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Fonte: ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Temas de Filosofia. São Paulo: Moderna, pgs.79-81,1992.
Recorte e adaptação: Luciene Antunes.
A teoria do conhecimento na idade Moderna (Descartes, Locke e Hume)
Da antiguidade até o início do Renascimento (…) não há discordância sobre a possibilidade de o homem conhecer o real. Do ponto de vista epistemológico, esta é a
posição realista, em que os objetos correspondem plenamente ao conteúdo da percepção.
O Renascimento vai trazer grande modificações, dentre as quais destacamos:
• a separação entre a fé e a razão, que vai levar ao desenvolvimento do métodos científico para o estudo das ciências naturais;
• o antropocentrismo, que estabelece a razão humana como fundamento do saber;
• o interesse pelo saber ativo, em oposição ao saber contemplativo, que leva à transformação da natureza e ao desenvolvimento das técnicas.
(…) Os pensadores do século XVII abordam a temática do conhecimento de modo inteiramente novo, colocando em questão a própria possibilidade do conhecimento.
(…) Deve-se, agora, indagar sobre o sujeito do conhecimento: quais as possibilidades de engano e acerto? Quais os métodos que podemos utilizar para garantir que o
conhecimento seja verdadeiro?
As respostas a essas indagações dão origem a duas correntes filosóficas (...) opostas: o racionalismo e o empirismo.
O racionalismo
O principal representante do racionalismo no século XVII é o francês René Descartes, que, descontente com os erros e ilusões dos sentidos, procura o fundamento do
verdadeiro conhecimento. Assim, estabelece a dúvida como método de pensamento rigoroso. Duvida de tudo que lhe chega através dos sentidos, duvida de todas as ideias
que se apresentam como verdadeiras. À medida que duvida, porém, descobre que mantém a capacidade de pensar. Por essa via, estabelece a primeira verdade que não
pode ser colocada em dúvida: se duvido, pensa, se pensa, existo, embora esse existir não seja físico. Existo enquanto ser pensante (sujeito ou consciência ) que é capaz de
duvidar. Formula essa descoberta em uma frase muito conhecida: Penso, logo existo.
A partir dessa primeira verdade intuída (…), Descartes diferencia dois tipos de ideias: algumas claras e distintas, outras confusas e duvidosas. (…) As ideias claras e
distintas, que são as ideias gerais, e as principais, não derivam do particular, mas já se encontram no espírito, como instrumentos com que Deus nos dotou para
fundamentar a apreensão de outras verdades. Essas são as ideais inatas, que não estão sujeitas a erro e que são o fundamento de toda ciência. Para conhecê-las (…)
temos que voltar para a reflexão.
Dentre as ideias inatas, encontramos as de um Deus Perfeito e Infinito (substância infinita), da substância pensante e da matéria extensa.
(…) Para Descartes é exatamente porque pensamos que podemos pensar a ideias de infinito, ou seja, de Deus, com todos os seus atributos, dentre os quais está a
perfeição. Ora, para ser perfeito, Deus deve existir. Da ideia de Deus, passamos a poder afirmar sua existência enquanto ser. (…) Esse ser perfeito não nos engana e, se
nos faz ter ideias sobre o mundo exterior, (…) sobre nossos corpos, é porque criou esse mundo exterior e sensível. Assim, a partir de uma ideia inata, podemos deduzir a
ideia da existência da matéria dos corpos, ou seja, da substância extensa. (…).
O método de Descartes deve garantir que:
• as coisas sejam representadas corretamente, sem risco de erro;
• haja controle de todas as etapas das operações intelectuais;
• haja possibilidade de serem feitas deduções que levem ao progresso do conhecimento.
(…) A questão do método de pensamento torna-se crucial para o conhecimento filosófico a partir do século XVII. O modelo é o ideal matemático, (…) isso porque visa o
conhecimento completo, perfeito e inteiramente racional.
O empirismo
Em reação ao racionalismo cartesiano, principalmente às teorias da ideias inatas, John Locke escreve, em 1690, O ensaio sobre o entendimento humano, no qual
defende que todas as ideias têm origem na experiência sensível. É a partir dos dados da experiência que, por abstração, o entendimento, ou intelecto, produz ideias. A
razão humana é vista como uma folha em branco sobre a qual os objetos vão deixar sua impressão sensível que será elaborada, através de certos procedimentos mentais
(…).
Entretanto, o mecanismo íntimo do real ultrapassa os limites de toda experiência possível, isto é, podemos observar os fenômenos, mas não suas causas ou suas
relações.
Para Locke, todas as nossas ideias provêm duas fontes: a sensação e a reflexão. A sensação apreende impressões vindas do mundo externo. A reflexão é o ato pelo
qual o espírito conhece suas próprias operações.
Além disso, as ideias podem ser simples e complexas. As ideias simples são aquelas que se impõem à consciência na experiência sensível e são irredutíveis à análise.
Ao correlacionar ideias simples, o espírito constitui as ideias complexas.
David Hume, filósofo escocês, leva mais adiante o empirismo de Locke, afirmando que as relações são exteriores aos seus termos. Explicando, as relações não são
observáveis, portanto não estão nos objetos. Elas são modos que a natureza humana tem de passar de um termo a outro, de uma ideia particular a outra. E esses modos ão
fruto do hábito ou da crença.
(…) O que nos faz ultrapassar o dado e afirmar mais do que poder alcançado pela experiência é o hábito criado através da observação de casos semelhantes, a partir do
que imaginamos que este caso se comporte da mesma forma que os outros.
Logo, a técnica base para as ideias ditas gerais é a crença, que, do ponto de vista do entendimento, faz uma extensão ilegítima do conceito.
Questões de compreensão com base no texto acima e no que vimos em sala. (Exercícios para entregar)
01) Explique porque Descartes estabelece a dúvida como método.
02) Explique detalhadamente a primeira verdade que o filósofo Descartes encontra: “Penso, logo existo”
03) Estabeleça as características das ideias claras e distintas apresentadas por Descartes e diga como o pensador chega à ideia de Deus.
04) Diga porque o empirismo se contrapõe ao racionalismo e explique sua principal ideia.
05) Diga qual a visão dos filósofos Hume e Locke em relação ao conhecimento.
06) observe o desenho abaixo