2/12 ainda podem por-
2/3
tanto ser con~µmidos. Os restant.es 5/12 (na verdade, 4/12 + --,
12
fil.as não é mister esse rigor) representam o capital constante contido
no machado do cortador de madeira e na máquina do produtor de
furo. 3/4 correspondendo a ferro-gusa, made.ira etc. e 1/4 a maqui-
naria desgastada. (Das 14/12 jardas sobram 12/12 ou 1 jarda .3 =
horas de trabillho =
3 xelins.) Assim, de 1 jarda, 1/4 se destina a
repoi: a 'máquina de construir máquinas e 3/4, madeíra, ferro etc.
118
Para o desgaste da máquina de construir máquinas temos então
7/12 de jarda + 1/4 = 7/12 + 3/12 = 10/12. Contudo, seria
agora de todo inútil prosseguir desagregando os 3 / 4 de jarda para
madeira e ferro em seus componentes e restituindo parte deles ao
construtor de máquinas, que por sua vez restitui.tia parte deles
ao produtor de ferro e madeira. O resultado seria sempre um resto e
uma progressão ao infíruto.
219
Mmztante com que têm de repor a mp:quinaria
121'.
ddo como capital constante, em grande parte se reduz a renda do· fa.
bi;icante de fio, do construtor de máquinas, do plantador de linho e
dos produtores de ferro e madeira (do minerador de carvão etc., que
CJ(c:luímos para simplificar). (Isso é tão claro que, por eiemplo,
quando o mesmo .fabricante fia e tece, seu capital constante parece
menor que o do fabricante de tecido e maior o trabalho por ele
.adicionado, isto é, a parte de seu produto que se reduz a trabalho
adicionado, renda - lucro e salário. Assim, no caso do fabricante
de tecido, a renda era igual a 4 jardas = 12 xelins; o capital cons·
tante era igual a 8 jardas = 24 xelins. Se ele fiar e tecer ao mesmo
tempo, a. renda será igual .a 6 jardas. O capítal constante- também
será igual às 6 jardas; a saber:, 2 jardas para tear, 3 para fibra de
linho e 1 para máquina de fiar.)
Terceiro: a solução até agora encontrada consiste ern que todos
os processos de produção que apenas fornecem matéria-prima ou meios
de produção para o produto que, por fim, entra no consumo indi-
vidual, não podem despender sua renda., lucro e salário, o novo tra·
balho adicionado, no próprio produto; s6 podem despender a ·parte
do valor desse produto, a qual se reduz a renda, no produto_ consu-
mível ou, o que dá no mesmo, têm de trocá-la por montante de valor
igual de produto consumível de outros produtores. Seu novo trabalho
adicionado entra no produto fiual como componente do valôr, mas
só é consumido na forma desse produto que o contém, de acordo com
ô valor de uso, como matéria-prima ou maquinaria desgastada.
A parte ainda a resolver do problema se redu_z portanto a isto:
que sucede aos 2/3 de jarda destinados no desgaste das máquinas
de produzir máquinas do construtor? Excluímos o- ·desgaste das má-
quinas de trabalho empregadas 43 , pois estas resultam. de novo tra-
balho, a saber, de novo trabalho que dá à ~matéria-prima, co_mo tal
desprovida de custo de matéria-prima» a forma de novas máquinas.
Reformulando a pergunta: em que condições pode o construtor de
máquinas consumir em linho os 2i3 de jarda = 2 xelins = 2 horas
de trabalho, e ao mesmo tempo repor sua maquinaria? Esta é a verda.
deira questão. O fato se verifica. Sucede necessariamente. Daí o pro·
blema: como expli~r esse fenômeno?
Do lucro, a parte que se transforma em novo capital (fíxó ou
circulante, variável ou constante) está por completo excluída do pro·-
blema. Nada tem aí a ver com ele, pois o novo capital vatiávcl 1 como
ô novo capital constante, é gerado e reposto por novo trabalho (parte
do trabalho excedente) .
l22
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"" Marx etitiea aí a tese de Smith, adotada par Tooke, a saber: "O valor
das mercadorias que circulam entre os diferentes empresários nunca pode
exceder o valor das que circulam entre os empresários e os consumidores."
(Ver neste volume pp. 103 e 104.)
12.1
~
124
prio produto - como se o produto consumível consistisse apenas em
salário e lucro, em trabalho adicionado.
Do produto consumível, do tecido de: línho (que os produtos
consumíveis se troquem entre si e as mercadorias se convertam em
dinheiro, em nada altera o problema), os próprios p.roduto.res de
cuja esfera o produto sai pronto e acabado, deduzem a parte que se
iguala a sua renda, que corresponde ao trabalho final por eles adicio~
nado = soma dos salários e Incres. Com a outra parte do produto
consumível pf.lgam a fração do valor devida aos produtores que lhes
suprem diretamente o capital constante, Toda esta parte de seu pro-
duto consumível cobre portanto o valor da renda e do capital cons-
tante dos produtores do capital constante do estádio precedente íme-
díato. Estes, todavia, s6 retém do produto consumível a parte com
valor igual a sua renda. Com a outra parte pagam por sua vez os
produtores de seu cnpital constante = renda + capita~ constante.
Mas, a conta s6 pode ficar sem resto se, com a última fração de tecido
de linho, do produto consumível> se tiver de repor apenas renda,
novo trabalho adicionado e não capital constante. É que, na suposição
estabelecída, o tecido de linho só entra no consumo e por sua vez
não forma o capital constante de outro estádio de produção.
É o que já se demonstrou para uma parte do produto agrícola.
De modo gerul, só dos produtos que entram no produto final
como matéria-prima pode-se dizer que são consumidos como produtos.
Os outros entram no produto consumível apenas como componentes
do valor desse produto. O produto consumível é comprado pela
renda, ou seja, por salário e lucro. Seu valor total tem portanto de
ser redutível a salário e lucro, isto é, ao trabalho adicionado em todo~
os estádios. Pergunta-se então: além da parte do produto agrícola, a
qual o próprio produtor restitui à produção - sementes, gado, es-
terco etc. - , existe ainda outra parte do capital constante, a qual
não entra no produto consumível como componente do valor, mas
se repõe fisicamente no próprio processo de produção? Só se pode
naturalmente falar aqui de capital fixo em todas as formas, quando
seu próprio valor entra na produção e é consumido.
O que se dá com a agricultura (que abrange a pecuária, a pisci-
cultura e a silvicultura, nos casos de reprodução artificial) e portanto
com todas as matérias-primas de vestuário, de alimentos propria-
mente e da grande parte dos produtos que entram no capital fixo
industrial, como velas de navio, cordas, correias etc., encontramos na
mineração: a reposição física parcial do capital constante, extraída do
produto, e assim a parte deste que entra na circulação não tern de
repor aquela fração do capital constante. Por exemplo, na produção
de carvão utiliza-se parte dele para pôr em movimento a máquina
a vapor que bombeia a água ou traz para cima o carvão.
125
Por conseguinte, do valor do produto anual, pa!'te é igual ao
trabalho p'reexístente em carvão e consumido para produzi-lo, e pal'te
é igual à quantidade de trabalho adicionado (abstraímos do desgaste
da maquinarfa etc.). Do produto global subtrai-se diretamente a parte
- consistente no próprio carvão - do capital constante, a qual se
restitui à produção. Ninguém tem de repor essa parte pata o produtor,
pois ele mesmo (.l faz. Se a produtividade do trabalho não aumentou
nem diminuiu, a p~me do valor representada nessa parte do produto
também não se altera e é igual a determinada parte alíquota da quan-
tidade de trabalho contida no produto e constituíds de trabalho pre-
existente e trabalho adicionado durante o ano. Também nas outras
indústrias de mineração há essa reposição física parcial do capital
constante.
Resíduos de produtos, como, por exemplo, os de algodão ete.,
empregados na agricultura como adubos ou guindados a matéria-prima
de outros ramos industriais, como, por exemplo, trapos de pano uti·
lizados na produção de papel. Nesses casos, como no anterior, parte
do capital constante de uma indústria pode trocar-se diretamente peló
capital constante de outra. Por exemplo, algodão por resíduo de
algodão como adubo.
Em geral, porém, a fabricação de máquinas e a produção primá-
ria (da matéria-prima: ferro, madeira, carvão) diferem substancial-
mente dos outros estádios da produção: entre estes não há interação.
Tecido de linho não pode ser parte do capital constante ·do fabricante
de fio, nem o fio (como tal), parte do capital constartte do plantador
de linho ou do construtor de máquinas. Mas, a matéria-prima da
máquina, fora os produtos agrícolas tais como correias, córdas etc.,
é madeira, ferro, carvão, enquanto a maquinaria, por sua vez, na qua-
lidade de meio de produção, integra o capital constante dos produ-
tores de madeira, ferro, carvão etc. Na realidade, os dois Jados repõem
recíproca e fisicamente parte do respectivo capital constante. Sucede
aí troca de capital constante por capital constante.
Não se trata, aí, de meto problema de cálculo. O produtor de
ferro debita ao construtor de máquinas o desgaste das máquinas empre·
gadas na produção de fer-ro, e o construtor de ,máquinas ao produtor
de ferro o desgaste de sua maquinaria utilizada para construir máqui-
nas. Admitamos que o. produtor de ferro e o de carvão sejam uma só
pessoa. Primeiro, ele· mesmo repõe o carvão, como vimos. Segundo,
o valor do produto total de ferro e carvão = valor do trabalho adi"
cionado + trabalho preexistente no desgaste da maquinaria. Desse
produto global, após subtrair-se a quantidade de ferro que repõe o
valor -da maquinaria, resta a quantidade de ferro que se reduz a tra-
balho aQ.icionado. Esta segunda parte constitui a matéría"prima dos
construtores de máquinas, de instrumentos etc. O construtor de má-
126
quinas paga..Jhe ta.l pa1'te com linho. Pela primeira fornece-lhe maqui-
naria de reposição,
Além disso, do capital constante do construtor de máquinas, te-
mos a parte que se reduz a desgaste de suas máquinas de constrnir
máquinas, instrumentos etc., e portanto não consiste em matéria-
prima (abstraímos aqui da máquina empregada na produção de carvão
e ferro e da parte do carvão a qual se repõe a si mesma) nem em
trabalho adicionado, ou seja, saMl'io e lucro. Por isso, esse desgaste
é reposto de fato pelo construtor de máquimis, apropriando-se ele
mesmo de uma ou de algumas de suas próprias máquinas, na condi-
ção de máquinas de construir máquinas. Essa parte de seu produto
resulta apenas num consumo suplementar de matéria-prima. É que
não representa novo trabalho adicionado, pois, no produto global do
trabalho, tantas máquinas igualam o trabalho adicionado, tantas, o
1.ralor da matéria-prima, e tantas, a parte do valor -encerrada na máquina
de construir máquinas. A última parte contém na verdade trabalho
adicionado. Mas o valor deste é igual a zero, pois na porção de
máquinas que representa o trabalho adicionado, não se computa o
trabalho contido na matéria-prima e na máquina consumida; na se·
gunda porção, que repõe a matéria-prima, não se computa a fração
que repõe trabalho novo e rnaquÍnaria; por conseguinte, na terceira
porção, quanto ao valor, não se contém trabalho adicionado nem
matéria-prima, representando essa parcela de máquinas apenas o des-
gaste da maquinaria.
Não se vende a maquinaria do próprio construtor de máquinas.
É substituída fisicamente, saindo do produto global. Por conseguinte,
ns máquinas que ele vende representam apenas matéria-prima (o que
se reduz a mero trabalho, se já lhe foi debitado o desgaste da maqui-
naria do produtor da matéria-prima) e trabalho adicionado, e con-
vertem-se em linho para ele mesmo e para o produtor da matéria-
prima. Nas relações especiais entre o construtor de máquinas e o
produtor de matéria-prima, deduziu este, para a parte desgastada da
máquina, quantidade de fen·o de valor equivalente. Troca-a por contra-
partida do construtor de máquinas, de modo que ambos se pagam
eni produtos, e esse processo nada tem a ver com a repartição da
renda entre eles.
Avançamos até aí nessa questão, a ser retomada quando tratar-
mos da circulação do capital4 ã.
O capital constante é na realidade reposto por ser de contínuo
produzido de novo e em parte por se reproduzir a si mesmo. Mas a
127
p3rte do capital constante que entra no produto consumível é paga
lJO:t ttabalno vivo que entra nos produtos niio-consumfveis. Esse tra-
balho, por não ser pago com o pr6prío produto, pode reduzir e;>
produto consumível todo a renda. Uma parte do capital constante,
considerada no prodttto anual, só na aparência é capital constan-
te. Outra parte, embora entre no produto total, não integra o produto
consumível como componente de valor nem como valor de uso, mas
se repõe fisicamente e fica sempre incorporada na produção.
Aqui observamos como o produto consumível total se reparte
por todos os componentes de valor e meios de produção que nele
entrara.rn, e a eles se reduz.
Mas são de contínuo simultâneo e coexistente, o produto consu·
mível (que, quando se reduz a salário, é igual à parte variável do
capital}, a produção do produto consumível e a de todas as partes do
capital constante necessário àquela produção, entre esse capital, ou
não, naquele produto. Assim, todo capital sempre se divide ao mesmo
tempo em constante e variável, e a pai-te constante, embora, como a
variável, seja sem cessar substituída por novos produtos, continua
sempre a existir na mesma forma~ desde que prossiga a mesma espécie
de produção
Relação que se verifica entre o co11strutor de máquinas e o pro-
dutor primário, de ferro, madeira etc.: na realidade trocam entre si
parte do respectivo capital constante (o que nada tem em comum
com a circunstância de parte do capital constante de um reduzir-se a
renda do outro46 ), pois seus produtos, embora uip seja estádio pre-
linúnar do outro, na qualidade de meios de produção eq,trarn recipro-
camente nos .respectivos capitais constantes. Pela máquina dé que pre-
cisam, o produtor de ferro, de madeira etc. dão ào construtor de
máquinas, ferro, madeira etc. 110 montante do val_or da máquina a
substituir. Essa parte do capital constante do construtor de máquinas
é pa.ta ele o mesmo que a semente para o agricultor. É do produto
-anual parte que ele repõe fisicamente e que para ele não se redui
-a tenda. Demais, por esse meio o construtor de máquinas, além de
substituir, na forma de matéria-prima, a matéria-prima contida na
máquina do produtor de ferro, repõe do valor dessa máquina a parte
composta de ttabalho adicionado e de desgaste da sua própria maqui·
naria. Assim, a matéria-prima, 8lém de lhe ressarcir o desgaste da
própria maquinaria, pode considerar-se destinada a repor parte do
desgaste existente nas outras máquinas.
«IJ Marx refere-se aí "à ictéía corrente, ~:cgunclo a qual o que é capital
para uns é reuda para outros, e vice-versa!' Analisou-a e criticou-a cm
O Capital, Ed. Civilização Brasileira, livro 2, Pl~· ·467-470. Ver ainda, no
mesmo livro, pp. 404·411, 416·418, e no llvro 3, vol. 6, pp. 965 e 966.
128
Na verdade, tatnbém essa máquina vendida ao produtor de ferro
encerra componentes de valol· iguais a matéria-prima e trabalho adi·
donado. Mas, em compensação e em proporção correspondente, ha-
verá tanto menos desgaste para lançar na conta das outras máquinas.
Esta parte do capital constante das máquinas ou do produto de seu
trabalho anual, parte que substitui apenas a fração do valor do capital
constante representada pelo desgaste, não entra portanto nas máqui-
nas que o construtor vende aos outros industriais. Contudo, para o
construtor, o desgaste nessas outras máquinas repõe-se decerto nos
2/3 de jarda = 2 horas de trabalho, mencionadas acima. Com elas
compra ele ferro-gusa, madeira etc. no mesmo montante, e repõe o
desgaste em outra forma de seu capital constante, a de ferro. Desse
modo, parte da matéria-prima lhe repõe, além do valor da matéri.a-
prima, o valor do desgaste. Mas essa matéria-prima, para o produtor
de ferro etc., consiste apenas em trabalho adicionado, pois já está
lançada na conta pertinente a maquinaria desses produtores primários
{ferro, madeira, carvão etc,) .
Todos os elementos do linho se convel'tem assim numa soma de
quantidades de trabalho ígl1al à soma do novo trabalho adicionado,
mas não igual à soma do trabalho global contido no capital constante
e perpetuado pela reprodução.
Allás, é tautologia afirmar que não pode ser maior que o tra.
balho anual adicionado a quantidade de trabalho composta ta11to de
trabalho vivo quanto de trabalho preexistente e que constitui a
soma das mercadorias que entram durante o ano no consumo indi-
vidual e são portanto absorvidas na condição de renda. É que a ren-
da = soma de lucro e salário = soma do novo trabalho adicionado
= soma das mercadorias que encerram igual quantidade de trabalho.
O caso do produtor de ferro e do construtor de máquinas con-
figura apenas um ·exe,mplo. Nos diferentes ramos de produção cujos
produtos constituem os meios de produção que recíprocamente se
fornecem, também ocorre, de ordinário, troca física (embora oculta
por uma série de transações monetárias} entre o capital constante de
um e o do outro. Desde que isso aconteça, o consumidor do produto
final, que entra no consumo, não tem de repor esse capital constante,
pois já está reposto.
· ((Um exemplo: na fabricação de locomotivas, o g:ue se perde
todo dia em limalha de fe1-ro enche vagões inteiros. B recolhida e
revendida (ou debitada) ao mesmo produtor de ferro que fornece ao
construtor de locomotivas a matéria-prima principal. O produtor de
ferro lhe restitui a forma sólida, adicionando-lhe novo trabalho. Toda-
via, na forma em que a devolve ao construtor de locomotivas, repre-
senta a limalha a parte do valor do produto a qual repõe a matéria-
p!'ima. Vai e volta entre as duas empresas não a mesma limalha, mas
129
~~mpte determinada quantidade dela. Essa porção constitui alternati·
\.'~ente a matéria-prima de ambos os ramos industriais e, do ponto
d!e vista do v~or, apenas passeia de uma fábrica para outra. Por isso,
!lã.o entra no produto final, embora suceda reposição físka do capitál
constante.
, . De fato, cada máquina que o construtor fornece, considerando-se
o valor, decompõe-se em matéria-prima, trabalho adicionado e des-
gaste de ~aquinaria. Mas, a soma toda que entra na produção dos
-outros ramos só pode ser igual, em valor, à totalidade do valor da
maqufoaria menos a parte do capital constante a qual está de continuo
drqllando entre o construtor de máqriinas e o produtor de ferro.
Um ·quarter de trigo que o agricultor vende é tão caro quanto
outro quarter, e o vendido não é mais barato que o restituído à terra
na forma. de semente. Contudo, se o produto for igual a 6 quarters.
e o quarter = 3 libras esterlinas, cada quarter conterá componentes
de valor relativos a trabalho adicionado, matéria-prima e maquinaria,
e se o agricultor tiver de empregar 1 quarter como semente, só vende-
rá aos consumidores 5 quarters = 15 libras esterlinas. Eles portanto
não pagarão a parte do valor contida nesse 1 quarter de sementes.
E aí está o busfüs: como o valor do produto vendido se iguala ao
total dos elementos do valor nele contídos, trabalho adicionado e
capital constante, e como apesar, disso o consumidor não paga o capital
constante e ainda compra o produto?))
((Acrescente-se ainda ao que já foi dito. O vulgar -Say não sabia
sequer propor o problema, como evidencia a citação seguinte:
1.30
,,;··1r;7;2 tr.~';;~~~:~~,â~~~·~r:
a renda. Entretanto, é ceJ:to que assim ocorra cônf:á'.'páite ao
produto:
a qual entra todo ano no consumo individual. A renda que consiste
somente em trabalho adicionado pode pagar esse produto composto
de trabalho adicionado e de trabalho preexistente, isto é, o trabalho
adicionado pode pagar nesses produtos a si mesmo e ainda ao trabalho
preexistente, porque outra parte do produto constituida também de
trabalho adicionado e ttabalho preexistente só repõe trabalho preexis-
tente, capital constante.))
131
CAPITULO IV
132
empregada ou que restitui mais trabalho do que recebe na forma de
salário. Por conseguinte, só é produtiva a força de trabalho que
produz valor maior que o próprio.)
A mera existência de uma classe capitalista, e portanto do ca-
pital, baseía-se na produtividade do trabalho, não a produtividade
absoluta e sim a relativa. Por exemplo: se um dia de trabalho só
desse para manter vivo o trabalhador, isto é, para reproduzir sua
força de trabalho, o trabalho, em termos absolutos, seria produtivo,
uma vez que seria reprodutivo, ou seja, substituiria sempre os valores
por ele consumidos (iguais ao valor da pr6pria força de trabalho).
Mas, não seria produtivo no sentido capitalista, por não ter produ-
zido mais-valía. (Na realidade, não produziria nenhum valor novo1
mas substituiria apenas o anterior; teria consumido o valor numa
forma para reproduzi-lo em outra. E é nesse sentido que se disse ser
produtivo um trabalhador cuja produção iguala o próprio consumo,
e improdutivo, o que consome mais do que reproduz.)
A produtividade no sentido capitalista baseia-se na produtivi-
dade relativa; então, o trabalhador não so repõe um valor prece-
dente, mas ta1nbém cria um novo; materializa em seu produto mais
tempo de t~abalho que o materializado no produto que o màntém
vivo como trabalhador. Dessa espécie de trabalho assalariado pro-
dutivo depende a existência do capital.
(Admitamos não exista o capital e que o trabalhador mesmo se
aproprie de seu trabalho excedente, o excesso 4e valores que cria
acima da sobra de valores que consome. Poder-se-ia dizer desse tra-
balho que é realmente produtivo, isto é, gera novos valores.)
131.
9u produto líquido. (Aí emun de novo em sua concepção; pois o
ttigo, por exemplo, sobra po.t ultrapassar o consumo dos trabalha-
dores e arrendatários; mas, o tecido também sobra por ultrapassar as
n.ecess,i.dades de vestuário dos respectivos produtores (trabalhadores
e patrões da tecelagem). Formulam uma concepção errada da própria
mais-valia, por terem uma idéia falsa do valor e o reduzirem a valor
de usq do t~abalho e não a tempo de trabalho, a trabalho social, sen1
mais outra qualificação. Não obstante resta a definição correta de só
ser p,rodutivo o trabalho assalariado que gera valor maior que o seu
custo. A. Smít..1i liberta essa definição da falsa idéia a que a ligaram
os fisiocratas.
Dos ·fisiocnm1s voltemos aos mercantilistas. Há nestes uma fa-
~ta que, embora lhes faltasse a consciência dela, evidencia o mesmo
modo de ver sobre o trabalho produtivo. Estava-lhes subjacente a
idéia de só ser p1·odutivo o trabalho nos ramos cujos produtos, envia-
dos para o exterior, traziam mais dinheiro do que tinharp custado
(ou mais do que tinha de ser exportado em troca deles), e portanto
capacitavam um pafs a participar em melhores condições dos _produ-
tos das minas recém-descobertas de ouro e prata. Viam ocorrer cres-
cimento rápido da riqueza e da burguesia nos países com esse rumo.
Em que se baseava., na realidade, essa influência do ouro? Os saláw
rios não subiram na mesma proporção dos preços das mercadorias;
os salários portanto caíram e assim aumentou o trabalho excedente
relativo, elevou-se a taxa de lucro, não por se ter tornado mais pro-
dutivo o trabalhador, mas por se ter reduzido o salário absoluto (isto
é, a soma dos meios de subsistência que o trabalhador recebe), numa
palavra, por ter piorado a situação do trabalhador. Por c;onseguinte,
o trabalho nesses países tornqu-se realmente roais produtivo para o
empregador. Este fato se inter1igava com a' afluência dos metais pre-
ciosos, e aí temos a razão por que os mercantilistas, embora obscura-
mente a pressentissem, declaravam só ser produtivo o tra~lho em-
pregado naqueles ramos.
134
\f E-c;::::;"E'""''l"'"A"';~
<! L-.> ::::> F ;'"\ \,,.,; ;'
2 vezes o do trabalho. . . O preço das m~rctxdorias'=-para.-·o'·coné
sumo interno (por exemplo, trigo) não scibe de imediato em
conseqüência de afluxo de dinheiro, mas como a taxa de lucto
.da agricultura declina em relação à da jndústría, capital se deslo-
ca da primeira para a segunda: desse -modo, todo capital passa
a dar lucro maior que antes, e elevação dos lucros sempre equi-
vale a queda dos salários" (John Barton, Observations on the
circunstances which influence f.be condition of the labouring
classes of society, Londres 1817, pp. 29 ss).
Assim, na segunda metade do século XVIII, repetiu-se, de acor-
do com Barton, o mesmo fenômeno que, desde o último terço do
século XVI e no XVII, impulsionou o sistema mercantil. Ademais,
uma ve"z que s6 as mercadorias exportadas se mediam em ouro e prata
com o valor rebaixado, enquanto as de consumo interno ainda con-
tinuavam sendo medidas em ouro e prata com o valor antigo (até que
a concorrência entre os capitalistas eliminasse essa mensuração por
dôis padrões diferentes), o trabruho nos ramos de produção das roer.
cadorias de exportação revelava-se de imediato produtivo, isto é, ge-
rador de mais-valia, em virtude de deprimir o salário abaixo do nível
antigo.
( 1. II, cap. III, vol. II, Ed. MacCulloch, pp. 9.3 ss.) "Existe
uma espécie de trabalho que aumenta o valor do objeto em que
se aplica; há outra que não tem esse efeito. A primeira, uma
vez que produz valor, pode ser chamada trabalho produtivo, a
segunda, trabalho improdutivo. Assim, o trabalho de um ope-
rário da manufatura geralmente acrescenta ao valor do material
por ele trabalhado o valor de seu próprio sustento e o lucro do
patrão. O trabalho de um criado, ao contrário, não adiciona
valor. O operário, embora receba o salário adiantado, nada custa
realmente ao patrão, uma vez que o valor desse salátio é resti·
1JJ
tuído junto com um lucro, em vir!ude do valor aumentado do
objeto em que se aplicou seu trabalho. Nup.ca se recupera, po-
rém, o que se despende para manter um criado. Um homem
enriquece empregando grande número de operá.tios; empobreée
sustentando grande número de criados."
136
mesmo modo, o último relatório oficial inglês sobre as fábricas inclui
"explicitamente" na categoria de assalariados empregados todas as
pessoas empregadas nas fábricas e nos correspondentes escritórios, ex~
cetuado o próprio fabricante (ver antes de concluir esta droga, as
expressões utilizadas nesse relatório). Fic:a definido o trabalho pro-
dutivo do ponto de vista d11 produção capitalista, e A. Smith penetrou
no âmago da questão, acertou na mosca, e um dos seus maiores mé·
ritos· científicos {essa distinção crítica entre trabalho produtivo e
improdutivo, conforme acertada observação de Malthus, constitui a
base de toda a economia burbTUesa ) é o de ter definido o trabalho
produtivo como trabalho que se troca de imediato por capital - tro-
ca em que as condições de produção do trabalho e o valor em geral,
dinheiro ou mercadoria, antes de tudo se transformam em capital (e
o trabalho em trabalho assalariado na acepção científica).
Assim, também fica absolutamente estabelecido o que é trabalho
improdutivo. É trabalho que não se troca por capital, mas diretamente
por renda, ou seja, por salário ou lucro (sem dúvida, pelas diversas
rubricas, como juros e renda fundiária, co-participantes do lucro do
capitalista). Não existe capital nem trabalho assalariado no sentido
da economia burguesa, onde todo trabalho em parte ainda se paga
a si mesmo (como o trabalho agrícola do servo por exemplo), c:iu
em parte se troca de imediato por renda (como sucede com o tra·
balho manufatureiro nas cidades da Asia). As definições considera·
das, portanto, não decorrem da qualificação material do trabalho (nem
da natureza do produto nem da destinação do trabalho como trabalho
cone.teto), mas da forma social determinada, das relações sociais de
produção em que ele se realiza. Desse modo, um ator por exemplo,
mesmo um palhaço, é um trabalhador produtivo se trabalha a ser·
vjço de um capitalista (o empresário), a quem restitui mais traba-
lho do que dele recebe na forma de salário, enquanto um alfaiate que
vai à casa do capitalista e lhe remenda as calças, fornecendo-lhe valor
de uso apenas, é um trabalhador lmprodutivo. O trabalho do pri-
meiro troca-se por capital, o do segundo, por renda*. O primeiro
trabalho gera mais-valia; no segundo, consome-se renda.
Trabalho produtivo e improdutivo são sempre olhados aí do
ângulo do dono do dinheiro, do capitalista e não do trabalhador;· daí
o disparate de Ganilh e outros, que, com a reduzida compreensão da
matéria, vão a ponto de perguntar se trabalho, serviço ou função de
prostitutas, lacaios etc. geram dinheiro.
Um escritor é trabalhador produtivo não por produzir idéias,
mas enquanto enriquecer o editor que publica suas obras ou enquanto
for o trabalhador assalariado de um capitalista.
137
O valor de uso da mercadoria onde se cotporifica o trabalho de
µm ~a~ador produtivo pode ser da espé~e mais fútil. Esta dcití-
naç~ material nada tem a vel"' com a natureza desse trabalho, que ao
contrário apenas expressa determinada relação social de produção. É
uma definição do trabalho, a qual não deriva de seu conteúdo ou
resultado, mas de sua forma social específica.
Ademais, no caso de o capital se ter apoderado da produção in-
teira, isto é, de a mercadoria ( a distinguir-se do mero valor de uso)
não ser mais produzida por qualquer trabalhador que seja o próprio
dono das condições de produção para elaborar essa mercadoria, e de
o capitalista, portanto, ser o único produtor de mercadorias (excetua-
da uma só ·mercadoria, a força de trabalho), terá a renda de se tro·
car ou por mercadorias que só o capital produz e vende, ou por tra-
balho, comprado como aquelas mercadorias, para ser consumido, ou
seja, em virtude exclusivamente de característica material determí·
nada, do valor de uso, dos serviços que, com sua destinação material,
prestam ao comprador e consumidor. Os serviços prestados, para seu
produtor, são mercadorias. Têm determinado valor de uso (imaginá-
rio ou real) e determinado valor de troca. Para o comprador, porém,
esses serviços são meros valores de uso, objetos em que consome a
renda. Esses trabalhadores improdutivos não obtêm grátis sua parti-
cipação na renda (nos salários ,e luctos), sua cota nas mercadorias
produzidas pelo trabalho produtivo: têm de comptllt seu quinhão)
mas nada têm a ver com a produção dessas mercadorias. .
Mas, seja como for, é evidente: quanto mais se gasta da renda
(salário e lucro) nas mercadorias produzidas pelo capital,. tanto me·
nos dela se pode gastar nos serviços dos trabalhadores iínpi:odutivos,
e vice-versa. ,
Em si mesma, a destinação material do trabalhp - e em con-
seqüência do produto - nada tem a ver com essa distinção entre
trabalho produtivo e improdutivo. Por exemplo, os cozinheiros e os
garçons de um hotel são trabalhadores produtivos, porquanto seu
trabalho se converte em capital para o dono do hotel. Essas mesmas
pessoas no papel de criados são trabalha.dores improdutivos. por-
quanto, ao invés de fazer capital com seus serviços, neles gastam
renda. Mas, de fato, também essas pessoas no hotel são para mim, na
qualidade de consunúdor, trabalhadores improdutivos.
"A parte do produto anual do solo e do trabalho de qzsal-
quer país, a qual substitui capital, é empregada de! imediato ape·
nas para manter ti·abalhadores produtivos. Só paga os salários' do
trabalho pt'Odutivo. A parte destinada diretamente pata consti-
tuir renda, seja lucro ou renda fundiária, pode sustentar tanto
trabalho -produtivo quanto improdutivo" (1. e.) p. 98). "Uma
pessoa, qualquer que seja a parte de seus fundos que aplique
na qualidade de capital, sempre espera que lhe seja ela restituí·
da com um lucro. Por isso, aplica.a para manter somente tra-
balhadores produtivos; e essa parte, depois de lhe ter servido
de capital, forma renda para aqueles. Logo que emprega uma
parte de seus fundos, para manter trabalhadores improdutivos
de qualquer espécie, essa parte sai de seu capital e entra no
fundo reservado para consumo imediato" (1. e.).
139
l?o:i: si mesma, como se disse, essa distinção entre trabalho pro·
dutlvo e improdutivo nada tem a vet com a especialidade particula1
do· t~balho nem com o valor de uso particular em que essa especíali·
.dade se co1-podfica. Num caso, o trabalhador se troca por capital;
noutro, por renda. Num caso, o trabalhador se ttansforma em capita!
e gera lucto para o capitalista; no outro, é uma despesa, um dos
artigos e.1n que se despende renda. Po.r exemplo, o trabalhador de um
fabricante de piano é um t.rabalhador produtivo. Seu trabalho, além
de substituú: o salário que consome, proporciona valor excedente
acima do valor do salário no produto, no piano, a mercado.ria que o
fabricante vende. Se, ao invés disso, compro todo o material neces-
sário para fabricar um piano (ou digamos o próprio trabalhador o
possua) e, ao invés de comprar o piano na loja, mando fazê-lo em
casa, nesse caso, quem faz o piano é trabalhador improdutivo, pois
seu trabalho se troca diretamente poi- minha renda.
140
rio, quantidade de trabalho igual à que na origem o produziu.
O trabalho do criado, ao contrário, não se fixa nem se realiza·
em objeto particular ou mercadoria vendável. Seus servi{;Os e111-
geral perecem no instante do desempenho e raro deixam vesti-
gio ou valor pelo qual se pudesse obter fitais tal'de quantidade
igual de serviços. . . O trabalho de a1gurn:as categorias sociais.
respeitáveis, do mesmo modo que o dos criados, não produ:c
valor, não se fixa nem se realiza em objeto dut"fwel ou merca·
doria vendável., (1. e., pp. 93-94 passim}.
141
pital. Neste caso é como se o próprio trabalhador fosse o dono das
•ÇOnclições de ·produção, Do valor de seu produto anual teria de de-
du7.ir, todo ano, o valor das condições de produção, para repô-las. O
.que consumiria ou poderia consumir anualmente do valor do produ-
to seria a parte igual ao novo trabalho adicionado anualmente a seu
capital constante. Neste caso, não haveria, portanto, p1·odução capi·
talista.
A primeíra razão por que A. Smith chama produtivo esse gênero
-de trabalho está em que os fisiocratas o classificam de "estéríl" e
<.<não produtivo".
Assim diz Smith no capítulo mencionado:
143
ramo da produção material, para produzir determinada ,mercadoria, e
cujo trabalho conjunto (cooperação) é necessário para a fabricação
das mercadorias. Na realidade acrescentam eles ao capital constante
a totalidade de seu trabalho e aumentam desse montante o valor do
produto. (Até onde se pode dizer o mesmo dos banqueiros etc.? 411 )
Se.gundo, A. Smith diz que, no conjunto, isso não se dá "geral-
mente" com o trabalho dos trabalhadores improdutivos. Mesmo que
o capital se tenha apoderado da produção material e por conseguinte
desaparecido em geral a indústria doméstica ou a do pequeno artesão
que produz valores de uso diretamente para o consumidor a domidlio,
sabe A. Smith muito bem que uma costureira que levo para casa a
fim de fazer camisas, ou os trabalhadores que reparam móveis, ou
o criado que lava, lirnpa a casa etc., ou a co:ánheira que dá à carne
etc. a forma apetedvel fixam o trabalho numa coisa e de fato elevam
o valor dela, do mesmo modo que a costureira que cose na fábrica,
o mecânico que repara a máquina, os trabalhadores ,que limpam as
máquinas, a cozinheira que co:r.inha num hotel como assalariada de
um capitalista. Potencialmente, aqueles valores de uso também são
mercadorias: as camisas podem s"er penhoradas, a casa revendida, os
móveis leiloados etc. Logo, essas pessoas produziram mercadoria em
potencial e acrescentaram valor aos objetos que elas transformaram.
Todavia, trata-se aí de uma catêgoria muito reduzida no universo dos
trabalhadores improdutivos e não se aplica à massa dos criados, aos.
clérigos, funcionários públicos, militares, músicos etc•.
Mas, qualquer que seja o número desses "trabalhadores impro-
dutivos", fica pelo menos evidente - e é admitido pela observação
restritiva de ,
144
..
A cozinheira do hotel produz mercadoriàl\,,~;-4{re""nt"Íh~·- ~;~1
prou o trabalho como capitalista, o dono do hotel; o consumido1
das costeletas de carneiro tem de lhe pagar o trabalho, e este repõe
para o dono do hotel (não se considerando o lucro) o fundo com
que ele continua a pagar à cozinheira. Ao revés, se compro trabalho
de uma cozinheira para cozinhar carne etc., não para empregá-lo como
trabalho em geral, mas para fruí-lo, utilizá-lo como determinado tra·
ba1ho concreto, o trabalho. então é improdutivo; embora esse traba.
lho se fixe num produto material e possa ser mercadoria (no resul-
tado), vendável como é de fato para o dono do hotel. Permanece,
porém, a grande diferença {conceituai): a cozinheira não repõe para
mim (particular) o fundo com que a pago, porque não compro o
trabalho na qualidade de demento que gera valor, mas apenas por
causa de seu valor de uso. O trabalho dela não me repõe o fundo
com que a pago, 1,sto é, o salário, do mesmo modo que o jantar que
tomo no hotel, por si mesmo, não me capacita a comprar e po.r con-
seguinte comer o mesmo jantar pela segunda vez. Mas, essa diferen·
ça ·ocorre também entre as mercadorias. A mercadoria que o capita-
lista compra para repor o capital constante (por exemplo, tecido de
algodão, se fabrica estampados) repõe o valor dda no tecido estam·
pado. Ao contrário, se a compra tem por objetivo o consumo do
própi-io tecido, a mercadoria não lhe repõe a despesa.
Aliás, a porção maior da sociedade, isto é, a classe trabalhado-
ra, tem de executar para si mesma tal gênero de trabalho; mas só
pode fazê--lo, depois de ter trabalhado "produtivamente". Só pode
ela cozinhar a carne para si mesma, depois de ter produzido salário
para pagar a carne; manter limpos a casa e os móveis, polir os sa-
patos, depois de ter produzido o valor dos m6veís, do aluguel da
casa e dos sapatos. Para a própria classe dos trabalhadores produti-
vos patenteia-se portanto "trabalho improdutivo" o que eles executam
para si mesmos. Esse trabalho improdutivo nunca lhes permite re-
produzir de novo o mesmo trabalho improdutivo, se antes não ti-
verem trabalhado produtivamente.
Terceiro. Além disso, um empresário de teatro, concertos, bor-
déis etc. compra a dísposição temporária da força de trabalho de
atores, músicos, prostitutas etc. - utilizando na prática um rodeio
de interesse apenas econômico formal; quanto ao resultado, o pro-
cesso não se altera - o chamado "trabalho improdutivo" cujos "ser-
viços perecem no instante do desempenho" e não se fixam nem se
realizam "num objeto durável" (também se diz particular) "ou mer-
cadoria vendável", destacada deles mesmos, A venda deles ao pú-
blico lhe reembolsa salário e lucto. E esses serviços, que assim com-
prou, capacitam-no a comprá-los de novo, isto é, por meio ddes
mesmos renova-se o fundo por que são pagos. O mesmo se pode
14.5
dizer, por exemplo, do trabalho dos auxiliares que ·um advogado
emprega no. escritório, com a ressalva de tais serviços ainda se cor"
porificarem com freqüência em "objetos particulares" bastante volu-
mosos, em enormes pilhas de papéis.
É verdade que esses serviços são pagos ao próprio empresário
pela renda do público. Mas, não é menos verdade que o mesmo vale
para todos os produtos, desde que entrem no consumo individual.
Sem dúvida, o país não pode exportar esses serviços como tais, mas
pode exportar os que os executam. Assim, a França exporta coreógra-
fos, cozinheiros etc., e a Alemanha, professores. Sem dúvida, com a
exportação de coreógrafos e professores exporta-se também sua renda,
enquanto a exportação de sapatilhas e livros traz para o país contra-
partida de igual valor.
Por conseguinte, se por um lado parte do chamado trabalho im-
produtivo se corporifica em valores de uso materiais que poderiam
também ser mercadorias (vendáveis), por outro lado, parte dos me-
ros serviços que não assumem forma objetiva - não adquirem a
existência de coisa separada dos prestadores de serviços e não entram
numa mercadoria como componente do valor - , pode ser comprada.
por capital (pelo comprador imediato do trabalho), repor o próprio
salário e dar um lucro. Em suma, parte da produção desses serviços
pode subordinar-se ao capital, do mesmo modo que parte do traba-
lho que se corporifica em coisas úteis se compra diretamente por
renda e não se subordina à produção capitalista. ·
Quarto. O universo todo das mercadorias pode dividir-se em dois
grandes segmentos. Primeiro, força de trabalho; segundo; as merca-
dorias, destacadas da própria força de trabalho. No tocante à' compra
dos serviços que preparam, mantêm, modificam etc. a força de tra-
balho, em suma, a especializam ou, pelo menos, a cGnservam, como,
por exemplo, o serviço do professor, desde que seja "industrialmente
necessário" ou útil, e o serviço do médico, enquanto mantém a saúde
e assim conserva a fonte de todos os valores, a própria força de tra-
balho etc., são serviços que em troca produzem "uma mercadoria ven-
dável", a saber, a própria força de trabalho, e entram nos custos de
produção dela. A. Smith sabia, contudo, quão pouco a "educação"
entra nos custos de produção da massa dos operários. E de qualquer
modo os serviços do médico figuram entre os falsos custos de pro-
dução.60 Podemos considerá-los custos de reparação da força de tra-
balho. Admitamos ainda queda simultânea de salário e lucro no valor
total - por uma razão qualquer, digamos, porque a nação ficou me-
146
nos trabalhadora - e ao mesmo tempo no valor de uso, porque o tra-
balho se tornou menos produtivo em virtude de más colheitas etc.;
em suma, que diminua, do produto, a parte cujo valor é igual à ren-
da, porque menos trabalho novo foi adicionado no ano passado e o
trabalho adicionado tornou-se menos produtivo. Se capitalista e tra-
balhador quiserem então consumir montante de valor em coisas ma-
tetíais igual ao anterior, poderão comprar menos serviços do médico,
do professor etc. Se forem forçados a continuar com a mesma des-
pesa em ambos os serviços, terão de diminuir o consumo de outras
coisas. Está assim claro que o trabalho do médico e do professor não
gera diretamente o fundo por que eles são pagos, embora esse tra-
balho entre nos custos de produção do fundo que gera todos os va-
lores que existam, isto é, nos custos de produção da força de traba-
lho.
A. Smith prossegue:
147
o valor global das mercadorias exi!itentes no mercado em qual-
quer momento, em conseqüência de seu trabalho, ultrapassa o
que seria sem e)e" (1. e., t. III, pp. 531 a .533, Garnier).
148
do trabalhador, e, segundo, do desenvolvimento da maquinaria
com que ele trabalha. . . O acréscimo da quanti.Jade de traba-
lho útil de fato empregado numa sociedade tem de depender
totalmente do acréscimo do capital que o emprega; e o acrésci-
mo desse capital, por sua vez, tem de ser exatamente igual O()
montante das poupanças, oriundas da rerufa, feitas pelos que di-
rigem e administram esse capital, ou por outros que empres-
tam o capital" (pp. 5.34-535).
149
não acumulação de capital.51 Mas, depois, os dois processos se com·
pletam.j) ,
((A razão por que os fisiocratas pregavam laissez faire, laissez
passer, em suma a livre concorrência, é apresents.da com acerto por·
Smith nas Í:ttises seguintes;
150
próprio trabalho. Mas, o mundo das mercadorias se divide então em
duas grandes categorias:
Ul
.'1'rtísticos, Uvros, pinturas, estátuas etc., desde que se corporifiquem
ein coisas. Ma.s, além dissoi o produto do trabalho tem de ser merca-
.Joria, no sentido de "mercadoria vendável", isto é, mercadoria na
_primeira forma e que ainda tem de passar pela metamorfose. (Um
fabricante poderá ele mesmo construir uma máquina, se nenhures pode
obtê-la construída, não para vendê-la, mas para utilizá-la como valor
.de uso. Todavia, desgasta-a como parte do capital constante e ven- .
,de-a, por conseguinte, pouco a pouco, na forma do produto para cuja
.elaboração ela contribuiu.)
Por conseguinte, certos trabalhos de criados podem corporifi-
•car-se em !tlercadoriar (potenciais) e, consideradas materialmente, até
nos mesmos valores de uso. Mas não são trabalho produtivo, pois nu
realidade não produzem "mercadorias" mas "valores de uso'' irne-
.diatos. Trnbalhos que são produtivos para o próprio cornprado.t ou
.empregador - como o trabalho do ator para o empresário de teatro
- revelar-se-iam improdutivos por não poder o comprador vendê-los
.ao público na. forma de mercadoria e sim na da própria atividade,
Se abstraímos desses trabalhos, trabalho produtivo é o que pro-
..duz mercadorias, e trabalho improdutivo, o que produz serviços pes.-
soais. O primeiro trabalho corporifica-se numa coisa vendávclj o se-
gundo tem de ser consumido durante o desempenho. O primeiro abran-
.ge (com exceção do trabalho que forma a própria força de trabalho)
toda riqueza material e intelectual existente na forma de coisa -
.carne e também livros; o segundo compreende todos os trabalhos que
.satisfazem qualquer necessidade imaginá.ri.a ou 1·eal do indivíduo ou
.a ele se impõem contra a vontade.
Mercadoria é" a mais elementar forma de tiqueza ·da burguesia .
.Por isso, a definição de "t~balho produtivo" como ttabalho que pro-
.duz "mercadoria '1 corresponde tambérn a um pon~o de vista muito
mais elementar que a definição do trabalho p1·odutivo como trabalho
-que produz capital.
Os adversários de A. Smith deixaram de lado sua primeira defi-
nição, objetiva, e) ao revés, se detiveram na segunda e destacaram
:as contradições e inconseqüências nela inevitáveis. Os polemistas en-
contraram ainda facilidades, insistindo no conteúdo material do tra-
·.balho e sobretudo no requisito de o trabalho ter de fixar-se num
produto mais ou menqs durável. Logo veremos o que os po1entlstas
realçaram especialmente.
Antes porém vejamos mais isto: A. Smith diz que o grande mé~
rito do sístema fisiocrático é o de ter a{'resentado a idéia de que
152
..~
..,.o.:·~~ ·.........J
i.~•.
1J4
que classificou o próprio "capitalista" de "improdutivo" ou, pelo
menos, queria reduzir suas exigências de riqueza material a "salário",
isto é, a temuneração de um "trabalhador produtivo". Muitos traba·
lhadores intelectuais pareciam aderir a essa posição cética. Assim, era
telllpo de transigir e reconhecer a "produtividade" de todas as classes
que não estavam diretamente incluídas entre os agentes da produção.
Uma mão lava a outra, e como na Fábula das Abelhas 113 importava
demonstrar que, também sob o aspecto "produtivo", econômico, o
mundo burguês com todos os "trabalhadores improdutivos" é o me-
lhor de todos os mundos; tanto mais que os '"trabalhadores impro-
dutivos" por sua vez faziam observa~es críticas sobre a produtividade
das classes que, em geral, "nasceram para consumir os frutos" 1 " ou
ainda sobre os agentes de produção, como proprietários de terras, que
nada absolutamente fazem etc. Era mister descobrir um lugar tanto
para esses ociosos ·como para os respectivos parasitas no melhor sis~
tema universal possível.
Terceiro: como se desenvolvia o domínio do capital e cada vez
mais dele se tornavam dependentes as esferas de produção sem liga·
ção direta com a geração da riqueza material - em particular, as
ciências positivas (ciências naturais) foram aproveitadas como instm-
mentos da produção material - , acreditavam os bajuladores sicofan-
tas da economia política, ter de glorificar e legitimar toda esfera de
atividade, apresentando-a "em conexão" com a produção da riqueza
material, como instrumento dela, e honravam um ser humano promo·
vendo-o a "trabalhador produtivo" no "primeiro" sentido> isto é, tra-
balhador que trabalha a serviço do capital, é-lhe útil ao enriqueci-
mento, seja como for etc.
Em face disso, ainda são preferíveis pessoas que, como lvlalthus,
defendem diretamente a necessidade e a utilidade dos "trabalhadores
_improdutivos" e d.os· meros parasitas.
118 Mandeville, Tlie fable of 1J1e beea, obra publicada. pela primeira Ve'~
em 1705.
G4 li"aduçao da frase de Horácio: "fruges consumere nati".
155
Conde de Lauderdale, pot Brougham, Say, Storch e, mais tarde, por
Senior, Rossi e quejandos. Citru:emos apenas algumas passagens ca·
ractetísticas,
Antes, uma passagem de Ricardo em que este demonstra que
para os "trabalhadores produtivos" é muito mais vantajoso que os
proprietários da mais-valia (lucro, renda fundiária) a consumam em
"trabalhadores improdutivos" (criados, por exemplo) do que nos ar-
tigos de 1u."!o produzidos pelos "trabalhadores produtivos".
( (Sismondi, Nouv. princ., t. I, p. 148, aceita a formulação cor-
reta da distinção smithiana (como o faz, ruituralmente, Ricardo). A
clístinção real entre a classe produtiva e a improdutiva é esta:
Djz Ricardo:
1.56
adquirisse, acresceriam a procura anterior de trabalho, e esse
acréscimo só ocorreria por ter eu escollúdo esse modo de des-
pender minha renda. Os trabaJhadores, estando interessados na
procura de trabal-ho, têm de desejar, sem dúvida, que a :renda
tanto quanto possível se desfoque das despesas em mercadorias
de luxo para o sustento de criados" (Ricardo, On the prind-
ples of palitical economy and taxation, 3.ª ed., 1821, pp. 47.5-
476).
1,58
massa geral de seu povo; também é tesouro o que, para uso
do ser humano, deixa de ser ouro e prata para se transformar
em edifícios e melhoramentos do país, e ainda outras coisas
conversiveis nesses metais, como os frutos da terra, as manufa-
turas ou mercadorias estrangeiras e os provimentos dos navios ...
E mesmo bens perecíveis podem ser considerados riqueza de
uma nação, se são conversíveis, embota não convettidos, em
ouro e prata; e acreditamos ser isto válido não só entre indi-
víduos mas também entre nações" (pp. 60-61). "0 povo é o
estôtnago do corpo político". Esse "estômago" na Espanha não
se apoderou do dinheiro de maneira conveniente e não soube di.
geri-lo ... "Comércio e manufaturas são os únicos meios pelos
quais essa digestão e distribuição de ouro e prata se podem
tornar nutritivas para o corpo político" (l. e., pp. 62-6.3 ).
159
Tributar o industrial para proporcionar recursos aos que
em geral se ocupam com atividades "que não produzem coisa
material ou coisas de real utilidade e valor para a comunidade;
sigoífica diminuir a riqueza da sociedade. Diferem dessas ocupa·
ções o repouso e os recreios do espírito, que, usados com mo-
deração, capacitam e dispõem as pessoas para coisas que em
si são mais importantes" (L e., p. 198). "Depois de calculado
o niimero de pessoas necessárias para o trabalho industrial, o
resto pode, sem receio e sem prejuízo para a sociedade, apli-
car-se nas artes e exercícios voltados para o deleite e para a
beleza e que têm seu ponto culminante no progresso do conhe-
cimento natural" (1. c., p. 199). "Há mais a ganhar com a ma-
nufatura do que com a agricultura, e mais com o comércio do
que com a manufatura" (1. e,, p. 172). "Um marinheiro vale .3
camponeses" (p. 178).
16()
l ~·:·::::::.~~~~#---··~·~ ... .,. . ,,
i' <:'·
161
erc., e nessas <.."Ondições a prata remanescente iguala-se em valot
~quele trigo remanescente" (Traité des taxes) pp. 2.3-24).))
6. GER.MAIN G,\RNIBR
162
11) Confusão do Trabalho que se T1·oca por Capital, colll o
Trabalho que se Troca por Renda. A Errada Concepção tle
se Repor o Capital Todo Pela Renda dos Consumidores
163
tetiorem. Todos esses trabalhadores, inclusive os criados, pou-
pam a quem os paga o trabalho de conservar as próprias coisas,,,
164
Terceiro. Garnier recorre então a "avaliações morais". Por que
o "fabricante de perfumes que me afaga o o1fato" deve ser produtivo
e não o músico que "me encanta os ouvidos"? Porque um fornece
um produto material, e o outro não, responderia Smith. A moral e
os mérítos nos dois casos nada têm a ver com a distinção considerada.
Quarto. Não é contraditório que o ªfabricante de violino, o cons-
trutor de 6rgãos, o comerciante de música, o maquinista de teatro
etc." sejam produtivos, e improdutivas as profissões para as quais
esses trabalhos são elementos preparatórios?
165
,..,.,... ou antes teria de chamar de produtiva parte proporcionalmente
pequena do trabalho "improdutivo'', de acordo com sua própria de-
finição, o que não é contra a distinção, mas contra a subsunção a ela
ou contra a maneira de aplicá-la. Após todas essas observações, .o
douto Garnier entra por fim na matéria.
166
capitalista é uma forma acidental, ao invés de ne&ssál:ia~ eillbora iÍo
domínio histórico apenas, isto é, forma necessária transiente do de-
senvolvimento da força produtiva social do trabalho e da transfor.
mação do trabalho em trabalho social.
167
estava materializado nos meios de produção. Assim, do produto total,
a p111;te igual a esse valor não é parte do produto do trabalho anual,
mas ~rcídução de trabalho pretérito.
Tomemos, por exemplo, o produto do trabalho diário de urqa
mina de carvão, de uma usina siderúrgica, de um madeireiro e de uma
construtora de máquinas. Seja o capital constante em todas essas
indústrias = li .3 da totalidade d.os componentes do valor do pro-
duto; isto é, a razão do trabalho preexistente pata o vivo = 1 : 2.
Desse modo, cada uma dessas índústrias fornece todos os dias de-
tenninado produto, a saber, x, x', x", x"'. Esses produtos são cer-
tas quantidades de carvão, ferro, madeira e máquina. Como tais são
produtos do trabalho diário (mas também do consumo por dia das
matérias-primas, combustível, maquinaria etc., os quais contribuíram.
todos para a produção cotidiana). Sejam seus valores iguais a z, z',
z z'
z,,, z"'. Esses não são o produto do trabalho diário, pois - - , - - ,
3 3
z" z"'
- - , - - são simplesmente iguais ao valor que tinham os clemen·
J .3
tos constantes de z, z', z", z"', antes de entrarem no trabalho diário.
x x' x" x'"
Por isso, também - - , --,. - - , - - , ou a terça parte dos va-
3 3 3 3
lores de uso produzidos, representam apenas o valor do trabalho
preexistente e o repõem sem cessar, (A troca havida aí entre traba-
lho preexistente e o produto do trabalho vivo, por ~atú.reza, difere
por completo da troca entre a força de trabalho e as ~óndições de
ttabalho existentes na forma de capital.) _
Temos x = z; mas z é o valor de x inteiro, _e 1/3 z é igual ao
:X:
valor da matéria-prima etc., contidos em x inteiro. Assim, - - é
3
parte do produto diário do trabalho (e de modo nenhum produto do
trabalho diário, mas, ao contrário, do trabalho prévio, preexistente,
-que com ele se combina), e nela o trabalho preexistente, combinado
com o trabalho diário, reaparece e é reposto. Então, cada parte alí-
quota de x - x é apenas a quantidade dos produtos reais (ferro,.
carvão etc.) - ~iesenta, em 1/3 de seu valor, trabalho preexis-
tente, e em 2/3, trabalho realizado ou adicionado no mesmo dia.
Trabalho preexistente e trabalho diário integram - na mesma prQ.
porção encontrada no total dos produtos - cada produto separado-
que entra nesse total. Mas, se divido o produto total em duas par-
tes, uma de. 1/3 e outra de 2/3, essa divisão equivale a representar
168
o trabalho preexistente apenas nesse terço, e o trabalho diário ex,.
dusivamente nos dois terços. De fato, o primeiro 1/3 representa o
trabalho pretérito todo que integrou o produto global, o valor inteiro
dos meios de produção consumidos. Após essa dedução de 1/3, os
outros 2/.3 só podem representar o produto do trabalho diário. Na
realidade representam, do trabalho diário, a quantidade inteira que
foi adicionada aos meios de produção.
Os últimos 2/ 3 são ponanto iguais à renda do produtor (lucro
e salárío). Pode ele consumi-los, isto é, despendê-los em artigos que
entràJll no consumo individual. Admitamos que, do c!lrvão produ-
zido por dia, esses 2/3 não fossem adquiridos com dinheiro pelos
consumidores ou compradores, mas com as mercadorias que transfor.
maram antes em dinheiro para comprar carvão. Desses 2/3 de (.'ar-
vão, parte entrará no consumo individual do próprio produtor de
carvão, para aquecimento etc. Essa parte não entra portanto em cir-
culação ou, se nela entrou antes, é dela retil'ada pelo próprio pro.
dutor. Menos essa parte que os próprios produtores de carvão con-
somem, têm eles de trocar todo o restante (caso queiram consumi-lo)
por artigos que entram no consumo individual.
Nessa troca não lhes importa que os vendedores dos artigos con-
sumíveis 'troquem capital ou renda por carvão, isto é, que o fabri-
cante de pano, por exemplo, permute o tecido por carvão, para aque-
cer o lar (nesse caso, pam ele o carvão é por sua vez artigo de con-
sumo e paga-o com renda) com quantídade de pano que representa
lucro), ou que Jaime, o cri.ado do fabricante, troque o pano que re-
cebeu na forma de salário pelo carvão (este vem a ser, no caso, ar-
tigo de consumo trocado pela renda do fabricante de pano, que por
sua vez trocara sua renda pelo traballio improdutivo do criado), ou
ainda que o fabricapte de pano permute tecido por carvão, a fim de
repor na fábrica o carvão necessário que foi consumido. (Na última
hipótese, o pano que o fabricante troca representa para ele capital
constante, o valor de um dos meios de produção, e o cat\lão, esse
valor e também fisicamente esse meio de produção. Para o produtor
de cal."vão, porém, o pano é artigo de consumo, e ambos, pano e car-
vão, representam renda: o carvão, renda na forma não realizada; o
pano, renda na forma realizada.)
· No tocante, porém, ao último terço não pode o produtor de
.carvão gastá-lo em artigos que entram no próprio consumo indivi-
dual, como se fosse renda, Esse terço pertence ao processo de pro.
<lução (ou de reprodução) e deve ser convertido em ferro, madeira,
máquina, em artigos que formam componentes de seu capital cons-
tante e sem os quais a produção de carvão não poderia ser renovada
ou continuada. Sem dúvida poderia permutar também esse terço por
169
artigos de 'consl,llno (ou, o que é o mesmo, pelo dinhcito dos produ-
toi:es desses artigos), mas somente se por sua vez trocar e5ses artigos
de. consumQ por feno, madeira, máquina, se eles portanto não entra..
rem em seu próprio consumo nem etn seu dispêndio de renda, mas
.n9 dispêndio da renda dos produtores de madeira, ferro, máquina.
todos os quais estão, por sua vez, na impossibilidade de gastar 1/3
do próprio produto em artigo de consumo indivídual.
Admitamos que entre carvão no capital constante do produtor
de ferro, do de madeira e do construtor de máquinas. Em contra·
partida, ferro, madeira e máquinas entram no capital constante do
produtor ·de carvifo. Os produtos deles, até o ponto em que, no mes·
.tno montante de valor, entram reciprocamente nos respectivos capi-
tais constantes, repõem-se fisicamente a si mesmos, e um produtor
teria de pagar ao outro apenas o saldo resultante do excedente da
compra sobre a venda. Na .realidade, o dinheiro nessa operação se
revela na prática (por meio de letras etc.) meio de pagamento ape..
nas, e não numerário, meio de circulação, e só paga o saldo. O pro~
dutor de carvão precisa de parte desse 1/3 para a própria reprodução>
do mesmo modo que deduziu do produto utna parte dos 2/ 3 para o
próprio consumo.
AJ:. quantidades todas de carvão, ferro> madeira e máquina, as
quais se repõem reciprocamente mediante troca de capital constante
por capital constantet de capital constante numa ÍOl;'llla física por
capital constante noutra forma físka, nada têm a vez: com a troca de
renda por capital constante nem com a troca de renda pQr renda, De-
~empenham exatamente o mesmo papel das sementes ··na .agncultur&1
ou do capital em gado na pecuária. É parte Jo p1"0duto anual do tra-
balho, mas não do produto da trabalho anual adicionado (ao contrá-
rio, é parte do produto do trabalho anual mais o preexistente), parte
que (não se alterando as condições de produção) se repõe a si mes-
ma todo ano na fotma de meios de produção, de capital constante ..
sem enttar noutra circulação que não seja a de empresa para em.
presa e sem influir no valor da fração do produto a qual entra na cir··
.culação entre empresas e consumidores.
Admitamos que o terço inteiro de carvão se troque pelos pr6-
prios elementos de produção - ferro, madeira, máquinas. {Seria. pos-
sível qu_e, por exemplo, se trocasse diretamente apenas por máqui·
na; mas o construtor de máquinas por sua vez o trocasse como ca-
pital constante não só pelo próprio mas também pelo capital cons-
tante do produtor de ferro e do de madeira.) De fato, cada quintal5 a:
170
dos 2/3 do produto em carvão, o qual o produtor trocou, na quali"
dade de renda, por artigos de consumo, consistiria, segundo o valor~
em duas partes, como o produto global. Do quíntal, 1/3 seria igual
ao valor dos meios de produção nele consumidos, e 2/ .3 se iguala·
riam ao novo trabalho adicionado àquele terço pelo produtd- de
carvão. Mas, se o produto global é igual, digamos, a 30 000 quintais,
só troca ele cotno renda 20 000. Os outros 10 000 seriam, na hipó·
tese, repostos por ferro, madeira, máquina etc. etc., etn suma, o valor
todo dos meios de produção consutnidos nos 30-000 quintais seria
substituído fisicamente por meios de produção da mesma espécie e
de igual valor.
Os compradores dos 20 000 quintais, portanto, nada. pagam pelo
valor do trabalho pree:x:istente contido nos 20 000 quintais, pois
20 000 do prodqto global representam apenas os 2/3 do valor nos
quais se realfaa o novo trabalho adicíonado. É como se os 20 000
quintais só representassem novo trabalho adicionado (durante o ano,
por exemplo), e nenhum trabalho preexistente. Por isso, o compra-
dor paga, em cada quintal, o valor todo, trabalho preexistente + novo
trabalho adicionado, e não obstante só paga novo trabalho adicionado,
justamente porque só compra 20 000 quintais, a quantidade que no
produto global se iguala ao valor da totalidade do novo trabalho adi-
cionado. Também não paga as sementes, ao pagar o ttígo que come.
Os produtores repuseram aquela parte entre si, reciproca.mente; não
têm por que substitu{-la segunda vez. Repuseram-na com a parte do
próprio produto a qual é produto anual do trnbalho e de modo ne-
nhum produto do trabalho anual, tnas, ao contrário, é, do produto
mual, a parte que representa o trabalho preexistente, Sem o novo
trabalho não haveria o produto; tnas, ao mesmo tempo, o produto
.não existiria sem o trabalho materializado nos meios de produção,
Se fosse mero produto de novo trabalho, o valor seria menor que o
atual, e do produto não haveria parte alguma para ser restituída à
produção. O outro método de trabalho, que emprega rneios de pro·
clução, não seria utilizado, se não fosse mais produtivo e não desse
produto maior, apesar- de parte do produto ter de ser devolvida ~
produção.
Apesar de nenhuma parte do valot do terço do carvão ter en-
.ttado nos 20 000 quintais vendidos como renda, ainda assim toda
variação de valor no capital constante que o terço, ou 10 000 quin-
tais, representava, provocaria variação de valor nos outros 2/3, que
são vendidos na qualidade de renda. Admit.amos que a produção de
ferro, madeira, máquina etc., em suma, dos elementos de produção
a que se reduzia a terça parte do produto, se tome tnais cata; e que
permaneça a mesma a produtividade do trabalho de extrair carvão.
Com a mesma quantidade ele _ferro, madeira, carvão, máquina e tra·
171
b;tlh() são produzidos agora, como dantes, 30 000 quintais. Mas, UJJlll
vez que ferro, madeira e máqcina encareceram, custam mais tempo
de trabalho que antes, é mister que se lhes dê mais carvão que antes.
O produto continua igual a 30 000 quintais. O trabalho de ex:
trair c_arvão mantém a produtividade anterior. Com a mesma quanti-
dade de trabalho vivo e o mesmo volume de madeira, ferro, maqui-
naria etc., produz 30 000 quintais, como dantes. O trabalho vivo con-
tínua a configurar-se no mesmo valor, digamos, 20 000 libras ester-
linas (avaliado em dinheiro). AD revés, madeira, ferro etc., em suma
o capital constante, custam agora 16 000 libras, em vez de 10 000.
isto é, o t~po de trabalho neles contido aumentou de 6/10 ou 60%.
O valor do produto global agora é de 36 000 hbras, quando antes era
de 30 000; cresceu portanto de 1/5, ou seja, de 20%. Assim, cada
parte alíquota do produto custa também 20% mais que antes. Se o
quintal custava antes 1 libra esterlina, custará agora 1 libra 1/5 +
de libra= 1 libra e 4 xelins. Antes, do produto global, 1/3 ou 3/9
era igual ao capital constante, e 2/3, ao trabalho adicionado. Agora,
o capital constante está para o valor d.o produto global assim como
16 000 36 000 = 16/36 =4/9. O capital constante acresceu de
1/9. Do produto, a pru.·te igual ao valor do trabalho adicionado era
antes 2/3 ou 6/9 do produto, e agora é 5/9.
Temos portanto:
Capital constante Trabalhio adicionado
173
apenas a,t:inge em caráter transitório produtos isolaqos. Em conse-
qüên.cia, ~bétn não se alterou a taxa de maís-valia. O produtor
p,recisa de 24 Jornadas de trabalho onde antes precisav:ai de 15, mas
oontinua a pagar ao trabalhador apenas 10 horas de trabalho e~
cada! uma das 24 jotnadas e prossegue fazendo-o trabalhar de graça 2
horas em cada uma das jornadas. Se os 15 operários portanto traba--
ll1avam 1.50 horas para si e 30 para o produtor, os 24 trabalham
240 para si e 48 para ele, (Não nos preocupamos agora com a taxa
de lucro.) O salário só cairia se fosse gasto em ferro, madeira, ma·
quinaria etc., o que não é o caso, O consumo dos 24 trabalhadores
é agora 3/5 maior que o anterior dos 15. Podem portanto os pro-
dutores de carvão vender tanto mais do valor dos 3 333 1/3 quin-
tais a esses trabalhadores, isto é, ao patrão que desembolsa os salá-
rios.
Segunda causa: a produtividade reduzida na produção de ferro,
madeira etc, decorre de terem encarecido pa.rtes do respectivo capital
constante, dos meios de produção. Ocorre então a mesma alternativa,
e por fim a produtividade diminuída reduz-se a quantidade acresci-
da do trabalho vivo empregado, por conseguite, a acréscimo também
do salário, que os consumidores pagaram em parte ao produtor de
carvão, nas 4 000 libras.
Nos ramos de produção onde se aplicou mais trabalho, acresceu
a massa de mais-valia por ter 'aumentado o número de trabalhadores
empregados. Em contrapartida, a taxa de lucro terá caído, conforme
tiverem encarecido .todos os componentes do capital constante onde
entra o próprio produto desses ramos: utilizem elés mesmos parte
do próprio produto como meio de produção, ou entre seu produto
como meio de produção de seus próprios meios de prodúção, como
no caso do carvão. Mas, se o capital circulante despendido em salá-
rio tiver subido mais que a parte do capital constante que se tem
de repor, subirá também a taxa de lucro, e eles participarão no con-
sumo de parte das 4 000 libras.
Elevação do valor do capital constante {oriunda, da produtivi~
d.ade reduzida nos ramos de trabalho que o suprem) acresce o valor do
produto onde ele entra como capital constante, e diminui a parte
'de;> produto (físico) a qual o trabalho novo adicionado repõe, tor-
nando este~ por isso, menos produtivo enquanto avaliado no pró-
pdo produto. A situação não se altera para a parte do capital cons-
tante a qual se repõe fisicamente. Continuará a troca em produto
da mesma quantidade de ferro, madeira, carvão, para rt.-por o ferro,
madeira e carvão consumidos, e então o.s acréscimos de preço anu-
lam,-se i:eclprocamente. Mas, a sobra de carvão que agora forma parte
do capital constante do produtor de carvão e que não entra nessa
troca .oatutal, é permutada, como dantes, por renda (no caso acima,
174
parte por salário e por lucro), só que essa renda em vez de ir para
os antigos consumidores, desloca-se para os produtores em cuja es-
fera se aplicou maior quantidade de trabalhot aumentou o número
de trabalhadores.
Se um ramo industrial gera produtos destinados apenas ao con-
sumo Individual e que não entram portanto noutra indústria como
meio de produção (por meio de produção sempre se entende aqui
capital constante) nem na própria reprodução (como se vê, por exem-
plo, na agricultura, pecuária e na indústria de carvão onde o pt6-
prio ca:tvão entra como matéria auxiliar), então o produto anual desse
ramo tem de ser pago sempre por renda - salátfo ou lucro ( even-
tual excesso do produto anual não altera essa conexão).
Retomemos o exernplo anterior do li.nho.67 Três jardas de linho
consistem em 2/3 de capital constante e 1/3 de trabalho adicionado.
Um"'1! jarda de linho representa, por conseguinte, trabalho adiciona-
do. Se a mais-valia = 25%, 1/5 de uma jarda ·representa o lucro, e
os outros 4/5, salário reproduzido. O próprio fabricante consome 1/5,
ou, o. que dá no mesmo, terceiros o consomem e lhe pagam o valor
que ele consome nas mercadorias deles ou em outras. (Para simpli-
ficar, cometemos o erro de considerar o lucro todo como renda.) Por
sua vez, porém, o fabricante gasta em salário os 4/5 de jarda, e seus
trabalhadores consomem-nos como renda ou cliretamente ou em troca
de outros produtos consumíveis cujos possuidores consomem o linho.
Das 3 jardas de Unho, 1 jarda é tudo o que os próprios produ-
tores podem consumir como renda. As 2 outras jardas representam
o capital constante do fabricante; têm de ser reconvertidas nas
<.-ondições de produção do linho: fio, maquinaria etc. Do pon-
to de vista do fabricante, a troca das 2 jardas de linho é troca de
capital constante; mas s6 pode trocá-las pela renda de outros. Assim,
paga o fio, digamos, com 4/5 das 2 jardas ou com 8/5 jerdas, e a
maquinaria com 2/5; O fabricante de fio e o construtor de máquinas
podem, por sua vez, consumir cada um 1/3 do que obtêm, isto é,
o primeiro, das 8/5 jardas, 8/15 de jarda, e o segundo, de 2/5 de
jatda, 2/15. Ao todo, 10/15 ou 2/3 de jarda. Mas, 20/15 ou 4/3
jardas têm de lhes repor as matérias-primas, fibra de linho, fetro, car-
vão etc., e cada. um desses artigos por sua vez se reduz a parte que
representa renda (novo trabalho adicionado) e a parte que represen-
ta capital constante (matéria-prima e capital fixo etc.).
Os últímos 4/3 de jarda porém só podem ser consumidos como
renda. Assim, o que aparece por fim como capita:! constante no fio
e na máquina e serve ao fabricante de fio e ao construtor de máqui-
175
.;ij~s ·para ~or fibra, ferro, carvão etc. (excetuada a parte de ferro,
iârv~o etc., que o construtor de máquinas repõe com máquinas), só
PQde representaa; a parte - da fibra, ferro e carvão - que forma
a renda. dos produtores de fibra, ferro e carvão, e para a qual, por-
tanto. não há capital constante a repot; isto é, tem· de pertencer à
fração do produto na qual não entra parte alguma do capital cons-
tante, como vimos acima.. Mas, a renda em ferro, carvão, fibra etc.
consomem-na esses produtores, em linho ou em outtos produtos con-
sumíveis, pois os próprios produtos de maneira nenhuma ou só em
potçã'.o ínfima entram em consumo individual. Desse modo, parte do
ferro, fibra etc. pode trocar-se por produto - o linho - que só entra
no consumo individual, e em troca dele repor codo o capital constante
do fabricante de fio e, em parte, do construtor de máquinas, enquanto
este e aquele, por sua vez, com a parte da máquina e a do fio, as quais
representam renda, consomem linho e por esse meio repõem o capital
constante do fabricante de tecidos.
De fato, o linho (tecido) todo se reduz aos lucros e salários do
fabricante de tecidos, do de fios, do construtor de máquinas, do la-
vrador de linho (planta) e dos produtores de carvão e ferro, enquan-
to, ao mesmo tempo, repõem o capital constante todo do fabricante
do tecido de linho e do de fio. A conta não se liquidaria, se os pro-
dutores finais de matérias-prim~s tivessem de repor o próprio capital
constante mediante troca por tecido de linho, pois esse artigo se des-
tina ao consu1110 individual e não entra em ramo algum de produção
como meio de produção, como parte do capital con'stante. A conta
não deixa resto porque o tecido de linho que o lavrador de ·linho
(planta), os produtores de carvão e de ferro, o construtor'de máqui-
nas etc. compram com o respectivo produto, repõe-lhes apenas a parte
que para eles se reduz a renda e, para os que Jhes adquiram os
produtos, a capital constaiüe. Isso só é possível porque repõem fi~
sicamente ou mediante troca de capital constante por capital cons-
tante a parte de seus produtos a qual não se reduz a renda, não é
conversível a produtos consumíveis.
No exemplo acima pode parecer estranha a hipótese d.e ter fí,
cado a mesma a produtividade do trabalho em dado ramo industrial
e~ ape!iar disso, ela tenha diminuído, ao ser avaliada no próprio pro-
duto a produtividade do trabslho vivo empregado nesse raino. Mas,
a coisa é fácil de explicar.
Admitamos o produto do trabalho de um fümdeir:o = 3 libras-
peso de fio, e qu~ ele para isso precise apenas de 5 libras-peso de
algodão (nenhum resíduo portanto) ; custe a libra-peso de fio 1 xe-
lim (abstraímos da maquinaria, isto é, supomos que seu valor não
caiu nem subiu; igual a. zero, ponanto, no presente caso). E custe
176
·r ,-o~S?::'~':·~'="- ,~:,:;,
,,.
~
177
Avaliado no próprio produto, o trabalho ficou menos produtivo, ell1·
hora sua produtividade não se tenha alterado e apenas a matéria-pri·
ma tenha encarecido. O trabalho continuou com a mesma produtivi·
dade, pois o mesmo trabalho converte, no mesmo tempo, 5 libras-peso
de algodão em 5 libras-peso de fio, e o produto verdadeiro desse tra-
balho é apenas ao forma de fio, recebida pelo algodão. Agora como
dantes, 5 libras-peso de algodão receberam do mesmo trabalho a for-
ma de fio. O produto real porém consiste na forma de fio e ainda
no algodão bruto, na matéria-prima convertida àquela forma, e o valor
dessa matéria-prima constitui agora, em relação ao trabalho que lhe
dá forma,. parte maior, que a anterior, do produto global. Por isso,
a mesma quantidade de trabalho de fiação é paga por menos fio, ou
seja, tornou-se menor a parte do produto pelo qual é reposto.
Basta por ora.
178
Antes de mais nada, é imenso disparate opor-se a Smith, que
considera improdutivo o trabalho pago diretamente por renda, obser-
vandoi
"Para empregar pessoas improdutivas, basta na maioria das
vezes uma renda que as pague."
179
termédio de um diretor que extrai lucro do capital empregado
nesse gênero de empresa?" (L e., pp. 175-176).
Observação correta, mas s6 mostra que parte dos trabalhadores
que A. Smith chama de improdutivos em sua segunda defmi.çíio, -são
produtivos de acordo com a primeira.
llll O próprio Marx, depois, precisa melhor a fonte: Reumi 10 011 .uddres:J
of the HoUse of Vommons, de 24 de abril de 1861 (publicado em 11 de feve-
reiro de 1862),
180
A última observaçio d.e Garniet é um disparate tautol6gico. Se-
gundo ele, a proporção entre a classe produtiva e a improdutiva não
depende da proporção entre capital e renda, ou melhor, da massa
das mercado.rias existentes que são despendidas na forma de capital
ou renda~ e sim(?) dos usos e costumes do povo, do estádio de de-
senvolvimento de sua indústria. Na realidade, a produção capitalista
s6 aparece em certo estádio de desenvolvimento da indústria.
Como senador bonapartista, Garnier de certo adora lacaios e
serviçais em geral:
181
Em -1796, Gerinan Gar.nier publicava, em Paris, Abrégé élé111en-
taire des Pf'inciple.r de l'Économie Politique". Junto à tese fisiocrá-
t.ica de só a agricultura ser produtiva, encontra-se outra, a de Sei' (o
que em grande parte explica. seus argumentos contra Smith) o con-
s~rno (vastamente representado pelos "trabalhadores improdutivos")
a fonte da produção e de se medir a grande7.a desta pela magnitude
daquele. Os trabalhadores improdutivos satisfazem as necessidades ar-
tificiais e consomem produtos materiais, e assim são úteis de todo
modo. Por isso, polemiza contra a economia (poupança). No pre-
Ucio diz à p. XIII:
"A fortuna de uma pessoa aumenta pela poupança; a for-
tuna. da sociedade, ao contrário, recebe acréscimo do awnento
do consumo."
182
natureza absolutamente igual; os dois me poupam, além do
tempo que teria de gastar ne.'\sas tarefas, o que teria de empre-
gsr para adquirir a habilidade e capacidade de executá-las"
l Schmalz, Économie Politique, trad. de Henri Jouffray etc .• t.I,
1826~ p. 304 ).
7. Ca. GANILH
18)
Daí pula Ganilh incontinenti para o sistema mercantil. Por não
criar o trabalho riqueza alguma sem troca,
1.84
!;~~·~~~~:.:;.:~:.,~···~
"Por isso, não é a utilidade real das coisas, nem seu valor
inMnseco, que faz delas riqueza; é a troca que fixa e determi-
186
na o valor, e é esse valor que as identifica com a riqueza" (1•.
e.• p. 105).
Dona troca fixa e determina algo que existia ou não. Se só cla
gera o valor das coisas, esse valor, seu produto, deixa de existi.t logo
que ela mesma deixe de existir. Assim, Q que ela faz, também desfaz.
Troco A por B + + C D. No ato dessa troca, A se torna valor.
Logo depois de concluído o ato, B + C + D estará do la.do de A,
e A do lado de B + + C D. Mais precisamente, cada um está por
sua conta, à margem da dona troca, constituída apenas por essa mu·
dança de posição. Agora B + +C D sã.o coisas e não valores. E o
mesmo vale para A. Ou então a troca "fixa e determina" em sen·
tido apropriado, como no caso do dinamômetro, que determina e
fixa o grau de minha força muscular, mas não a faz. Neste caso, o
valor não é produzido pela troca.
"S6 há na realidade riqueza para os particulares e para os povos
quando cada um trabalha para todos'' {isto é, quando o trabalho
assume a forma de trabalho social geral; noutro sentido seria dispai-
rate, uma vez que, excetuada essa forma, um produtor de ferro não
trabalha para todos, mas somente para o consumidor de ferro) "e
todos para cada um" (o que é outra tolice, quando se trata de valor
ele uso, pois os produtos de todos não passam de produtos particu·
lares, e cada um só precisa de produtos particulares; o que significa
portanto apenas que cada produto particular toma forma em que
existe para cada um, e s6 existe nessa forma não por distinguir-se,
como produto particular, do produto de cada um, mas por lhe ser
idêntico; mais uma vez, a forma do trabalho social, tal como se con-
figura na base da produção de mercadorias) (1. e., p. 108).
A partir dessa definição - valor de troca. é a expressão do tra-
balho do indivíduo ·isol~do, em trabalho social geral - cai de novo
Ganilh na idéia mais grosseira; valor de troca é a proporção em
que a mercadoria A se troca: pela mercadoria B, C, D etc. Tem A
grande valor de troca se por ele se dá grande quantidade de B, C, D;
mas então dá-se pouco de A por B, C> D. A riqueza consiste em
valor de troca. O valor de troca consiste na proporção relativa em
que os produtos se trocam entre si. A soma global dos produtos não
poss1.Ú port-a:nto valor de troca, uma vez que por nada se troca. Assim,
a sociedade, cuja riqueza consiste em valores de troca, nenhuma ri-
que?.a possui. Daí segue-se que, como conclui o próprio Ganilh, a
"riqueza nacional, que se compõe dos valores de troca do trabalho"
(p. 108), jamais pode crescer e jamais cair em valor de troca (não
há portanto ma.is-valia), e, além disso, não possui nenhum valor de
troca; por conseguinte, não é riquez.a, pois a riquez.a consiste em
valores trócáveis.
187
~:Se a ~hundância de trigo faz cair o valor dele, os agtfcul·
tores estarão menos ricos, pois dispõem de menos valores ·de
troca para obtel" as coisas úteis ou agtadáveis à vida; -mas os
consumido~s de ttigo ganharão tudo o que os agricultores per-
derem: a perda de uns será compensada pelo ganho de outros,
e a riqueza geral não variad" (pp. 108-109).
188
ouro igual a maior quantidade de ferro, tenho agora perda de igual
magnitude, pois quantidade maior de ferro é igual a quantidade me-
nor de ouro.
189
próprio Ganilh cilstingue aí trabalhos que dão e trabalhos que
não dão produtos materiais); dão-lhes esses produtos por rece-
berem em troca comocHdades, prazeres ou fruições, e para lhes
dar tais produtos são obrigadas a produzi-los. Os produtos mate-
riais do trabalho, se não fossem empregados para remunerar os
trabalhos que não fomecem produtos materiais, não acharfam
consumidores e sua. reprodução cessaria. Os trabalhos que produ·
zero prazer contribuem assim para a produção de maneira tão
eficaz como o trabalho considerado o mais produtivo'1 (1. c.,
pp. 123-124 ).
"As comodidades, os prazeres ou as delícias que os povos
procuram quase sempre seguem e níio precedem os produtos
com que devem ser pagos" (1. e., p. 125). (Parece por isso
serem muito mais efeito que causa dos produtos com que de-
vem ser pagos.) "A coisa muda, quando os trabalhos devota-
dos ao prazer, ao luxo e ao fausto não são requeridos pelas
classes produtivas" (ele mesmo faz aí a distinção), "e apesar
cilsso são forç,""adas a pagá-los e diminuir desse montante suas
necessidades. Pode ocorrer então que esse pagamento forçado
não gere acréscimo de produção" (L e., p. 125). "Excetuado
esse caso, todo trabalho tem de ser produtivo e contribui de
maneira maís ou menos eficaz para que se forme e cresça a ri-
queza geral, pois gera necessariamente os pt~ntos com que é
pago" (1. e., p. 126).
190
É bem característico o seguinte trecho de Ganilh:
191
PQr que as poupanças gerais de um pafs não sejam empregadas
para mantê-los, sem serem dissipadas e ainda com acréscimo
constante de valor. Essa objeção é meramente ilusória pois
supõe que a fecundidade de todo trabalho derive de sua con-
tnoui.ção para a produção dos objetos materiais, que a produ·
ção material é formadora da riqueza e que produção e riqueza
sejam por completa idênticas. Esquece-se que toda produção só
se torna riqueza com o concurso do consumo" ((por isso, diz
o gajo na págína seguinte: "que todo trabalho produz riqueza
na proporção de seu valor de troca, determinado pela oferta
e procura" (produz riqueza não na proporção do valor de troca
qúe produz, mas na de seu valor de troca, isto é, não de
acordo com o que produz, mas de acordo com o que custa).
"e que o valor do trabalho só contribui para acumular capital
por meio da poupança e do não-consumo dos produtos que esse
valor tem o direito de retirar da produção global")), "e que
a troca determina até que ponto a produção contribui para for-
mar a riqueza. Quando nos lelllbramos que todos os trabalhos
contribuem. direta ou Indiretamente para a produção global de
todo país, que a troca, por fixar o valor de todo trabalho, de-
termina a participação que lhe coube na produção, que o con-
sumo da produç(io realiza o valor que a troca lhe deu, e que,
deduzido o consumo, a sobra ou o déficit da produção deter-
mina o nível da riqueza ou da miséria dos povos, percebemos
como é inconseqüente isolar cada trabalho; fixar sua fertilidade
e fecundidade por sua contribuição para a produç~o material,
sem considerar o consumo que sozinho lhe dá um valor, valor
sem o qual a riqueza não pode existir" (1. e., pp. 294-295).
192
dículo imaginar que o excedente tem de ser consumido por criados
e que não pode ser consumido pelo próprío trabalhador produtivo
sem ir para o diabo o valor do produto. Essa necessidade dos consu-
midores improdutivos é sustentada por Malthus, e de fato existe
quando o excedente está nas mãos dos ociosos.
2
m m 2~
Ademais> - - X 2n é igual a - - . por isso, também igual
V V V
a 2M. V, o capital variável, é igual ao preço da jornada de trabalho
individual multiplicado pelo número dos trabalhadores empregados.
Se forem empregados 800 trabalhadores, cada um custando 1 libra es-
terlina, então·V = 800 libras = 1 libra X 800, sendo n - 800. Se
160 160
a mais-vavlia = 160, então sua taxa = -------
1 libra X 800 800
16 1 160
=- = - = 20%. Mas, a própria mais-valia -
80 5 1 libra X 800
M libras
X 800 ou seja = X n.
1 libra X n.
Dada a duração da jor~ada de trabalho, a maís-valia s6 pode
aumentar por acréscimo da produtividade, ou dada a produtividade
por prolongamento da jornada de trabalho.
m m
O que importa aqui é: 2M = -- X n, e U..1 = - - X 2n.
V V
2
A mais-valia (o total da mais-valia) permanece a mesma, se o
número de trabalhadores dµninui de metade, é só n em vez de 2n,
mas é o dobro do anterior, o trabalho excedente diário por eles realí-
zado. Nesse caso, portanto, duas coisas não mudariam: primeiro, a
massa total dos produtos fornecidos; segundo, a massa total do pro-
duto excedente ou produto líquido. Todavia, ter-se-ia modilicado 6
seguinte: de início, reduzir-se-ia de metade o capital variável, ou seja,
a parte do capital circulante despendida em salário. Do capital cons-
tante, a parte que se compõe de matérias-primas também não se alte·
raria, pois seria transformada a mesma massa anterior de matérias-prí-
mas, embora pela metade dos trabalhadores antes empregados. Ao
revés, aumentaria a parte consistente em capltal fixo.
Se o capital empregado em salário era de .300 libras ( 1 libra
por trabalhador), agora é de 150 libras. Se em matérias-prim~ se
194
despendiam 310 libras, também se despendem agora .HO libras, O
valor da maquinaria será 1 600; se for o quádruplo do capital rema-
nescente.61 Se a maquinaria se desgasta em 10 anos, a maquinaria que
entra anualmente no produto será igual a 160 libras. Vamos supor
que o capital em máquinas antes desgastado, por ano, era de 40 Ji.
bras, portanto 1/4 apenas.
Teríamos então:
-··--··~------------~----------
195
',fotalizando:
196
No segundo caso, 5 trabalhadores elaborarão produto para 5 trabalha·
dores ( = 30 horas) e para o capitalista ( ::::: 30 horas). Das 60 horas,
o capitalista obterá agora 30, metade ponanto, o triplo de antes.
E terá subido também a mais-valia global, isto é, de 20 para 30,
aumentando de 1/3. A metade de 60 dias, da qual me aproprio, é
1/3 maior que 1/6 de 120 dias do qual me aproprio.
197
subsistência. A mais-valia nesses ramos> portanto, subiria exatamente·
ÇQmo nós outros.
Mas, então, que destino terão os 5 trabalha.dores despedidos?
Diz-se que se liberou capital, isto é, o que pagava os 5 trabalhadores
dc;:spedidos, que recebiam 10 horas cada um (pelas quais trabalhavam
12 horas), ou seja, 50 horas ao todo, por quanto podiam antes ser
remunerados 5 trabalhadores e por quanto podem ser pagas 50/6 -=
l
8 - - jornadas de trabalho agora que o salário caiu para 6 horas.
3
Com o capital liberado --- 50 horas de trabalho - podem agora ser
empregados mais trablhadores do que foram despedidos.
Entretanto não se liberou capital algum equivalente às 50 horas
inteiras de trabalho; pois, mesmo supondo-se que o material tenha
ficado mais barato na mesma proporção em que acresce a quantidade
transformada no mesmo tempo de trabalho, e tenha ocorrido assim
o mesmo acréscimo de produtividade o.esse ramo de produção, per-
manece o dispêndio para nova maquinaria. No caso de ela custar 50
horas exatas de trabalho, de modo nenhum ocupou tantos trabalha..
dores quantos foram despedidos. É que essas 50 horas de trabalho
eram todas despendidas em 5 trabalhadores. Mas, no valor da má-
quina, de 50 horas de trabalho, contêm-se lucro e salário, tempo de
trabalho pai,,ro e não-pago. Além disso, entra capital constante no va-
lor da máquina. Os trabslhadores que constroem máquinas e que
fizeram a nova máquina, em número menor que os despedidos, não
são os mesmos trabalhadores que perderam o emprego. A procura
maior de trabalhadores na construção de máquinas pode no máximo
influir na futura distribuição da massa .trabalhadora, de modo que
proporção maior da geração que começa a trabalhar, proporção maíor
que a anterior, encaminha-se para .esse ramo. Mas isso não influi nos
que foram despedidos. Ademais, o acréscimo da procuta anual deles
não se iguala ao novo capital despendido em maquinaria. A máquina
dura, por exemplo, 10 anos. A procuta permanente que gera é por
ano igual a 1/10 do salário nela contido. A esse 1/10 adiciona-se
trabalho para consertos durante os 10 anos e para o· consumo diário
de catvão, óleo, matérias auxiliares em gera.li tudo isso somado im•
porta talvez em 2/10.
(Na hipótese de o capital liberado ser igual a 60 horas. estas
representariam agora 10 horas de trabalho excedente e apenas 50 de
trabalho necessátio: se antes eram gastas 60 em salário, e emprega-
dos 6 trabalhadores, agora seriam empregados apenas 5.)
(O acréscimo de produtividade num i;amo industrial particular
·por meio de maquinaria etc. provoca o deslocamento de trabalho e
capital, que sempre se dá em dimensão prospectiva apenas. Quer di-
198
zer, o acréscimo, a nova massa de trabalhadores que aflui reparte-se
de outra maneira; talvez os filhos dos operários que foram despedi·
dos, mas não os próprios despedidos. Esses operários se degradam
por .largo tempo no velho ofício em que prosseguem nas condições mais
desfavoráveis, quando seu tempo de· trabalho necessário é maior que
o soóalrnente necessário; caem na indigência ou encontram ocupação
em ramos de atividade onde se emprega espécie inferior de trabalho.)
(Um indigente, como um capitalista (rentier), vive da renda do
país. Não entra nos custos de produção do p~uto e por isso, se.
gundo Ganilh, representa valor de troca. Na mesma categoria figura
um criminoso, sustentado na prisão. Grande parte dos' "trabalhado-
res improdutivos", dos sinecuristas do Estado etc. não passam de in·
rugentes ilustres.)
{(Admitamos tenha a produtividade da indústria progredido tan-
to que, antes, 2/.3 da população participavam diretamente da pro-
dução material, e agora apena~ 1/3. Antes, 2/3 forneciam os meios
de subsistência para 3/3; agora, 1/3 para 3/3. Antes, a renda líquida
(em oposição à renda do trabalhador) era 1/3; agora, 2i3. Omitin-
do-se o antagonismo de classes, a Nação precisaria agora não de 2/3.
como dantes, mas de 1/3 de seu tempo para a p:rodução direta. Re-
partida essa fração por igual, todos teriam sobra de 2/3 de tempo
para trabalho improdutivo e lazer. Mas, na produção capitalista tudo
parece e é contraditório. Aquela suposição não exige que a população
seja estacionária, pois, se 2/3 crescessem, l/J cresceria também;
assim, medida em quantidade, número cada vez maior de seres hu-
manos poder.ia estar ocupado em trabalho produtivo. Todavia, rela-
tiva, proporcionalmente à população toda, seria sempre 50% menos
que antes. Parte dos 2/3 consistiria nos possuidores de lucro e renda,
e parte, nos trabalhadores ímptodutivos {também mal pagos em vir-
tude da concorrência), que ajudam aqueles a consumir a i-enda e lhes
dão, em contrapartida, um equivalente em serviços, ou lhes impõem
servíços, como os trabalhadores improdutivos políticos. Podia-se admi-
tir que - excetuados a horda de criados, os soldados, marinheiros,
policiais, funcionários subalternos etc., concubinas, palhaços, mala·
baristas - esses trabalhadores improdutivos no conjunto teriam me-
lhor nível de cultura que os anteriores trabalhadores improdutivos,
e sobretudo que o número de artistas, músicos, advogados, médicos)
homens de letras, professores, inventores etc., mal pagos, teria tam-
bém aumentado.
No seio da própria classe produtiva acresceram os intermediá-
rios comerciais, e em particular os empregados na construção de má-
quinas, nas ferrovias, na mineração e escavação; aléni disso, os tra-
balhadores que na agricultura se dedicam a cr.iar gado, produzem
materiais químicos, minerais para adubos etc. Ademais, em relação
199
aos que produzeJ11 Jl1eios de subsistência, aumentaraJn os agricultores
que c:ultivam as Jnatérias-pritnas para a indústria, e os que produzem.
os meios de subsistência para o gado, em relação aos que os produ-
zem para os seres humanos. Se cresce o capital constante, aumenta á
quantida.de proporcional do trabalho total empenhado em sua repro-
dução. Contudo, o segmento da população o qual produz diretamente
-meios de subsistência, embora decresça, produz mais que antes. Seu
trabalho é mais produtivo. No capttal individualG2 o decréscimo da
parte variável do capital em relação ao constante aparece de imediato
no decréscimo da parte do capital despendida em salário; na totali-
dade do capital - na sua reprodução - revela-se necessariamente na
aplicação da massa de trabalho para produzir meios de produção,
massa proporcionalmente maior que a empregada para reproduzir os
próprios produtos, isto é, patenteia-se na reprodução de maquinaria
(inclusive Jneios de comunicação, de transportes e construções) nas
matérias auxiliares (carvão, gás, lubrificantes, graxa, correias etc.)
e nas plantas que fornecem as matérias-primas dos produtos indus-
triais. Os trabalhadores agrícolas diminuirão em relação aos traba-
lhadores industriais. Por fim, aumentarão os trabalhadores das indús-
trias de luxo, pois, com a renda mais alta, haverá maior consumo de
artigos de luxo.) )
( (O capital variável comr.erte-se em renda: primeiro, salário;
segundo, lucro. Por isso, se concebemos capital em oposição a renda,
o capital constante aparecerá como capital no sentido próprio, a parte
do produto global a qual pertence à produção e entra nos custos
de produção sem ser consumida individualmente por ninguém .( exce-
tuados os animais de trabalho). Essa parte pode originar-se ·por intei-
ro de lucro e salário. Em última análise nunca pode derivar apenas
daí; é produto do trabalho, mas de trabalhá para q!le é renda o pró-
prio instrumento de produção, como é o arco para o selvagem. Mas.
uma vez convertida em capital constante, cessa essa parte do pro-
duto de se reduzir a salário ou lucro, embora sua reprodução pro-
porcione salário e lucro. A ela pertence uma porção do produto. Cada
produto subseqüente resulta desse trabalho pretérito e do atual. Este
só pode ser continuado, enquanto restituir à produção parte do pro-
duto total: tem de repor o capital constante fisicamente. Se se torna
mais produtivo, repõe o produto, mas não o valor dele: reduz esse
valor, em seguida. Se se torna menos produtivo, 'eleva esse valor. No
primeiro caso, diminui a parte alíquota que o trabalho pretérito re-
200
tira do produto total, no segundo, aumenta. No prlmeiro caso, o
trabalho vivo se torna mais produtivo, no segundo, menos produti-
vo.))
(Entre os fatores que rebaixam os custos do capital constante
figura a melhor qualidade das matérias-primas. Por exemplo, com algo·
dão ruim não é possível fazer a mesma quantidade de fio que se con-
segue com o bom, sem falar na quantidade relativa de resíduos etc.
Daí a importância da qualidade da semente etc.)
(Serve de exemplo a combinação em que o próprio fabricante
passa a produzir parte de seu capital constante anterior ou passa a
dar a segunda forma ao produto bruto que, como capital constante,
ia de sua esfera de produção para outra - e isso tem sempre por
fim exclusivo a concentração de lucros, como se mostrou antes. 63
Exemplo do primeiro caso: ligação de fiação e tecelagem. Exemplo do
segundo: os donos de minas de Birmingham tomaram conta do pro-
cesso inteiro de produzir ferro, processo que antes se repartia por
diferentes empresários e proprietários.)
Ganilh prossegue:
201
E~tado de súditos, tanto mais forte e poderoso serli; tanto mais
reiriarão na população todas as luzes do saber, a inteligência e
a civilização" (1. c., p. 213).
202
\ ....... .(
------ ;}
o particular considerado reproduz anualmente sua renda de 20 OO()
francos, porque não consumiu seu capital de 200 000. Os outroit con~
sumiram esse capital. Não têm portanto capital para reproduzir ren-
da.)
Ganilh, além disso, cita notas de Say à tradução feita por Cons-
tância do livro de Ricardo, cap. 26, onde Ricardo diz que um país-
com 12 milhões de habitantes estaria mais rico se 5 milhões de tra-
balhadores produtivos trabalhassem pata os 12 milhões, do que se-
7 milhões o fizessem. No primeiro caso, o produto líquido coosiste-
no produto excedente de que vivem os 7 milhões que não são pro·
dutivos e, no segundo, no produto excedente para 5 milhões. A pro~
pósito observa Say:
203
ec:onomistas admitiam que a classe industrial toda (patrões e tra.
balhadores) estava nessa posição. Só a renda fundiária era por eles
.çonsiderada excedente da produção sobre os salários e, por isso, a
única riqueza: Ricardo, quando diz que lucros e rendas fundiárias
formam esse excedente e, por. isso, a única riqueza, apesar de diver-
gir dos fisiocratas, com estes concorda em que o produto líquido
apenas, o produto em que existe o valor excedente,* constitui a ri-
queza nacional, embora ele entenda melhor a natureza desse exce-
dente. Também para ele trata-se aí apenas do segmento da renda o
qual excede o salário. O que distingue Ricardo dos fisiocratas não
é a elucidação do produto líquido, mas a do salário, categoria onde
os fisiocratas erradamente incluíram os lucros.
Say ainda objeta a Ricardo:
204
Uquido, e não nas poupanças que os dois milhões de trabalha-
dores poderiam obter de seus 400 milhões de salários" (1. c.,
p. 221).
205
eles para a riqueza até o po11to em y:ue seu salário constitui a menor
parte possível do lucro. Seja como for, pelo menos parte do tempo
deles como agentes da produção pertence à pr6pria produção, é desta
elemento integrante. E nessa função não podem ser empregados para
outros objetivos da sociedade ou do Estado. Quanto mais tempo livre
lhes deixe a ocupação de dirigentes da produção, tanto menos seu
lucro depende de seu salário. Em contraste com eles, os capitalistas
que vivem apenas de juros e o que vive de renda fundiária estão
pessoalmente à inteira disposição da sociedade e do Estado, e nenhu-
ma fração de sua receita entra nos custos de produção, excetuada a
parte empre.:,oada por essas ilustres figuras para se reproduzirem a si
mesmas, Por isso, Rícardo deveria desejar também, no interesse do
Estado, um acréscimo da renda fundiária (da renda líquida pura) à
custa dos lucros, o que absolutamente não é seu ponto de vista. E
por que não? Porque prejudica a acumulação de capital ou - o que
é em parte o mesmo - porque aumenta a massa dos trabalhadores
improdutivos à custa dos produtivos.
Ricardo concorda por completo com a distinção entre trabalho
produtivo e improdutivo, estabelecida por A. Smith, segundo a qual,
o primeiro se troca diretamente por capital e o segundo, diretamente
por renda. Todavia, não compartilha mais da ternura e da ilusão
smithianas pelos trabalhadores produtivos. Ser trabalhador produti-
vo é uma desgraça. Trabalhador produtivo é um trabalhador que pro·
<luz riqueza para outrem. O sentido exclusivo de sua .existência é ser
instrumento de produzir riqueza alheia. Por conseguinte, se a roes~
ma quantidade de riqueza alheia pode ser gerada com número menor
de trabalhadores produtivos, é oportuna a supressão -de~es trabalha-
dores produtivos. Vos, non vobís. 64 Ademais, Ricardo não concebe
essa supressão à maneira de Ganilh, isto é, que por meio dela apenas
aumentaria a renda e seria consumido como rendá o mesmo que era,
antes, como capital variável (portanto, na forma de salário). Com o
número reduzido dos trabalhadores produtivos elimina-se a quanti-
dade do produto, a qual a massa dos próprios despedidos produzia
e consumia - o equivalente para essa massa. Ricardo não supõe,
como Ganilh, que se produza a mesma quantidade anterior de pro·
dutos, mas a mesma quantidade de produto líquido. Se os trabalha-
dores consumiam 200 e o excedente era de 100, o produto global =
300, e o excedente = 1/3 = 100. Se os trabalhadores consomem 100
e o excedente é de 100 como dantes, o produto global = 200, e o
excedente = 1/2 = 100. O produto global seria diminuído de 1/3 -
da quantidade de produto consumida pelos 100 trabalhadores des·
61' "Vos, non vobis" (literalmente: vó.~, não para vós) significa: trabalhais,
mas nâo para vós.
205
pedidos - e o produto líquido teria ficado o mesmo, pois 200/2 =
300/.3. Pot isso, não importa para Ricardo a quantidade do produto
bruto, desde que a porção do produto bruto constitutiva do produto
líqtÚdo fique a mesma ou acresça, em todo caso, não diminua.
Diz ele:
207
;dorias produzidas se vendam por 10 000 ou 20 ÓOO, desde que,
em todos os casos, seu lucro não caia abaixo de 2 000."
(0 sentido é de todo banal, conforme se depreende de passa-
gem ulterior. Por e..'!Celllplo, um ·comerciante de vinhos que desembolsa
20 000 libras esterlinas e todo ano tem na adega, em vinhos, 12 000
libras esterlinas, mas vende 8 000 por 1O 000, emprega poucas pes-
soas e obtém um lucro de 10%. Imaginemos o que fa?.em os ban·
queiros!)
(essa passagem revela, entre outras coisas, que Ricardo aceita o modo
de ver de Smith sobre trabalho produtívo e improdutivo, embora não
ll:lllis a ilusória ternura smithiana. com o trabalhador produtivo)
208
ff ·!3s:::~:,~,,T"'"'·~,,-~;:\,
lação produtiva em relação à quantídade do ''prbdtito.· :M:às, ·a modo
capitalista de produção tem a tendência oposta de acwnular, conver-
ter lucro em capital, apropriar-se da maior quantidade possível de
trabalho alheio. Procura rebaixar a taxa de trabalho necessário, mas
empregar a maior quantidade possível de trabalho produtivo, dada
a taxa. Não importa aí a proporção dos produtos com a população.
Trigo e algodão podem ser trocados por vinho, diamantes etc., ou os
trabalhadores podem ser empregados em trabalho produtivo que nada
acrescenta de únediato (caso das ferrovias etc.) aos produtos {con-
sumíveis).
Se, em virtude de uma invenção, um capitalista só puder aplicar
10 000 libras esterlinas, em lugar das 20 000 que investira antes,
pois 10 000 são suficientes, e se estas lhe renderem 20% em vez de
10%, isto é, tanto quanto as 20 000 anteriores, não haverá razão
pata ele despendér 10 000 na forma de renda, em vez de fazê-lo na
de capital, como até agora. (Só falaremos sobre conversão direta de
éapital em renda, propriamente, quando tratarmos dos empréstimos
públicos,) Investiria as libras alhures e, além disso, capitalizaria parte
de seu lucro,
Entre os economistas {inclusive Ricardo em parte) a mesma
antinomia inerente à realidade. A maquinaria suprime trabalho ~
aumenta a renda líquida (em particular, sempre a que Ricardo chama
renda líquida, a quantidade de produtos em que a renda é consumi-
da); diminui o número de trabalhadores e aumenta os produtos (dos
quais então parte é consumida por trabalhadores improdutivos e parte,
trocada no exterior etc.). Isso seria portanto o desejável. Mas de
modo nenhum. Nesse caso é preciso provar que a maquinaria não
tira o pão dos trabalhadores. E como prová-lo? Com a circunstância
posterior à calamidade (a que talvez justamente o segmento atingi-
do da população não. possa opor resistência) de a maquinaria, em
contrapartida, empregar mais pessoas que as empregadas antes de
ser ela introduzida; aumentar, portanto, a massa dos trabalhadores
produtivos" e restaurar tt desproporção anterior.
É o que de fato acontece. E assim, apesar da produtividade cres-
cente do trabalho, poderia aumentar sempre a população tta_balhad?-
ra não na proporção do produro, que cresce com ela porem mais
rapidamente, e sim na da população, se, por exemplo, ao mesmo tem·
po, o capital se concentra e por isso antigos elementos das classes
produtivas ingressam nas fileiras do proletariado. Pequena parte deste
ascende à classe média. As classes improdutivas cuidam de não haver
em demasia alimentos disponíveis. A reconversão constante· de lucro
em capital reconstitui sempre o mesmo ciclo em base mais ampla.
E a preocupação de Ricardo com a acumulação é ainda maior
que com o lucro líquido, um meio de acumulação a que vota fervo-
209
fos1-{â~ção. Daí também seus conceitos conttadit6rios, ora adver-
dn.do ora consolando os trabalhadores. São os maiores interessados
!+a. ~cumulação de capital, pois dela depende a procura deles. Se
aumenta q procura, sobe o preço do trabalho. É mister que eles mes-
.roos desejem a baixa do salário, a fim de que o excedente deles to-
IDf.\OO de ·novo se infiltre na forma de capital, procure-os para novo
trabalho e eleve o salário. Mas, essa elevação do salátio é má, por-
que freia a acumulação. Ao mesmo tempo, é preciso que não tenham
filhos. Assim, cai a oferta e em conseqüência sobe a preço do tra-
balho. Mas, essa alta diminui a taxa de acumulação, reduz portanto
a procura e faz o preço do trabalho cair, A oferta de trabalho di-
minu i e junto com ela reduz..se o capital ainda mais rapidamente. Os
trabalhadores, se tiverem filhos, aumentarão a pr6pria oferta, redu-
zirão o preço do trabalho, e com isso cresce a taxa de lucro e por·
tanto a acumulação de capital. Mas, a população trabalhadora deve
acompanhar o ritmo da acumulação de capital; quer di7..er, é mister
que a população trabalhadora perfaça o total exato requerido pelo
capitalista - o que de qualquer modo consegue. Ganilh não revela
coerência completa em sua devoção pelo produto líquido. Cita Say:
210
mos aí po.rtanto economia de salário do escravo) "servem para
awnentar suas despesas pessoais etc. . • . Mas, para a riqueza
geral, é mais vantajoso reine o bem-estar em todas as classes
da sociedade, que excessiva opulência limitada a pequeno n:úme-
t:o de pessoas" (pp. 234-2.35).
211
.9, TROCA DE RENDA. E DE C!PITA.L
213
ab~ixo do valor mostra assim que, embora cada parte do pro-
s6· tenha custado o tempo de trabalho socialme.11.te necessário
(supondo-se inalteradas as condições de produção), a totalidade . do
trabalho social aplicado nesse ramo particular estendeu-se ao domínio
do supérfluo, ultrapassou o necessário.
Algo bem diverso é a queda do valor relativo da mercadoría. por
se terem modificado as condições da produção; a jarda de linho que
se encontra no mercado custou 2 xelins =:: 1 jornada de trabalho, por
exemplo. Mas, pode ser reproduzida todo dia por 1 xelim. Urna vez
que o valor é determinado pelo tempo de trabalho socialmente ne-
cessário, e não pelo tempo de trabalho empregado pelo produtor in-
.dividua.11 a jornada que o produtor utilizou para produzir 1 jarda é
agora igual apenas à metade da jornada socialmente determinada. A
queda do preço de sua jarda de 2 xelins para 1 e portanto abaixo do
valor que ela lhe custou, mostra mera alteração nas condições de pro-
dução, isto é, mudança no próprio tempo de trabalho necessário. Em
contrapartida, se os custos de produção do linho não variarem, e su-
birem os de todos os demais artígos, excetuados o ouro, o material do
dinheiro, ou subirem pelo menos os. de certos artigos, digamos, ui.go,
cobre etc._. em resumo, artigos que não figuram entre os componen-
tes do linho, 1 jarda de linho será igual a 2 xelins, como dantes. Seu
preço não cairá, mas terá caíd,o o valor relativo, expresso em ttígo,
cobre etc.
214
ca-se· por renda noutra forma de artigo consumível, e assim, de fato,
artigo consumível por artigo consumível. A circunstância de serem am-
bos renda não determina o processo de troca e sim a de serem ambos
produtos consumíveis. A forma definida de renda não tem
pí influência alguma. Revela-se, contudo, no valor de uso das mer-
cadorias permutáveis, na circunstância de ambas entrarem no con-
sumo individual, o que por sua vez significa apenas que parte de
produtos consumíveis se troca por parte de produtos consumíveis.
A forma de renda só pode atuar ou destacar-se quando a forma
de capital se lhe contrapõe. Mas, mesmo nesse caso; Say 00 e outros
economistas vulgares erram ao afirmar que, se A não pode vender
seu linho ou só pode vendê-lo abaíxo do preço - quer dizer, a parte
elo linho a qual deseja despender como renda - é porque B, C etc.
produziram demasiado pouco trigo 1 carne etc. Pode ser porque não
produzitam o bastante. Mas, também pode ser porque A produziu
linho demais. É que B, C etc., mesmo admitindo-se possuam trigo
etc. em quantidade suficiente para comprar o linho todo de A, ainda
assim não o compram, porque eles só consomem determinada. quanti-
dade de linho. Ou também pode ser porque A produziu mais linho
que o segmento - da renda de B, C etc. - que pode ser todo
despendido ·em tecidos para uso pessoal, ou seja, em termos absolutos,
porque çada um só pode gastar em renda determinada quantidade.
de seu produto, e a produção de Hnho de A supõe renda maior que
a em geral existente. Mas, é ridículo, ao tratar-se da mera troca de
renda por renda, supor que o procurado não é o valor de uso do
produto e sim a quantidade desse valor de uso, e mais uma vez por-
tanto esquecer que nessa troca a questão determinante é a mera sa·
tisfação das necessidades e não a quantidade, como no valor de troca.
Todo mundo, porém, prefere quantidade grande a pequena de_
um artigo. Se essa suposição resolvesse a dificuldade, não se poderia
em absoluto entender por que o produtor de Jjnho, em vez de tto-
cá-lo por outros artigos de consumo e ajuntar estes em massa, não-
segue o processo mais simples de frllir parte da respectiva renda em
linho supérfluo? Afinal, por que converte em outras formas a renda
consistente na forma de linho? Porque tem de satisfazer outras ne-
cessidades além da. necessidade de linho. Por que ele mesmo s6 con-
215
~me di;termin.ada fração de linho? Porque para ele só tem valor de
usQ parte quantitativamente determinada de linho. E o mesmo se
aplica a A. B etc. Se B vende vinhos, C livros e D espelhos, tal.v42
cada um deles prefira consumir o que sobra de sua renda no res-
pectivo produto - vinhos, livros, espelhos, a fazê-lo em linho. Não
se pode portanto dizer que é em absoluto necessário se ter produ-
;i:ido quantidade pequena demais de vinho, livros, espelhos, ·porque
A não pode de modo nenhum (ou de acordo com o valor) transfor-
mar sua rerufa constituída de linho. em vinho, livros e espelhos. Ain~
d.a mais ridículo, quando se substitui todo o conjunto da troca de
mercadorias por essa troca de renda por renda - este segmento da
troca de mercadorias.
Dispusemos assim de parte do produto. Parte dos produtos con-
sumíveis muda de. mãos entre os produtores desses mesmos produtos
consumíveis. Cada um deles consome parte de sua renda (lucro e sa-
lário no produto consumível de outrem, em vez de fazê-lo no seu
e s6 pode ser assim, porque o outro, reciproca.mente, consome o pro~
<luto consumível alheio em vez do próprio. É como se cada um con~
swnisse de seu produto consumível a parte que representa a própria
.rerufa.
Para todos os demais produtos, porém, há relações mais com-
plicadas a considerar, e só então se confrontam as mercadorias tro-
cadas como .tenda e capital, e não só como renda.
216
cavalo. um carro etc. Parte dos meios de consumo imediato podem
ser meios de produção, como cereais destinados à produção de aguar·
dente, trigo para semente etc. Quase todos os meios de consumo po-
dem, como excrementos do consumo, voltar a partícipar do processo
de produção; por exemplo, trapos de linho desgastado e em meio à
decomposição, utilizados na fabricação de papel. Mas, ninguém produz
linho para tomá-lo trapo, a matéria-prima .do papel. S6 chega a essa
forma o produto da tocelagem de linho, depois de ter, como tal,
entrado no consumo. S6 na condição de excremento .desse consumo,
de resíduo e produto do processo de consumo pode, ·na qualidade de
meio de produção, reingressar em novo ramo de produção. Aqui,
portanto, pomos de lado este problema.
Consideremos os produtos cuja parte alíquota representadora de
renda pode, por certo, ser consumida na condição de valor, mas não
na de valor de uso, pdos próprios produtores (.desse modo, têm
estes de vender a parte, por exemplo, de suas máquinas, a qual .re-
presenta salário e lucro, para consumi-la, uma vez que não podem
satisfazer de imediato, com essa parte, na qualidade de máquina, ne-
cessidade individual alguma). Esses produtos não podem ser consu-
midos pelos produtores de outros produtos, nem entrar em seu con-
sumo individual, nem constituir portanto, dos produtos, parte em que
eles gastem a própria renda, pois isso contradiz o valor de uso dessas
mercadorias; o valor de uso delas, pela própria natureza, ex:dui o
consumo individual. Os produtores desses produtos não-consumíveis
podem assim consumir apenas o valor de troca, isto é, têm de trans-
formá-los antes em dinheiro, para reconverter esse dínheiro em mer-
cadorias consumíveis. Mas, a quem vendê-las? Aos produtores de
outros produtos não-consumíveis individualmente? Então teriam ape-
·nas substituído um produto inco11sumível por outro. Supõe-se porém
que essa parte dos produtos constitui sua renda; que eles vendem
essas mercadorias para consumir o valor delas em produtos consumí-
veis. Só podem vendê-las, portanto, aos produtores de produtos de
consumo individual
Essa parte da troca de mercadorias representa troca de capital de
um por renda de outro, e de renda de um por capital de outro. Do
produto total do produtor de produtos consumíveis, parte representa
.renda, e parte, capital constante. Ele mesmo não pode consumir a
parte que representa capital constante, nem pode trocá-la por pro-
dutos consumíveis de outrem. Não pode consumir fisicamente o valor
de uso dessa parte do produto, nem consumir-lhe o valor, trocando-o
por outros produtos consumíveis. Ao conttário, terá de reconvertê-fo
nos elementos físicos de seu capital constante. Tem de consumir in·
dustrialmente essa parte do produto, isto é, utilizá-la na qualidade de
meio de produção. Mas, seu prQduto, pelo valor de uso, s6 pode
217
-$ervir para o consumo individual; por ísso, não pode fisicamente re.
converter-se nos pr6prlos elementos de produção. Esi>e valor de uso
-exclui o consumo índttstrial. O produtor aí só pode consumir o valor
.do produto industrialmente, por .meio da venda aos produtores dáque.-
les elementos de produção de seu produto. Não pode consumir fisi-
.camente essa parte do produto, nem consumir-lhe o valo.r, vendendo-a
-em troca de outros produtos de consumo individual. Essa parte de
seu produto não pode configurar sua pr6pria renda; tampouco pode
-set reposta pela renda dos produtores de outros produtos de consumo
individual, pois isso só seria possível se ele trocasse seu produto pelo
.deles, consumisse portanto o valor de seu pi-oduto, o que não pode
ocorrer. Mas, essa parte de seu produto, pelo valor de uso, como a
-0utra que ele consome na qualidade de renda, s6 pode ser consumida
na qualidade de renda, tem de ingressar no consumo individual, não
pode repor capital constante; por isso, precisa entrar na renda dos
produtores de p.rodutos inconsumíveis e trocar-se pela parte d.e seus
produtos da qual eles podem consumir o valor ou a qual representa
a re:ru:ia deles.
Encaremos essa troca do ângulo dos participantes: para A, o
produtor de produto consumível, representa ela conversão de capital
em capital. A reconverte à forma física em que pode desempenhar a
função de capital constante,' a parte de seu produt.o total que é igual
ao valor do capital constante nele contido. Antes e ~epois da troca,
.de acordo com o valor, s6 se configura aí capital constante. Ao con-
trário, para B, o produtor do produto inconsumível: a troca repre-
senta mera mudança de forma da renda. De seu produto ·total, con~
yerte ele a parte que constitui sua renda - igual àAi:ação do pro-
-<luto total a qual representa novo tr~balho adicionado, o trabalho
próprio (capital. e trabalhador) - na forma física em que pode ser
.ronsumida ~ qualidade de renda. Antes e depois da ttoca) pelo valor,
apenas se configura aí sua renda.
Se examinarmos a relação dos dois lados, A troca seu capital
.constante pela renda de B, e B, sua renda pelo capital constante de A.
A renda de B repõe o capital constante de A, e o capital constante de
A, a renda de B.
Na pr6pria troca (omitindo-se os objetivos participantes) só
:se confrontam mercadorias - ocorre simples troca de mercadorias
- e estas se relacionam umas com as outras na qualidade apenas de
mercadorias, não importando aí as qualificações de renda e capital
.Só o va/.01 de uso diferente dessas mercadorias mostra que urnas po-
.dem servir exclusivamente para o consumo industrial ou nele entrar,
outras apenas para o consumo individual ou nele ingressar. A apli-
.cação prática diversa dos diferentes valores de uso revela-se no con•
.sumo e não atinge o processo de troca das mercadorias como tais•
.218
@~fEA7C1
êôô..;;;;J
A coisa toda muda quando o capital do capitalista se eru
salário, e o trabalho, em capital. A\ as mercadorias não se confron-
tam na qualidade de simples mercadorias, e o capital se apresenta na
qualidade de capital. Naquela troca que acabamos de considerar, ven-
dedor e comprador se confrontam apenas como taís, apenas na qua-
lidade de simples donos de mercadorias.
Além disso, é claro: todo produto destinado apenas ao consumo
individual ou todo produto que entra no consumo individual, até
onde nele ingressa, só pode set trocado por renda. A impossibilidade
de ser consumido no processo industrial significa justamente que só
pode ser consumido na qualidade de renda, isto é, individualmente.
(Como observamos antes, omitimos aqui a conversão de lucro em ca-
pital.)
Seja a renda de A, produtor de produto de consumo indivídual,
igual a 1/.3 do produto total, e o capital constante= 2/.3. De acordo
com a suposição feita, A mesmo consome o primeiro 1/.3, consuma
fisicamente a fração toda, parte ou nada dela, ou despenda o valor
dessa fração em outtos artigos de consumo; os vendedores desses
artigos· de consumo despendem então a pr6pria renda no produto de
A. Do produto consumível, portanto, a parte que representa a renda
dos produ~ores dos produtos consumíveís é assim por eles consu-
mida ou imediata ou mediatamente, ao trocarem entre si os produtos
a serem por eles t.'Onsumidos; por isso, essa parte onde renda se troca
por renda corresponde aí precisamente à situação onde A represen-
tasse os produtores de todos os produtos consumíveis. Dessa totali-
dade, 1/3, a parte alíquota que representa a renda, consome-a ele
mesmo. Essa parte porém representa, com exatidão, a quantidade
de trabalho que o setor A acrescentou a seu capital constante du-
rante o ano, e essa quantidade é igual à soma de salários e lucros,
produzida por A no .d~so do ano.
Os outros 2/3 do produto total de setor A são iguais ao valor
do capital constante; têm portanto de ser repostos pelo produto do
trabalho anual do setor B, que fornece produtos inconsumíveis que
servem apenas para o consumo industrial, entrando na qualidade de
meios de produção no processo de produção. Mas, esses 2/3 do pro-
duto global de A, uma vez que têm de ingressar, como o primeiro
1/3, no consumo individual, são adquiridos pelos produtores do se-
tor B em troca da parte de seu produto, a qual representa renda. O
setor A, portanto, trocou a parte constante de seu produto global
pela forma física original dela, reconvertendo-a nos produtos do setor
B de novo produzidos; mas o setor B s6 pagou com a parte de seu
produto a qual representa sua renda, e que ele s6 pode consumir nos
produtos de A. Assim, B pagou de fato com novo ttabalho adiciona-
do, que se· configura por inteiro na parte de seu produto a qual se
219
trOCi.l pelos últimos 2/J do produto de A. O produto total de A
troca-se portanto pot renda ou entra todo no consumo individual.-
Aliás, despende-se no produto de A a renda inteira da sociedade (de
acordo com a suposição feita; aqui se omite a conversão de renda em
capital, considerada igual a zero), pois os produtores da categoria A
consomem sua renda em A, o que também fazem os produtores da
categoria B. E fora dessas categorias não há outra,
Consome-se o produto global de A, embora 2/3 sejam o capital
constante nele contido e os produtores de A não possam· consumi-los,
e tenham de reconvertê-los na forma física de seus elementos de pro-
dução. O produto global de A é igual à renda global da sociedade.
A renda global da sociedade, porém, representa a totalidade do tem-
po de trabalho que efa durante o ano adicionou ao capital constante.
Então, embora 1/.3 do produto total de A consista apenas em novo
trabalho adicionado, e 2/.3, em trabalho pretérito a repor, essa tota-
lidade pode ser toda comprada pelo novo trabalho adicionado, porque
2/3 desse trabalho total do ano têm de ser consumidos não nos
pr6príos produtos e sim nos produtos de A. A se repõe em novo
trabalho adicionado, por 2/3 mais do que ele mesmo contém, uma
vez que esses 2/3 constituem o trabalho adicionado de B 1 que s6 pode
consumi-los individualmente em A, do mesmo modo que A só
pode consumi-los industriahm;nte em B. Por isso, o produto total de A
pode, primariamente, ser todo consumido como renda e ao mesmo
tempo seu capital constante ser reposto. Ou melhor, -só é por inteíro
consumido na qualidade cle renda porque 2/3 dele ·são repostos pelos
produtores do capital constante, os quais não podem consumir fisi-
camente a parte de seu produto a qual representa 'renda, mas têm
de consumi-la em A, isto é, trocando-a por 2/3 de A.
Dispusemos assiro dos 2/3 finais de A. ,
É claro que não vem ao caso a existência de uma terceira cate-
goria C, cujos produtos são consumidos industrial ou individualmen-
te; por exemplo, centeio, pelo homem ou pelos animais, como se-
mente ou como pão; veículos, cavalos, gado etc. Esses produtos,
quando entram no consumo individual, têm de ser consumidos na
.qualidade de renda pelos próprios produtores, direta ou indiretamen-
te, ou pelos produtores (direta ou indiretamente) da parte do capital
constante neles contida. Nesse caso, portanto, enquadram-se em A.
Quando não entram no consumo individual, pertencem a B.
O processo desse segundo gênero de troca - onde não se per-
muta renda por renda, mas capital por rerida, onde o capital cons-
tante todo tem ao final de reduzir-se a renda, isto é, a novo trabalho
adicionado - pode ser apresentado de dois modos. Seja o produto
de A linho, par exemplo. Os 2/3 de linho = capital constante de A
(ou valor dele) pagam fio, maquinaria, matérias auxiliares. Mas, o
220
fabricante de fio e o de máquinas só podem consumir desse produto
tanto quanto a própria renda configura. O fabricante de linho paga
o preço total do fio e da maquinaria com os 2/3 de seu produto.
Desse modo repôs para o fabrícante de fio e o construtor de máquinas
o produto total deles que entrou no linho cotno capital constante.
Mas esse mesmo produto total é igual a capital constante e renda:
ígual à parte <lo trabalho adicionado pelo fabricante de fio e pelo cons-
trutor de máquinas, e à parte que representa o valor dos próprios
meios de produção, isto é, fibra, óleo, máquina, carvão etc. para o
fabricante de fío, e carvão, ferro, máquina etc. para o construtor
de máquinas. O capital constante de A = 2/3 repôs assim o produto
total do fabricante de fio e do construtor de máquinas, o capital
constante deles mais o trabalho por eles adicionado, o capital mais a
renda. Mas eles só podem consumir a respectiva renda em A. Depois
de deduzirem dos 2/ 3 de A a parte igual à respectiva renda, com o
resto pagam a matéria-prima e a maquinaria. Estas, porém, segundo
a suposição feita, não têm de repor capital constante. Do produto
deles s6 pode entrar no produto de A e, em conseqüência, també:tn
nos produtos que são meios de ptodução de A, tanto quanto A possa
pagar. Mas, com os 2/), A s6 pode pagar tanto quanto B pode com-·
prar com a renda, isto é, tanto quanto o produto que B obteve por
troca represente renda, novo trabalho adicionado. Os produtores dos
últimos elementos de produção de A, se tiverem de vender ao fabri-
cante de fio quantidade do respectivo produto a qual represente parte
do próprio capital constante, represente mais que o trabalho por eles
adicionado ao próprio capital constante, não poderão aceitar o paga..
mento em A, uma vez que não poderão consumir parte desse pro-
duto. Assim, o que sucede é o contrário.
Sigamos a ordem inversa. Desse modo, o total de linho (teci-
do) = 12 jornadas. O produto do cultivador de linheiro, do fabri-
cante de ferro etc.= 4 jornadas; esse produto é vendido ao fabricante
de fio e ao construtor de máquinas, que por sua vez lhe acres-
centam 4 jornadas, e o vendem ao empresário da tecelagem, que tam-
bém lhe adiciona 4 jornadas. Então, o próprio empresário da tecela-
gem de Hnho pode consumir 1/3 de seu produto; 8 jornadas de tra-
balho repõem-lhe o capital constante e pagam o produto do fabri-
cante de fio e do construtor de máquinas; estes podem consumir 4
das 8 jornadas, e com as outras 4 pagam o cultivador de linheiro
etc., e com isso repõem seu capital constante; os últimos só têm de
repor o próprio trabalho com as 4 últimas jornadas em linho (tecido).
A renda, embora em todas as três hipóteses tenha a mesma di-
mensão = 4 jornadas, apresenta proporção diversa nos produtos das
três categorias de produtores que participam da elaboração do pro·
duto de A. Para o empresário da tecelagem de linho, ela é 1/3 de
221
seu prod\lto = 1/3 de 12; pata o fabricante de fio e o construtor
de máqúinas, igual a 1/2 de seu produto = 1/2 de 8; para o cultí·
vador de linheiro é igual a seu produto = 4. Mas, ero relação ao
produto total é sempre a mesma coisa = 1/3 de 12 = 4. Pata o
empresário da tecelagem, o novo trabalho adicionado do fabricante
de fio, do construtor de máquinas e do cultivador de linheiro se pa-
tenteia capital constante. Para o fabrkílilte de fio e o constl'Utor de
m.Áquin.as revela-se produto total o novo trabalho adicionado por eles
mesmos e pelo cultivador de linheiro, e capital constante, o tempo
de trabalho desse agricultor. Esse aparecimento do capital constante
cessa para o cultivador de linheiro. Por isso, o fabricante de fio pode,
por exémplo,. empregar maquinaria, capital constante enfim, na mes-
ma proporção que o empresário da tecelagem. A saber, 1/3 : 2/3.
Mas, primeiro, é mister que a totalidade do capital. empregado na
fiação seja menor que a do empregado na tecelagem> pois seu pro-
duto todo, na qualidade de capital constante, ingressa na tecelagem.
Segundo, se na fiação vige também a relação de 1/3 : 2/3, seria o
capital constante igual a 16/3 jornadas, e o trabalho adicionado igual
1
a 8/3; um igual a 5 - - jornadas de trabalho, e o outro igual a
3
2
2 - - . Então conter-se-ia proporção maior de trabalho no setor que
3
lhe fornece fibra de linho etc. Por isso, em vez -de 4, teria nesse caso
1 -
de pagar 5 --- jornadas pelo novo tempo de tr~balhó adicionado.
3
É por si mesmo evidente que, do capital constante da categoria
A, só cabe repor a parte que entra no ptocesso de constituir valor
para A, ou seja, que é consumida durante o processo de trabalho de
A. Por inteiro entram nele as matérias-primas e as auxiliares e o
desgaste do capital fixo. Não entra a parte restante do capital fixo e
por conseguinte não cabe repô-la.
Grande parte do capita1 constante existente, grande na propor-
ção do capital fixo com a totalidade do capital. não precisa portanto
ser todo ano reposta por novo trabalho. Por isso, <:> montante ( abso-
luto) do capital a i·epor todo ano pode ser grande, mas não é grande
em relação à totalidade do produto anual, Aquela parte toda do c11-
pital constante em A e B, com função determinante na taxa de lucro
(dada a mais-valia), não participa de maneira determinante na re-
produção do capital fixo. Quanto maior for tal parte em relação à
totalidade do capital - quanto maior a escala do capital fixo exis·
tente, preestabelecido, utilizado na produção, tanto maior será o
222
montante corrente da reprodução, empregado para substituir o capital
fixo desgastado, mas, tanto menor será a proporção desse montante
relativamente à. totalidade do capital.
Admitamos seja de 10 anos o tempo de trabalho (médio) de
todos os tipos de capítal f.ixo; e se complete a rotação dos diferentes
tipos de capital fixo em 20, 17, 15, 12, 11, 10, 8, 6, 4, 3, 2, 1, 4i6.
e 2/ 6 anos ( 14 tipos), o que corresponderia a uma rotação média
de 10 anos."7 Em média, portanto, será mister repor o capital em
10 anos. Se o capital fixo todo importar em 1/10 da totalidade do
capital, a reposição desse 1/10 só requererá 1/100, por ano, dessa
totalidade.
Se consiste em 1/3, é mister por ano repor 1/30 da totalidade
do capital.
Comparemos agora capitais fixos com tempos de reprodução di.
ferentes; o que precisa de 20 anos, por exemplo, em oposição ao que
precisa de 1/3 de ano.
Do capital fixo que se reproduz ern 20 anos é mister repor ape-
nas 1/20 por ano. Se esse capital constituí li2 do capital todo, é ne-
cessário repor por ano 1/40 dessa totalidade e, se ímpottar em 4i5
dela, só é preciso repor anualmente 4/100 = 1/25 do capital todo.
Mas, se o capital que precisa de 2/6 do ano para se reproduzÍJ:, isto
é, faz três rotações por ano, importa em 1/10 do capital, será mister
repor o capital fixo três vezes no ano, substituir portanto 3í10 do
capital por ano, quase 1/3 do capital todo. Em média, quanto maior
o capital fixo em relação à totalidade do capital, tanto maior o tempo
de reprodução relativo (não absoluto), e quanto menor, tanto menor
o tempo de reprodução relativo. As ferramentas constituem, do capital
dos artesãos, paJ:te muito menor que as máquinas, do capital indus-
trial. ~as as ferramentas duram muito menos que as máquinas.
Embora, com a magnitude absoluta do capital fixo, cresça a
magnitude absoluta de sua reproduç~o - ou o desgaste - , cai em
regra a proporcional, enquanto aumenta geralmente o tempo de ro-
tação, a duração em proporção a sua grandeza. Ê o que demonstram
várias circunstâncias como a de a quantidade de trabalho de repro-
dução de .máquinas ou capital fixo não estar em proporção alguma
com o traba~ho que originalmente produziu essas máquinas (não se
223
alte~andq as condições de produção), pois só se destina a repor o
desgaste ~nual. Se aumenta a produtividade do trabalho, como sói
ocorrer neste ramo, reduz-se ainda mais a quantidade de trabalho .re-
produzir essa parte do capital constante. Sem dúvida é mister levar
em conta os meios de consumo quotidianos da máquina (que nada
têm a ver diretamente rom o trabalho empregado na própria coos-
.ttução de máquinas). Mas, a máquina, que precisa de carvão, um
pouco de 6lco ou sebo, vive em dieta bem mais rigorosa que o tra-
balhador, tanto o que ela substitui quanto o que a constrói.
224
é também consumida, industrialmente consumida, sempre que entre
no processo de trabalho de B e também no processo de formar valor
para B. Essa parte, como todas as outras partes do produto total,
tem portanto de ser reposta na proporção em que constitui compo-
nente do produto total e, em termos mais precisos, tem de ser re-
posta fisicamente por notJos produtos da mesma espécie. Aliás, não
é resposta por novo trabalho. É que o total do novo trabalho adiciona-
do, igual ao tempo de trabalho contido em A, s6 é reposto porque
B consome a própria renda em 2/3 de A e em. troca fornece a A
os meios de produção que em A são, afinal de contas, consumidos e
têm de ser substituídos. É que o ptimeiro 1/3 de A, consumido pelos.
próprios produtores, consiste meramente - conforme o valor de tro-
ca - no novo trabalho por eles mesmos adicionado e não contém
capital constante.
Examinemos esse resíduo.
Consiste, primeiro, no capital constante que entra nas matérias-
primas, segundo, no capital constante que se materializa no capital
fixo e, terceiro, no capital constante que ingressa nas matérias auxi-
liares.
Primeiro, eis matérias-primas, O capital constante delas reduz-se,
em primeiro lugar, a capital fixo, maquinaria, instrumentos de tra·
balho e edificações, e eventualmente a matérias auxiliares, que são
os meios de consumo da maquinaria empregada. Para a parte ime-
diatamente consumível das matérias-primas, como gado, cereais, uvas
etc., a dificuldade considerada não ocorre. Nesse caso pertencem elas
à classe A. A parte do capital constante nelas contida entra no ca-
pital constante, os 2/3 de A, que, como capital, se trocam pelos pro.
dutos inconsumíveis de B ou onde B consome a própria renda. De
modo geral, isso se estende às matérias-primas que não podem ser
de imediato consumidas, desde que entrem fisicamente no próprio
produto consumível, não importa quantos sejam os estádios por que
passam nos processos de produção. A porção de fibra que se trans-
forma em fio e mais tarde em linho (tecido) entra por inteiro no pro.
duto consumível.
Mas, parte dessas matérias vegetais como madeira, fibras, cânha-
mo, couro etc. entra diretamente nos componentes do capital fixo ou
nas matérias auxiliares. Neste caso, na forma de óleo. sebo etc.
A seguir, sementes. 68 As matérias vegetais e as animais reprodu-
zem-se a si mesmas. Vegetação e geração. Por semente entendemos a
própria semente e mais a forragem que reverte à terra na forma de
esterco, o gado marel etc. Essa grande parcela do produto anual -
225
ºli di;i parte constante do produto anual - de imediato serve a si·
mesma de elemento de regeneração, reproduz a si mesma.
A,r matérias-primas não 1;egetais. Metais, pedras etc. Seu valor
consiste apenas em 2 partes, pois aí não há sementes, que represen-
tam as matérias-primas na agricultma. Consiste somente em trabalho
adidonado e na maquinaria consumida (incluídos af os meios de
.consumo da maquinaria). Por isso, excluída do produto a parte que
representa o novo trabalho adicionado e por isso entra na troca de
B pelos 2/3. de A, nàda há a repor além do desgaste do capital fixo
e de seus meios de consumo (carvão, 6leo etc.). Mas, essas maté-
rias-primas formam o principal componente do capital constante, do
capital fixo (maquinaria, instrumentos de trabalho, edificações etc,).
Repõem portanto seu capital constante físicamente, por meio da troca
de capital por capital.
226
nação a gás exige carvão, mas a produção de carvão consome
iluminação a gás e assim por diante. Outras matél'ias auxiliares con-
sistem apenas em trabalho adicionado e capital fixo (maquinaria, re·
cipientes etc.). O carvão tem de repor o desgaste da máquina a vapoi:
empregada para produ7.i-lo. .Mas a máquina a vapor consome cnrvão~
O próprio carvão fígura entre os meios de produzir carvão. Aí por~
tanto repõe a si mesmo. Transporte ferroviário faz parte dos custos
de produzir carvão, e carvão por sua vez entra nos custos de pro-
dução da locomotiva.
Cabe ainda acrescentar mais tarde algo especial sobre as fábricas
da indústria química: todas elas produzem, em maior ou menor ex.-
tensão, matérias auxiliares, .!lliltéría-prima de recipientes (por exem-
plo, vidro, porcelana) e ainda artigos que entram diretamente no
consumo.
Todos os corantes são matérias auxiliares. Mas, além de entra-
.rem no produto, pelo valor, como por exemplo carvão que se queima
pàra se fabricar o tecido de algodão, reproduzem-se na forma do
produto {nas cores) .
As matérias auxiliares ou são meios de consumo da maauinaria
- e aí Oll são combustível da máquina motriz ou meios empregados
para atenuar a fricção das máquinas operadoras etc., tais como sebo,
sabão, óleo etc. - ou são matérias auxiliares para construções, como
aglutinante, e assim por díante. Ou são matérias auxiliares para fazer
em geral funcionar o ptocesso de produção, como iluminação, aque-
cimento etc. (neste caso são matérias auxiliares requerido::s pelos.
trab11lhadores para poderem trabalhar) .
Ou são matérias auxiliares que entram na formação das maté-
rias-primas, como adubos {f ertilízantes) de toda espécie e todos os
produtos químicos ·consumidos pelas .matérias-primas.
Ou são matérias i:ruxíliares que entram no produto acabado: c0-
rnntes, materiais de polir e assim por diante.
221
ç§ei; d.e um capital constante pelas de outro capital constante, entran-
do o produto de um ramo, na qualidade de matéria-prima ou meio
de p1udução, em outro e vice-versa; quer dizer, os produtos dos di-
fe.rentes ramos de produção, os diversos tipos de capital constante,
entram reciprocamente uns nos outros, fisicamente, como condições
de produção.
Os pi-odutores dos produtos inconswníveis são os produtores do
capital constante dos produtores dos produtos consumfveis. Mas, ao
mesmo tempo, seus produtos lhes servem reciprocamente como ele-
mentos ou fatores do pr6prio capital constante. Quer dizer, conso-
mem in4ustrialrnente os produtos uns dos outros.
O produto todo de A é consumido, Em conseqüência, o capital
-constante jnte.iro nele contido. Os produtores de A consomem 1/)
.de A, e os prodmores dos produtos inconsumíveis de B, 2/3 de A.
O capital constante de A é reposto pelos produtos de B que formam
a renda de B. Esta é, na realidade, a única parte do capital cons-
tante, a ser reposta por novo trabalho adicionado, e ·é por este reposta
porque a quantidade dos produtos de B a qual é novo trabalho adi-
cionado em B não é consumida por B; ao contrário, é consumida
por A industrialmente, enquanto B consome individualmente 2/3 de
A.
Façamos A = 3 jornadas de trabalho; de acordo com a hip6tese,
seu capital constante = 2 jornadas de trabalho. B r~põe o produto
de 2/3 de A 1 isto é, fornece produtos inconsum!v~ = 2 jornadas.
Foram então consumidas 3 jornadas mas resta a considerar aí 2. Ou
seja, as 2 jornadas de trabalho pretérito em A são tep9stàs por 2
jornadas de novo trabalho adicionado em B, mas só porque as 2 jor-
nadas de novo trabalho adicionado em B. consomem seu valor em A
e não no próprio produto de B.
O capital constante de B, uma vez que entrou no produto global
de B, tem do mesmo modo de ser reposto fisicamente por novos
produtos da mesma espécie, isto é, por produto!. requeridos pelo con-
$Umo industrial de B. Mas não é reposto por novo tempo de traba-
lho, embora o seja por produtos do tempo de trabalho de novo empre-
gado durante o ano.
Seja igual a 2/3 do produto global de B o capital constante nele
contido. Assim, se o novo trabalho adicionado (igual à soma de sa-
lário e lucros) = 1, é o trabalho pretérito que lhe serviu de ma-
téria-prima e de meio de trabalho, igual a 2. Como se repõem então
esses 2? A relação entre capital constante e capital variável pode
ser muito diversa àentto dos ramos de produção de B. Mas, pela
suposição feita, a média = 1/3: 2/3, ou 1 : 2. Cada um dos produ·
tores de B tem agora diante de si 2/3 do pr6ptio produto, como
carvão, ferro, fibras, maquinaria, gado, trigo (quer dizer, do trigo
228
e do gado, a parte que não entra no consumo) etc., cujos elementos
de produção têm de ser repostos ou reconvertidos à forma física de
seus elementos de produção. ?\fas todos esses produtos entram por
sua vez no consumo industrial. O trigo (semente) por sua vez é ao-
mesrno tempo sua própria matéria-prima, parte do gado produzido·
repõe o consumido, isto é, a si mesmo. Nesses ramos de produção de·
B (agrícultura e pecuária), essa parte do próprio produto repõe en-
tífo, na própria forma física, o correspondente capital constante. Parte:
desse produto não entra em circulação (pelo me.nos não precisa en-
trar nela ou nela pode entrar em sentido meramente formal). Outros
desses produtos, como fibras, cânhamo etc., carvão, ferro, madeira,
máquina, em parte entram na respectiva produção na qualidade de
meio de produção, do mesmo modo que a semente na agricultura; é
o caso do carvão na produção do carvão, e da máquina na produção de
máquinas. Parte ·do produto consistente em máquina e carvão, e mais
predsamente segmento dessa parte que representa capital constante,
repõe-se portanto a si mesmo e apenas troca de posição. O produto
se torna seu próprio meio de produção.
Esses ·e outros produtos - outra parte deles - entram recipro·
camente uns nos outros na qualidade de elementos de produção: má-
quina, em ferro e madeira; madeira e ferro, em máquina; óleo, em
máquina, e máquina, em óleo; carvão, em ferro, ferro (ferrovias),
em carvão, e assim por diante. Até o ponto em que os 2/3 dos pro-
dutos de B não se repõem a si mesmos, isto é, não voltam fisicamen-
te à própria produção - de modo que segmento de B seja de ime-
diato consumido industrialmente pelos próprios produtores, como
parte de A é de imediato ind.ividualme.nte consumida pelos pr6prios.
produtores - , os produt0s dos produtores de B repõem-se recipro-
camente como meios de produção. O produto de a entra no consuma
industrial de b, e o produto de b no consumo industrial de a; ou, me-
diante um rodeio o produto de a entra no consumo industrial de b,
o produto de b no de e, e o de e no de a. Assim, o que num ramo de
B é consumido na qualidade de capital constante, é de novo produzi-
do noutro, roas o que é consumido no último é produzido no primeíro.
O que num transitou da forma de máquina e de carvão para a de
ferro, noutro passou da forma de ferro e carvão para a de máquina, e
assim por diante.
O que é necessário é repot fisicamente o capital constante B.
O produto de B, na totalidade, representa o capital constante por
inteiro em todas as formas físicas. E onde o produto de um ramo
particular de B não pode repor fisicamente o próprio capital constante,
compra e venda, troca de donos, repõe tudo em seu lugar.
Assim, ocorre aí substituição do capital constante pelo caphal
constante; e, se essa substituição não se dá diretamente, sem permu-
229,
ta, há, em conseqüénciaJ troca de capital por capital., ·isto é, de produ-
tos por produtos, segundo o valor de uso, os quais entram reciproca-
mente nos respectivos processos de produção, de modo que cada nm
dele..q é consumido industrialmente pelo produtor do outro.
Essa parte do capital não se reduz a lucro nem a salário. Não
contém nenhum novo trabalho adicionado. Não se troca por renda.
Não é pago pelos consumídores de maneira direta nem índireta. E
tanto faz que essa reposição 1·edp.roca de capitais se realize> ou não,
por intermédio de comerciantes (isto é, por meio de capitais me.r-
cantis). Mas, uma vez que esses produtos (máquina, ferro, carvão,
madeira etc., que se repõem reciprocamente) são novos, são produ-
tos do trabalho do ano passado - assim, o trigo que serve de se-
mente é tanto produto do novo trabalho quanto o trigo que entra no
<:onsumo etc. - como se poderá dizer que nenhum novo trabalho
adicionado se encena nesses produtos? E além disso não é sua forma
prova contundente do contrário? Embora não possa transparecer no
trigo ou no gado, é detectável na forma da máquina o trabalho que
transformou o ferro etc. em máquina, e assim por diante. Esse pro-
blema. foi resolvido antes.c 9 Não é mister reexaminá-lo agora.
((É portanto falsa a proposição de A. Smith segundo a qual o
comércío dos empresários entre si tem de ser igual ao comé.rcío entre
empresários e consumidores (.como tais considerar os consumidores
imediatos e não os índustriais, que ele mesmo inclui entre os em-
presários). Essa proposição baseia-se no falso axioma smithfano de
o produto ínteiro reduzir.se a renda, o que de fato· significa apenas
que, da troca de mercadorias, a parte que é igual à troca entre ca-
pital e renda, é ígu<'ll à troca total de mercadorias, São _também fal-
sas as decorrências do axioma, as aplicações práticas que Tooke dele
extraiu para a circulação monetária (em pa:ttícular,. a relação da qunn-
tidade de dinheiro circulante entre os empresários com a qrumtidade
circulante entre os empresários e os consumidores).
Consideremos como último empresárío que confronta o consu-
midor, o comerciante que compra os produtos de A; esses produ.
tos lhe são comprados pela renda de A = 1/3 A, e pela renda de
B = 2/3 A. Essas rendas lhe repõem o capital mercantil. A soma
delas tem de cobrir seu capitaL (O lucro desse patife tem de ser cal-
culado de maneira que ele conserve para si parte de A e venda parte
menor de A pelo valor de A. Para o problema tanto foz que se jul-
gue o patife agente necessário da produção ou intermediário síbarita.)
Essa troca entre comerciante e consumidor de A iguala-se, pelo valor,
à troca do comerciante de A com todos os produtores de A, portanto,
aos negócios desses empresários entre sL
230
O comerciante compra o linho {tecido). último neg6cio entre
empresário e empresários. O fabricante de linho compra fio, maqui-
naria, carvão etc. Penúltimo negócio entre empresário e empresários.
O fabricante de fio compra fibras, maquinaria, carvão etc. Antepenúl-
timo negócio entre empresário e empresários. O cultivador de linheiro e
o construtor de máquinas compram máquinas, fe+ro etc., e assim por
diante. ?\rias, os negócios entre os produtores de fibras (de linho) j
231
10. FERRIER. COM SUAS IDÉIAS PROTECIONISTAS POLEMIZA·
CONTRA A TEORIA SMITHIANA DO TRABALHO PRODUTlVO
E DA ACUMULAÇÃO. CONFUSÃO DE SMITH NO PROBLEMA
DA ACUMULAÇÃO. 0 ELEMENTO VULGAR NA CONCEPÇÃO
Sl\.:IITHIANA DOS TRABALH:ADORES PRODUTIVOS
(é que ele quer que a maior parte possível seja despendida como ca-
pital, isto é, na troca por tr~balho produtivo, e a menor parte pos-
sível como renda, na troca por trabalho ímprodutivo).
2J2
e uma vez que renda fundiária e lucro contríbuem amplamente
para o valor de troca da maioria delas, o fJroduto anual do tra·
ba/,ho desse pais bastará sempre para comprar e comandar quan-
tidade de trabalho bem maior que a que foi empregada para
gerar, aprontar e levar ao mercado esse produto. Se a socieda·
de empregasse cada ano o trabalho todo que pudesse comprar
1Jnualmente, t;ma vez que acresceria muito cada ano a quanti-
dade de trabdho, o produto de cada ano subseqüente teria valor
muito maior que o dô ano anterior. Não há_ país onde a totali-
dade do produto anual seja empregada para manter os traba-
lhadores. Em toda a parte, os ociosos consomem grande porção
dela, e de acordo com as diferentes proporções em que esse
,produto se divide entre essas duas diferentes classes de pessoast
o seu valor costumeiro ou médio tem de aumentar ou diminuir
anualmente·· ou continuar o mesmo de um .ano para outro."
2.3.3
çlq !=ákul9 sm,ithiano - ou melhor adicionar-lhe - essa parte do
produto: Se a produtividade do trabalho permanece a mesma, não va.
ria anualmente a parte do produto a qual não se reduz. a renda, desde
que, invariável a produtividade do trabalho, se empregue a mesma
quantidade anterior de tempo de trabalho.
· .Admitida aplicação de quantidade anual de trabalho mriior que
a anterior, temos de ver o que sucede ao capital constante, Numa pa-
lavra: para o emprego de quantidade maior de trabalho não basta
estar disponível quantidade maior de trabalho, pagar quantidade tnaior,
isto é, despender mais em salários; é mister existirem os meios de
trabalho - matérias-primas e capital fixo - para absorver quanti-
dade maior de trabalho. Por isso, debater ainda esse ponto, depois
de esclarecidas as questões abordadas por A. Smith.
Mais uma vez, por isso, seu período já citado:
234
comprar e comandar" quantidades de trabalho vivo, e poderá assim
comandar, comprar 3 jornadas de trabalho.
Todavia, é claro que este não é o pensamento de A. Smith, e:
essa premissa não lhe teria utilidade alguma. O que ele quer dizer é
que grande parte do valor de troca do produto não se reduz (ou
como diz erroneamente, conforme confusão antes assinalada) 11 a sa-
lário, mas a lucro e renda fundiária, ou, como diremos para simplifi-
car, a lucro. Noutras palavras: do valor do produto, a parte igual à
quantidade do trabalho adicionado durante o ano anterior - na reali.
dade, portanto, do produto, a parte que no verdadeiro sentido da
expressão é produto do trabalho do ano anterior - paga, primeiror
os trabalhadores e, segundo, entra na renda, no fundo de consumo do·
capitalista. Essa parte toda do produto global procede do trabalho, e·
s6 dele; mas consiste em trabalho pago e não pago. Os salários são-
iguais à soma do trabalho pago, os lucros, à soma do trabalho não-
pago. O produto todo, se fosse gasto em salário, poderia sem dú-
vida p6r em mov.irn.ento quantidade de trabalho maior que a que o,
gerou; mais precisamente, a proporção em que o produto pode mo-
bilizar mais tempo de trabalho que o que ele mesmo encerra depen-
derá exatamente da proporção em que a jornada de trabalho se re-
parte em tempo de trabalho pago e não pago.
Admitamos seja proporção tal que o trabalhador produza ou re-
produza o próprio salário em 6 horas, isto é, em meia jornada. Então,
as outras 6 horas ou a outra meia jornada constitui o excedente.
Assim, por exemplo, de um produto que encerra 100 jornadas de novo
trabalho ru:licionado = 50 libras esrerlin?tS (se a jornada= 10 xelins,
então 100 jornadas = 1 000 xelins = 50 libras), 25 libras seriam
para salário e 25 para lucro (renda fundiária). Com as 25 libras =
50 jornadas teriam sido pagos 100 trabalhadores, que teriam traba-
lhado de graça, ou para seus patrões, metade do tempo de trabalho.
Se o produto todo (das 100 jornadas) fosse portanto despendido
em salário, poder-se-ia mobilizar com as 50 libras 200 trabalhadorest
cada um deles recebendo 5 xelins como dantes ou a metade do pro·
duto do trabalho como salário. O produto desse trabalho seria igual
a 100 libras (isto é, 200 jornadas = 2 000 xelins = 100 libras),
com que se poderia mobilizar 400 trabalhadores (por 2 000 xelins,
o trabalhador a 5 xelins), cujo produto = 200 libras, e assim por
diante.
E é isto que A. Smith imagina ao dizer que o "produto anual
do trabalho" bastará sempre "para <:omprar e comandar quantidade
de trabalho bem maior" que a empregada para produzir o produto.
235
(Se fosse pago ao trabalhador o produto inteiro de seu trabalho,
isto é> 50 Hb!l:!s esterlina!> por 100 jornadas, as 50 libras só poderiam
pôr em movimento 100 jornadas.) E prossegue Smith:
236
população (que se supõe estar implícito no salário antigo ) , ou em
vírtude dos pobres sem emprego, dos trabalhadores empregados em
tempo parcial etc. Depois, as massas de trabalhadores improdutivos
que, em parte, podem ser transformados em traba.Jhadores produti.-
vos, aplicando-se de outra maneira o produto excedente. Por fim, C>
mesmo número de trabalhadores pode fornecer quantidade maior de
trabalho. E tanto faz que eu pague 125 trabalhadores em vez de 100,.
ou que os 100 trabalhadores trabalhem 15 horas por dia em vez de 12.
Aliás, justamente por causa de sua idéia de reduzir o produto-
todo a renda, A. Smith erra ao afirmar que ao acrescer o capital pro-
dutivo - ou a parte do produto anual destinada a reprodução -
tem de aumentar, na mesma proporção, o trabalho empregado ( tra-
balho vivo, a parte despendida em salário).
Assim tem Smith, antes de mais nada, um fundo de meios de
subsistência consumíveis, que pode "comprar e comandar" no cor·
rente ano quantidade de trabalho maior que no anterior; mais tra·
balho e a.o mesmo tempo mais meios de subsistência para esse traba-
lho. Releva agora ver como se realizará essa quantidade adicional de
trabalho.))
Se A. Smith perseverasse com plena lucidez na análise - que
em substância nele se encontra - da mais-valia, gerada apenas na
troca de capital por trabalho assalariado, daí resultaria: trabalho pro-
dutivo é apenas o trocado por capital; nunca trabalho trocado por
renda como tal. A renda, para trocar-se por trabalho produtivo, tem
de transformar-se antes em capital.
Mas, partindo de um modo de ver tradicional, de ser trabalh0c
produtivo o que produz diretamente riqueza material de qualquer es-
pécie e combinando com isso sua distinção que destaca d.a troca entre
capital e trabalho a troca entre renda e trabalho, possibilita Smith
que se chegue a este resultado: a espécie de trabalho por que se troca
capital é sempre produtiva ( ctia sempre riqueza material etc.). Aquela
por que se troca renda pode ser ou não produtiva; mas quem des-
pende renda, em regra, prefere bem mais mobilizar diretamente tra-
balho improdutivo a produtivo. Vê-se que A. Smith, com esse amál-
gama das duas distinções que fez; muito enfraquece e dilui a dis-
tinção principal.
A. Smith não encara de maneira por completo superficial o ades-
tramento para o trabalho. É o que mostra a citação a seguir, que enun-
cia entre os diversos componentes do capital fixo;
237
dizer, um capital fixo realizado no adquirente. Se essas apti-
dões fazem parte de seus haveres, fazem parte também dos ha-
vere$ da sociedade a que ele pertence. A d.estreia ape.tfeiçooda
de um trabalhador pode ser considerada à mesma luz que uma
máquina ou instrumento que facilita e abrevia trabalho e que,
embora cause despesa, recupera-a com lucro"' (1. e., 1. II, cap. I,
t·. II, pp. 204-205).
238
ou no de terceiro, um estoque bastante para sustei1tá-lo e pro-
vê-lo com os instrumentos e as matérias-primas requeridos por
seu trabalho, até que tenha terminado e vendido o tecido. É
claro que a acumulação tem de preceder o momento em que
aplicará sua atividade por tanto tempo nesse negócio específi-
co. . . Pela natureza das coi$as, a acumttlação de capital é uma
precondição necessária da divisão do trabalho" (1. e., pp. 192-
193 ).
{.Aliás, pelo que afirmou no começo, parece que não ocorre acumu-
lação de capital antes da divisão de trabalho, do mesmo modo que
não há .divisão de trabalho antes da acumulação de capital.) Prosse-
gue ele:
2)9
A. Smith trata os objetos que já se encontram· no fundo de con~
sumo, tal como se fossem trabalho produtivo e improdutivo. Por
exemplo:
240
dução ou criar um fundo permanente para cobrir esse gasto e,
a qualquer luz, é nocivo à sociedade'' (1. e., t. II, p. 232). Ao
revés, "o segundo promove a indústria e, embora aumente o
consumo da sociedade, gera um fundo permanente para satis-
fa?.er o consumo, pois as pessoas que ctmsomem reproduzem
com lucro o valor global de seu consumo anuaF, (1. e., t. II,
cap. II, p. 232).
"A quantidade de trabalho produtivo que um capital pode
empregar tem obviamente de ser igual ao número de trabalha-
dores que pode prover com matéría.">-primas-; instrumentos e
meios de subsistência, apropriados à espécie de trabalho" (1.
e., t. II, p. 235).
No cap. III do livro II (1. c., t. II, pp . .:H4 ss):
"Os trabalhadores produtivos e os improdutivos e ainda
os que em absoluto não trabalham são todos eles por ígual sus·
tentados pelo produto anual da terra e do trabalho do pa1s ...
Esse produto. . . tem necessariamente certos limites. Por isso,
segundo se empregue num ano parte maior ou menor desse pro-
duto para manter pessoas improdutivas, restará menos ou mais
para as produtivas, e em conseqüência será menor ou maior o
produto do próximo ano ...
Em última instância, o produto anual todo do solo e do
trabalho de um país destina-se a suprir o consumo dos habitan-
tes e produzir-lhes uma renda; contudo, ao sair da terra ou das
mãos dos trabalhadores, divide-se naturalmente em duas partes.
Uma delas, com freqüência a maior, destina-se> antes de mais
nada, a repor capital ou a renovar a quantidade de meios de
subsistencia, n:tatérias-primas e produtos acabados1 retirados de
um capital; a outra destina-se a constituir renda seja do pro·
prietário desse capital, seu lucro, seja de outra pessoa, dona
da terra, a 1'enda fundiária.
Do produto anual da terra e do trabalho de um país, a
parte que repõe capita/, nunca se aplica de imediato para elll·
pregar outros trabalhadores além dos produtivos. Só paga sa·
lá.rio de trabalho produtívo; a parte que se destina de imediato
a constituir renda... pode empregar tanto trabalhadores pro-
dutivos quanto improdutivos ••.
Os trabalhadores improdutivos e os que em absoluto não
trabalham são todos mantidos por renda: primeiro, pela parte
do produto anual destinada, de origem, a constituir renda de
determinados particulares, na forma de renda da terra ou de
lucro de capital; ou, segundo, pela parte destinada a repor ca-
241
pítal e a manter apenas trabalhadores produtivos, mas, chega-
da às mãos destes, a sobra que houver, além das necessidades
de subsistência, poderá ser aplicada tanto para manter pessoas
produtivas quanto improdutivas. Assim, mesmo o trabalhador
comum, se o salário é alto ... , pode manter criados ou ir ao
teatro ou ao espetáculo de marionetes e desse modo contribuir
com sua cota para manter uma classe de trabalhadores impro-
dutivos. Ou, por fim, pode pagar diversos impostos e assim aju-
dar a manter ourra classe ... por igual improdutiva. Todavia,
do produto anual, parte alguma destinada pela origem a repor
capital é jamais aplicada para manter trabalhadores improdutivos,
antes de se completar o emprego de -trabalho produtivo ...· É
mister que o trabalhador tenha recebido o salário por trabalho
feito, antes de poder empregar qualquer fração dele em traba·
lho improdutivo. A renda fundiária e o lucro de capital são ...
por toda a parte as fontes principais de que trabalhadores im-
produtivos retiram a subsistência. . . Mas essas rendas podem
manter por igual tanto trabalhadores produtivos quanto im-
produtivos. Parece terem certa predileção pelos últimos ...
A relação entre trabalhadores produtivos e improdutivos
em cada país depende substancialmente da relação entre o seg-
mento da produção o qual se destina, logo após sair da terr?;
ou das mãos dos trabalhadores produtivos, a repor capítal, e o
segmento que se destina a constituir renda,; seJa na fotm<l
fundiária ou de lucro. Mas os países ricos difer~ muito dos
pobres quanto a essa relação."
242
parte procedente do lucro, nos países ricos, é sempre muito
maior que nos pobres, é porque o capital naqueles é muito maior,
mas em relação ao capital, os lucros em geral são muito
menores. Por isso, do produto anual, a parte que, após sair da
terra ou das maos dos trabalhadores produtivos, se destina a
repor capital, é nos países ricos muito maior que nos pobres,
mas, além disso, é lá bem maior em relação ao segmento de
imediato destinado a constituir renda, ~eja renda fundiária ou
lucro. O fundo destínado a manter trabalho produtivo é nos
países ricos muito maior que nos pobres, e é também muito
maior em relação àquele fundo que, embora sirva para manter
tanto trabalhadores produtivos quanto improdutivos, em geral
tem predilação por estes" ( 1. e., pp. 320-.321).
243
da renda, por criados e por parasitas ociosos etc., que nio dei.
xam coisa alguma em troca desse consumo." A segunda, "pelos
trabalhadores que reproduzem o valor de seu consumo anual
cor~ lucro. • • O consumo é o mesmo, mas os consumidores
são diferentes" (1. e., pp. 321 a .328, passim).
244
correllCla entre os capitalistas faz subir os salários e cait os
lucros" (1. e., p. 359).
• Ver nota 1, na p. 13 .
245
~ptlc;Ís capitais, po.tque estes"substitue1n" trabalho. São pagos por fa-
zc:lein o que. çlq contrário, o ser humano, sem eles, teria de fazer ou
,µão poderia fazer absolutamente.
246
caro, são todos eles considerados trabalhadores improdutivos''
(1. e., pp. 110-111);
Prossegue Lauderdale:
"Se o valor -de troca deve ser a base da riqueza, não são
necessários muitos argumentos para pôr em evidência os erros-
daquela doutrina. Nada demonstra melhor sua falsidade que a
estima que os homens tributam àqueles serviços, se podemos.
julgar pelo preço que auferem" (1. e., p. 111).
E mais;
241·
12. PRODUTOS IMATERIAIS DE SAY, ]USTIFlCAÇÃO DE UM
C.RESCilv"ü;NTO INlNTE:RRUPTO DO TRAJ3ALUO IMPllODU'
TIVO
.248
ªprogresso" de Garníer. Desse modo, inventa outro nome para os
trabalhos improdutivos. Este é seu gênero de originalidade, de produ-
tividade, sua maneira de inventar. E com a sua costumeira lógica, de
novo se contradiz. Afirma:
(Pata fazer un;ia mesa não convém empregar. trabalho ele car-
pinteiro em quantidade maior que a necessária para produzi-la. Para.
restaurar um corpo doente, riada mais que o necessário para curá-lo~
Assim, advogados .e médicos só devem empregar o trabalho necessá-
rio para engendrar seu produto imaterial.)
249'
.aumentar ps produto1·es, mas os produtores de determinado gênero
.no respectivo gênero de atividade.
Não se pode produzir demais produtos materiais, nem ímatetjais,
segundo Say. Mas, a variedade deleita. Por isso, é mister produzir
.diferentes espécies de produtos nos dois setores. Ademais pontifia-
.Say:
250
13. DESTUTT DE TRA®'. CONCl!:PÇÃO VULGAR DA ÜRIGEM DO
LUCRO. o
CAPITALii;TA INDUSTRIAL PROCLAMADO ÚNICO
TRADALHADOlt PRODUTIVO
251
"As pessoas a quem a renda pet'tence, sendo ociosas, não
dirigem, é claro, trubalho produtivo algum. Todos os trabalha-
dores que pagam destinam-se apenas a lhes proporcionar frui-
ções. Sem dúvida, essas fruições são de diferentes espécies ...
As despesas de toda essa classe de geme. . . alimentam popu-
lação hutnerosa, cuja existência possíbilitam, mas cujo trabalho
é por completo estéril. .. Algumas dessas despesas podem ser
mais ou menos frutfferas, por exemplo, construir uma casa, me--
lhorar o solo. Mas constituem casos excepcionais em que mo-
mentaneamente se dirige trabalho produtivo. Fora essas exceções
de pouca monta, o consumo inteiro dessa espécie de capitalistas
é mera perda absoluta, considerando-se a reprodução e, por igual,
a redução da riqueza adquirída" ( p. 236).
252
"Têm ... nas mãos a riqueza quase toda da sociedade •..
Dessa riqueza não s6 despendem a renda anualmente, mas o
próprio capital e às vezes com freqüência no ano 1 quando a
marcha dos negócios é bastante rápida para permiti-lo. Na qua-
lidade de empresários, não fazem despesa que não lhes retornem
coro lucro, e por isso esse lucro é tanto maior quanto maior a
despesa que, nessa condição> possam fazer.
Até aí, certo. Mas como ficam então os assalariados (os traba·
Ihadores produtivos, empregados pelos capitalistas industriais)?
2.53
Seu consumo tem de ser portanto considerado consumo da.
R_ueles que os contratam, Apenas o recebem com uma mão e
.devolvem com a outra. . . Devemos portanto considerar tudo
Q que" (os assalariados) "gastam e também tudo o que rece-
bem, verdadeint despesa e consumo próptio daqueles que com-
wram seu trabalho. Isto é tão verdadeiro que, para se ver se
esse consumo é mais ou menos destrutivo da riqueza adquirida.
ou mesmo se tende a aumentá-la •.. , é mister saber que uso os
'Capitalistas fazem do trabalho que compram" (pp. 234-23.5).
·Muito bem. E donde vêm os lucros dos empresários. lucros que
os capacitam a pagar rendas a si mesmos e aos capitalistas ociosos?
"Vendem-no
!l) a si mesmos - a parte correspondente ao consumo destina-
do a satisfazer suas necessidades, parte que· ?agam com porção
·de seus lucros;
2) aos trabalhadores assalariados, pagos por. eles ou pelos capi-
;talistas ociosos; dessa maneira recuperam, a· totntidade dos salá-
rios pagos a esses trabalhadores) excetuadas pequena.i; economías
~entuais;
;.3) aos capitalistas ociosos, que pagam os empresários com o
segmento de sua renda o qual não transferiram aos assalariados
;que empregam diretamente; volta aos empresários, de uma ma-
,neira ou de outra, a .i:erula toda que pagam anualmente aos ca-
pitalistas ociosos" (1. e., p. 239).
2J4
.todo caso não obtêm lucro algum vendeudo "uns aos outros" "tudo o
;que produzem caro em relação àú que lhes custou produzir".
2. Tampouco podem obter lucro da parte do produto, por eles
;vendida acima àos custos de produção, a seus trabalhadores. Supôs-se
que o consumo todo dos trabalhadores é de fato o "consumo próprio
daqueles que compram seu trabalho". Além disso, Destutt ainda obser-
;va que os capitalistas, ao venderem seus produtos aos assalariados
(aos seus e aos dos capitalistas ociosos) seus produtos, simplesmente
"recuperam a totalidade dos salários pagos". Mais precisamente, nem
tudo, e sim com a dedução das economias dos assalariados. Tanto faz
que lhes vendam os produtos caro ou barato, poís só recuperam o
que lhes deram e, como dito acima, os assalariados "apenas o rece-
bem com uma mão e devolvem com a outra". De início, o capitalista
paga dinheiro ao trabalhador como salário. Depois vende-lhe o pro-
duto "caro" e assim r~upera o dinheiro. l\fas, uma vez que o traba-
lhador não pode restituir ao capitalista mais dinheiro do que dele
recebeu, o capitalista nunca lhe pode vender caro os produtos, em re-
lação ao que lhe pagau pelo trabalho. De qualquer modo, com a venda
.dos produtos só pode :recuperar do trabal.ruidor tanto dinheíro quanto
lhe pagou· pelo trabalho. Nem um centavo a mais. Corno poderia seu
dinheü·o aumentar por meio dessa "c.irculação "?
Adicione-se outra tolice de Destutt. O capitalista C paga ao tra-
balhador A 1 libra por semana e recupera essa libra, vendendo-lhe
1 líbta de mercadoria. Por esse meio, pensa Tracy, recuperou a to-
talidade dos salários. Mas, primeiro, dá ao trabalbador 1 libra. Em
seguida, mercadoria no montante de 1 libra. Na realidade llie deu 2
).ibras: 1 em mercadoria e 1 em dinheiro. Dessas 2 libras recupera 1
na fotma de dinheiro. Do salário de 1 libra nem um centavo lhe foi
de fato restituído. E se tencionasse enriquecer-se por esse processo
~de "recuperação" do salário (e não por lhe restituir o trabalhador em
traballio, o que lhe adiantou em mercadoria), estaria ele em breve
:na porta da ígreja.
O aristocrata Destutt, portanto, confunde aí circulação monetá·
ria com a circulação real de mercadorias. Pela circunstância de o capi-
talista não dar ao trabalhador 1 libra de mercadoria, diretamente, mas
1 libra com que o trabalhador escolhe à vontade a mercadoria que
lhe apraz comprar, e devolve ao capitalista na forma de dinheiro o
dircito sobre as mercadorias, depois de o trabalhador se ter apossado
de sua parte alíquota das mercadorias, imagina Destutt que o capitalis-
ta "recupera" o salário, ao refluir..lhe a mesma peça de dínheiro. E na
mesma página observa Destutt que "mal se conhece" o fenômeno da
circulação ( p. :2 39}, Sem dúvida, ele mesmo o desconhece de todo .
.,~, Destutt não tivesse explicado, com esse estranho método, a "re-
2.55
cuperação da totalidade dos salários" , o disparate setfo pelo nienos
concebível de maneira a ser logo mencionada.
(Mas, antes, para ilustrar ainda sua sapiência, Se entro numa
loja e o lojista me dá 1 libra, e com ela compro na loja mercadoria no
montante de 1 lib1-a, recupera ele nesse caso sua libra. Ninguém afir·
.tnará que ele se enriqueceu com essa operação. Em vez de 1 libra ein
dinheiro e 1 libra em rnercadoría, só tem agora 1 libra em dinheiro.
Mesmo que a mercadoria que me vendeu por 1 libra só valesse 1O
xelins, também nesse caso fica ele, em 10 xelins, mais pobre do que
era .antes da venda, embora tenha. no total, recuperado 1 libra.)
Se C, o capitalista, der ao trabalhador salário de 1 libra e de-
pois lhe vender mercadoria no valor de 10 xelins por 1 libra, terá,
sem dúvida, lucro de l.O xelins, por ter vendido ao trabalhador a mer-
cadoria encarecida por um acréscimo de 10 :xelins. Mas, mesmo assim,
~ão se pode ver, do prisma de Destutt, como fluiria daí um lucro
para C. (O lucro decorre de pagar ele menor salário, de ter dado, na
realidade, ao trabalhador, em ttoca do trabalho, parte alíquot$. menor-
do produto, em rdação ao que lhe dá nominalmente.) Se desse ao
trabalhador 10 xelins e lhe vendesse a mercadoria por 10 xelins, fi.
caria tão rico quanto lhe dando 1 libra e lhe vendendo por 1 libra.
sua mercadoria de 10 xelins. Ademais, Destutt raciocina com o pres-
suposto do salário necessário. Na melhor hipótese, patentear-se-ia aí
apenas a trapaça com o assalariado, o que explicaria o lucro.
O caso 2) mostra portanto que Destutt esqueceu por completo
o que é um trabalhador produtivo, e não tem a _menor idéia da fonte
do lucro. No máximo poder-se-ia dizer que o capitalista consegue lu-
cto apreçando os produtos acima di;t valor, desde que os venda não
aos próprios assalariados e sim aos assalariados dos capitalistas ocio·
sos. Mas, por ser o consumo dos trabalhadores improdutivos, na reali-
'1ade, parte apenas do consumo dos capitalistas ociosos, chegamos
agora ao caso 3 ) •
3. O capitalista industrial vende caro seus produtos, acima do
valor, aos
256
São meios de compra para O, que retira 100 libras de mercadoria do
armazém de e. Com isso voltam a e as 100 libras, forma a que se
·converteu sua mercadoria. Mas em mercadorias tem 100 libras me
nos que antes. Em vez de dá-las diretamente a O, dá-lhe 100 libras em
dinheiro, com que O lhe compra as mercadorias. Mas compra essas
;100 libras de mercadorias com o dinheiro de C, e não com fundo
pr6prio. E com isso, imagina Tracy, volta a C a renda que este pagou
a O. Que imbedlídade! Primeiro disparate.
Segundo, diz-nos o próprio Destutt que renda -da terra e renda
de dinheiro são apenas deduções do lucro do capitalista industrial,
logo, meras cotas de lucros transferidas aos ociosos. Supondo-se, en-
tão, C embolse por uma tática qualquer toda essa cota, embora nem
por uma ou por outra das maneiras descritas por Tracy, noutras pa-
lavras, o capitalista C não pague renda alguma nem ao senhorio nem
ao capitalista financeiro, retendo seu lucro na totalidade; nessas con·
dições, tratar-se-ia justamente de explicar donde o tirou, como o obte-
ve, como surgiu esse lucro. Por não o explicar a circunstância de C
ter ou reter o lucro, sem transferir uma fração ao senhorio e ao ca-
pitalista fimmceiro, tampouco se pode explicá-lo dizendo-se que e
(em parte ou no todo) faz refluir, de uma maneira ou de outra, das·
mãos dos ociosos para as suas, a cota de lucro que lhes transferiu
numa ou noutra rubrica. Segwido disparate!
Abstraiamos desses disparates. Pela terta ou capital que O (o
ocioso) lhe alugou, C tem de lhe pagar renda no montante de 100
hbras. e, de seu lucro (donde provém ainda não sabemos) paga-lhe
100 libras. Então vende a O seus produtos, consumidos diretamente
por O ou pelos criados deste (os assalariados improdutivos), e os
vende caro, digamos, 25% acima do valor. Vende-lhe, por 100 libras,
produtos que valem 80. Sem dúvida C consegue af lucro de 20 libras.
Deu a O um crédito p'Sta 100 libras de mercadorias. Quando O utiliza
o crédito, C s6 lhe fornece 80 libras de mercadorias, elevando o preço
no.tDinal das mercadorias em 25 % acima do valor. Se O se conten-
tasse em consumir 80 libras em mercadorias e pagar por elas 100, os
lucros de C nunca poderiam elevar-se acima de 25%. Os preços, o
lucro, repetir-se-iam todos os anos. Màs O quer consumir 100 libras
de mercadorias. Se é dono de terras, que fazer? Hipoteca terra a C
por 25 libras, pelas quais e lhe fornece 20 libras de mercadorias, pois
vende-as 25% ( 1/4) acima do valor. Se é prestamista, entrega 25
libras de seu capital a C, que por isso lhe fornece 20 libras de mer-
cadoria.
Admitamos estar o capital (ou o valor da terra) sendo empres·
tado a 5%. O valor emprestado corresponde portanto a 2 000 libras,
3
Agora ainda monta a 1 975 libras. E sua renda, a 98 __, libras. E
4
257
!JSs.itn prosseguiria O a consumir sempre mercadorias no valor real de
100 libras, mas com o decréscimo progressi\'O e constante de sua ren-
da, pois, para ter 100 libras de mercadorias, é de continuo forçado
a devorar parte cada vez maior do próprio capital. Desse modo, pouco
a pouco C acabaria apoderando-se do capital todo de O, e com o ca-
pital deste viria a renda, isto é, e apropriar-se-ia da parte do lucro,
obtida com o capital emprestado, junto com esse capital. É evidente
que Destutt percebe esse processo, pois continua:
E Destutt, até certo ponto, tem plena razão, embora não tivesse
.-nenhuma no que nos quis explicar. Ao te91po em que declinava a
Idade Média e despontava a produção capitalista, o enriquecimento
tápido dos capitalistas industriais pode em parte explicar-se por meio
<lo logro direto aos senhores das terras. Quando o valor do dinheiro
caiu com as descobertas de minas na América, os arrendatários paga-
vam-lhes, nominal e não realmente, a tenda antiga, enquanto os ma·
nufatores vendía.ro-lhes as mercadorias acima do valor e não apenas
.ao valor acrescido em dinheiro. Do mesmo modo, em todos os países,
como os asíáticos por exemplo, onde a renda principal tem a forma
de renda fundiária nas mãos de senhores das terras, prindpes etc.,
os manufatores, pouco m11nerosos, não dependendo por isso de com-
petição, vendem-lhes as mercadorias a preços de monopólio e apro-
priam-se de parte da renda deles; enriquecem-se não s6 por lhes ven·
derem trabalho "não pngo", mas também por venderem as mercado-
rias acima da quantidade de trabalho ·nelas contida. Destutt deixa de
ter razão só mais uma vez, ao acreditar que os prestatnistas também
se deixam enganar. Pelo contrário, com os altos juros que extraem,
258
pamc1pam daqueles altos lucros, -<!aquela trapaça, de maneira direta
ou indireta. Que Destutt percebeu aquele fenômeno, mostra a se-
guinte frase:
259·
• ,l'
Destutt (francês legítimo; Proudhon tem exclamações semelhan·
tes emque se deslumbra consigo mesmo) maravilha-se da "clareza,..
que esse
260
. 8SFEAc1
"Com o tempo, riquezas se acumulam evt matar - ~
4uantidade, pois o -resultado de trabalhos anteriores não foi de
imediato consumido por completo, quando produzído. Dos do-
nos dessas riquezas, uns contentam-se em extrair delas uma
renda e consumi-la. São os que chamamos de ociosos. Os ou-
tros, mais ativos, fazem trabalhar os próprios fundos _e os que
tomam emprestado. Aplicam-nos para assalariar trabalho, que-
os reproduz com lucro."
261
lucro do trabalho de outrem. As forças produtivas do trabalho s_ão
as forças produtivas do capita.173 •
262
diamante, e por conseguinte pode ter o mesmo valor do se.
gundo, Mas se compro, pago e utilizo ambos, ao fim de meia
bota nada me restará do primeiro, e o segundo pode ser um
fundo para meus netos um século depois. . • O mesmo se dá
com o que se chama" (conforme Say) "de produtos imateriais.
Uma invenção tem utilidade eterna. A utilidade de uma obra do
espírito, de uma pintura é mais ou menos durável, enquanto a
de um baile, de um concerto, de um espetáculo é momentânea
e logo desaparece. O mesmo se pode dizer dos serviços pessoais
dos médicos, advogados, soldados, criados e em geral de todos
aqueles que chamamos de empregados. Sua utilidade é a do mo-
mento em que são necessários. . . O mais ruinoso consumo é
o mais rápido, pois no .mesmo tempo aniquila mais trabalho.
ou em menor tempo, a mesma quantidade de trabalho; por
comparação, o mais lento é o modo de entesourar, pois transfere
para o futuro a fruição de parte dos sacrifícios atuais. . . Todo o
mundo sabe que é mais econômico ter, pelo mesmo preço, uma
roupa que dure três anos que uma semelhante que s6 dure três
meses" (pp. 243-244 ).
263
Aí de nada adianta dizer que produção e consumo são idênticos,
nem que o consumo é o objetivo da produção, nem que a produção é
o pressuposto de todo consumo. A bem dizer, o que - fora a ten-
denciosidade - está no fundo de toda a controvérsia é isto;
Em média> o consumo do trabalhador é igual a seu custo de
produção e não a sua produção. O excedente todo, portanto, produz
ele para os outros, e assim essa parte toda de sua produção é produçã_o
para os outros. Ademais, o capitalista industrial que impele o traba.
lhador para essa superprodução (isto é, além das próprias necessída·
des de subsistência) e utiliza todos os meios para acrescê-la o mai::l
possível, para expandir essa superprodução relativa em contraste com
a produção necessária, de imedfato se apodera do produto excedente.
Mas, personificando o capital, produz por amor à produção e quer
o enriquecimento pelo enriquecimento. Enquanto mero funcionário do
capital, isto é, representante da produção capitalista, o que lhe im·
porta é o valor de troca e seu acréscimo, não o vll.lor de uso e o
aumento de sua magnitude. O que lhe ínteressa é multiplicar a riqueza
abstrata, apoderar-se cada vez mais de trabalho alheio. Está possuído
pela mesma ânsía absoluta de enriquecer do entesourador, com a di-
ferença de se satisfazer não com a forma ilus6ria de amontoar tesouros
de ouro e prata mas sim eom a criação de capitais, que é a produção
real. Se a superprodução do trabalhador é produção para outros, a
produção do capitalista normal, do capitalista ind.usttial como deve set,
é produção pela produção. Ao expandir sua riqueza, esmorece esse
ideal e passa à prodigalidade, já para exibir a riqueza. Mas está sempre
fruindo a riqueza com sentimento de culpa, emboscado na poupança e
.no cálculo. Apesar de toda a prodigalidade,_ continua avaro na es-
sência, como o entesourador. ,
Sismondi afüma que o desenvolvimento das forças produtivas do
trabalho possibilita ao trabalhador obter fruições cada vez maiores,
mas que, se as tivesse, ficaria desqualificado para o trabalho (como
trabalhador assalariado) ( (diz Sitmondi:
264
Por isso, também é um produtor de superprodução, de produção
para os outros. A essa superprodução, de um lado, tem de se contrapor
superconsJmo, do outro; à produção pela produção, o consumo pelo
consumo. O que o capitalista industrial tem de ceder ao dono de ter"
ras, ao estado, aos credores do estado, igreja etc., que só despendem
renda, diminui sua riqueza em termos absolutos, mas mantém-lhe
atuante o impulso de enriquecimento e preserva-lhe a alma capita-
lista. Se os titulares da renda da terra, do dinheiro etc., a consumis-
sem também em trabalho produtivo, em vez de q. fa?.erem em im-
produtivo> malograr-se-ia totalmente aquele objetivo. Eles mesmos se
tornariam capitalístas industriais, em vez de representarem a função
de consumo como tal. Sobre esse assunto examinaremos mais tarde
uma polêmica de alta comicidade entre um ricardiano e um malthu-
sianou.
Sendo em si -(por natureza 7{j) inseparáveis produção e consumo,
e uma vez que estão de fato separados no sistema da produção ca-
pitalista, segue-se daí que a unidade se restabelece, opondo-se um ao
outro, e se A tem de produzir para B, é mister que B consuma para
A. Todo capitalista indivídual quer por sua parte a prodigalidade do
lado daqueles que são co-partícipantes de sua tenda, e analogamente
todo o velho sistema mercantil assenta na ídéia de que uma nação tem
de ser frugal para si mesma, mas tem de produzir o luxo para ser
fruído por nações estrangeiras. É sempre a idéia: produção pela pro·
dução, de um lado, por isso consumo de produção alheia, do outro.
Essa idéia do sistema mercantilista está expressa, por exemplo, em
Dr. Paley, Moral Philosophy, voL II, cnp. XI:
265
1:5. HENRI STORCH. VISÃO NÃO-HISTÓRICA DAS RELAÇÕÉS
ENTRE l'RODUÇÃO MATERlAL E PRODUÇÃO L'"'lTELECTUAL.
SUA CONCEPÇÃO DO "TRABALHO IMATERIAL" :OAS CLASSE>
DO.MINANTES
Henri Storch, Cours d'écon. polítique etc., Ed. de J.-B. Say, Paris,
182.3 (Conferências feitas perante o Grão-Duque Nicolau, conduidas
em 1815), t. III.
Depois de Gamier, é Storch, na realidade, o primeiro polemista
contra a distinção feita por A. Smith entre trabalho produtivo e im-
produtivo, a colocar-se em novo plano.
Dos bens materiais, dos componentes da produção material, se.
para ele os "bens internos ou os elementos da civilização", juntamente
com as leis cuja formação deve ser objeto de estudo da "teoria. da
civilização" (1. e., t. III~ p. 217).
266
Mesmo Storch, na Théorie de la civilisation, embora com obser~
vações esporádicas :inteligentes - por exemplo, a divisão material do-
trabalho é a condição prévia da divisão do trabalho intelectual -
atém-se a frMes triviaís. Tinha de ser assim, nem de longe formidara
ele a própria tarefa, para não falarmos da solução, o que decorre de
uma circunstância única. Para observar a conexão entre a produção
intelectual e a material, é mister antes de tudo apreender esta. não·
como categoria geral, mas em forma histórica definida. Assim, por
exemplo, ao modo de produção capitalista corresponde produção in-
telectual de espécie diferente daquela do modo de produção medieval.
Se não se concebe a própria produção material na forma histórica es-
pecifica, é impossível entender o que é característico na produção.
intelectual correspondente e a :interação entre ambas. Fora disso, fica-se
em lugares-comuns. O que inclui a retumbante palavra "civilização".
E mais: da forma específica da produção material resulta: 1) de-
terminada estrutura da sociedade e 2) determinada relação dos homens.
~'Oro a natureza. As duas determinam o governo e a vísão intelectllíll
dos homens. Em conseqüência, também o gênero da produção inte-
lectual.
Por fim, Storch entende por produção intelectual todas as e.s-
pédes de atividades profissionais da classe dominante, as quais pre-
enchem funções sociais na qualidade de negócio. A existência dessas
camadas, como a função delas, só pode ser entendida a partir da es-
trutura histórica específica de suas relações de produção.
Por não conceber a própria produção material no domínio histó-
rico, por consíderá-la produção de bens materiais em geral e não uma
forma definida, historicamente desenvolvída e específica da produ-
ção, Storch priva.se a si mesmo da única base que possibilíta enten-
der os componentes ideológicos da classe dominante e ainda a pro.
dução intelectual livre. dessa dada formação social. Não pode ir além
.de medíocres generalidades. Em conseqüência, as relações não são
tão simples quanto ele, de antemão, imagina. Por exemplo, a produ-
ção capitalista é hostil a certos setores de produção intelectual, como
a arte e a poesia. Sem aquele requisito chega-se às quimeras dos fran-
ceses no século XVIII, focadas em deliciosa sátíra de Lessing7 ". Se
na mecânica etc. estamos à frente dos antigos, por que não podere-
mos escrever u.tna epopéia? E ter a Henriade77 em lugar da Ilíadn!
Storch, entretanto, acentua com acerto - e critica em especial
Garnier, a bem dizer o pai dessa polêmica dirigida contra Smith -
267
que os. adversários de Smith encaminharam erroneamente o pro,
blema.
268
Aí vão as passagens que foram literalmente copiadas:
269
"Segundo Smith, o legislador dos hebreus era um trab;t·
lhador improdutivo" (1. e., p. 98).
Trata~se de Moisés do Egito ou de Moisés Mendelssohn? Moisés
te.ria manífestado a Mr. Seníor setl repúdio à qualificação de "traba-
lhador produtivon no sentido smithiano. Essa gente está tão subme·
tida a suas ideias fixas burguesas, que acreditaria ofender Aristóteles
-0u Júlio César se os chamasse de "trabalhadores improdutivos". Estes
já considerariam uma ofensa o título de "trabalhadores".
"O doutor que, com uma receita, cura uma criança doente
e assim Jhe assegura a vida por muitos anos, não produz re&ul-
tado durável? ,, ( 1. e. ) •
270
pode-se na realidade provar que todas as relações e funções humanaS":'-
não importa como nem onde se configurem, influem na produção
material e sobre ela atuam de maneira mais ou menos determinante.
27I
Smith nunca negou isso, pois quer reduzir os trabalhadores
improdutivos "necessários", como funcionários públicos, advogados,
padres etc.; ao limite em que seus serviços são indispensáveis. E. este
é, de qualquer modo, a "proporção" em que fazem o trabalho dos
trabalhadores produtivos atingir a maior eficiência. Mas, no tocante
aos outros ªtrabalhadores improdutivos" cujos trabalhos cada um
compra espontaneamente, para fruir os correspondentes serviços, como
artigo de consumo de seu agrado, é mister fazer distinções. O número
desses trabalhadores sustentados por renda é grande em relação aos
.. produtivos", por uma de duas causas: uma é a circunstância de a
riqueza global ser pequena ou elementar, por exemplo, os barões
medievais com seus dependentes. Em vez de consumir mercadorias
manufaturadas de alguma importância apreciável, consúmiam, junto
com os dependentes, seus produtos agrícolas. Na medida em que pas-
savam a substituir estes por artigos manufaturados, era mister pôr os
dependentes a trabalhar. O número dos que viviam de renda s6 era
grande porque grande parte do produto anual não era consumida
reprodutivamente. E a isso correspondia pequena população global.
A outra causa de ser grande o número dos sustentados por renda é a
circunstância de ser grande a produtividade dos trabalhadores produ-
tivos, isto é, seu produto .excedente que os serviçais consomem. Neste
caso, ao invés de o trabalho dos trabalhadotes produtivos não ser pro-
dutivo por haver tantos serviçais, há tantos serviç:ais, por ser ele tão
produtivo.
Tomando-se dois países de população igual e igual desenvolvi·
mento das forças produtívas do trabalho, será sempre çerto dizer, com
A. Smith, que a riqueza de ambos os países deve sef medida de acor·
do com a proporção entre trabalhadores produtivos e improdutivos.
É que isso apenas significa que o número relativamente maior de tra-
balhadores produtivos consome de maneira reprodutiva proporção
maior da renda anual e em conseqüência se produz por ano massa
maior de valores. Senior, portanto~ apenas parafraseia afirmação de
Adam, em vez de a ela contrapor-se com algo novo. Ademais, faz ele
af mesmo a diferença entre os produtores de serviços e os produtores
de valores, e assím nivela-se à maioria desses polemizadores contra a
distinção smithiana: aceitam-na e até a utilizam, ao mesmo tempo que
a tejeítaro.
É significativo que todos os economistas "improdutivos", que
nada produzem na própria especialidade, sejam contra a distinção entre
trabalho prcxlutivo e trabalho improdutivo. Mas, expressam a subser-
viência ao burguês, ao apresentar todas as funções a serviço da produ-
ção da riqueza para ele e, além disso, afirmam que o mundo burguês
é o melhor de todos os mundos, tudo nele é útil, e o próprio burguês
é basbnte culto para o perceber.
272
Para os trabalhadores afinnam que se justifica o grande volume
de produtos consumidos pelos improdutivos, pois estes contribuem
tanto para a produção da riqueza quanto os trabalhadores, embora a
seu modo.
Nassau, por fim, desabafa e mostra que não entendeu palavra
alguma da distinção essencial de Smith. Diz:
"Na realidade parece que Smith no caso concentrou a
atenção toda nas condições dos grandes proprietários das ter·
ras, os únicos a que se poder.iam aplicar de· modo geral suas
observações sobre as classes improdutivas. Não posso encon-
trar outra maneira de explicar sua suposição de que o capital se
emprega apenas para manter trabalhadores produtivos, enquan-
to os improdutivos vivem de renda. A maior parte dos que
chama, com preeminêncía, de ímprodutivos - os professores e
os que regem o Estado - é sustentada ã expensas do capital,
isto é, por meio do que é despendido, com anteced~ncia, p(ll'a a
t·eprodução., (1. c., pp. 204-205).
273
obter sucesso, tem o produtor desses meios direito a recompen-
sa, mesmo quando não se tenha atingido o sucesso ou produzi-
do o resultado esperado. A troca se completa quando se dá o
conselho ou o ensino e se recebe o pagamento correspondenten
(1. e., pp. 288-289).
Af vem sapiência:
274
mental é meio indireto de produção . . • Quem fabricou esse
chapéu tem de reconhecer que concorrem pata a produção o
guardn que passa na rua, o juiz que tem assento no tribunal, o
carcereiro que recebe um criminoso e o mantém preso, o exérci-
to que defende as fronteiras contra as invasões do inimigo"
(p. 272).
275
mente como o fazem os tribunais e o Estado, "emprega força, utili-
za-a de certo modo, produz resultado que satisfaz necessidade hwna·
na" (p. 275), isto é, a sua própria e talvez, ainda, a da mulher. e dos
filhos. É portanto trabalhador produtivo, se se trata apenas de produ.--
zir "resultado,. que satisfaça "necessidade", ou, como nos casos pre·
cedentes, se a questão exclusiva é vender os se.rviços para que sejam
"produtivos".
2. "Segundo erro consiste em não distinguk a produção
direta da indireta,"
276
CQm o modo capitalista, e no qual é impossivel o desenvolvimento
das forças produtivas do trabalho, como o que a produção capitalista
acarreta. É signilicativo que essa diferença específica não seja essen-
cial pata Rossi e quejandos.)
"Ao tomar um criado, compro uma força utilizável numa
centena de serviços cujos resultados dependem do uso que fizer
dessa força" (p. 276).
277
de trabalhos produtivos? Entre essas idéias não existe, é claro,
ligação alguma adequada para legitimar semelhante dedução.
Po.i: que, ao invés de comprar o resultado, comprasse a força
necessária para produzi-lo, não Jeria produtiva a ação dessa for-
ça e o produto não seria riqueza? Retomemos o exemplo do
alfaiate. Se compro roupa feita no alfaiate ou se a mando fazer
por um oficial a quem se dão material e salário~ as duas coisas,
quanto aos resultados, sempre se igualam. Ninguém dirá que a
primeira é trabalho produtivo, e a segunda, trabalho improduti-
vo; só que, no segundo caso, quem queria a roupa tornou-se
seu próprio empresário. Então, que diferença há, do ingulo
.das forças produtivas, entre o oficial que você mandou vir à
sua casa e seu criado? Nenhuma" (1, c., p. 277).
278
tocante ao criado, tem ele em comum com o oficial II - que compre>
por causa do valor de uso de seu trabalho - a mesma determínação-
formal. S6 que aí, em virtude da mane.ira como se frui o valor de uso,
entra uma ligação patriarcal, uma ligação entre senhor e fâmulo, o
que altera o conteúdo - embora não a forma econômica - da tela.
ção e a toma repugnante.
Aliás, em outras palavras Rossi aí repete Garnier:
27(j'
para o trabalho intelectual e assim por diante. o· policial poupa-me o
tempo de ser meu próprio guarda; o soldado, o de me defender; o
funcionário do governo, o de me governar; o engraxate, o de polir
meus sapatos; o padre, o de meditar, e assim por diante.
Nesse domínio, o que é certo é a divisão do trabalho. Todos,
além de seu trabalho produtivo, teriam certas funções a executar, que
não seriam produtivas e em parte entram nos custos de consumo. (Os
verdadeiros trabalhadores produtivos têm eles mesmos de arcar com
esses custos de consumo e executar seu trabalho improdutivo.) Se
esses serviços são agradáveis, o amo os executa, de vez em quando,
para o servo, como prova o direito à primeira noite, ou como o de-
monstra o sacrifício de governar a que os senhores sempre se sub-
.meteram. Por isso, de modo algum se suprime a diferença entre traba-·
lho produtivo e improdutivo; pelo contrário, essa diferença se revela
resultado da divisão do trabalho e até ai incentiva a produtividade
geral dos trabalhadores, tornando o trabalho improdutivo função ex-
clusiva de uma parte dos trabalhadores, e o produtivo função exclusiva
da outra.
Mas, o trabalho de uma massa de criados, destinado a mera
exibição, a satisfazer vaidades, "não é improdutivo": por quê? Por-
que produz algo, satisfação da vaidade, ostentação, exibição de riqueza
( 1. c., p. 277 ) . Aí mais uina vez a sandice de que toda espécie de ser-
viço produz algo: a cortesã, lascívia; o homicida, a_ssassínio etc. Aliás,
Smith disse que toda espécie desses refugos tem seu valor. Faltava
ainda a hipótese de serem esses serviços realizados de graça. Não se
trata disso. Mas, mesmo que o fossem, nada acrescentariam à riqueza
( material). .-
E agora a literatice:
(Que delícia! )
280
Que tolice!
No sentido que Rossi dá à riqueza, o de valor de uso, justamente
o consumo, seja lento ou rápido (a duração depende de sua própria
natureza e da do objeto), e só o consumo converte o produto em ri-
queza. O valor de uso só tem valia para o uso, e sua existência para
o uso é apenas a existência de um objeto de consumo, a existência no
consumo. Beber champanha não é consumo produtivo, embora possa
produzir "ressaca", e tampouco o é ouvir música, embora ela deixe
"uma recordação". Se a música é boa e o oqvinte entende de música,
o consumo de sons é superior ao de champanha, embora a produção
desta seja um "trabalho produtivo" e a daquela não.
281
,cnônia etc. apena.s prejudicar "os trabalhadores produtivos", e cuja
.tendência está caracterizada por esta síntese; tal
282
arruinarem o Estado, as de seus súditos nunca o farão" ( t. II,
l. II, cap. III, ed. McCullocb. p. 122).
(tem valor, custa por isso um equivalente, mas não firoduz valor)
28J
Contudo. a burguesia alcança o domínio, apoderando-se ela. mes-
ma do Estado ou estabelecendo um compromisso com os antigos ~.iti.
gentes: reconhece os ptofíssionais ideol6gicos como carne de sua carne
e os transforma em funcionários a ela apropriados; não é mais como
representante do trabalho produtivo que os confronta; os verdadeiros
trabalhadores produtivos erguem-se contra ela e dizem que ela vive da
atividade de outras pessoas; está bastante educada para não se deixar
absorver de todo pela produção, mas para querer um consumo "refiw
nado"; mais e mais os trabalhos intelectuais se realizam a seu serviço,
põem-se a serviço da produção capitalista: como resultado imediato
dessas ocorrências, as coisas mudam, a burguesía procura, no "plano
econômico", legitimar) de seu próprio ponto de vista, o que criticara e
combatera antes. Nessa linha, seus portawvo2es e forjadores de cons·
ciências perfumadas são os Garniers etc. Acrescente~se aí que esses
economistas por sua vez sacerdotes, professores etc., empenham-se em
demonstrar sua utilidade "produtiva", ein justificar seu salário "'no
domínio econômico".
A segunda passagem, referente à escravatura, diz (1. c., t. III, l.
IV, cap. IX, pp. '49 a 551, ed. Garniet) ~
"Essas ocupações (de ar:tesão e de manufator} "eram con·
sideradas" (em vários estados da Antigüidade) "próprias apenas
para escravos, e proibia-se aos cidadãos livres que as exercessem.
Mesmo nos estados onde não vigorava essa proibição, como em
Atenas e Roma, o povo estava de fato . excluído de todas as
ocupações que hoje a classe mais baixa da população urbana
costuma exercer. Em Atenas e Roma, essas ~tívidades cabiam
aos escravos da classe i:icà, os quais as e»:erciarii em proveito dos
senhores; e a riqueza, o poder e a proteção destes tornavam
quase impossível a um pobre livre achar' mercado para o produto
de seu trabalho, quando competia com o escravo do rico. Mas,
é difícil espírito inventivo entre escravos, e as melhotias mais
vantajosas que facilitam e abreviam o trabalho, seja por meio
de máquinas ou de coordenação e distribuição das ~refas, foram
todas descobertas de homens livres. Mesmo que ocorresse a um
escravo propor melhoria dessa natureza, o senhor estaria íncli-
nado a considerar essa proposta motivada pela preguiça e pelo
desejo do. escravo de poupar.se da fadiga às custas de seu dono.
O pobre escravo, em vez de receber recompensa, seria provavel-
mente muito injuriado, talvez castigado. Por isso, nas manufa-
tuiàs exploradas com escravos, para se obter a mesma quantidade
de produto, em geral emprega-se mais trabalho que naquelas
que se exploram com homens livres. Esta a razão por que o
produto dos primeiros deve em regra ser mais caro que o doii
284
últimos. As minas h(mgaras, observa Montesquieu, embora não
sejam mais ricas que as turcas situadas na vizinhança, foram sem-
pre exploradas com menor custo e por conseguinte com mais
lucro. As minas turcas são exploradas por escravos, e os braços
desses escravos são as ánicas máquinas que os turcos até boje
pensaram em empregar. As minas húngaras são exploradas por
homens livres, que, para facilitar e abreviar o próprio trabalho,
empregam grande quantidade de maquinaria. Do pouco que se
sabe sobre o preço das manufaturas nos tempos dos gregos e ro-
manos, parece que aquelas de qualidade superior eram excessi-
vamente caras."
285
efetlie em. artigos de consumo mais ou menos perecíveís61 • Aí transluz
portanto ·o sistema monetário; e essa transparência tem de ocorrer,
Um'!! vez que mesmo no consumo direto perdura a cilada de o artigo
de consumo continuar sendo 1·iqueza, mercadoria, unidade portanto de
valor de uso e de valor de troca) a qual depende da durabilidade que
tem o valor de uso, isto é, apenas da lentidão com que o consumo
elimina sua faculdade de ser mercadoria ou portadora do valor de
troca.
Segundo. Em sua segunda distinção ei:itre trabalho produtivo e
improdutivo> Smith recua por completo - com mais pormenores -
à diStinção feita pelo sistema monetário.
O trabalho produtivo
81 :Marx tem aí em vista as seis últimas seções do cap. IIl, do livro II,
da obra An inquiry ínio the nature and causet of tlie wealth of natimu, de
Smith, que nelas investiga em que medida os diferentes típo.s de dispêndio
de renda (revenue) co1urihuem. para a riqueza soeial. Smith acha que e.'!Sa
contribuição depende da natureza dos ohjetoo de uso, do grau de sua durabili·
dade. Mane. menciona esse ponto de vista de Smith, neste volume, p. 263.
286
Jhadores improdutivos nunca se reC';)nvertetn em dinheiro. Não posso
pagar dívidas, nem. adquirir mercadorias, nem comprar trabalho pro-
dutor de mais-valia com os serviços que pago ao advogado, médíco,
padre, músico etc., ao homem público, ao soldado etc. Esses serviços
desaparecem como os artigos de consumo perecíveis.
Assim, no fundo, Smith díz o mesmo que o sistema monetário.
Para este s6 é ptodutivo o trabalho que produz dinheiro, ouro e prata.
Para Smith é produtivo apenas o trabalho que produz dinheito para
o comprador, só que ele percebe em todas as mercadorias, embora
oculto, o caráter de dinheiro, enquanto o sistema monetário o vê cx.du-
sivamente na mercadoria que é a existência autônoma do valor de
troca.
Essa distinção funda~se na essência da própria produção burgue-
sa, pois a riqueza não se iguala a valor de uso, mas s6 a mercadoria
é riqueza, o valor ·de uso no papel de portador do valor de troca, na
função de dinheiro. O que o sistema monetário não entendia é como
se gera e se multiplica esse dinheíro por meio do consumo das mer-
cadorias, 'e não mediante a conversão delas em ouro e prata, quando
se cristalizam como valor de troca autônomo, mas perdem o valor de
uso e, além disso, não alteram a magnitude do respectivo valor.
287
CAPíTULO V
Necker
288
Necker que o desenvolvimento das forças produtivas do trabalho con·
eprre apenas para que o trabalhador precise de menos tempo a f.im de
reproduzir o ptóprfo salário, para que trabalhe mais tempo, sem ser
pago1 para o empregador. Então parte, com acerto, da base do salário
médio. o salário no nível mínimo. Na essência, o que ocupa não é a
conversão do próprio trabalho em capital e a acumulação do capital
por esse processo, mas, ao contrário, é o desenvolvimento geral da
contradição entre pobres e ricos, entre pobreza e luxo, pois, à medida
que se reduz a quantidade de trabalho bastante para· p.toduzit: os meios
de subsistência necessários, a parte supédlua do trabalho se torna cada
vez maior e por isso pode--se utilizá-la para produzir artigos de luxo.
empregá-la noutra esfera de produção. Parte desses artigos de luxo é
durável; e assim acumulam-se, por séculos, os artigos de luxo nas mãos
.dos que dispõem do trabalho excedente, e a contradição se torna cada
vez maior.
O :importante é que Necker, em suma, derivou do trabalho exce·-
<iente « riqueza das classes que não trabalham - lucro e renda da
terra. Ao observar a mais-valia, deteve-se njl mais-valia relativa, que
não resulta de se prolongar a duração total da jornada, mas de se
reduzir o tempo de trabalho necessário. A produtividade do trabalho
se torna a produtividade do possuidor das condições de trabalho. E a
própria produtividade é igual à redução do tempo de trabalho neces--
sário para produzir determinado resultado. Passem.os às passagens
principais.
Primeiro: De l'adminirtration des finances de la France etc.
( ffiuvres, t. II, Lausanne e Paris, 1789):
"Da sociedade, a. classe cujâ sorte está, por assim dizer, es:
tahelecida por efeito das leis sociais, é composta por todos os
que, por viverem do próprio trabalho, estão submetidos à lei
imperativa dos proprietários" (proprietários das condições de
produção) 41 e são forçados a se contentl:l!' com um salário cor~
f'espondente às necessidades elementa1·es da vida: a concorrência
enti:ç eles e a pressão das necessidades põem-nos em situação de
de.pendência; essas condições não podem mudar" (1. c., p. 286).
289
ªA invenção contínua de instrumentos que simplificaram
iodas as artes mecânicas, aumentou a tiqueza e a fortuna dos
proprietários; parte desses instrumentos, ao diminuir os c_ustos
·áe lavrar a terra, tornou miaior a renda de que podem dispor os
proprietários desses bens; outra parte das descobertas do espí-
rito humano facilitou os trabalhos industriais de tal modo que
os homens que estão a serviço dos ministradores dos meios de
subsistência" (isto é, dos capitalistas) "podem fabricar, no mes-
mo período e pelo mesmo salário, quantidade maior de produtos
de toda espécie" (p. 287), "Admitamos que no último século
eram necessários 100 mil trabalhadores para executar o que se
faz hoje com 80 mil; então, os restantes 20 mil são forçados a
dedicar-se a outtas ocupações, para obter salário; e os novos pro-
dutos do trabalho daí resultantes acrescemo os prazeres e o luxo
dos ricos" (pp. 287-288).
"Pois", prossegue ele, "não se deve esquecer que os salá-
rios em todas as profissões que não exigem talento especial,
correspondem sempre ao pre~ dos meios de subsistência neces-
sárids a cada ttabalhador; assim, a rapidez áa execução, quando
o conhecimento requerido se tornou comum, não traz vanta,gens
para os homens do trabalho, e tem por efeito exclusivo aumen-
tar os meios de satisfazer os gostos e as vaidades dos que dis-
põem dos produtos da terra" {l. c., p. 288). ".Entre os diversos
bens da natureza que a indústda humaná: molda e modifica,
grande número tem uma duração que de muito .excede a normal
da vida: assim, toda geração herda parte do5 trabalhos da an-
terior'' ·
Assim:
"A aceleração dos trabalhos da ifldústria que multiplicou
sobre a terra os objetos de fausto e suntuosidade, o decotrer do
tempo em que se tea1Í2ou a acumulação, e as leis da propriedade
que concentraram esses bens nas mãos de uma única classe da
sociedade ••. , essas grandes fontes de luxo teriam sempre exis--
290
tido, não importa qual tivesse sido o montante do numerário"
(p. 291 ). .
291:
.1;es com relação aos elementos materiais do capital - . que exalta os
propfietários das condições de produção, não por serem eles mesmos
e sim essas condições, de importância decisiva para o trabalho e para
~ produção de riqueza.
Digressão
b)
b"}
l
-----
1 bilhão-------- __ ... -------
,,_ .,.,,. .....
----:.-e} 1 bilhão
"'""--~~-.,...-
-----b') 1 bilhão
d) 1 bilhão-------
293
.Para tornar o quadro mais claro, designo por a, a', a", o que
Quesnay sempre considera ponto de· partida da circulação e por b, e,. '
I'
d e pelos pertinentes b', b ", o elo seguinte da circulaçãoM. :
No quadro, a primeira coisa a notar e que deve ter impressionado W
os contemporâneos é a maneira como aparece a circulação do dinheiro, ~:
determinada apenas pela circulação e reprodlição das mercadorias, de
fato pelo processo de circulação do capital.
cadodas manufaturadas), \.
A linha a"-b" configura a clrculai;ão que encerra as contas entre a l'
classe estéril e a classe produtiva (os rnanufatores compram aos arrenda· t.:
tiirios 1 bilhão cm matérias-primas necessárias para a produção maoufatu·
~aj. f
294 1:
arrendatário 1 bilhão em meios de subsistência. Assim retorna ao ar-
tendatário 1 bilhão em dinheiro, enquanto do produto bruto se dispôs
de 1/5, que em definitivo sai da circulação e entra no consumo. A
seguir, o proprietário compra, com 1 bilhão em dinheiro, 1 bithão em
artigos manufaturados, produtos não-agrícolas. Com essa compra, l/5
adicional dos produtos (agora manufaturados) passa da circulação para
o consumo. Esse bilhão em dinheiro vai para as mãos da classe estéril,
que então compra ao arrendatário 1 bilhão em meios de subsistência.
Assim retorna ao arrendatário o segundo bilhão q!le pagou ao senhor
ela terra, na forma de renda fundiária. A.demais, outro 1/5 de seu
produto reverte para a classe estéril, passando da círculação para o
consumo. No fim desse primeiro movimento, 2 bithões em dinheiro
estão de novo nas mãos do arrendatário. Executaram quatro processos
diferentes de circulação.
Primeiro, serviram de meio de pagamento d.a renda da terra. Nes-
sa função não fazem circula.t parte alguma do produto anual, mas
apenas constituem, na circulação, direito sobre a parte do produto
bruto, a qual equivale a renda da terra.
Segtendo. Com a metade de 2 bilhões, ou seja. com 1 bilhão, o
proprietátio compra meios de subsistência ao arrendatário, e assiin
neles reali.7.a 1 billlão. O arrendatário de fato recupera com esse bilhão
em dinheiro apenas a metade do direito que transferiu para o proprie-
tário, sobre 2/5 de seu produto. Desta vez o bilhão que serve de meio
de compra faz circular nesse montante mercadorias que entram no
consumo final. O bilhão aí só ~erve de meio de compra pata o pro-
prietário da terra, e ele reconverte o dinheiro em valor de uso (mer-
cadoria que vai para o consumo final, comprada corno valor de uso).
Se considerarmos apenas o ato isolado, o dinheiro aí desempenha
para o arrendatário o_ papel exclusivo de meio de compra, que sempre
exerce para o vendedor, isto é, o de se.r a forma transmutada de sua
mercadoria. O senhor da temf transformou seu dinheiro, 1 bilhão, em
trigo; o arrendatário converteu em dinheiro trigo pelo preço de 1 bi-
lhão, realizou o preço. Mas, se observarmos esse ato em conexão com
o precedente ato de circulação, o dinheiro af não se revela simples
metamorfose da mercadoria do arrendatário, o equivalente áureo de
sua mercadoria. Esse bilhão em dinheiro não é mais que metade dos
2 bilhões em dinheiro que o arrendatário pagou ao senhorio na forma
de renda da terra. Por 1 bilhão em mercadorias recebe na verdade 1
bilhão em dinheiro, mas com isso apetzas recupera na realidade o di-
nheiro com que pagou a renda da terra ao senhorio, ou seja, este ·com
o bilhão recebido do arrendatário, compra.J.he 1 bilhão em mercado-
rias. Paga ao arrendatário com o dinheiro dele recebido, sem lhe dar
o equivalente.
295
A recuperação do dinheiro pelo arrendatáriot _considerada em con-
junto com a primeira operaçãot não lhe permite, de início, ver 11ele
simples meio de circulação. Mas essa volta é na essência diversa do
refluxo do dinheiro ao ponto de partida. no sentido de tal refluxo ex-
pressar um processo de rc;!produção.
Por exemplo: o capitalista, ou melhor. para eliminar por com-
pleto a çaracterísti.ca da reprodução capitalista, um produtor gasta
100 libras em matéria-prima, instrumentos de trabalho e meios d~
subsistência dunmte o tempo em que trabalha. Admitamos que não
adiciona aos meios de produção mais trabalho do que despendeu nos
meios de subsistência, no salário pago a si mesmo. Se a matéria-prima
etc. = 80 libras, os meios de subsistência consumidos = 20, será o
produto = 100 libras. Ao efetuar a venda, recupera as 100 libras
em dinheiro e assim por diante. Esse refluxo do dinheiro ao ponto
de partida s6 expressa aí a reprodução contínua. A1 a mera metamor-
fose D-M-D, conversão de dinheito em mercadoria e reconversão de
·mercadoria em dinheiro - essa pura mudança da forma de dinheiro
e de mercadoria - representa ao mesmo tempo o processo de re-
produção. Conversão de dinheiro em mercadorias - meios de pro-
dução e meios de subsistência; a. seguir, essas mercadorias ent:tam no
processo de produção como elementos, e dele saem como produto;
assim, de novo mercadoria como resultado do processo, logo que o
produto acabado reentra no processo de circulação, por.isso de novo,
como mercadoria, confronta o dinheíro, e por fim se recoilvette em
dinheiro, pois a mercadoria pronta só pode set de novo trocada por
seus elementos de produção, depois de se ter transformado antes em
dinheiro.
- Um refluxo constante do dinheiro ao ponto de partida expressa
não só a conversão formal de dinheiro efn me:i:cadoria e de mercadoria
em dinheiro - como aparece no processo de 'circulação simples ou
na mera troca de mercadorias - , mas também a reprodução contínua
da mercadoria pelo mesmo produtor. Troca-se o valor de troca ( di-
nheiro) por tnercadorias que entram no consumo, roas no consumo
reprodutivo ou industtial, utilizadas como valores de uso; por isso,
reproduzem elas o valor orí~al e daí reaparecerem na mesmrz soma.
de dinheiro (no exemplo acima em que o produtor s6 trabalha par_a
obter os meios de subsistência). D-M-D indica aí que, além de D
se converter em M-quanto à forma, M é de fato consumido como valor
de uso, passa da circulação para o consumo, mas para o consumo in-
dustrial, e desse modo seu valor se mantém e reproduz nesse con-
aumo; por isso, D reapatece no fim do processo, e se conserva no
movimento D-M-D.
Ao revés, no reflw.i:o de dinheiro mencionado acima, do proprie-
tário da terra pata o arrendatário, nenhum processo de reprodução
296
oc0rre, É como se o arrendatário desse ao dono da terra fichas ou
cédulas correspondentes a 1 biJhão em produtos. Quando o proprie-
tário utilizasse tal moeda, refluítía ela para o arrendatário que a res-
gataria. Se o proprietário tivesse aceito o pagamento direto em pro-
dutos, de metade da renda, nenhuma circulação monetária teria havi-
do. A circulação aí se restringiria toda a mera mudança de mãos.
Transferência do produto das mãos do arrendatário para as do pro-
prietário. Primeiro, em vez de mercadoria, o arrendatário dá dinhei-
ro ao dono da terra, e depois este restitui àquele o dinheiro, a fim
de obter a mercadoria mesma. O dinheiro, para o arrendatário, é
meio de pagamento, na sua relação com o proprietário; para este, é
meio de compra, na sua relação com o arrendatário. Na primeira
função, afasta-se do arrendatário; na segunda, retorna-lhe.
Essa espécíe de retorno do dinheiro ao produtor tem de ocorrer
toda vez que paga ao credor não com parte de seu produto mas com
o correspondente valor em dinheiro; e quem for co-proprietário de
seu excedente aparece aí como credor. Por exemplo: todos os tri-
butos são pagos em dinheiro pelos produtores. O dinheiro aí é para
etes meio de pagamento em relação ao Estado. Com ele, o Estado
compra mercadorias dos produtores. Nas mãos do Estado, o dinheiro
torna.se meio de compra e assim reflui pata os produtores, e no mes-
mo ritmo as mercadorias· os deixam.
Esse refluxo circunstancial do dinheiro, esse retorno peculiar,
não determinado pela :reprodução, tem de ocorrer em todos os casos
onde se troca renda por capital. O que af faz o dínheiro refluir não
é a reprodução, mas o consumo. A renda é paga em dinheiro, mas
só pode ser consumida em mercadorias. O dinheiro recebido dos pro·
dutores a título de renda tem de lhes ser devolvido, para se obter o
mesmo valor em mercadorias, para se consumir a renda. O dinheiro
com que se paga renda, por exemplo, renda da terra ou juros ou
impostos (o capitalista industrial paga sua renda a si mesmo em
produto ou, ao vender o produto, com a parte deste que constitui
sua renda) tem a forma geral de mefo de pagamento. Supõe-se que
aquele que paga a :renda tenha recebido do credor parte de seu pró-
prio produto; no caso do arrendatário, por exemplo, os 2/5 do pro-
duto, os quais segundo Quesnay constituem a renda. Ele apenas os
possui nominalmente ou de fato.
Por isso, do produto do arrendatário, a parte que constitui a
renda fundiária precisa, p:ua circular entre arrendatário e dono da
terra, apenas de uma soma de dinheiro igual ao valor do produto,
embora esse valor circule duas vezes. Primeiro, o arrendatário paga
a renda em dinheiro; depois, com o mesmo dinheiro o dono da terra
compra o produto. A primeira operação é mera transf~ênda de di·
nhei:ro, pois este só serve de meio de pagamento; assim, supõe-se que
297
a mercadoria pela qual se paga dinheiro já se encontra em poder do
pag11nte e não lhe serve de meio de compra, e que ele não recebe o
equivalente dela, ao contrário, possui de antemão esse equivalente.
Ao revés, na segunda operação, o dinheiro serve de meio de compra,
m,eio de circulação de mercadoria. É como se o arrendatário tivesse,
com o dinheiro que paga a renda, comprado a cota do proprietário no
produto. Com o mesmo dinheiro, assim recebido do arrendatário (e
que este realmente lhe deu, sem receber o equivalente) o proprietá-
rio por sua vez compra o produto ao arrendatário.
A mesma soma de dinheiro que os produtores entregam aos
proprietário de renda na forma de meio de pagamento serve aos pro-
prietários da renda, de meio de compra das mercadorias dos produtores.
Esse duplo deslocamento do dinheiro - das mãos do produtor para as
d.o proprietário da renda, e das mãos deste para as do produtor -
apressa um deslocamento único da mercadoria, isto é, das mãos do
produtor para as do proprietário da renda. Uma vez que se supõe que
o produtor deve parte de seu produto ao proprietário da renda, o
primeiro só posteriormente paga de fato ao segundo, na forma de
renda em dinheiro, o valor da mercadoria que já estava em seu poder.
A mercadoria se encontra em suas mãos. Mas não lhe pertence. Com
o dinheiro que paga na forma de renda, compra-a,_ tornando-a sua
propriedade. A mercadoria portanto não muda de mãos. A circuns-
tância de o dinheiro mudar de mãos expressa apen~s mudança no di-
reito de propriedade relativo à mercadoria, que côntinua, cômo dan-
tes, nas mãos do produtor. Daí esse duplo deslocamento do dinhei-
ro, em que a mercadoria muda de mãos apenas u'11il vez~ O dinheiro
circula duas vezes, para fazer a mercadoria circular uína vez. Mas só
circula uma vez como meio de circulação (meio de compra), enquanto
antes circulou como meio de pagamento, e nessa circulação, confor-
me expus, não se dá desloeamento simultâneo de mercadoria e de
dinheiro.
Na realidade, quando o arrendatário tem o produto, mas não tem
dinheiro, só pode pagar seu produto depois de ter vendido antes sua
mercadoria; esta percorreu portanto a primeira metamorfose, antes
de ele poder utilizá-la como dinheiro pa:ça pagar o senhor da terra.
Mesmo com essa inclusão, o dinheiro se desloca mais que a mercado-
ria. Primeiro realiza-se M-D; vendem-se e convértem-se em dinheir0:
2/5 da mercadoria. Há aí deslocamento simultâneo de mercadoria e
dinheiro. Mas então esse mesmo dinheiro, sem a mercadoria se des-
locar, passa das mãos do arrendatário para as do senhor da terra. Su-
cede, no caso, deslocamento de dinheiro sem deslocamento de mer-
cadoria. É como se o arrendatário tivesse um sócio. Recebeu o di-
nheiro, mas tem de reparti-lo com o sócio. Ou, para os 2/5, é antes
como se um empregado do arrendatário tivesse recebido o dinheiro.
298
um ftc: ..,
299
de pagamento. O capitalista sempre se apropria da mercadoria "tra·
balho" antes de pagá-la. O fato de s6 a comprar para obter utn lucro
com a revenda do produto dela não é razão para ele conseguit: esse
lucro. );; um motivo. E significaria apenas: o capitalista consegue·
lucro com a compra do trabalho assalariado, porque quer obter lucro
revendendo-o.
Segtmáo: Entretanto, do produto adianta ao trabalhador a parte
que a este cabe, na forma de dinheiro, como salário, e assim poupa
ao próprio trabalhador a fadiga, o risco e o tempo de converter pes-
soalmente em dinheiro o segmento da mercadoria a ele devido como
salário. Não deve o trabalhador pagar-lhe por essa fadiga, esse risco
e esse tempo? E em compensação, portanto, receber do produto me-
nos do que lhe caberia?
Com isso lança-se abaixo a relação toda entre trabalho assala.
:riado e capital, e destrói-se a explicação econômica do valor exce-
dente.* Com efeito, do processo resulta que o fundo com que o ca-
pitalista paga o trabalhador assalariado nada .mais é realmente que o
próprio produto deste, e assim capitalista e trabalhador de fato divi-
dem entre si o produto em partes alíquotas. Mas, esse resultado nada
tem a ver com a transação entre capital e salário (sobre a qual re-
pousa a explicação econômka do excedente, derivada das leis da pró·
pria troca àas mercadorias) . O que o capitalista co.rnpra é a díspo-
sição temporária da força de trabalho,** a pagar sQ ·depojs de essa
força ter atuado, se ter materializ.ado em produto: Como em todos
os casos em que o dínheiro tem a função de meio i:le pagamento, com·
pra e venda aqui precedem o desembolso real do cliriheiro· pelo com-
prador. Mas, o trabalhador pertence ao capitalista .·depois daquela
transação, que se conclui antes de com€;çat o processo real de produ-
ção. A mercaáoria, que sai desse processo como ·produto, pertence--lhe
por inteiro. Produziu-a com meios de produção a ele pertencentes, e
com trabalho por ele comprado, embora ainda não pago, com tra-
balho portanto de swt propriedade. É como se não tivesse consumido
trabalho alheio para produzi-la
O ganho que o capitalista faz, o valor excedente que realiza pro-
vém da circunstancia mesma de o trabalhador lhe ter vendido não
trabalho realizado em mercadoria, mas a própria força de trabalho
como mercadoria. Se o trabalhador o tivesse defrontado na primeira
fortna, no papel de possuidor de mercadoria,86 não teria o capitalista
300
LBSF
podido obter ganho, :realizar valor excedente, pois de acordo com a
lei ·do valor trocam-se equivalentes, uma quantidade de trabalho por
igual quantidade de trabalho. O excedente do capitalista decorre da
circunstância mesma de ele comprar do trabalhador não mercadoria e
sim a própria força de trabalho, e esta tem valor menor que o de
seu produto, ou, o que dá no mesmo, realiza-se em quantidade de
trabalho materializado maior que a realizada nela mesma. Mas agora,
para legítímar o lucro, encobre-se a própria fonte e abandoruM;e, por
inteiro, a transação donde ele procede. Uma vez que de fato, sendo
o processo contínuo, o capitalista s6 paga ao trabalhador com o pró-
prio produto deste, uma vez que o trabalhador só é pago com parte
do próprio produto e o adiantamento é mera aparência, passam a
dizer: O trabalhador vendeu ao capitalista sua participação no pro·
duto, antes que este se tivesse convertido em dinheiro, (Talve-.c antes
que pudesse conv.erter-se em dinheiro, pois, embora o trabalho d<>
trabalhador se tenha materializado num produto, é possível que s6
esteja realizada parte da mercadoria vendável, por exemplo, o pedaço
de uma casa.) Assim, cessa o capitalista de ser proprietário do pro-
duto, e com isso anula-se o processo todo pelo qual se apodera grátis
de trabalho alheio. Agora, portanto, confrontam-se possuidores de
mercadorias. O capitalista tem o dinheiro, e o trabalhador lhe vende~
em vez da força de trabalho) mercadoria, isto é, a parte do produto
na qual seu próprio trabalho se realizou.
Dir-lhe-á então o trabalhador: "Dessas 5 libras-peso de fio, por-
exemplo, 3/5 representam capital constante e te pertencem. 2/5, ou
seja, 2 libras-peso representam meu trabalho, novo trabalho adicio-
nado. Tens portanto de me pagar as 2 libras-peso. Pagas-me assim
o valor dessas 2 libras." E assim o trabalhador embolsaria. além do
salário, o lucro, enfim, uma soma de dinheiro igual à quantidade do
trabalho por ele adicionado, materializado na forma de 2 libras-peso
de fio.
"Mas", diz o capitalista, "não adiantei o capital constante?"
"Bem'', diz o trabalhador, "por isso retiras 3 libras-peso e só
me pagas 2.»
"Mas", insiste o capitalista, "não podias materializar teu tra-
balho, fiar, sem meu algodão e roeus fusos! Tens de me pagar esse
enra."
"Bem", diz o trabalhador, "o algodão teria apodrecido e os fusos,
enferrujado, se eu não os tivesse utilizado para fiar. A 3 libras-peso
de fio, que retiras, na verdade representam apenas o valor de teU'
algodão e de teus fusos, consumidos e portanto contidos nas 5 libras
.de fio. Mas, s6 meu trabalho é que manteve o valor do algodão e
dos fusos, utilizando esses meios de produção como tais. Por essa
capacidade de meu trabalho, de conservar valor, nada te cobro, pois.
301
~a nenhum tempo de trabalho me custou além da própria fiação por
que optenho 2 libras-peso. É um dom natural de meu trabalho, dom
que nada me custa, mas preserva o valor do capital constante. Nad·a
te cobro por isso, e tampouco me deves cobrar por não ter podido
fiar sem fusos e sem algodão. E sem fiação, teus fusos e algodão não
valeriam wn centavo."
Encurralado, diz o capitalista: "Na realidade, as 2 libras-peso de
fio valem 2 xelins. É o montante que representam, de teu tempo de
trabalho. Devo pagá-Ias a ti, antes de as ter vendido? Talvez nem
as venda. Este é o risco n.º 1. Segundo, talvez as venda abaixo do
preço. Este é o risco n.0 2. E terceiro, seja como for, custa tempo
vende-Ias. Devo assumir de graça os dois riscos e, ainda por cima, o
custo da perda de tempo? Só quem morre tem tudo grátis."
"Um momento", responde o trabalhador, "que relação há entre
nós? Confrontamo-nos na qualidade de donós de mercadorias, sendo
tu o comprador, n6s outros, os vendedores, pois queres comprar nossa
cota no produto, as 2 libras-peso, e na realidade elas só contêm nosso
tempo de trabalho materializado. Agora afirmas que temos de vender
nossa mercadoria abaixo do valor, e daí resulta receberes em merca-
doria valor maior que o que tens agora em dinheiro. O valor de nossa
mercadoria é igual a 2 xelins. Queres dar por ela apenas 1 xelim, e
uma vez que 1 xelim contém tanto tempo de trabalho quanto 1 li-
bra-peso de fio, por esse meio receberias, na troca, o dobro do valor
que dás. Nós, ao contrário, em vez de o equivalent~, -receberíamos a
metade do equivalente, em lugar do equivalente· a· 2 libras, o equi-
valente a 1 libra apenas. E em que apóias essa exigência que con-
traria a lei dos valores e da troca das mercadorias ná _proporção dos
valores? Em quê? Na drmnstância de seres cçimprador e nós ven·
dedores, de nosso valor consistir na forma de fio, de mercadoria, e
teu valor, na forma de dfohei.ro, e o valor na forma de fio contrapor-se
a valor idêntico na forma de dinheiro. Mas, caro amigo, isso é mera
mudança de forma, concernente à representação do valor, mas que
deixa inalterada a magnitude do valor. Ou alimentas a idéia· pueril de
que toda mercadoria deve ser vendida abaixo do preço, isto é, da soma
em dinheiro que expressa seu valor, porque na forma de dinheiro
obtém valor maior? Mas rufo, meu caro, não obtém valor maior; a
magnitude do valor dela não se altera, apenas se apresenta pura como
valôr de troca.
Ademais, refÍete, meu caro, a que inconvenientes te expões a ti
mesmo. ~ que tua afirmação reduz-se a que o vendedor tem sempre
de vender a mercadoria abaixo do valor ao adquirente. Sem dúvida
foi o que sucedeu antes comigo quando ainda não te vendíamos nossa
mercadoria e sim nossa própria força de trabalho. Na verdade, tu a
compravas pelo valor, mas compravas nosso próprio trabalho abaixo
302
do valor em que se expressa. Apaguemos porém essa lembrança de-
sagradável. Felizmente saímos dessa situação a partir do momento
em que - em virtude da tua decisão, temos de te vender não mais
nossa força de trab-alho na qualidade de mercadoria, mas a própria
mercadoria, produto de nosso trabalho. Voltemos aos inconvenientes
a que te expões. Segundo a nova lei que estabeleceste, o vendedor
paga a convei:são da mercadoria em dinheiro, não com a mercadoria
- com a troca de mercadoria por dinheiro - , mas o fa~. vendendo
a mercadoria abaixo do valor; essa lei, pela qual o comprador sempre
engana e lesa o vendedor, tem de se aplicar por igual a todo com-
prador e vendedor. Admita-se que aceitamos tua proposta, mas sob
a condição de te subordinares tu mesmo à nova lei que decretaste,
isto é. a lei pela qual o vendedor tem de entregar de graça ao com-
prador parte de sua mercadoria, para que este a converta em dinheiro
para aquele. Compras assim nossas 2 libras-pes'?~ que valem 2 xelins,
por l xelim e assim lucras l xelim ou 100%. Mas tens agora nas
mãos 5 libras de fio no valor de 5 xelins, depois de nos teres com-
prado as 2 libras que nos pertenciam. Pensas então fazer um bom
negócio. As 5 libras-peso só te custam 4 xelins e queres vendê-las
por 5. 'Alto lá', diz teu comprador. 'Tuas 5 libras de fio são merca-
doria, e és comprador. Possuo o mesmo valor em dinheiro e sou
comprador. Por conseguinte, de acordo com a lei por ti reconhecida,
tenho de lucrar 100% às tuas custas. Por isso, tens de me vender as 5
1
libras de fio, 50% abaixo do valor, por 2 - - xelins. Dou·te então
2
1
2 -·····-- xelins e recebo em troca mercadoria no valor de 5 xelins e
2
assim extraio de ti lucro de 100%, pois o que é justo vigora para
todos.'
Vês, caro amigo, aonde te leva tua nova lei; terias simplesmente
enganado a ti mesmo, pois, embora no momento sejas comprador,
depois és, por tua vez, vendedor. Neste caso perderias como vende-
dor mais do que terias ganho como comprador. E reflete bem! Antes
<le existirem as 2 libras-peso de fio que queres nos comprar agora,
não fizeste outras compras sem as quais as 5 libras de fio de modo
nenhum teriam s.ido fabricadas? Não compraste antes algodão e fu-
sos, que agora estão representados em J libras de fio? Confronta·
ram-te, então, como vendedores, o corretor de algodão em Liverpool
e o fabricante de fusos em Oldha.m, e tu a eles, como cornprodor; re-
presentavam mercadoria, e tu dinheiro - justamente a mesma re-
lação que temos no momento a honra ou o desgosto de msnter. O
experto corretor de algodão e teu jovial colega de Oldham não teriam
JOJ
rido na tua cara, se tivesses exigido que te cedessem de graça parte
do algodão e dos fusos, ou, o que dá no mesmo, que te vendessem
essas mercadorias abaíxo do preço (e do valor), por que t..-onvertias
para eles mercadoria em dinheiro, enquanto eles convertiam paí:a ti
dinheiro em mercadoria, porque des eram vendedores e tu compra-
dor? Nada arriscavam, pois obtinham o dinbeíro vivo, o valor de
troca em forma pura, autônoma. Tu, ao contrário, que risco enfren-
tavas? Primeiro, fazer o fio coni os fusos e o algodão, percorrer to-,
dos os riscos do processo de produção e, por firo, o risco de vender.
em contrapartida, o fio e de o reconverter em dinheiro. O risco ele
ocorrer a venda pelo valor, acima ou abaixo dele. O risco de 'não
vendê-lo de modo nenhum, de não reconvertê-lo em dinheiro; a qua-
lidade de fio não te despertou o menor interesse. Não comeste nem
bebeste fio> nem tinhas aplicação alguma para ele, exceto a de o ven-
der. E de qualquér modo a perda de tempo de reconverter o fio em
dinheiro, a conversão implícita, portanto, de fusos e algodão em
dinheiro. Teus colegas te responderam: 'Meu velho, não te faças de
louco. Não digas disparates. Por que diabo nos iríamos preocupar com
o que pretendes fazer de nosso algodão e nossos fusos? Faze o que
quiseres. Queima-os, manda-os para o inferno, lança-os aos cães, mas
paga-os. Que idéia! Devemos presentear-te com nossos bens porque
te estabeleceste como f:iandei_ro e parece que não te sentes de todo à
vontade nesse ramo de negócio e exageras os riscos e .perigos! De·
siste de fiar algodão, ou não tragas ao mercado essa_s ideias ridículas'".
A essa apóstrofe dos trabalhadores, o capitalista, com um sorriso
fidalgo, retruca: "Vê-se que vocês, minha gente, ouviram o galo can-
tar, mas não sabem onde. Falam de coisas de que ~ão entendem.
Acreditam que paguei dinheiro vivo ao velhaco de Liverpool e ao
gajo de Oldham? Nem sonhando. Paguei-os com l7tras, e o algodão do
velhaco de Liverpool estava de fato fiado e vendido antes que as
letras dele se vencessem. Com vocês, a coisa é outra. VocAs querem
dinheiro vivo."
"Muito bem", dizem os trabalhadores, "e o que fizeram o velha~
co de Líverpool e o gajo de Oldham com tuas letras?"
Retruca o capitalista: "Que fizeram com elas? Estúpida pergun.
ta! Depositaram-nas nos bancos onde as descontaram."
"Quanto pagaram ao banqueiro?"
"Vejamos. O dinheiro é agora muito barato, O dinheiro agora
está baratíssimo. Penso que pagaram cerca de 3% de desconto; quer
dizer, não 3% sobre o total, mas o percentual que incide sobre esse
total no prazo de vencimento da let:ta e que corresponda a 3 % . no
todo> para uma letra que vence após o decurso de um ano inteiro."
"Melhor ainda", dizem os trabalhadores. "Pague-nos dois xelins,
o valor de nossa mercadoria., ou, digamos, 12 xelins, pois as contas
304
que até hoje fizemos por dia, queremos acertar por semana. Mas tire
desse montante por 14 dias, o juro anual de 3 % . "
"Mas essa letra constitui quantia pequena demais", diz o capi-
talista, "para que um banqueiro qualquer a desconte."
"Bem", replicám os trabalhadores, "somos 100 homens. Assim,
você tem de nos pagar 1 200 xelins. Dê-nos uma letra desse mon-
tante. Perfaz ela 60 libras esterlinas e não é soma pequena demais
para ser descontada; além disso, quando você mesmo a desconta, a
soma não lhe deve ser desprezível, pois é o mesmo montante donde
o
vore retira o lucro sobre nosso trabalho. desconto sería insignifi-
cante. E uma vez que receberíamos intacta a lllàÍor parte de nosso
produto, breve estaríamos tão longe que não mais precisaríamos de
seu desconto. É claro que não lhe daremos crédito por mais tempo
que os quatorze dias que lhe concede o corretor de bolsa."
Se o salário (com a inversão total da relação) derivar-se do des-
conto da parte, pertencente aos trabalhadores, do valor do produto
total - da circunstância de o capitalista lhes pagar essa parte, ante·
cipadamente, em dinheiro - teria ele de lhes dar letras de curtíssimo
prazo, como aquelas, por exemplo, com que ele mesmo paga ao cor-
retor de algodão etc. O trabalhador receberia a maior parte de seu
produto, e o capitalista logo cessaria de ser capitalista. De proprie-
tário do produto passaria a mero banqueiro dos trabalhadores.
Ademaís, pata o capitalista, o risco de vender a mercadoria abai-
xo do valor corre, por igual, com o ensejo de vendê-la acíma do
valor. Se o produto é invendável, o trabalhador é lançado no olho
da rua. Se o preço do produto fica por longo período abaixo do
preço de mercado, o salário cai abaixo da média e trabalha-se em
regime de tempo parcial. O trabalhador. portanto, corre o risco maior.
Terceiro: A ninguém ocorre que o arrendatário, por ter de pagar
a tenda da terra ein -dinheiro, ou que o capitalista industrial, por ter
de pagar o juro em dinheiro - isto é, para pagá-los, têm ru1tes de
converter seu produto em dínheiro - tenham por isso o direito de
subtrair parte dessa renda ou desse juro.) ) )
305
perante os capitalistas particulares~ mas a totalidade que se conf!.gura
~ dinheiro.) Em sí, esse retomo não significa reprodução. Com di-
nheiro> o capitalista compra trabalho do trabalhador; com o mesmo
dinheiro; o trabalhador compra tnercadoría do capitalista. O mesmo di-
nheiro toma primeiro a forma de meio de compra de ·trabalho, e
depoic; a de meio de compra de mercadoria. Seu retorno pata o capi-
talista decorre de este aparecer primeiro no papel de comprador e
depois, perante as mesmas ~rtes 1 reaparecer no de vendeclor. Quan~
do comprador, o dinheiro vai embora; quando vendedor> o dinheiro
lhe retorna. O trabalhador, ao contrário, aparece primeiro como ven-
dedor e depois reaparece como comprador; po11:anto primeiro recebe
o dinheiro e depois o gasta, enquanto, para ele, o capitalista pri-
meiro gasta e depois embolsa o dinheiro.
Com o capitalista dá-se o movimento D-M-D. Com dinheiro com-
pra mercadoria (força de trabalho); com o produto dessa. força de
trabalho ( me1·cadoria) compta dinheiro, ou seja, vende por sua vez o
produto a quem era antes vendedor, o trabalhador. Este, ao contrá-
rio, representa a circulação M-D-M. Vende sua mercadoria (força de
trabalho). e com o dinheiro por que a vendeu resgata parte do pró-
prio produto (mercadoria). Na verdade poder-se-ia dizer: o trabalha-
dor vende mercadoria (força de trabalho) por dinhefro> gasta-o em
metcadoria e então de novo vende a força de trabalho, de modo que
também representa D-M-D; e, uma vez que o dinheiro oscila sempre
entre ele e o capitalista, poder-se-ia por igual diier, segundo a gente
se ponha do lado de um ou do outro, que ele como -o capitalista, re·
presenta o movimento D-M-D. O capitalista, entte~anto, é o com·
prador. O processo se renova a pa1·tir dele, não do trabalhador, en-
quanto é inevitável o retomo do dinheiro, p,ois o uabalhador te~
de comprar meios de subsistência. Patenteia-se a{ - como em todos
os movimentos onde D-M-D é a forma da circulação de uma parte,
e M-D-M é a da outra - .que o objetivo do processo de troca é, de
um lado, valor de troca, dinheiro, seu acréscimo portanto, e, do outro,
valor de uso, consumo. É o que também se dá ao refluir o dinheiro
no primeiro caso considerado, onde D·M-1;>, do lado do arrendatário,
é M-D-M, do lado do senhorio, levando.se em conta que o D q:im·
que ·e1e compra mercadoria do arrendatário é a forma monetária rur
tenda da terra, já portanto o resultado de M·D, a forma transmuta-
da da parte do produto, a qual em última análise pertence como
produto ao dono da terra.
Esse D-M-D, quando expressa, entre trabalhador e capitalista, o
mero retomo a este do dinheiro que desembolsou em salário, não
significa em si processo de reprodução, tnas apenas que o comprador,
em relação às mesmas partes contratantes, se torna por sua vez ven-
dedor. Tampouco representa o dinheiro na função de capital, como
J06
por exemplo em D-M-D', onde D' seria uma soma de dinheiro supe-
rior ao prítneiro D, que portanto significaria valor que acresce por
si mesmo (capital). Ao contrário, é simples expressão do refluxo
formal da mesma soma de dinheiro (com freqüência até menos) ao
ponto de partida. (Capitalista aqui significa, naturalmente, a cla.<1se
capitalista.) Estava eu portanto errado, ao dizer, na parte primei·
ra,ill que a forma .D-M-D tem de ser em tudo igual a D-M-.D'. Pode
exprúnír a mera forma de o dinheiro refluir, como ali mesmo já indi-
quei, ao explicar a rotação do dinheiro voltando ao ponto de parti-
da, pela circunstância de o comprador tornar-se por sua. vez vende-
dor.88
Não é por meio desse refluxo que o capitalista se enriquece. Pa-
gou, por exemplo, 10 xelins de salário. Com esses 10 xelins o tra·
balhador lhe compra mercadoria. Deu ao trabalhador, pela força de
trabalho» 10 xelins em mercadoria. Se lhe tivesse dado em produtos,
meios de subsi..<1tência no montante de 10 xelins. não teria havido
cittulação de dinheiro, nem retorno do dinheiro, portanto. Assim, o
fenômeno do retorno nada tem a ver com o enriquecimento do capi-
talista, que decorre unicamente de este, no processo de produção mes·
mo, apropriar-se de mais trabalho do que dele despendeu em salário,
e de seu produto ser por isso maior que os custos de produzi-lo, en-
quanto o di11heiro que paga ao trabalhador em nenhum caso pode
ser menor que o dinheiro com que o trabalhador lhe compra merca·
daria. Esse retorno formal nada tem a ver com o eruiquecimento,
nem expressa por conseguinte D como capital, e tampouco o retorno
do âinhejro - despendido em renda da terra, juros e impostos -
para quem paga essa renda, juros e impostos, contém acréscimo ou
reposição de valor~
D-M-D, quando representa o refluxo formal do dinheiro para o
capitalista, significa tão-só que o direito de haver que ele emitíu em
dinheiro se reallz.ou eJn sua própria mercadoria.
Como exemplo da falsa interpretação desse circuito monetário -
essa volta do dinheiro ao ponto de partida - ver acima Dcstutt de
307
Tracy.so. Como segundo exemplo, destacando a circulação monetária
entre trabalhador e capitalísta, citar mais adiante Bray.9() Por f.in1,
Proudhon,fi1 c::om referência ao capitalista que empresta dinheiro.
Essa forma de refluxo D.M-D aparece onde quer que o compra-
dor se torne por sua vez vendedor, por conseguinte sempre no ca-
pital comercial, onde todos os compradores compram uns dos outrOS 7
para vender, e vendem para comprar. É possível que o comprador
- D - não possa vender a mercadoria, arroz por exemplo, a preço
superior ao da compra; tem talvez de vendê-la abaixo do preço. Ai
haveria apenas mero refluxo do dinheiro, pois a compra se converte
en1 venda, sem ter D se comportado coroo valor que acresce, como
capital.
Do mesmo modo, na troca do capital constante. O construtor de
máquinas compra ferro do produtor de ferro e lhe vende máquinas.
Neste caso o dinheiro reflui. Foi despendido como meio de compra
de ferto. Serve então ao produtor siderúrgico de -meio de compra de
máquinas e assim retorna ao constmtor de máquinas. Este, pelo
dinheíro que deu, recebeu o ferro, e pelo dinheiro que recebeu, deu
a máquina. O valor do mesmo dínbeiro circulou duas vezes. Por
exemplo, com 1 000 libras o construtor de máquinas comprou ferro;
com ª"'mesmas 1 000 libra~, o produtor de ferro compra maquinaria.
O valor todo do ferro e da maquinaria =
2 000 librªs. Mas, assim
tem de estar em movimento 3 000 libras: 1 000 em, dinheiro, 1 000
em -maquinaria e 1 000 em ferro. Se os capitalistas fizessem a troca
em produtos, as me.tcadorias mudariam de mãos sem circular um
centavo.
O mesmo se dá, quando têm contas um com· o otitro e o dinheiro
lhes setve de meio de pagamento. Se circula moeda papel ou moeda
de crédito (bilhetes de banco), há uma diferenÇa a considerar. Ainda
existem 1 000 libras agora em bilhetes de banco, mas não têm valor
intrfaseco. Não obstante, também existem aí 3 vezes 1 000 libras:
1 000 em ferro, 1 000 em maquinaria e 1 000 em bilhetes de bMco.
Mas as 3 vezes 1 000 libras só existem porque, coino no primeiro
JOB
caso, o construtor de máquinas teve 2 vezes 1 000 libras, 1 000 em
máquinas e 1 000 em dinheiro - em ouro e prata ou bílhetes de ban·
co. Nos dois casos, o produtor siderúrgico só lhe restituí o n.º 2 {o
&.nheiro), pois a única razão para tê-lo recebido foi ::l. de o construtor
de máquinas~ como comprador, não se ter tornado de imediato ven-
deàor, não tendo pago em mercadoria a primeira mercadoria, o ferro,
pagando-o em dinheiro. Ao pagá-lo em mercadoria, isto é, vender
mercadoria ao produtor siderúrgico, restitui-lhe este· o dinheiro. É
que não se paga duas vez.es, uma em dinheit:o e outra em mercadoria.
Em ambos os casos, o ouro ou o bilhete de banco representa a
forma transmutada da mercadoria comprada antes pelo construtor de
máquínas ou por outra pessoa, ou ainda a da mercadoria convertida
em dinheiro, embora sem ser comprada (como no caso da renda da
terra), a qual é representada pelo senhor da terra (por seus ances-
trais etc.).n2 O retorno do dinheiro aí, portanto, expressa apenas isto:
quem deu o dinheiro por mercadoria, lançou,..o na circulação, e por
sua ver. desta o retira, vendendo outra mercadoria que põe na cireu-
lação.
Essas mesmas 1 000 libras poderiam passar, num dia, por 40, 50
mãos, de um capitalista para outro, e apenas transferir capital. Má-
quina para o produtor siderúrgico, ferro para o agricultor, trigo para
o fabricante de amido ou álcool etc. Poderiam, por fim, recair nas
mãos do construtor de máquinas, ir deste para o produtor siderúr-
gico e assim por diante; fazer assiro circular capital superior a 40 000
libras, mantendo sempre a possibilidade de retornar a quem as des-
pendeu primeiro. Dó lucro feito com essas 40 000 libras, a patte
correspondente a juros é portanto paga pelos diferentes capitalistas
- por exemplo, o construtor de máquinas a paga a quem lhe em-
prestou 1 000 libras; o produtor siderúrgico, a quem lhe emprestou
1 000 libras, que ele .gastou há muito tempo em carvão ou em sa-
lário, e assim por diante - e daí conclui Proudhon que essas 1 000
libras rendem o juro todo resultante das 40 000. Se esse fosse de
309
5%,, teríamos 2 000 libras de juros. E daí caku1l matematicarueme
que as 1 000 libras renderam 200%. E ele é, por excelência, crítico
da economia!* Mas, embora D-M-D que representa a circulação mo-
netária entre capitalista e trabalhador, por si mesmo, não indique
ato de reprodução, mostra contudo a repetição constante desse ato,
a continuidade do retorno. De modo geral, não pode haver compra-
dor que de contínuo se torne vendedor, sem reprodução das meta·
dorias que vende. Isto na verdade vigora para todos os que não vivem
da renda da terra ou de juros ou de impostos. Mas, nos casos em
que se deve completar o ato, ocorre sempre o refluxo D-M-D, como
sucede ao capitalista na relação com o trabalhador ou com o senhor
da terra ou com o presta mista (para estes, mero retorno do dinheiro).
Noutros casos, o ato se completa quando se comprou mercadoria,
fez-se portanto o percurso M-D-M, como se dá com o trabalhador:.
Ê este ato que ele de contínuo renova. Tem sempre a iniciativa de
vendedor e não de comprador. O mesmo vige para a circulação mo-
netária toda que expressa mero dispêndio de renda. O próprio capi-
talista, por exemplo, consome certo montante por ano. Converteu
sua mercadoria em dinheiro, para d~pender esse dinheiro em mer-
cadorias que quer para consumo final. Temos aí M-D-M, e o dínheiro
não refluí para ele e sim para o vendedor (o lojista, por exemplo),
cujo capital se repõe pefo dispêndio de renda.
Vimos agora que sucede uma troca, uma circulação onde reri&
se contrapõe a renda. O açougueiro compra -pão ao padeiro; este 1
310
carne ao açougueiro; ambos consomem a respectiva renda. A carne
que o próprio açougueiro come e o pão que o próprio padeiro come,
nenhum dos dois paga. Cada um deles consome em produto essa parte
da renda. Mas é possível que a carne que o padeiro compra do açou-
gueiro, deste não reponha capital e sim renda, a parte - da carne
vendida - que representa lucro, e a parte do lucro a qual ele mesmo
quer consumir como renda. O pão que o açougueiro compra do pa~
deiro é também dispêndio de sua renda. Se as duas contas se con-
frontam, um ou o outro só terá de pagar a dife.tença. Para a parte
compensada das compras e vendas mútuas não haverá circulação de
dinheiro. Mas admitamos que o padeiro tenha de pagar saldo que con-
figura· renda do açougueiro. Assim despende este o dinheiro daquele
em artigos de consumo. Corresponda esse dispêndio a 1O libras gas-
tas com o alfaiate. Se essas 1O libras representam renda do alfaiate,
despende-a ele de maneira semelhante. Com . elas cbmpra por sua vei·
pão etc. Assim o dinheiro reflui para o padeiro, mas não mais para
substituir renda* e sim capital.
Questão que ainda se pode suscitar: em D-M-D, levado a cabC1
pelo capitalista e representando vilor que acresce a si mesmo, o ca-
pitalista retira da circulação mais dinheiro do que nela põe. (Era <>
que o entesourador desejava de fato obter, mas não conseguia. '.É
que não extrai da circulação, na forma de ouro e prata, mais dinheiro-
do que nela lançou na forma de mercadoria. Só possui mais valor na
fonna de dinheiro, se antes possuía mais valor na _for.ma de merca-
doria.) O custo de produção todo de sua mercadoria = 1 000 libras.
Vende-a por 1200 libras, pois agora a mercadoria contém 20% ou.
1/5 em trabalho não-pago que vende, embora não o tenho pago.
Como é então possível que os capitalistas todos, a classe capitalista
.industrial, sem cessar, extraia da circulação mais dinheiro do que lan-
ça nela? Antes de mais .nada, pode-se, em contrapartida, dizer que o
-capitalista, de contínuo, nela põe mais do que dela tira. Seu capital
fixo tinha de ser pago. S6 o vende à medida que é consumido, pouco-
ª pouco. Dele só entra no vaJor da mercadoria, fração muito reduzida,
enquanto por inteiro 4igressa o capital fixo no processo de produção
da mercadoria. Se circula 10 anos, só 1/10 dele se insere, por ano,
na mercadoria, e não circula dinheiro para os restantes 9/10, pois.
estes absolutamente não entram em circulação na forma de merca-
doria. Este é wn ponto a considerar.
Mais tarde examinaremos esse problema94 e por ora voltaremos·
a Quesnay.
311
Mas, antes, outro asperto. O retorn9 dos bilhetes a um banco,
que desconta ou faz adiantamentos em bilhetes, é um fenômeno de
todo diverso dos refluxos de dinheiro até agora observados. No caso,
-antecipa-se a conversão da mercadoda em dinheiro. A mercadoria re-
<ebe a forma de dínheiro, antes de ser vendida, antes talvez de ser
produzida. Talvez já tenha sido vendida (em troca de letras). Não
obstante, aínda não está paga, ainda não está reconvertida em dinhei·
ro. Seja como for, essa transformação é por isso antecipada. Quando
é vendida (ou se supõe estar vendida), reflui o dinheiro para o ban-
co, ou nos próprios bilhetes que ·emitiu e assim retornam da circu-
lação, ou em bilhetes de outro banco que então se trocam pelos pr6-
prios (entre os banqueiros) - desse modo se retiram da c,irculação
ambos os tipos de bilhetes, que regressam ao respectivo ponto de
partida - ou em ouro e prata. Se é mister trocar esse ouro e prata
pelos bilhetes que estão em mãos de terceítos, esses bilhetes retor·
nam. Se não há conversão dos bilhetes, deixa de citcular quantidade
corre11pondente de ouro e prata, a qual fica em reserva no banco em
lugar dos bilhetes.
Em todos esses casos, o processo é este: antecipou-se a existên·
ci.a do diuheito (a conversão da mercadoria em dinheiro). Quando a
mercadoria se transform~ efetivamente em dinheiro, ocorre a segun-
da conversão em dinheiro. Essa segunda existência da mercadoria na
forma de dinheiro reflui ao ponto de partida, :resgata, substitui a
primeira existência na foi::ma de dinheiro, reto~na da circulação para
o banco, A quantidade de bilhetes que exprí.me a segunda existência,
na forma de dinheiro, é talvez em tudo idêntica· a que expressou a
primeira. Um fabricante de fio, por exemplo, .descontou a letra: letra
recebida de um fabricante de tecidos.- C.om as 1 000 libras pagou car-
vão, algodão etc. Ar. várias mãos por que··"passaram esses bilhetes
para pagar as mercadorias, despendem-nos por fim em tecido de linho,
e assim os bilhetes vêm para o fabricante de tecidos, que no dia do
vencimento da letra paga com os mesmos bilhetes o fabricante de fio.
que os restitui ao banco. Não é absolutamente necessário que a se-
gunda conversão (póstuma) da mercadoria em dinheiro - ap6s a
conversão antecipada - ocorra em dinheiro diferente daquele da prl·
meira. E assim parece que o fabricante de fio, na realidade, nada obte-
ve, pois tomou de empréstimo os bilhetes e no fim do processo os
recobra e os devolve ao emissor. Mas, de fato, esses mesmos bilhetes
serviram, nesse período, de meio de citeulação e de meio de paga-
mento, e com uma parte deles o fabricante de fio pagou suas dívidas,
e com a outra comprou as mercadorias necessárias para reproduzir o
fiot e assim realizou um excedente (por meio da exploração do tra-
balhador); pode agora utilizar fração dele para reembolsar o banco.
E por igual em dinheiro, pois lhe refluíu mais dinheiro do que des-
312
pendera, adiantara, investira. Como? Recaímos no problema que dei-
xamos de lado por ora.
313
bilhão de manufaturados. Mas, na troca com A, E reconverte o di.
nheiro em meios de subsistência, p~a Quesnay equivalentes a saJá.
rio,· e assim repõe o capital que despendeu e consumiu em salário,
Essa reconversão de 1 bilhão em meios de subsistência significa no
caso de P mexo consumo e no caso de E consumo industrial, re-
produção, pois E reconverte parte ele sua mercadoria num dos ele.
mentas destinados a produzi-la - os tneios de subsist!ncia. Essa
metamorfose da mercadoria que deixa a forma dinheiro para assumir
a de mercadoria, expressa aí ao mesmo tempo o começo da metamor-
fose real. e não apenas formal, o início de sua reprodução, da recon-
versão dos próprios elementos de produção. Ao mesmo tempo sucede
aí metamorfose do capital. Para P, em contrapartida, apenas a renda
tem a forma dinheiro convertida na de mercadoria. Isso expressa mero
consumo.
Mas, em segundo lugar, quando E compra de A 1 bilhão em meios
de subsistência, a A retorna o segundo bilhão que pagou a P a título
de renda fundiária em dinheiro. 1\fas só lhe tetorna, porque o re-
colhe da circulação, o resgata com um equivalente, 1 bilhão em mer-
cadorias. É como se o proprietário da terra lbe tivesse comprado 1
bilhão de meios de subsistência (além do primeil'o bilhão), isto é~
tivesse obtido do arrendatário, em mercadoria, a $egunda parte de
sua renda em dinheiro e trocasse então essa mercadoria por merca~
doria de E. Apenas recebe E em lugar de P a segunda parte dos 2
bilhões em mercadorias. a qual A pagou a P etn .dinheiró. Se o paga~
mento se efetuasse em produtos, teria A dado a· P 2 bilhões em meios
de subsistência; deles P mesmo teria consumido um bilhão, e troca~
do o outro bilhão de meios de subsistência, com E, pelas mercado-
rias manufaturadas deste. Nesse caso teria ocorrido somente: 1) trans-
ferência dos 2 bilhões de meios de subsistênçia de A para P; 2) per-
muta entre P e E, na qual o primeiro troca 1 bilhão de meio.ç de-
subsistência por 1 bilhão de manufaturados, e vice-versa.
Em vez disso, houve 4 operações: 1 ) transferência de 2 bilhões
em dinheiro de A para P; 2) P compra de A 1 bilhão em meios de
subsistência; o dinheiro retorna para A, serve de meio de circulação;
3) P compra a E mei:cadorias manufaturadas por 1 bilhão em di~
nheiro; o dinheiro desempenha o papel de meio de circulação; inuda
de mãos em sentido inverso ao da mercadoria; 4·) E compra a A
meios de subsfstência por 1 bilhão em dinheiro; o dínheito serve de
meio de circulação. Para E circula ao mesmo tempo na função de
<:apital. Reflui para A, porque agora se retira o segundo bilhão em
meios de subsistência, o qual correspondia ao direito de haver que o
senhor da terra possuía e fora emitido por A. Mas o dinheiro para
este não reflui diretamente do proprietário da terra, mas s6 depois de
-ter senrido de meio de circulação entre P e E; antes, para chegar ao
Jl4
momento de retirar 1 bilhão em meios de subsistência, obteve o di.
nheiro, em seu percurso, 1 bilhão em manufaturas e as transferiu
do manufator para o proprietário da terra. A conversão dessa merca-
doria em dinheiro (na troca com o proprietário da terra) e a. con.
versão seguinte do dinheiro em meios de subsistêneúl (na troca com
o arrendatário) constituem para E a roetamo.rfose de seu capital, pri-
meiro, na forma de dinheiro e, segundo, na dos elementos constitu~
tlvos necessários para reproduzir o capital.
O resultado até ago:ta das quatro operações de c:!.rcula.ção é por-
tanto: o proprietário da terra despendeu sua renda, metade em meios
de subsistência, metad.e em manufaturados. Assim gastam-se os 2
bilhões que ele recebe a título de renda fundiária. em dinheiro. Dele
retorna metade diretamente para o arrendatário, .metade. indireta1ncn-
te, via E. Mas E vendeu parte de suas mercadorias acaba.das e as
substituiu por meios de subsistência, por elemento da reprodução,
portanto. Com esses processos, a circulação chega ao fím, até o
ponto onde nela aparece o proprietário da terra. Passaram da circu-
Jação para o consumo (parte improdutivo, parte industrial - com
sua renda, o proprietário da terra repõe fração do capital de .A): 1)
1 bilhão de meios de subsistência (produto da nova colhdta); 2) 1
bilhão em -mercadorias manufaturadas (produto da colheita do ano
anterior); .3 ) 1 bilhão de meios de subsistência, que entram na re-
produção, ou seja, na teprodução das mercadorias que E, no ano se-
gltinte, terá de trocar pela metade da renda do proprietário da terra.
Os 2 bilhões em dinheiro estão de novo nas mãos do arrendatiÍ·
rio. Este então - para repor seus adiantamentos anuais e originais,
no sentido de consistirem parte em instrumentos etc. 1 parte em ma-
nufaturados que consome durante a produção - compra a E 1 bílhão
em mercadorias. Temps aí processo de circulação simples. Desse mo-
do, 1 bilhão vai para as mãos de E, convertendo-se em dinheiro a
segunda parte de seu produto, existente na forma de mercadoria.
Ocorre dos dois lados metamorfose do capital. O bilhão do arrenda-
tário :reconverte-se em elemento de produção necessário à reprodu-
ção. A mercadoria acabada de E reconverte-se em dinheiro, passa pela
metamorfose formal da mercadoria em dinbell:o, sem a qual o capital
não pode voltar a se converter em seus elementos de produção, nem se
reproduzir portanto. Este é o quinto processo de circulação. Saem da
circulação e entram no consumo .reprodutivo l bilhão de mercadorias
manufatwadas (produto da colheita anterior} (a'-b'}.
Por fim, E reconverte o bilhão em dinheiro, forma assumida
agora pela metade de suas mercadorias, na outra metade de suas con-
djções de produção, matérias-primas etc. (a"-b"). Trata-se de circu-
lação simples. Para E, ao mesmo tempo, metamorfose de seu capital.
31.5
que toma fonna adequada para .reproduzir-se; para A, reconversão de
seu produto em dinheiro. Passa da circulação para o consumo o ultimo
quinto do produto bruto,
Temos: 1/5 entra na reprodução a cargo do arrendatário, sem
ir para a circulação; e o proprietário da terra consome 1/5 (até aí
2/5); E recebe 2/5; ao todo, 4/5.96
Está daro que a conta se embaraça aí. Quesnay parece calculai:
assim: A dá a P 1 bilhão (1/5) em meios de subsistência (linha
a-b). Com 1 bilhão de matérias-primas repõe o fundo de E (a"-b").
Um .bilhão de meios de subsistênda constitui o salário de E, e este
o adiciona em valor às mercadorias e, durante essa adição, consome-o
em meios de subsistência (e-d). E 1 bilhão fica na reprodução (a)),
não entra em drculação. Por fim, l bilhão do produto repõe adianta-
mentos (a'-b'). Quesnay simplesmente não vê que E não utiliza
esse bilhão de mercadorias manufaturadas, para comprar ao arrenda-
tário meios de subsistência ou matérias-oprimas, mas lhe restitui o
próprio din11eiro.
É que ele parte a priori do pressuposto de o arrendatário possuir;
além do próprio produto bruto, 2 bilhões em dinheiro, e de ser esse
montante a fonte geral donde fluí o dinheiro circulante. Ademais es-
quece que, além dos .5 bilhões de produto bruto, ainda existem 2 bi~
lhões de produto bruto em mercadorias manufatu_~adas, produzidas
antes da nova colheita. É que os 5 bilhões s6 representam a totalida-
de da produção anual, a totalidade da colheita: fornecida pelos arren-
datários, mas não o produto bruto da mánufatura, cujos elementos
reprodutivos devem ser repostos por essa colheita:·- ·
}16
Temos port:anto: 1) 2 bilhões em dinheiro com o arrendatário;
2) 5 bilhões em produto bruto da terra; 3) merc.adorias manufatu-
radas no valor de 2 bilhões. Por conseguinte, 2 bilhões em dinheiro
e 7 bilhões em ptoduto (agrícola e industrial). Em resumo, o pro-
cesso de circulação opera assim (A = =
arrendatário, P proptietá-
rio das terras, E= manufaror, estéril):
A paga a P 2 bilhões de renda fundiária em dinheiro, P com-
pra a A 1 bilhão em meios de subsistência. Com isso díspõe de 1/5
do produto bruto do arrendatário. Retorna a este, ao mesmo tempo,
1 bilhão em dinheiro. P, ademais, compra a E 1 bilhão em mercadorias.
Com isso dispõe de metade do produto bruto de E. Mas, ero com-
pensação, E possui 1 bilhão em d.ínheiro. Com este montante, E
compra a A 1 bilhão de meios de subsistência. Desse modo, E repõe
1/2 dos elementos de reprodução de seu capital. Com isto dispõe de
1/5, o segundo, do-produto bruto do arrendatário.- Ao mesmo tempo
o arrendatário vê-se na posse dos 2 bilhões em dinheiro, o preço re-
ferente aos 2 bilhões em meios de subsístência que vendeu a P e a E.
Então, A compra de E 1 bilhão de mercadorias para repor 1/2 de
seus adíantaruentos. Dessa maneira dispõe da outra metade do pro-
duto bruto do manufator. Por fim, E compra matérias-primas do
arrendatário com o último bilhão em dinheiro; e por esse meio E
dispõe de mais 1/5, o terceiro, do produto bruto do arrendatário, e
a segunda metade dos elementos de reprodução do capital de E se
repõe, mas também 1 bílhão reflui para o arrendatário. Por conse·
guínte, este se vê de novo na posse dos 2 bilhões, o que está em
ordem, pois Quesnay consideta·o o capitalista, em face do qual P se
comporta apenas como recebedor de renda e E simplesmente como
assalariado. A, se lhes pagasse diretamente com seu produto, nenhum
dinhciro desembolsaria. Se gasta portanto dinheiro, com este compra-
rão seu produto, e o dinheiro lhe retorna. Este é o refluxo formal
do dinheiro para o capitalista industrial, que como comprador inicia
e leva a cabo o negócio todo. Além disso, 1/5 correspondente aos
adiantamentos pertence à reprodução. Mas fica disponível 1/5 em
meios de subsistência, que em absoluto n;?o entraram em circulação.
Jl7
.E de pagar1 portanto, um saldo de 1 bilhão que; em última instância,
paga com o bilhão que recebe de P. Quesnay parece confundir esse
pagaT11ento de 1 bilhão a A com compra do produto de A no mon-
tante de 1 bilhão. Para se verificar o que sucede, é mister examinar
as observações do Dr. Baudeau.ti7
De fato (em nosso cálculo), os 2 bilhões serviram somente pata:
1) pagar renda fundiária no montante de 2 bilhões em dinheiro; 2)
fazer circular 3 bilhões do produto bruto do arrendatário (dos quals
1 bilhão em meíos de subsistência flui para P • e 2 bilhões em meios
de subsistência e matérias-primas, para E), e 2 bilhões do produto
bruto de. E (dos quais 1 bilhão para P, que o consome, e 1 bilhão
para E, que o consome de modo reprodutivo). Na última compra
(a»-b") em que E compra a A matéria-prima, o primeiro reem..
bolsa o segundo em dinheíro.
Assim, uma vez mais:
Recebeu E l bilhão em dinheiro de P. Com esse bilhão em di-
nheiro compra a A 1 bilhão em meios de subsistência. Com o mesmo
bilhão em dinheiro, A compra a E mercadorias. Com esse mesmo bi-
lhão em dinheiro, E compra matérias-primas a A.
Ou, então, E compra a A, por 1 bilhão em dinheiro, matérias-
primas, e por 1 bilhão em dinheiro, meios de subsistência.. Por 1 bi-
lhão em dinheiro, A compra a E mercadoria. Neste caso refluíu para
E 1 bilhão, mas s6 porque se supusera que, além do bilhão em di-
nheiro que ele recebe do proprietário da terra e acima do bilhão em
mexcadorfas que ainda tem para vender, tinha 1 bilhão em dinheiro
que ele mesmo lançou na circulação. Em vez de 1 bilhão ter feito
circular entre eles as mercadorias, teriam sido utilizados para isso,
na hip6tese, 2 bilhões. Então retorná a E 1 bilhão. É que E faz com-
pras ao arrendatário, no montante de 2 billíões em dinheii'o. O arren-
datário lhe faz compras, pelas quais E lhe teria de devolver metade
do dinheiro que dele recebeu. -
No primeiro caso, E compra em duas fases. Na primeira, des-
pende 1 bilhão; este refluí de A para ele; na seguinte, de novo de-
sembolsa-o definitivamente em favor de A, e assim nada retoma.
No segundo caso, ao contrário. De uma vez compra E 2 bilhões
em mercadorias. Então, se A em retorno compra mercadorias por 1
bilhão, fica essa quantia com E. A circulação pi·edsou de 2 bilhões
em vez de 1 bílhão, porque, no ptímeíto caso, 1 bilhão, com duas
rotações, realizou 2 bilhões em rne:rcadorias. No segu11do caso, 2 bi-
lhões, com uma rotação, realizaram os mesmos 2 bilhões em merca-
31.8
darias. Se o arrendatário então reembolsa 1 bilhão a E, este não tent
mais do que teria no primeiro caso. Pois, além de 1 bílhão etn mer-
cadoria~ lançou na circulação 1 bilhão em dinheiro, tirado de seu
próprio fundo existente a11tes do processo de drcula.ção. Adiantou-o
para a circulação, e por isso lhe retorna.
No primeiro caso: E compra a A 1 bilhão em mercadorias por
1 bilhão em dinheiro; A a E 1 bilhão em mercadorias por 1 bilhão
em dinheiro; E a A 1 bilhão em mercadorias por 1 bilhão em di-
nheíro, de modo que A guarda 1 bilhão.
No segundo caso: E compra a A 2 bilhões em mercadorias pol'
2 bilhões em dinheiro; A a E 1 bilhão em mercadorias por 1 bilhão
em dinheiro. O arrendatário, como dantes, guarda 1 bilhão. Mas E
recupera o bilhão, o capital que adiantou à circulação, e que esta lhe
restitui. Compra E a A 2 bilhões em mercadorias; A a E 1 bilhão
em mercadorias. Tem E portanto de lhe pagar, seja como for, um saldo
de 1 bilhão, porém não mais. Uma vez que, para liquidar esse saldo,
pagou, em virtude do tipo de circulação, 2 bilhões a A, reembol.
sa-lhe este 1 bilhão, quando no caso anterior não se verifica esse
reembolso.
No prjmeiro caso E faz, sem dúvida, compras a A de 2 bilhões.
e A a E, de 1 bílhiío. Nos dois casos, portanto, saldo de l bilhão a
favor de A. Mas esse saldo lhe é pago de maneira que lhe reflui o
próprio dinheiro, porque E primeiro compra em mercadorias a A 1
.bilhão, depois A a E 1 bilhão e, por fim, E a A 1 bilhão. Af 1 bHhão
fez circular 3 bilhões. ~·..fas> ao todo (se o dinheiro é dinheiro real) o
valor em circulação = 4 bilhões, 3 bilhões em mercadoria e 1 bilhão
~m dinheiro. A soma de dinheiro circulante e originalmente lançacfa em
circulação (para pagar a A) nunca foi mais que 1 bilhão, isto é, nunca
mais que o saldo que E tinha de pagar a A. Em mercadorias, A com-
prou dele 1 bilhão, antes de ele, pela segunda vez, comprar a A 1
bilhão, e por isso pode E pagar-lhe o saldo com esse bilhão.
No segundo caso, E lança 2 bilhões em círcula.ção. Com eles
compra a A 2 bilhões em mercadorias. Esses 2 bilhões são necessá-
rios ai na qualidade de meios de circulação e são despendidos contra
o equivalente em mercadoria. Mas A em contrapartida compra a E 1
bilhão em mercadorias. Retorna a E portanto 1 bilhão, pois o saldo
que tem de pagar a A importa apenas em 1 bilhão e não 2. Repôs E
1 bilhão em metca.dorias de A, e este tetn portanto de reembolsar-lhe
o bilhão que ele agora, por nada, lhe teria pago em &nheiro. O caso
desperta interesse bastante para nele nos determos por um momento.
São possíveis diferentes casos· na circulação suposta acima de 3
bilhões em mercadorias, dos quais 2 bilhões em meios de subsist'éncia
e 1 bilhão em mercadorias manufaturadas; mas releva observar: pri·
meíro, conforme supõe Quesnay' 1 bilhão em dinheiro está nas mãos
319
de E e 1 bilhão nas de A, no instante em que se inicia a circulação
entre os dois; segundo, admitimos, para fins de esclarecimento, que,
além de 1 bilhão que recebe de P, E ainda possuí em caixa 1 ·bilhão
em dinheiro.
I. Primeiro: o caso tal como o apresenta Quesnay. Com 1 bi-
lhão em dinheiro, E compra a A 1 bilhão em mercadorias; A compra
a E, com o bilhão em dinheiro dele recebido, 1 bilhão em mercado·
rias; por firo, E compra a A, com o bilhão em dinheiro ass.im de-
volvido, 1 bilhão em mercadorias. Com A fica portanto 1 bilhão em
mercadorias, que para ele configura capital (de fato, com o outro
bilhão em dinheiro que recuperou de P, forma a receita com_ que no
próximo ano de novo paga a renda fundiária em dinheiro, isto é, 2
bílhões em dinheiro). Em dinheiro circulou 1 bilhão três vezes -
de E para A, de A para E, de E para A - cada vez em troca de 1
bilhão em mercadorias, ao todo em troca de 3 bilhões. Se o próprio
dinheiro tem valor, circula valor de 4 bilhões. O dinheiro aí só se.i:ve
de meio de circulação, mas para A, em cujas mãos fica por último,
se converte em dinheíro e eventualmente em capital.
II. Segundo: o dinheiro serve de simples meio de pagamento.
Neste caso, em mercado.fias, E compra a A 2 bilhões e A a E 1 bi-
lhão, e ambos ajustam as contas entre si. No final, da transação, E
tem de pagar um saldo de 1 bilhão em dinheiro., Como no caso ante-
rior, 1 bilhão cm dinheiro entra na caixa de A, mas sem ter servido
de meio de circulação. É para ele transferência de cilpital, pois só
lhe substitui um capital de 1 bilhão em mercadorias. Assím circula
um valor de 4 bilhões. Mas, em vez dos 3 mov~entos de 1 bilhão
em dinheiro, apenas um ocorreu, e o dinheiro só pagou montante de
valores em mercadorias igual a si mesmo. Antes. três vezes mais. Em
relação ao caso I foram economiz.ados os dois movimentos supérfluos
de circulação.
III. Terceiro: com o bilhão em dinheiro (que recebe de P),
A começa na função de comprador e adquire 1 bilhão em mercadorias
de E. O bilhão circula agora, em vez de permanecer com A como te-
souro vadio, destinado a pagar a próxima renda fundiária. Tem E_ agora
2 bilhões em dinheiro ( 1 bilhão de P e 1 bilhão de A). Com
esses 2 bilhões em dinheiro compra a A 2 bilhões em mercadorias.
Apareceu agora na circulação valor de 5 bilhões (3 bilhões em mer-
cadorías e 2 bilhões em dinheiro). Houve uma circulação de 1 bi-
lhão em dinheiro e 1 bilhão em mercadorias, uma circulação de 2
bilhões em dinheiro e 2 bilhões em mercadorias. Desses 2 bilhões em
dinh,eito, o proveniente do arrendatá:río circula duas vezes, o pro-
cedente de E, uma vez só. Agora retornam 2 bilhões em dinheiro para
A, e deles só 1 bilhão lhe paga o saldo, e o outro bilhão - que ele
320
mesmo lança1·a na circulação, pois tivera a iniciativa na qualidade de
vendedor - lhe reflui por meio da circulação.
IV. Quarto: com 2 bilhões em dinheiro E ( 1 bilhão de P e 1
bilhão que ele mesmo lança em circulação, de sua caixa) compra de
uma vez a A 2 bilhões em mercadorias. Em contrapartida, A com-
pra a E 1 bilhão em mercadorias, retornando-lhe assim l bilhão em
dinheiro; mantém, corno no caso anterior, 1 bHhão em dinheiro, para
acertar as contas entre ele e E. Circulou valor de 5 bilhões. Houve
dois atos de circulação.
Dos 2 bilhões em dinheiro que E fez voltar a A, l_ bilhão re·
presenta dinheiro que A mesmo lançou na circulação, e só 1 bilhão,
dinheiro que E lançou na circulação. Aí refluem para A 2 bilhões
em dinheiro, em vez de 1 bilhão, mas de fato só recebeu de 1 bi~
lhão, pois ele mesmo lançou o outro bilhão em circulação. Isso no
caso III. No caso IV volta a E 1 bilhão em dinheiro, mas é o bilhão
que, oriundo de sua caixa, e não da venda de mercadorias a P - ele
mesmo lançou na circulação.
Se no caso I, exatamente como no caso II, nwica circula mais
de 1 bilhão em dinheiro, porém 3 vezes, enquanto no caso II, circula,
troca de mãos uma vez s6, a razão disso está apenas em que, no caso
II, supõe-se o desenvolvimento do crédito, daí a economia de paga~
mentos, enquanto no caso 1 ocorre movimento rápido, mas o di-
nheiro sempre surge no papel de meio de circulação, e o valor tem de
aparecer duas vezes, isto é, nos dois pólos, uma vez: na condição de
dinheiro e uma vez: na de metcadoria. Nos casos III e IV circulam
2 bilhõesj em vez de 1 bilhão, como nos casos I e II. Isso porque
em cada um daqueles dois casos (no III, com E~ comprador, encer-
rando o processo de circulação; no caso IV, com E, comprador, ini-
ciando o processo) .e)ltram de um só golpe na circulação valores em
mercadoria no montante de 2 bilhões em dinheiro, em suma, de uma
só vez 2 bilhões em mercadorias; e ademais pressupõe-se que elas
têm de ser pagas não depois de se estabelecer o saldo, roas de ime-
diato com a compra.
De qualquer modo, o mais interessante no movimento é o bi-
lhão em dinheiro jogado na circulação, no caso III, com origem no
arrendatário, e no IV, com origem no manufator, embora nos dois
casos se pague ao arrendatário o saldo de 1 bilhão em dinheiro, e
ele não receba um centavo a mais no caso III> nem a menos, no
caso IV. É claro que sempre se trocam aí equivalentes, e quando fa.
lamos de saldo, entendemos por isso apenas valor igual ao que é pago
em dinheiro em vez de o ser em mercadoria.
Em III lança A em circulação 1 bilhão em dinheiro, e em troca
recebe de E o equivalente em mercadorias, ou 1 bilhão em merca~
darias. Mas E lhe compra então mercadorias no montante de 2 bi.
321
lhões em dinheiro. O primeiro bilhão em dinheiro que A pôs em
circulação lhe retoma, porque em troca lhe tomaram 1 bilhão em
mercadorias. Com o dinheiro por ele despendido é-lhe pago esse bi-
lhão em mercadorias. Recebe o segundo bilhão em dinheiro em paga-
mento do segundo bilhão em mercadorias. É-lhe devido esse saldo em
dinheiro, porque ao todo só compra mercadoria no montante de 1
bilhão em dinheiro e vende mercadorias no valor de 2 bilhões.
No caso IV, E lança de uma vez na circulação 2 bilhões em di-
nheiro, e em troca toma de A 2 bilhões em mercadorias. Com o di-
nheiro despendido pelo próprio E, compra-lhe A, por sua vez, 1 bilhão
em .mercadorias, e assim retorna a E 1 bilhão em dinheiro. No caso
IV: dá E de fato a A 1 bilhão em mercadorias (= 1 bilhão em di-
nheiro) e 2 bilhões em dinheiro, portanto 3 bilhões; mas dele só
recebe 2 bilhões em mercadorias. Por isso, A tem de lhe devolver 1
bilhão em dinheiro.
No caso III: dá A a E 2 bilhões em mercadorias ( = 2 bilhões
em dinheiro) e 1 bilhão em dinheiro. Por conseguinte, 3 bilhões em.
dinheiro, mas dele obtém apenas 1 bilhão em mercadorias = 1 bilhão
em dinheiro. Por isso E tem de lhe devolver 2 bilhões em dinheiro;
reembolsa-lhe 1 bilhão com o dinheiro que o próprio A lançou na
circulação, e ele mesmo lança 1 bilhão na circulação. Retém A o saldo
de 1 bilhão em dinheiro,' mas não pode reter 2 bilhões em dinheiro.
Nos dois casos, E recebe_ 2 bilhões em mercadorias, e A 1 bi-
lhão em mercadorias + 1 bilhão em dinheiro, isto é, o saldo em
dinheiro. No caso III, além disso, reflui para A 1 hilhão em di-
nheiro, mas aí trata-se apenas do dinheiro que lançou na circulação
fora do que dela retira em mercadoria. O mesmo acontece com E
no caso IV.
Nos dois casos, E tem de pagar um s.aldo em dinheiro de t
bilhão, porque retira da circulação 2 bilhões em mercadorias e nela
só lança 1 bilhão em mercadorias. Nos dois casos tem A de receber
um saldo em dinheiro de 1 bilhão, porque lança na circulação 2 bi-
lhões em mercadorias e dela só retira em mercadorias 1 bilhão; por
isso, tem de lhe ser pago em dinheiro o segundo bilhão. Nos dois
casos, só esse bilhão em dinheiro pode, por fim, mudar de mãos. Mas,
uma vez que estão em circulação 2 bilhões em dinheiro, devem eles
refluir para qúem os lançou na circulação; e tanto faz que A, que
recebeu da circulação um saldo de 1 bilhão em dinheiro, nela ainda
tenha lançado outro bilhão em dinheiro, ou que E, que só tem de
·pagar um saldo de 1 bilhão em dinheiro, além disso, nela tenha
lançado 1 bilhão em dinheiro.
No caso III entra em circulação 1 bilhão em dinheiro acima da
quantidade de dinheiro necessária noutras circunstâncias para a circu-
lação da quantidade considerada de mercadorias, porque A surge pri-
J22
M •r~.,
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w~:::;·, ~··n:t>~~~~••::::,~·........~;
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meiro no papel de comprador, e por i&so, não importa qual seja sua ---
posição final, tem de lançar dinheiro na circulação. No caso IV, do
mesmo modo, 2 bilhões em dinheiro entram em circulação, em vez
de 1 bilhão apenas, como no caso II, porque E, primeiro, surge no
papel de comprador e, segundo, compra de uma vez 2 bilhões em
mercadorias. Nos dois casos, o dinheiro circulante entre compradores
e vendedores pode, por fim, igualar-se apenas ao saldo que um deles
tem de pagar. Pois o dinheiro que E ou A despendeu além dessa
soma lhe é restituído.
Admitamos compre A mercadorias de E no montante de 2 bi-
lhões. O caso se configuraria assim: A dá a E, por compra de mer-
cadorias, 1 bilhão em dinheiro. Compra E, por 2 bilhões em dinheiro,
mercadoria de A, e assim retorna a este o primeiro bilhão e, além
disso, 1 bilhão. Por sua vez, A compra a E mercadorias no montante
de 1 bilhão em dinheiro, com que essa quantia volta para E. No fim
do processo, A tem mercadorias no montante de 2 bilhões e o bilhão
que tinha na origem, antes de começar o processo de circulação; e
E, mercadoria no montante de 2 bilhões e 1 bilhão em dinheiro que
também tinha na origem. O bilhão em dinheiro de A e_ o bilhão em
dinheiro de E só teriam desempenhado o papel de meio de circulaçãó,
para refluir então, como dinheiro ou, nesse caso, também como ca-
pital, para os dois que os desembolsaram. Se ambos tivessem em-
pregado dinheiro na função de meio de pagamento, 2 bilhões em mer-
cadorias seriam compensados por 2 bilhões em mercadorias; as con-
tas se anulariam; entre os dois não circularia um centavo. Assim,
volta à origem o dinheiro que no papel de meio de circulação circula
entre duas pessoas que se contrapõem, revezando-se no papel de com-
prador e vendedor; pode circular de três modos.
Primeiro: Equivalem-se os valores das mercadorias fornecidi,1s.
Nesse caso, o dinheiro _retorna à pessoa que o adiantou à circulação
e assim paga os custos de circulação com o pr6prio capital. Por exem-
plo, se A e E compram um do outro mercadorias no montante de 2
bilhões, E, se entra na dança primeiro, compra de A mercadorias no
montante de 2 bilhões em dinheiro. Devolve-lhe A os 2 bilhões em
dinheiro, comprando-lhe com eles 2 bilhões em mercadorias. Assim,
E possui agora, como antes da transação, 2 bilhões em mercadorias
e 2 bilhões em dinheiro. Ou se ambos, como no caso acima, adiantam
em partes iguais os meios de circulação, cada um recebe de volta o
que lançou na circulação; como vimos, reflui em dinheiro para A 1
bilhão e para E 1 bilhão.
Segundo: Não se anulam os valores em mercadorias trocados pe-
las duas partes. Há um saldo a ser pago em dinheiro. Se a circulação
de mercadorias, como no caso I, ocorreu de maneira que não entrou
na circulação mais dinheiro que o necessário para pagar esse saldo,
32J
setnpre indo e voltando de uma parte para outra apenas essa somn,
cai ela ao final nas mãos do últítno vendedor> que tem o saldo favo·
rável.
Terceiro: Os valores em mercadorias trocados pelas duas part.es
não se equilibram; há wn saldo a pagar; mas a circulação de merca·
doriS!I sucede de tal forma que circula mais dinheiro que. o necessário
para pagar o saldo; então, o dinheiro que excede esse saldo reflui
para a parte que o adiantou. No caso III para quem recebe o saldo,
n.o caso IV para quem o tem de pagar.
No ítem segundo, o dinheiro só retorna quando quem recebe o
saldo é o primeiro coinprador, coroo no exemplo entre trabalhador
e capitalista. Muda de mãos, como no caso II 1 qwmdo a outra parte
é quem aparece primeito como comprador.
((É claro que só ocorre tudo isso supondo-se que a quantidade
dada de mercadorias tenha sido objeto de compra e venda entre as
mesmas pessoa:::, de modo que cada uma delas se apresenta e.tn re-
lação à outra, ora como comprado1·, ora como vendedor. Admitamos,
ao contrário, 3 000 (daqui em diante, a unidade de cálculo passa a
ser 1 000, ao invés de 1 bilhão )98 em mercadorias se repartam por
igual entre os donos A, A', A", os vendedores, e os confrontem os
compradores B, B', B". Se as .3 compras agora são simultâneas, isto
é, paralelas, têm de circlilar 3 000 em dinheiro, de modo a ter cada
A 1 000 em dinheiro e cada B 1 000 em mercadot:ia·. Se_ uma compra
segue a outra, em sucessão no tempo, a circulação do mesmo milhar
em dinheiro só pode efetuar isso no caso de se interligarem as meta·
motfoses das ·mercadorias, isto é, certas pesso11s aparecerem como
comprador e vendedor, embora não na mesma qualídade perante as
mesmas pessoas, como acima, mas ei;n face dê uma como comprador.
e ·de outra como vendedor.
Assim, por exemplo: A vende. a B mercadorias por 1 000 eru
dinheiro; A compra de B', com esses 1 000; B' compra de A', tam-
bém com esses. 1 000; A' de B", com os mesmos 1 000; B" de A'',
também com os mesmos 1 .000.
O dinheiro teria mudado de mãos 5 ve?.es entre 6 pessoas, mas
também terfam drçulado mercadorias no montante de 5 000 em di-
nheiro. Se circularem apenas 3 000 em ·mercadoria teremos:
A compra mercadorias, a B por 1000 em dinheiro; B a A', por
1 000; A' a B', por 1 000. Três mudanças de posição entre 4 pessoas.
Ê D-M.))
Os casos expostos acima não contradizem a lei antes enunciada:
"dadas a velocidade de circulação do dinheiro e a soma dos preços
324
da.o; mercadorias, fica determinada a quantídade do meio circulante"
{I, p. 85). 91l No exemplo I acima circula 1000 em dinheiro 3 vezes,
fazendo drcular de fato mercadorias no montante de 3 000 em di.
nheito. A quantidade de dinheiro circulante é por conseguinte:
.3 (velocidade)
ou
3 000 (soma dos preços)
1 000 em dinheiro.
3 movimentos
911 Ver Zur Kritik der Polítischen Oekonomie, MEW, Band 13, p. 86.
325
da-massa das rnercadorias que ao todo circulam: a circulação de mer-
cadorias é sempre de 1 000 em dinheiro. Em III e IV, ao contrário,
essa circulação é uma vez de 2 000, e outra vez, de 1 000, por con-
seguinte, uma vez 2/3 da massa das mercadorias existentes e outra
vez 113. Pefa mesma razão, o dinheiro graúdo tem de preferir o co-
mércio e.tn grosso ao comércio a retalho.
Como já observei ( I, Circulação do dinheiro) ,10& o refluxo do
dinheiro, antes de mais nada, mostra que o comprador se torna por
S:Ut! vez vendedor, e aí de fato não importa que venda ou não às mes-
mas pessoas das quais comprou. Todavia, se isso ocorre entre as
mesmas pessoas, manifestam-se os fenômenos que motivaram tantos
erros (Destutt de Tracy) .1 G1 A mutação do comprador em vendedor re-
vela que há nova mercadoria para vender. Continuidade da circulação
das mercadorias - sinônimo da constante renovação delas ( I, p. 78) IG:?
- reprodução portanto. O comprador pode voltar a sex vendedor,
como o fabricante em relação ao trabalhador, sem que isso expresse
ato de reprodução. É só com réerência à continuidade, à repetiçãcy
desse refluxo, que se pode falar de reprodução.
O refluxo do dinheiro, quando representa a reconversão do ca-
pital à forma dinheiro, indica necessariamente o fim de uma rotação
e o reinício de nova reprodução, se o capital como tal continua o
processo. Também aí, ~mo em todos os outros casos, o capitalista
era vendedor, M-D, e torna-se então compradoi:, --D-M, mas só em
D reencontra o capital a forma de se trocar por seus elementos de
reprodução, e M representa aí esses clementós. D-M configura aí a
conversão do capital-dinheiro em capital produtivo ou industrial.
Ademais, como vimos, o refluxo do dinheiro .aó ponto de partida
pode mostrar que o saldo em dinheiro numa série de compras e ven-
das é favorável ao comprador que iniciou, a série desses processos.
Compra A a E mercadoria por 1000 em dinheiro; E a. A, por 2 000
em dinheiro. Ai retornam a A 1 000 em dinheiro. Quanto aos outros
1 000 o dinheíro apenas muda de posição entre E e A.
Por fim, pode o dinheiro refluir ao ponto de partida, sem signi-
ficar pagamento do saldo, 1 ) quando os pagamentos se compensam e
assim não há saldo a pagar, e 2) também quando os pagamentos não
se compensam, havendo portanto saldo a pagar. Ver os casos anali-
sados acima. Em todos eles, não importa, por exemplo, que o mesmo
E confronte A; mas aí E representa perante A e A perante E o con-
junto dos que lhes vendem e dos que lhes compram (justamente
wa Ver Zur Kritik der Politischen Oekonomie, MBW, Band 13, pp. 79-81.
1111 Ver, neste volume, pp. 251-263 e em O Capital., Ed. Civilização Brasi-
leira, livro 2, pp. 511-52().
10~ Ver Zur Kritik der Po1ítischerr Oekonomie, MEW, Band 13, pp. 79-80.
:326
.coµio no exemplo em que o pagamento do saldo se revela no refluxo
do dinheiro) . Em todos esses casos o dinheiro reflui para quem o
adiantou por assim di2et à circulação. O dinheiro desempenhou nela
seu papel, como os bilhetes .de banco, e retorna a quem o desembolsou.
Aí vem a ser apenas meio de circulação. Os últimos capitalistas se
pagam uns aos outros, e assim volta o dinheiro a quem o desembolsou.
Ainda fica portanto para depois a questão pendente: o capita-
lista retira da circulação mais dinheiro do que nela põe.
Voltemos a Quesnay.
A. Smith cita com certa ironia a hipérbole do Marquês de Mi-
tabeau:
.3.47.
c:ratas, a classificar e especificar, com mais rigor, os diferentes artigos
do lÍlventário, mas~ ao expor e interpretar o movimento em sua .to-
ta1idade, custou-Jhe manter o nível de correção com que foi esboçado
no Quadro Econ6míco, apesar dos falsos pressupostos de Qiiesnay.
Ademais, quando Smith diz dos fisiocratas:
J28
CAPITULO VII
Linguet
329
tte sério e irônico. Ê a favor do despotismo asiático e contra as for-
.mas cottespondentes, européias e dvilitadas; assim, a favor da escra·
vatu:ta e contra o trabalho assalaríado.
Vol. I. Só a proposição contra Montesquieu - o espírito das
leis é a propriedade - mostra a profundidade de sua visão.10-1
Os únicos economistas com que Llnguet se defrontou foram os
fisiocratas.
Os l'icos apoderaram-se de todas as condições de produção, e
daí a aJienQfão das condições de produção, que nas formas mais sim·
p1es são os próprios elementos naturais.
330
A própria sociedade - o fato de o homem viver em sociedade
e não como indivíduo independente, autônomo - é a raiz da pro·
priedade, das leis nesta baseadas e da escravatura necessária.
De um lado, viviam em paz e isolados, lavradores e pastores. Do
outro,
JJl
n.úrneto de proprietários, o que constitui seu único objetivo"
(p. 36.5).
Vol. II: "Não se trata portanto de investigar se a esaa~
vatuta em si mesma é contra a natureza, mas se é contra a
natureza da sociedade •.. ; desta é inseparável" ( p. 2.56) . "A
sociedade e a servidão nasceram juntas" (p. 257). "A escrava·
tura durável. .• o fundamento indestrutível das sociedades" (p.
347).
"Só exístem homens que dependem, para subsistir, da li-
beralidade de outro homem, quando este os despojou tanto que
se tornou bastante rico para lhes poder restituir uma porção
reduzida. A pretensa generosidade só pode ser restituição d~
certa parte dos frutos que os trabalhos daqueles geraram e de
qr&e o último se apropriou" (p. 242). Não consiste a servidão
nesse encargo de semear sem colher para si, de sactífica.r seu
bem-estar ao de outra pessoa, de ttabalhar sem esperança? Sua
verdadeira era não começa no momento em que houve homens
que se podia constranger a trabalhar a chicotadas, com a com·
pensação de receber certa quantidade de aveia quando triu:idos
de volta ao estábulo? Só numa sociedade aperfeiçoada, os meios
de subsistência parece,m ao pobre faminto equivalente bastante
de sua liberdade; mas' numa sociedade em fase inicial, essa troca
desigual horrorizaria os homens livtes. Só se pode .propô-la a
cativos. E impô-la a estes como uma necessidade só é possível
depois de privados da fruição de tOd?S as faculdades" (pp.
244-245).
"A esslncia da sociedade. . . consiste em libertar o rico do
trabal.ho; em lhe dar novos órgãos, membros .ínfatigáveis, que
tomem sobre sí todas as tarefas 'Iaborios~s, de cujos frutos lhe
cabe apropriar-se. Eis aí o plano que a escravatura lhe permitiu
executar sem embaraços. Comprava os homens que deviam ser·
ví-lo" (p. 461). u.Ao suprimir-se a escravatura, não se pre.-
tendia suprimir a opulência, nem su'.IS vantagens. . . Era ne-
cessário por isso que as coisas, embora mudassem de nome, fi.
cassem no mesmo. Continuou sendo necessário que a maior
parte dos homens vivesse por contá e na dependência da es-
cassa minoria que se apropriara de todos os bens. A escravidão·
perpetuou-se portanto na terra, mas com nome mais doce. Entre
nós ornou-se ela com o título de serviço estlpendíado '' ( p .
462).
3)2
tlhecidos pelo nome de jomaleiros, operários etc. Não os deson·
ram as cores brilhantes do luxo; gemem sob andrajos repugnan·
tes que são a libré da indigência. Nunca participam da abundan-
cia, cuja fonte é seu trabalho. A riqueza parece outorgar-lhes
mercê, quando consente em aceítar os presentes que eles lhe
dão. Têm de ser gratos pelos serviços que a ela prestam. A ri-
queza cumula-os com o desprezo mais ulttajante quando eles
imploram com humildade .a permissão de lhe serem úteis. Faz-se
rogar, para concedê-la, e nessa troca singular; de uma prodigali-
dade real contra uma benefic~ncia imaginária, a arrogância, o
desdém estão do lado de quem recebe, e a vileza, a apreensão e
a solicitude, do lado de "JUem dá. Esta é a espécie de servidores
que de fato substitui os escravos entre n6s" ( pp. 463-464).
"Trata-se de examinar qual o ganho efetivo que lhes trouxe
a supressão··Ja escravatura. Direi com dor e com franqueza: tudo
que ganharam consiste em serem atormentados a todo instante
pelo temor de morrer de fome, infortúnio de que estavam. pel.o
menos isentos seus antecessores nesse último degrau da huma-
nidade" (p. 464). "Ele é livre, dizei! Ah! aí está sua desgraça.
De ninguém depende, e por igual ninguém depende dele. Quan·
do· se precisa dele, é alugado ao preço mais barato possível. A
pequena remuneração que lhe é prometida mal se iguala ao pre··
ço de sua subsistência para a jornada que Já em troca. São-lhe
impostos supervisores, que o obrigam a executar a tarefa com
rapidez; acossam-no, aguilhoam-no, com receio de que uma pre-
guiça astuciosa e escusável o induza a esconder a metade de
seu vigor; pot temor de que a esperança de demorar mais tem·
po no mesmo trabalho lhe freie a agilidade das mãos e embote
as ferramentas. A economia sótdida. que o acompanha com os
olhos inquietos,.Ji menor pausa que ele pareça fazer, enche-o
de repreensões e, se ele repousa por um instante, acusa-o de
estar furtando. Concluída a tarefa despedemwno como foi admi·
tido, com a mais fria indiferença, sem procurarem saber se as
vinte ou trinta moedas de cobre que recebeu por uma jornada
penosa bastam para sustentá-lo, caso não encontre trabalho no
dia seguinte" (pp. 466-467}.
"É livre! Esta a razão por que o lastimo. Por isso, pou~
.pam-·110 muito menos nos trabalhos em que o empregam. Por
isso, é bem maior a audácia em dilapidar a vida dele. Para o
senhor, o escravo era precioso em virtude do dinheiro que lhe
custara. Mas o operário nada custa ao rico voluptuoso que o
emprega. No tempo da escravatura, o sangue dos homens tinha
certo preço. Valia pelo menos a som.a por que eram vendidos no
mercado. Desde que rufo são mais vendidos, nenhum valor .iJl.
JJJ.
trínseco têm mais, na realidade. Num exército, um sapador vale
bem menos que uma besta de carga, pois esta é muito cara e
o sapador se obtém de graça. Com a supressão da escravatura~
esse cálculo militar passou para a vida civil; e desde entãó não
hJ burguls próspero que num caso desse gênero não faça seus
cálculos como os heróis da guerra" {p. 467).
"Os jornaleiros nascem, crescem e se educam" {são pre·
parados) "para setvir à opulência sem lhe dar a menor despe·
sa, como a caça que ela massacra em seus domínios·. Parece que
ela de fato posimi o segredo de que se vangloriava o desventu·
rad.o Pompeu. Basta-lhe bater com o pé no chão, para fazer
surgir legiões de homens laboriosos que entre si disputam a
honra de servi-la. Se desaparece alguém dessa multidão de mer-
renários, que constroem os edifícios da opulência ou alinham
seus jardins1 o lugar que fica vago é um pont.o invisível que é
de imediato ocupado, sem interferência de quem quer que seja.
Perde-se, sem pesar, uma gota d'água de um grande rio, porque
os fluxos sobrevêm em abundância incessante. E o mesmo se
aplica aos operários: a facilidade de os substituir aumenta a
insensibilidade do rico para com eles"
.334
do pela necessidade, mais barato se vende. Quanto rnais urge
a necessidade, menos frutos lhe dá o trabalho. Os déspotas mo-
mentâneos, a quem, chorando, roga aceitarem seus setviços, não
se envergonham de lhe tomar, por assim dizer, o pulso, a fim
de se certificarem que ainda lhe restam forças: e o remuneram
tanto menos quanto mais aumenta a sua fraqueza. Quanto mais-
perto lhes parece estar ele de morrer de inanição, mais reduzem
o que poderia salvá-lo. E o que esses bárbaros lhe dão serve
muito menos para lhe prolongar a vida que. para lhe retardar
a morte" (pp. 482-483). "A independênciall (do jornaleiro) ...
ªé um dos mais sinistros flagelos produzidos ·pelo refina-
mento dos tempos modernos. Acresce a opulência do rico e a
htdígência do pobre. Um poupa tudo o que o outro despende.
O pobre é com;ttangido a economizar não do supérfluo e sim
do indispensável,. (p. 483 ).
"Se hoje há tanta facilidade para sustentar esses prodigiosos
~ércitos que se juntam à opulência para levar a cabo o exter-
mínio da espécie humana, a causa única é a supressão da escra·
vatura .•. S6 depois que acabaram os escravos, é que a crápula
e a mendicidade formam heróis a cinco vinténs por dia" (pp.
484-485).
"Prcfuo-a" (a escravidão asi~tíca) "cem vezes a qual-
quer outra forma de existência de homens que são forçados a
ganhar a vida com o trabalho de jornaleiro" (p. 496).
"Suas cadeias" (dos escravos e dos jornaleiros) "sã.o fei-
tas da mesma matéria, só que diversamente coloridas. Aqui são
pretas e pa.r:ecem pesadas; ali têm aspecto menos triste e pa-
recem mais leves; mas, pesai-as com imparcialidade, e nenhuma
diferença encontrareis; umas e outras são por igual forjadas pela
necessidade. Tên?. precisamente o mesmo peso, ou antes, se uma
pesa mais alguns grãos, é a que, por fora, revela maior leveza"
(p. 510).
)39
Fqrça de trabalho:.:·
340
Petty
105 Marx examina alguma.<; ídéias de Petty no cap. "Teorias sobre tra-
balho produtivo e improdutivo"', a propósito das primeiras tentativas de dis-
tinguir entre trabalho produtivo ei improduti:-.•o (ver, neste volume, pp.
158-161). l
106 Ver esboço do plano da parte I de O C(ffJita!, neste volume, p. 409.
341
b) .comerciantes e retalhistas:
"Deles poderia por igual ser eliminada grande parte a que
a sociedade nada dev~ por direito e eqüidade, pois eles não
passam de uma espécie de jogadores que disputam entre si o
produto do trabalho dos pobres e por si mesmos nada produ-
zem, mas, como as veias e artérias, limitam-se a repartir, em
diversas direções, o sangue e os sucos nutritivos do co.tpo so·
cial, a saber, o produto da agricultura e da manufatura" (p. 10).
d) Pobres, os excedentes:
População, a riqueza:
"EJ:cassez de população é pobre:ca real; e uma nação com
oito milhões de habitantes é duas vezes mais rica que outra de
quatro milhões apenas, num tettit6rio de igual superfkie" (p.
16).
Quanto aos Clérigos, item (a} acima, Petty os trata com afiada
ironia:
)42
"A religião floresce mais quando os religiosos mais se mor-
tificam, assim como o direito rnedra rnelhor onde os advogados
têm o mínimo a fazer" (p. 57). Aos religiosos ele aconselha
a todo transe "não engendrem mais sacerdotes que os que po-
dem comportar as prebendas atualmente distribuídas". Por
exemplo, com 12 000 prebendas na Inglate.tfa e Pafs de Gales,
"não é prudente gerar 24 000 sacerdotes". Pois então os 12 000
sem. prebenda iriam competir, "e o meío mais fácil para eles
seria persuadir o povo de que os 12 000 prebendados envene-
nam as almas, levam-nas à morte pela fome" (alusão à guerra
religiosa na Inglaterra) "e as desviam do caminho do céu" (p.
57).
343
Esta é, antes de tudo, a "maneira real e não imaginária de
calrular os preços das mercadorias" (p. 66).
344
extraído do produto um equivalente do capital constanti) "e
também tudo o que ele mesmo tiver consumido ou dado em
troca aos outros para obter vestuário e satisfazer outras neces-
sidades natu1·ais, o que restar em trigo é a renda fundiária na-
tural e real para o ano; e a média de sete anos, ou melhor, dos
an.os bastantes para se completar o ciclo das boas e más co-
lheitas> fornece a renda fundiária normal em trigo" (pp. 23-24·).
345
1} DETERMINAÇÃO DO PREÇO DA TElUtA, DA RENDA E DO JURO
346
tendo ao contrário de derivá-lo da renda fundiária como forma espe-
da! dela (o que Turgot também faz, conseqüente com seu ponto de
vista). Como pode então determinar o número das rendas anuais, o
qual constitui o valor da ten·a? Um ser humano só se interessa em
comprar a quantidade de rendas anuais correspondente ao número de
anos e.ro que tem de cuidar de si e da posteridade imediata; isto é,
enquanto vive como um homem médio, avô, pai e filho, por um pe-
ríodo de 21 anos, segundo a estimativa "inglesa". Assim, o que está
além desse usufruto de 21 anos, para ele não tem valor. Por isso,
paga o usufruto de 21 anos, e eis aí o que constitui o valor da terra.
Com sua maneira engenhosa safa.se Petty da dificuldade; mas o rele-
vante aí é:
primeiro, que a renda fundiária, expressão do valor excedenU
t1grícola global; não deriva da tena e sim do trabalho, do excedente
do trabalho, acima do necessário. para a subsistência do trabalhador;
segundo, que o valor da terra é apenas renda comprada de ante-
mão e relativa a determinado mi.mero de anos, forma transmutada -
da própria renda - onde, por exemplo, 21 anos de valor (ou tra-
balho) excedente aparece como valor da terra; em suma, o valor da
terra não passa de renda capitalizada. ·
~ com essa profundidade que Petty penetra na matéria. Do ân-
gulo do comprador da renda (isto é. da terra), a renda fundiária emet"-
ge apenas como juro do capital com que a comprou, e nessa forma a
renda se torna irreconhecível por completo e assume a aparência de
;uro do capital.
Depois de ter assim detetminado o valor da terra e o valor da
renda anual, pode inferir a renda do dinheiro ou juro como forma se-
cundária.
347
"&sim como grande procura de dinheiro faz sub.ir o câm.-
1bio, grande procura de trigo aumenta o preço deste e em con:
.reqiiência a renda da terra que o prodtn.''
348
todos os colocados portanto s6 perfazem 900, surge a questão"
-etc. - que .,será dos pobres (os excedentes)? ( p. 12).
349
representar a propriedade alodíal desta como renda capitalizada, riiio
falando portanto da ter.ta como matéria natural do trabalho material.
J.50
Na realidade> a única tarefa aí é reduzir o próprio valor da terra
a trabaJ.ho.
2. Essa obra foi escrita depois da que examinamos antes.
4. Capital
351
mo resultado se realizar o trabalho de cinco, ou se puser no
mundo quatro trabalhadores adultos" (p. 22). "Os alimen·
:tos serão mais baratos ... , quando forem obtidos por niímero
de braços menor que alhures" (p. 23 ).
)52
Petty, Sir Dudley North, -Locke
J)4
rou o ser humano com seu trabalho e juntou-lhes algo que é
seu, e dessa maneira torna-as sua propriedade" (Locke. O/
Government, livro II, cap. V, Works, 1768, v. 11, 7 .ª ed., p ..
229).
"Seu trabalho tomou-as das mãos da natureza, onde eta-
proptiedade comum e por igual pertencia a todos os seus fílhos 1,
e assim apropriou-se delas para si mesmo" (1. e., p. 2.30}~
"A mesma lei natural que por essa maneira nos dá pra.
priedade, também a limita... Todas as coisas que, antes de
se deteriorarem, um homem pode empregar para qualquer pro-
veito da vida é o que deve converter em propriedade pelo tra-
balho; o que vai além disso é mais que sua cota e pertence aos
outros" (1. e.).
"Mas o abjeto principal da propriedade· agora não são os
frutos da terra" etc. "e sim a própria terra. • . A quantidade de
terra que um hotnem lavre, plante, melhore, cultive e cujos
produtos possa utilizar é a quantidade que constitui sua pro-
priedade. Pelo trabalho separa-a, por assim dizer, das terras co-
muns" (1. e., p . .320). Arrotear ou cultivar a terra e ter o do-
mínio sobre ela são, como vemos, coisas indissolúveis. Um.a
deu o direito à outra» (p. 231 ). "A natureza fixou certo a
medida da propriedade pela magnitude do trabalho humano e
pelas comodidade~ da vida: o trabalho de um homem não po-
deria arrotear tudo ou de tudo se apropriar; nem fruir pelo-
consumo mais que uma pequena parte; assim, era impossível ..
pai-a qualquer um, usurpar, por aquele meio, os direitos de
outrem ou obter para si uma propriedade em prejuízo do vizi•
nho .•. Nos tempos primitivos essa medida limitava a posse
de cada um a proporção muíto moderada, a tanto quanto um
ser humaqo podia apropriar-se, sem prejudicar a outrem. . . E
a mesma medida pode ainda ser admitida, sem dano para nin-
guém, por mais cheio que o mundo pareça" (pp. 231-232).
355-
"Na verdade é o trabalho que diferencia o valor de cada
..roisa . • . Dos produtos da terra, úteis à vida dos homens •••
99% devem ser por completo atribuídos ao trabalho" (p. 234).
"'É portanto o trabalho que determina a maior parte do valor"
{p. 235). "Embora as coisas da natureza sejam dadas a todos
em comum, o homem, como senhor de si mesmo e proprietário
Je sua própria pessoa e das ações ou trabalho dela, traz em· si
mesmo o grande fundamento da propriedade ( p. 23.5) •
1
um homem, para o bolso de outro. O que gera isso é a distri-
buição desigual do dinheiro; essa desigualdade tem sobre a ter~
ra o mesmo efeito que tem sobre o dinheiro. . . Pois a dis-
tribuição desigual da terra (no sentido de teres mais terra do
que podes ou queres lavrar, e outro, menos) traz um arren,.-
datário para tua terra; e a mesma distribuição desigual do di:._
nhet.ro. . . traz-me um ptestatário para o meu dinheiro. Assim$,
meu dinheiro, em virtude da diligência do prestatário, pode-
produzir para ele, nos negócios, roais de se,is por cento, do,
mesmo modo que tua tetta, pelo trabalho do arrendatário, pode
fornecer mais frutos que a renda a pagar representa'! (folio ed~
o/ Loc.ke's Works, 1740, vol. II).
J.58
papel importante na redução compulsória da taxa de /t:a't1@~)
tempo de Culpeper e Sir J. Child), os verdadeiros paladinos dessa -
providência foram os proprietários das terras. O "valor da tena,. e "a
elevação desse valor" tornam-se reivindicações de interesse nacional.
"Do mesmo modo, mas eri1 sentido contrário, desde 1760 mais ou
menos, a subida das rendas fundiárias, do valor da terra e dos preços
do trigo, dos mantímenros e as queixas dos industriais contra tudo
isso formam a base das pesquisas econômicas voltadas para essa ma-
téria."
Com poucas exceções é a luta entre os donos do dinheiro e os
donos das terras, a qual enche o século de 1650 a 1750, pois a no-
breza, que vivia à larga, via de -má vontade os usuários estender as
garras sobre ela e enfrentá-la mais poderosos, na esfera da legislação
etc., ao se formar o moderno sistema de crédito e o de dívida pú-
blica, desde o fim do século XVII.
Já Petty fala das queixas dos senhores das terras sobre a queda
das rendas e sua oposição aos melhoramentos do solo (ver a corres-
pondente passagem). 111 Defende o usurário contra o senhor da terra
e coloca em pé de igualdade a renda do dinheiro e a renda da terra.
Locke reduz ambas a exploração do trabalho. Assume a mesma
posição de Petty. Os dois contra a regulamentação do juro imposta
pela força. Os proprietários das terras notaram que o valor da terra
subia, quando o juro caía. Dado o montante da renda fundiária, a
expressão capitalista dela, isto é, o valor da terra, diminui ou aumenta
na razão ·inversa da taxa de juro.
O terceiro, na linha de Petty, é Sir Dudley North na obra cita-
da acima.
Esta é a primeira forma em que o capital enfrenta a propriedade
da terra, pois a usura era na realidade um dos agentes principais da
acumulação do capital, isto é, a co-propríedade deste nas rendas dos
senhores das terras. Mas o capital industrial e o comercial se aliam
mais ou menos com os senhores das terras contra essa forma anacrõ.
nka do capital.
359
zê..Jo "") "arrendam o capital. Eis aí o que se chama de juro- e
que é apenas a renda do capital"
160
(Na íntegra, a passagem no caderno S\lplementar e, pp. 12·13)*
.361
((No mesmo sentido, diz John Bellers, em Essays about Jhe
Poor, Manufactures, Trade, Plantations and Immorality etc., Londres,
1699:
)62
A usura, o proprietário de terra e o comerciante:
)6)
Berkeley e a indústria
como fonte de riqueza
364
Hume e Massie
a) O JuRO
J6>
O .nível da taxa de juro depende da procura do presta:tário, da
oferta do prestamísta, isto é, da oferta e procura, mas. fora disso, na
.essência, do nível dos "lucros originários do comércio" (l. e., p. 329).
1
"O maior ou menor estoque de trabalho e de mercadorias
tem. de influir muito" (sobre o juro), "pois na realidade e pe·
lo resultado os tomamos emprestados, quando tomamos dinhei-
ro a juros" (1. c., p. 3.37). "Ninguém aceitará lucro baixo,
quando pode obter juro alto; e ninguém aceitará juro bai·
xo, quando pode obter lucro alto" (1. c., p. 335).
Juro e lucro elevados são ambos a expressão "de pequeno
progresso do comércio e da indústria, e não da escassez de
ouro e prata" (1. c., p. 329). E "juro baixo" expressa o oposto.
"Num estado onde só há proprietários de terras" (ou, como
ele diz depois, "nobreza fundiária e camponeses") "os tomado-
res de empréstimos têm de ser numerosos e o juro alto" (p.
330).
pois a riqueza apenas para fruir, por força do tédio, busca o prazer,
enquanto a produção, exceto a agrícola, é muito limitada. Sucede o
<lposto, quando o comércio se desenvolveu. A paixão do ganho do-
mina por completo o cometciante:
1'Não conhece alegria maior que a de .ver o crescimento
Trabalho improdutivo:
367
Pessoas ricas, "em vez de aplicateJD das mesmas seu di-
nheiro, emprestaJD-no a outras pessoas) para que estas produ-
zam lucro e resetvem para os proprietários do dinheiro uma cot(l
do lucro a obter. Mas, quando a riqueza de um país se disPeJ'.sa
por tantas mãos e se reparte tão por igual que para muitas petr
soas - se elas aplicarem dinheiro no comércio - não ficará
bastante para sustentar duas famílias, só é possível haver poucos
empréstimos, pois 2 000 libras, pertencentes a uma única pes-
soa, podem ser emprestadas porque os correspondentes juros dão
para manter uma família; se pertencerem, porém, a 10 homens,
não podem ser CJDprestadas porque os juros não dão para sus-
tentar lO familias '1 ( pp. 23-24) .
"Tentar inferir a taxa natural de juro da taxa que o go·
vemo paga por dinheiro é e inevitavdmente tem de ser um
equívoco; a experiência nos mostrou que não se ajustam nem
guardam correspondência entre si; e a razão nos diz que nunca
haverá essa possibilidade> pois uma tem por fundamento o lu·
cro e a outra, a necessidade,· a primeira tem limites, mas a se-
gunda, não. O nobre que toma dinheiro emprestado para mé·
lhorar suas terras, e o comerciante ou eJDpresário que o toma
emprestado para o.s negócios têm limites que não podem traJ?.s·
por; se com o dinheiro podem ganhar 10%, é possível darem
por ele 5%, mas não darão 10%; quem, ao contrário, toma
emprestado por necessidade não tem mais Jimit~, e ~ necessi-
dade não reconhece lei" {pp. 31·32) •
"C9brar juros corresponde à eqüidade não por se obter. ou
não lucro com o que se toma emprestado, mas. porque" {o di-
nheiro emprestado) .. é capaz de produzir luero1 -· se adequada-
mente empregado" (p. 49). "Uma vez que o que se paga de
juro pelo uso do que se toma emprestado é,parte do lucro que o
1emprestado é capa;c de produzir, esse juro tem sempre de ser
regulado pelo lucro" (p. 49).
"Qual a proporção desse lucro que de direito pertence ao
prestatário, e qual, ao prestamista? Só há um método de de-
terminar isso; por meio das opiniões de prestatários e presta·
mistas em geral; pois aí é o consens.o geral que estabelece o
certo e o errado,. (p. 49).
"Todavia, essa regra de repartir o lucro não é de se aplicar
em particular a cada presta.tnista e prestadrio, mas a presta·
mistas e prestatários em geral. . . ~ digno de nota que gran·
des ou pequenos ganhos resultam da habilidade ou da ine.xpe·
riência em negócios, com as quais os prestamistas nada em
absoluto .têm a ver; pois não sendo prejudicados pela. segunda)
não devem beneficiar-se da primeira. ·o que se disse de indiví-
J68
duos no mesmo negócio, é aplicável também a ramos diferentes
de negócios" (p. .50).
"A taxa natural de juro é regulada pelos lucros das em-
presas particulares" (p. 51).
J69
los graus de calor e frio. Dai pod~se de modo geral concluir
que a quantidade de trabalho requerida para manter certo núme-
ro de pessoas é máxima nos climas frios, e mínima nos quen-
tes; os seres humanos precisam de mais roupas e a terra tem
de ser mais cultivada nos climas frios do que nos quentes" (p.
59). "Uma espécie de necessidade peculiar à Holanda •• , de-
corre de ser o país superpovoado> o que, em conjunto com o
grande trabalho indispensável para construir diques e drenar o
solo, lá torna a necessidade de comerciar maior que em qual-
quer outra parte do mundo habitável" ( p. 60).
Des;ie.ra~t rmuai.1
2 bilhãe.r
J71
Essa é a forma mais simples do Quadro Económico. 113
1. Circulação de dinheiro (supõe-se que s6 se paga por ano) .
.A clrculação de dinheiro começa pela classe despendedora, os ,pro-
prietários que não têm mercadorias para vender e compram sem ven-
der.
Compram 1 bilhão da classe produtiva, a quem restituem o bi-
lhão em dinheiro de pagamento da renda fundiária. (Assim passam
a dispor de 1/5 do produto agrícola.) Compram 1 bilhão da classe
estéril, para a qual flui 1 bilhão em dinheiro. (Assim dispõem d.e
1/2 do produto da manufatura.) Com esse bilhão, a classe estéril com-
pra meios de subsistência à classe produtiva, e a esta retorna assim
1 bilhão em dinheiro. (Essa operação dispõe do segundo 1/5 do pro-
duto agrícola.) Com esse bilhão em dinheiro, a classe produtiva
compra 1 bilhão de produtos manufaturados, com que repõe a me-
tade de seus adiantamentos. (Assiro dispõe da segunda metade d.o
produto da manufatura.) A classe estéril compra, com esse bilhão
em dinheiro. matérias-primas. {Assim dispõe de outro quinto do
produto agrícola.) Desse modo, os 2 bilhões em dinheiro reflue.tn
para a classe produtiva.
Sobram assim 2/5 do produto agrícola: 1/'J é consumido fisíca·
mente, mas em que forma se acumula o outro 1/'J? :É o que se ver:á
mais adiante.*
2. Mesmo à luz de Quesnay, para quem a classe estéril toda
consiste em trabalhadores assalariados, já se patenteia·· no próprio
Quadro Econômico a falsidade das premissas. _
Para a classe produtiva adniite-se que os adiantamentos originais
(capital fixo) sio o quíntuplo do montante dos adiantámentos anuais.
Para a classe estéril não se menciona sequer aquele item, o que níío
impede a existência dele.
Ademais, é falso que a reprodução seja igual a 5 bilhões. Se-
gundo o próprio Quadro monta a 7 bilhões; 5 pela classe produtiva
e 2 pela classe estéril,
J72
produto, e parte repõe o desgaste da maquinaria incorporada ao va-
lor do produto) e 1 bilhão d.e meios de subsistência, consunúdos ao
serem elas transformadas.
A classe estéril vende a totalidade desse produto à classe pro-
prietária e à produtiva, primeiro para repor o adiantamento (em ma-
térias-primas), segundo para obter os meios de subsistência agrícolas.
Não lhe fica um centavo de pl'odutos manufatunados para o próprio
consumo, e menos ainda juro ou lucro. É o que Baudeau (ou Le
Trosne) percebe e explica dizendo que a classe ~stéril vende o pro-
duto acima do valor, e assim o que vende por 2 bilhões é igual a 2
bilhões menos x. O lucro e mesmo o consumo de meios de subsis-
tência necessários na forma de mercadorias manufaturadas só se ex-
plicam portanto por meio da elevação do preço das mercadorias 11ci-
1na do valor delas. E em conseqüência ·os fisiocratas recaem por força
no mercantilismo) no lucro de alienação.
Daí ser tão necessária a concorrência entre os manufatores, para
que eles não esfolem demais a classe p:rodutiva, os agricultores. Ade-
mais, essa concorrência é necessária, a fim de que o produto agrí-
cola se venda a "bom preço", isto é, se cote acima do preço interno
com a venda ao exterior, pois supõe-se um país que export~ trigo etc.
J7J
Adiantamentos e capiJal considerados idênticos explicitamente.
Acumulação áos capitais condição principal.
"O aumento dos .capitais é portanto o meio principal de
acrescer o trabalho, e o maior ganho da sociedade,, etc. (Ques-
nay, em Dupont de Nemouts, 1. e.• p. 391 ).
374
Buat
l.1..4Marx refere-se ao cap. 26 ("On groos and net revenue") da obra de-
Ricardo Principies of political economy, and taxation.
l.16 Marx refere-se a seus excertos da obra de Bual no caderno suplemen-
lar A, pp. 27-32. No parágrafo seguinte figuram as indicações das páginas
desse caderno, e a seu ládo intercalam-se, entre parênteses, referêncías à&
páginas correspondentes da obra de Buat.
.das mais altas formarem "a sociedade". (Também para Arthur Young,
o produto líquido, a mais-valia, é o objetivo da produção11e..} · ·.
Isso nos lembra a passagem de Ricardo contra Smith, para quem
-0 capital roais produtivo é o que emprega o maior número de trab~
lhadores. Sobre o as.sunto ver Buat, pp. 30, .31 ( t. VI, pp. 51-52, 6~
a 70). Adem.ais, sobre a classe trabalhadora e a escravidão, pp. 28-29:
(t. II, pp. 288, 297, 309; t. III, pp, 74, 95, 96, 103; t. VI, pp. 43;'
51); sobre a necessidade de esses trabalhadores trabalharem temp~'
·excedente, e sobre o sentido do estritamente necessárío, p. 30 (t, VI,.
pp. 52·53).
Aqui citaremos apenas uma passagem, por se enquadrar na paro-
lagem· sobre o risco a que em geral se expõe. o capitalista:
376
John Gray
377"
A obra de John Gray contém, de início, resumo excelente e con-
ciso da doutrina fisiocrática.
Com acerto busca a orígem da concepção em Locke e Vanderlint•
.Descreve os fisíocratas como os que "elucidaram" a doutrina "de
maneira bem sistemática, embora incorreta" (p. 4). (A propósito, ver
ainda, p. 6; caderno H, pp. 32-33.) 118
Pelo mencionado resumo vê-se muito bem que a teoria da priva-
.ção - da qual os apologistas posteriores, e em parte já Smith, fazem
.a base da formação do capital - resultou justamente da concepção
fisiocrática de não se criar mais-valia na indústria etc.
378
E aí está a importância da fisiocracia, que se pergunta como se
ptoduz e reproduz a mais-valia (para Gray, igual a renda). A pergun-
ta sobre o modo como se reproduz em escala maior, isto é, como se
;tmplia, vem em segundo lugar. O que se tem de descobrir primeiro é
sua categoria, o segredo de sua produção.
Mais-valia e capital comercial.
379
c1ar1as do Oriente. Transporte internacional de mercadotfas. Empr~~]
timos de dinheiro ao e:xterior (Caderno suplementar H, pp. 36-37)j~ '~-,;
380 1
O proprietário da terra impõe tributos (p, 118).
A limitação fisiocrática pat»nteia-se no seguinte (falta de com.
preensão da divisão do trabalho);
Admitamos que um relojoeiro ou um fabricante de morim não
possa vender o relógio ou o morim. (Mas suponhamos que um pro-
dutor de algodão, ferro, linho, anil etc. não possa vender esses pro-
dutos, ou mesmo que um produtor de trigo não possa vender seu tri-
go. É excelente o que diz sobre o assunto Béardé de l'Abbaye, citado
®tes. Gray tem de defender a produção imediata para o consumo
C\)ntra a produção de mercadorias, o que contradiz muito o fato de
s~r o valor de venda, para os fisiocratas, o essencial. Mas essa contra-
dição o acompanha sempre. A concepção burguesa dentro do modo
de ver pré-burguês.) Mostra
38.l
Digressão
J82
i1'.fi:fmpêndios sobre direito criminal, códigos penais e portanto legisla··
:'~('ij_0tés penais, mas também arte, literatl1ra, romances e mesmo ttagé-
"j;,_di,,s,
tais como Scbuld de Müllner, Raiiber (Salteadores) de Schiler,.
f.l'.$4ipo de Sófocles e Ricardo III de Shakespeare. O criminoso quebra
'f::a monotonia e a segurança cotidiana da vida burguesa. Por conseguin-
\ie preserva-a da estagnação e promove aquela tensão e turbulência
jnqllietantes. sem as quais se embotaria mesmo o aguilhão da concor-
r~cia. Estimula assim as focças produtivas. O crime retira do merca-
,,:do de trabalho parte da população supérflua e por isso reduz a con-
fur.tência entre os trabalhadores, impede, até certo ponto, a queda do·
salário abaíxo do mínimo, enquanto a luta contra o crime absorve:
parte dessa população. O criminoso aparece como uma daquelas "com
·pensações" naturais, que restabelecem um equilíbrio adequado e abre
ampla perspectiva de ocupações "úteis n.
Pode-se comprovar, descendo-se a pormenores, a influência do
·criinínoso sobre o desenvolvimento da produtividade. Teriam as fecha-
dµras atingido a excelente qualidade atual, se não houvesse ladrões?
A fabricação de notas de banco tcría chegado à perfeição presente, se
não houvesse moedeíros falsos? Teria o microscópio penetrado na
esfera comercial comum (ver Babbage) sem a fraude mercantil? Não
deve a química prática à falsíficação de mercadorias e ao esforço de
çlescobri-la tanto quanto deve ao afã honesto de produzir? O crime,.
·~m os meios de ataque à propriedade sempre novos, provoca a gera-
ção ininterrupta de novos meios de defesa, e assim tem, como as gre-
ves, influência tão produtiva na invenção de máquinas. E se deixamos.
a esfera do crime privado: sem e.time nacional, teria jamais surgido o
mercado mundial? E mesmo as nações? E desde os tempos de Adão,
a árvore do pecado não é a árvore do conhecimento? Mandevílle em
sua Fable of the Bees ( 1705) íá patenteara a produtividade de todas
as ocupações possíveis e em geral a tendência de toda essa argumen-
tação:
383
Produtividade do capital.
Trabalho produtivo e improdutivo
384
a ~órça produtiva do trabalho social e suas formas particulares se
apresentam então na qualidade de forças produtivas e fotmas do ca-
p~tal, do trabalho materializado, das condições materiais ( obje-dvas)
4o trabalho - as quais, nessa forma independente, em foct: do tra-
b,alho vivo, se personificam no capitalista. Eis aí, mais urna vez, a re-
fação pervertida, que, ao tratar do dinheiro, chamamos de fetichismo 12ª.
· O pr6ptio capitalista só detém o poder por personificar o capital.
(Na contabilidade italiana, esse papel de capitaJista, de capital pt:rso-
nifkado, sempre se contrapõe a ele como simples pessoa, e ne<:sa qua-
lidade o capitalista apenas se revela consumidor particular e devedor
do próprio capital.)
A produtividade do capital, antes de mais nada, consiste, mes-
mo considerando-se apenas a subsunção formal do trabalho ao capi-
taJ1la3, na coerção para se obter trabalho excedente, trabalho adrna da
,necessidade imediata, coerção que o modo capitalista de produç,'ío par·
tilha com modos de produção anteriores, mas que exerce e efeth1a de
maneira mais favorável à produção.
Mesmo do ângulo dessa .telnção meramente formal - na forma
,geral da produção capitalista, a qual o modo menos desenvolvido dessa
produção tem em comum com o mais desenvolvido ~, os meios de pro-
dução, as condições objetivas de trabalho, a saber, material de trabalho,
meios de trabalho (e meios de subsistência), não se apresc:ntam sub-
sumidos ao trabalhador; este é que aparece a eles subsumido, Não é
o trabalhador que os usa, mas eles que o usam. E são, por- e.;se meio,
capital. Capital emprega trabalho. Não são meios para o trabalhador
gerar produtos, seja na forma de meios de subsistência imediatos seja
na de meios de troca, na de mercadorias. Ao contrário, o trabalhador
é para eles meio tanto de lhes conservar o valor, quanto de criar mais-
valia, isto é, serve--lhes para o acrescer, para sugar trabalho excedente.
Em suíl simplicidade, essa relação já é uma perversão, personi-
ficação da coisa, e coisificação da pessoa; pois o que distingue essa
385
forma de todas as anteriores é que o capitalista domina o trabalhado~~
não for força de um atributo pessoal, mas apenas enquanto é "capi~:
tal"; esse poderio é tão-só o do trabalho materializado sobre o vivo,'
do produto do trabalhador sobre o pr6prio trabalhador. ·.•.
Mas a relação se torna ainda mais complicada e de aparência mais:
enigmática porque, ~om o desenvolvimento do modo de produção ~·
.pecificamente capitalista, opõem-se ao trabalhador e o confrontam np
:papel de "capital", a!ém ·dessas coisas ímedlatamente materiais -
todas elas produtos do trabalho; condições objetivas e produtos d()
trabalho, segundo o valor de uso, e tempo de trabalho geral materfo.
Hzado ou dinheiro segundo o valor de troca - as formss de trabalho
.socialmente desenvolvido, cooperação, manufatura (forma de divisão
.do trabalho} , fábrica (forma do trabalho social organizado com base
material na maquinaria), representando formas de desenvolvirm:nlv do
cr.pital> e por isso as forças produtivas do trabalho desenvolvidas a
partir dessas formas do trabalho social, em conseqüência também a
ciência e as forças naturais aparecem como forças produtivas do ca-
pital. De fato, a unidade na cooperação, a combinação na divisão do
trabalho, o emprego, na maquinaria para fins produtivos, das forças
naturais e da ciência junto com os produtos do trabalho, tudo isso se
opõe aos pr6prios trabalhadores individuais como algo estranho e coi-
sificado, corno simples ;forma de existência dos mefos de trabalho deles
independentes e que os dominam, e do mesmo modo esses meios os
enfrentam na forma visível, simples, de mate,rial,' instrumento etc., nas
funções de capital e portanto de capitalista.
Quanto aos trabalhadores individuais, as formas sociais de seu
próprio trabalho ou as formas de seu próprio trabalho social são re.
"lações constituídas de maneira que deles eliÍ nada depende; os trab2-
.lhadores, subsumidos ao capítal, tornam-se ,elementos dessas formações
:sociais, mas essas formações sociais não lhes pertencem.. Enfrentam-nos
·portanto como estruturas ·do próprio capital, como combinações per.
-tencentes ao capital, distintas da força de trabalho individual, oriundas
-.do capital e nele incorporadas. E isto assume feição tanto mais renl
•quanto mais essas formas modificam a própria. força de trabalho -
tornando-a impotente para a ação autônoma, isto é, fora do reladona-
·mento capitalista, e destruindo-lhe a capacidade autônoma de produzir
-- e quanto mais as condições de trabalho, com o desenvolvimento
·da maquinaria, se patenteiam, no plano tecnológico, dominantes do tra~
balho e ao mesmo tempo o substituem, subjuga:m e o tornam supérfluo
nas formas independentes. ·
Nesse processo, onde as características sociais de. seu trabalho a
eles se contrapõem, por assim dizer, capitalfaadas (na maquinaria, por
exemplo, os produtos visíveis do trabalho se revelam dominadores do
trabalho), o mesmo se dá naturalmente com· as forças naturais e com
J86
,,:1l;;iiência, o produto do desenvolvimento histórico geral em sua quinta-
;{Ussên,c;ia abstrata - elas os enfrentam como forças do capital. Na rea-
W4ade separam-se da habilidade e do conhecimento do trabalhador in.-
i'mvW.Ual e, embora na origem também sejam produto do trabalho, onde;~
)quer que entrem no processo de trabalho, apresetitam-se incorporadas-:
}ªo capital. O capitalista que emprega uma máquina não precisa ter O·
·::·<imhecimento de seu mecanismo (ver Ure). Mas, em relação aos tra--
':,Qalhadores, a ciência realizada na máquina se revela capital. E na reaii:..
qad_e todo esse emprego, fundado no trabalho social é em grande escala,
aii dêncla, das forças naturais e dos produtos do trabalho só aparece
~esmo como meio de explorar trabalho, de apropriação de trabalho
'ey;cedente, portanto, pare. o trabalhador, como aplicação das forçar
i>,ertencenres ao capital. O capital emprega_ m1.turalmente todos esses
ixleios apenas para explorar o trabalho, mas, para explorá-lo, tem de
o~ empregar na produção. E assim o desenvolvimento das forças pro-
'.Q.utivas sociois do trabalho e as condições desse desenvolvimento apa-
:;~~m como ação do capital, em relação à qual o trabalhador indivi-
dt.Jal tem mero comportamento passivo, e que em oposição a ele se
·exerce.
O próprio capital, por consistir em mercadorias, tem duplo caráter.
1. Valor de troca (dinheiro); mas valor que se expande, valor
€1Ue) por ser valor, cria valor, como valor aumenta, obtém acréscimo.
I~to se reduz a troca de dada quantidade de trabalho materializado
,çr:mtra quantidade maior de trabalho vivo.
2. Valor de uso; então, o capital aparece no processo de tra-
balho de acordo com suas relações especificas. Mas justamente aí níio.·
é mais apenas (matéria-prima) mate1ial de trabalho, meio de trabalho,.
aos quais pertence o trabtrlho e os quais incorporam a si o trabalho;.
junto com o trabalho, o capital .absorve também as combinações so~
o
ci.4s do trabalho e desenvolvimento dos meios de trabalho, corres-
pcindente a essas combinações sociais. A produção capitalista desen ..
volve primeiro em grande escala - arranca do trabalhador individual
independente - as condições do processo de trabalho tanto objetivas
quanto subjetivas, mas as desenvolve como forças que dominam o tra.
.balbador individual e lhe são estranhas.
. O capital se torna assim um ser prenhe de mistérios.
O capital é portanto produtivo:
1. ao forçar a execução de trabalho excedente;
2. ao absorver as forças produtivas do trabalho social e as for-
ças produtivas sociais gerais, como a ciência, e delas se apropriar (per·
~oníficando-as) .
. · · Pergunta-se como ou por que meio o trabalho se revela produtivo
.,011 trabalho produtivo em face do capital, umii vez que as forças pro.
Q1ltÍVas do trabalho se transpõem para o capital? E a mesma força
)81'
produtiva não pode ser contada duas vezes, uma como força produtiv!'I~
do trabalho,. e outra como força produtiva do capital? (Força p:i:odu~,
tiva do trabalho - força produtíva do capital. Mas, a força· de tra.b"1
lho é produtiva pela diferença entre seu valor e o valor que gera,)
124 Marx utiliza, para designar mais-valia, a letra grega ti (delta), em•
pregada em matemática para significar acréscimo. Mais adiante designa mais-
valia por h. · ·
388
':i~elagem substituir os teares manuais pelos mecânicos, exigindo a
~~PfQdução de uma jarda de tecido por tear mecânico metade apenas
:~_ijb t~po requerido pelo manual, então 12 horas de um tecelão manuat
:::!$.ii9" representam mais um vruor de 12 horas e sim de 6, pois agora,
.j) tempo de trabalho necessJrio se reduziu para 6 horas. As 12 horas.
:tâo tecelão manual só configuram 6 horas de tempo de trabalho social,,.
Yêinhora ele trabalhe 12 como dantes.
-- - Mas não é des!!e assunto que se trata aqui. Tome-se, ao contrárícr,
óµrro ramo de produção, por exemplo, tipografia,_ onde ainda não se
~prega maquinaria. Nesse ramo, 12 horas produzem tanto valor quanto
.tí2 horas em ramos de produção em que a maquinaria tem desenvol-
vimento máximo. Por conseguinte, o trabalho que produz valor con-
1inua sempre a ser trabalho do indivíduo, mas se expressa na forma de
trabalho geral. O trabalho produtivo - como trabalho que produz
valor - confronta, por isso, o capital sempre na_ forma de trabalho da
força de trabalho individual, do trabalhador isolado, sejam quais forem
~ combinações socia.is de que participem esses trabalhadores no pro-
Cê!íSO de produção. Assim, enquanto o capital representa perante o tra-
balhador a força produtiva social do trabalho, o trabalho produtivo
representa sempre perante o capital nada mais que o trabalho do tra.-
ba/l;ad.or isolado.
Terceiro: Se parecem ser propriedade natural do capital, oriunda
portanto de seu valor de uso, extorquir trabalho excedente e apropri·
iu:-se das forças produtivas sociais do trabalho, ao revés, parece ser
propriedade natural do trabalho gerar as próprias forças produtivas:
sociais como forças produtivas do capital, e o próprio produto exce..
dente, como mais-valia, autovalorização do capital.
- É mister desenvolver agora esses três pontos e daí inferir a dífo-
.rença entre trabalho produtivo e improdutivo.
Quanto ao prirJ!eiro ponto, a produtividade do capital consiste
em contrapor-se ele aô trabalho convertido em trabalho assalariado,
e a do trabalho, em contrapor-se aos meios de. trabalho convertidos
em capital.
Vimos que dinheiro se torna capital, isto é, dado valor de troca
11e converte em valor de troca que acresce a si mesmo, em valoi:
;ididonado de mais-valia, em virtude de parte dele transformar-se em
mercadorias que servem de meios de trabalho para o trabalho (maté-
rias-primas, ínstrllmentos, em suma, as condições materiai.'i de traba-
lho), e parte aplícar-se na compra de força. de trabalho. Entretanto,
não é essa primeira troca entre o dinheiro e a força de trabalho, ou-
à mera compra desta, que transforma o dinheiro em capital. Essa com-
p.ra incorpora ao capital o uso da força de trabalho por deter:minado-
-tempo ou torna determinada. quantidade de trabalho vivo um dos modos·
de existência, a enteléquia, por assim dizer, do próprio capital.
389'
No processo de produção efetivo, o trabalho vivo se transfotma
em capital, ao reproduzir o salário - portanto, o valor do capital'
variável - e ainda gerar .tnais·valia; e por meio desse processo de
transfottnação, a soma ~oda em dinheiro se converte em capital, em-
bora a parte que varia diretamente seja apenas a desembolsada ein
salário. O valor, se era igual a e + v, é igual agora a c + ( v+x»
o mesmo que ( c+v) + x 125 ; quer dizer, a soma original de dinheiro,
a magnitude. d.e valor) expandiu-se, revelou-se valor que ao mesmo
.tempo se conserva e acresce.
(Cabe observat· aqui: a circunstância de só a pari.e variável do
"Capital produzir acréscimo, em nada altera o fato· de aparecer e:xpan·
dida, por mefo desse processo, a totalidade do valor original, de ficar
ela acrescida de mais-valia. de se transformar portanto em capital
toda a soma original de dinheiro. ~ que o valor original = c + v
{capital constante e eapital variável). No processo torna-se c+ (v+x);
o último termo é a parte reproduzida que surgiu pela transformação
do trabalho vivo em trabalho materializado, transformação que é mo-
tivada e introduzida pela troca de v por força de trabalho ou por sua
(conversão em salário. Mas, c+(v+:x:) =e+ v (o capital origi-
nal) + x. Ademais, ai c9nversã.o de v em v .+ x e, portanto, de
( c + v) em ( c + v) + x s6 pode ocorrer quando parte do dinheiro
~ transforma em c. Urna parte só pode transformar-se. em capital
t>a1ilivel, quando a outra se transforma em capi.tal const·ante.)
No processo de produção efetivo, o trabalho se converte r~Imen·
te em capital, mas essa conversão depende da troca originária entre
dinheiro e força, de trabalho. Só em virtude dessa conversão direta
de trabalho em trabalho materiaJizadó pertencente nio ao trabalhadl.lt
e sim ao capitalista é que o dinheiro se converte em capital, inclusive
a parte dele que assumiu ,a_ forma de meios de produção, de condições
de trabalho. Antes, o dinheiro - exista na própria forma ou na
forma de mercadorias (produtos) adequadas para servir de meios de
produção de novas mercadorias - é capital apenas em si 1:1>.u.
Só a apontada relação definida com o trabalho transforma o
dinheiro ou a mercadoria em capital, e é trabalho produtivo o traba-
füo que, por meio dessa relação que mantém com as condições de
produção e a que corresponde determinado comportamento no processo
de produção efetivo - transforma dinheiro ou mercadoria em capital,
isto é, conserva e acresce o valor do trabalho materializado, que' se
tornou independente em relação à força de trab.alho. Trabalho pro-
190
;f'.Jlµt~yo é uma abreviação para, designar o conjunto do reladon'.1.tnento
(,'~,~Os modos em que a força de trabalho figura no processo capitaíista
}~t;i produção. É da maior importância, porém, distingui-lo de outras
:F<!,~pécies de trabalho, pois essa distinção e:x:príme a especificidade da
;:.fJ'.irilla do trabalho sobre que repousam o modo capitalista de produção
iiwr inteiro e o próprio capital.
,r, . Trabalho produtivo portanto é o que - no sistema de produção
W'.C,apitalista - produz mais-valia para o empregador ou que transforma
:1 ªs condições materiais de trabalho em capital e o dono delas em capita·
' Üst<i, por conseguinte trabalho que produz o próprio ptoduto como
~pital.
· Assim, ao falar de trabalho produtivo, falamos de trabalho
$Ocia!,mente definido, trabalho que envolve relação bem determinada
~tre o comprador e o vendedor do trabalho.
. Embora o dínheíro nas mãos do comprador da força de trabalho
..,,..... ou, se se expressa em mercadoria, os meios de produção e os meios
oe subsistência do trabalhador - só se torne capital por meio do
processo, só neste se converta em capital, e essas coisas não sejam
capital antes de entrar no processo, mas apenas se destínem a ser capi-
tal, são elas, entretanto, capital em si. São capital em virtude da for-
ma autônoma com que confrontam a força de tTabalho e esta as con-
fronta, uma relação que motiva e assegura a troe.a com a força de
trabalho e o processo daí decorrente da conversão real do trabalho em
:(;apital. Têm de antemão, em face dos trabalhadores, a destinação
social que as torna capital e lhes dá o comando sobre o trabalho. ;Por
isso, com respeito ao trabalho, são precondições na forma de capital.
Assim, podemos designar de trabalho produtivo o que se troca
.cliretrunente por dinheiro na qualidade de capital ou, apenas abrevinn·
do, o que diretamente se troca pot capital, isto é, por dinheiro que
etn si é capital, tem a destinação de funcionar como capital, ou que,
rut qualidade de capital, enfrenta a força de trabalho. Na expressão
trabalho que se troca diretamente por capital está ímplícíto que o tra-
1;.!llho se troca por dinheiro como capítal e efetivamente se converte
em capital. A determinação do caráter imediato dessa troca é matéria
.que logo veremos mais de perto.
Trabalho produtivo é portanto o que, para o trabalhador, apenas
reproduz o valor previamente determinado de sua força de trabalho,
mas, como atividade geradora de valor, acresce o valor do capital, ou
<,Xmtrapõe ao próprio trabalhador os valores que criou na forma de
çapital.
391
e) DuAs FASES DA TROCA ENTRE CAPITAL E TRABALHO, DIS·
TINTAS NA ESSÊNCIA
J92
' ',;i:/' Mas, ao mesmo tempo, a força de trabalho só é comprada porque
;~g'· trabalho, que pode realizar e se obriga a executar, é maior que o
;'j~halho necessário para reproduzir a for~-a de trabalho, e se apresen·
l{ta por isso em valor maior que o valor da força de trabalho.
:;·lj;.- · · Segundo. A segunda. fase da. troca entre capital e trabalho nada
\Xtem a ver, na realidade, com a primeira; no sentido estrito da palavra,
Jnão e troca absolutamente.
. . ·. Na primeira fase há troca de dinheiro por mercadoria - troca
,de- equivalentes - , e trabalhador e capitalista se confrontam na qua-
. lid~de de donos de mercadorias. Trocam-se equivalentes. (Isto é, à
'.<relação não ímporta quando se trocam; e para a transação tanto faz
que o preço do trabalho esteja acima ou abaixo do valor da força de
J~abalho ou lhe seja igual. A transação portanto pode ocorrer de acor·
do com a lei geral da troca de mercadorias.)
Na segunda fase não há troca. O dono do dinheiro cessou de
~er comprador de mercadoria, e o trabalhador, de ser vendedor de
mercadoria. O dono do dinheiro funciona agora como capitalista.
Consome a mercadoria que comprou, e o trabalhador a fornece, pois
o uso de sua força de trabalho é seu próprio trabalho. Por meio da
transação anterior, o trabalho mesmo se tornou parte da riqueza obje·
tiva. O crabalhador o executa, mas o trabalho pertence ao capital e
.agora é deste apenas função. Ocorre portanto sob seu controle e che-
fia diretos; e o produto onde se materializa é a nova efígie em que
-0 capital aparéce, ou melhor, em que se realiza efetivamente como
,c;apíta1. Nesse processo, portanto, o trabalho se materializa de ma·
neira direta, transforma-se de imediato em capital, depois de já se
ter incorporado ao capital, formalmente, pela primeira transação.
Mais precisamente, converte-se aí em capital mais trabalho do que o
'Olpital ( trabalho materialízado129 ) que se desembolsou antes na com·
pra de força de tràbalho. Nesse processo há apropriação de uma parte
não paga do trabalho, e só por esse meio o dinheiro se transforma em
capital.
Embora nessa fase, de fato, não ocorra troca, o resultado, se
pusermos de lado os meios que o provocaram, é que - juntando-se
$1bas as fases - determinada quantidade de trabalho .materializado
se trocou por quantidade maior de trabalho vivo. Isso se expressa no
resultado do processo: o trabalho que se materializou no produto é
maior do que o trabalho materializado na força de trabalho e, po.r-
timto, maior do que o trabalho materializado que é pago ao trabalha·
dor, ou o capitalista, no processo efetivo, recupera, isto é, recebe não
só a parte do capital a qual desembolsou em salário, mas também
mais-valia, que nada lhe custa. A troca direta de trabalho por capital
:significa aí: 1) a .conversão imediata do trabalho em capital, em ele-
mento objetivo componente no capital do processo de produção; 2)
J9J
a troca de determinada quantídade de trabalho materializado 'pela;;
mesma qWllltidade de trabalho vivo acrescida de quantidade excedeij~:
te de trabalho vivo, da qual se assume a propriedade sem troctt. ·
A proposição - trabalho produtivo é o trabalho que se· troca'
diretamente por capital - abrange todas essas fases e é apenas uma.
fórmula inferida para dizei: que é o trabalho que transforma dinheiro'
em capital e faz a permuta com as condições de produção guindadas a
capital; não se relaciona com elas qualif ícâdas de meras condições de
produção, nem com elas se comporta como trabalho puro e simples,
sem destinação social esped:fica. ·
A proposição envolve: 1) a relação recíproca entre dinheiro e
força de trabalho como mercadoria, compra e venda entre o dono do
dinheiro e o dono da força de trabalho; 2) a subsunção129 direta do
trabalho ao capital; 3) a transformação direta do tnibalho em capital
no processo de produção ou, o que dá no mesmo, a criação da mais-
valia para o capital. Ocorrem duas espécies de troca entre trabalho e
capital. A primeira expressa apenas a compra da força de trabalho e
por isso, na realidade, do trabalho e, em conseqüência, do respectivo
produto. A segunda, a conversão direta de trabalho vivo e.tn capital
ou a materialização do trabalho vivo como realização do capital.
394
~:~Ç.ança esse produto específico do processo de produção capitalista,
~·ij,~' itrQC:a pelo trabalho, que se chama por isso de trabalho produtivo.
!/i:,, O trabalho, para produzir mercadoria, tem de ser trabalho útil,
~p~(xluzi.r valor de uso, configurar-se num valor de uso. E por conse-
)guinte só trabalho que se apresenta em mercadoria, isto é, em valores
·9.~ uso, é ttabalho por que se pennuta capital. Este é um pressuposto
:ipor si mesmo evidente. Mas, não é esse caráter concreto do trabalho,
l:~eu valor de uso como tal - a circunstância ele ser, por exemplo,
:i;tabalho de alfaiate, sapateiro, fíandei.ro, tecelão et_c. - que consti-
:iui seu valor de uso específico para o capital e por isso o qualifica de
fr:abalho produtivo no sistema de produção capitalista. O que cons-
,ijtui seu valor de uso específico para o capital não é seu caráter útil
·i?;ttticular, tampouco as propriedades especiais úteis do produto em
qt):e se materializou, e sim seu caráter como o elemento criador do
valor de troca, como trabalho abstrato; mais p.tecisamente, não ê a
Çgçunstância de representar, em suma, dada quantidade desse traha-
UpQ geral, mas a de representar quantidade maior que a contida em
')~u preço, isto é, no valor da força de trabalho.
. · O valor de uso da força de trabalho para o capital é justamente
o excesso da quantidade de trabalho que ela fornece além da quanti..
'qade de trabalho que nela mesma se materializa e por isso é neces·
_sária para reproduzi-la. Fornece essa quantidade naturalmente na for-
t.n/1 determinada inerente a trabalho de utilidade particular, como, por
-eii;emplo. trabalho de fiar, tecer etc. Mas, esse caráter concreto; que
cr çapacita a configurar-se em mercadoria, não é seu valor de uso espe-
cifico para o capital. Parn este, seu valor de uso especifico consiste
eip. sua qualidade de trabalho em geral e no que a quantidade de tra-
bitlbo que a força de trabalho re11liza. excede n quantidade de trabalho
que ela custa.
· Determinada soma de dinheiro x torna-se capitfll por configu•
.rar-se no respectivo produto como x + h; isto é~ por ser a quanti-
da® de trabalho nela existente· como produto maior que a quantidade
que nela ames se continha. E este é o resultado da troca entre di.
nheito e trabalho produtivo, ou seja: só é produtivo o trabalho que
(.::apacita o tt:abalho materializado, na troca por ele, representar-se em
quantidade maior de trabalho materializado.
- O processo capitalista de produção, portanto, não consiste em
mera produção de mercadorias. Ê um processo que absorve trabalho
JJ.ão IXlgo, fa:z das matérias-primas e dos meios de trabalho - os
niefos de produção - meios de absorver trabalho não pago.
' · Do que se viu infere-se que trabalho produtivo é uma qualifi-
~ção que, de início, absolutamente nada tem a ver com o conteúdo
Ç(lfacterístico do traba1ho1 com sua utilidade particular ou com o valor
Qe uso peculiar em que ele se apresenta.
395
A mesma espécie de trabalho pode ser produtiva ou improd11tív11•
.Milton, por exemplo, que escreveu o Paraíso Perdido por 5 li,.
bras esterlinas, era um trabalhador ímprodutívo. Ao revés, o escrito!':
que fornece à editora trabalho como produto industrial é um traba.
lhador produtivo . .Milton produziu o Paraíso Perdido pelo mesmoi
motivo por que o bicho"da-seda. produz seda. Era uma atividade pró.
pria de sua natureza. Depois vendeu o produto por 5 libras. Mas <>;
proletário intelectual de Leipzig, que sob a direção da edítora produz:
livros (por exemplo, compêndios de economia), é um trabalhador'.
produtivo; pois, desde o começo, seu produto se subsume ao capitni'
e só para acrescer o valor deste vem à luz. Uma. cantora que vende.
seu canto por conta própria é um trabalhador improdutivo. Mas, a
mesma cantora, se um empresário a contrata para ganhar dinheiro com
seu canto, é um trabalhador produtivo, pois produz capital.
)96
jjy4l<;tr, de uso, a calça, e aí, tanto faz comprá-la de uma maneira ou
[J,{~) 9utra, meu interesse naturalmente é pagar o menos possível, ma~
:füí® caso nero mais nem menos que no outro, noutras palavras, pag/Jt'
i\"fJ)prew normal àela. Isso é uma despesa com meu consumo, diminui·
~:ªê>, ao invés de acréscimo, de meu dinheiro. Não é meio de enrique-
f~~to, nem o é tampouco qualquer outra maneira de despender
~~o para meu consumo pessoal.
':;:/ ·' Um daqueles sabichões de Paul de Kock pode dizer-me que sem
)j~s.iia compra, como sem a compra de pão, não posso viver e, em
itçç~seqiiência, não posso en,.iquecer-me; que ela portanto é um meio
:;'fndi,:eto ou pelo menos uma condição para ineu enriquecimento. Da
\.:m~ína maneira, a circulação do meu sangue e meu processo respi·
;'.,l;atório são condições para me enriquecer. Mas, por isso, nem a cir·
(Çullição do sangue nem o processo respiratório, por si mesmos, me enri·
;,q\1~cem, e ambos, ao contrário, pressupõem um metabolismo que re-
;qu,er despesas elevadas, e não haveria pobres-diabos, caso ele não
f0$se necessário. A mera troca direta de dinheiro por trabalho, por-
,)t@to, não transforma o dinheiro em capital ou o trabalho em trabalho
•. p~odutlvo.
)'' Que então caracteriza essa troca? Por que meio distingui-la da
'.iªºca de dinheiro por trabalho produtivo? De wn lado, pela circuns-
,tilicia de o dinheiro ser despendido como dinheiro) forma autônoma
i'.âQ valor de troca, com o objetivo de se converter num valor de uso.
,em, meio de subsistência, objeto de consumo pessoal. O dinheiro, por-
·lanto, não vira capital, mas, ao contrário, perde sua existência como
i\f!llor de troca, para ser gastot consumido como valor de uso. Por
. outto lado, o trabalho só me interessa como valor de uso, serviço,
que transforma pano em calça, o serviço que me proporciona a utili·
(Jade especifica desse trabalho .
.· · Ao revés, o serviço que o mesmo alfaiate, empregado pelo dono
da alfaiataria, presta a esse capitalista não consiste em converter pano
~ calça, mas em ser o tempq de trabalho necessário, materializado
=
.nl.lina calça 12 horas de trabalho, e a remuneração que recebe =
() horas. O serviço que lhe presta consiste, portanto, em trabalhar d~
graça 6 horas. Que isso aconteça sob a forma de confecção de calças
apenas dissimula a verdadeira relação. o dono da alfaiatada, logo
qµe possa, procura por isso converter de novo calça em dinheiro, isto
é,· numa forma er.n que desaparece por completo o caráter determina·
c:Jp do trabalho de alfaiate, e o serviço prestado consiste em ter substi-
tµÍdo o tempo de trabalhe de 6 horas, configurado em determinada
$oma de dinheiro, pelo tempo de trabalho de 12 horas, expresso no
aohro daquela soma de dinheiro.
· Compro o trabalho de alfaiate em virtude do serviço que pres·
'i# oomo t1'abalho de alfaiate, para satisfazer minha necessic:Lide de
vestuário, ou seja, uma das minhas necessidades. O dono da alfois.ta.
ria compra-o para fazer 2 táleres com 1 . Compro-o por produzir de-
terminado valor de uso, por prestar detennínado serviço. Ele o com'.'
pra por fornecer mais valor de troca do que custa, como simples meio
de permutar menos trabalho por mais trabalho.
Quando o dinheiro se troca diretamente por trabalho, sem pro-
duzir capital e sem ser, portanto, produtivo, compra-se o trabalho como
serviço, o que de modo geral não passa de uma expressão para o
valor de uso especial que o trabalho proporciona como qualquer ou~
mercadoria; mas expressão específica para o valor de uso particular
do t.i:abalho, no sentido de este prestar serviços não na forma de
coisa e sim na de atividade, o que, entretanto, de modo nenhum o dis-
tingue, digamos, de uma máquina, um relógio. Dou para que faças,
faço para que faças, faço par.a que dês, dou para que dês130 são a(
formas da mesma relação, com validade igual, enquanto na pro<luçiQ
capitalista o "dou para que faças" exprime relação muito específi~
entre o valor material que é dado e a atividade viva de que o capi.
talísta se apropria. Naquela compra de serviços não se contém a J:e·
lação específica entre trabalho e capital, de todo apagada ou mesmo
inexistente, e esta é naturalmente a rezão por que é a forma predi-
leta de Say, Bastiat e quejandos, para expressar a 1·elaçã.o entre capital f!'
trabalho. '
Como o valor desses serviços é regulado e coroo esse próprio
oalor é determínado pelas leis dos salários é questão que nada tem a
ver com a pesquisa sobre a relação em exame e pertence à esfera do
salário.
Infere·se daí que a mera troca de dinheiro por trábalho não trans.
forma este em trabalho prodtttivo, e ademais que não faz diferença,
de início, o conteúdo desse trabalho.
O próprio trabalhador pode comprar trabalho, isto é, mercado-
rias fornecidas na forma de serviços, e o dispêndio de seu salário
nesses serviços é dispêndio que de modo nenhum se distingue do dis·
pêndio do salário em quaisquer outras mercadorias. Os serviços que
.compra podem ser mais ou menos necessários, por exemplo, o servi·
ço do médico ou do sacerdote, e do mesmo modo pode comprar pão
-ou aguardente. Como comprador - isto é, representante de dinheiro
ero face da mercadoria - o trabalhador está na mesma categoria d.o
capitalista quando este aparece apenas como comprador, ou seja, tra·
ta-se apenas de converter o dinheiro à forma de mercadoria. Comó
é determinado o preço desses serviços e que relação tem com o salá-
rio propriamente dito, até onde é, ou não, regulado pelas leis deste,
J98
-~~~Ó> questões a examinar ao se tratar do salário e sem o menor inte·
'~,~~ para nossa pesquisa atual.
>S Assim, se a mera troca entre dinheiro e trabalho não converte
;F$~te lflll trabalho produtivo ou, o que dá no mesmo, não transfotma
f',~qucle em capital, também não importa aí, segundo evidência inicial,
~;9 ctmteúdo, o caráter concreto, a utilidade particular do trabalho, con-
'.JôPne vúnos, pois o mesmo trabalho do mesmo alfaiate se revela, num
.·.~~' produtivo e, no outro, improdutivo.
· Certos serviços ou os valores de uso resultantes de certas ativi-
·.<.4i~es ou trabalhos corporificam-se em mercadorias; outros, ao contrá·
'.:tfo, não deixam resultado palpável, distinto da própria pessoa que os
;~xecuta; quer dizer, o resultado não é mercadoria vendável. Por exem-
:plo~ o serviço que um cantor me presta satisfaz minha necessidade
ê$tética, mas o que fruo só existe numa ação inseparável do próprio
canto,r, e logo que o seu trabalho, o canto, cessa, também acaba mi-
,ijh~ fruição. Fruo a própria atividade - a reverberação dela em meus
;-Ouvidos. Esses mesmos serviços, como a mercadoria, podem ser ou
[apenas parecer necessários, por exemplo, o serviço de u:tn soldado,
'!llédieo ou advogado, ou podem ser serviços que me propiciam pra-
ietes. Isso nada altera sua natureza econômica. Se estou com saúde
épão predso de médico ou tenho a sorte de não ser obrigado a me
''envolver numa questão, evito, como se fosse a peste, despender dí-
l)hciro em serviços médicos ou jurídicos.
, Os serviços podem ser impostos - os sl!rvíços oficiais obrigató-
rios etc.
· · Se compro o serviço de um professor, não para desenvolver mi-
phas faculdades, mas para adquirir aptidões que me possibilitem ga-
®ar dinheiro - ou se outros compram para mim esse professor -
e se de fato aprendo alguma coisa (e isso, em si, em nada depende
·do pagamento do serviço), esses eustos de educação, como os de meu
sustento, pertencem aos custos de produção da mínha força de tra-
,h;tlho. Mas, a utilidade particular desse serviço em fiada altera a re-
;/tzçãc> econômica; não se trata aí d.e relação em que transformo o di-
nheiro em capital ou por meío da qual o supridor do serviço, o pro-
fessor me converte em seu capitalista, seu patrão. Por isso, para a
:{!etenninação econômica dessa relação não importa que o médico me
cu.re, o professor tenha sucesso no ensino, o advogado ganhe a causa.
·O que se paga é a prestação do serviço como tal, cujo resultado, dado
o caráter do serviço, não pode ser garantido por quem o presta. Gran-
~e parte dos serviços pertence aos custos de consumo de mercadorias,
como os de cozinheira, criada etc.
É característico de todos os trabalhos improdutivos a circunstân-
cia de estarem ao meu dispor - como a compra de todas as outras
mercadorias de consumo - na mesma proporção em que exploro
39?
trabalhadores produtivos. Por isso, de .todas as pessoas, a que tem.
menos comando sobre os serviços de trabalhadores improdutivos é o
trabalhador produtivo, embora em regra tenha de pagar por serviços
compulsórios (Estado; impostos). Ao revés, meu poder de empregar
trabalhadores prodMivos não cresce, mas, ao contrário, decresce na
proporção em que emprego trabalhadores improdutivos.
Os próprios trabalhadores produtivos podem ser para mim tnl.·
balhadores improdutivos. Por exemplo, mando forrar de papel as pa-
redes de minha casa, e os forradores são assalariados de um pattiio
que me vende essa atividade: para mim trata-se de uma compra como
seria a da casa com as paredes forradas, trata-se de um díspêndio de
dinheiro em metcadoria para meu consumo; mas, para o patrão que
mandá esses trabalhadores forrar as paredes, são eles trabalhadores
produtivos, pois lhe fornecem mais-valia.
Quão ímprodutivo, do ângulo da produção capitalista, é o tra·
balhador que produz mercadoria vendável - mas s6 até o montante
correspondente a sua força de trabalho, sem fornecer mais-valia ao
capital, pode-se ver em Ricardo nas passagens onde diz que o mero
existir dessa gente é uma praga. u 4 Essa é a teoria e a prática do ca-
pital.
400
f) Q TRABALHO DOS ARTESÃOS B C.U.1PONESES NA SOCIEDADE
CAPITALISTA
401
como assalariado e se ,?aga, com a mais-valia, o tributo que o ti:aha·
lho deve ao capital. Talvez aínda se pague uma terceira parte como
dono da terra (renda fundiária), do mesmo modo que, como veremos
mais tarde, o capitalista industrial, quando trabalha com capital p~
prio, paga juros a si mesmo, considerados como coisa que deve a sua
pessoa não como capitalista industrial, mas como capitalista puro e
simples.
A destinação econômico-social dos meios de produção na pro-
dução capitalista - expressando determinada relação de produção -
se entrelaça tanto com a existência material desses meios de produção
como tais e, segundo o modo de ver da sociedade burguesa, é dela
;tão inseparável, que aquela destinação (destinação categórica) é tam-
bém aplicada onde a relação diretamente a contradiz. Os meios de
produção s6 se tornam capital, ao ficarem independentes, como força
autônoma em face do trabalho. No caso referido, o produtor - o
trabalhador - é possuidor, propríetário dos meios de produção. Esses
meios não são capital, nem o produtor perante eles é assalaríado. Não
obstante são considerados capital, e o próprío produtor se biparte e,
desse modo, como capitalista emprega a si mesmo como assalariado.
Na realidade, essa concepção, por maís irracional que seja à pri~
meira vista, é contudo correta até certo ponto. Sem dúvida, o produ·
tor cria, no caso considerado, a própria mais-valia {supõe-se que vende
sua mercadoria pelo valor)' ou seja, o produto togo s6 materializa o
próprio trabalho. Poder ele, porém, tomar para ;Si mesmo o produto
inteiro do próprio trabalho e um terceiro, o ·patrão, não se apropriar
do excesso do valor do produto acima do preço í:néçlio de sua jor-
nada de trabalho, é mercê que deve não a seu trabalho - que não
o distingue de outros trabalhadores - e sim à propriedade dos meíO'S
de produção. Assim, é por força da propriedadé destes que se apodera
do próprío trabalho excedente e, como seu próprio capitalista, con-
sigo mesmo se relaciona na qualidade de assalariado.
A dissociação patenteia-se a relação normal nessa sociedade, Onde
não se verifica de fato, presume-se que exista e, como acabamos de
ver, de maneira correta até certo ponto; pois {distinguindo-se,, por
exemplo, de condições existentes em Roma Antiga, Noruega ou No-
roeste dos Estados Unidos) o que aparece aqui como fortuito é a
união, e como normal, a dissociação: daí manter-se a dissociação como
relação, mesmo quando a pessoa congrega as diferentes funções. So-
bressai aí de maneira contundente a circunstância de o capitalista
como tal ser apenas função do capital, e o trabalhador, função da
força de trabalho. É pois lei que o desenvolvimento econômico re-
parta essas funções por pessoas diferentes; e o artesão ou camponês;
que produz com os próprios meios de produção, ou se transformará·
pouco a pouco num pequeno capitalista, que tarpbém explora traba-
402
Ql{ii), alheio, ou perderá seus 1neios de produção {de inicio, isso pode
;:@i6ne.r, embora permaneça proprietário nominal, como no sistema de
~~ipotecns) e se convenerá em trabalhador assalariado. Esta é a ten·
j',;t;lê~cla na forma de sociedade onde predomina o modo de produção
''~!'!Pl~alista.
403
outros. Nessa esfera, em regra, fica-se na forma de transição para ;l·
produção capitalista, e desse modo o$ diferentes produtores cientí·
ficos ou artísticos, artesãos ou profissíonaís, trabalham para um ca·
píta1 mercantil comum dos livreiros, uma relação que nada tem a ver
com o autêntico modo de produção capitalista e não lhe está aíruh
subsumida, nem mesmo formalmente. E a coisa em nada se altera
com o fato de a exploração do trabalho ser máxima justamente nessas
formas de transição.
2 . A produção é inseparável do a to de produzir, como sucede
com todos os artistas executantes, ·oradores, atores, professores, mé-
dicos, padres etc. Também aí o modo de produção capitalista só se
verifica em extensão reduzida e, em virtude da natureza dessa ativí·
dade, só pode estender-se a algumas esferas. Nos estabelecimntos Q.e
ensino, por exemplo, os professores, para o empresário do estabele-
cimento, podem ser meros assalariados; há grande número de tais
fábricas de ensino na Inglaterra. Embora eles não sejam ttabalhadores
produtivos em relação aos alunos, assumem essa qualidade perante Q
empresário. Este permuta seu capítal pela força de trabalho deles e;
se enriquece por meio desse processo. O mesmo se aplica às empre-
sas de teatro, estabelecimentos de diversão etc. O ator se relaciona
com o público na qualidade de artista, mas perant~ o empresário é
trabalhador produtivo. Todas essas manifestações da produção capi-
talista nesse domínio, comparadas com o conjunto dessa produção,
são tão insignificantes que podem ficar de todo despercebidas.
404
;q~s~~s produtos; do mesmo modo, considerando-se o processo glo.
lh'~V ele produção, trocam o trabalho por capital e reproduzem o ài-
!b,h~o do ·c.apitalista como capítal, isto é, como valor que produz
}m~s-valia, como valor que acresce.
S{ É mesmo peculiar ao modo de produção capitalista separar os
·:',$ferentes trabalhos, em conseqüência também o trabalho mental e o
JJnanual - ou os trabalhos em que predomina um qualificativo ou o
;'.outro - e reparti-los por diferentes pessoas, o que não impede que
(ô produto material seja o produto comum dessas pessoas ou que esse
:'prqduto comum se objetive em riqueza material; tampouco iníbe ou
:;de algum modo altera a relação de cada uma dessas pessoas com o
::(;apital: a de trabalhador assalariado e, no sentido eminente, a de
;,:'trQ};athador produtivo. Todas essas pessoas estão não s6 diretament~
pcupadas na produção de riqueza material, mas também trocam seu
:;~alho diretamente por dinheiro como capital e, 'por isso, reprodu-
'.~.!ll de imediato, além do próprio salário, mais-valia para o capita-
).ístà. O trabalho delas consiste em trabalho pago + trabalho exce-
;;~fon.te não pago.
405
pelo montante de trabalho materialízado que entra na mercadoria, e
parte, pelo montante de trabalho vivo, como no processo de acrescer
o valor de todas as demais mercadorias.
Quando a mercruforia chega ao lugar de destino, essa alteração
ocorrida no valor de uso· desapareceu e se expressa apenas no valor
<le troca mais elevado, no encai;ecimento dela. E o trabalho real, em·
hora não tenha deixado vestígio algum no valor de uso, realiza-se no
valor de troca desse produto material, e assim, para essa indústria,.
como para as outras esferas da produção material, o trabalho se cor,,
porifka na mercadoria, embora não tenha deixado traço visível em·
seu valor de uso. ·
406
Esboço dos planos das partes I e III
de uo Capital"
-408
j,"iiqtipas absolutas da maquinaria e matérias-primas com a quantida-
ije, ,qe ·trabalho que as põe em movimento. Tais diferenças têm te·
ijçã(> com o processo de trabalho. Têm de ser observadas também as
4ifetenças, oriundas do processo de circulação, entre capital. fixo e cir-
'f/Jila:nte, as quais nas diversas esferas de produção causam variações
nô acréscimo de valor num dado período.
· · 2. Diferenças no valor relativo das partes de capitais diversos,
~s quais não provêm. de sua composição orgânica. Decorrem então da
diferença de valor, especialmente da matéria-pdma, ~upondo-se tam-
bém que ela absorve quantidade igual de trabalho em duas esferas.
distintas.
. ._, , 3 . Diversidade das taxas de lucro nas diversas esferas da pro..
dução capitalista, diversidade resultante daquelas diferenças. Só para-
~pitais de composição igual etc. é certo que a taxa de lucro é a mes-
ina e a quantidade de lucro é proporcional à magnitude do capital:
empregado.
· ' · 4. Para o capital todo) porém, vale o exposto no capítulo I.
Na produção capitalista supõe.se cada capital parcela, parte alíquota
~ totalidade do capital. Formação da taxa gartd de lucro ( concorrên·
cia).
· 5. Conversão dos valores em preços de produção. Diferença en-
tte valor, preço de custo e preço de produção.
6 • Com vistas a incluir ainda o 1rn;do de ver ricardiano: in-
fluência das variações gerais do salário na taxa geral de lucro e por·
:~anto nos preços de produção.
409'
ADENDOS
Tabela de pesos, medidas e moedas
inglesas 1
PESOS
b).ra = 16 onças = 453.S92 g
MEDIDAS
ac.ro = 4 roods = 4 046,7 ms
MOBOAS
li!>ra (esterlína) = 20 xelins
çoroa : : : .s xelins
xelim = 12 pence
p~ni = 4 farthinp
guinéu = 21 xelins
413
índice onomástico
414
ICARWS II 358
'C.&ÍENOVE, John 52
ÇE$AR, Caio Júlio 270
ÇaAf,MERS, Thomas
281 282
f(:;HXLI>, Sir Josiah359
CoLBER.T, Jean-Baptiste, marquês de Seignelay 35 43
·cPNSTANCIO, Francisco Sofo.no 202 203
ÇuLPEPJUt, Sir Thomas 359
ÇusTOJ.ll, Pietro 36 45
\J,)AIRE, Louis-François-Eugene 28 29
;:D'AVENANT, Chules 1.57 1.58
:lmsTUTT DE TRACY, Antoine-Louis-Claude, conde de 164 251-253
. 255-262 265 308.326
J)uroN'l' DE NBMOÚRS, Pierre.Samuel 374
.EP:ICUJ.O 43
41J
LE TaoSNE, Guillaume-Ftançois 3 73
LINGUET, Simon-Nicolas-Hentí 288 329 330 332 334 3}'
LrsT, FriedJ:ich 232
LocKE, John 71 285 J5J-359 365 367 378
416
SAY, Jean-Baptiste 82 83 1.30 156 202-204 210 215 248--
. 250 263 266 398
.SCHILl-ER., Friedrich von .383
S,c:aMALZ; Theodor Anton Heiruích 44 45 182 183
$EN:XOR, Nassau William 156 211 269-274 378
:S:I§MONJ)l, Jean-Charles-Léonard Simondc de 155 156 264 408.
'5MITH, Mam 18 20 23 24 J6 37 39 40 41 47-50 51-
8.3 85 103 131-137 139-144 146-156 159 162-167 178-
182 184 189 190 192 205-208 230 232:237 240 242-
248 251 252 260 262 263 266-268 270-280 282 285-
287 290 327 328 .348 376-380 408
Si>ENCE~ Thomas 377
SP.ENCE, William 377
StEUART (Stewart), Sir James 15 16 17 18 23 25 57 58
STEUART, Sir James (filho) 16
$'l'ORCH, Henri 82 153 156 211 266-269 273 274 279-281
401
417
índice analítico
i
ACUMULAÇÃO DO CAPITAL 86 285 286
forma capitalista da reprodução atnpliads. 2.31 286
lei da produção capitalista 149 209
crescimento da população, base da - 86
e produtividade do trabalho 149 150
e concentração do capital 149 150
e lucro 86 87
e usura 359
Smith e - 2.3.3-239 285 286
idéias vulgares sobre - 34 35 37- 38
A.01.ANTAMENTOS DE CAPITAL 58
..AGRICULTURA
condicionamento da produção pela natureza 24 36 3 7
peculiaridades do processo de produção e de reprodução da -
21-23
produtividade do trabalho na - 19-21 24 45 81 82 11 l-U4
165
desenvolvimento do capitalismo na - 31 32
.reposição do capital constante na - 105-110 116 117 122
123 125 167 225-229
e produção de mais-valia absoluta 21 24
Af.EMANHA 146 205
.ALIENAÇÃO (ENTFlIBMDUNG) 26 60 71 385-387
.AMÉRICA 258 .
AMORTIZAÇÃO DO CAPITAL FIXO 91 92 112 11.3 115-118 12.l
126-129 222-224 226
418
e valor das metcadorias 88 195
e quantidade do trabalho empregado 149
ANTAGONISMO DE CLASSES
no capitalismo 288-292
.ANTIGVIDADE 205 270 284 285 402
,â..poLOGÉTICA 271 273 281 284
ARRENI>AJ\.1EN'I'O
. . a curto e a longo prazo 381
ARRENDATÁRIOS
capital constante dos - 79 80
riqueza real dos - 79 80
ARTE E LITERATURA 267 281 383 396 399 403 404
ARTESANATO
artesão, produtor e vendedor de mercadorias 401
no capitalismo 144 401-403
/.slA.
propriedade da terra 258
J3J\LANÇA COMERCIAL 17 44
llANCOS 312
:BANQUEIRO 304-306
:BASE E St:PERESTRUTURA 267 269
BILHETES DE BANCO 308 .309 312 327 383
BTJB.GUE$IA
. ídeologia da - 269 270 283 284
revolucionária no estádio inicial do capitalismo 283
posição da - em face do Estado 154 283 284
CAMPONESES
no capitalismo 401-403
produtores e vendedores de mercadorias 401
tempo de trabalho para fazer os próprios instrumentos 87
CAPITAL
relação de produção 19 71
valor que acresce a si mesmo 306 307 361 387
mercadoria 387
dinheiro 389 390 393
-0 processo gerador do - 17 18 24 25 31
trabalho assalariado, base da existência do - 1.32 133 275
oposição entre - e trabalho assalariado .385-389 391
papel do - rio processo de produção e de .reprodução 384 385·
papel revolucioná.rio do - 384 385
natureza historicamente traosit6ría do - 388
e desenvolvimento da produtividade· do trabalho 384 385
419'
caráter de fetiche do - 385 387 388
individual, parte do capital global da sociedade 409
e renda (revenue) 72 85 86 200 209 212 215-218
220-222 230 231 273 297
·formas do - erri modos de produção pré-capitalistas .359 360
fixo
forma do capital na circulação 20 167
componentes do - - i 226
reprodução <lo - - 82 88 112 113 115 222~224
226 311
rotação do - - 222 223
-e valor da mercadoria 311
e taxa de lucro 84 85
ver amortização do capital fixo
constante 83 87 88 233 2.34
elementos do - - 225-228
e Cilpital variável 128 200 408 409
reprodução do - - 85-131 167-177 200 201 222·
2.31 233 234
valor e valor de uso do - - 84 85 87 88 200 201,
peculiaridades da reposição do - - fia agricultura 105~
110 116 117 121-12.3 125 167 225-229
reposição do - - em forma física em, ràmos não agrícolas
125-129 170 171 174 176 200 . 201 212 224-2.30
e processo de fori:nação do valor· 301 302 ·
influência da variação do valor do - sobre a mais-valia, taxa,
de lucro e salário 84 85 174
Ricardo ignora o - - 83
produtivo 326 406
variável 388 .390
e capital constante 128 200 408 409
e trabalho produtivo .388
e salário 143 205 206 389 390
produtor de furos
formas pré-capitalistas do - - 3 59 360
-ver crédito, capital usuário, juros
circulante
e taxa de lucro 84 85
composição do - 408 409
reflete o estádlo da produtividade do trabalho 200
• Quando se ust1m dois travessões seguidos (- -) , servem eles para n:-
11resentar epígrafe que p0$8Ui um travessão, ou, quando a epígrafe não tem.
·travessão e depende de título anterior, serve o primeiro trav~ :PaI!l repre-
-sentar esse título, e o ·segundo, aquela.
420·
'.hr> ·e os economistas burgueses 17 18 71 72 3.53 3.59 360>
:?;'( ·• ver acumulação do capital, capital comercial, capital mercantil,
Y'>· concentração do capital, 11zetamorfose do capital, produtivi-
;:::;.~ daáe do capital, rotação do ca[>ital
;~~ITAL COMERCIAL
')'.' · e retorno do diinheito .3 07
Ú·· ver capital mercantil
.Qi\~ll'AL-DINHEIRO 325
CAPITAL MERCANTIL
:.-·;: · · interroediárío entre produção e consumo 230 231
luo:o do - 230 231
ver capital cDmercifll
CAP.ITAL USURÁRIO 62
· . . forma pré·ca.pitalista do capital que rende juros ( = ·produtor de
juros) .359 360
oposição do - à propriedade da terra 359 :360
os fisiocratas e a usura 22
CAPI'l'A:LISTA
. . capital personificado 2.52 253 264 26.5 385 402
agente de produção 205 206
apropria-se da mais-valia 64 73 87
afã da riqueza. e prodigalidade do - 180 264 26.5
relação do - com classes improdutivas 1.54 1.55 180 269
270 282-284
nas concepções de economistas burgueses 154 252-254 258-
262
ÇA,'I'Ji:GOllJAS ECONÔMICAS 61 1.51 278 J78 379
CrbrCIA
· .· produto do processo de desenvolvimento históríco 387
a serviço da prodµção material 15.5
força produtiva 386 387
produto do trabalho intelectual 3.39
valor da - .3.39
realização da - em máquinas 387
CIRCULAÇÃO
e reprodu~ío 20 85 86 116 117 119-124 127 128:
ver circulação do dinheiro, circulação de· mercadorias
CJRCULAÇÃO DE MERCADORIAS
e troca de capital por trabalho assalariado 278 279
e circulação do dinheiro 2.55 256 293 296-300 317.327·
e reprodução .314 3 26
CIRCULAÇÃO DO DINHEIRO 230 231 307-313
e circulação de mercadorias 255 256 293-.300 .317-327
quantidade de dinheiro circulante 362
42L
velocidade da - .324-.326
entre capitalista e trabalhador 299-.308 .310
GlllCULAÇÃO MONETÁRIA
ver circulação do dinheiro
CLASSE TRABALHADORA
suas condições de existência .31 48 51
e capital 31 384-389 403
participação proporcional da - na população total, no capitalis;
mo 209
,CLASSES
na sociedade capitalista 154 155
-e propríedade das condições de produção 17 18 25 51
.e repartição da mais-valia 16 2.3 61 62 86 87
produtivas e improdutivas 180 181 199 200 209
improdutivas 154 155 380
no sistema fisiocrático 28 29 .3.3 .34 203 204
distinção feita por economistas burgueses entre - produtivas e
improdutivas 156 157 250-252 341-.34.3
ver classe trabalhadora, burguesia, antagonismo de cla!ises
COLBERTISMO 43
COLÔNIAS
escravatura nas - 211
co:MBINAÇÃO 122 126 201 .386
COMÉRCIO
ampliação do - 185
abstrai-se do - na análise da reprodução 92 9)
comerciantes considerados "improdutivos" por economistas bur~
,gueses 154
ver comércio exterior
-COMÉRCIO EXTERIOR
de metais preciosos 134 1.35
e os executores de serviços 146
'COMPETIÇÃO
ver concorrência
COMPRA E VENDA
das mercadorias 278 279 324
da força de trabalho 299-303 .389 392-.394
e troca de equivalentes 39 50 218
no processo de produção e de reprodução capitalista 21 229 2.30
consideradas idênticas na economia política burguesa 373
mais-valia e lucro explicados pela venda das mercadorias acima
do valor 15 17 .39 158 254-256 259 379
COMUNISMO
trabalho no - 1.33
422
tempo de trabalho e lazer no - 199
reprodução ampliada no - 86
ÇO?\ICEN'lil.AÇÃO DO CAPITAL 149 1.50 209
· ver capital
OONCOltRÊNCIA
. . enn-e os
capitalistas 135 258 259
entte os trabalhadores 3 8.3
e repartição proporcional da produção capitalista 21.3 214
a bandeí:r:a fisiocrática da livre - 28 4.3 150 .373
Smith e - 150
CQNl>IÇÕES D:E PRODUÇÃO
ver condições tle trabalho
CONDIÇÕES DE TRABALHO
dissociâdas_ dos produtores no capitalismo 17 18 29 48 330
.330 385-387
os produtores dissociados das - , pressuposto e condição funda-
mental da produção capitalista 20 26 31 .57 71 402
propriedade de uma classe 17 25 29 51 354
propriedade do capital 60 61 384 385
CONSERTOS
· · ver trabalhos tle reparação
CO:NSTRUÇÃO DE MÁQUINAS 112 113 116-122 126-130 170 175
., 176 198-200
CONSUMO
· individual e produtivo (industrial) 78 79 81 82 91 92
115 116 122 123 169-176 212 214 215 217-220 227·
229 233 234 281 296 314
em condições capitalistas 69 251-.253
dos trabalhadores 263 264
produtivo da mercadoria força de trabalho 393 394
e produção 82 230 231 263-264
contradição entre produção e consumo 'no capitalismo 165
264 265
e reprodução 11.5 116 122 123 272 296 314
e valor de uso 185 186 215 216 281
e circulação de dinheiro 297
Smith e - produtivo e improdutivo 274
ver custos de consumo, fundo de consumo, meios de consumo
CONTABlLIDADE
· · italiana 385
CONTlADIÇÕES
unidade dos contrários 26.5
do modo capitalista de produção 27 199 261 262 265
269 288 289
423
/
DESPROPORÇÕES
na reprodução simples 212
ver crises -econômicas
DINHEIRO
expressão do trabalho social geral 25 184 185 384
forma autônoma do valor de troca 44 6.5 66 285-287 304
397 .J
valor ào - 258
caráter de fetiche do - .384 385
refluxo do - 259 29+298 J0.5..:313 317 .326 327
conversão do - em capital 389 390 393 394
424
Junções áo -
meio de circulação 285 298 JD-315 319-323 326 327
397; meio de comp.ta 294-298 .306-308
meio de pagamento 170 294 29.5 297-300 308 309
)12 320 323 324
meio de entesouramento .311
dinheiro universal .362
dinheiro de crédito 308 309 312
na economia politica burguesa 71
ver circulação do dinheiro, saldo em dinheiro
l)lN:HEIRO DE CRÉDITO 308 309 312
l>.LiUll'l'O
.· ..· penal .382 383
forma juridíca da mercadoria 298 299
forma jurídica -da venda da fotÇa de trabalho 392
idéias jurídicas da sociedade 'burguesa em Locke .356 357
J)ISTlUBUIÇÃO
relações de produção e de - 72
da força de trabalho entre os ramos de produção 198-200
do trabalho e do capital entre os ramos de produção 198-200
212-214 2.33 234
·do valor 52 53 63 72 76
da mais-valia 16 22 23 61 62 64 7.3 86 87
do lucro 259
DÍVIDA PÚBLICA .359
J>IVISÃO DO rABALHO
na sociedade 382
entre trabalho material e trabalho mental 267
e produtividade do trabalho 280
e economia de tempo 182
e produção de mercadorias 286
Petty 159
Smith 164 239 277
[)lZUvJEIROS 380
.SCONOMIA AGRÍCOLA
ver agricultura
~CONOMIA DE PAGAMENTOS 320 321
E('.ONOMIA POLÍTICA
hístótia da - 19 321 328 .356 357
burguesa 133 137 153 154
caráter apologético da - - 155 244 245 26.3 264
291 292
425
modo de ver não histórico 19 70 71 166 167 26!;
291 292 388 401 402
métodos errôneos de abstração 6 7 68
empirismo e escolasticismo da - - 67 68 71' 74 7f'
idéias metalistas (sistema monetário) 285-287
clássica 154 281 359 360
desenvolvimento da teoria do valor-trabalho 49 50 58
75 76
ver economia vulgar, escola ricardiana, Ricardo, fisiocratas, ma~;
tbusianismo, mercantilismo, método da economia política;
burguesa, sistema monetário, Smith
ECONOMIA VULGAR
dissimula a relação entre capital e trabalho assalariado
398
a favor do esbanjamento 182 183 264 281 282
e as crises 215 216 250
e lucro 22 23 .34 35 37-40 .57-60 69 73 245 246 256
259 275 299-.301 375 376
e trabalho produtivo e improoutivo 153-155 164-166 181
182 192 19.3 246-253 260-26.3 268-273 279-281 382
383
ver apologética, malthftsianismo
EMPRÉSTIMO 61 62 209
ENGENHEIRO
trabalhador produtivo 404
EN'.l'BSOURAMJ!NTO 252 264 285 286 311
dinheiro, meio de - 311
e acumulação de capital 286
ESCOLA RICAR.DIANA
solução escolástica das contradições na teoria de Ricardo 68
método de investigação da - 68
e renda da terra e propriedade fundiária 27
ver Ricardo
ESÇRAVIDÃO
nas colônias 211
ESTADO
instrumento da burguesia 283 284
a burguesia em face do - 154 28.3 284
reivindícação de não-intervenção do - na produção 28 43 150
e nacionalização da terra 27 43
proprietário de terras na Asia 258
ESTATÍSTICA 157
ESTOQUE DE MERCADORIAS
produtivo 23.3
426
\µ:~X.OUÇA.O
' ,, r 'nas formas de transição para a produção capitalista 403 404
dos trabalhadores assalariados pelo capital 55 56 58-60 6.5
66 134 135 330 386 387
427
e acumulação de capital 34 35 37 38
e juros 22 23
reivindicam livre concorrência 28 43 150 373
e tributação 43 44 380
idéias dos - em eoon~istas posteriores 20 36 37 40 41
47-49 141 142 181 182 377-.380
crítica das idéias dos - 45 46 141 142 148
vulgarização das idéias dos - 44 45 182 183
ver quadro económico de Quesnay
:FORÇA DE TRABALHO
mercadoria 20 26 49 66 72 73 1.39 150 1.51 299 .300
306 392
valor de uso da - 20 26 66 132 133 136 301 393.397
valor da - 20-22 49 .344
custos de produção e de reprodução da força de trabalho
146 147 190 197
condições da compra e vi;nda da - 299-.302 .389 .392-.394
dissociada das condições de trabalho 17 18 20 26 31 57
FORÇAS PRODUTIVAS
do trabalho social como - do capital 261 262 384-.389
desenvolvimento das - Íl.o capitalismo 48 .384 385 387 388
403
ciência faz parte das - 386 .387
FORMA MERCADORIA DOS PRODUTOS 185
FORMAS DE T.ROCA 278 279
FRANÇA 25 26
e os fisioc:ratas 25 26
FRAUDE
ver trapaça
FUNDO DB CONSUMO 78 80-82 87 23 .5 240 290
FUNDO DE PRODUÇÃO 81
PUNOO DE RESERVA 149
GUERRA 20.5
ver Guerra da. Secessão
GUERRA CIVIL AMERICANA
ver Guerra da Secessão
Gt.".ERRA. DA SECESSÃO 93
HIPOTECA
ver sistema de hipoteca
liOLANDA 379 380
428
~OMBM
e natureza 267
çrlador da riqueza material 270 271
JElllA
ver corvéia
JURO
forma secundária da mais-valia 61-63
do capitalista que emprega o pr6prio capital 402
e capitalização da renda da terra 346 347
na produção capitalista não desenvolvida 61 258 259
polêmica sobre o - COfDO forma autônoma da mais-valia 309
310
os físiocratas e o - 22 23 346 .347
Rume, Locke, Massie e North e o - .353 .359 360 365-370
Petty e o - 344 .346 347 359 360
Smith e o - 61 62
ver taxa de juro
LEI DA MAIS·VALIA 70
429
LEI DO VALOR
e troca de equivalentes .39 148 .3Ó0-303 .393
e troca entre capital e trabalho assalariado 51-53 55 56 58
59 65-67 .300 301
LEIS
lei da circulação monetária 324-.326
acumulação do capital, lei da produção capitalista 149 209
lei da mais-valia 70
ver lei do valor
LETRAS 304 305 312
LOGRO
ver trapaça
LUCRO 64 67 84 85
fonte de - 256 260 261
forma transmutada da mais-valia 13 60 61 70
e acumulação do capital 85-87
repartição do - 259
médio
modificação da mais-valia 67
industrial
renda da terra e juro, provenientes do -- - 137 216
25.3 260 261
concepções de - na econcmia polftica burguesr,t
mais-valia identificada com lucro 13 61' 67 70
concepções apologéticas de lucro 22 34 35 J7 38 57-60
70 73 245 246 256 259 299-301 . 375~379
explicação do lucro pela venda da mercadoria acima do valor
15 17 39 158 254-256 259 379
os fisiocratas e o - 22 23 34 35 .37-40 373 378 379
Smith e Ricardo e o - 2.3 57-61 63 64 69 70 73
ver taxa de lucro
LUCRO CO.MERCIAL 230 231
430
absoluta 24
relativa 24 289
apóia-se no desenvolvimento da produtividade do trabalho
24 71 289
massa (magnitude) da - 193 194 206-208
formas particulares da - 13 22 2.3 60 61 6.3 64 68
70 71
lucro, forma transmutada da - 13 60 61 70
apropriação imediata da - pelos capitalistas participantes diretos
da produção 64 73 86 87
realização (conversão em dinheiro) da - 30 58
repartição da - 16 22 23 61 62 64 73 86 87
concepções da - na economia política burguesa
confunde:se roais-valia com suas formas transmutadas 13
60 61 67 70
os mercantilistas explicam a mais-valia pela troca 15 17
24 39 44 153 158 159 379
Petty e - 160
fisíocratas e - 21-35 38 39 44 45 64 13.3 1.34 153
160 204 344 378 379
Ricardo e - 203 204
Smith e - 49 53 58-71 76 153 237
economistas vulgares e - 15 17 20 158 254-256 379
ver lei da mais-valia
1'-{ALTHUSL\i.~SJ),10
teoria da população 281 282
defesa de grupos parasitários 155 193
o - de Chalmers 281 282
.Mâ.NUFATURA
. forma de divisão do trabalho 386
MÁQUINAS/MAQUrNAlUA
valor e produtividade das - 191 223 224
desgaste das - 198 223 224 226 227
e domínio tecnológico do capital sobre o trabalho 386
e ciência 387
repercussões do emprego capitalista das - sobre a classe traba-
lhadora 198 199 209
ver construção de máquinas, fabricação áe máquinas, sistemas de
máquinas
MATEMÁTICA 131
MATERIAL ACESSÓRIO
' ver matérias auxiliares
.MATÉRIAS AUXILIARES 116 225~227
431
.MATÉRIAS-PRIMAS
produto da agricultura 149 200
componente do capital cónsrante 225 226
e matérias auxiliares 116
influência da qualidade das - sobre os custos do capítal cons-
tante 201
influência da variação do valor das - sobre a taxa de lucro 84
85
ver matérias auxiliares
MEIOS DE CONSUMO
e meios- de produção 216 217
e máquinas 224-227
MEIOS DE PRODUÇÃO
destinação social e existência material dos - 402
propriedade dos - 3.30-332 .354 401-403
capital 385-387 402 403
e trabalhadores 385-387 402 403
reprodução dos - 82 200 217
eficácia dos - 84 85
e meios de consumo 216 217
na sociedade primitiva 87
MEIOS DE SUBSISTÊNCIA
e reprodução da força de trabalho 21 22 190
MEIOS DE 'fRABALHO
ver meios de produção
.MERCADO
magnitude e expansão do - 185
vex comércio, mercado mundial, preço de mercado, valor de mer-
cado
MERCADO MUNDIAL 383
MERCADORIA 51 52 139 143 150-152
precond.ição e resultado da produção capitalista 138 .300
404 405
forma elementar da riqueza burguesa 1.52 183 286 287
duplo carátet da - 285-287
e dinheiro 153 286 287
condições de produção e realização da - no capitalismo 216
217
forma jurídica da - 298 299
serviços na qualidade de - 138 152
ver forma mercadoria dos produtos, metamorfose da mercaJoria,
produção de mercadorias, valor da mercadoria
explica a mais-valia pela troca 15 l 7 24 39 44 153 158
159 379
e trabalho p.todutivo 133-135
a frugalidade e o luxo 265
Steuart, teórico do - 15 17
em economistas posteriores 184 185 188 189 372 373
379
~BT.ABOLISMO
ver sistema monetário
METAMORFOSE DA MERCADORIA 39 50 51 65 66 214 295
- - 296 298 314 315 324 360 361
_META.'40RFOSE DO CAPI'l'AL .314 315
MÉTODO DA ECONOMIA POLÍTICA IlURGUBSA 70 71
- d_os economistas da escola ricardiana 68
MINERAÇÃO 199 200
- processo de reprodução na - 125 126
MODO DE PRODUÇÃO
e formas de troca 278 279
influência do - dominante sobre todas as outras relações sociais
401 402
pré-capitalista 359 360
capitalista
característica geral 178 272 384 385
e os modos de produção pré-capitalistas 178 385 386
pressupostos e condições fundamentais do - - 20 25
26 31 48 57 71 166 167 .331 384 385 402
coerção pam se extrair trabalho excedente 330 344 385
389
contradições .do - - 199 261 262 265 269 288
289
estádio preliminar do desenvolvimento do - - 26 60 61
252 259 283 284
submissão de todas as esferas da produçiio material ao -
- 403
e a dupla qualificação dos camponeses e artesãos 401-403
caráter histórico transitório do - - 166 167
forma única e eterna para os economistas burgueses 19 388
análise do - - pelos fisiocratas 21 25 26
ver feudalismD, comunismo, escravidão, sociedade primitiva
MOEDAS 325 326
MO:EDElROS FALSOS 383
NACIONALIZAÇÃO DA TERRA 27 43 44
4JJ
NATUREZA
condição fundamental do trabalho '26
condições naturais de produção 24 .36 37
e ser humano 267
forças naturais e ~odo .capitalista de produção 386 387
e explicação da mais-valia e salário pelos fisiocratas 21 26 .30
64
NOTAS DE :BANCO
ver bilheter àe banco
434
PREÇO DE MERCADO 74 76
e oscilações. do salário 75 76 134 135
PREÇO D.B MONOPÓLlO 258
PREÇO DE PRODUÇÃO { P.REÇO DE CUSTO, PREÇO MÉDIO)
e valor 74 409 ·
ver custo de produção
PREÇO DO SOLO
ver preço da terra
PROCESSO DE FQRMAÇÃO DO VALOR
e processo de trabalho~ 82 222-225
PROCllSSO DE TltABALHO
e processo de produzir ma.is-valia 82 222 223
PROCURA
de força de trabalho 198 21 O
ver oferta e procura
PRODUÇÃO
e troca 33 278 279
e consumo 82 165 230 231 263-265
e riqueza 252 253 264 265
material 139 143 144 151 152 155 192 193 198 199
266-269 404-406
imaterial 192 193 267-269 283 284 403 404
intelectual 143 144 155 266-272 403-405
capitaUsta
objetivo determinante da - - 69 193 264 265 394
e trabalho necessário 208 209 212 213
e desenvolvimento das forças produtivas 384 385
acumulação do capital, lei da - - 149 209
ver fundo de produção,, meios de produção, modo de produção,
preço de produção, relações de prodttçao
PRODUÇÃO DE LUXO 200 289
PRODUÇÃO DE MERCADORIAS 50 55 56
no capitalismo 55 56 138-140 166 167
trabalho útil, uma das precondíções da - .3 95
e trabalho social 185
e divisão do trabalho 185
PRODUÇÃO DE OURO 1.34 135
ver ouro
PRODUTIVIDADE DO CAPITAL
expressão capitalista da produtividade do trabalho 261 262
384 385 388 389
e coe.rção para extrair trabalho excedente 71 38.5 387 389
e produção dos valores de uso 72
ver capital
435
PRODUTIVIDADE DO TRABALHO
ttbsoluta e relativa 133
no capitalismo 48 140 167 178 198 199 276 277 384
385 387 388 403
influência d.a - na· quantidade de produtos 87 182 388 389
e valor da mercadoria 182 191 213 214 393
e ma.is-valia 24 26 42 71 197 198 289
e troca de lucro 84 85
aumento da - ; fatores que a auméntam 271 272 280
e composição orgânica do capital 200
e concentração do capital 149 150 209
e acumulação do capital 149 150
e população produtiva 199 200 205 208 209
e população improdutiva 198-200 271 272
e situação dos traballi.adores 48 196-200 209 271 272
e salário 196-198
e prodigalidade da burguesia 180
na agrkultura 24
PRODUTO
total da sociedade 82-84
valor do - - 234-236
repartição do - - ' 212 213
PRODUTO EXCEDENTE 193
PRODUTO SOCIAL
ver produto
~llODUTO-VALOR. (V.ALOR PRODUZIDO) 234-2.36
PROFESSORES 404
PROPRIEDADE
das condições de trabalho .(dos meios de· produção) 17· 18
29 31 60 61 330 331 354 401 402
capitalista 60 61 .384 385
da terra, primeira condição do desenvolvimento do capital ·25 31
propriedade comum e individual segundo Locke 354-357
ver propriedade da terra, título de propriedade
PROPRIEDADE DA TERRA
e modo de produção capita.lista .31
renda fundiária, forma econômica da - 27
fonte de renda, mas lllão de valor 72
dissociação entre - e trabalho, primeira condição do desenvolvi,
mento do capital 25 31
.negação da - na economia política burguesa 27 43 44
o domínio da - reflete-se no sistema fisiocrático 25 27 375
.380
ver nacionalização da terra
4)6
PROPIU.EDADE FU?\"DIÁRIA
ver propriedade da terra
PROPRIEDADE PR.IVADA
ver propriedade, propriedade da terra
PROPRIETÁRIOS DA TERRA
caráter improdutivo dos - no capitalismo 154 380
os fisiocratas e os - 25-29 380
PROUDHONISMO 310
437
troca de - por trabalho improdutivo 137-140 143 166 400
e circulação do dinheiro 309-311
Ricardo e - 205-209
Smith e - 76-81 10.3 233 235 237
RENDA DA TERRA
forma especial de ·mais-valia 13 21-23 60 61 70
forma econômica da propriedade da terra 27
capitalização da - .346 .347 349 350
e juros 347 358 .359
Petty e - 160 161 344-350
fuiocratas e - 21-23 25-28 34 35 64 204 344
Smith e - 60-64 70 73
ver renda diferencial
RENDA DIFERENCIAL
causas da - 347 348
e preço dos produtos agrícolas 348
Petty e a - 347 348
RENDA FUNDIÁRIA
ver renda da terra
RENDA NACIONAL
ver renda ( revenue)
lt.EPARTIÇ'\.O
ver distribuição
REPRODUÇÃO
unidade de produção e circulação 20 84-86 116. 117 121-124
327
abrange reposição do valor e reposição material do~· produtos 85
91 92 122-124 148 200 201 217 218 223-225
tempo de - 222 223 '
problemas da realização do processo de - 216 217 305 306'
da força de trabalho 20-22 52 190 393
do capital fixo 82 88 112 113 115 222 223 226 311
do capital constante 85-1.31 167-178 200 201 222-231 2.3.3
2.34
como valor de uso 92
e produtividade do trabalho 47 48 171-178 200 224
e circulação do dinheiro 296 306 31 O 326
e consumo 115 116 122 123 277 278 296 314
e circulação de mercadorias 314 326
simples
e reposição do produto anual 212-2.30
do capital constante 85-1.31 167·177
proporções necessárks da - - 212-215
•438
desproporçõe!: na ~ ~ 212 21.3
ampliada
acumulação do capital, forma capitalista da - - 231 286
e capital constante 85 86 234
no comunismo 86
RESÍDUOS 126 129 130
REVOLUÇÃO FRANCESA
tentativa de confiscação parcial da propriedade da terra 27 43
e os fisíocratas 4.3 44 328
RICARDO
papel de - na história da economia política
crítico de Adam Smith 50 51
representante do capital industrial 36 37 154
característica geral do sistema de - 27 43
contradições na teoria ricardiana 67 68
teoria do valor
coerência na determinação do valor pelo tempo de trabalho
66 68 75
falhas na - rícardíana 1.31
incompreensão do efeito especifico da lei do valor no capi-
talismo 50 66
teoria da mais-valia 20.3 204
mais-valia identificada com lucro 67 68 70 83
teoría do salário 203 204
o mínimo de salário 203
e o capital
exclusão do capital constante 83
acumulação do capital 209 210
concepções de -
sobre trabalho produtivo e improdutivo 154 206-208
sobre o caráter improdutivo dos proprietários das terras 154
renda ( revenue) bruta e renda ( revenue) líquida 205·209
e riqueza 20.3 204
críúca das idéias de - por economistas burgueses 184 185
203 204
ver escola ricardiana
RIQUEZA
conceituação burguesa 152 153 18.3 204 260-262
e modo de produção 278
mercadoria, forma elementar da - 152 18.3 285-287
resultado da produção capitalista 252 253 264 265
e lucro 15 16 79 BO
e trabalho produtivo 140 206-209 237 260-26.3
e prodigalidade dos capitalistas 264
4J9
oposição entre - e trabalho no capitalismo 289-292
material 140 237 266 268-271 280 403-405
o ser humano, criador da - 270 271
os físiocratas e a - 204
Berkeley e a - 364
Ganilh e a - 183 184 187 188 192
Petty e a - 153
Smith e a - 54 55 152 153 237
ROTAÇÃO DO CAPITAL
fixo 223
ver tempo de rotação
RússIA 82
SALÁRIO
forma do valor da força de trabalho 392 393
forma da renda ( income) do trabalhador 7 2 7 3 231
aparência de preço do trabalho .392
aparência de adiantamento do capitalista ao trabalhador 299-.301
305
e capital variável 14.3 205 389 390
e valor da mercadoria 72 73
e preço de mercado 74 75 134 1.35
e produtividade do trabalho 196-198 210
causas da elevação ou queda do - 134 135 383
qu;da do - abaixo do nível tradicional. 134 135
deduções do - 190
fisiocratas 20-22 31 32 44 20.3
Ricardo 203 204
Smith e o mínimo de salário 47
SALDO EM DINHB!ltO 326
SER HUMANO
ver homem
SERVIÇOS 137-141 143-148 152 165 166 199 246-250 263
268 269 271 272 275-277 279 280 286 287 396-400
405
e exportação de ex:ecu tores de setvíços 146
SISTEMA DE CRÉDITO 359
SISTEMA DE HIPOTECA 403
SlS"l'EMA DE MÁQUINAS 386
SISTEMA MONETÁRIO (:METALISMO) 285-287
explica a mais-valia pela troca 15 17 24 153
e trabalho produtivo 287 · ·
idéias do - em economistas posteriores 285-287
440
SMITH
papel de - ntt história da economia política. 137 178 179
270 282 283
sucessor dos fisiocratas 20 36 37 40 41 47-49 64 141
142 327 328
catacterística geral do sistema de - 59 60 66 76 131
contradições teóricas 58 59 66 67 74-76 131 132
135 136 141 142 148 149 152 153 237
deroentos teóricos vulgares 37 38 69 74 75 149
idéias do sistema monetário 153 285-287
teoria do valor de -
definições diferentes do valor 49 50 53-56 58 59
71-81
negação. da vigência da lei do valor no capitalismo 51 52
e o "preço naturar 74-76
idéias contraditórias sobre a medida dos valores 131
lucro, renda (rent) e salário, fontes do valor 71-73
redução do valor do produto anual a renda (revenue) 76-81
103 230 233 235 237
tefJT'ia da maiNJtilia e do lucro de -
natureza e origem da mais-valia 49 53 58-71 75 76
83 153 237
o valor explicado pelo trabalho e a mais-valia pdo trabalho
excedente 58 59
a mais-valia identificada com o lucto 67-71
compreensão científica do lucro 23 57-61 63 64 69
70 73
teoria do trabalho produtivo de -
distinção éntre trabalho produtivo e improdutivo 132-15~
165-167 206 237-245 266 270-278 280 282 28.3
286 287
definição correta de trabalho produtivo 132-137 237
definições contraditórias do trabalho produtivo 132 135
136 140-142
6dio contra o clero 282 283
e acumulação de capital 233-239 285 286
e o salário (mínimo de salário) 47
e &visão do trabalho 164 239 277
e produtividade do trabalho (seu desenvolvimento no capitalis-
mo) 48 178
e renda da terra 60-64 70 73
e poupanças 37-41 149 182 243 244 378 379
e juros 61 62
441
crítica das idéias de - por economistas burgueses 156 162
163 245-248 262 26:3
idéias smithianas, fonte de confusões para os sucessores 70
131 152 206 268 269
sucessores de - 131
:SOCIEDADE BURGUESA 154
desenvolvimento hístórico da - 19
relações entre as diversas funções da - 269
tendência do desenvolvimento da - 401-403
reprodução burguesa do sistema feudal na - 154 155
SOCIEDADE PRIMlTIVA 87
:SOLO
ver terra
SUBSYÂNClA DO VALOR 21 24 25 64 72 73 134
SUBSTÂNCIAS AUXILIARES
ver matérias auxiliares
SUPERPOPULAÇ10 RELATIVA 236 237
ver populafão, teoria da população
:SUPERPRODUÇÃO
relativa 264
ver crises econômicas
TAXA DE JURO
nível da - em diversos países 369
tendência decrescente da - 358-360 365-367
redução da - pelo Estado 358 359 ·.
ver juro ·
TAXA DE LUCRO
em ramos diferentes da produção capitalista 409
e valor dos diversos componentes do capital individual 84
'I'BMPO DE ROTAÇÃO 223
ver capital., rotação do capital
TEMPO DE TRABALHO
necessário 289 389
tendência à queda do - - no capitalismo 208 209 212
213
socialmente necessário 212-214
medida Cios valores 54 55 64
e tempo de ttubalho individualmente necessário 199 212-
214 389
pago e - não pago do trabalhador 58-61 289
no comunismo 199
ver trabalho
'442
TEORIA DA ABSTINÊN'CIA 37 38 378
ver poupança
·moRlA DA POPULAÇÃO
de Maltnus 281 282
de Petty 341 343
ver populllfâO, superpopulação relativa
TERRA
valor da - e juro 347 359
valor monetário da - segundo Petty 346 347 349 350
nacionalização da - 27 43 44
condição original do trabalho 25
condição objetiva de trabalho 60
ver nacionalização da t~ra, preço da terra, propriedaàe da terra,
proprietárias da terra, renda da terra, ernda diferencial
TÍTULO DE PROPRIF..DADE 298 299
ver propriedade
TRABALHADOR AGRÍCOLA 29 199 200
TRABALHADORES
assalariados livres 30 31
produtivos e improdutivos 138-141 143-145 155 166 167
191 206 237 271 272 279 280 396 397 399 400
404-406
compradores de mercadorias 65 398 399
e condições de trabalho 29 48 57 330-.332 402
e meios de produção 385-387 402 403
ver trabalhador agrícola
TRABALHO
base natural do - 25 26
e riqueza 261 262 291 292
substância do valor 21 24 25 64 72 73 134
subordinação do - ao capital 385-387 .394 40340.5
pago e não pago 58 60 61 209 289
abstrato
forma de trabalho social 24
valor de uso específico para o capital .395
intelectual e - manual 404 405
na produção material 143 144 155 404 405
ciência, produto do trabalho intelectual 339
trabalho intelectual a serviço da burguesia 284
contradição entre trabalho íntelectual e trabalho manual 291
405
social
caráter do - - na produção de mercado.rias 151 185
187
443
forma específica do - - no capitalismo 166 167
formas de trabalho sodalmente desenvolvídas no capitalismo
.386 387
repartição do - - pelos diversos ramos de produção 21}
214
concreto 151
indiferença do capitalista para com o - - 136 395
substância do valor para os fisiocratas 24 ,
vivo e materializado 50 51 54-56 59 60 65 66 88-1Í4
151 167-177 200 201 220-222 234 384-386
trabalho vivo, fonte do enrjquecimeoto 55 56 389 390
400
necessário
socialmente necessário 199 212-214
tendência a reduzir o - - . no capitalismo 208 209 212
213
e trabalho excedente 193 197 198
e reposição do- salário 87
produtivo
conceituação de - - 132 133 136 137 152 153
181 182 192 193 388-391 394 395 404 405
conceituação; acessória de - - 150-15~ 40.3
no capitalismo 132 13.3 136 B7 209 .387-.391 .394-
399
no comunismo 13.3
na indústria de transportes 405 406
improdutivo 137-140 14.3-146 152 .166 i67 276 277 396-
400
relação entre trabalho produtivo e improdutivo 138»140
163 164 166 167 180 181 191 237 271 272 279
280
teorias sobre - produtivo e improdutivo 269 270 272
distinção de Smith entre trabalho produtivo e improdutivo
132-15.3 156 157 165-167 206-208 2.37-245 266 210.
278 280 282 283 286 287
economistas burgueses combatem a distinção smithfana en•
tre -trabalho produtivo e improdutivo 152-154 162-167
178·18.3 192 2.32 263-28.3
concepção vulgar do trabalho produtivo 15.3-155 164-166
181 182 192 19.3 246-253 260-263 268-273 279·281
382 383
mercantilistas e trabalho produtivo 1.33-H.5
sistema monetário ( metalismo) e trabalho produtivo 286
287
444
fisíocratas e trabalho produtivo 21-2.3 29133 134 181
182
Petty. e trabalho produtivo e improdutivo 159-161 341
343
de superintendlncia 59 87
ver também condições de trabalho, dívísão do trabalho, força de
trabalho, meios de produção, processo de trabalho, produti·
vidade do trabalho, tempo de trabalho, trabalho agrícola,
trabalho assalariado, trabalho excedente
TRABAUIO AGRÍCOLA 21-24 29 44 45 64 149 181 182
l'RABALHO ASSALARIADO
pressupostos do - 71
base da produção capitalista 211
trabalho produtivo no sentido da produção capitalista 132 137
TRABALHO EXCEDE1't"TE
categoria geral 61
formas particulares do - 61 63 64
coerção para extrair - 71 344 385 387 389
e trabalho necessário 193 197 198
e produtividade do trabalho 24 26
fonte de novo capital constante 86 87
fonte do fundo de consumo do capitalista 87
na agticultuta e indústria 149
trabalho agrícola, base natural do - 24 149
ver mais-valia {valor excedente), ptoduto excedente
TllADALB:OS DE REPARAÇÃO 163 164 166 167
'TRANSPORTF..S
ver indústria de transportes
TRAPAÇA 258. 259
TROCA
entre capital e trabalho assalariado 26 27 31 33 51-53
55--59 65-67 136 137 140 166 181 300 301 385
386 389-394 397 400
de capital por capital 126 129 130 167 168 170 176
224 225 229-231
de renda por renda 212-216 218-220 231 310 311
de renda por capital 216-223 231 297
e produção 33 278 279
e divisão do trabalho 185
fonte da rrutls-valia segundo certos economistas burgueses ( mer-
cantilistas, monetaristas, Steuart) 15-17 24 39 44 153
158 159 379
Ganilh 183-187
ver fo1·mas de troca, troca de equivalentes, troca de mercadorias
445
'l'R:OCA DE EQUIVALENTES 39 50 51 148 18) 218 234 3QQ.
303 321-323 393
TROCA DE MERCADORIAS 33 39 51-.53 55-57 -184-186 214-218.
300 301
e magnitude do valor 185
simples 214-219
VALOR 21 26 27 49
182 213 214 343
'º 72 91 92 123-125 146-148 15}
446
os capitalistas e o - 136 252 264
os füiocratas e o - 21 26 27 39 64 133 134 153
valor e - segundo os economistas burgueses 249 349 350
355 356
VALOR EXCEDENTE
ver mais-valia
VALOR PRODUZIDO
ver produto-valor
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