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FÍSICA II

Ano letivo 2021-2022


2.º semestre
Aula 11 : Primeira Lei da Termodinâmica
Prof. Doutor António Dias

T1 - Prof. Doutor António Dias


T2 - Prof. Doutor Filipe Ferreira da Silva
(Tríptico) O Jardim das Delícias Terrenas 1504? Hieronymus Bosch 220×389 cm
Museu do Prado, Madrid https://www.museodelprado.es
1.ª LEI DA TERMODINÂMICA

PRIMEIRA LEI DA TERMODINÂMICA – Durante um processo, a alteração na energia


armazenada no sistema é igual ao balanço entre a energia que entra e a que sai.
PRINCÍPIO DE CONSERVAÇÃO DE ENERGIA.

Submetendo o sistema a uma alteração infinitesimal, a 1.ª Lei


toma a forma:
𝑑𝑈 = 𝛿𝑄 − 𝛿𝑊
Q >0 Integrando entre dois estados de equilíbrio, ligados por um
processo reversível, a 1.ª Lei toma a forma:
S W >0 ∆𝑈 = 𝑄 − 𝑊
1.ª LEI DA TERMODINÂMICA

CASOS LIMITE ∆𝑈 = 𝑄 − 𝑊
Processo cíclico

P
∆𝑈𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 = 0 ⟹ 𝑄𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜 = 𝑊𝑐𝑖𝑐𝑙𝑜

Processo adiabático

𝑄𝑎𝑑𝑖𝑎𝑏 = 0 ⟹ ∆𝑈 = −𝑊𝑎𝑑𝑖𝑎𝑏
Gás
1.ª LEI DA TERMODINÂMICA

CASOS LIMITE ∆𝑈 = 𝑄 − 𝑊
Processo isocórico

𝑊𝑖𝑠𝑜𝑐 = 0 ⟹ ∆𝑈 = 𝑄𝑖𝑠𝑜𝑐
Gás

Expansão livre

𝑄 = 0 ∧ 𝑊 = 0 ⇒ ∆𝑈 = 0
Vácuo
1.ª LEI DA TERMODINÂMICA

EXPANSÃO LIVRE
Gás ideal Antes Depois

𝑉1 2𝑉1
𝑃1 𝑃1 /2

Calor
Parede adiabática 𝑄 = 0

Trabalho
Expansão livre contra pressão nula 𝑃𝐸𝑥𝑡 = 0 ⇒ 𝑊 = 0

Energia interna VERIFICAÇÃO EXPERIMENTAL


𝑄 = 0 ∧ 𝑊 = 0 ⇒ ∆𝑈 = 0 𝑇𝑎𝑛𝑡𝑒𝑠 = 𝑇𝑑𝑒𝑝𝑜𝑖𝑠

A expansão livre demonstra que a energia interna de um gás ideal só depende da


temperatura (conforme verificado na teoria cinética)
1.ª LEI DA TERMODINÂMICA

APLICAÇÃO - OUTROS SISTEMAS 𝑑𝑈 = 𝛿𝑄 − 𝛿𝑊

Sistema Variáveis 𝑑𝑈
Gás P, V, T 𝛿𝑄 − 𝑃𝑑𝑉
Fio, varão F, L, T 𝛿𝑄 + 𝐹𝑑𝐿
Filme, película , A, T 𝛿𝑄 + 𝑑𝐴
Magnético H, M, T 𝛿𝑄 + 0 𝐻𝑉𝑑𝑀
Elétrico E, p, T 𝛿𝑄 + 𝐸𝑉𝑑𝑝

V – volume, F – força,  – tensão superficial, E – campo elétrico, H – campo magnético, o – permeabilidade


do vácuo, M – magnetização, p – polarização

A temperatura é a propriedade termodinâmica comum a todos os sistemas e é o


“impulsionador” às trocas de energia na forma de calor.
A expressão da definição de trabalho depende das características do sistema em análise!
APLICAÇÃO

O gás contido num cilindro é levado do estado 1 para o estado 3 ao longo do percurso 123, no qual
80 J de calor são absorvidos pelo sistema e o sistema realiza 30 J de trabalho.

a) Se no percurso 143 o trabalho feito pelo gás é 10 J, que quantidade


P
2 3 de calor entra no sistema?
b) Qual é o calor envolvido quando o sistema volta a 1 pelo percurso
31, se o trabalho feito no sistema é 20 J.
c) Qual o calor absorvido nos processos 14 e 43, se U14 = 40 J.
1 4 a) 60 J
V b) −70 J
Q>0 c) 50 J; 10 J

∆𝑈 = 𝑄 − 𝑊
S W>0
ENTALPIA

ENTALPIA – é uma função de estado que representa a máxima energia, na forma de


calor, que pode ser removida ou adicionada a um sistema termodinâmico. Relaciona-se
com as outras grandezas do sistema por :

𝐻 = 𝑈 + 𝑃𝑉 Unidade: J

PROCESSO ISENTÁLPICO – H constante

VARIAÇÃO INFINITESIMAL DE H
𝑑𝐻 = 𝑑𝑈 + 𝑃𝑑𝑉 + 𝑉𝑑𝑃 H > 0 processo endotérmico
𝑃 = 𝐶 𝑡𝑒 ⟹ 𝑑𝐻 = 𝛿𝑄 H < 0 processo exotérmico
∆𝐻 = 𝑄 H = 0 sistema em equilíbrio
Nos processos isobáricos, a variação de entalpia é igual ao calor absorvido ou libertado.
ENTALPIA

Se a pressão se mantiver constante a entalpia é dada por:


𝑇

𝐻 = 𝑈 𝑇 + 𝑃𝑉 = න 𝐶𝑃 𝑑𝑇
0

APLICAÇÃO PRÁTICA – Considere um líquido à temperatura de


vaporização dentro de um cilindro fechado por um êmbolo, com
a pressão externa constante. Quando o líquido é totalmente
convertido em gás, a energia interna aumenta de U e o
volume aumenta de V. Para esta transformação ocorrer
necessita de uma energia Δ𝐻 = Δ𝑈 + 𝑃Δ𝑉

A noção de entalpia simplifica a descrição dos processos.


CALOR LATENTE

CALOR LATENTE – energia térmica que é necessário retirar /fornecer, por unidade de
massa, a uma substância para completar a mudança estado físico
𝛿𝑄
ℓ= Unidade: J/kg
𝑀

Na mudança de fase as grandezas termodinâmicas tomam valores específicos, conforme


indicado de seguida, por mol:
Temperatura – constante
Pressão – constante
Trabalho 𝑤1−2 = 𝑃(𝑣2 − 𝑣1 )
Energia Interna 𝑢2 − 𝑢1 = ℓ − 𝑃(𝑣2 − 𝑣1 )
Entalpia ℎ2 − ℎ1 = (𝑢2 + 𝑃𝑣2 ) − (𝑢1 + 𝑃𝑣1 ) = ℓ

O calor latente de qualquer transformação de mudança de estado físico é


igual à diferença de entalpia especifica dos estados.
ℓ = ∆ℎ
CALOR LATENTE

Calor latente de algumas substâncias

Ponto de Ponto de
Substância fusão ℓ𝐹𝑢𝑠ã𝑜 vaporização ℓ𝑉𝑎𝑝𝑜𝑟𝑖𝑧𝑎çã𝑜
/ ºC / kJ/kg / ºC / kJ/kg
Hidrogénio −259 58,0 −253 455
Azoto −210 25,7 −196 200
Oxigénio −219 25,7 −183 213
Dióxido de carbono −78 184,0 −57 574
Álcool etílico −114 108,0 78 855
Água 0 333,0 100 2257
Alumínio 660 393,0 2056 8360
Chumbo 327 16,3 1744 928
Cobre 1083 211,5 2595 7357
EQUAÇÕES DE ENERGIA INTERNA
A energia interna específica de um sistema pode ser descrito em função de duas
variáveis independentes: u(P,T) ; u(P,v) ; u(T,v)
T E V VARIÁVEIS INDEPENDENTES
A variação de energia interna específica entre dois estados de equilíbrio de um sistema
que difiram entre si de uma variação infinitesimal de temperatura e volume, é:

𝜕𝑢 𝜕𝑢
𝑑𝑢 = 𝑑𝑇 + 𝑑𝑣
𝜕𝑇 𝑣
𝜕𝑣 𝑇

Recorrendo à expressão diferencial da 1.ª Lei


𝜕𝑢 𝜕𝑢
𝛿𝑞 = 𝑑𝑢 + 𝑃𝑑𝑣 ⇒ 𝛿𝑞 = 𝑑𝑇 + + 𝑃 𝑑𝑣
𝜕𝑇 𝑣
𝜕𝑣 𝑇
Vimos anteriormente que
𝛿𝑞 𝛿𝑞 𝜕𝑢
𝑐𝑉 = ⇒ 𝑐𝑉 = =
𝜕𝑇 𝑉
𝜕𝑇 𝑉
𝜕𝑇 𝑉
EQUAÇÕES DE ENERGIA INTERNA
TEV VARIÁVEIS INDEPENDENTES

Concluímos então
𝜕𝑢
𝛿𝑞 = 𝑐𝑣 𝑑𝑇 + + 𝑃 𝑑𝑣
𝜕𝑣 𝑇
Aplicação a um processo isobárico

𝛿𝑞 = 𝑐𝑃 𝑑𝑇
𝜕𝑢 𝜕𝑣
𝜕𝑣 𝜕𝑣 𝑐𝑃 𝑑𝑇 = 𝑐𝑣 𝑑𝑇 + +𝑃 𝑑𝑇
𝑑𝑣 = 𝑑𝑇 + 𝑑𝑃 𝜕𝑣 𝑇
𝜕𝑇 𝑃
𝜕𝑇 𝑃
𝜕𝑃 𝑇

Desenvolvendo, obtém-se simplesmente a expressão:

𝜕𝑢 𝜕𝑣 Esta relação permite determinar o valor de cV


𝑐𝑃 − 𝑐𝑣 = +𝑃 a partir da equação de estado e da medida
𝜕𝑣 𝑇
𝜕𝑇 𝑃 de cP
EQUAÇÕES DE ENERGIA INTERNA

T e P variáveis independentes
A variação de entalpia especifica entre dois estados de equilíbrio do sistema, que difiram
entre si por uma quantidade infinitesimal de temperatura e de pressão, pode ser
determinada pela equação seguinte (na qual já se considerou também a 1.ª Lei):

𝜕ℎ 𝜕ℎ
𝛿𝑞 = 𝑑𝑇 + − 𝑣 𝑑𝑃
𝜕𝑇 𝑃
𝜕𝑃 𝑇

Recordando que:
𝛿𝑞 𝑑ℎ
𝑐𝑃 = =
𝜕𝑇 𝑃
𝜕𝑇 𝑃

Para um processo isocórico têm-se

𝜕ℎ 𝜕𝑃
𝑐𝑣 𝑑𝑇 = 𝑐𝑃 𝑑𝑇 + −𝑣 𝑑𝑇
𝜕𝑃 𝑇
𝜕𝑇 𝑣
EQUAÇÕES DE ENERGIA INTERNA
T e P variáveis independentes
Desenvolvendo, obtém-se

𝜕ℎ 𝜕𝑃
𝑐𝑃 − 𝑐𝑣 = − −𝑣
𝜕𝑃 𝑇
𝜕𝑇 𝑣

T e v variáveis independentes
𝜕𝑢 𝜕𝑣
𝑐𝑃 − 𝑐𝑣 = +𝑃
𝜕𝑣 𝑇
𝜕𝑇 𝑃

Estas equações permitem determinar todas as propriedades de um sistema.


As derivadas parciais de energia interna e de entalpia podem ser descritas em função
das respetivas variáveis independentes.
RELAÇÃO DE MAYER

APLICAÇÃO EM GÁS IDEAL


A experiência da expansão livre mostrou que a energia interna de um gás ideal depende
apenas da temperatura, ou seja:
𝑅𝑇
𝑣= 𝑢 𝑇, 𝑣 ∨ 𝑢(𝑇, 𝑃) ⇒ 𝑑𝑢 = 𝑐𝑣 𝑑𝑇
𝑃

𝜕𝑢 𝜕𝑣 𝜕ℎ 𝜕𝑃
𝑐𝑃 − 𝑐𝑣 = +𝑃 𝑐𝑃 − 𝑐𝑣 = − −𝑣
𝜕𝑣 𝑇
𝜕𝑇 𝑃
𝜕𝑃 𝑇
𝜕𝑇 𝑣
𝜕𝑣 𝑅 𝜕𝑃 𝑅
= =
𝜕𝑇 𝑃
𝑃 𝜕𝑇 𝑣
𝑣
𝑅 𝑅
𝑐𝑃 − 𝑐𝑣 = (0 + 𝑃) 𝑐𝑃 − 𝑐𝑣 = (0 + 𝑣)
𝑃 𝑣

𝑐𝑃 − 𝑐𝑣 = 𝑅
Relação de Mayer
EQUAÇÕES DE POISSON
Numa transformação adiabática reversível de um gás ideal, q = 0; pela 1.ª lei têm-se:

𝑅𝑇
𝑑𝑢 + 𝛿𝑤 = 0 𝑐𝑣 𝑑𝑇 + 𝑑𝑣 = 0
𝑣 𝑅
𝑙𝑛(𝑇𝑣 𝑐𝑣 ) = 𝐶 𝑡𝑒
𝑐𝑣 𝑑𝑇 + 𝑃𝑑𝑣 = 0 𝑑𝑇 𝑅 𝑑𝑣
+ =0
𝑇 𝑐𝑣 𝑣

Coeficiente adiabático de um gás


𝑐𝑃 𝑅 + 𝑐𝑣 𝑅 𝑅
𝛾= 𝛾= = +1⇒ =𝛾−1
𝑐𝑣 𝑐𝑣 𝑐𝑣 𝑐𝑣
𝑇𝑣 𝛾−1 = 𝐶 𝑡𝑒

Equações de Poisson 𝑃𝑣 𝛾 = 𝐶 𝑡𝑒

𝑃1−𝛾 𝑇 𝛾 = 𝐶 𝑡𝑒
ISOTÉRMICA VS ADIABÁTICA

DIAGRAMA PV GÁS
IIsotérmica
DEAL
𝑛𝑅𝑇
𝑇 = 𝐶 𝑡𝑒 ⇒ 𝑃 = ⇒ 𝑃 = 𝐶 𝑡𝑒 𝑉 −1
𝑉
Hipérbole
∆𝑈 = 0 ⟹ 𝑄 = 𝑊
𝑃 = 𝐶 𝑡𝑒 𝑉 −1
Expansão: calor transforma-se em trabalho
Compressão: trabalho transforma-se em calor

Adiabática 𝑃 = 𝐶 𝑡𝑒 𝑉 −𝛾
𝑃𝑉 𝛾 = 𝐶 𝑡𝑒 ⟹ 𝑃 = 𝐶 𝑡𝑒 𝑉 −𝛾

𝑄 = 0 ⟹ ∆𝑈 = −𝑊
Expansão: trabalho realizado sobre a vizinhança faz diminuir a energia interna (arrefecimento do
sistema)
Compressão: trabalho feito sobre o sistema aumenta a energia interna do sistema (aquecimento
do sistema)

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