RESUMO
ABSTRACT
This research sought to reflect on the performance of the psychologist as
a professional counselor for young people and children who are part of
the My house, My Life Program. For that, it was based on a qualitative
methodology and the adopted theory was the social-historical approach.
The research was built based on the author 's professional practice and
bibliographic research. Like other psychology services, professional
orientation has been concentrated and maintained in the private space,
and its implementation in public places is a challenge. It is understood
that this practice can act as a tool for democratization of psychology and
mediation of the social rights of the less favored.
DESENVOLVIMENTO
Teorias Definição
Teorias Não Psicológicas Compreende que a escolha profissional se
dá em função de algo que se encontra
externo ao indivíduo.
Teorias Psicológicas Atribuem a escolha a fatores internos ao
indivíduo.
Teorias Gerais As teorias gerais enxergam a escolha
profissional determinada num determinado
momento por aspectos psicológicos, ou,
noutro momento, por aspectos
socioeconômicos.
Fonte: (BOCK, 2013).
Estas teorias não operacionalizam de forma dialética a totalidade de dimensões que de
forma imbricada integram o ser humano, mas posicionam-se no pêndulo de uma delas; sendo
abandonadas progressivamente pelos profissionais da área de orientação profissional. Para
Silvio Bock (2013, p. 41) “esta classificação carece de substrato mais rigoroso, uma vez que
implica uma dissociação entre indivíduo e sociedade”. Inviabilizada uma prática crítica por meio
destes modelos, foram desenvolvidas novas teorias classificadas por Silvio Bock (2013) em três
grandes grupos: As teorias tradicionais, as teorias críticas e a teoria para além da crítica. As
teorias tradicionais em seu bojo remetem as teorias psicológicas apresentadas na classificação
de Crites, compreendem a escolha como algo estritamente individual, maturacional e abstrato.
As teorias críticas apresentam uma diversidade teórica vasta e buscam entender os fatores que
estão por trás do processo de escolha, ou seja, interesses ideológicos dos sujeitos e da
organização social. Diferenciam-se das teorias para além da crítica, porque não conseguiram
romper com a dicotomia entre indivíduo e sociedade (BOCK, 2013).
Nesta pesquisa, as teorias para além da crítica são resgatadas como parâmetro principal
para entender o ser humano e o funcionamento social. Logo, utilizou como base a teoria sócio-
histórica que parte do pressuposto que o ser humano é um ator social, intimamente imbricado
nas transformações sociais, compreendido a partir de sua especificidade histórica. Esta teoria
fundamenta-se na teoria histórico-cultural de Vygotsky e no método dialético de Karl Marx
(BOCK; GONÇALVES; FURTADO, 2011) que destaca a contradição dinâmica dos fatos,
valorizando as ações humanas sob parâmetros criadores; compreendendo a realidade
permeada por oposições que constituem “os vínculos do saber e do agir com a vida social dos
homens” (CHIZZOTTI, 2006, p. 80). A perspectiva sócio-histórica “permite reconhecer o
conjunto das relações sociais tais como se apresentam num momento histórico” (OZELLA &
SANCHEZ, 2011, p. 153), compreendendo-as não pelo caráter natural do mundo, mas pelos
processos sociais que as determinam. Desta forma, a abordagem sócio-histórica permite “um
avanço na compreensão do indivíduo como ator e ao mesmo tempo autor de sua
individualidade” (BOCK, 2013, p. 67).
Como foi dito anteriormente, a psicologia tem se feito presente prioritariamente em
alguns espaços, negligenciando outros, dificultando assim o acesso maciço da população aos
seus serviços (NETO, 2004; BOCK, 2009). Dentre este público, historicamente negligenciado
por esta psicologia elitista, encontram-se as populações desfavorecidas economicamente,
localizadas em periferias e distantes de um exercício pleno dos seus direitos sociais. Este
cenário agrava-se no que concerne a oferta de serviços de orientação profissional nos
equipamentos públicos, fora das áreas tradicionais (SOARES, 2002).
A partir do meu exercício profissional, enquanto psicóloga, no Programa Minha Casa
Minha Vida no município dos Barreiros, foi possível perceber esta realidade e propor as
crianças e jovens integrantes do programa pensar sobre suas possibilidades de escolher uma
profissão e as dinâmicas que permeiam este processo. Desta forma, propus o serviço de
orientação profissional, que consistiu, na construção, conjunta, de reflexões e significados
acerca das possibilidades de inserção no mercado de trabalho e no ensino superior,
considerando sempre a realidade vivenciada por eles/as, seus interesses, aptidões e motivação
presentes.
Através de algumas técnicas extraídas do livro de Dulce Soares (LUCCHIARI, 1993) foi
possível repensar o presente e assim almejar a concretude de planos de futuro, buscando
clarificar que o processo de escolha é complexo e permeado por todo o funcionamento social,
político e econômico do país (BOCK, 2013). Às crianças e jovens foram propostas as seguintes
reflexões: Quem sou? O que gosto de fazer? O que quero ser quando crescer? O que estou
fazendo agora influencia no que serei no futuro? Posso fazer algo para materializar meus
planos de futuro? Isto depende só de mim, ou seja, basta querer para conseguir?
As atividades foram realizadas uma vez por semana, a partir de uma metodologia com
grupos, própria do fazer da psicologia social-comunitária (BOCK, 2009). As crianças e jovens
refletiram que nem sempre ter desejo em atuar numa determinada área nos garante acesso e
sucesso na mesma, principalmente quando se pertence a uma classe social, gênero, território e
etnia subvalorizadas e estigmatizadas socialmente. Refletiu-se sobre os modos de acesso ao
ensino superior, destacando que os mesmos estarão permeados pelo formato e concorrência
do vestibular (hoje a prova do Enem), das vagas ofertadas pelo ensino público e do ensino
oferecido nas escolas públicas e privadas. Elucubrou-se também que a identidade de gênero e
a orientação sexual permeiam o processo de escolha, visto que pessoas transexuais, por
exemplo, apresentarão dificuldades substanciais para conseguir um emprego formal, assim
como pessoas de orientação sexual destoantes do padrão cultural vigente. Destarte, buscou-se
elucidar que assim como a sociedade engendra-se na desigualdade, o processo de escolha
profissional também resgata estas problemáticas. Assim, a escolha de uma profissão deve ser
pensada à luz da realidade social, ou seja, as oportunidades são distintas para cada sujeito e
se isto não é desvelado, cria-se a falsa ideia de que o sujeito é o único responsável por sua
condição social e escolha.
A partir dos encontros realizados, percebeu-se o quanto é necessária a presença da
psicologia, atuando com a orientação profissional, na comunidade; visto que todos os sujeitos,
inseridos em um cenário em que o trabalho ocupa o lugar de ordem e de importância social,
estarão sujeitos ao sofrimento por não conseguirem escolher, ou por não conquistarem o cargo
ou profissão que almejavam. Este trabalho deve fundamentalmente partir do entendimento que
a sociedade estrutura-se de forma desigual, ocupando assim os indivíduos diferentes espaços e
apresentando dificuldades particulares quanto ao acesso e usufruto da cidadania.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BOCK, Ana. Psicologia e sua ideologia: 40 anos de compromisso com as elites. In: BOCK, Ana.
Psicologia e o compromisso social. São Paulo: Cortez, 2009.
GIL, Antonio. Como elaborar projetos de pesquisa. 4 ed. 11. reimpr. São Paulo: Atlas, 2008.
GOLÇALVES, Maria da Graça. Psicologia, subjetividade e políticas públicas. São Paulo: Cortez,
2010. Coleção construindo o compromisso social da psicologia.
KRAWULSKI, Edite. A orientação profissional e o significado do trabalho. Rev. ABOP v.2 n.1
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LISBOA, Marilu. Orientação Profissional e mundo do trabalho: reflexões sobre uma nova
proposta frente a um novo cenário. In: LEVENFUS, Rosane; SOARES, Dulce. Orientação
vocacional Ocupacional: novos achados teóricos, técnicos e instrumentais para a clínica, escola
e a empresa. Porto Alegre: Artmed, 2002.
LUCCHIARI, Dulce. Pensando e vivendo a orientação profissional. São Paulo: Summus, 1993.
NETO, João. A formação do psicólogo: clínica, social e mercado. São Paulo: Escuta, 2004; Belo
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OLIVEIRA, Inalda. Orientação Profissional no contexto atual. In: OLIVEIRA, Inalda. Construindo
caminhos: experiências e técnicas em orientação profissional. Recife, editora universitária,
2000.
SOARES, Dulce. A escolha profissional: do jovem ao adulto. São Paulo: Summus, 2002.
SILVA, Lucy; BONFIM, Talma; ESBROGEO, Marystella, SOARES, Dulce. Um estudo preliminar
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