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ARTIGO - Jâmblico de Cálcis - Entre Os Deuses e Os Homens PDF
ARTIGO - Jâmblico de Cálcis - Entre Os Deuses e Os Homens PDF
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As datas de nascimento e morte de Jâmblico de Cálcis não são precisas, mas a tradição histórica localiza
seu nascimento em 245 d. C. e sua morte em 325 d. C., em acordo com o testemunho de Proclo.
As idéias de Jâmblico foram fundamentais, mesmo que insuficientes, para os
rumos que conduziram o paganismo durante os séculos posteriores (tendo encontrado
sua exaltação máxima no governo de Juliano). Mais tarde porém, todos os seus livros
seriam considerados como manuais de invocações demoníacas e práticas mágicas,
escritos por um religioso fanático. Somente há poucas décadas as obras de Jâmblico
foram consideradas por seu valor filosófico e histórico.
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Do termo “teurgia”, que caracteriza um conjunto de práticas rituais, identificados com a magia natural,
que têm como objetivo elevar a alma humana, em êxtase, ao nível perfeito da existência divina.
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O termo “magista” deve ser aqui entendido como “indivíduo praticante de magia”.
Mas ao contrário dos cultos secretos dos mistérios, onde a presença dos deuses era
invocada para consagrar o rito, a teurgia não buscava invocar os deuses ao mundo
humano e sensível da matéria. O teurgo procurava evocar as divindades para auxiliar na
purificação da alma para que essa pudesse elevar-se ao mundo inteligível e “co-operar”,
com o Uno e os gêneros superiores, na manutenção demiúrgica do cosmos.
“Os atos que ordinariamente se executam na teurgia têm uma causa infalível e superior
à razão. (...) Por que se dirigem puros aos puros e isento de paixões aos que são isentos
de paixões” (Jâmblico, Sobre os Mistérios Egípcios, I).
O “Corpus Hermeticum” e o “Caibalion”, principais obras do hermetismo,
caracterizam a existência como uma série de emanações de um Todo Indiviso, o Uno,
que à medida em que se distanciam de seu modelo afastam-se do Supremum Bonum:
a idéia de um mundo material e sensível que emana de um outro mundo, ideal e
inteligível, que era comum à filosofia de Platão.
Na teurgia, os conceitos metafísicos platônicos encontram-se com uma prática
mágica. Jâmblico acredita que o homem, o teurgo, através de rituais específicos
envolvendo símbolos divinos (pedras, gemas, ervas) pode alcançar o henôsis4, um
estado extático em que a alma, com a ajuda dos deuses, livra-se de sua existência
mutável e material e compartilha da imutabilidade dos gêneros superiores. “Com os
seres superiores coexiste a ordem mesma, a beleza mesma, (...) a causa mesma coexiste
com eles, enquanto à alma corresponde participar sempre da ordem intelectual e da
beleza divina” (Jâmblico, Sobre os Mistérios Egípcios, I).
Enquanto os participantes dos mistérios integravam-se em uma experiência
religiosa coletiva, a teurgia proporcionava ao teurgo uma integração pessoal com as
forças metafísicas que governam o mundo.
Bibliografia:
JÂMBLICO. Sobre los misterios egipcios. Traducción de Enrique Ángel Ramos Jurado.
Madrid: Gredos, 1997.
BURKERT, Walter. Antigos Cultos de Mistério.
São Paulo: Ed. USP, 1991.
SCARPI, Paolo. Politeísmos: as Religiões do Mundo Antigo.
São Paulo: Hedra, 2004.
MOORE, Edward. “Likeness to God as Far as Possible”: Deification Doctrine in
Iamblichus and Three Eastern Christian Fathers. In: Theandros – An Online Journal of
Orthodox Christian Theology and Philosophy. Vol. 3, number 1. 2005.
HESSE, Hermann. Demian.
Rio de Janeiro: Record, 1999.
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Trecho citado por Enrique Angel Ramos Jurado na introdução da obra de Jâmblico traduzida para a
língua espanhola.