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FÍSICA II

Ano letivo 2021-2022


2.º semestre
Aula 4 : Teoria Cinética dos Gases I
Prof. Doutor António Dias

T1 - Prof. Doutor António Dias


T2 - Prof. Doutor Filipe Ferreira da Silva
Galatea das Esferas
1952 Salvador Dali 65 x 54 cm
Dali Theatre and Museum
Figueres, Espanha
https://en.wikipedia.org/wiki/Galatea_of_the_Spheres
INTRODUÇÃO

Muitas partículas → Probabilidades e estatística → Propriedades macroscópicas

Teoria Cinética dos Gases

➢ O volume total das partículas é desprezável face ao volume ocupado pelo


gás
➢ As partículas estão em movimento contínuo que obedece à mecânica
newtoniana
Gases
➢ As partículas não exercem forças umas sobre as outras, excepto quando
ideais chocam. Os choques são perfeitamente elásticos. Os movimentos são
retilíneos
➢ Na ausência de forças exteriores, as direções de movimento das
moléculas e as suas velocidades distribuem-se uniformemente no
recipiente
PRESSÃO

Aplicação
PRESSÃO
Consideremos um gás ideal contido num recipiente. O
gás exerce pressão nas paredes. O que é a pressão?

A pressão é a força por unidade de área exercida pelas


partículas nas paredes
A força (ou seja, a pressão) é devida às colisões das
moléculas com as paredes do contentor

Uma partícula de massa m e velocidade v faz uma colisão


elástica com uma das paredes perpendicular a x.
O que podemos dizer sobre a variação do momento do
recipiente?

A variação de momento da partícula é - 2mvx


O módulo da velocidade da partícula mantém-se
A variação de momento da caixa é + 2mvx
PRESSÃO

Uma partícula de massa m e velocidade v faz uma


colisão elástica com uma das paredes perpendicular a x.
A variação de momento da caixa é +2mvx.

Qual é a relação entre o momento e a força?


A variação do momento é igual ao impulso.

O impulso Fxt sobre a parede é +2mvx; t tempo de interação.


Como determinar o tempo, t, entre duas colisões?
t = 2L/vx
Como determinar Fx?
Fx = 2mvx / t = mvx2/L
𝑃𝑥1 = 𝐹𝑥 Τ𝐿2 ⟺ 𝑃𝑥1 = 𝑚 𝑣𝑥 2 Τ𝐿3 ⟺ 𝑃𝑥1 = 𝑚 𝑣𝑥 2 Τ𝑉
V é o volume do recipiente
PRESSÃO

Uma partícula de massa m e velocidade v faz uma colisão


elástica com uma das paredes perpendicular a x; exerce uma
pressão:
𝑃𝑥1 = 𝑚 𝑣𝑥 2 Τ𝑉

N partículas todas de massa m dentro da caixa, cada uma com


velocidade vi
2
σ𝑖 𝑚𝑖 𝑣𝑥𝑖 𝑚𝑁𝑣𝑥2
𝑃𝑥 = ⟺ 𝑃𝑥 =
𝑉 𝑉
1 2
Direções equivalentes 𝑣𝑥2 = 𝑣𝑦2 = 𝑣𝑧2 = 𝑣
3
Equação de Bernoulli

1 𝑚𝑁𝑣 2 1
𝑃= = 𝑛𝑉 𝑚𝑣 2 𝑛𝑉 densidade de partículas
3 𝑉 3
TEMPERATURA

A temperatura é a propriedade comum a corpos em equilíbrio térmico entre si.

Partículas de massa m e Partículas de massa


velocidade v2 > v1 m e velocidade v1
Depois de algum
tempo

Partículas de massa m e
velocidade v1 < v3 < v2
TEMPERATURA

A temperatura é a propriedade comum a corpos em equilíbrio térmico entre si

Partículas de massa m2 e Partículas de massa Depois de


velocidade v2 > v1 m1 e velocidade v1 algum tempo

As partículas têm velocidades


diferentes; o equilíbrio acontece
para a mesma energia cinética
TEMPERATURA

No equilíbrio todas as partículas têm em média a mesma energia cinética. Porquê?

Por exemplo, na colisão entre duas partículas de massas m1 e m2, com m2 > m1, do ponto
de vista do seu Centro de Massa (CM), temos sempre que a soma dos momentos
lineares das duas partículas é zero

Referencial CM
Esta situação é compatível com uma velocidade do 
v2 f '
CM nula ou diferente de zero fazendo um ângulo
 
qualquer com o vetor velocidade relativa, 𝑣Ԧ1𝑖 ′ − 𝑣Ԧ2𝑖 ′, v1i ' v 2i '
das duas partículas

v1 f '

A velocidade relativa é a mesma no referencial de laboratório

𝑣Ԧ1𝑖 ′ − 𝑣Ԧ2𝑖 ′ = (𝑣Ԧ1𝑖 − 𝑣Ԧ𝐶𝑀 ) − (𝑣Ԧ2𝑖 − 𝑣Ԧ𝐶𝑀 ) = 𝑣Ԧ1𝑖 − 𝑣Ԧ2𝑖


TEMPERATURA

Então 𝑣Ԧ𝐶𝑀 pode fazer qualquer ângulo com 𝑣Ԧ1𝑖 − 𝑣Ԧ2𝑖 , ou seja o cosseno do ângulo entre
estes vectores pode variar entre -1 e +1.

No equilíbrio todos os ângulos são igualmente prováveis, pelo que o valor médio do
cosseno é zero, ou seja, usando para designar valor médio

𝑚1 𝑣Ԧ1 𝑖 + 𝑚2 𝑣Ԧ2 𝑖
𝑣Ԧ𝐶𝑀 ⋅ (𝑣Ԧ1𝑖 − 𝑣Ԧ2𝑖 ) = 0 ⋅ (𝑣Ԧ1𝑖 − 𝑣Ԧ2𝑖 ) = 0
𝑚1 + 𝑚2

𝑚1 𝑣1 𝑖 2 − 𝑚2 𝑣2 𝑖 2 + (𝑚2 − 𝑚1 )(𝑣Ԧ1𝑖 ⋅ 𝑣Ԧ2𝑖 ) = 0

𝑚1 𝑣1 𝑖 2 − 𝑚2 𝑣2 𝑖 2 + (𝑚2 − 𝑚1 ) 𝑣Ԧ1𝑖 ⋅ 𝑣Ԧ2𝑖 = 0


No equilíbrio a partícula 2 pode mover-se num qualquer ângulo relativamente à 1. Então:
𝑣Ԧ1𝑖 ⋅ 𝑣Ԧ2𝑖 = 0 e
2 2
1 1
𝑚1 𝑣1 𝑖 = 𝑚2 𝑣2 𝑖 ⇒ 𝑚1 𝑣1 𝑖 = 𝑚2 𝑣2 𝑖 2
2
2 2
TEMPERATURA

Temperatura Energia cinética média

𝐸ሜ 𝑐 = 𝑓(𝑇) ⟺ 𝐸ሜ 𝑐 = 𝑎𝑇 a é uma constante

1 𝑚𝑁𝑣 2 2 2
𝑃= ሜ
⇒ 𝑃𝑉 = 𝑁𝐸𝑐 ⇒ 𝑃𝑉 = 𝑁𝑎𝑇
3 𝑉 3 3
Para gás ideal existe uma expressão empírica equivalente:

PV = nRT R – constante dos gases ideais; n – n.º de moles. 𝑛𝑅 = 𝑁𝑘𝐵

PV = NkBT kB ou k – constante de Boltzmann; N – n.º de moléculas.

Então
3 3
𝑎 = 𝑘𝐵 𝐸𝑐 = 𝑘𝐵 𝑇
2 2
ENERGIA CINÉTICA MÉDIA

Energia cinética média por partícula 3


𝐸𝑐 = 𝑘𝐵 𝑇
2

A energia cinética só depende da temperatura; é independente da natureza do gás,


desde que este se comporte como gás ideal.

Podemos verificar experimentalmente esta expressão?


Medindo a pressão e a densidade de partículas, ficamos a saber 𝑣 2 , o que nos leva à
energia cinética média; medindo a temperatura, podemos fazer a comparação.
ENERGIA CINÉTICA MÉDIA

Exemplo:
4,0x10-4 mol/m3 de hélio à temperatura ambiente (T = 300 K) originam uma pressão de
1,0 Pa. Verifique a expressão da energia cinética média. M (He) = 4 g/mol

1 2 2
3𝑃 2
3𝑃
𝑃 = 𝑛𝑉 𝑚𝑣 ⇒ 𝑣 = ⟺𝑣 =
3 𝑚𝑁/𝑉 𝑀𝑛/𝑉
3
𝑣2 = −4 −3
= 1,875 × 106 m2 /s 2
4 × 10 × 4 × 10

Por partícula:
1 4 × 10 −3 /6,023 × 1023
𝑚𝑣 2 = × 1,875 × 106 = 6,23 × 10−21 J
2 2
3
𝑘𝐵 𝑇 = 1,5 × 1,38 × 10−23 × 300 = 6,21 × 10−21 J
2
3
𝐸𝑐 = 𝑘𝐵 𝑇
2
ENERGIA CINÉTICA MÉDIA

3 Esta expressão é válida para todos os gases em condições de P e T


𝐸𝑐 = 𝑘𝐵 𝑇 correspondentes a gases ideais?
2
Não! Só para gases monoatómicos

Num gás ideal cada partícula pontual (gás monoatómico) com movimento de translação
possui 3 graus de liberdade (3 direções do espaço); cada grau de liberdade contribui
1
com 𝑘𝐵 𝑇
2

Num gás ideal a energia interna é igual à energia cinética total?


Afirmativo. Como num gás ideal não há interação entre partículas, a energia interna é
igual à energia cinética total.
EQUIPARTIÇÃO DE ENERGIA

Num sistema em equilíbrio térmico à temperatura T, constituído por um grande número


de partículas, a energia de uma partícula está associada a f graus de liberdade

A energia cinética média por partícula é


𝐸𝑐 𝐸𝑐 𝑓
= = 𝑘𝐵 𝑇
𝑁 𝑁 2

𝑈 𝑈 𝑓
A energia interna média por partícula é = = 𝑢 = 𝑘𝐵 𝑇
𝑁 𝑁 2
EQUIPARTIÇÃO DE ENERGIA

Para gases diatómicos (O2, N2, H2) estão associados mais graus de liberdade, f :

3 de translação 2 de rotação 2 de vibração


(energia cinética + energia potencial)

Porquê só 2 graus de rotação?


A rotação em torno do eixo da molécula, y na figura, mantém o sistema no mesmo estado
(não altera a inércia)!
EQUIPARTIÇÃO DE ENERGIA

𝑓
Energia interna de um sistema 𝑈 = 𝑁 𝐸𝑓 = 𝑛𝑅𝑇
com f graus de liberdade 2

3
Gás monoatómico, f = 3 𝑈 = 𝑁 𝐸3 = 𝑛𝑅𝑇
2
5
Gás diatómico, f = 5 𝑈 = 𝑁 𝐸5 = 𝑛𝑅𝑇 Sem vibração
2
7
Gás diatómico, f = 7 𝑈 = 𝑁 𝐸7 = 𝑛𝑅𝑇 Com vibração, temperaturas altas
2

𝑛𝑅 = 𝑁𝑘𝐵
DISTRIBUIÇÃO DE VELOCIDADES

A uma dada temperatura, as partículas do gás não têm todas a mesma velocidade (em
módulo) e energia!

A distribuição de velocidades ou energias, ou seja a determinação do n.º de partículas


que têm velocidade entre v e v + dv, pode ser feito por considerações estatísticas. Esse
n.º a dividir pelo n.º total de partículas representa a probabilidade, f(v), de as partículas
terem velocidade entre v e v + dv.

Admitindo que todas as velocidades são possíveis (distribuição contínua) chega-se à


função de distribuição de Maxwell-Boltzmann.

𝑚 3 𝑚𝑣 2
𝑓(𝑣) = 4𝜋𝑣 2 𝑒 − 2𝑘𝑇
2𝜋𝑘𝑇
DISTRIBUIÇÃO DE VELOCIDADES

Aplicação

vp
𝑚 3 𝑚𝑣 2

𝑓(𝑣) = 4𝜋𝑣 2 𝑒 2𝑘𝑇 Fração de partículas com velocidades entre
2𝜋𝑘𝑇 v e v + dv

න 𝑓(𝑣)𝑑𝑣 = 1 Toda a área debaixo da curva
0
𝑣2
න 𝑓(𝑣)𝑑𝑣 = ? Fração de partículas com velocidades entre v1 e v2
𝑣1
DISTRIBUIÇÃO DE VELOCIDADES

M – massa de uma mol de partículas 3 𝑚𝑣 2


𝑚 −
m – massa de uma partícula 𝑓(𝑣) = 4𝜋𝑣 2 𝑒 2𝑘𝑇
2𝜋𝑘𝑇

Velocidade média

𝑣lj = ‫׬‬0 𝑣𝑓(𝑣)𝑑𝑣
8𝑘𝑇 8𝑅𝑇
𝑣 = ou 𝑣 =
𝜋𝑚 𝜋𝑀

Velocidade quadrática média



𝑣𝑟𝑚𝑠 2 = න 𝑣 2 𝑓(𝑣)𝑑𝑣
0
Velocidade mais provável
3𝑘𝑇
𝑑𝑓(𝑣) 2𝑘𝑇 𝑣𝑟𝑚𝑠 = 𝑣2 =
= 0 → 𝑣𝑝 = 𝑚
𝑑𝑣 𝑚
DISTRIBUIÇÃO DE VELOCIDADES

vp

v/vp

Curva assimétrica com ~50% das partículas entre 0,6vp e 1,5 vp


DISTRIBUIÇÃO DE VELOCIDADES

Efeito da massa

T = 25 ℃
Efeito da temperatura
DISTRIBUIÇÃO DE ENERGIA

Num gás ideal a única forma de energia é a cinética. Então, a distribuição de velocidades
das partículas de gás pode ser escrita na forma de uma distribuição de energia

𝑚 3 𝑚𝑣 2
𝑓(𝑣) = 4𝜋𝑣 2 𝑒 − 2𝑘𝑇 𝑓(𝑣)𝑑𝑣 ⇒ 𝑓(𝐸)𝑑𝐸
2𝜋𝑘𝑇

𝐸 𝐸
−𝑘𝑇
𝑓(𝐸) = 2 3 𝑒
𝜋(𝑘𝑇)
Se E >> kT podemos aproximar:
𝐸
−𝑘𝑇
𝑓(𝐸) ∝ 𝑒

Probabilidade de uma molécula ter energia cinética E


DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL

Quando não há forças de interação entre moléculas, nem forças externas aplicadas, as
moléculas espalham-se uniformemente no espaço, ou seja o número de moléculas por
unidade de volume (densidade molecular) é constante.

O que acontece, quando há forças externas envolvidas?

Por exemplo, no caso do ar (admitido ser um gás ideal), existe a força da gravidade a
atuar sobre as moléculas.

Considerando que a temperatura é a mesma em toda a massa de ar, o efeito da


gravidade faz com que a pressão e a densidade molecular diminuam com a altitude.

Sobre uma pequena fatia de ar, a pressão na parte inferior tem de ser maior do que na
parte superior, e a diferença é o peso da fatia.
DISTRIBUIÇÃO ESPACIAL

(𝑃 + 𝑑𝑃)𝐴 Equilíbrio de forças sobre uma fatia de secção A (a tracejado):


(𝑃 + 𝑑𝑃)𝐴 = 𝑃𝐴 − 𝑛𝑉 𝐴𝑑𝑦𝑚𝑔
𝑑𝑦
𝑑𝑃 = −𝑛𝑉 𝑚𝑔𝑑𝑦
FG
Ar → Gás Ideal
𝑃𝐴
𝑁𝑘𝑇 𝑑𝑛𝑉 𝑚𝑔
𝑃= = 𝑛𝑉 𝑘𝑇 =− 𝑑𝑦
𝑉 𝑛𝑉 𝑘𝑇
𝑑𝑃
= 𝑘𝑇 𝑛𝑉 𝑚𝑔
𝑑𝑛𝑉 𝑙𝑛 =− 𝑦
𝑛𝑉0 𝑘𝑇
𝑚𝑔𝑦
− 𝑘𝑇
𝑛𝑉 = 𝑛𝑉0 𝑒
𝑛𝑉0 é densidade molecular para y0 = 0

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