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Rosa Bizarro
Para caracterizarmos uma aula de LE, hoje, é necessário pensar, entre outros
aspectos1, numa concepção de Língua, numa concepção de Aprendizagem e numa
concepção do Mundo, de que ela é, simultaneamente, produto e produtora.
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No currículo, na avaliação das aprendizagens, no recurso às novas tecnologias, por
exemplo.
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Vide, a título de exemplo, as definições propostas em Saussure, 1995; Adam, 1990;
Maingueneau, 1987; Fonseca, 2001; Vilela, 2001.
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Enumeradas a negrito na citação precedente.
LINGUÍSTICA E LITERATURA: uma relação produtiva na aula de LE 357
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Correspondente aos saberes e saber-fazer relativos às diferentes dimensões do sistema de uma
língua: competência lexical; competência gramatical; competência semântica; competência
fonológica; competência ortográfica; competência ortoépica (Conselho da Europa, ibidem).
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Sensível às normas sociais que orientam e regulam a comunicação entre os indivíduos,
pertencentes, nomeadamente, a culturas diferentes: marcadores das relações sociais; regras
de delicadeza; expressões da sabedoria popular; diferenças de registo; dialectos e sotaques.
(Conselho da Europa, ibidem)
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Que cobre a utilização funcional dos recursos da língua, nas trocas interaccionais,
contemplando, ainda, questões relativas à coerência e coesão dos discursos, aos tipos e géneros
textuais, à ironia e à paródia, e desdobrando-se em competência discursiva e competência
funcional. (Conselho da Europa, ibidem)
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Vide, a título de exemplo, as obras de Piaget, Vygotsky, Le Ny e Dubé.
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Vários autores tentaram já equacionar o papel da leitura de textos literários no ensino-
aprendizagem de uma LE. Entre eles, destacaremos: Peytard et al., 1982, que constitui um
dos estudos de referência incontornáveis sobre esta questão; Vandendorpe, 1992, para quem
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a leitura de textos literários permite atingir três grandes ordens de objectivos: de tipo sócio-
afectivo, de tipo estético-cultural e de tipo intelectual; Guérette, 1995, que defende que a
literatura infantil e juvenil desempenha um papel importante no desenvolvimento intelectual,
afectivo, social e cultural dos jovens; Thérien, 1997, que equaciona quatro finalidades para
esse acto, a saber: a procura de sentido, o sonho enciclopédico, o prazer hedonista e a
aprendizagem linguística. Em termos nacionais, Bizarro (2003 e 2006) propõe o recurso ao
texto literário para o desenvolvimento da autonomia da aprendizagem em Francês Língua
Estrangeira.
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pre, compreender. Esse esforço cognitivo passa pelo recurso a estratégias de “top
down” e “bottom up” (Gaonac’h, 1990 e 1993), num vaivém explícito entre os ní-
veis micro, macro e super-estrutural do texto, destinado a confirmar ou infirmar as
hipótese levantadas na pré-leitura e/ou reconhecer a forma global de organização
do discurso e as suas manifestações linguísticas, ao serviço da respectiva coesão
e coerência (Fonseca, 1992 e 1993; Fávero, 1991). Para Gaonac’h, a actividade da
leitura apresenta-se :
comme l’ensemble des processus de déconstruction/ recons-
truction à travers lesquels le texte va progressivement s’intégrer
au discours propre du lecteur. (...) Le texte agit en profondeur
sur le rapport du sujet au langage: dans le texte, le langage est
à la fois une trace matérielle inscrite sur un support (un objet
parmi d’autres objets, une image parmi d’autres images), et un
discours qui s’adresse à un sujet, qui lui parle pour entrer en
résonance avec son propre discours. (Gaonac’h, 2000: 17).
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Vide, a título de exemplo, Beacco, J-C. & Darot, M., 1977; Moirand, S., 1990; Cicurel, F.,
1991.
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4. Conclusão
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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jeunes, 49 - 50, pp. 26-27.
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Moirand, Sophie, 1990, Une grammaire des textes et des dialogues, Paris, Hachette.
Peltier, Michel, 1995, Apprendre à aimer lire, Paris, Hachette.
Peytard, Jean et al., 1982, Littérature et classe de langue, Paris, Hatier-Crédif.
Perrenoud, Philippe, 1992, « Regards sociologiques sur la communication en classe ».
[Em linha] Disponível em <http://www.unige.ch/fapse/SSE/teachers/perrenoud/php_
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Vilela, Mário, 2001, Gramática da Língua Portuguesa. Gramática da Palavra. Gramática
da Frase. Gramática do Texto/Discurso, Coimbra, Almedina.
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la Diversité Linguistique et de la Communication Interculturelle, Strasbourg, Conseil
de l’Europe.