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1 INTRODUÇÃO

Com o advento do Sistema Único de Saúde em 1990 ocorreram vários avanços


ao longo dos anos em relação a qualidade e efetividade da prestação desses serviços
para a população. Uma delas foi a criação da ESF – Estratégia de Saúde da Família,
que reflete as propostas iniciais do SUS de equidade, universalidade,
descentralização e participação social no processo de promoção da saúde
(GIOVANELLA. 2008). A USF - Unidade de Saúde da Família, então, se tornou uma
instituição indispensável no cuidado primário e na identificação dos padrões epide-
miológicos da população. Este último só é possível, pois a adição de um novo
profissional deste segmento, o agente comunitário de saúde (ACS), é o principal elo
das trocas comunicacionais entre o cidadão e a unidade. Por meio de um processo
de territorialização, que é de extrema importância para o bom funcionamento da ESF,
este profissional tem a facilidade de identificar as propriedades no que concernem aos
problemas e grupos (TEIXEIRA,1998).

2 DESENVOLVIMENTO

No dia 3 de Maio de 2019 foi realizada uma visita à campo por intermédio do
Profº Diego Carneiro Ramos no intuito de conhecer o trabalho de Marília Alcantara,
agente comunitária de saúde há 19 anos, na USF Dr Jaime Dias de Lima, localizada
na Vila Dulce, na cidade de Barreiras. Essa instituição abriga três equipes diferentes
de Saúde da Família, contendo cada uma de forma generalizada, um médico, um
enfermeiro, um ou dois técnicos de enfermagem, um dentista e no mínimo sete
agentes comunitários, atendendo assim de forma independente, as necessidades das
famílias locais como marcação de consultas e exames, vacinação, acompanhamento
do tratamento de doenças, troca de curativos, acompanhamento pré-natal dentre
outras. Através dessa atividade foram analisados diversos pontos em relação a
relevância da instituição e do trabalho da agente para a promoção da saúde na
comunidade.
Marília atua seguindo o princípio de territorialização, esse tipo de sistema
delimita uma área de abrangência para a equipe que ela pertence — equipe 17,
identificada pela cor rosa —. Diferente da USF que está situada na Vila Dulce, sua
área de atuação se encontra na Vila Brasil iniciando na Rua Quintino Bocaíuva,
seguindo pelas paralelas São José e Tomé de Souza, e a transversal que as conecta,
é uma região majoritariamente residencial, com pouquíssimos pontos de comércio,
ruas calçadas e movimentadas, com muitas casas conjugadas e ocupadas por
moradores que estão lá há anos. A Marília mora em sua própria micro área, o que
facilita sua aproximação e vínculo com a comunidade, além de permitir que ela
conheça muito bem as necessidades e problemáticas desse espaço. Segundo suas
palavras, é uma área com: muitos idosos e poucos jovens e crianças; com baixos
índices de gravidez adolescente, tendo apenas duas gestantes, adultas, identificadas
até essa data; muitos hipertensos e diabéticos; pessoas com transtornos mentais;
problemas com alcoolismo e drogas (vários pontos de tráfico); e casos de hanseníase.
De acordo com Marília, ela atende cerca de 190 famílias (aproximadamente,
900 pessoas), e suas visitas são realizadas, no mínimo, uma vez ao mês. Mesmo
possuindo planejamento prévio, nem sempre é possível segui-lo, pois acontecem
algumas ocorrências que podem mudar seus planos, exemplo: novo cadastramento;
alguém que passou mal e precisa de atenção; não ter ninguém em casa, assim, muitos
a procuram depois. Em alguns casos se faz necessária a realização de mais visitas,
a depender do estado do paciente. Não só ela vai até as residências, mas toda a
equipe se for preciso (quando o paciente não tem condições de se deslocar até a
unidade, a equipe se desloca até ele, e nessas situações até mesmo vacinações
podem ser feitas a domicilio).
Ela também compartilhou conosco que algumas famílias têm resistência com
relação a realização do cadastramento, não conseguindo convencê-las de fazê-lo ela
pede para que assinem um termo de responsabilidade informando que recusaram a
se cadastrar. Isso serve para proteger a equipe de problemas futuros, uma vez que
só é possível ter acesso aos serviços integralmente se for cadastrado.
A agente relatou ainda que acaba entrando em contato não só com assuntos
relacionados à saúde mas também com questões pessoais e familiares de cada
indivíduo, esse relato confirma o que NUNES, 2002 diz: “A entrada no mundo familiar
traz inevitavelmente consigo a intimidade das pessoas, o seu mundo privado, e, com
ele, novas construções relacionais permeadas de significados e de sentimentos”. Por
outro lado, ela reconhece que essa intimidade pode por a sua vida em risco em
algumas ocasiões, nesses momentos ela tenta tomar as melhores decisões junto à
equipe para sanar o problema sem se colocar em perigo.
A comunidade na qual ela atua é considerada pela mesma como participativa
nos serviços da USF, principalmente os idosos que acabam sendo mais cooperativos
e abertos as ações da ACS. Os usuários estão sempre depositando suas sugestões
e críticas, relacionadas a falta de medicamentos, a demora para agendamentos de
exames e marcações de consultas, na caixinha da ouvidoria.
Semanalmente a unidade é abastecida com os medicamentos que serão
distribuídos para a população cadastrada. Alguns atendimentos especiais, como
tomografias ou exames, possuem vagas limitadas e o médico precisa avaliar qual
morador tem a maior necessidade daquele serviço de saúde.
A Marília ainda nos falou sobre as reuniões realizadas com a equipe, que
ocorrem a cada 15 dias para discutir a demanda da comunidade e com o NASF —
Núcleo Ampliado de Saúde da Família, quando necessário, que além de suprir
algumas necessidades dos pacientes também auxilia a equipe com diversos
profissionais especializados em diferentes áreas, e com palestras de capacitação dos
ACS’s.

3 CONCLUSÃO

A visita foi bastante produtiva sanando as dúvidas dos envolvidos e


promovendo uma dialogação sadia e troca de experiências entre os estudantes, o
professor e a profissional, que se mostrou prestativa e comunicativa a todo momento.
A partir dessa experiência foi possível concluir que a territorialização é a
estratégia principal na efetividade do trabalho da USF e do Agente Comunitário, sendo
esse o principal profissional responsável pela quebra das fronteiras do espaço de
atendimento ao seu público levando a atenção técnica e a manutenção da saúde local.
Por sorte, não encontramos dificuldades na realização dessa pesquisa, e a agente
estava disposta a nos orientar. Em síntese, é possível concluir ainda que esse trabalho
promove desafios para quem exerce exigindo boa comunicação, análise, gestão de
conflitos, humanização para com o paciente dentre outras coisas que transformam a
atividade em algo muito mais complexo do que a simples visita domiciliar.
REFERÊNCIAS

LIGIA, S. E; HELENA, G. M; MWDONÇA, M. De; SENNA, M, C, M. de. O


programa de Saúde da Família e a construção de novo modelo para a atenção básica
no Brasil. Revista Panamericana de Salud Pública. Rio de Janeiro, 2007. P. 165 –
165.

NUNES, M. O. de; TRAD, L. B; ALMEIDA, B. A. De; HOMEM, C. R; MELO, M.


C. I. C. de. O agente comunitário de saúde: construção de identidade desse
´profissional híbrido e polifônico. Scielo, Salvador, v. 18, n. 6, p. 1640 –1644, 2002.

TEIXEIRA, C. F; PAIM, J. S; VILASBOAS, A. L. SUS, modelos assitênciais e


vigilância da saúde. Inf. Epidemiol. SUS, 1998; 7(2): 7-28.

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