Você está na página 1de 4

LCE-200 Física do Ambiente Agrícola

é igual à interna durante todo o processo, a exemplo do que vimos para o processo
isotérmico reversível, em aula anterior. Sendo assim:
nRT
Pex = Pin = (10.3)
V
AULA 10: O PROCESSO ADIABÁTICO
e, substituindo essa relação na 10.2 temos:
Além dos processos ideais tratados na aula passada (isotérmico, nRT dU R
isobárico e isovolumétrico), um quarto tipo de processo tem grande importância na dU = − dV ⇒ = − dV (10.4)
V nT V
termodinâmica e, notadamente, na termodinâmica da atmosfera: o processo
adiabático. Um processo adiabático é definido como aquele em que não há troca de
Na relação 10.4 substituímos os símbolos ∆ da equação 10.2 por d, indicando
calor entre o sistema e o meio, ou seja
matematicamente que, no processo reversível, se trata de diferenças infinitamente
Q=0 (10.1) pequenas.
Pela relação 9.13 verificamos que
Nesse caso, a primeira lei (equação 9.5) se reduz para
dU = C v dT (10.5)
∆U = W = − Pex ∆V (10.2)
e a substituição da equação 10.5 na 10.4 resulta em
ou seja, a energia interna é alterada apenas por troca de energia na forma de trabalho.
Como, numa expansão, o trabalho é negativo (o sistema perde energia), a sua energia nRT C c R
dU = − dV ⇒ v dT = v dT = − dV (10.6)
interna diminui e consequentemente a sua temperatura. Numa compressão, por outro V nT T V
lado, a temperatura aumenta.
A equação 10.6 é uma equação diferencial de fácil resolução, pois,
Pela definição, um processo adiabático não envolve nenhum fluxo de
integrando entre o estado inicial (T1, V1) e o final (T2, V2) obtemos:
calor, ou seja, não ocorre troca de energia nem por radiação, nem por condução, nem
por convecção. A única forma de realizar um processo adiabático perfeito seria com T2
cv
V2
R
um corpo branco (não absorve nem emite radiação) no vácuo, eliminando a condução ∫T dT = − ∫
V
dV (10.6)
e a convecção. No entanto, diversos processos mais comuns ao nosso redor são T1 V1

considerados adiabáticos. Eles podem ser considerados adiabáticos quando


cuja solução é
1. são tão rápidos que não há, praticamente, tempo para a troca de calor.
T2 V
Isso ocorre, por exemplo, quando o ar se comprime (num compressor, numa cv ln = − R ln 2 (10.7)
T1 V1
bomba manual) e, como conseqüência, é aquecido. Contrariamente, um botijão
de gás que é esvaziado rapidamente, congela; o ar numa garrafa de refrigerante
apresenta uma névoa logo após abertura: o ar expandiu, esfriou e vapor de água Como c p - c v = R (equação 9.19) temos
condensou em conseqüência.
 cp  V
= −(c p − cv )ln 2 ⇒ ln 2 = − − 1 ln 2
T2 V T
2. envolvem volumes de matéria tão grandes que a interface com o meio é cv ln (10.8)
T1 V1 T1 c
 v  V1
relativamente pequena, não dando, praticamente, oportunidade para troca de calor
Esse é o caso, por exemplo, quando grandes massas de ar sobem ou descem na O quociente c p / c v é, tradicionalmente, representado pela letra grega
atmosfera terrestre, resultando em variações de pressão e de temperatura.
γ e, dessa forma:
Quando o ar sobe, a pressão diminui, ocorrendo uma expansão adiabática com
1−γ γ −1
conseqüente redução de temperatura. T2 V T V  V 
ln = (1 − γ ) ln 2 ⇒ 2 =  2  =  1  (10.9)
A seguir deduziremos algumas relações de interesse para uma T1 V1 T1  V1   V2 
expansão ou compressão gasosa reversível adiabática, isto é, durante a qual não
ocorre troca de calor e que é tão lento que podemos considerar que a pressão externa Sabemos também que

87 88
Aula 10: O processo adiabático LCE-200 Física do Ambiente Agrícola

P2V2 T2 O TRABALHO DE UM PROCESSO ADIABÁTICO


= (10.10)
P1V1 T1
Pela relação (10.2) verificamos que, para um processo adiabático:
e, combinando 10.10 com 10.9: W = ∆U
γ −1 γ
P2V2  V1  P2  V1 
=  ⇒ =  (10.11) Vimos também que:
P1V1  V2  P1  V2 
∆U = C v ∆T
Da relação 10.9 extraímos que, para um processo adiabático
reversível: Combinando as duas relações acima, temos que:
γ −1 γ −1 W = C v ∆T (10.15)
T1V1 = T2V2 ⇒ TV γ −1 = constante (10.12)

e, da equação 10.11 deduzimos a relação entre P e V para o mesmo processo:


UM EXEMPLO DE UM PROCESSO ADIABÁTICO
γ γ
P1V1 = P2V2 ⇒ PV γ = constante (10.13)
Observemos agora, como exemplo, a expansão adiabática de
Podemos ainda deduzir que a relação entre P e T será: 1000 mol de ar atmosférico (γ = 1,4), ocupando inicialmente, à pressão P1 de 500 kPa
1 1
1
−1
(aproximadamente 5 atm) um volume V1 de 5 m3, expandindo até a pressão final P2
−1 −1
P1 γ T1 = P2 γ T2 ⇒ P γ T = constante (10.14) de 100 kPa (aproximadamente 1 atm). Pergunta-se: Quais as temperaturas inicial
(T1) e final (T2) do processo, e qual o volume final (V2)?
O coeficiente γ, que aparece em todas essas equações é, como já Utilizando a equação universal de gases, calculamos a temperatura
vimos: inicial T1:
cp cv + R R P1V1 500.10 3.5
γ = = = 1+ T1 = = = 300,7 K
cv cv cv nR 1000.8,314

Dessa forma, quanto maior o calor específico de um gás, menor o seu γ. Para gases Para calcular T2 e V2 temos dois caminhos alternativos. O primeiro é calcular T2 pela
monoatômicos, como o He e o Ar: equação 10.14 e depois V2 pela equação universal de gases:
5 1
−1
1
−1
cp R 1 1 P γ  500.10 3  1, 4
5 −1 −1
γ = = 2 = = 1,67 P1 γ T1 = P2 γ T2 ⇒ T2 = T1 . 1  = 300,7. 3 
 = 189,9 K
cv 3 3  P2   100.10 
R
2
nRT2 1000.8,314.189,9
Para gases diatômicos como o ar, O2 e N2: V2 = = = 15,8 m 3
P2 100.10 3
7
cp R Como caminho alternativo, podemos calcular V2 pela equação 10.13 e depois T2 pela
7
γ = = 2 = = 1,40 equação universal de gases:
cv 5 5
R
2 1 1

γ γ P γ  500.10 3  1, 4
P1V1 = P2V2 ⇒ V2 = V1 . 1  = 5. 3 
 = 15,8 m 3
Gases compostos por moléculas maiores, que possuem calor específico maior, têm  P2   100.10 
valores de γ menores: γCO2 = 1,31; γC3H8 = 1,13; γH2O = 1,33.
P2V2 100.10 3.15,8
T2 = = = 190,0 K
nR 1000.8,314

89 90
Aula 10: O processo adiabático LCE-200 Física do Ambiente Agrícola

Observa-se que os valores obtidos pelos dois caminhos são (praticamente) iguais, a ∆U
cv =
pequena diferença devendo-se ao arredondamento de números. n∆T
Se realizarmos uma expansão com os mesmos parâmetros iniciais
mas com um outro gás de c p , c v e, conseqüentemente, γ diferentes, teremos um e combinando essa equação com a 10.2 temos:

outro caminho de expansão. Para um gás monoatômico (γ = 1,67) verificamos, por − Pex ∆V ∆T P
cv = ⇒ = − ex (10.16)
exemplo, que V2 = 13,1 m3 e T2 = 162,4 K. Para um gás com moléculas maiores, n∆T ∆V nc v
como por exemplo o propano (C3H8, γ = 1,13) calculamos, analogamente, que
V2 = 20,8 m3 e T2 = 250,2 K. A equação 10.16 mostra que, quanto maior c v (conseqüentemente,
Essas três expansões (com γ = 1,13, γ = 1,40 e γ = 1,67) podem ser maior também c p e menor γ), menor será o quociente ∆T/∆V, ou seja, menor a
vistas no diagrama PV da figura 10.1, conjuntamente com algumas linhas variação de temperatura por variação de volume, como vimos na figura 10.1.
isotérmicas.

500

400
Pressão (kPa)

300
γ = 1,13

γ = 1,40
200 γ = 1,67

100 300 K
250 K
200 K
150 K
100 K
0
0 5 10 15 20 25
Volume (m3)

Figura 10.1 - Isotermas e adiabatas

Verifica-se, nessa figura, que a linha de um processo adiabático num


diagrama PV cruza as isotermas. Vê-se também que, quanto maior γ (o que
corresponde a c p e c v menores), maior o ângulo entre isotermas e adiabatas.
Interpretando isso, quanto menor c p e c v , maior o decréscimo de temperatura em
relação à variação do volume: aumentando o volume de um gás de uma determinada
quantidade ∆V, se o seu calor específico for menor, a sua temperatura reduzirá mais.
Podemos deduzir o mesmo fato também pela teoria já vista.
Combinando as equações 9.12 e 9.13 temos

91 92
Aula 10: O processo adiabático

EXERCÍCIOS

1. O calor molar a pressão constante ( c p ) do ar atmosférico é 29,0 J.mol-1.K-1 e


do gás propano (C3H8) é 67,3 J.mol-1.K-1. Um mol de ambos os gases,
ocupando, à pressão de 3,2.105 Pa, um volume de 8 litros cada um, é expandido
adiabaticamente ao volume de 20 litros.
a) Calcular, para ambos os gases, o calor molar a volume constante ( c v )
e o valor do coeficiente γ.
b) Qual é a temperatura inicial e final do processo de expansão para
ambos os gases?
c) Representar o processo para cada gás no mesmo diagrama PV.
2. Um volume de ar seco é aquecido pela superfície da Terra, a uma altitude de
550 m acima do nível do mar, onde a pressão atmosférica eqüivale a
0,94.105 Pa, atingindo a temperatura de 310 K. O volume de ar começa então a
subir, expandindo-se adiabaticamente, até chegar à altitude de 1550 m acima
do nível do mar, onde a pressão atmosférica eqüivale a 0,84.105 Pa. Calcular a
temperatura do ar ao chegar a essa altitude.

Respostas: 1. a)ar:20,7 J.mol-1.K-1; 1,40; propano: 59,0 J.mol-1.K-1; 1,14;


b) inicial: 308 K; final ar: 213 K; final propano: 271 K; 2. 300,3 K

93

Você também pode gostar